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Motivação da ação empreendedora à luz das teorias motivacionais clássicas: um estudo de caso

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

MOTIVAÇÃO DA AÇÃO EMPREENDEDORA À LUZ DAS TEORIAS MOTIVACIONAIS CLÁSSICAS: UM ESTUDO DE CASO

Dissertação de Mestrado em Empreendedorismo

DIANA DE LOPES MELO E OLIVEIRA

Trabalho efetuado sob a orientação de: Prof. Doutor Mário Sérgio Carvalho Teixeira

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

MOTIVAÇÃO DA AÇÃO EMPREENDEDORA À LUZ DAS TEORIAS MOTIVACIONAIS CLÁSSICAS: UM ESTUDO DE CASO

Dissertação de Mestrado em Empreendedorismo

DIANA DE LOPES MELO E OLIVEIRA

Trabalho efetuado sob a orientação de: Prof. Doutor Mário Sérgio Carvalho Teixeira

Composição do Júri:

Carmem Teresa Pereira Leal

Artur Fernando Arede Correia Cristóvão Mário Sérgio Carvalho Teixeira

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v Dissertação apresentada à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Empreendedorismo.

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vii À minha mãe Alice.

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ix Agradecimentos

Agradeço à minha mãe o incentivo para a conclusão desta etapa e aos meus amigos, em particular à Mafalda, ao Fábio e ao Flávio, o apoio constante e incondicional.

Ao meu orientador, Professor Mário Sérgio Teixeira, pela colaboração.

E em último mas não menos importante, um especial agradecimento ao Sr. António Ambrósio pelo exemplo de profissionalismo, inovação e persistência. A força, paixão e dedicação que devota ao trabalho e ao conhecimento são uma inspiração para todos. Por isso, obrigada pela sua prestabilidade, total disponibilidade e genuíno interesse em colaborar neste projeto, sem os quais esta dissertação não seria possível.

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RESUMO

Longe de ser um tema que se esgote rápido, o universo humano ainda coloca muitas questões sem resposta, persistindo em desafiar pesquisadores e profissionais, nomeadamente no que diz respeito ao papel e posicionamento do Homem na sociedade produtiva.

Atendendo à presente consciência de que a inovação, o conhecimento e o empreendedorismo podem ser fatores basilares no (bom) desempenho das organizações, o estudo do processo empreendedor revela-se cada vez mais profícuo, uma vez que: (1) motiva a inovação e a mudança tecnológica o que, consequentemente, gera crescimento económico; (2) é um processo importante através do qual o conhecimento é convertido em produtos e serviços; (3) é através dele que a oferta e a procura se equilibram; e, por isso, (4) tem-se tornado numa importante tendência, sendo necessário entender o seu papel no desenvolvimento do capital humano e intelectual (Collins, Locke, & Shane, 2003).

Num ambiente organizacional criado recentemente por uma iniciativa empreendedora cada vez mais ativa, estudar a motivação para a ação empreendedora torna-se ainda mais imprescindível. Por sua vez, por torna-se tratar de um tema multidimensional, a sua pesquisa será inerentemente complexa e multidisciplinar, incluindo contributos teóricos não só do empreendedorismo, como também da psicologia. Deste modo, foi desenvolvido um estudo de caso com o fim de avaliar as motivações inerentes à atividade empreendedora de António Ambrósio, presidente do Grupo 2000. A relevância desta proposta consiste em relacionar a motivação e ação empreendedora sob a ótica da motivação do empreendedor, pois na literatura vigente tem-se priorizado as características individuais e da personalidade do empreendedor, como sendo esses os (únicos) fatores determinantes do sucesso empreendedor. Nesta investigação, em contraste, assume-se a motivação, que dirige e sustenta a ação, como fator crucial no processo empreendedor.

Ficou demonstrado o poder explicativo da teoria das necessidades socialmente adquiridas de D. McClelland (teorias motivacionais de conteúdo), nomeadamente a necessidade de realização e de poder como os principais motivos ou necessidades que levaram António Ambrósio a enveredar por uma atividade empreendedora, ao invés de uma meramente empresarial. Também as teorias da fixação de objetivos de E. Locke e G. Latham e das expectativas de V. Vroom (teorias motivacionais de processo) foram reveladoras de elevado potencial explicativo do processo empreendedor de António. Os resultados evidenciam: (1) como uma fraca instrumentalidade dos objetivos definidos pode minar a motivação do indivíduo, ainda que a força, valência e expectativas sejam elevadas; e (2) que os objetivos pessoais devem ser concordantes com os da organização. Assim, uma visão integradora revela um maior poder explicativo dos efeitos da motivação no processo empreendedor, que a adoção de uma única teoria de entre o leque de teorias motivacionais. Palavras-chave: empreendedorismo, ação empreendedora, motivação, autorrealização, fixação de objetivos, expectativas.

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ABSTRACT

Far from being a subject that quickly runs out of itself, the human universe has yet many questions to answer, it keeps challenging researchers and professionals, particularly with regard at Man‟s place in productive society.

Considering the present awareness that innovation, knowledge and entrepreneurship can be fundamental in (good) performance of the organizations, the study of the entrepreneur is even more fruitful, once that: (1) motivates the innovation and the technological change which, consequently, generates economic growth; (2) it‟s an important process to transform knowledge in products and services; (3) it‟s through them that the offer and demand are balanced; and, as consequence (4) it has become an important tendency, being necessary understand his role in human an intellectual capital development (Collins, Locke & Shane, 2003).

In an organizational environment recently created by an increasingly active entrepreneur initiative, a motivational study for its entrepreneurial action is even more important. On the other hand, being a multidimensional subject, its research will be inherently complex and multidisciplinary; including theory contributes not only from entrepreneurship but also from psychology. Thus, it was developed a study case in order to evaluate Antonio‟s Ambrosio motivations, president of Grupo 2000, inherent to his entrepreneurial activity. This dissertation has its relevance studying the relationship between motivation and entrepreneurial action, according the motivation of the entrepreneur. Current literature has focused primarily on individual and personality characteristics of the entrepreneur, such as the (sole) determinants of entrepreneurial success. As opposed, in this study, motivation is the crucial matter that sustains the action in the entrepreneurial process.

It has been demonstrated the explanatory power of the theory of the socially acquired needs from D. McClelland (motivational theories of content), in particular the necessity of realization and power as the main motives or necessities that took António Ambrósio to an entrepreneurial activity, instead a merely business activity. Likewise the theories of goal settings from E. Locke and G. Latham, and expectations from V. Vroom (processual motivation theories) end up revealing the great potential of António‟s entrepreneurial process. The results shows: (1) as a weak instrumentality of defined goals can compromise the motivation of the individual, even that its strength, competences and expectations are high; and (2) its personal and company's goals must be in pair with each other. Thus, an integrated vision reveals a greater explicative power of the motivational effects in the entrepreneurial process, opposing to using only one theory in the range of motivational theories.

Key words: entrepreneurship, entrepreneurial action, motivation, self-realization, goals setting, expectations.

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ÍNDICE GERAL

INTRODUÇÃO ... 1 ENQUADRAMENTO TEÓRICO ... 9 Capítulo I ... 11 O EMPREENDEDORISMO ... 11

1.A origem do empreendedorismo ... 12

2. Teoria clássica do empreendedorismo ... 14

I. Contextualização ... 14

II. Richard Cantillon ... 15

III. Jean-Baptiste Say ... 16

3. Teoria neoclássica do empreendedorismo ... 19

I. Contextualização ... 19

II. Alfred Marshall ... 20

III. Joseph Schumpeter ... 22

IV. Frank Knight ... 25

4. Teoria de processo de mercado austríaco ... 27

I. Contextualização ... 27

II. Israel Kirzner ... 29

5.Síntese reflexiva ... 32

6.Conclusão ... 37

Capítulo II ... 43

O EMPREENDEDOR E A MOTIVAÇÃO EMPREENDEDORA ... 43

1. A Motivação e o Ciclo Motivacional ... 44

2. O Estudo da Motivação e as Teorias Motivacionais ... 45

2.1 Teorias Motivacionais de Conteúdo ... 49

I. Teoria da Hierarquia das Necessidades de Abraham Maslow ... 50

II. Teoria das Necessidades Socialmente Adquiridas de David McClelland... 53

III. Teoria Bifatorial de Frederick Herzberg ... 56

IV. Teoria ERG de Clayton Alderfer ... 58

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xiv

I. Teoria da Equidade de J. Stacey Adams ... 61

II. Teoria das Expetativas de Victor Vroom ... 64

III. Teoria da Fixação de Objetivos de Edwin Locke e Gary Latham ... 67

IV. Teoria do Reforço de B.F. Skinner ... 70

2.3 Síntese Reflexiva ... 72

3. A Motivação Empreendedora e o seu state of art ... 77

4. Conclusão ... 89

METODOLOGIAS A UTILIZAR ... 93

1. O Estudo de Caso enquanto metodologia de investigação e quando aplicada ao Empreendedorismo ... 95

2. Definição do objeto de estudo do caso e descrição das metodologias de recolha e análise de dados ... 97

DESCRIÇÃO DO ESTUDO DE CASO ... 101

Contextualização ... 103

O panorama nacional no setor das tintas ... 103

O Grupo 2000 ... 105

Ambrósio & Filha, Lda.; Fábrica de Tintas 2000 e Tintas Marilina, S.A. ... 105

António Ambrósio ... 110

Breve apresentação ... 110

Autocaracterização ... 111

A infância em Trás-os-Montes e os estudos ... 113

Início da vida empresarial e os fatores do seu sucesso ... 114

Balanço do seu percurso profissional ... 124

A inevitável sucessão ... 124

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ... 127

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 153

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xv

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Evolução histórica do empreendedorismo... 39

Figura 2. As etapas do Ciclo Motivacional ... 44

Figura 3. Modelo de motivação das teorias de conteúdo ... 50

Figura 4. Pirâmide da Hierarquia das Necessidades de Maslow ... 51

Figura 5. Distinção entre satisfação, ausência de satisfação, insatisfação e ausência de insatisfação da Teoria Bifatorial de Herzberg ... 57

Figura 6. Processo da Teoria da Equidade ... 62

Figura 7. Modelo da Expectativa ... 66

Figura 8. As três etapas no Modelo da Definição de Objetivos... 69

Figura 9. Modelo Integrativo das Teorias da Motivação ... 76

Figura 10. Modelo da motivação empreendedora e do processo empreendedor ... 90 Figura 11. Paralelismo entre a Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow e o

modelo de Herzberg ... A-4

Figura 12. Paralelo entre a Teoria das N. de Maslow e a Teoria ERG de Alderfer ... A-4 Figura 13. Evolução das Importações e Exportações nacionais, Diário Económico,

suplemento “Tintas”, 22 de Outubro de 2013 ... A-5

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1. Papéis do empreendedor na história económica ... 40

Quadro 2. Conclusões baseadas nas perspetivas históricas do empreendedorismo ... 40

Quadro 3. Determinantes do empreendedorismo bem-sucedido, pelos principais autores ... 41

Quadro 4. Programas de Reforço ... 71

Quadro 5. Diferenças e semelhanças entre as Teorias Motivacionais de Conteúdo ... 73

Quadro 6. Diferenças e semelhanças entre as Teorias Motivacionais de Processo ou Cognitivas ... 73

Quadro 7. Pressupostos, implicações e limitações do modelo integrativo de Vroom e Deci ... 75

Quadro 8. Resultados do estudo de Dias e Hoeltgebaum... 87 Quadro 9. Diferenças entre o enfoque Mecanicista e Humanista ... A-3 Quadro 10. Características comummente atribuídas a empreendedores ... A-6

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1

INTRODUÇÃO

Longe de ser um tema que se esgote rápido, o universo humano ainda coloca muitas questões, nomeadamente sobre a natureza do trabalho, como o papel e posicionamento do Homem na sociedade produtiva, que continuam a desafiar pesquisadores e profissionais de todo o mundo, mesmo no século XXI.

A economia empreendedora identificada por Peter Drucker nos anos 70 nos Estados Unidos da América, como referido por Dias e Hoeltgebaum (2005), tem adquirido um status especial nos últimos anos, já que se percebeu que a inovação, o conhecimento e o empreendedorismo podem ser, em alguns casos, apontados como os principais fatores determinantes ao bom desempenho das organizações. Ao interferir na mudança de atitudes e comportamentos do Homem, o empreendedorismo acabaria também por determinar uma alteração na conduta da sociedade, mudando a trajetória natural das carreiras profissionais, da estrutura organizacional das empresas e da própria natureza do trabalho.

Collins, Locke e Shane (2003) afirmam que o estudo do processo empreendedor é profícuo uma vez que: (1) motiva a inovação e a mudança tecnológica o que, consequentemente, gera crescimento económico; (2) é um processo importante através do qual o conhecimento é convertido em produtos e serviços; (3) é através dele que a oferta e a procura se equilibram; e (4) tem-se tornado numa importante tendência, sendo necessário entender o seu papel no desenvolvimento do capital humano e intelectual.

Várias são as definições de empreendedorismo e importa assumir uma que não limite a ação do empreendedor, isto é, que não exija vermos os empreendedores como fundadores de novas organizações apenas, quando na verdade o empreendedorismo abarca muito mais que isso, apesar de grande parte da investigação insistir somente numa distinção entre empreendedores e não empreendedores atendendo ao critério da criação de novas empresas. Como Shane e Venkataraman (2000) afirmam, o empreendedorismo é um processo pelo qual as oportunidades para criar bens futuros e serviços são descobertas, avaliadas e exploradas; o que pressupõe que indivíduos que não sejam empresários ou fundadores de empresas possam também ser empreendedores.

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2 Mais ainda, tal revela que o empreendedorismo é um processo criativo ao requerer que os empreendedores incorram numa atividade criativa aquando da reorganização dos recursos de uma nova forma - o nível ou grau de criatividade exigido no processo empreendedor vai variar consoante o tipo de recursos a serem combinados. Assim, na perspetiva de Filion (1999), o empreendedorismo é o resultado tangível ou intangível de uma pessoa com habilidades criativas, revelando-se como uma complexa conjugação de experiências de vida, capacidades individuais e oportunidades que durante o seu exercício estão sujeitas à variável risco e incerteza.

Uma vez que o empreendedorismo não é apenas resultado da ação humana, importa também adotar sempre uma visão alargada que considere não só o indivíduo e a oportunidade de negócio mas também outros fatores envolventes, numa relação de interdependência; ainda que não seja dessa conjugação de fatores que esta investigação trata. Na verdade: (1) fatores políticos como as restrições políticas ou regulamentações governamentais, a qualidade da aplicabilidade da lei, a estabilidade política e estabilidade da moeda; (2) as forças de mercado, como a estrutura da indústria, o regime tecnológico, barreiras à entrada no mercado, as ações dos concorrentes, o tamanho do mercado e a demografia da população; e, finalmente, (3) os recursos, como a disponibilidade de capital de risco, a disponibilidade da força laboral, as infraestruturas de transporte e a tecnologia complementar desempenham um papel importantíssimo em todo o processo empreendedor. A decisão de criar uma nova empresa, ou não, resulta assim essencialmente das normas sociais e restrições económicas, estando estas fortemente dependentes das condições contextuais de cada país, daí terem que ser levadas em consideração aquando do estudo do empreendedorismo.

O estudo do empreendedorismo é então um processo multidimensional que requer uma análise aprofundada, sendo a sua pesquisa inerentemente complexa e multidisciplinar, tal como esta investigação que tanto abrange temas da psicologia como do empreendedorismo, pois assim exige o estudo da motivação da ação empreendedora.

Aquando do estudo do empreendedorismo, importa analisar as pessoas envolvidas no processo. Obviamente que uma análise dos fatores macroeconómicos é importantíssima no processo empreendedor, como já referimos, uma vez que lida com aspetos financeiros e fatores estruturais e sociais, e é sobre esses que a grande maioria dos estudos se centra; no entanto, pode-se incorrer no erro de se considerar apenas um grupo homogéneo de pessoas, com experiências e características semelhantes (Kapp,

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3 Smith-Hunter, & Yonkers, 2003), quando na verdade, ainda que partilhemos muitas semelhanças, acabamos todos por ser distintos e únicos enquanto seres humanos. Não podemos descurar desta análise o indivíduo, em que cuja mente todas as possibilidades se reúnem e que integra em si mesmo a motivação para buscar oportunidades de forma empreendedora.

Desta forma, a psicologia pode ser um bom contributo ao estudo do empreendedorismo por distinguir-se de outras ciências comportamentais pela sua ênfase no comportamento da pessoa individual; comportamento esse que, por sua vez, é influenciado pela forma como o mundo exterior é representado e percecionado na mente e pelo exercício da escolha ou tomada de decisões. A pesquisa sobre a psicologia do empreendedor é um primeiro passo no fornecimento de conteúdo, muito necessário para uma área onde ainda existem muitas perguntas sem resposta (Kapp, Smith-Hunter, & Yonkers, 2003).

Num ambiente organizacional criado recentemente por uma iniciativa empreendedora cada vez mais ativa, estudar a motivação para a ação empreendedora torna-se ainda mais imprescindível.

A relevância desta proposta consiste em relacionar a motivação e ação empreendedora sob a ótica da motivação do empreendedor, pois na literatura vigente prioriza-se muito as características individuais e da personalidade do empreendedor, como sendo esses os (únicos) fatores determinantes do sucesso empreendedor. Nesta investigação, em contraste, assume-se a motivação, que dirige e sustenta a ação, como fator crucial no processo empreendedor. Portanto, a presente dissertação fornece um olhar inovador sob o desenvolvimento da ação empreendedora, ao analisá-la segundo o prisma dos fatores motivacionais que lhe são inerentes.

Ora, mesmo havendo interações óbvias entre o ambiente e as variáveis motivacionais, até porque os empreendedores podem agir de forma a modificar o ambiente envolvente (Collins et al., 2003); estando os fatores ambientais mantidos constantes ou controlados, é possível isolar os efeitos da motivação humana no desempenho empreendedor. Não negando, de forma alguma, o valor da exploração aprofundada das interações entre vários fatores no processo motivacional, é também importante entender-se primeiro os efeitos destas variáveis individualmente – propósito desta investigação. Desta forma, entender como os fatores motivacionais afetam a ação empreendedora é o grande objetivo desta investigação.

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4 Constata-se que o empreendedor pode ser um elemento chave de uma empresa e que, através dos seus valores, motivações e características comportamentais, pode determinar o sucesso ou o fracasso do seu empreendimento. Por esse motivo, o conhecimento dos fatores motivacionais mais relevantes para o empreendedor na abertura dos negócios e manutenção de um empreendimento e sua satisfação com o desempenho do mesmo, são fundamentais para uma melhor e mais completa compreensão do processo empreendedor.

Ainda que pesquisas recentes tenham sido largamente aceites na argumentação de que as pessoas variam na sua vontade e habilidade de se comprometerem em processos empreendedores devido a diferenças individuais não motivacionais, como o custo da oportunidade, o capital financeiro, a rede de contactos com investidores ou mesmo a experiência profissional (Collins et al., 2003), as diferenças motivacionais, a vontade e habilidade do indivíduo agir perante estas oportunidades, influenciam fortemente o processo empreendedor. Não se trata tanto de procurar diferenças entre indivíduos empreendedores e outros indivíduos não empreendedores na sociedade, identificando potenciais empreendedores com base em determinadas características da personalidade, como a abordagem centrada nas características ou traços faz, mas sim desvendar o que está por detrás da atividade empreendedora per si.

Embora saibamos que o sucesso de um empreendimento e as qualidades de um empreendedor sejam interdependentes, ainda que possam ser analisados em separado; é sabido que apenas a presença das características empreendedoras em indivíduos com sucesso não são suficientes para garantir o sucesso de uma empresa (Dias, & Hoeltgebaum, 2005). Ainda assim, acredita-se haver uma forte relação entre o sucesso dos negócios e a motivação empreendedora, principalmente em empreendimentos novos; uma vez que não só a busca da criação de um novo empreendimento, mas também a própria disposição para mantê-lo estão diretamente ligados à motivação de cada um (Hoeltgebaum, Loesch, & Santos, 2003). Dias e Hoeltgebaum (2005) alegam que existe uma clara relação entre o indivíduo que deseja criar um novo empreendimento e fazê-lo funcionar com sucesso e a motivação empreendedora deste, variando apenas a motivação empreendedora subjacente. De facto, os motivos para empreender não são os mesmos para cada indivíduo, até porque as características dos próprios empreendedores também diferem na iniciativa pessoal, na capacidade de

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5 gestão, no desejo de autonomia e até mesmo na disposição de assumir riscos, que é importantíssima na atividade empreendedora.

De facto, Dias e Hoeltgebaum (2005) apontam para uma carência de trabalho empírico sobre a motivação empreendedora, apesar de alguma pesquisa ter sido feita para entender o que leva o indivíduo a empreender o seu próprio negócio.

Posto isto, o grande objetivo desta investigação gira em torna da pergunta “como pode a motivação influenciar a atividade empreendedora?”; para além disso, constatam-se outros objetivos a constatam-serem atingidos, nomeadamente: (1) rever os contributos mais importantes sobre o empreendedorismo e que o encaram enquanto função económica, complementando com uma análise do empreendedorismo sob o ponto de vista psicológico, caracterizado por um forte enfoque nas motivações dos empreendedores; (2) esclarecer o conceito de motivação, de modo a examinar a motivação empreendedora à luz das principais teorias clássicas da motivação; (3) confirmar que a motivação tem um papel importante na iniciativa empreendedora; (4) desvendar quais as motivações que concretamente tiveram um papel impulsionador e de manutenção na atividade empreendedora no objeto de estudo – António Ambrósio; (5) confirmar a hipótese de que as recompensas extrínsecas, nomeadamente as financeiras, não são o principal motivo da iniciativa empreendedora; (6) confirmar a hipótese de que a necessidade de realização, da Teoria das Necessidades Socialmente Adquiridas de D. McClelland, é dos principais motivos para a atividade empreendedora; (7) caracterizar a trajetória e percurso profissional de António Ambrósio e o impacto da sua atividade empreendedora.

Para isso, do ponto de vista metodológico optou-se pelo estudo de caso por se revelar frutífero na resposta às perguntas do tipo “como” ou “porquê”, como é o caso do objetivo desta investigação (Como pode a motivação influenciar a atividade

empreendedora?). Mais ainda, é uma metodologia flexível que permite reter tanto

características holísticas, neste caso tanto de António Ambrósio e seu percurso empreendedor e profissional, bem como do Grupo 2000, como de características mais pormenorizadas, como é o caso das motivações empreendedoras, dentro de um contexto de vida real, atual e do quotidiano.

Em termos estruturais, esta investigação apresenta-se dividida da seguinte forma: Enquadramento Teórico dividido em dois capítulos, Metodologias a Utilizar,

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6 Descrição do estudo de caso, Conclusões e Recomendações, seguido das Referências Bibliográficas e Anexos.

Nesta dissertação seguimos os pressupostos de Stevenson e Sahlman (1987, cit. por Philipsen, 1998) que distinguem entre as abordagens que veem o empreendedorismo segundo a sua função económica e as que identificam o empreendedor enquanto ser individual, ainda que não linearmente. De facto, e segundo Zinga (2007), a abordagem que vê o empreendedorismo segundo a sua função económica inclui todas as teorias que pretendem explicar a atividade empreendedora e a criação de empresas com base na racionalidade económica (como exemplo temos a teoria de desenvolvimento económico de Schumpeter), ao passo que a abordagem psicológica procura estudar o empreendedor como um indivíduo com determinadas características, atitudes, valores e necessidades que o distinguem de outros indivíduos na sociedade (como defende Kirzner).

No entanto, porque defendemos uma abordagem integrativa e multidisciplinar, que inclua o melhor de ambas as abordagens e áreas de estudo, iremos começar por abordar no primeiro capítulo do enquadramento teórico a definição do empreendedorismo e sua respetiva evolução histórica enquanto função económica e no segundo capítulo será feito um sumário dos principais conceitos sobre a motivação humana, o ciclo motivacional e as teorias da motivação, cruciais para o pleno entendimento do presente estudo de caso que mais tarde será explanado e analisado.

Posto isto, no Capítulo I O EMPREENDEDORISMO, do Enquadramento Teórico, iremos começar por abordar sucintamente o início do conceito do empreendedorismo, ainda que não na sua forma moderna, com a origem do

empreendedorismo (ponto 1). De seguida, no ponto 2, 3 e 4 partimos para a análise das

teorias económicas do empreendedorismo, que se caracterizam por ver o papel do empreendedor na economia num nível conjunto e que, segundo Philipsen (n.d.), tende a tratar o empreendedorismo como uma caixa negra. Não obstante, as ideias apresentadas por estes contributos têm uma enorme influência na teria do empreendedorismo e são apresentadas distinguindo a teoria clássica (ponto 2), da neoclássica (ponto 3) e do processo de mercado austríaco (ponto 4). Assim, a teoria clássica do empreendedorismo é representada por Richard Cantillon e Jean-Baptiste Say; de seguida, a teoria neoclássica toma lugar, com nomes sonantes como Alfred Marshall, Frank Knight e, apesar de discordar de algumas premissas da perspetiva neoclássica do

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7 empreendedorismo, Joseph Schumpeter; e, por fim, a teoria do processo de mercado austríaco, representado por Israel Kirzner, vem concluir esta secção. Após a apresentação dos diversos contributos das três distintas teorias, foi feita uma síntese que reflete os principais contributos desses autores e que inclui algumas das críticas apontadas, que estão explanadas no ponto 5, seguido do ponto 6 onde é feita uma conclusão deste primeiro capítulo.

No Capítulo II O EMPREENDEDOR E A MOTIVAÇÃO

EMPREENDEDORA, do Enquadramento Teórico, é abordado inicialmente o conceito de motivação e ciclo motivacional (ponto 1), sendo seguido do estudo da motivação e das teorias motivacionais (ponto 2). Foi usada nesta investigação a distinção das diferentes abordagens sobre motivação em duas categorias, sendo elas as teorias motivacionais de conteúdo e as teorias motivacionais de processo ou cognitivas. As primeiras (ponto 2.1) focam-se nas necessidades, tratam da descrição do conteúdo das motivações e presenciam o que impulsiona o comportamento, abrangendo as variáveis individuais ou situacionais que se supõem como responsáveis da conduta humana. De entre as propostas teóricas desta categoria, destacam-se as seguintes: Teoria da Hierarquia das Necessidades de Abraham Maslow, Teorias das Necessidades Socialmente Adquiridas de David McClelland, Teoria Bifatorial de Frederick Herzberg e Teoria ERG de Clayton Alderfer. As teorias motivacionais de processo ou cognitivas (ponto 2.2) focam-se nos objetivos e explicam o processo pelo qual a conduta humana tem início, se mantém e termina; sendo exemplos representativos desta categoria a Teoria da Equidade de J. Stacey Adams, a Teoria das Expectativas de Victor Vroom, a Teoria da Fixação de Objetivos de Edwin Locke e Gary Latham e a Teoria do Reforço de B. F. Skinner. São também enumerados, no ponto 3, intitulado “a motivação empreendedora e o seu state-of-the-art”, alguns dos principais estudos e investigações relevantes e pertinentes desenvolvidos na área, ilustrativos do estado da arte da temática da presente investigação, como é o caso do estudo de Dias e Hoeltgebaum (2005). Na conclusão deste capítulo (ponto 4) é abordada uma figura de Collins, Locke e Shane (2003) representativa do papel da motivação humana no empreendedorismo.

O capítulo Metodologias a Utilizar tem como finalidade a definição metodológica da investigação presente, com o propósito de responder ao problema definido anteriormente e ao cumprimento dos objetivos previamente estabelecidos. Definido o tema de estudo, é necessário proceder à revisão teórica da temática

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8 selecionada, bem como a revisão de estudos pertinentes e/ou autores que tenham sido cruciais no aprofundamento e desenvolvimento da temática; terminada esta fase, segue-se a escolha da metodologia mais adequada. Na Descrição do Estudo de Caso, como o nome indica, é apresentado o objeto de estudo desta investigação onde se descreve e caracteriza António Ambrósio, o seu percurso profissional, bem como as empresas do Grupo 2000, Ambrósio & Filha, Lda., Tintas 2000 e Tintas Marilina, S.A.. De seguida, no capítulo referente às Conclusões e recomendações são apresentadas as principais conclusões do estudo de caso, bem como recomendações e sugestões para investigações futuras.

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ENQUADRAMENTO TEÓRICO

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Capítulo I – O EMPREENDEDORISMO

importância e o impacto do campo do empreendedorismo estão a aumentar no contexto académico bem como na sua aplicabilidade prática (Murphy, Liao, & Welch, 2006).

Segundo Murphy et al. (2006), uma visão histórica sobre o desenvolvimento conceitual do pensamento empreendedor fornece aos profissionais uma lente para interpretar e explicar a sua própria atividade empreendedora e uma base orientadora de pesquisa e formulação de novas perguntas aos académicos.

Assim, um dos objetivos desta secção prende-se com a interpretação e explicação da evolução do pensamento empreendedor, usando para isso a história para unificar os conceitos existentes e subjacentes ao campo, de forma a detetar uma base conceitual. De facto, assim é possível traçar e delinear como a teoria e constructos passados resultaram nas atuais premissas sobre o empreendedorismo, permitindo simultaneamente a identificação de alguns conceitos a estudar mais aprofundadamente no futuro.

Convém salientar que avaliar perspetivas futuras de uma disciplina académica baseada em informações históricas é altamente especulativo, já que uma narrativa histórica acaba sempre por ser uma junção de sensibilidades cognitivas e de uma tentativa de descrever o passado como ele realmente aconteceu (Murphy et al., 2006), sendo inevitável isso também suceder na teoria do empreendedorismo.

Ainda que a história do desenvolvimento conceitual no pensamento empreendedor seja complexa (Murphy et al., 2006), e que a interpretação e explicação da expansão do conhecimento no campo do empreendedorismo sejam cheias de surpresas (Murphy et al., 2006), uma revisão da evolução história do empreendedorismo era premente, estando esta acompanhada da devida contextualização e também de uma síntese das mais importantes personalidades e respetivos contributos.

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1. A origem do empreendedorismo

Embora manifestando-se de forma bem diferente do que nos tempos modernos, segundo uma visão antropológica, o início da atividade empresarial remonta ao princípio da história da humanidade, segundo Murphy e colaboradores (2006). O mecanismo empresarial está e sempre esteve presente nas comunidades e sociedades, embora a sua manifestação dependesse de variáveis lógicas dominantes e de sistemas de recompensa (Murphy et al., 2006). De facto, o sucesso das primeiras formas de empreendedorismo em tempos antigos e medievais dependiam também da superação do risco e incerteza e de alguns constrangimentos institucionais, sendo consequência das trocas de recursos, ferramentas inimitáveis e até mesmo alimentos, em resposta às necessidades de sobrevivência das tribos e clãs (Monteiro, 2010).

As primeiras abordagens ao empreendedorismo, segundo Monteiro (2010), surgem no período da Grécia Antiga, pela mão do filósofo grego Xenophon, que descreveu as atividades dos cidadãos livres (chefes de família ou gestores de pequenos negócios familiares) e as características associadas ao empreendedorismo.

Mais tarde, depois de Aristóteles, filósofo grego discípulo de Platão, equiparar a atividade económica a um jogo de soma zero, em que a perda de um homem é o ganho de outro (Praag, 1999), a realização de lucros era entendida como um roubo (Monteiro, 2010).

De facto, foi no período da Roma Antiga, aproximadamente em 50 d.C., em consequência do desenvolvimento dos sistemas de controlo social, regulações e instituições, que emergem novos rumos para a atividade empresarial, fruto também da introdução de impostos na agricultura (Murphy et al., 2006); já que a acumulação de riqueza pessoal só era aceitável desde que não implicasse uma participação direta na indústria ou no comércio, áreas povoadas por ex-escravos e outros homens libertos.

Murphy e colaboradores (2006) postulam ainda que embora a riqueza fosse desejável, por volta de 500 d.C., a sua geração tornou-se ainda mais complicada devido ao direito à propriedade e à forte influência da igreja na economia, em grande parte agrária, do início da Idade Média.

O desencorajamento da exploração empresarial também ocorreu na China, por exemplo, ainda que com contornos diferentes (Murphy et al., 2006). Os autores alertam

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13 que aquando de dificuldades financeiras do império chinês, o risco de as propriedades serem confiscadas passou a ser comum, resultando daí que quem tinha capital e recursos acabava por não os aplicar e investir, pelo menos não de forma visível. Assim, tal como na Roma antiga, os contextos sociais desencorajavam a atividade empresarial e a acumulação de riqueza.

Entre 500 e 1000 d.C., no início da Idade Média, surgiram novas formas de empreendedorismo fortemente associadas à atividade militar preventiva e à promoção da guerra, como sendo o principal meio para a geração de riqueza e obtenção de poder (Monteiro, 2010; Murphy et al., 2006). A propriedade e o status quo, tão valorizadas anteriormente, perdem relevância uma vez que revelaram que, por si só, não eram garantia de sucesso. Assim, a inovação e o empreendedorismo manifestaram-se frequentemente como passíveis de melhorar a estratégia militar e instrumentos de guerra, desencadeando um papel fulcral durante este período.

No final da Idade Média (1000-1500 d.C.), com a redução da proliferação de guerras, devido à pacificação da igreja, atividades como arquitetura, engenharia e agricultura tornaram-se as principais formas de empreendedorismo e de obtenção de lucro; já que como a usura não foi aceite pela igreja, conhecimentos especializados para descobrir outros tipos de oportunidades foram agora necessários (Murphy et al., 2006). Monges e puritanos, talvez impulsionados pela necessidade de poupar tempo para a atividade monástica (Murphy et al., 2006), foram os principais empreendedores, principalmente na agricultura (Monteiro, 2010). Uma vez que as atividades como a usura, como supramencionado, foram altamente condenadas pela igreja, o estilo de vida mais puritano, resultante da relação da igreja com a atividade capitalista, resultou na distinção de três distintas categorias de comerciantes “honrados”, sendo elas: os importadores/exportadores, os lojistas e os fabricantes (Murphy et al., 2006). Através de tais desenvolvimentos, o empreendedorismo tornou-se socialmente melhor aceite até porque se revelou economicamente mais compensador.

A atividade empresarial expandiu-se ao longo dos séculos XVI e XVII a par da Revolução Industrial e a atividade empreendedora e os conhecimentos empíricos baseados nas capacidades constituíram-se cada vez mais como sendo importantes para corrigir ineficiências ou oferecer novas soluções, produtos e/ou serviços (Monteiro, 2010; Murphy et al., 2006). A expansão do comércio internacional de bens em excesso, por sua vez, trouxe benefícios sociais que permitiram conciliar o mercantilismo e a

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14 igreja (Murphy et al., 2006) e prenunciou o empreendedorismo eticamente social dos tempos modernos. Ainda assim, em comparação com os tempos modernos, a proporção da população em geral que se envolvia em atividades empresariais antes do século XVIII era deveras diminuta.

Estas condições eram parte integrante do pensamento empresarial até à chegada da economia clássica que depôs determinados princípios, revelando novas formas de se ser empreendedor no contexto de um sistema económico em desenvolvimento (Monteiro, 2010) e, a partir da abordagem de Richard Cantillon, referido já de seguida, os economistas começaram a teorizar acerca do comportamento humano, na procura de consistência na teoria empreendedora (Grebel, Hanusch, & Pya, 2001).

2.

Teoria clássica do empreendedorismo

I. Contextualização

A teoria clássica do empreendedorismo exalta as vantagens do comércio livre, da especialização e da competição (Murphy et al., 2006).

De acordo com Murphy et al., (2006), com o movimento clássico foi possível dividir e caracterizar o trabalho e a produção em todos os setores; mais ainda, ajudou a estabelecer os conceitos económicos formais de valor e de distribuição. Segundo os mesmos autores, com a proliferação do comércio externo tornou-se amplamente adotada a medição de diferenciais na moeda, caminhando para uma macroperspetiva que descreve objetivamente a atividade de mercado global. Outra consequência do movimento clássico apontado pelos autores prende-se com a ideia de que a especialização da produção a nível nacional oferece vantagens comparativas em relação a outros países, permitindo que os empreendedores possam usufruir das oportunidades arbitrárias daí resultantes. Devido ao contexto da revolução industrial da Grã-Bretanha, que começou em meados de 1700, a concorrência e competição crescentes entre as indústrias atribuiu ao empreendedor um papel de particular importância no mercado; mais ainda, permitiu definir os riscos na obtenção de matérias-primas e salientar a importância da formação dos trabalhadores e da descoberta de nichos de mercado (Murphy et al., 2006).

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15 De seguida sintetizam-se os contributos dos principais autores responsáveis pelos pressupostos da teoria clássica do empreendedorismo: o banqueiro irlandês Richard Cantillon e o economista francês Jean Baptist Say.

II. Richard Cantillon

Richard Cantillon era um banqueiro irlandês descrito como um homem em busca de oportunidades de negócios, preocupado com a gestão inteligente de negócios e a obtenção de rendimentos otimizados para o capital investido (Filion, 1998).

Pode-se considerar que Cantillon foi quem introduziu o conceito de

empreendedorismo, na medida em que apesar de o termo existir previamente e ser usado

de forma imprecisa, foi ele que lhe infundiu conteúdo económico preciso e reconheceu a função empreendedora dentro do sistema económico (Praag, 1999). Segundo Filion (1998), Cantillon não estava apenas interessado em economia, mas também em empresas, na criação de novos empreendimentos e no desenvolvimento e gestão de negócios.

Grebel et al. (2001) afirma que Cantillon, para além de ter sido o primeiro a enfatizar a função económica do empreendedorismo, também distinguiu o papel social dos empreendedores além da sua função económica. No entanto, Cantillon ressaltou apenas a função do empreendedor e não a sua personalidade (Philipsen, 1998). De facto, após a publicação póstuma da obra Essai sur la Nature du Commerce en Général, em 1755, o empreendedor passou a aparecer na teoria económica como contribuinte para o valor económico da sociedade (Praag, 1999).

Cantillon reconheceu a existência de três importantes agentes económicos: os proprietários de terras ou os capitalistas, os empreendedores ou os árbitros e, por fim, os mercenários ou os trabalhadores assalariados (Praag, 1999). Assim Cantillon descreveu a dinâmica do empreendedorismo da seguinte forma: o agricultor é um empreendedor que promete pagar ao proprietário de uma propriedade ou terreno uma quantia fixa, sem a certeza, no entanto, do lucro que poderá obter dessa exploração (Cantillon, 1755, cit. por Monteiro, 2010). Esta definição de empreendedor proposta por Cantillon é a mais simples e abrangente alguma vez apresentada na história do empreendedorismo (Monteiro, 2010).

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16 Na perceção de mercado de Cantillon, segundo Praag (1999), que consiste numa “rede de autorregulação de arranjos cambiais recíprocos”, o empreendedor assume um papel central, uma vez que “é responsável pelos intercâmbios e circulação na economia”, isto é, traz o equilíbrio entre a procura e a oferta através do seu papel de arbitragem pura. Isto significa que apesar de o empreendedor ter que estar atento e voltado para o futuro, este não tem que ser inovador na medida em que a sua tarefa se baseia meramente na arbitragem entre a procura e a oferta (Praag, 1999), relacionando a atividade empreendedora à incerteza (Zinga, 2007).

Cantillon defende, no entanto, que o empreendedor se deve envolver noutras atividades profissionais além da arbitragem, mas o que distingue a atividade empreendedora das restantes (da empresarial per si) reside no grau de incerteza relacionado à assunção do risco, que derivam em rendimentos não contratuais e incertos (Praag, 1999). Assim, o fator motivacional para o empreendedor reside no lucro gerado a partir da atividade de compra a um determinado preço e venda a um preço incerto; este grau de incerteza acarreta sempre o risco de perda de capital (Philipsen, 1998).

Fica claro que o empreendedor nem sempre é proprietário de recursos e os lucros são incertos e de natureza residual, uma vez que os custos são fixos e o retorno variável (Monteiro, 2010). Se o empreendedor não dispor de capital próprio, pode sempre recorrer ao mercado monetário para arrecadar o montante necessário ao empreendimento, ficando obviamente obrigado ao pagamento de um preço pelo empréstimo (Praag, 1999).

Resumindo, é no grau de incerteza que a atividade empresarial acarreta que reside a existência de uma classe empreendedora, a qual age de forma a gerir o risco e manter o equilíbrio dentro do sistema económico (Praag, 1999). Esta conceção de Cantillon constitui o ponto central das teorias clássicas e neoclássicas que emergiram a

posteriori (Zinga, 2007).

III. Jean-Baptiste Say

O conceito „empreendedor‟ também foi usado por J. B. Say por volta de 1800 (Philipsen, 1998), um economista francês dos finais do século XVIII e início do século XIX, precursor da teoria clássica do empreendedorismo (Monteiro, 2010).

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17

O termo empreendedor é difícil para processar em Inglês, a palavra correspondente, empresário, tem vindo a ser usada num sentido limitado. Significa o mestre-fabricante na fabricação, o agricultor na agricultura, e o comerciante no comércio; e em geral em todos os três ramos, é a pessoa que toma sobre si a responsabilidade imediata, o risco e conduz de forma cuidada a indústria, tanto do seu próprio capital como do capital emprestado. Por falta de uma palavra melhor, ele será traduzido para Inglês pelo termo aventureiro. (p. 78)

Segundo Grebel et al. (2001), Say viu o empreendedor segundo uma perspetiva empírica para descobrir o real comportamento empreendedor, que depois tentou reduzir num segundo passo para uma teoria geral do empreendedorismo, subtraindo todos os aspetos acidentais atribuíveis a teorias ou circunstâncias sociais e institucionais. Os mesmos autores acrescentam ainda que a função do empreendedor, segundo Say, é a de compreender a tecnologia e assim ser capaz de transferir esse conhecimento num produto comercializável que atenda às necessidades dos consumidores.

A teoria empreendedora de Say rejeita por inteiro o pressuposto de Aristóteles do “jogo de soma zero”, como salienta Praag, (1999); mais ainda, Say considera que a produção dá aos materiais, tanto aos da natureza como o capital, uma utilidade que antes não possuíam – a esta produção/criação de utilidade Say (1971) denomina de produção de riqueza:

Todos tomam como um dado adquirido que o que um indivíduo ganha precisa ser a perda de outro, que o que se ganha para um país é inevitavelmente perdido para outro: como se as posses de abundância de indivíduos e comunidades não pudessem ser multiplicados, sem o roubo de uma outra pessoa … . (p. 70)

Say fazia também a distinção entre empreendedores e capitalistas e os respetivos lucros; ao fazê-lo, associou os empreendedores à inovação e via-os como os agentes da mudança. Ele próprio era um empreendedor e foi o primeiro a definir as fronteiras do que é ser um empreendedor na conceção moderna do termo, daí ser considerado o pai do empreendedorismo, ao lançar os alicerces desse campo de estudo (Filion, 1998).

Na sua obra, A Treatise on Political Economy or the Production, Distribuition

and Consumption of Wealth (1803, 1971), que reflete o pensamento clássico sobre o

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18 na produção, e ainda na distribuição de produtos ou serviços (Zinga, 2007). De facto, Say foi o primeiro economista a sublinhar o papel do empreendedor na gestão, pois não só é coordenador da empresa e até do próprio mercado, mas é também líder e gerente dentro da sua empresa. Comparando com outros economistas clássicos, Say estende a função do empreendedor, como definida por Cantillon, já que lhe dá uma posição muito proeminente em todo o sistema de produção e consumo (Praag, 1999). Say (1971) salienta ainda que o empreendedor, para além das funções gerais supramencionadas, deve desempenhar também tarefas específicas e concretas dentro da empresa, tal como qualquer outro funcionário e, inclusive, prescindir do seu próprio capital, como comummente sucedia:

Não que deva ser rico, pois é possível trabalhar mesmo sem capital próprio, mas deve ser pelo menos solvente e ter a reputação de inteligente, prudente, honorável e ordenado, bem como ser capaz, pela natureza das suas conexões, de adquirir empréstimos de capital se não os possuir. (pp. 330-331)

Desta forma, tem que igualmente lidar com o risco, pois “há a possibilidade de fracasso em qualquer atividade empreendedora, mesmo sendo esta bem conduzida. O empreendedor pode assim perder parte da sua fortuna, sem culpa própria” (Say, 1971, p. 331), pois de facto, a riqueza “é suscetível de criação e destruição, de aumento e diminuição, dentro dos limites de cada nação e independentemente do agente externo, de acordo com o método adotado para provocar os seus efeitos” (p. 70).

A função do empreendedor consistia então em “aplicar o conhecimento de forma a criar um produto apto ao consumo humano” (Say, 1971, p. 330). Importa salientar que Say (1971) considera o empreendedorismo como um tipo superior de trabalho, crucial ao desenvolvimento de uma nação - este tipo de conhecimento tácito é “uma vantagem para o seu detentor e para a nação a que pertence” (p. 82), ainda que devido à difusão possa passar de nação em nação, para o bem da ciência. Zinga (2007) salienta também que Say alargou a noção teórica do empreendedor, definida por Cantillon, ao distinguir a função empresarial da função capitalista, dando ênfase à natureza administrativa do empreendedorismo, mas minorando a propensão ao risco como um dos fatores essenciais na atividade empreendedora.

Assim, um empreendedor bem-sucedido deve ter uma combinação invulgar de determinadas qualidades, tais como: perseverança, discernimento ou capacidade de julgamento e conhecimento do mundo bem como do negócio em questão (Praag, 1999),

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19 numa palavra, “ele deve possuir a arte da superintendência e administração” (Say, 1971, p. 331). Como consequência da combinação única e rara de características, talento e capacidades, o número de competidores no mercado empreendedor é limitado (Praag, 1999).

Say (1971) refere ainda:

Assim, a capacidade e o talento necessários para se ser empreendedor, limitam o número de concorrentes. E isso não é tudo: há sempre um grau de risco atendendo a essas empresas; independentemente de serem bem conduzidas, há sempre uma chance de falha; o aventureiro pode, sem culpa própria, perder a sua fortuna, e em certa medida, o seu caráter… . (p. 331)

3. Teoria neoclássica do empreendedorismo

I. Contextualização

A lei da utilidade marginal decrescente surgiu na década de 70 do século XIX e pressupunha que a utilidade marginal de cada unidade homogénea de um bem decresce com o aumento da oferta desse mesmo bem. Esta lei surgiu como resposta aos desafios colocados pelas teorias clássicas, como forma de explicar e conceptualizar a atividade económica segundo uma visão mais subjetiva e que descrevesse as relações entre as pessoas e não os objetos (Murphy et al., 2006). Como resultado, os fenómenos sociopolíticos e as circunstâncias culturais, bem como as económicas, tornaram-se cada vez mais em unidades centrais dos problemas do sistema de mercado (Murphy et al., 2006).

Como Monteiro (2010) salienta, anteriormente o empreendedorismo era visto como a transformação de recursos em produtos inesperados, baseado numa combinação de ideias; no entanto, o pensamento neoclássico veio, por um lado, valorizar a importância da nova combinação de recursos existentes e, por outro, desvalorizar a importância antes dada à acumulação de capitais (Schumpeter, 1934, cit. por Murphy et

al., 2006). Assim, e como Praag (1999) salienta, numa lógica de otimização e

maximização dos lucros, são escolhidos os melhores conjuntos de produtos que as empresas possam produzir internamente, de maneira a obter valores ótimos para todas as suas decisões. Segundo o mesmo autor, os consumidores, por sua vez, numa lógica

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20 de maximizar os níveis de utilidade, escolhem o melhor conjunto de bens em função do seu rendimento. Os preços são mantidos num estado de equilíbrio entre a procura e a oferta para cada bem do mercado; quando quebrado esse equilíbrio, por um fator exógeno, novos valores são determinados e esses mantêm-se válidos até nova mudança (Monteiro, 2010; Praag, 1999). Estes aspetos do movimento neoclássico proporcionaram a noção de exploração de oportunidades de negócio, como por exemplo aproveitando rácios de preços temporalmente favoráveis, despercebidos por outros empreendedores (Murphy et al., 2006). Neste contexto, num processo negocial, os empreendedores têm a opção de aceitar, ou não, um determinado preço, ou, ainda, a

obrigação de aceitá-lo sob pena de saírem de negócio (Monteiro, 2010).

Os principais representantes da teoria neoclássica do empreendedorismo e seus respetivos contributos são apresentados de seguida.

II. Alfred Marshall

Dos primeiros economistas neoclássicos, o inglês Alfred Marshall é quem mais se destaca pelo contributo dado à teoria do empreendedorismo, atribuindo um papel proeminente ao empreendedor no seu trabalho de seminário Principles of Economics, publicado pela primeira vez em 1890. Para Marshall (1890) e seguindo o pensamento de Say, o empreendedor tem como principal tarefa conduzir o processo de produção e distribuição, coordenar a oferta e a procura do mercado; no entanto, e simultaneamente, como se de um subproduto se tratasse, deve também minimizar os custos da empresa através do progresso e da inovação:

O homem não pode criar coisas materiais. No mundo mental e moral de facto, ele pode produzir novas ideias, mas quando se diz para produzir coisas materiais, ele realmente só produz utilitários, ou noutras palavras, os seus esforços e sacrifícios resultam na mudança da forma ou rearranjo da matéria para adaptá-la melhor à satisfação de necessidades.

Segundo Marshall (1890), os empreendedores têm de ser inovadores e a razão do progresso, uma vez que o seu contributo na sociedade consiste no abastecimento de bens, com a minimização dos custos. Neste sentido, muitas vezes os empreendedores proporcionam benefícios à sociedade, na maioria dos casos superiores aos próprios ganhos. Ainda assim, Marshall defende que os negócios que mais podem beneficiar a

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21 sociedade não são necessariamente os que maior probabilidade têm de sobreviver no ambiente competitivo do mercado, sendo que a recompensa ao empreendedor deve ser proporcional aos benefícios privados diretos e não aos benefícios sociais que a sua atividade empreendedora possa originar.

Segundo Praag (1999), a economia de mercado marshalliana centra-se muito na classe dos empreendedores; dentro da empresa, eles devem assumir toda a responsabilidade e exercer todo o controlo, pois dirigem a produção, comprometem-se com riscos de negócio, coordenam o capital e o trabalho e ainda são gerentes e empregadores. Em suma, de acordo com Zinga (2007), para Marshall o empreendedor é ao mesmo tempo gestor e trabalhador de uma empresa.

Na mesma linha de pensamento de Say, para um empreendedorismo de sucesso, são então necessárias algumas habilidades e capacidades que dependem de uma combinação, rara e escassa na sociedade, de antecedentes familiares, educação e habilidade inata (Praag, 1999). Para Marshall (1890) um empreendedorismo bem-sucedido requer o aparecimento simultâneo de novas oportunidades e a presença de determinadas características no empreendedor, umas mais gerais, outras mais especializadas, aliadas à inteligência e liderança natural. Monteiro (2010) salienta como características gerais importantes ao empreendedorismo, segundo a perspetiva de Marshall: energia, prontidão, acomodação às mudanças, constância, inspirar confiança, entre outras. Depois, segundo Praag (1999), é também necessário dispor de habilidades especializadas, tais como o conhecimento do comércio, o poder de previsão, atenção e procura de oportunidades de negócio e a capacidade de assumir riscos, bem como ser-se um líder nato. Estas características são importantíssimas já que de acordo com Marshall, o mercado rege-se pelo princípio da substituição, a sobrevivência do mais apto, que determina que quem permanece no mercado deve ser o mais apto (Praag, 1999).

Assim, em síntese, para Marshall (1890) as capacidades necessárias ao sucesso do empreendedorismo dependem de três fatores: contexto familiar, educação e capacidade inata. Sobre a importância da educação e antecedentes comerciais na família, Marshall considera ainda que os filhos de empreendedores têm uma vantagem adicional em relação aos restantes, não só no que diz respeito aos negócios de família, mas também uma vez que têm mais oportunidades de negócio por terem tido sempre por perto experiências reais empresariais, desde a sua juventude (Praag, 1999).

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22 III. Joseph Schumpeter

Joseph Schumpeter, economista alemão, contribuiu significativamente para o estudo do empreendedorismo ao considerar o empreendedor como o elemento catalisador da mudança nos processos produtivos e de desenvolvimento económico (Zinga, 2007). Muitas das suas ideias são explanadas no seu livro The Theory of

Economic Development, publicado pela primeira vez em 1911, que se centrou

especialmente na interação entre indivíduos inovadores, os empreendedores, e o seu inerte retorno social (Fagerberg, n.d.).

Fagerberg (n.d.) salienta que nos inúmeros escritos de Schumpeter este desenvolveu uma abordagem original para o estudo da mudança económica e social a longo prazo, com foco em particular sobre o papel crucial desempenhado pela inovação e os fatores que a influenciam; ao fazê-lo, distanciou-se da (então) emergente vertente neoclássica da economia. O trabalho de Schumpeter foi tremendamente influenciado por uma revisão crítica sobre a teoria do equilíbrio; embora fascinado por ela, afirmou que apenas contribuiu tanto quanto possível, mas novas ideias não se podem esperar (Grebel et al., 2001). A sua teoria foi então a primeira a tratar a inovação como um processo endógeno – “fazer mais com a mesma quantidade de recursos” (Praag, 1999). Assim, segundo Filion (1998), Schumpeter não só associou os empreendedores à inovação, mas também mostrou, na sua significativa obra, a importância dos empreendedores na explicação do desenvolvimento económico. Conforme refere Schumpeter (1934):

A essência do empreendedorismo está na perceção e no aproveitamento de novas oportunidades no âmbito dos negócios [...] sempre tem a ver com criar uma nova forma de uso dos recursos nacionais, em que eles sejam deslocados do seu emprego tradicional e sujeitos a novas combinações.

De acordo com Ebner (2000) a teoria de Schumpeter distingue então entre o crescimento e o desenvolvimento económicos: o primeiro denota uma mudança lenta, gradual e cumulativa de um sistema económico, decorrente de fatores exógenos, como o crescimento da população, por exemplo; e o segundo resulta de mudanças internas e descontínuas, por inovações económicas endógenas. Na verdade, podemos afirmar que a perspetiva de pesquisa de Schumpeter pretende fazer uma análise do processo de desenvolvimento económico, combinando a exploração do empreendedorismo e

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23 inovação com mecanismos internos de mudança, com as flutuações cíclicas que moldam os contornos do processo de desenvolvimento (Ebner, 2000).

Schumpeter recusou por completo o paradigma predominante mais aceite na época, do empreendedorismo como gestão da empresa, não sendo o empreendedor necessariamente dono ou gerente da empresa; por sua vez, o empreendedor é visto como líder da empresa e como o inovador e, portanto, força motriz do sistema económico (Praag, 1999). Assim, podemos constatar que o conceito de empreendedor para Schumpeter é mais amplo do que o conceito convencional no sentido de que um empresário não deve, necessariamente, dirigir o seu próprio negócio a fim de ser um empreendedor, mas mais estreito no sentido de que nem todo o gestor de negócios independente é um empreendedor (Praag, 1999).

Então para Schumpeter, os empreendedores são indivíduos que têm como função liderar a realização de novas combinações de fatores produtivos existentes, em qualquer posição ou cargo que venham a ocupar na organização, para atingir os objetivos estabelecidos (Zinga, 2007). Assim, o empreendedor não é um portador de risco ou um fornecedor de capital, já que segundo Schumpeter, ambas as tarefas devem ser deixadas ao banqueiro. Se o empreendedor trabalhar com capitais próprios, está a cumprir duas funções: o trabalho de empreendedor e o trabalho de banqueiro; de qualquer forma, é o banqueiro que assume o risco financeiro referente a uma inovação e não o empreendedor (Praag, 1999).

Schumpeter certifica ainda que a criatividade do empreendedor é a principal força endógena da mudança e desenvolvimento da economia, onde as novas combinações empreendedoras destroem o equilíbrio do fluxo na economia e criam um novo equilíbrio (Zinga, 2007). Neste sentido, Schumpeter apontou cinco tipos diferentes de inovação ou formas de agir segundo um empreendedor, levando a cabo novas combinações de fatores, que incluem: (i) a introdução de novos produtos ou serviços, (ii) novos métodos de produção, (iii) a abertura de novos mercados, (iv) a conquista de uma nova fonte de fornecimento de matérias-primas e (v) a criação de uma nova organização (Philipsen, 1998; Praag, 1999; Zinga, 2007). Esta atividade apesar de ser obviamente conduzida pelo lucro, não é onde reside o foco do empreendedor, que vê o lucro como um mero indicador do sucesso empresarial, segundo o qual os imitadores baseiam a sua decisão de entrar e competir no negócio com o inovador, ou não. Se os ganhos forem superiores ao normal, os imitadores entram no negócio e competem com

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24 o inovador, erodindo a posição lucrativa inicial, uma espécie de poder de monopólio temporário, pelo que se estabelece uma nova posição de equilíbrio (Praag, 1999).

Portanto, novas combinações empreendedoras destroem o equilíbrio da economia existente e criam um novo equilíbrio (Praag, 1999). Este estado de equilíbrio que Schumpeter tomou constitui o ponto de referência na sua teoria de empreendedorismo para explicar o funcionamento da economia, visto que a explicação estática da economia aduzida pelos autores precedentes como Cantillon, Say e Marshall, era inadequada (Zinga, 2007). Assim, a inovação contínua decorrente dessas novas combinações implica uma mudança permanentemente descontínua e um desequilíbrio contínuo (Praag, 1999; Zinga, 2007).

Para Schumpeter, segundo Zinga (2007), uma inovação bem-sucedida implica um ato de vontade, uma atitude rara e única, e não de intelecto e nem requer necessariamente uma novidade científica levada a cabo pelos seus promotores, mas sim, a obtenção de uma solução através de um método bem-sucedido que ainda não tenha sido experimentado na prática, sendo uma espécie de comportamento desviante.

Por fim, de notar que para Schumpeter, ser um empreendedor não é nem uma profissão nem uma condição duradoura, nem os empreendedores formam uma classe social (Praag, 1999). Uma vez que a atividade empresarial e os lucros obtidos não são duradouros, o empreendedorismo é uma condição temporária para qualquer indivíduo, a não ser que este indivíduo continue a inovar permanentemente (Praag, 1999; Zinga, 2007).

Assim, em suma, o empreendedor deve ter uma resposta criativa e não adaptativa, um comportamento energético e espontâneo, manter uma posição de liderança, ser um visionário e promover uma mudança descontínua e não gradual (Ebner, 2000).

Para Grebel et al. (2001), quando olhamos para a literatura existente na época, o conceito de empreendedor de Schumpeter é, por um lado, uma síntese de Say e da obra de Badeau (1919), que foi o primeiro a sugerir a função do empreendedor como um inovador e, assim, trouxe a invenção e a inovação à discussão sobre empreendedorismo e, por outro lado, a crítica associada à escola austríaca. Durante as décadas que se seguiram à morte de Schumpeter, o interesse afastou-se da perspetiva dinâmica que caracteriza a sua obra; em vez disso, os economistas gradualmente adotaram abordagens estáticas e matemáticas do equilíbrio, das quais Schumpeter admirava mas lhes via

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25 pouco valor para a compreensão do assunto (Fagerberg, n.d.). No entanto, mais recentemente, a necessidade de compreender as causas e os efeitos da inovação é crescente e cada vez mais aceite. Indiscutivelmente, a abordagem schumpeteriana para a conceptualização do empreendedorismo é mais relevante que nunca (Fagerberg, n.d.) e tem sido muito bem evidenciada nalgumas abordagens contemporâneas (Zinga, 2007).

IV. Frank Knight

O risco e a incerteza são os grandes pilares da definição de Frank Knight do empreendedorismo, como sugere Philipsen (1998). As grandes contribuições de Frank Knight, economista americano nascido no final do século XIX, à teoria do empreendedorismo estão explanadas na sua tese de doutoramento Risk, Uncertainty and

Profit, publicada em 1921 e onde é feita a distinção de forma explícita, pela primeira

vez, entre risco e incerteza (Monteiro, 2010; Praag, 1999).

Sumariamente, o risco pode ser calculado, a incerteza não (Ripsas, 1998). Para Knight (1921) o empreendedor é portador de incerteza (ou risco, segundo a teoria de Cantillon), que não é mensurável através de percentagens, enquanto o risco envolve mais do que mera arbitragem. Esta (verdadeira) incerteza é a base da teoria do lucro, da concorrência e do empreendedorismo de Knight. Praag (1999) e Zinga (2007) apontam que Knight generalizou a teoria de Cantillon ao afirmar que o empreendedor suporta incertezas, ou riscos na terminologia de Cantillon, e que o empreendedorismo envolve mais do que mera arbitragem. Assim, podemos afirmar que, segundo Knight, a função económica do empreendedor passa pela aceitação do risco e incerteza.

Quer isto dizer que, de acordo com Praag, (1999), a incerteza bem como o risco, é composta por um tipo de probabilidade para a qual não há nenhuma base válida para classificar exemplos, porque se trata de um evento único. Assim, deve ser feito um julgamento tanto para a formação de uma estimativa como para uma estimação do seu valor – cabe ao empreendedor este papel de decisor. Segundo o mesmo autor, as decisões incluem o planeamento de onde, quando e que tipo de produtos a criar. O trabalho do empreendedor restringe-se à direção e controlo, bem como lidar com a incerteza associada às mudanças nas necessidades dos consumidores e no poder de compra, enquanto todos os outros elementos se devem dedicar ao sistema produtivo, para o qual recebem uma remuneração fixa.

Imagem

Figura 1: Evolução histórica do empreendedorismo. Fonte: Murphy e colaboradores (2006)
Figura 2. As etapas do Ciclo Motivacional. Fonte: Chiavenato (1999, cit. por Vieira, 2009)
Figura 3. Modelo de motivação das teorias de conteúdo. Fonte: Ferreira e colaboradores (2001)
Figura 4. Pirâmide da Hierarquia das Necessidades de Maslow.
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Referências

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