II ENCONTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO DA BAHIA
A EDUCAÇÃO COMO MATRIZ DE TODAS
AS RELAÇÕES HUMANAS E SOCIAIS
SALVADOR, BA 2013
EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE: UM OLHAR E O POSICIONAMENTO DO PROFESSOR SOBRE
RELAÇÕES DE GÊNERO NA ESCOLA
Gênero é um tema novo na área de educação e
as problematizações sobre homem e mulher
atravessam períodos históricos, revelam relações
entre homens e mulheres, marcadas por
trajetórias e posturas preconceituosas,
intolerantes, de discriminação de masculinidades
e feminilidades e, em meio a isso, a desigualdade
e exclusão nas relações de gênero e social.
A construção de gênero teve seu início com os movimentos feministas e suas formas de revelar “rejeição ao
determinismo biológico implícito no uso dos termos ‘sexo’ ou ‘diferença sexual’”.
Nos anos 80, ampliou-se, baseado nas concepções e
teorias críticas feministas e pesquisas sobre relações de gênero, envolvendo mulheres e homens e com ações mais abrangentes, integradas a processos mais amplos, como por exemplo, a educação.
Esses movimentos reivindicam pedagogias feministas e práticas educativas não-sexistas, de diferentes posições metodológicas e multiplicidade de encaminhamentos, posições e limites.
Discutir a educação para a diversidade, falando
do olhar e do posicionamento do professor
sobre relações de gênero, objetivando, assim,
levantar provocações sobre construção de
gênero, o gênero construído e vivenciado nos
espaços escolares, o ser mulher e o ser homem e
o lugar social que ocupa cada um dos sexos,
As reflexões sobre gênero nos leva a questionar os
significados do corpo, dos saberes da docência e como fazer para que a escola saia dessa situação, enquanto os saberes sobre a diversidade e a diferença continuarem tendo a
função de oprimir, vigiar, controlar, radicalizar, verticalizar o saber, prontos para (pre)conceituar, selecionar e marcar o diferente.
Outras questões sobre desigualdades de gênero tem sido: -a construção de subjetividades de gênero e sexualidade, a partir da circulação de saberes complexos;
-um novo olhar e posicionamento do professor sobre
identidade, discursos de gênero e conteúdos que circulam na escola.
Há urgência na criação de condições abertas às
reflexões sobre o próprio saber do professor e
seu modo de transmissão de concepções de
gênero e sexualidade na sala de aula e no
trabalho cotidiano.
O professor deve colocar em jogo, a
complexidade dos saberes e observar ao seu
redor com novo olhar, novas metáforas e novos
discursos sobre o ser homem e o ser mulher e
sobre as diferenças sexuais, o masculino e o
feminino.
Para falar de gênero, ao que é ou não é natural, se dá pela linguagem, símbolos e representações e, na
maioria das vezes, envolvem produções de estereótipos, de preconceitos e de desigualdades sociais, inclusive de gênero, classe, raça e, estão presentes no currículo, no olhar e posicionamento do professor na sala de aula e na escola, enfim, em distintos espaços sociais.
Identidade de gênero
linguagem
símbolos
Representações
Sexualidade Masculina: grosseira, resistente,
forte , poderosa.
Sexualidade Feminina: fraca, submissa, frágil,
amável, dócil.
O professor precisa ser provocado para refletir sobre esses processos de produção de
desigualdades nas relações de gênero na escola e nas interações entre alunos.
O professor é um indivíduo e pessoa situada no gênero específico, raça e classe e, mesmo quando resiste a uma posição particular de sujeito e ao
modo de subjetividade que ele traz consigo nas
experiências da docência, nas vivências na família e na sociedade.
Esses processos são marcados por uma cultura e
Os significados empregados para os termos igualdade e diferença entre os indivíduos e as
relações de gênero são importantes para entender as ligações entre as diferenças de gênero e a cultura a respeito do que pensa a
escola sobre homem e mulher, feminino e masculino.
O gênero não pode ser analisado como algo
isolado das reflexões sobre o social, o cultural, o
processo histórico, o global e o local.
O que se percebe como idêntico ou diferente
depende dos critérios utilizados por uma
cultura, suas construções e representações
sobre si própria.
A diferença é um processo complexo,
multifacetado e a diferença de gênero não pode
ser transformada em um objeto em si mesmo.
Não é possível indicar um momento de afirmação categórica, final e definitiva da
definição da constituição de gênero, nem um momento fundador da masculinidade e
feminilidade.
Os gêneros se fazem e se refazem
continuamente ao longo da existência e são socialmente produzidos, dependentes da
história e circunstâncias na vida das
Quando falamos dessa dependência histórica da construção do gênero, não podemos nos esquecer do peso que as imagens e a
linguagem visual assumem, hoje, na educação infantil e séries iniciais do ensino.
A linguagem e o poder se combinam nos
espaços escolares, nas práticas pedagógicas e nas pedagogias culturais, e, assim, constroem fronteiras entre grupos sociais, instituem
posições sociais entre menino e menina nas divisões de tarefas em grupos e separação de alunos por sexo.
O conceito de gênero indica que
aprendemos a ser homem e a ser mulher
do nascimento até a morte.
Essa aprendizagem é transmitida pelas
instituições sociais, pela família, escola,
mídia, pelos grupos de amigos e de
Gênero não se refere mais ao
estudo da mulher
,
mas um conceito que revela “
a construção
relacional e a organização social das diferenças
entre os sexos, desestabilizando o determinismo
biológico e econômico vigente
” e, reforça a
necessidade de pensar “no mesmo tempo
histórico, nos diferentes grupos ou segmentos
sociais”.
Isso “faz com que continue sendo, ainda hoje, um
espaço institucional, constantemente disputado
pelas mais diferentes vertentes políticas e por
distintos movimentos sociais” (LOURO, 2004).
A função formativa da escola e a pertinência
do comportamento do professor são
referências para as mudanças de
comportamento de seus alunos a esse
respeito e o envolvimento com a produção
de identidades sociais.
Gênero “não é algo relativo a papéis
sexuais desempenhados por homens e
mulheres, é uma relação diferencial
construída que pode se incorporar em
homens, mulheres, coisas e conceitos”
(GONÇALVES, 2001).
Há, assim, necessidade de se construir uma
definição de gênero separada de sexo; o
homem e o masculino podem incidir tanto
sobre um corpo masculino como feminino.
A concepção de cultura, identidade, diferença e
noção de sujeito contribuem com estudos sobre
mulher e relações de gênero, exigem
multiplicidade de tipologias sexuais, identidades masculinas e femininas, homossexuais e
heterossexuais e gênero é uma construção histórica e social, com origem e variações
relacionadas a uma cultura, delimitam e ampliam espaços socioculturais, políticos, econômicos e alargam os sentidos para o masculino e o
Ao que tudo indica, a escola é parcial e insensível, quando se trata de relações de gênero e dominação masculina.
Ainda limita-se à circulação de conteúdos preconceituosos de livros didáticos e literários, toma partido, julga,
condena, discrimina e exclui de diferentes modos, nas brincadeiras, no olhar e posicionamento do professor e aprofunda o medo, a desconfiança e ameaças, gerando fluxo crescente de violência e desigualdades de gênero entre seus alunos.
Hoje, ao se falar de relações de gênero na escola, se é levado a pensar, não apenas, nas formas
tradicionais de ensino, representados pelos conteúdos curriculares, mas também, pela postura do professor e do modo de falar de
diferenças de masculinos e femininos, homem e mulher para superar preconceitos e discriminação de gênero na sala de aula.
O professor e seus alunos são sujeitos,
fortemente marcados pelos espaços de onde se pode julgar, classificar, medir, avaliar, punir e
decidir sobre ações, pessoas, relações e moralidades.
O olhar, o fazer e o pensar do professor,
seus saberes e representações não
emergem no vazio, mas em espaços macros
e microssociais, fluentes em tempos
históricos de curta, média e longa duração.
Nesses casos, trata-se, sempre, da questão
de identidade, de saber quem somos, como
somos e por que somos.
Estas são experiências tecidas no mundo
vivido, marcadas pela temporalidade,
territorialidade e espaços na modernidade
e, parece não haver melhor momento para
invocar o professor e a escola a provocar
mudanças de concepções e práticas e,
assim, contribuir para que os conceitos de
raça, etnia, classe, gênero, tenham
importância na construção de suas vidas e
na vida de seus alunos.
O saber-fazer e o pensar cotidiano da escola ainda estão muito distantes de acompanhar as
mudanças, favorecer a construção de saberes e se comprometer com a superação da
desigualdade social ao seu redor, inclusive, de gênero.
Apesar da escola se constituir como espaço sociocultural, convivência de respeito e
valorização da diversidade, destinado a ensinar e aprender a condição humana, os preconceitos de gênero, sexo, raça estão presentes no convívio escolar.
É preciso idealizar espaços de convivência
saudável, valorizar o diálogo aberto e permitir
discussões sobre direitos e deveres do cidadão e igualdade de direitos políticos e educativos,
envolvendo a produção de representações,
representações, ampliação de competências do aluno para lidar com questões importantes, como raça, gênero e suas intersecções.
Há que se pensar em recursos pedagógicos que permitam a superação de estereótipos,
preconceitos e discriminação e criar cultura de direitos humanos, respeito à diferença e a
Por isso, professores e alunos precisam ser
livres, encorajados e obrigados a desenvolver seu próprio currículo numa interação conjunta uns
com os outros.
As metáforas são importantes, produzem
interação, desafios, imaginação e criatividade e colaboram com os professores na elaboração de currículo indisciplinar e fazem parte da
Acreditamos que o olhar e o posicionamento do professor sobre relações de gênero podem
contribuir (ou não) com a superação de
estereótipos, de preconceitos e de discriminação entre o que é ser homem e ser mulher; a
Este é o ponto focal onde se elabora as diferenças e semelhanças, engendra formas de
sociabilidades, separam meninas e meninos nas brincadeiras e atividades escolares, homens e
mulheres no mercado de trabalho, no matrimônio, na casa, na rua, na vida pública e privada, pode
ser transformado com processos de
conscientização, cidadania e sensibilidades pela escola.
Consideramos, portanto, o olhar atento do professor e o seu posicionamento sobre as
relações de gênero, indispensável à elaboração de um trabalho de desconstrução e desencaixe dos estereótipos, dos preconceitos e da discriminação e desigualdades de relações de gênero.
As reflexões sobre gênero e sexualidades,
masculinos e femininos, nesse sentido, devem estar articuladas com a cultura, o cotidiano do aluno e conhecimentos circulados em sala de aula.
A escola precisa avançar no sentido de levar a
discussão dos saberes emergentes que circulam na mídia sobre sexualidade, raça, gênero,
violências e outros para os espaços escolares, valorizar a construção das identidades,
indisciplinarizar o currículo, a postura e o olhar do professor sobre as questões de gênero.
Com estas premissas, torna-se espaço
privilegiado, provocativo e poderá permitir a formação do pensamento crítico do indivíduo.
Por essas razões, necessitamos falar
de gênero nas escolas como um dos
princípios formativos e socialmente
construído, apropriando-se de
conhecimentos e saberes para o
confronto de diferentes concepções e
colaborar com a igualdade de gênero
na escola e na sociedade.
A educação para a diversidade precisa garantir, dentre outros aspectos, o respeito à diferença e a
construção da cidadania, como princípios tecidos
pela pluralidade de relações e retroações de saberes e, conexões que abarcam múltiplas
direções de sentido, diferentes concepções de ensino e pesquisa, encaixar e integrar práticas pedagógicas, ligar o conhecimento do seu
contexto à realidade histórica em que são produzidos e ao cotidiano do aluno.