E M E N T A
Órgão : 6ª TURMA CÍVEL
Classe : EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO(A)
APELAÇÃO
N. Processo : 20140111228103APC
(0029148-45.2014.8.07.0018)
Embargante(s) : J O S E F I R M O D E A R A U J O , M A R C O N I M E D E I R O S M A R Q U E S D E O L I V E I R A
Embargado(s) : DISTRITO FEDERAL
Relator : Desembargador ESDRAS NEVES
Acórdão N. : 866522
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. FAZENDA PÚBLICA. CORREÇÃO MONETÁRIA. Havendo omissão no julgado, impõe-se o acolhimento dos embargos, notadamente quando veiculam matéria cognoscível de ofício pelo magistrado. A decisão do Supremo Tribunal Federal, quanto à modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade do artigo 1º-F, da Lei nº 11.960/2009, proferida nas ADIs nº 4357 e 4425, determinou a incidência do índice de remuneração básica da caderneta de poupança (TR) para os precatórios expedidos ou pagos até 25.03.2015. Tratando-se o débito exequendo de dívida que ainda não foi objeto de expedição de precatório, aplicável o Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E). Embargos acolhidos para julgar improcedente a apelação do Distrito Federal e determinar, de ofício, a incidência do IPCA-E sobre o débito exequendo.
A C Ó R D Ã O
Acordam os Senhores Desembargadores da 6ª TURMA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, ESDRAS NEVES - Relator, HECTOR VALVERDE - 1º Vogal, JAIR SOARES - 2º Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador JOSÉ DIVINO, em proferir a seguinte decisão: PROVIDO.
UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasilia(DF), 13 de Maio de 2015.
Documento Assinado Eletronicamente ESDRAS NEVES
Relator
F A Z E N D A P Ú B L I C A . C O N D E N A Ç Ã O . C O R R E Ç Ã O MONETÁRIA. JUROS DE MORA. ÍNDICE. Deve ser mantida a sistemática de atualização monetária instituída pela Lei nº 11.960/2009, até a modulação dos efeitos, pelo Supremo Tribunal Federal, da declaração de inconstitucionalidade da referida lei nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 4357 e 4425.
Em suas razões, sustentam os embargantes, em síntese, que o acórdão padece de omissão, por não reconhecer que a decisão do Supremo Tribunal Federal, no julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 4357 e 4425, teria restringido a aplicação dos parâmetros da poupança apenas aos precatórios liquidados, mas não aos débitos que se encontram em fase de conhecimento e execução.
Intimado a se manifestar sobre os embargos de declaração (fl. 78), o Distrito Federal pugnou pela manutenção do acórdão embargado (fls. 81/85).
É o relatório.
R E L A T Ó R I O
Os apelados, JOSÉ FIRMO DE ARAÚJO e MARCONI MEDEIROS MARQUES DE OLIVEIRA, opõem embargos de declaração em face do acórdão de fls. 65/69, cuja ementa se acha redigida nos seguintes termos, verbis:
JOSÉ FIRMO DE ARAÚJO e MARCONI MEDEIROS MARQUES DE OLIVEIRA sustentam que o acórdão é omisso por não reconhecer que a decisão do S u p r e m o T r i b u n a l F e d e r a l , n o j u l g a m e n t o d a s A ç õ e s D i r e t a s d e Inconstitucionalidade nº 4357 e 4425, teria restringido a aplicação dos parâmetros da poupança apenas aos precatórios liquidados, mas não aos débitos que se encontram em fase de conhecimento e execução.
Com razão os embargantes.
A sentença proferida nos embargos à execução, opostos pelo Distrito Federal, rejeitou a tese de ser aplicável a TR ao débito contra a Fazenda P ú b l i c a , e a s s i m d e c i d i u l e v a n d o e m c o n s i d e r a ç ã o a d e c l a r a ç ã o d e inconstitucionalidade por arrastamento do artigo 1º-F, da Lei 11.960/2009. A sentença, então, fixou o INPC como índice aplicável à correção monetária do débito cobrado (fls. 39/40).
Interposta apelação pelo Distrito Federal, esta Sexta Turma Cível deu provimento ao recurso para determinar a correção monetária pelo índice de remuneração básica da caderneta de poupança (TR), considerando que deveria ser mantida a sistemática de atualização monetária instituída pela Lei nº 11.960/2009, até a modulação dos efeitos, pelo Supremo Tribunal Federal, da declaração de inconstitucionalidade da referida lei nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 4357 e 4425.
Entretanto, o Supremo Tribunal Federal decidiu, em 25.3.2015, a questão de ordem relativa à modulação de efeitos da declaração de inconstitucionalidade realizada nas ADIs nº 4357 e 4425, nos seguintes termos:
Concluindo o julgamento, o Tribunal, por maioria e nos termos do voto, ora reajustado, do Ministro Luiz Fux (Relator), resolveu a questão de ordem nos seguintes termos: 1) - modular os efeitos para que se dê sobrevida ao regime especial de pagamento de precatórios, instituído pela Emenda Constitucional nº 62/2009, por 5 (cinco) exercícios financeiros a
V O T O S
O Senhor Desembargador ESDRAS NEVES - Relator
Admito os presentes embargos, porquanto estão presentes seus pressupostos legais.
contar de primeiro de janeiro de 2016; 2) - conferir eficácia prospectiva à declaração de inconstitucionalidade dos seguintes aspectos da ADI, fixando como marco inicial a data de conclusão do julgamento da presente questão de ordem (25.03.2015) e mantendo-se válidos os precatórios expedidos ou pagos até esta data, a saber: 2.1.) fica mantida a aplicação do índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (TR), nos termos da Emenda Constitucional nº 62/2009, até 25.03.2015, data após a qual (i) os créditos em precatórios deverão ser corrigidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) e (ii) os precatórios tributários deverão observar os mesmos critérios pelos quais a Fazenda Pública corrige seus créditos tributários; e 2.2.) ficam resguardados os precatórios expedidos, no âmbito da administração pública federal, com base nos arts. 27 das Leis nº 12.919/13 e Lei nº 13.080/15, que fixam o IPCA-E como índice de correção monetária; (...)
Verifica-se, assim, que a modulação de efeitos visou atingir exclusivamente os créditos com precatórios expedidos ou pagos, de forma que a incidência da TR não atinge as ações de conhecimento e as execuções que ainda não ensejaram a expedição da ordem de pagamento, até 25.03.2015.
Com efeito, de nada adianta o débito ora cobrado ter a incidência da TR, como pretende o Distrito Federal, se, no momento de expedição do precatório, invariavelmente posterior a 25.03.2015, for reconhecida a aplicação do IPCA-E, em obediência à decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal.
Assim, por uma questão de lógica processual, ainda que a decisão de modulação dos efeitos nas ADIs nº 4357 e 4425 tenha se restringido aos precatórios expedidos ou pagos, os débitos que ainda não estão em fase de precatório já devem seguir a nova sistemática estabelecida pela mencionada decisão. Nesse sentido, inclusive, vem se posicionando esta Corte de Justiça em recentes julgados que já consideraram a decisão proferida pelo STF. Confira-se:
APELAÇÃO. PROCESSO CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO.
C O N D E N A Ç Ã O I M P O S T A À F A Z E N D A P Ú B L I C A . PARÂMETRO DE CORREÇÃO MONETÁRIA. OBSERVÂNCIA D O S D I T A M E S D A L E I N . 1 1 . 9 6 0 / 2 0 0 9 À L U Z D O JULGAMENTO DAS ADI 4425/DF e 4357/DF. MODULAÇÃO DOS EFEITOS. APLICAÇÃO DO IPCA-E, CONFORME ORIENTAÇÃO DO STF. 1. No julgamento das ADIs nº 4.425/DF e 4.357/DF, o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade parcial do artigo 5º da Lei n.11960/09 e determinou, em suma, o seguinte: (a) a correção monetária das dívidas fazendárias deve observar índices que reflitam a inflação acumulada do período, a essa não se aplicando os índices de remuneração básica da caderneta de poupança; e (b) os juros moratórios serão equivalentes aos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicáveis à caderneta de poupança, exceto quando a dívida ostentar natureza tributária, para as quais prevalecerão as regras específicas. 2. O Supremo Tribunal Federal, a título de modulação de efeitos da decisão nas ADI's, determinou que, a partir de 25.03.2014, os créditos em precatórios deverão ser corrigidos pelo Índice de Preços ao C o n s u m i d o r A m p l o E s p e c i a l ( I P C A - E ) . 3 . D e u - s e provimento ao recurso dos Embargados. Recurso do Distrito Federal julgado prejudicado em face do provimento d o a p e l o d o s E m b a r g a d o s . ( A c ó r d ã o n . 8 6 5 8 7 5 , 20140110904802APC, Relator: FLAVIO ROSTIROLA, Revisor:
GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA, 3ª Turma Cível, Data de Julgamento: 06/05/2015, Publicado no DJE: 12/05/2015. Pág.:
270) (Grifos nossos)
REEXAME NECESSÁRIO. DIREITO PREVIDENCIÁRIO.
AÇÃO ACIDENTÁRIA. ACIDENTE DE TRABALHO. AUXÍLIO- DOENÇA ACIDENTÁRIO. INCAPACIDADE TEMPORÁRIA.
C O R R E Ç Ã O M O N E T Á R I A . D E C L A R A Ç Ã O D E INCONSTITUCIONALIDADE POR ARRASTAMENTO DO ARTIGO 5º DA LEI 11.960/2009, QUE MODIFICOU A REDAÇÃO DO ARTIGO 1º-F DA LEI 9.494/97. MODULAÇÃO D O S E F E I T O S . J U R O S D E M O R A . H O N O R Á R I O S ADVOCATÍCIOS. FAZENDA PÚBLICA. CONDENAÇÃO. ART.
20, § 4º, DO CPC. APRECIAÇÃO EQUITATIVA E JUSTA.
REFORMA PARCIAL.
1(...) 4. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento das ADI 4.357/DF e 4.425/DF, declarou a inconstitucionalidade parcial, por arrastamento, do artigo 5º da Lei 11.960/2009, que alterou a redação do artigo 1º-F da Lei 9.494/97, modificando a forma de cálculo da correção monetária. Na ocasião, restou estabelecido que a correção monetária das dívidas fazendárias deve observar índices que reflitam a inflação acumulada do período, a ela não mais se aplicando os índices de remuneração básica da caderneta de poupança, a Taxa Referencial - TR. 5. Modulados os efeitos da referida decisão, restou decidido que o índice a ser adotado para fins de correção monetária dos débitos da Fazenda Pública deve observar o regramento vigente antes da declaração de inconstitucionalidade proferida nas ADI's 4.357 e 4.425, pelo Supremo Tribunal Federal, ou seja, índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança,até 25.03.2015, data após a qual os créditos deverão ser corrigidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E). (...) 8. Reexame necessário conhecido e p a r c i a l m e n t e p r o v i d o . ( A c ó r d ã o n . 8 6 4 6 9 6 , 20130111764817RMO, Relator: SIMONE LUCINDO, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 29/04/2015, Publicado no DJE:
11/05/2015. Pág.: 135) (Grifos nossos)
EMBARGOS À EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. CORREÇÃO MONETÁRIA. LEI 1 1 . 9 6 0 / 2 0 0 9 . I N C O N S T I T U C I O N A L I D A D E P O R ARRASTAMENTO DECLARADA PELO STF. POSTERIOR MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO. Excesso de execução reconhecido em parte. Ao julgar, em 14/3/2013, a ADI 4425, o Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou "a inconstitucionalidade, em parte, por arrastamento, do art. 1º-F da Lei nº 9.494, com a redação dada pelo art. 5º da Lei nº 11.960, de 29 de junho de 2009", pelo que os cálculos não poderiam seguir o índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (taxa referencial - TR). Sucede que,
posteriormente, em 25/03/2015, o mesmo Plenário modulou os efeitos de sua decisão, estabelecendo que se adote o índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança (taxa referencial - TR) para a correção monetária a partir de 30/6/2009 até 25/03/2015 e, a partir de 26/03/2015, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA- E). Procedente em parte o pedido nos embargos à execução.
(Acórdão n.864007, 20140020305234EME, Relator: MARIO MACHADO, Conselho Especial, Data de Julgamento:
28/04/2015, Publicado no DJE: 11/05/2015. Pág.: 45) (Grifos nossos)
Além disso, o entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça é de que a correção monetária é matéria de ordem pública, sujeito a conhecimento de ofício pelo Juízo. Por oportuno, veja-se:
1. Em relação ao termo inicial da correção monetária, "a jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a matéria é de ordem pública. Assim, a modificação de seu termo inicial de ofício no julgamento do recurso de apelação não configura reformatio in pejus. Precedente." (AgRg no AREsp 537.694/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/11/2014, DJe 20/11/2014) 2. Agravo regimental a que se nega provimento.(STJ - AgRg no AREsp: 424043 PR 2013/0359338-1, Relator: Ministro SÉRGIO KUKINA, Data de Julgamento: 24/03/2015, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 06/04/2015)
(...) 3. A inclusão de correção monetária, de ofício, pelo juiz ou Tribunal, não configura julgamento fora ou além do pedido (RESP 1.112.524/DF julgado pelo Corte Especial deste Tribunal, sob o rito dos recursos repetitivos (CPC, art. 543-C).
(...) 5. Encontrando-se o acórdão recorrido em consonância com essa orientação, tem aplicação o enunciado da Súmula
83/STJ. 6. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg no REsp: 1323935 DF 2012/0102417-9, Relator: Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, Data de Julgamento: 15/10/2013, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 05/12/2013)
Portanto, impõe-se acolher os embargos opostos pelos embargados e, modificando o julgado, negar provimento ao recurso de apelação do DISTRITO FEDERAL, que pretendia a aplicação da TR como índice de correção monetária do valor condenado.
Ante o exposto, conheço dos embargos de declaração e os ACOLHO, reconhecendo a omissão do julgado, para NEGAR PROVIMENTO ao recurso de apelação do DISTRITO FEDERAL. De ofício, em obediência à decisão proferida nas ADIs nº 4357 e 4425 pelo Supremo Tribunal Federal, determino a incidência do IPCA-E como índice de correção monetária aplicável ao débito exequendo.
É como voto.
O Senhor Desembargador HECTOR VALVERDE - Vogal Com o relator.
O Senhor Desembargador JAIR SOARES - Vogal Com o relator.
D E C I S Ã O PROVIDO. UNÂNIME.