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O relacionamento entre o viés do status quo e o perfil de risco em tomadas de decisões financeiras

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Academic year: 2021

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O relacionamento entre o viés do status quo

e o perfil de risco em tomadas de decisões

financeiras

Valter Saurin

Doutor em Administração de Empresas, FGV-SP

Professor , CPGA – Universidade Federal de Santa Catarina Bolsista do CNPq

Campus Universitário, Trindade

CEP 88049-970 Florianópolis – SC Brasil

e-mail: vasaurin@mbox1.ufsc.br

Wlademir Ribeiro Prates

Universidade Federal de Santa Catarina Campus Universitário, Trindade

CEP 88049-970 Florianópolis – SC Brasil

e-mail: wladyprates@yahoo.com.br

Newton Carneiro Affonso da Costa Jr.

Universidade Federal de Santa Catarina e Pesquisador do CNPq Campus Universitário Trindade

CEP 88049-970 Florianópolis – SC Brasil

e-mail: newton@cse.ufsc.br

Manuel José da Rocha Armada

Escola de Economia e Gestão - Universidade do Minho Gualtar 4710 Braga Portugal

e-mail: rarmada@eeg.uminho.pt

Resumo

Uma das tarefas mais importantes do administrador financeiro é criar valor nas atividades de investimento, financiamento e gestão da liquidez. Contudo, existem impedimentos comporta-mentais que interferem no processo de criação ou maximização de valor de uma companhia (SHEFRIN, 2001). Um destes impedimentos é o chamado viés do status quo, que foi chamado dessa forma inicialmente por Samuelson e Zeckhauser (1988). Este viés indica que os indivíduos possuem uma forte tendência a manter o estado atual e não realizar mudanças (não somente no contexto financeiro). O presente trabalho buscou verificar a existência deste viés nas tomadas de decisões dos indivíduos pesquisados e relacionar a existência do viés com o perfil de risco de cada indivíduo. A metodologia foi baseada em Samuelson e Zeckhauser (1988) para verificar a exis-tência do viés do status quo, e em Holt e Laury (2002) para identificar os perfis de risco (avesso, neutro e propenso ao risco). Foram aplicados questionários em 201 estudantes de mestrado na Universidade do Minho em Portugal. Os resultados obtidos apontam para existência do viés do

status quo, principalmente em indivíduos avessos ao risco. Concluindo, enfatiza-se a importância

de os gestores financeiros compreenderem os vieses comportamentais aos quais estão expostos.

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Abstract

One of the most important tasks of financial managers is to create value in investment, finan-cing and liquidity management activities. However, there are behavioral impediments that interfere in the process of creating and maximizing the value of a company (SHEFRIN, 2001). One of these impediments is the so-called status quo bias, which was initially identified by Samuelson and Zeckhauser (1988). This bias means that individuals have a strong tendency to maintain the status quo and not make changes (not only in a financial context). The goal of this study was to verify the existence of bias in individual decision making, and relate the existence of bias to each individual’s risk profile. The methodology was based on Samuelson and Zeckhauser (1988), in the verification of the existence of the status quo bias, and on Holt and Laury (2002) in the identification of risk profiles (aversion, neutrality and propensity to risk). Questionnaires were administered to 201 graduate students at the University of Minho in Portugal. The results point to the existence of status quo bias especially in risk-averse individuals. In conclusion, we emphasize the importance of the understanding of behavioral biases to which financial managers are exposed.

Keywords: Status quo bias; Endowment effect; Risk profile.

1. Introdução

Os gestores precisam tomar decisões financeiras referentes a investimento, financiamento e gestão da liquidez. Shefrin (2001) argumenta que fatores com-portamentais interferem no processo de tomada de decisão e na criação de valor de uma companhia. Estes fatores ligados à realidade interna da organização refletem erros cognitivos e influências emocionais dos indivíduos.

As finanças comportamentais têm crescido como campo de estudos e adicio-nado novos adeptos nos últimos anos, principalmente por tentar explicar algumas anomalias que ocorrem nos mercados financeiros em relação à teoria da utilidade esperada, com base em teorias derivadas da psicologia, da ciência cognitiva, da teoria da tomada de decisões e de outras ciências do comportamento.

De acordo com a teoria da utilidade esperada (TUE), os indivíduos toma-riam suas decisões de investimento pensando nas possibilidades de retornos futuros e o portfólio inicial não influenciaria nas decisões. (VON NEUMANN e MORGENSTERN, 1953). Porém, ao contrário desse comportamento, estudos têm mostrado que os investidores possuem vieses que os levam a cometer erros sistemáticos em suas decisões de investimento. (KAHNEMAN e TVERSKY, 1979; SAMUELSON e ZECKHAUSER, 1988).

Nas finanças comportamentais não existe uma teoria unificada que aborde e explique todas as anomalias existentes. Contudo, existem diversos estudos sobre anomalias específicas. Em um dos principais estudos da área, Kahneman e Tversky (1979) desenvolveram a chamada teoria do prospecto. Esta teoria mostra que os indivíduos tomam suas decisões de maneiras diferentes, depen-dendo do cenário econômico. Ou seja, os indivíduos tendem a ser mais avessos ao risco em cenários positivos e mais propensos ao risco quando o cenário é negativo. Além disso, os autores também afirmam que os indivíduos respondem a determinados atributos baseados em um ponto de referência que varia de acordo com cada pessoa e suas experiências passadas e/ou presentes. Por exemplo, o

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mesmo nível de riqueza para um indivíduo pode ser considerado ótimo para um e ruim para outro, dependendo da quantidade de bens/ativos que cada um possui ou possuiu algum dia (ponto de referência).

Kahneman e Tversky (1979), ao observarem o processo de tomada de decisão individual, mostraram que as pessoas apresentam uma série de vieses cogniti-vos nesse processo, colocando um desafio à TUE proposta por Von Neumann e Morgenstern (1953). Estas ilusões cognitivas são como ilusões de ótica, pois são fáceis de serem compreendidas, mas difíceis de serem eliminadas.

Uma das anomalias em relação à TUE é o chamado viés do status quo, assim chamado inicialmente por Samuelson e Zeckhauser (1988). Este viés indica que os indivíduos possuem uma forte tendência a manter o estado atual (não somente no contexto financeiro), pois as desvantagens de realizar uma mudança parecem muito maiores do que as vantagens. O viés do status quo tem relação direta com o chamado efeito dotação, pois este atribui ao indivíduo uma carac-terística em que ele mantém o objeto que possui por puro apego (KNETSCH e SINDEN, 1984; KAHNEMAN, KNETSCH e THALER, 1990). Ambos os efeitos contribuem com o estudo de Kahneman e Tversky (1979) em relação ao fato de que os indivíduos consideram um ponto de referência no momento de tomar suas decisões de investimento. No viés do status quo o ponto de referência considerado é o estado atual, que pode ser um investimento em um imóvel ou em ações de uma determinada empresa, por exemplo.

Samuelson e Zeckhauser (1988) identificaram a presença do viés do status

quo nas tomadas de decisão em seus experimentos, em conexão com um ponto

de referência. Os autores afirmam que seus estudos são coerentes com o conceito de aversão a perdas (loss aversion), utilizado inicialmente por Thaler (1980) e também por outros autores, como Kahneman, Knetsch e Thaler (1990), Kahne-man, Knetsch e Thaler (1991), Kahneman e Tversky (1991). Contudo, Samuelson e Zeckhauser (1988) afirmam que o viés do status quo não está ligado apenas a cenários de ganhos e perdas, pois em algumas das questões aplicadas em seus questionários os indivíduos não estavam diante de situações que envolviam ganhos e perdas (como o caso de uma questão que pedia ao participante da pesquisa optar por diferentes cores de um carro).

O presente estudo concentra-se em verificar se existe relação entre a pre-sença do viés do status quo e o perfil de risco dos indivíduos pesquisados. Racionalmente, e como está presente no teorema de Coase, a alocação inicial da riqueza não deverá ser relevante (KAHNEMAN, KNETSCH e THALER, 1990). Contudo, a evidência empírica abala este princípio teórico e constata-se que a alocação inicial irá condicionar as decisões de alocação futuras. Parti-cularmente, o efeito dotação e o status quo ou conservadorismo são efeitos extremamente correlacionados que se referem à tendência do indivíduo para valorizar excessivamente a sua situação atual e preferir manter o estado atual das coisas a alterá-lo. Assim, por ação destes efeitos a opção atual tende a preva-lecer sobre outras opções que possam surgir. (THALER, 1980; SAMUELSON e ZECKHAUSER, 1988).

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Conhecer os efeitos causados pelo viés do status quo sobre a tomada de decisões dos indivíduos pode ajudar no processo de tomada de decisões e/ou análises sobre a alocação de recursos. Portanto, o objetivo deste estudo é ana-lisar o status quo associado a diferentes perfis de risco e verificar se diferentes níveis de aceitação do risco conduzem a mudanças no status quo. Neste trabalho verificou-se uma tendência de que, quanto maior o nível de aversão ao risco, mais forte é a presença do viés do status quo.

O texto está organizado nesta seqüência: fundamentação teórica baseada em estudos similares da área de finanças comportamentais; descrição dos métodos utilizados; apresentação dos resultados obtidos e, por fim, são apresentadas as considerações finais.

2. Fundamentação teórica

Quando se trata de tomada de decisões sob certeza, o indivíduo sabe exata-mente quais as probabilidades de ocorrência dos eventos que precisa escolher. Dessa forma, o tomador de decisões pode classificar suas preferências de maneira bem definida e consegue prever seus resultados. Neste contexto, uma escolha racional significa simplesmente escolher a alternativa preferida. Uma vez que é possível conhecer as preferências de cada indivíduo pode-se prever qual será a escolha do tomador de decisões (SAMUELSON e ZECKHAUSER, 1988).

Contudo, a teoria que diz respeito à tomada de decisões sob incerteza requer que o indivíduo atribua probabilidades aos possíveis resultados e determine suas preferências com base no valor esperado (SAMUELSON e ZECKHAUSER, 1988). A Teoria da Utilidade Esperada trata de tomadas de decisões em cenários de risco (ou incerteza) e era geralmente aceita como um modelo normativo de escolha racional. Dessa forma, na TUE as decisões são baseadas no valor esperado (utilidade esperada) de certo prospecto (KAHNEMAN e TVERSKY, 1979; DUTTA, 2001).

Ainda no contexto da TUE, Dutta (2001) discorre a respeito da aversão ao risco. Um tomador de decisões pode ser considerado avesso ao risco quando, em uma situação de incerteza, opta pela opção disponível com o maior retorno. Kahneman e Tversky (1979) complementam dizendo que uma pessoa é avessa ao risco se prefere um prospecto com retorno certo “x” a um prospecto com retorno esperado “x”. A TUE foi fortemente difundida e serviu de base para o desenvolvimento de outras teorias em finanças, como a regra de Média/Vari-ância desenvolvida por Harry Markowitz, o Modelo de Precificação de Ativos de Capital (CAPM), proposto por William Sharpe, entre outros.

Kahneman e Tversky (1979) levantaram alguns questionamentos a respeito da validade da TUE, abrindo o caminho para os estudos das chamadas finanças comportamentais. De acordo com os autores, nem todos os investidores são racionais e avessos ao risco em todas suas decisões, como assumem os adeptos da TUE. Kahneman e Tversky (1979) mostram que os indivíduos se comportam de maneiras diferentes em cenários de ganhos e em cenários de perdas. Conforme

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os autores, os indivíduos são mais avessos ao risco quando estão ganhando e mais propensos ao risco quando estão perdendo.

Após o estudo de Kahneman e Tversky (1979), realizaram-se diversos outros trabalhos e foram encontrados padrões de comportamento que quebram as re-gras propostas pela TUE. Tais comportamentos são denominados de anomalias. Kahneman, Knetsch e Thaler (1991) explicam que um resultado empírico pode ser definido como anomalia quando são necessários pressupostos implausíveis para explicá-lo dentro de um paradigma. As anomalias a serem tratadas a seguir são o efeito dotação (endowment effect) e o viés do status quo. O paradigma em questão é a TUE.

2.1 Efeito dotação (endowment effect)

O efeito dotação é um padrão no qual as pessoas exigem mais para desistir de um objeto do que estariam dispostas a pagar pelo mesmo. Este efeito é con-siderado uma anomalia, pois na teoria econômica padrão, que tem a TUE como suporte, o valor que uma pessoa se dispõe a pagar por um bem é o mesmo que ela estaria disposta a receber em troca por um bem que já possui (THALER, 1980; KAHNEMAN, KNETSCH e THALER, 1990; KNETSCH e SINDEN, 1984).

Knetsch e Sinden (1984) fizeram experimentos a fim de verificar se existe discrepância entre o valor aceitável por um indivíduo para pagar por um bem que não possui (Willingness To Pay – WTP) e o valor aceitável para vender este mesmo bem (Willingness To Accept – WTA), considerando que a pessoa já o possui. Os autores encontraram uma forte diferença entre WTP e WTA, sendo a segunda significativamente maior que a primeira. Ou seja, de acordo com o estudo dos autores, os indivíduos subavaliam um bem que não é de sua propriedade e supervalorizam um bem que já possuem.

Dupont e Lee (2002) explicam a diferença entre o preço a pagar por um bem (WTP) e o preço aceito para vender esse bem (WTA) com base num modelo racional na presença de assimetrias de informação e não com base em modelos psicológicos. Os autores fizeram experimentos com traders que possuíam um tipo de informação privilegiada e traders que não possuíam informações. O

trader informado sabia a que preço poderia negociar para começar a ter lucros.

Em uma situação de venda, o trader não informado começava com ofertas com preços de venda muitos altos, enquanto o trader informado começava com ofertas com preços de compra muito baixos. O objetivo era encontrar o preço de equilíbrio. Como resultado, os autores verificaram a presença do efeito dotação neste tipo de jogo com informação assimétrica, conforme denominado pelos autores. Na prática, o resultado deste efeito é uma diminuição significativa na quantidade de transações, devido à discrepância entre os preços de compra e os preços de venda.

Em Kahneman, Knetsch e Thaler (1990, p. 1327) é possível visualizar uma tabela com um rol de diversos estudos realizados a fim de verificar a existência do efeito dotação. Os autores mostram que, em média, a disposição para aceitar

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(WTA) é sempre superior à disposição para pagar por um bem (WTP), eviden-ciando a disparidade que existe na avaliação de bens.

2.2 Viés do status quo

De acordo com Samuelson e Zeckhauser (1988), manter o status quo significa não fazer nada, ou simplesmente deixar as coisas como estão. Nas decisões que os indivíduos precisam tomar diariamente, quase sempre existe uma opção que carrega a possibilidade de deixar as coisas como estão. Os autores ainda citam alguns exemplos de decisões em que se opta pela alternativa que contém o

sta-tus quo: seguir a política habitual da empresa, eleger um candidato à reeleição,

comprar sempre a mesma marca de determinado produto ou permanecer no mesmo emprego. Segundo Kahneman, Knetsch e Thaler (1991), os indivíduos possuem uma forte tendência a manter o status quo, pois as desvantagens de sair da posição atual parecem muito maiores que as vantagens.

Samuelson e Zeckhauser (1988) aplicaram questionários nos quais cada pergunta continha uma opção chamada de status quo, ou seja, marcando esta opção o indivíduo indicava que preferia não alterar seu estado atual; marcando qualquer das outras opções ele indicava a escolha por algo novo. Além dos questionários, os autores também observaram a implantação de um novo plano de saúde para os professores na Universidade de Harvard. Perceberam que novos professores em geral optavam pelo plano novo, enquanto os antigos raramente preferiam mudar o plano que possuíam.

Macedo Jr. (2003) explica que os indivíduos aceitam muito risco a fim de manter certo status quo. Dessa forma, as pessoas cometem erros na definição de probabilidades para os eventos futuros, influenciados pela tendência a deixar as coisas como estão. O autor ainda afirma que as pessoas, dentro da teoria do prospecto, possuem um maior interesse nas alterações de suas riquezas baseadas em um determinado ponto de referência do que no estado final dessas riquezas.

Nos estudos que procuram identificar a presença do efeito dotação, geral-mente é possível também observar a preferência por manter o status quo. Como no exemplo das garrafas de vinho citado por Kahneman, Knetsch e Thaler (1991). Neste exemplo, um indivíduo teria comprado algumas garrafas de um determinado vinho que se valorizaram bastante com o tempo. Em determinado momento, este indivíduo não está disposto a comprar mais garrafas por achar que elas estão muito caras e nem está disposto a vender suas garrafas por achar que o preço ainda pode subir mais. O fato de o individuo não vender e nem comprar outras garrafas pode ser explicado por ele valorizar mais os bens que são de sua propriedade (efeito dotação), mas também por uma tendência a manter o estado atual que gera preconceitos contra comprar ou vender mais garrafas (status quo).

Algumas anomalias da TUE, como o efeito dotação e o viés do status quo, podem ser embasadas na noção de aversão a perdas (loss aversion). Thaler (1980) afirma que a aversão a perdas é representada pela diferença positiva entre

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o preço que um indivíduo está disposto a receber para desistir de certo item e o preço que este indivíduo está disposto a pagar pelo mesmo item. Muitas das escolhas feitas sob risco não estão baseadas em riquezas ou bem-estar, mas em mudanças de um ponto neutro de referência para outro. Dessa forma, a aversão a perdas pode ser compreendida como uma falta de motivação para se desfazer de determinado bem (KANHEMAN, KNETSCH, THALER, 1991).

No conceito de racionalidade na tomada de decisão, a diferença entre o valor máximo que uma pessoa pagará para aceitar uma perda e o valor mínimo que ela está disposta a receber, como compensação para aceitar uma perda, era geralmente aceita como nula. Contudo, Knetsch e Seiden (1984) perceberam que em alguns casos há uma larga diferença entre estes dois valores. Em um dos experimentos realizados, os autores distribuíram bilhetes premiados ou dois dólares a cada participante. Algum tempo depois os participantes tiveram a oportunidade de trocar o bilhete por dinheiro, e vice versa. Contudo, foram poucos os participantes que decidiram realizar a troca.

Samuelson e Zeckhauser (1988) denominaram a tendência que as pessoas possuem de manter a posição atual de viés do status quo (status quo bias). No estudo, os autores aplicaram questionários em que cada questão apresentava situações pedindo ao participante do experimento para tomar decisões de um indivíduo, um gerente ou responsável político do governo. Cada questão possuía quatro alternativas e cinco formatos diferentes de apresentação do enunciado, tendo sido aplicados cinco tipos diferentes de questionários.

No trabalho de Samuelson e Zeckhauser (1988) as questões possuíam versões diferentes em cada questionário. As alternativas variavam de formato, podendo ter três classificações:

• Neutra: nas questões com alternativas neutras, qualquer opção marcada seria uma alteração do status quo.

• Status quo (SQ): ao marcar a alternativa com esta característica o indivíduo optava por manter sua situação igual ao que havia sido anunciado na questão. • Alternative to the status quo (ASQ): essa alternativa representava qualquer

uma das opções marcadas, com exceção da opção que continha o SQ. Samuelson e Zeckhauser (1988) perceberam que a quantidade de respostas nas alternativas que possuíam o caráter de status quo foi estatisticamente maior que nos outros formatos de alternativas. Os resultados dos autores indicam que os indivíduos tomam decisões diferentes se, inicialmente, eles possuem uma alternativa do tipo status quo (mesmo que hipotética) ou não.

3. Metodologia

A metodologia utilizada para identificar a presença do viés do status quo foi baseada em Samuelson e Zeckhauser (1988). Contudo, além de aplicar questio-nários a fim de identificar a presença deste viés, os mesmos possuíam uma parte

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em que o perfil de risco do indivíduo podia ser identificado. O questionário que mede o perfil de risco foi elaborado com base em Holt e Laury (2002). Com o perfil de risco do respondente identificado, buscou-se verificar se há algum tipo de relação entre o perfil de risco e a intensidade com a qual o viés do status quo apareceu em cada indivíduo.

Para a coleta dos dados do trabalho foram aplicados 201 questionários compostos por três partes. A primeira parte está relacionada aos dados pessoais do participante. A segunda parte é uma simulação de uma aposta (Anexo 1), com o objetivo de identificar o perfil de risco de cada indivíduo. Na terceira parte, os participantes encaram quatro perguntas com uma série de escolhas a serem feitas; é nesta parte que o efeito status quo é identificado. A pesquisa foi realizada com estudantes de mestrado da Universidade do Minho, em Portugal. 3.1 Identificação do perfil de risco

Com base no trabalho de Holt e Laury (2002), foi desenvolvido um ques-tionário a fim de identificar o perfil de risco dos participantes desta pesquisa e comparar os resultados obtidos com a existência do viés do status quo nos diferentes perfis de risco (avesso, neutro e propenso a risco).

Holt e Laury (2002) fizeram experimentos com questionários a fim de me-dir o grau de aversão a risco dos respondentes. Os autores realizaram sessões experimentais sem remuneração e com diferentes níveis de remuneração, a fim de comparar os níveis de aversão a risco com incentivos hipotéticos e reais. Os autores concluíram que, mesmo com incentivos hipotéticos e com baixos níveis de retorno, os indivíduos que são avessos a risco representam a maioria. Quando a remuneração é baseada em valores reais o nível de aversão a risco dos respondentes é ainda maior, sendo que ele aumenta gradativamente conforme a remuneração também cresce.

A Figura 1 (ver também Anexo 1) apresenta o modelo de questionário elaborado a fim de classificar os indivíduos em avessos, neutros e propensos a risco. Na primeira decisão, os indivíduos precisam escolher entre um pros-pecto que paga €75,00 com certeza e um prospros-pecto que paga €200,00 com probabilidade de 50% ou €0,00 com probabilidade de 50%. A opção B (aposta) permanece sempre a mesma, porém o valor da opção A cresce gradativamente. Um indivíduo neutro a risco deve parar de apostar na decisão número 6, em que a diferença entre os valores esperados das opções A e B é igual a zero. Se o respondente continua apostando após a decisão número 6 ele é considerado propenso a risco; se ele pára de apostar antes da sexta decisão ele é considerado avesso a risco.

3.2 Identificação do viés do status quo

A metodologia desta seção baseia-se em Samuelson e Zeckhauser (1988). A fim de captar a presença do viés do status quo foram aplicados questionários com

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4 questões1. Utilizaram-se duas formas diferentes de apresentar cada questão2: (1) a primeira alternativa, com caráter de status quo, e (2) todas as alternativas com caráter neutro.

Foram utilizadas quatro das seis perguntas originais de Samuelson e Ze-ckhauser (1988), adaptadas ao cenário de Portugal, onde os questionários foram aplicados (ver exemplo no Anexo 2). As questões tratam de diferentes situações nas quais o indivíduo precisa tomar decisões. Cada questão começa com uma breve descrição de uma decisão a ser tomada. Três perguntas abordam decisões

1. Ver exemplo no Anexo 2. 2. Ver Anexo 3.

Figura 1.- Identificação do perfil de risco.

Decisão (sem risco)Opção A Opção B

Diferença de Valor Esperado (A-B) Perfil de Risco 1 €75,00 €0,00 com 50% de proba-bilidade ou €200 com 50% -25

Avesso ao risco 2 €80,00 €0,00 com 50% de proba-bilidade ou €200 com 50% -20

3 €85,00 €0,00 com 50% de proba-bilidade ou €200 com 50% -15 4 € 90,00 €0,00 com 50% de proba-bilidade ou €200 com 50% -10 5 €95,00 €0,00 com 50% de proba-bilidade ou €200 com 50% -5

6 €100,00 €0,00 com 50% de proba-bilidade ou €200 com 50% 0 Neutro 7 €105,00 €0,00 com 50% de proba-bilidade ou €200 com 50% 5

Propenso ao risco 8 €110,00 €0,00 com 50% de proba-bilidade ou €200 com 50% 10

9 €115,00 €0,00 com 50% de proba-bilidade ou €200 com 50% 15 10 €120,00 €0,00 com 50% de proba-bilidade ou €200 com 50% 20

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que podem ser tomadas por qualquer indivíduo na vida real (escolher uma opção entre investimentos financeiros, escolher uma empresa para trabalhar, escolher a cor de um carro), e uma das perguntas trata de uma decisão a ser tomada por um dirigente de segurança pública.

Na versão neutra (NEUT) da questão, todas as opções são apresentadas como novas alternativas, enquanto a versão status quo (SQ) do questionário apresenta sempre a primeira alternativa de cada questão com caráter status quo. No total, cada questão foi testada em cinco versões diferentes: uma versão neutra e quatro versões SQ. As alternativas de cada questão ocuparam três diferentes posições: uma neutra (um caso), outra com caráter de status quo (um caso) e outra como alternativa ao status quo (ASQ, três casos).

Para realizar a análise dos dados foram criados indicadores (SQ, NEUT e ASQ). Cada um desses indicadores representa o percentual de respostas obti-das em cada uma obti-das três posições ocupaobti-das por cada alternativa, conforme é demonstrado abaixo:

SQ = Quantidade de respostas que mantiveram o SQ (1) Quantidade de alternativas em que estava presente o SQ

NEUT = Quantidade de respostas da alternativa NEUT (2) Quantidade de alternativas em que não estava presente o SQ ASQ = Quantidade de respostas que mudaram o SQ (3)

Quantidade de alternativas em que não estava presente o SQ Após obter as taxas de resposta, efetuaram-se testes t e qui-quadrado para verificar se há diferenças significativas entre as médias dos indicadores e verificar se as respostas obedecem ao padrão encontrado em Samuelson e Zeckhauser (1988), onde SQ > NEUT > ASQ. A fim de verificar se ocorreu esse padrão também foram estimadas as seguintes equações de regressão:

SQ = α1 + β1NEUT + erro (4)

ASQ = α2 + β2NEUT + erro (5)

Adicionalmente, procurou-se comparar os resultados obtidos com as al-ternativas de caráter SQ, NEUT e ASQ. Para tal foi realizada uma Análise de Variância (ANOVA), considerando a característica da alternativa (SQ, NEUT e ASQ) como tratamento e cada alternativa (risco moderado, alto risco, títulos, etc.) como um bloco. As variáveis dependentes da ANOVA foram os indicadores obtidos, conforme as equações (1), (2) e (3). Buscou-se também verificar se o perfil de risco, obtido através do questionário mostrado na Figura 1, exerce alguma influência sobre os resultados da ANOVA. Dessa forma realizou-se uma ANOVA para cada perfil de risco.

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4. Análise dos dados e interpretação dos resultados

Foram aplicados 201 questionários em alunos de cursos de mestrado da Universidade do Minho, em Portugal. Os questionários eram respondidos em sala de aula e nenhuma explicação além das instruções escritas era oferecida.

A Tabela 1 está categorizada em Status Quo (SQ), Neutra (NEUT) e

Alterna-tiva ao Status Quo (ASQ). A tabela apresenta a quantidade de respostas obtidas

em cada categoria e o total possível de respostas. A divisão da quantidade de respostas pelo total possível de respostas gera um indicador que representa o per-centual de respostas obtidas em cada uma das categorias, conforme as equações (1), (2) e (3). A última coluna mostra a significância de um teste qui-quadrado. No nível de significância de 10%, 14 dos 16 casos rejeitam a hipótese nula de que as colunas SQ e ASQ não são distintas.

Samuelson e Zeckhauser (1988, p. 14) encontraram um padrão forte, no qual SQ > NEUT > ASQ: em um questionário semelhante ao aplicado nesta pesquisa, 17 de 24 casos (71%) obedeceram a este padrão. Na Tabela 1 é possível verificar que em 12 dos 16 casos (75%) SQ > ASQ. Contudo, em apenas 8 dos 16 casos (50%) ocorreu o padrão SQ > NEUT > ASQ. Embora bastante expressivo (50%), o percentual encontrado neste trabalho é inferior ao observado por Samuelson e Zeckhauser (1988, p. 14).

As próximas tabelas apresentam os resultados obtidos com um filtro na amos-tra, em que os perfis de risco identificados através do questionário apresentado na Figura 1 foram analisados separadamente. A Tabela 2 mostra os resultados apenas dos indivíduos que apresentaram aversão a risco (50,0% da amostra). Em 12 dos 16 casos (75,0%) o indicador de SQ foi maior que o indicador ASQ. Contudo, o padrão SQ > NEUT > ASQ foi observado em apenas 3 dos 16 casos (18,75%).

Na Tabela 3, o perfil de risco analisado foi o dos indivíduos neutros a risco (37,8% da amostra), observando-se resultado semelhante ao da Tabela 1. Neste perfil de risco, em 12 dos 16 casos (75%) o indicador SQ foi maior que ASQ, e em 7 dos 16 casos (43,75%) observou-se o padrão SQ > NEUT > ASQ.

A Tabela 4 mostra os resultados obtidos com os indivíduos propensos a risco (12,2% da amostra). Observou-se que em apenas 6 dos 16 casos (37,5%) SQ foi maior que ASQ. Verificou-se também que em apenas 2 casos (12,5%) ocorreu o padrão SQ > NEUT > ASQ.

Foram realizadas regressões, conforme explicado na metodologia (equações (4) e (5)). Em ambas as equações a variável independente é o indicador NEUT e a variável dependente varia entre o indicador SQ e ASQ. O teste t indicado na Tabela 5 representa o teste t da regressão, onde a hipótese nula é a de que a inclinação da reta (coeficiente beta) é igual a 0. Percebe-se que, na maioria dos casos, a inclinação da reta é significativamente diferente de 0, rejeitando a hipótese nula. Utilizando o nível de significância de 10%, apenas um caso não foi significativo no perfil de neutralidade a risco e um caso no perfil de propensão a risco.

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Tabela 1.

Percentual de respostas para cada questão.

RESUL TADOS GERAIS Questão Alternativas SQ Total SQ Ind SQ NEUT Total NEUT Ind NEUT ASQ Total ASQ Ind ASQ Qui-Quad. (p-valor) 1 R isc o Mo de ra do 10 43 0,23 14 42 0,33 22 11 5 0,19 0,20 Alto Risco 7 40 0,18 11 42 0,26 19 11 8 0,16 0,03 Títulos 17 33 0,52 10 42 0,24 40 125 0,32 0,00 Poupança 16 42 0,38 7 42 0,17 27 11 6 0,23 0,08 2 Cidade A 14 42 0,33 12 40 0,30 21 11 8 0,18 0,06 Cidade B 18 43 0,42 17 40 0,43 50 11 7 0,43 0,00 Cidade C 3 33 0,09 6 40 0,15 16 127 0,13 0,00 Cidade D 3 42 0,07 5 40 0,13 10 11 8 0,08 0,00 3 Empresa A 4 42 0,10 3 42 0,07 8 11 6 0,07 0,00 Empresa B 29 40 0,73 15 42 0,36 39 11 8 0,33 0,00 Empresa C 6 33 0,18 1 42 0,02 3 125 0,02 0,00 Empresa D 8 43 0,19 23 42 0,55 24 11 5 0,21 0,22 4 Vermelha 14 42 0,33 10 33 0,30 14 125 0,1 1 0,00 Prata 23 40 0,58 14 33 0,42 40 127 0,31 0,00 Dourada 4 43 0,09 1 33 0,03 4 124 0,03 0,00 Branca 14 42 0,33 8 33 0,24 11 125 0,09 0,00 Média Geral 0,30 0,25 0,18

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Tabela 2.-

Percentual de respostas para cada questão – indivíduos avessos a risco.

PERFIL DE RISCO - AVESSOS A RISCO Questão Alternativas SQ Total SQ Ind SQ NEUT Total NEUT Ind NEUT ASQ Total ASQ Ind ASQ Qui-Quad. (p-valor) 1 R isc o Mo de ra do 7 26 0,27 7 20 0,35 4 44 0,09 0,03 Alto Risco 3 15 0,20 4 20 0,20 7 55 0,13 0,06 Títulos 6 12 0,50 8 20 0,40 18 58 0,31 0,05 Poupança 7 17 0,41 1 20 0,05 18 53 0,34 0,06 2 Cidade A 7 20 0,35 5 15 0,33 14 55 0,25 0,37 Cidade B 13 26 0,50 6 15 0,40 21 49 0,43 0,00 Cidade C 1 12 0,08 1 15 0,07 11 63 0,17 0,10 Cidade D 1 17 0,06 3 15 0,20 7 58 0,12 0,01 3 Empresa A 2 20 0,10 1 17 0,06 7 53 0,13 0,03 Empresa B 11 15 0,73 7 17 0,41 30 58 0,52 0,00 Empresa C 3 12 0,25 0 17 0,00 2 61 0,03 0,00 Empresa D 7 26 0,27 9 17 0,53 11 47 0,23 0,77 4 Vermelha 5 20 0,25 4 12 0,33 11 58 0,19 0,36 Prata 10 15 0,67 4 12 0,33 32 63 0,51 0,00 Dourada 1 26 0,04 1 12 0,08 2 52 0,04 0,00 Branca 7 17 0,41 3 12 0,25 8 61 0,13 0,02 Média 0,32 0,25 0,23

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Tabela 3.-

Percentual de respostas para cada questão – indivíduos neutros a risco.

PERFIL DE RISCO - NEUTRO Questão Alternativas SQ Total SQ Ind SQ NEUT Total NEUT Ind NEUT ASQ Total ASQ Ind ASQ Qui-Quad. (p-valor) 1 R isc o Mo de ra do 2 10 0,20 4 13 0,31 11 45 0,24 0,75 Alto Risco 3 16 0,19 6 13 0,46 6 39 0,15 0,19 Títulos 10 14 0,71 1 13 0,08 14 41 0,34 0,00 Poupança 5 15 0,33 2 13 0,15 4 40 0,10 0,05 2 Cidade A 6 13 0,46 6 16 0,38 12 39 0,31 0,09 Cidade B 2 10 0,20 5 16 0,31 20 42 0,48 0,00 Cidade C 1 14 0,07 4 16 0,25 8 38 0,21 0,15 Cidade D 2 15 0,13 1 16 0,06 1 37 0,03 0,00 3 Empresa A 2 13 0,15 1 15 0,07 2 40 0,05 0,01 Empresa B 11 16 0,69 5 15 0,33 25 37 0,68 0,00 Empresa C 2 14 0,14 1 15 0,07 2 39 0,05 0,01 Empresa D 1 10 0,10 8 15 0,53 7 43 0,16 0,14 4 Vermelha 5 13 0,38 4 14 0,29 5 41 0,12 0,06 Prata 11 16 0,69 6 14 0,43 24 38 0,63 0,00 Dourada 1 10 0,10 0 14 0,00 0 44 0,00 0,00 Branca 4 15 0,27 4 14 0,29 3 39 0,08 0,03 Média 0,30 0,25 0,23

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Tabela 4.-

Percentual de respostas para cada questão – Indivíduos propensos a risco.

PERFIIL DE RISCO - PROPENSOS AO RISCO Questão Alternativas SQ Total SQ Ind SQ NEUT Total NEUT Ind NEUT ASQ Total ASQ Ind ASQ Qui-Quad. (p-valor) 1 R isc o Mo de ra do 1 7 0,14 3 5 0,60 4 10 0,40 0,27 Alto Risco 1 5 0,20 0 5 0,00 5 12 0,42 0,24 Títulos 1 3 0,33 0 5 0,00 3 14 0,21 0,69 Poupança 1 2 0,50 2 5 0,40 1 15 0,07 0,1 1 2 Cidade A 1 5 0,20 0 5 0,00 3 12 0,25 0,82 Cidade B 3 7 0,43 4 5 0,80 3 10 0,30 0,32 Cidade C 0 3 0,00 1 5 0,20 6 14 0,43 0,1 1 Cidade D 0 2 0,00 0 5 0,00 1 15 0,07 0,1 1 3 Empresa A 0 5 0,00 0 2 0,00 2 15 0,13 0,15 Empresa B 4 5 0,80 1 2 0,50 6 15 0,40 0,01 Empresa C 0 3 0,00 0 2 0,00 2 17 0,12 0,16 Empresa D 0 7 0,00 1 2 0,50 5 13 0,38 0,10 4 Vermelha 2 5 0,40 0 3 0,00 3 14 0,21 0,47 Prata 1 5 0,20 2 3 0,67 5 14 0,36 0,41 Dourada 2 7 0,29 0 3 0,00 1 12 0,08 0,24 Branca 1 2 0,50 1 3 0,33 3 17 0,18 0,35 Média 0,24 0,25 0,25

(16)

Nas Tabelas 2, 3 e 4 verifica-se uma possível tendência de que, quanto mais avesso a risco é o indivíduo, maior é a presença do viés do status quo em seu processo de decisão. Porém, para confirmar esta tendência e verificar a influ-ência dos tratamentos (SQ, NEUT e ASQ) nas médias dos indicadores obtidos foram realizados testes de Análise de Variância (ANOVA), conforme se pode verificar na Tabela 6.

Tabela 5.- Resultados das equações (4) e (5). Perfil de

Risco Dependente Alfa BetaVariável padrãoErro Estat. t p-valor ajust.

R²-Todos SQ 0,129 0,408 0,177 2,31 **0,037 22,4% ASQ 0,086 0,909 0,237 3,84 *0,002 47,8% Avesso SQ 0,115 0,423 0,171 2,48 **0,026 25,6% ASQ 0,128 0,538 0,234 2,30 **0,037 22,3% Neutro SQ 0,211 0,132 0,190 0,69 0,500 0,0% ASQ 0,168 0,364 0,181 2,02 ***0,063 17,0% Propenso SQ 0,150 0,401 0,313 1,28 0,221 4,1% ASQ -0,011 1,040 0,504 2,07 ***0,058 17,9% * Significativo a 1%. ** Significativo a 5%. *** Significativo a 10%.

Tabela 6.- Análise de Variância – ANOVA.

Perfil de Risco Fonte MS F p-valor R²-ajust.

Todos Status 0,05 5,78 *0,008 63,6% Alternativas 0,06 5,83 *0,000 Avesso Status 0,04 3,25 ***0,053 64,2% Alternativa 0,07 6,31 *0,000 Neutro Status 0,02 1,08 0,352 46,6% Alternativas 0,08 3,73 *0,001 Propenso Status 0,00 0,00 1,000 23,3% Alternativas 0,08 2,08 **0,042 * Significativo a 1%. ** Significativo a 5%. *** Significativo a 10%.

(17)

Para realizar a ANOVA, foi considerado como status quo o formato que cada alternativa possuía (SQ, NEUT e ASQ). A variável dependente foi o indicador obtido através das equações (1), (2) e (3), respectivamente. As alternativas foram consideradas como blocos, pois algumas alternativas foram mais (ou menos) escolhidas que outras, independentemente do tratamento. Por isso, não consi-derar cada alternativa como um bloco poderia trazer resultados equivocados, uma vez que na Tabela 6 verifica-se a significância estatística da influência dos blocos para todos os perfis de risco.

A Tabela 6 mostra que as médias dos formatos de cada alternativa (SQ, NEUT e ASQ) possuem diferenças significativas quando a ANOVA foi realizada para todos os indivíduos e quando foi realizada para o perfil dos indivíduos avessos a risco. Nos perfis de neutralidade e propensão a risco não se pode afirmar que houve influência dos tratamentos na variável resposta.

5. Considerações finais

O presente trabalho teve como objetivo identificar a presença do viés do

status quo em estudantes universitários em nível de pós-graduação. Este tipo

de viés foi inicialmente abordado por Samuelson e Zeckhauser (1988), que perceberam que os indivíduos tendem a dar mais valor a um ativo que já é de sua propriedade do que a um ativo que não possuam, ainda que ambos tenham o mesmo valor de mercado. O conceito de status quo remete à idéia de permanecer na situação atual, ainda que outras opções disponíveis sejam mais interessantes.

Foram aplicados questionários na Universidade do Minho em Portugal, a 201 estudantes de mestrado. Os questionários consistem de perguntas em que o indivíduo precisa tomar variados tipos de decisões, como por exemplo, esco-lher entre uma opção de investimento e escoesco-lher uma empresa para trabalhar, e as alternativas têm três características (SQ, NEUT e ASQ). Se os indivíduos não possuíssem algum tipo de viés comportamental o percentual de escolha em cada alternativa seria o mesmo, independentemente do tratamento dado. Além disso, buscou-se verificar se há alguma influência do perfil de risco de cada indivíduo sobre a intensidade com a qual o viés do status quo aparece no processo de tomada de decisões.

A presença do viés testado foi fortemente confirmada. O padrão encontra-do por Samuelson e Zeckhauser (1988), de que SQ > NEUT > ASQ também foi confirmado com significância estatística na maioria dos casos, embora os resultados do artigo original tenham sido um pouco mais expressivos. Verificou--se também uma relação entre o perfil de risco dos indivíduos pesquisados e a presença de viés em suas decisões. Percebeu-se uma maior influência dos três tratamentos (SQ, NEUT e ASQ) nos resultados gerais (incluindo todos os perfis de risco) e no perfil dos indivíduos avessos a risco.

Shefrin (2001) alerta sobre a importância de os gestores considerarem fatores comportamentais em suas tomadas de decisões. Dessa forma, este texto colabora

(18)

com as pesquisas realizadas no campo de finanças comportamentais, uma vez que se os gestores conhecerem alguns vieses comportamentais aos quais estão expostos, eles poderão tentar eliminá-los durante suas tomadas de decisões.

6. Referências

DUPONT, D.; LEE, G. The endowment effect, status quo bias and loss aversion: rational alternative explanation. The Journal of Risk and Uncertainty, Netherlands, v. 25, n. 1, p. 87-101, Jul., 2002. DUTTA, P. K. Strategies and games: theory and practice. Cambridge: MIT Press, 2001. 481p. HOLT, C. A.; LAURY, S. K. Risk Aversion and Incentive Effects. The American Economic Review, Nashville, v. 92, n. 5, p. 1644-1655, Dec. 2002.

KAHNEMAN, D.; KNETSCH, J. L.; THALER, R. H. Experimental tests of the endowment effect and the Coase Theorem. Journal of Political Economy, Chicago, v. 98, n. 6, p. 1325-1348, Dec. 1990.

________________. Anomalies: the endowment effect, Loss Aversion, and Status Quo Bias. The

Journal of Economic Perspectives, Nashville, v. 5, n. 1, p. 193-206, Winter, 1991.

KAHNEMAN, D.; TVERSKY, A. Prospect Theory: an analysis of decision under risk.

Econome-trica, [S.l.], v. 47, n. 2, p. 263-292, 1979.

_________________. Loss aversion in riskless choice: a reference-dependent model. Quarterly

Journal of Economics, Oxford, v. 106, n. 4, p. 1039-1061, Nov., 1991.

___________________. Advances in prospect theory: cumulative representation of uncertainty.

Journal of Risk and Uncertainty, v. 5, n. 4, p. 297-323, Oct. 1992.

KNETSCH, J. L.; SINDEN, J. A. Willingness to pay and compensation demanded: experimental evidence of an unexpected disparity in measures of value. The Quarterly Journal of Economics, v. 99, n. 3, p. 507-521, Aug. 1984.

MACEDO JR., J. S. Teoria do prospecto: uma investigação utilizando simulação de investimentos. Florianópolis, 2003. 203 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.

SAMUELSON, W; ZECKHAUSER, R. Status quo bias in decision making. Journal of risk and

uncertainty, Dordrecht, v. 1, n. 1, p. 7-59, Mar. 1988.

SHEFRIN, H. Behavioral corporate finance. Journal of Applied Corporate Finance, Oxford, v. 14, n. 3, p. 113-124, Fall 2001.

THALER, R. Toward a positive theory of consumer choice. Journal of Economic Behavior and

Organization, Knoxville, v. 1, n. 1, p. 39-60, Mar. 1980.

VON NEUMANN, J.; MORGENSTERN, O. Theory of games and economic behavior. 3. ed.Princeton: Princeton University Press, 1953. 776 p.

Submetido em 02 de setembro de 2011 Aprovado em 28 de setembro de 2011

(19)

Anexo 1 – Questionário para o perfil de risco

Para cada linha do quadro abaixo escolha entre a Opção A e a Opção B, de acordo com sua preferência e seu perfil de risco. Faça isso começando da decisão 1 e terminando na decisão 10, consecutivamente. Procure imaginar que cada uma das decisões seja uma situação real.

Decisão Opção A Opção B Sua escolha

Opção A Opção B 1 €75 com certeza €0 com 50% probabilidade ou€200 com 50%

2 €80 com certeza €0 com 50% probabilidade ou€200 com 50% 3 €85 com certeza €0 com 50% probabilidade ou€200 com 50% 4 €90 com certeza €0 com 50% probabilidade ou€200 com 50% 5 €95 com certeza €0 com 50% probabilidade ou€200 com 50% 6 €100 com certeza €0 com 50% probabilidade ou€200 com 50% 7 €105 com certeza €0 com 50% probabilidade ou€200 com 50% 8 €110 com certeza €0 com 50% probabilidade ou€200 com 50% 9 €115 com certeza €0 com 50% probabilidade ou€200 com 50% 10 €120 com certeza €0 com 50% probabilidade ou€200 com 50%

(20)

Anexo 2 – Modelo de questionário

A seguir são apresentadas 4 questões onde você deverá assinalar apenas uma das alternativas apresentadas em cada questão.

1) Você é um leitor habitual das páginas financeiras, mas até recentemente teve poucos recursos para investir. Isso até você herdar uma grande quantia em dinheiro de seu tio! Uma parte significativa desta quantia está investida em uma companhia de risco moderado “A”. Portanto, você está a ponderar em deixar a carteira intacta ou mudá-la investindo em outras ações (os impostos e taxa de corretagem de qualquer mudança são insignificantes). As escolhas são (escolher apenas uma alternativa):

a) Manter o investimento na empresa de risco moderado “A”. Durante o tempo de um ano, a ação tem 5 em 10 chances de subir 30% o seu valor, 2 em 10 hipóteses de ficar inalterada, e 3 em 10 hipóteses de cair 20% o seu valor.

b) Investir em uma empresa de alto risco “B”. Durante o tempo de um ano, a ação tem 4 em 10 hipóteses de dobrar o valor, 3 em 10 hipóteses de ficar inalterada, e 3 em 10 hipóteses de cair 20% o seu valor.

c) Investir em títulos do governo. Durante o tempo de um ano, estes títulos terão um retorno quase certo de 9%.

d) Investir em caderneta de poupança. Durante o tempo de um ano, terá um retorno de 6%, não pagando imposto de renda.

2) Como Dirigente de Segurança Pública Regional, você está a considerar al-gumas opções para aumentar a capacidade das prisões da Região. Há quatro alternativas, escolha uma.

a) Ampliar a prisão da Cidade B (lugar com alta densidade populacional) onde irão morar 2000 prisioneiros a um custo de € 150 milhões. b) Construir uma nova prisão na Cidade A (lugar com baixa densidade

populacional) onde irão morar 1500 prisioneiros a um custo de €140 milhões.

c) Construir uma nova prisão na Cidade C (lugar com baixa densidade populacional) onde irão morar 2000 prisioneiros a um custo de €200 milhões.

d) Construir uma nova prisão na Cidade D (lugar com alta densidade populacional) onde irão morar 1000 prisioneiros a um custo de €80 milhões.

(21)

3) Você atualmente trabalha na empresa “D”, médio porte, salário razoável e com boas possibilidades de progressão na empresa. Recentemente seus ex-colegas de universidade entraram em contato e lhe propuseram oportu-nidades de trabalho em outras empresas com as características descritas em cada opção. Você deverá escolher uma delas:

a) Permanecer na empresa D: médio porte, salário razoável e com boas possibilidades de progressão na empresa.

b) Empresa B: pequeno porte, salário alto e com boas possibilidades de progressão na empresa.

c) Empresa C: grande porte, salário alto e com poucas possibilidades de progressão na empresa.

d) Empresa A: pequeno porte, salário razoável e com excelentes possibili-dades de progressão na empresa.

4) Dois meses atrás, você colocou seu nome na lista de espera de uma conces-sionária da Chevrolet para a compra de um novo lançamento, uma Station Wagon (van). A demanda para este modelo excede o que havia sido provi-sionado e a concessionária não tem nenhum controle sobre as Station Wagon que recebe da fábrica (sobre a quantidade e/ou os opcionais que vem nelas). Os clientes da lista de espera enviam à concessionária as suas preferências pelas cores e opcionais. A concessionária chama o cliente do topo da lista quando um carro com as características similares chegar. Para o seu carro, você quer ar condicionado e um DVD-Player com alto-falantes de fábrica. Infelizmente, DVD-Player é uma opção difícil de se conseguir em carros de fábrica. Por conseqüência, para receber o pedido o mais rápido possível, você concorda em aceitar qualquer das seis cores em que a Station Wagon vier. Dois dias atrás um vendedor da concessionária lhe chamou dizendo que uma Station Wagon dourada estava disponível. Hoje você chega na concessionária para pegar o carro (depois de acertar o financiamento) e você é pego de surpresa: três outros carros (com ar condicionado e DVD-Player) chegaram na concessionária nesta manhã. Suas escolhas são (escolha uma): a) Station Wagon dourada, inicial.

b) Station Wagon prata. c) Station Wagon vermelha. d) Station Wagon branca.

(22)

Anexo 3 – Modelos das questões

Questão número “1” cuja alternativa “a” tem caráter status quo.

1) Você é um leitor habitual das páginas financeiras, mas até recentemente teve poucos recursos para investir. Isso até você herdar uma grande quantia em dinheiro de seu tio! Uma parte significativa desta quantia está investida em uma companhia de risco moderado “A”. Portanto, você está a ponderar em deixar a carteira intacta ou mudá-la investindo em outras ações (os impostos e taxa de corretagem de qualquer mudança são insignificantes). As escolhas são (escolher apenas uma alternativa):

a) Manter o investimento na empresa de risco moderado “A”. Durante o tempo de um ano, a ação tem 5 em 10 chances de subir 30% o seu valor, 2 em 10 hipóteses de ficar inalterada, e 3 em 10 hipóteses de cair 20% o seu valor.

b) Investir em uma empresa de alto risco “B”. Durante o tempo de um ano, a ação tem 4 em 10 hipóteses de dobrar o valor, 3 em 10 hipóteses de ficar inalterada, e 3 em 10 hipóteses de cair 20% o seu valor.

c) Investir em títulos do governo. Durante o tempo de um ano, estes títulos terão um retorno quase certo de 9%.

d) Investir em caderneta de poupança. Durante o tempo de um ano, terá um retorno de 6%, não pagando imposto de renda.

Questão número “1” que possui caráter “neutro”, ou seja, o respondente não sai com opções iniciais de investimento.

1) Você é um leitor habitual das páginas financeiras, mas até recentemente teve poucos recursos para investir. Isso até você herdar uma grande quantia em dinheiro de seu tio! Portanto, está a ponderar diferentes alternativas para aplicar esse dinheiro. As escolhas são (escolher apenas uma alternativa): a) Investir em ações de uma empresa de risco moderado “A”. Durante o

tempo de um ano, a ação tem 5 em 10 chances de subir 30% o seu valor, 2 em 10 hipóteses de ficar inalterada, e 3 em 10 hipóteses de cair 20% o seu valor.

b) Investir em uma empresa de alto risco “B”. Durante o tempo de um ano, a ação tem 4 em 10 hipóteses de dobrar o valor, 3 em 10 hipóteses de ficar inalterada, e 3 em 10 hipóteses de cair 20% o seu valor.

c) Investir em títulos do governo. Durante o tempo de um ano, estes títulos terão um retorno quase certo de 9%.

d) Investir em caderneta de poupança. Durante o tempo de um ano, terá um retorno de 6%, não pagando imposto de renda.

Referências

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