uN|vERs|DADE
FEDERAL DE
SANTA
cATAR|NA
AcgNTRo
soc|o¡_EcoNo|v||co
_cuRso
oe
Pos-GRADUAÇAO EM
ADM|N|sTRAçAo
.
A RAZÃO EM
WEBER
E
HABERMASE
E
DANIEL
NASCIMENTO
E
SILVA
A RAZAO
EM
WEBER
E
HABERMAS
DANIEL
NASCIMENTO
E
SILVA
Esta dissertação foi julgada
adequada
para aobtenção do
titulode
Mestreem
Administração (Áreade
Concentração: Políticas ePlanejamento
Universitário) eaprovada
em
sua forma
final peloCurso de
Pós-Graduação
em
Administraçãoda
Universidade Federalde Santa
Catarina.
E
`
t
rof.
Nelson
ColossiCoordenador
do
CPGA/UFSC
Apresentada
ãComissão Examinadora
integrada pelos professores:íy
1
Orientador: rof. sé-“Franci
co
Salm,PhD.
sident
Profkfllcino
ásvé
šssmann,
lDr.M
broF7,/‹.
¿À,/‹fé¿‹-«‹`~
Prof. rancisco abriel
Heidemann, PhD.
Exclusivamente aos meus pais, à Christiane e às turmas de Belém e Alenquer.
De
nada pareceria relevantea perda da magnitude
do
homem
que quer voltar-se a si.Conformidade, não
se casa
com
a sobriedadedilacerante que ultrapassa todos os meios
que teimam à nossa frente
em
perecer.Derrubar mitos é nosso dever Escalar dificu/dades, o nosso prazer
Ver onde os olhos já se foram, insinuações
Fa/ar o que nunca foi dito, acontecimentos.
De
verdadesem
fantasias, fantasiamos para o desencantamento de velhosmundos
que teimam
em
se mostrar sempre etemos.A
força da palavra é o que dispomos:ritos, simbolos. imaginários...
Ah... quanta questão de vida!
Daniel
Nascimento
e Silvasu|v|ÁR|O
LISTA
DE
FIGURAS
... _.óRESUMO
... ..7ABSTRACT
... _.sINTRODUÇÃO
... ..91.
O
CONCEITO DE
RAZÃO
EM WEBER
... _. 22 1.1WEBER
E
A
ATMOSFERA
INTELECTUAL
DO
FINAL
DO
SÉCULO XIX
... _. 26 1.2DA AÇÃO
SOCIAL
ÀS
RACIONALIDADES
... .. 341.3
RACIONALIDADE
E
TEORIADAS ORGANIZAÇÕES
... .. 431.4
WEBER,
RACIONALIDADE
E
ORGANIZAÇÕES
... .. so 1.5VERSTEHENE
A
RACIONALIDADE
WEEERIANA
... .. 531.6
AS
DIFERENTES
RACIONALIDADES
WEBERIANAS
... .. 592.
A
RACIONALIDADE
HABERMASIANA
... .. 67~ 2.1
AÇOES
E
ATOS DE FALA
... ., ... .. 752.2
PRAGMÁTICA
UNIVERSAL, I-IERMENEUTICA
E
MUNDO
DA
VIDA
81 2.3AS
BASES
RACIONAIS
HABERMASIANAS
... ._ 95 2.4A RACIONALIDADE COMUNICATIVA
HABERMASIANA
... ._ 108 3 -CONCLUSÃO
... .. ... .. 111BIBLIOGRAFIA
UTILIZADA
... .. 127A)
S()BR1;`MAX
WZSBISR ... .. 127B) .S`()BR1:`.ÍURG1;`NHAB1;`RMA.\` ... .. 129 (`) ()B1\'ASRli`1"ERI;`N( 'IAIS ... .. I3l
LISTA
DE
FIGURAS
Fig. 1 - Características antropológicas individuais e
padrões de ação
racional conscientes, 59
Fig. 2 -
Um
modelo da comunicação lingüística, 76Fig. 3 -
Dedução
das unidades
analíticasda
teoriados
atosde
fala,
80
Fig.
4
-Modos
de comunicação,
81Fig. 5 -
Relações
Pragmático-Formais,86
Fig. 6 -
Os
TrêsMundos
Representados
no
Atode
Fala, 87Fig. 7 -
Quadro
Resumo
das
Classesde Atos de
Fala eRelação
com
o
mundo,
90Fig. 8 - Tipos
de
Ação
Social - construídos a partirde Weber,
97Fig. 9 - Tipos
de Ação,
98Fig. 10 - Tipos
de ação
estratégica, 100Fig. 11 - Tipos
de ação
social pura, 101RESUMO
Este estudo
tem
por objetivo esclareceras noções
de
racionalidadeem
Max Weber
e
JürgenHabermas.
Para
isso, partiu-seda
análise textualdas
principais obrasdos
referidos autores.As
conclusões aqui expostasapontam
para a abrangênciae os
limitesdo
fenômeno
“racionalidade”.A
racionalidadeem
Max Weber
é o
primeiro objetode
estudo.Diferentemente
de
várias interpretaçõesdo
conceito encontradasem
obras
de
Teoriadas Organizações e de
Teoria Geralda
Administração, aquestão da
racionalidadeweberiana
não
diz respeito exclusivamente à“aplicação
de
esforços paraa consecução
de
fins
predeterminados".Aliás, interpretações
dessa
naturezanão
estãocontempladas na
abrangência
do
conceito weberiano: interpretações e›‹tremadas,como
a
acima
referida,são
irracionaissob o
pontode
vistado
autor,uma
vez
que
racionalidadee
irracionalidadenão
podem
sertomadas
isoladamente:ninguém
é
capaz
de
agir exclusivamentesob bases
racionais,no
sentidode
a
tudo calcularminuciosamente, no
sentidode a
tudo prever.No
que
diz respeito
a
Habermas,
objetoda
segunda
análise,seus
esforçosdirecionam-se para o ultrapassamento
das
dimensões
e
abrangênciasda
racionalidade weberiana. incorporando
elementos
de
várias ciências eda
filosofia,
Habermas
estruturaum
sistema cientifico-filosõficoque
pretendedar conta
do problema
da
racionalidade mediatizada pela linguagem.Para
osegundo
autor, aquestão
da
racionalidade está intimamenterelacionada
com
osmundos
social, objetivo e subjetivo,onde
os atoresbuscam
consenso
parasuas ações
numa
situação idealde
fala.Tendo
por
base
um
conceitoamplo
de
racionalidade,Habermas
pretendemostrar
que
tal conceito possui validade geral, por estar subsidiadano
contexto vital,
ou
seja,engloba
caracteresde
espontaneidade,de
sensibilidade contra o sofrimento
e
a opressão,da
felicidade peloencontro
da
identidadee
de
outros fatos efenómenos
similaresencontrados
no
cotidianoque sugerem
uma
constantebusca da
emancipação
do
homem.
Como
é
atravésda
linguagem,dos
atosde
fala,que
os sujeitosordenam
suas ações no
dia-a-dia, o entendimentolingüístico transforma-se
na questão
centralde
salvaguardada
unidadeda
razãona
pluralidadede
suas
vozes,como
afirma o autor.Dessa
forma, a racionalidade
em
Habermas,
enquanto ação
simbolicamenteABSTRACT
This study
has as
its goal clarify the rationality notions inMax Weber
and
Jürgen
Habermas.
ln this sense,we
started from textual analysis ofauthors' relevant works.
The
conclusions here presented indicate theembracement
and
limits of rationalityphenomenon. The
Max Weber
rationality is the first study object. Differently of several interpretation ofthis concept in
Organizações Theory
and
in GeneralManagement
Theory
works, the
Weberian
rationality questiondo
not concerning solely to “effortappliance
towards
obtain prefixed ends". Over'and above
that, theseinterpretations are not
contemplated
in theWeberian
conceptembracement: extreme
interpretations,as
above
referred, are irrationalsunder
the author point of view, since the rationalityand
irrationalitycan
notbe
taken exclusively:nobody
is able to act exclusively under rationalstructures, in the
sense
of detailed calculation, or possibility of allanticipate. ln respect to
Habem1as,
object ofsecond
analysis, yoursefforts are
towards
transcend theWeberian
rationalityembracement
and
limits.
Habermas
structurea
philosophical-scientificsystem
thatseek
to finda
way
of rationalityas
lenguage
mediated. lnHabermasian
sense, therationality question is
homely
related to social, objectiveand
subjective worlds,where
the actorsfind
byconsensus
tothem
actions inan
idealspeech
situation.Habermas
has
as basis a rationality large concept,and
he
pretendshow
that this conceptpossess
general validitybecause
it issubsidize in vital context
encompass
easiness, sensitize against sufferingand
oppression,happiness
by identity charactersand
others similars factand
phenomenon
thatwe
find in quotidian, suggesting a constant searchby
human
emancipation.As
through lenguage, by thespeech
acts, thatthe
men
organize your acts into quotidian, the linguistic understandingchange
itself in central question toreason
unity safeguard in the plurality of its voices,as say Habermas.
ln this sense, the rationality inHabermas,
while action
mediated
symbolicaly, is orientated to understandingand
consensus.O
problema da
racionalidadenão
é
somente
um
problema da
chamada
Teoriadas
Organizações. Antes,é
um
problema que remonta à
própria
questão
do
ser,do
verdadeiro - pelomenos
do
confiável -,de
algoque
supostamente
seja consideradouma
fonte,um
fundamento
atravésdo
qualse
possa
predicar.Este
é
um
dos
motivosfundamentais
paraque
a filosofia sejaacionada
como
aquele cenário tipico, origináriodas
principaisformulações acerca
de
um
tema
tão controvertidoe
polêmico,e
que
marca
a trajetóriade
todaa
históriado
pensamento,
desde
as primeirasformulações
-supostamente
quando
começou
a
indagar sobreo
incompreensível
das
imagens cosmogõnicas
e seus
derivados - ate atentativa
de compreensão da
complexidade das
organizações sociais.A
polêmica
é, originariamente,da ordem de
uma
racionalidadefísica (physís)1. Posteriormente,
das
batalhas travadas entre sofistas -onde
o poder
mágico
da
palavraembebecia
asgrandes
discussõesna
ágoras
-e os
seguidoresde
Sócrates, todoum
legadoé
transferido paraa
posteridade,onde
densas
batalhassão
travadas ainda hoje.Também
toda
a
tradiçãomodema
estáprenhe das
fontes gregas2.Mesmo
o
chamado
pensamento
"pós-modemo",
como
muitoso querem,
jamaisabriu
mão
destas origens para dar contada
falência -ou
ultrapassamento-
da modernidade, e
mesmo
aquelesque
aceitamou discordam
com
tal"passagem"
utilizam-se, muitas vezes,dessas
mesmas
fontes.Evidentemente
que
sera difícil paraum
pensamento
ser originalem
tomo
do problema da
racionalidadesem
considerar este estágioda
filosofia
ou questões
por ele formuladas.A
busca da
compreensão
da
abrangência
e
limitesdo
conceito racionalidade é buscada»em
diversosautores
preocupados
com
a questão no
campo
organizaciona,como
é o
caso
de
HerbertSimon,
por exemplo.' As primeiras formulações filosóñcns dos
chntttztdos "filósofos prc'-socr:'tticos". ondc :i nztturcvzt figttrztvzt
como o ccntro do pensamento dos homens :igu:t. fogo. nr. átomos. ct: . figurzn-:mt como "tijolos" :ttr;tvc's
dos quais o homem poderia chegar a uma dctcrminztdn "cxplic:tç:io" das stuts origens
2
Um
doS prtnctP3is exemplos c' a ltclcntstzt Hzuutzth Arendttz sutis obras "15/ur‹' ‹› I '‹z.\;~‹:‹I‹› v ‹› I~`urur‹›"c ".›l ‹'‹›n‹1içü‹› Ilumunn”. dcntrc outras. Alcm do tnzus. :ts Íortttulztçocs filosoficzts dc Nietzsche. Hcgcl c
Mztrx tzmtbctn rcprcscntatn tttttdxt cstc :tto dc "rupctt.~.;tittctito" dz t;it› ctiittrihtiiçtics filosoftczts
Que
significa, portanto, dizerque
algoé
racional?Que
relação existe entre racionalidadee
ética emoral?
Afinal,que
é
a razão? Ou, ditode
outra forma,que
pode
vir a ser a razão -ou as
razões?Qual
aimportância deste conceito tão ultrajado, falado
e
discutidoao
longoda
história
da
humanidade?
Grosso modo,
podem
ser distinguidos três estágios parao
entendimento
do' conceito:no
primeiro,a
razão estava fora,além do
homem,
mas
poderia,de
certomodo,
ser conhecida:a
natureza. Esteestágio
permeia
formulações "rae¡onais"3onde
a natureza, a physis,ocupa
um
lugar central4.O
segundo
periodo diz respeitoao
fatode o fundamento
estar forado
homem
e,de
certa forma, paraalém do mundo:
Deus.É
o
estágiodo
"impérioda
igreja",da dubiedade
de
mundosfi,
onde
nem
sempre
osmandamentos
das
“leis”de Deus
poderiam
sertomados
como
guiade
conduta
paraa
resoluçãodos problemas
cotidianosdos homensfi.
Um
terceiro e instigante estágio é aqueleno
qual ofundamento
da
razãonão
está fora, exteriorao
homem,
mas
dentro dele:o
homem
é
o
fundamento
racional. Este estágio "eoineide"com
ochamado
Renascimentoi,
onde
predomina
um
tipode
razão atravésdo
qual a3 As aspas. contornando "raeionais". indicam. simplesmente. uma racionalidade
definida. descritiva.
para efeito de enteiidintento c para evitar ambigüidade com o termo mais amplo de racionalidade.
4 É ittiponante destacar que apesar de haver uma grande
diferença entre os chamados 'pre-soeratieos" e
aqueles "seguidores" da tradição do pensamento soeratieo. ainda assim o fundainento e exterior ao
homem. Veja-se o exemplo da dicotomia dos mundos ou "realidades" excludentes de Platão: o "mutido
das ideias" e o "itnindo das opiniões. sendo aquele o iiiiittdo real. do qual a "realidade imindana“ e
apenas uma copia tosca. esta seiiiprc para alem do homem. a cujo conheeiiiieiito so o filósofo pode ter
acesso.
5 É interessante notar que Vieo representa um "estagio interniediario" entre este tipo de fundameiito eo
seguinte.
A
celebre frase do autor na .-\'‹›va .\`cmnna. de que o homem só pode conhecer aquilo que fez (\'‹›rz/ni ‹'.‹/_/iicru/ri). isto e. a historia. deixa ainda uma "carg:i" de explicação religiosa. priiicipaliiientediante de pensadores posteriores. onde a propria natureza - que o lioiiieiii nao fez. - e supostamente
passível de eonheeiiitento
Santo Agostinho pode ser citado como um dos grandes pensadores deste estagio. que corresponde a
uma passagetii da ¡›/t_t~.\-i_\ ;i eoiiiçiiiporaiteidade \'er. a esse respeito. sua "( 'ii/zu/‹' ‹I‹- 1›z~u.\~" (1
7 Poder-se-ia apontar para efeitos compreensivos. uma racionalidade
ein expaiisao ciii Kant. ein
coiitrâipostçêio a iima biisca de r;i:ioii;ilid;ide fuiictiiiiettial em I)e.×cartes ‹z›¡;i1‹› z~r_‹¿., .tum
_
ciência
ganhou dimensões
antes impensáveis.A
técnicaé
uma
de suas
expressões mais
fortes.Contudo, o
predomínio da
racionalidade técnica, aquelemundo
pensado
e governado
rigorosamente pela razão -segundo
um
dos
autores
em
foco neste estudo,mas
que também, de
certomodo,
é
alinhavado pelo outro - desvirtuou-se
de
seu
caminho,dando
um
lugar
expressivo àquela faceta
que
seriaapenas
um
dos
"ingredientes"de
um
"mundo
novo" racional,e esqueceu-se do
principallema do
Renascimento:
que
a técnicatem que
estar a serviçode
seu
criador.Estes estágios,
de
maneira alguma, ocorreram de forma
bem
definida,
e
jamais
- para utilizarum
conceitoWeberiano
-serão
encontrados
de
"forma pura" nesta trajetória.Da
razão,enquanto
guiade
conduta
da ação
visandoao
bem comum
grega, à razãoenquanto
cálculoutilitário
de
conseqüências hobbesiano há
um
hiatoquase
que
intransponível.É
esteum
dos
motivos porque
foram
escolhidosMax
Weber
e Jürgen
Habermas
parao estudo da
razão;um
outroé a
dicotomia entre
o pessimismo weberiano
diantedo
avanço
do
poderioda
técnica, escravizando
o
homem
e
dando contomos
sombrios ao
futuro,produzindo
uma
espéciede
“tragédiacõmica" do
"desencantamento"8do
autor
de Economia
e
Sociedade, porum
lado, e, por outro, a posiçãootimista
de Habermas,
o
herdeiroda
tradição filosóficada
Escolade
Frankfurt,
que
vê na
racionalidadeuma
possivel aliada para aemancipação
do
homem.
O
problema
de
pesquisa surgiude
várias fontes.Da
Teoriadas
Organizações e
aconseqüente constrangedora
interrogação: oque
é
aracionalidade para a Teoria
das Organizações?
Onde
a racionalidadede
Herbert
Simon,
a racionalidade weberiana, as contribuiçõesde
TalcottParsons
estão condizentecom
os estágios atuaisde
discussões acercado
fenômeno?
Qual
a compatibilidade entre taisformulações?
Seriam
elas compativeis?
“ Como scrzi visto adiante.
.1 busca dz: mcioiuilidzidc como guru das acocs lmm:um.× transformou-:t cm
nom crcndicc :lo in\^¢.s dc cmâmcipur 0 homem o homem Q cscrzn i/ndo pulo lccnicisino t›urocr;|uco
Há
compatibilidadeou
possibilidadede
tangênciada
razãoentre
um
determinado
campo
da
ciênciae
outros?A
razão sociológicaé
a
mesma
que
a da
Teoriadas
Organizações,mesmo
quando abordam
um mesmo
assunto,quanto a
de
campos
conexos
como
a CiênciaPolitica
e
aEconomia?
A
terceira diz respeito, propriamente, aWeber:
porque
Weber
é
compreendido de
uma
forma
parao
estudodo
Direito,de
outra para aEconomia,
uma
outra diferente paraa
Sociologia e, muitomais
diferentemente, para a Teoria
das
Organizações,mesmo
quando
estescampos
estudam
um
mesmo
conceito,como
aracionalidade?
Não
sedeve, porém, deixar
de
consideraras
diversas leiturasde
Weber
encontradas
na
Sociologia,no
Direito, dentre outrasáreas das
chamadas
ciências
humanas.
Qual a
diferençaque
existe entre aquiloque
a
Teoriadas
Organizações
dizque
é racionale
aquilonão
oé? Para
dar conta destasinterrogações-,
Max Weber
foi revisitadoe
estudado,porque além de
sera
principal fonte filosófico-sociológicada
Teoriadas
Organizações,seus
estudos
foram
continuados,em
outrasdimensões,
pelo herdeiroda
"Escola
de
Frankfurt",além
de
ser palcode
estudos especificos paradiscussões
de seus
conceitose
contribuições, tantono
campo
da
ciênciacomo
no
da
politica -suas "duas
vocações".Weber
parte, nitidamente,de
contornos kantianos.Suas
nacionalidades material
e
formalcomprovam
tal empreitada.Habermas
êum
filósofoque
buscou
integrar conceitosda
filosofiae
da
ciência,dando
-
ou
pelomenos
tentando - fimao
chamado
"desencantamento do
mundo"
weberiano, partindo tanto
de
Kantcomo
de
suas aguerridas criticas aHegel,
mesmo
reconhecendo a
importância históricadas
contribuiçõesdo
autor
de
“AFenomenologia do
Esp/rito".Apesar
de
bastante criticado sobre ogrande
"guarda-chuva"que
teriamontado, englobando
campos
tão diferentescomo
aPsicanálise, a Lingüística, a Sociologia, a
Economia
Politica, dentre outras, o fato éque
Habermas
éum
dos
autoresmais
influentes naciência
e
na
filosofia contemporãneasg.Habermas
sempre
viu nos váriossegmentos da
ciêncianão
um
desafio,mas
um
campo
aberto àquiloque
mais
tarde seriachamado
de
"trabalho interdisciplinar".Também
jamaisintentou, explicitamente, percorrer este
novo
caminho
de
atuaçãoconjunta
de
diversas disciplinas,ou
campos
do
saber, para resolverum
determinado
problema. Foimais
um
"construtorde
cenãrios",sem
desmerecer
sua
enorme
contribuição filosófica verdadeiramente original.O
que
se
pretendeé
fazeruma
correlação entre asespecificidades conceituais racionais
dos
dois autores -Weber
e
Habemtas
-no
que
diz respeito àquestão da
racionalidade.Primeiro,
porque
Weber
sofriauma
grande
decepção
com
o
mundo
cada vez mais
dominado
poruma
racionalidade burocrática,da
racionalidadeonde
predominava
o
tipode ação
racional-legal; segundo,porque
Habermas
discorda
da
impossibilidadeweberiana acerca da
racionalidadeenquanto
meio
paraa
emancipação humana,
uma
vez
que
-segundo o
frankfurtiano -,
não
haveria,no
mundo
de
hoje, motivo para tal "frustração".A
modemidade
é,ao
mesmo
tempo, o paradoxo
entreo
devir -conseqüentemente, no
campo
das
possibilidade -e seus
percalçosdo
passado.
É
estamodernidade,
ou
pelomenos
o seu
ladomais
efervescente,
que
provoca tal reviravoltaem
conceitos e possibilidadesde
novas
delimitações,nos melhores
moldes
de
GuerreiroRamos.
Entrea
tradiçãoe sua
ruptura, sóo
futuro,cada
vez mais
distante,poderá
responder
-mesmo
que Freud
sejauma
voz
discordante. Entre acapacidade
ou não
de
prever -um
dos
pressupostos racionais científicos-
um
dos
caminhos
mais
fáceise
simples é tentar descrever aabrangência e
a amplitudedas
contribuiçõesdos
dois autores -que
aciência faz
na
maioriadas
vezes,mesmo
incorrendono
errodo
paradigma
da
resposta anteriormente prevista.9
A
sua 'Tcorizi dll Ação Coiiiunic:iti\':i" cstzi rcplcizi dccoiiiribiiiçocs cxirziidzis dc céiiiipos muitzis vczcs
dispersos c conflilzinics Mcsclzim-sc coiicciios d;i Tconzi dos Aios dc Fzilzi. Liiigiiisiiczi. Tcorizi da
Aprciidi/;igciii dc Piâigci as iiiziis c0iiiplc\;i.\ foriiiiiliiçôcs dc Kàiiii }~lci_'cl. .\l;ir.\. Adoriio. Aiistiii. Wiiigciisiciii Horklicimcr Husscrl \\'ul›ci d:iiir<‹iiitro.×
A
modernidade
vive,mais
uma
vez,a
criseda
racionalidade.Paradoxalmente,
osmaiores
trunfos ostentados efusivamenteao
longoda
históriaparecem
voláteisdemais
para sustentarem-se e, porconseguinte, sustentar todo aquele conjunto
de
"esperanças"em um
princípio racional único,
homogêneo
e
irrefutável.A
criseda modernidade
não marca somente
a perdada
credibilidadena
razão purae
simples.Mais
do que
isso,esse
periodode
incertezas, exige
a
criticade
todoum
legado históricoda modemidade,
de
todaa
tradição, para lembrarHannah
Arendt -e
que
fazia partedas
reflexões hegelianas.
A
criseda
razão ocidentalparece
teralcançado o
seu ápice.Esta constatação aparece, inclusive,
no maior
de
seus
ramos, a ciência.A
pretensãoda
razãocomo
um
"ve¡o condutor"de
um
progressoinfinitamente crescente,
nas suas
origens,passou à
particularização "dissonante" entre oselementos
desse
projeto,na contemporaneidade.
A
criseé
vistacomo
a fatalidade obstaculizadoradesse
projetode
mundo
que
a
modemidade
tomou
para sie estendeu aos
homens
em
nome
da humanidade.
E
que
a ciência seencarregou
- pelomenos,
propôs-se -
de
concretizar.Na
idadeda
ciênciae da
técnica, a própriaracionalidade
que
a estrutura ê critica,apesar de
Habermas
asseverarque
a
própria ciênciaé
jáem
si ideologia.Não
é
preciso muito esforço paracompreender
os resultados obtidos por tal empreitada.A
tecnificaçäo,com
olema de
crescimentocircular
do
novo, é oparadigma da
atualidade mortificada,onde
arevolução técnica
ê
uma
espiralque não
modificaapenas
a técnica,mas
todo
um
legado politico-histórico-cultural.A
criseda
tecnificação, poresse
motivo,também
éuma
criseda
críticada
técnica.Desde
o
século XIX, oconhecimento
cientifico vinhasendo
constituido
como
o
únicoconhecimento
possivel parauma
sociedade
avançada”, e
por muitotempo
foi considerado, poralgumas
correntesfilosóficas,
como
o únicoconhecimento
verdadeiramente válido.A
compreensão
é
relativamente simples:o
cientista (sujeito) dirigia-se ãnatureza (objeto) e a descobria (des-cobria - reproduzia
conhecimento
novo).
A
imagem
é interessante: o cientistacomo
o sujeitoque
poderiadesvendar os segredos da
natureza (por isso ele des-cobriao
conhecimento,
que
semantinha
encoberto); a des-cobertado
objetotornava
o conhecimento
aadequação
desteao
primeiro”.Não
é
poracaso
que
recrudesceram, atualmente, vários tiposde
manifestações místico-religiosas, supostasnovas
propostasde
relação
homem
x natureza,novas
propostasde
arranjos sociais.Essa
sindrome
do
novo, origináriada
lógicada produção/consumo, contamina
a
sociedade
como
um
todo.Mesmo
no
meio
cientifico,o novo
ronda osarcabouços
enrijecidose
oxidadosde
práxis didático-pedagógicase de
pesquisa científica.
Mais do que
um
novo
caminho,a
"síndromedo
novo" denotamais
uma
tentativa,desenfreada
talvez,de
darvazão à necessidade de
saida
da
"crise total". Jánão
há, contudo,os
fatores impeditivos antigos,anti-racionais;
de
repente,a
razão expandiu-see
abrangeu
contornosantes irracionais,
como
numa
espéciede
multiplicidadede
razões.Já
não
é
possívelclamar
poruma
razão únicae
homogênea.
Essa
miopia estásendo
corrigidaàs
custasde
uma
mudança
na
relaçãohomem
x natureza12 -onde
o
caráterde dominio clama
por ser substituídopor
um
caráterde
compartilhamento -e
rearranjosda
relação social” -onde
asíndrome do
gigantismodá
lugar à cumplicidade, decorrenteda
1° Ver, a esse respeito, as discussões freudianas sobre um futuro sem religião - ou a ciência como a nova
religião. FREUD, Sigmund.
O
Futuro de uma Ilusão. Rio de Janeiro : Imago, 1987.U
O
que faz lembrar o pensamento tomista de que o conhecimento é a adequação do intelecto com a COISZI.12 Não são poucas as exigências de cunho ambiental. Talvez esta seja uma das conseqüências primeiras
da grande "preocupação" com o ecossistema refletido nas camadas não-acadêmicas da sociedade. De
uma forma ou de outra, esta já é uma caracteristica que identifica não somente os países ditos "desenvolvidos', mas engloba. atualmente, uma boa parte dos partícipes do terceiro mundo.
Ú Especificamente na área da "ciência administrativa" e seus congêneres - principalmente a Economia -
alguns autores, como Guerreiro Ramos, tentam dar conta de uma nova concepção teórica. dissidente da
chamada teoria tradicional. Ver ,a respeito, a Teoria da Delimitação dos Sistemas Sociais. especialmente
a obra ".-l Nova Ciência das Organizações: uma reconccitualização da riqueza das nações".
organização
e
legitimidadedos grupos
sociais alternativoscontemporâneos.
tDo
pontode
vistada
ciência, osnovos
tempos
levarama
uma
revisão crítica
do
aspecto epistemológicocomo
determinantedo
escopo
metodológico,
à
recorrência aconhecimentos das
outras ciênciasvizinhas e correlatas, a
um
ensaiode
eo-participação, co-adjuvaçãoem
direção a projetos interdisciplinares e, por fim, a
uma
nova
visãodo
binômio sujeito/objeto, agora integrada por
um
fator adicional - ocampo
da
sociedade. «Do
pontode
vistada
filosofia,houve
uma
grande
propulsãoda
chamada
filosofia analítica, oque supostamente
teria permitidoa
passagem
da
filosofia calcadano
sujeito parauma
razão descentradado
sujeito,
que
ressalta o aspectode
relação intersubjetiva, lingüisticamente mediatizada.Como,
então, aliarconhecimentos da
filosofia eda
ciênciaem
um
projeto consistenteque
permitaa fecundação
de
um
solo jáum
tantoquanto esterilizado?
Como
filosofia e ciênciapodem
ser canalizadas paradar respostas plausíveis
aos grandes problemas que
afligem ahumanidade, ou
uma
ciênciaem
particular?O
problema da
racionalidade envolvetambém
oproblema
da
modernidade”.
Atualmente,é
impossívelde
se falarem
racionalidade,pelo
menos
na
filosofia,sem
se remontarao
tal projetode
modernidade.Diferentemente
de
uma
concepção
exteriorda fundamentação,
como
visto anteriormente, a razão,
na modernidade,
estáno
homem.
Um
primeiro sintomada
"loucurada
razão"é que
senão há
consenso
sobreuma
criseda
racionalidadeé
porque
o projetode
modernidade, o
parâmetro, o pontode
referência jánão
referencia mais15,14 Evidentemente que o "problema da racionalidade" não é exclusivo da
contemporaneidade. No entanto,
tanto decantamento da razão exarcebou uma crise de contomos sem igual na história.
15 É neste sentido que Marshal Berman é concludente e objetivo: "ser moderno é encontramio-nos em
um meio-ambiente que nos promete aventura, poder, alegria, crescimento. transformação de nós mesmos
não
é mais
paramétrico -ou
pelomenos
não
é
tão consistente quanto asexigências
querem que
o
seja.É
a perda
-ou sensação
de
perdaifi -da
tradiçãoque
Hannah
Arendt denunciara
em
Entreo
Passado
e o
Futuro (1988).E
nada mais
ilustrativo disso
que
o
presente,na contemporaneidade,
ter tantaconotação
de
passado,que
o
proprio presenteparece
distante.Mas,
paradoxalmente,
é
nos
periodosde
criseque
a
ave de Minen/a
lança vôo,como
preferiria dizer Hegel.E
a própria helenista parece recuperaresse
legado -
ou
parte dele -na "desfragmentação"
humana
levadaa
efeitoem
A
Condição
Humana
(1958).O
segundo
argumento é
decorrentedo
primeiro:o
projetode
modemidade
não pode
parar.A
históriado
homem
secompleta a cada
dia, pois
cada
momento
é
sempre
melhor
que
o
anterior;o
fim
da
modemidade
ou seu
ultrapassamentoé
uma
ilusão,em
Habermas
(1990a; 1990b).
Conseqüentemente, o
projetode modernidade, enquanto
busca
de
realizaçãodos
homens
peloshomens,
seria inesgotável.O
malogro do
projeto calcadona
fé inabalávelde
uma
razãoúnica, inexorável, perfeitamente cognoseível,
em
um
processo
crescente e cumulativo, abriunovas
oportunidadesde
reflexãoe
compreensão
da
realidade
a
partirdo
caráter múltiplode
razões, na multiplicidadedas
vozes
da
razão,no
dizerde
Habemtas.
Manifestações
que a
crençana
razão únicanão
reconheciacomo
racionais voltam a fazer partedo
mundo
da
vida (Lebenswelt),do
c do mundo - c que. ao inesino ieinpo. aiiieaça destruir tudo o que ieiiios. tudo o que eonlieeemos. tudoo
que somos (...) Pode-se dizer que a modernidade uiic todo o género humano. Mas e uma uiiidade
paradoxal. urna unidade de desuriidade: envolve-rios a todos num redeinoinlio perpeiuo de desintegração
e renovação. de luta e contradição. de ambigüidade e angustia. Ser moderno e ser pane de um universo
ein que. como disse Marx. tudo o que e sólido se \~ol.1ti2a". MARSHAL. Berman. All iliai is solid iiieli
into air. ln' ANDERSON. Perry Moderriidade e revoliiçíio .\`‹›i~‹›.\~ I:`.\'!ii‹/ni (`lz`1í1¿›ll'. u" 14.2-li. lex:
1986. P. 2.
"' Rouanet afirma que "o tetupo da modernidade e a siiitese dos dois tempos. o novo como sempre-
i E uai. o sem P 8 re-i ual no novo (...)
O
ue deveria ser mantido se -rde ara P9 P sem re - 'tudo o ‹ l ue e solidodesiiiziiiclui-se tio air' - e o que deveria irarisforiiiai-se se eoiisemi E iiiii niuiido eiii que o novo e seniprc areaieo. eiii ue o :ireaico a P :irececom os traços do novo - o tem P0 do inferno" R0lJA!\'ET_ Ser !¬ 'io
Paulo .-l Razão .\'‹imu‹l‹" ¡I`ul!‹~r lim/zmi//i ‹› «iii/rm in//fm/‹›.\ Rio de Janeiro Editora UFRJ IWÍ
p
(is
cotidiano
das
pessoas.Evidentemente
que
a razãouna
foi
apenas
um
dentre vários fatores determinantes para
esse
recrudescimentode
aspectos racionais outrora "não-racionais".
Contudo, dentro
do
campo
filosófico,há
uma
preocupação
muito
grande
em
interpretaro
mundo
da
vida;essa é
agrande
característica
da
filosofiacontemporânea.
Desde
Husserl,com
as
formulações
fenomenológicas,passando
pelopragmatismo de
Peircee o
estudo
da linguagem
de
Chomsky
e
Saussure, a incorporaçãoda
contribuição
da
psicanálise freudianae
Lacaniana, os estudosde
Dilthey,dentre outros,
Habermas
acena
com
uma
razão contrária à razãoabstratamente situada,
uma
razãode cunho
dialógico, simbolicamentemediada.
O
problema da
racionalidade,na contemporaneidade, é
um
problema
que
envolvenão somente
uma
preocupação
com
a
realizaçãoda
filosofia praticamente,na
pretensão marxiana.É
um
problema
que
jánão cabe
mais
em
um
quadro
isoladode
uma
disciplina,apenas
da
ciência
ou
da
filosofia.E
um
projetode
todaa humanidade,
uma
tentativade
resgataro
caráter epistêmico grego,dando
novos
contomos
e
possibilidades
à
práxishumana.
O
pontode
convergênciaa
ser procurado será oda
ação
enquanto
estruturada racionalmente.A
busca dos
tipos purosde ação
em
Weber
eHabermas
paraque
secompreenda
oque
é a racionalidadenos
autores.
O
que
implicaem
contribuir para o esclarecimentoe
explicaçãoda
própria racionalidade organizacional;também
significa evidenciaros
contornos imprecisos e limitados
da
visãoda
teoriadas
organizaçõesquando
da
explicaçãode
fatos efenômenos
organizacionais. Por isso oponto
de
partidae de
chegada
da
análiseda
racionalidadeem
Weber
e
Habermas
é a tentativade
esclarecimento daquiloque
vem
a ser aracionalidade
nas
organizações.Como
se tratade
uma
pesquisaque
busca
compreender
as
noções
de
racionalidadeem
dois autores possuidoresde
obrasmonumentais,
não
haveria outra possibilidadede
tentar espelharseus
pensamentos que
não
se utilizassede
inumeráveis citações. Por isso asinumeráveis notas
de pé
de
páginaa
tentar precisar a amplitude ea
dimensão das
idéias aqui expostas,apesar de
todo o riscode
simplificaçõese
deformação.No
entanto, dianteda necessidade
de compreensão
do
universo organizacional,
sem
dúvidasque
a
tentativade
"espelhamento"da
contribuiçãodos
dois pensadores,a
partirde seus
próprios textos, faz-se fundamental
para apontar outroscaminhos que
estruturema
racionalidade organizacional
enquanto
teorianos novos
tempos
em
que
ainterdisciplinaridade
é
uma
perspectiva tentadora.Por
isso será tentadauma
busca
de compreensão
do
fenômeno
da
racionalidade, procurandocompreender
e
explicarum
tema
tãopolêmico e
tãopouco
pesquisadoem
termos
de
teoriadas
organizações.Na
primeira parte deste trabalho será vistaa
abrangênciae o
escopo da noção
weberiana da
racionalidade.Será
identificada,na
primeira seção,
a
atmosfera intelectualdo
finaldo Século
XIX,buscando-
se
precisaras
origensdas
orientações epistëmico-metodológicasdo
autor, essenciais para a
compreensão
da
noção
weberiana de
Ação
Social
enquanto
atos estruturados racionalmente (objetode
discussãona
segunda
seção);na
terceirae na
quartaseções
osenfoques
buscam
um
espelhamento da
racionalidadeweberiana
em
tornodas
especifidadesorganizacionais
com
o
objetivode
secompara-la
com
a
interpretaçãodas
teorias administrativas e organizacionais;na
quintaseção
serádada
uma
importância especial à
noção
de
compreensão
(verstehen)enquanto
elemento das
teoriasweberianas constantemente esquecida no
campo
organizacional para,
na
última seção,serem
formuladas as conclusõesacerca
da
racionalidadeweberiana enquanto
atosque
contemplam, ao
mesmo
tempo, elementos
racionaise
irracionais,uma
vez
que não
há a possibilidadede
uma
ação
serabsolutamente
racional.~
No
segundo
capitulo serábuscada
acompreensão
do
fenômeno da
racionalidadeem
Jürgen
Habermas,
filósofoalemão
contemporâneo,
herdeiroda
Escolade
Frankfurt.A
organização destecapitulo trata,
na
primeira seção,dos elementos
estruturadoresda
racionalidadehabermasiana,
a saber, a relação existente entre asações
e os atosde
fala;na
segunda
seção
será elaboradaa fundamentação do
autor
em
tornode
uma
pragmática universal (orientada a partirdas ações
individuais eseus
respectivos atosde
fala),buscando-se
correlacionar ahermenêutica e os dois
mundos
apontados
porHabermas:
omundo
da
vida e
o
sistema,com
maior
concentraçãono
primeiro; só a partirda
terceiraseção
serãoenfocados
osgrandes
matizesda
racionalidadeem
Habermas,
isto é,quando
da
compreensão
dos elementos
estruturantesda ação
humana
e
de suas
interrelaçõescom
respeitoaos
mundo
objetivo, subjetivo
e
social; finalmente,na
quarta seção, serãoespecificadas as formas, limites e
escopo da
racionalidadedo
herdeiroda
Escolade
Frankfurtenquanto ações
estratégicas, instrumentale
comunicativa,
com
ênfase nesta últimaenquanto ação
simbolicamentemediada.
cAPíTuLo|
r
O
conceitode
razãoou
racionalidadeem
Weber
é intrincado,complexo
e
muitasvezes ambíguo.
Em
parte devido à própriadiversidade
que marcou
todaa
sua
produção,mas
sobretudo pelapreocupação
em
dar contade
um
novo
campo
da
ciência, a Sociologia,e
devido
ao
esforçode
apresentaruma
interpretaçãodo
próprio tempo:o
do
fimdo
séculoXIX
edo
iniciodo
século atual. “É
dessa forma
que
o
conceitode
racionalidadepermeia
amaior
parte
de
seus
escritos. Partindode
um
estudo sobreas "comunidades"
orientais,
Weber
detectaos
primeiros sinais daquiloque
viriaa
chamar
de
burocracia. Este conceitofundamental
paraa
compreensão
das
modemas
organizações,enquanto manifestação
práticade
organização,não
é
frutoda
modemidade:
há anos
vem
sendo
"lapidado"nos
costumes
dos mais
variados povos,do
Ocidente ao
Oriente,como
Weber
demonstra
em
sua
Ética Protestantee o
Espíritodo
Capitalismoe
em
outras obras. `
Como
é
que
uma
práticade
organização tão distante -ou de
origem
tão distante - pôde,no
ápiceda produção
tecnológicada
humanidade,
tornar-sepreponderante? Quais as
caracteristicas desta"Razão"
que
norteia aação
eo
pensamento
dos
homens
da
EraEspacial?
Qual o
efeito "invisível", simbólicode
tal predomínio? Há,atualmente, motivos para o
pessimismo weberiano?
W_
Weber
foium
pensador profundamente
enraizadona
tradiçãoiluminista
de pensamento.
Esteé
um
ponto fundamentalque
precisa seralinhavado
em
quaisquerque
sejam as
utilizaçõesde suas
contribuiçõesconceituais e analíticas.
O
ocultamentodessa
caracteristicaobscurece
grande
partedos
trabalhosque têm
porbase
o ardoroso defensorda
Wertfreiheit.
\ / .
Para
um
autordotado de
profunda erudição,que
semanteve
atualizado
em
todas as discussõesde seu tempo,
Max
Weber
não
desponta simplesmente
como
o
principal contribuidor para aformação da
então novíssima ciênciasociológica; a profundidade
de suas
formulaçõesestão
prenhes de
considerações filosoficas (Kant. Marx, Dilthey_ dentreoutros) e psicológicas
(notadamente os
efeitosda
"nova Psicologia", retratadasnas
Investigações Lógicas husserlianas).Contudo,
é na
Históriaque
resideo
telosdo
legado weberiano,ao
tentar reconstituirde forma comparativa a
tradição culturaldo
Orientee
do
Ocidente, identificandogrande
partedos
conceitosda
nascenteSociologia.
Por
outro lado,não
conta a históriado mundo,
como
chegou
aser
a
característicade
algunspensadores
(aquichegam
as
idéiasde
Vicoe Comte,
em
temos
de
estágios,desde
eras primitivasà
contemporaneidade dos
autores -geralmente
identificadascomo
fasefinal),
em
etapas-blocos,onde
todasas
diversidadessão
hipostasiadasem
tomo
de
uma
determinada
característica tangenciala
elas.Sequer
imaginou,
como
Marx
e
algunsde
seus
seguidores, aforma
unilineardo
transcurso histórico.
Para
Weber, não
há
um
fator determinante,exclusivo,
sobre o
quala
história obrigatoriamentetenha
que
seguir.Porém,
como
nestese
em
outros pensadores,Weber
a
imaginade
um
ponto
de
vista progressivo,onde
os encantamentos pouco a pouco
dão
lugar
a
uma
forma mais
"racional"de
ver,compreender
e
explicaro
mundo.
Poder-se-iamesmo
afirmarque
os textosweberianos
tratamdo
processo
de desencantamento
do
mundo
ou
desapego
a explicaçõesde
natureza transcendental.
Que
significa, contudo,esse
desapego,
esse
desencantamento?
Ora, issoé o
mesmo
que
perguntaro
que
é oIluminismo,
o
que
o
Iluminismo representou e representa ainda hoje.Originariamente, representa
uma
tomada
de
posição(uma
visão
de
mundo)
contrário a todauma
tradição medievale
tinhacomo
base,
fundamento
- aposta -,a
razãohumana.
Contraum
mundo
composto
de
entes sobrenaturais,o
Iluminismo significouuma
apostaintegral
na
razãohumana,
a tentativade
dar fim à minoridadedo
homem
-o
Sapére
Aude
kantiano.A
superação de
talminoridade não
e caracteristicaapenas de
um
momento
isolado, especificode
um
determinado
seculoonde
tradições
são
negadas
paraque
outra surjaem
seu
lugar; antes,permeia
todo
um
legadoque
ultrapassaa
própria pretensão hodiernados
chamados
pós-modernistas.No
entanto,é
fundamentalque
sejavislumbrada, previamente,
a
atmosfera intelectualdo
períodode
formação das concepções
weberianas.Contrariamente
ao
que tem
sido feito por vários autoresque
buscaram
explicitaro
sentidoe
a
naturezada
racionalidadeweberiana
apartir
de seus
próprios textos,empreender-se-á
uma
busca
da
fundamentação da
racionalidade tantoa
partirda
literaturado
autorde
Economia
e
Sociedade,quanto
da
atmosfera
intelectualde que
fizeraparte,
ao
longodo
finaldo
século XIX.Este
empreendimento
é
necessário,uma
vez
que
Weber
não
formulou
uma
teoria sistemática, fechada,sobre o
tema. Antes,suas
contribuições
acham-se
dispersasao
longode
seus
textos - esteé
um
fato relevante, principalmente
porque suas
obras importantes,como
Economía
e
Sociedade,só
surgirampostumamente,
como
compilação de
seus
textos.Uma
segunda
razão diz respeitoao
conturbado universoao
qual pertenceu
o
autor,onde
diversos"combates"
em
tornode
conceitos filosóficoseram
debatidosarduamente,
__como será vistona
próximasessão. Portanto,
grande
partede seus
textos refletemesse
universoexplicitamente, tornando
mais obscura
a distinção daquilode que
Weber
foi
um
dos
homens
mais
aguerridoscombatentes:
a questãodo
valorna
ciência.
1.1
WEBER
E
A
ATMOSFERA
INTELECTUAL
DO
FINAL
DO
SÉCULO
XIXUm
termo
em comum
entreos
alvosdos debates
acaloradosdo
final
do
séculoXIX
dizia respeitoà
noção de
historicidade,ou
melhor,à
noção
de
historicidade.A
bifurcaçãoem
relaçãoao
tema
dava-seem
torno
da
noção
antropológica, porum
lado,e a
cosmológica, por outro.Os
adeptos
da
últimanoção
são
considerados metateóricos (Engelsaparece
aquicomo
um
exemplo
clássico,com
sua
tentativade
historicização
da
natureza);os
historicistas antropológicos relacionam ahistoricidade
com
a
condiçãohumana.
É
desse
embate que
surge onome
de
Diltheycomo uma
das
principais referências àquiloque
se denominou
de
"antropologia filosófica".De
forma
equivalenteao
termo
historicidade, entreos
intelectuais
do
períodoem
estudohá
uma
outra bifurcação, agoraem
relação
à
ontologiae à
epistemologia.Para os
primeiros,a
históriaé
vista
como
constitutivada
realidade;em
contrapartida,os
últimos terãoseus
interesses direcionados para acompreensão
da
realidade atravésda
história. (Diltheytoma-se
aquium
exemplo
da preocupação
tantoantropológica
como
epistemológica.)Resumidamente, segundo
Merquior”, as orientaçõesdos
intelectuais
do
periodosão as
seguintes:a)
A
economia
deveria sersubordinada
auma
história supra-econômica
(baseados no
fatode
que
ocomportamento
ésempre
fortemente
modelado
peloseu ambiente
institucional,económico
e não-econômico).
b)
A
procurada
unicidadedo
indivíduo histórico (implicavauma
profunda desconfiança
com
relação a toda generalização histórica).'7 As infomtaçöcs comidas ncstzi pzinc csiño cin .\lERQUlOR.
J G Roussciiii c Wcbcr dois cstudos
sobre :i lcorui da legitimidade Rio dc Jzinciro Gu:iii:ib:ir:i. l'¡Xtl_
pp l57 c scgiiiiiics