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Internacionalização e agricultura: a fruticultura tropical no Rio Grande do Norte no contexto da mundialização

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA

ALEXANDRE ALVES DE ANDRADE

INTERNACIONALIZAÇÃO E AGRICULTURA: A FRUTICULTURA TROPICAL NO RIO GRANDE DO NORTE NO

CONTEXTO DA MUNDIALIZAÇÃO

Natal/RN 2018

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ALEXANDRE ALVES DE ANDRADE

INTERNACIONALIZAÇÃO E AGRICULTURA: A FRUTICULTURA TROPICAL NO RIO GRANDE DO NORTE NO

CONTEXTO DA MUNDIALIZAÇÃO

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Celso Donizete Locatel

Natal/RN 2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA

Andrade, Alexandre Alves de.

Internacionalização e agricultura: a fruticultura tropical no Rio Grande do Norte no contexto da mundialização / Alexandre Alves de Andrade. - Natal, 2018.

241f.: il. color.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós - Graduação em Geografia. Natal, 2018.

Orientador: Prof. Dr. Celso Donizete Locatel. 1. Agricultura - Tese. 2. Fruticultura - Tese. 3. Internacionalização - Tese. 4. Mundialização - Tese. 5. Rio Grande do Norte - Tese. I. Locatel, Celso Donizete. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA CDU 364.6(813.2)

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ALEXANDRE ALVES DE ANDRADE

INTERNACIONALIZAÇÃO E AGRICULTURA: A FRUTICULTURA TROPICAL NO RIO GRANDE DO NORTE NO

CONTEXTO DA MUNDIALIZAÇÃO

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Geografia.

Aprovado em: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________ Prof. Dr. Celso Donizete Locatel - UFRN

_______________________________________________________________ Profª. Drª. Rita de Cássia da Conceição Gomes - UFRN

_______________________________________________________________ Profª. Drª. Jane Roberta de Assis Barbosa – UFRN

_______________________________________________________________ Prof. Dr. Sedeval Nardoque - UFMS

_______________________________________________________________ Profª. Drª JOSEFA DE LISBOA SANTOS - UFS

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AGRADECIMENTOS

A concretização deste trabalho nos proporciona um misto de sentimentos, alegrias e emoções. O caminho que trilhamos foi perseguido com esforço, dedicação, dificuldade, incerteza e esperança. A caminhada não foi fácil nem a realizamos sozinho. Contamos com grandes e pequenas contribuições que nos incentivaram à conclusão da pesquisa. Com grata satisfação agradeço a todos os que contribuíram, incentivaram e acreditaram que a realização deste trabalho seria possível.

Agradeço a Deus, a quem atribuo todas as conquistas de minha vida, por ter me permitido chegar à pós-graduação, mesmo quando tudo parecia conspirar contra a realização deste feito, por me fortalecer diante dos obstáculos.

A minha mãe, Almira Belizio Alves, pessoa simples de poucos estudos, mas de uma saberia invejável, ao longo destes anos de caminhada acadêmica soube me incentivar, acreditando e encorajando-me nos momentos difíceis. A quem admiro e venero. Ao meu irmão, José Leonardo, que mesmo em silêncio torce por mim.

Aos amigos conquistados durante esse período que dediquei minha formação à ciência geográfica desde a época de graduação e a quem agradeço todo companheirismo, contribuições e risadas, em especial a Paula Juliana da Silva, Vanessa Paulo, Metuzael Lameque, Lúcia Rosa, Diego Tenório, Sandra Priscila, Marília Colares e Rafael Silva. Todos vocês são sujeitos fundamentais em minha vida, mesmo os que a vida tratou de distanciar.

Ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia pela oportunidade, em especial ao Professor Celso Donizete Locatel pela acolhida, orientação, incentivo e confiança. Pessoa maravilhosa e de grande sabedoria, um exemplo de profissional e um ser humano grandioso.

Aos amigos do trabalho, em especial, os companheiros professores, técnicos administrativos e pessoal de apoio e manutenção da Escola Municipal Senador Duarte Filho, pelo incentivo, confiança e solidariedade nos momentos fundamentais da realização desta pesquisa.

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A Marcos Paulo, por toda dedicação, incentivo e companheirismo que tem me dedicado ao longo dos últimos anos. Por se fazer presente em todas as horas e por acreditar na materialização deste sonho/trabalho junto comigo.

A todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste sonho.

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RESUMO

A internacionalização é um elemento do processo de mundialização da economia, atuando na promoção e integração seletiva de frações do território em ritmo e intensidade cada vez maiores. Na agricultura, as explicações a esse fenômeno econômico, político e geográfico estão na (re)configuração produtiva do território, demandando novos usos agrícolas embasados na lógica da produção de commoditie. Nosso principal objetivo é compreender a internacionalização da agricultura do Rio Grande do Norte, a partir da fruticultura tropical, no contexto da mundialização. Nosso recorte analítico são os cultivos do melão, castanha de caju e a banana, com intuito de abarcar diferentes segmentos produtivos da fruticultura. Nesse sentindo, partimos do pressuposto de que a produção de frutas desenvolvida no Rio Grande do Norte figura como atividade destinada ao suprimento alimentar de mercados regionais, majoritariamente, União Europeia e América do Norte, estabelecidos com os movimentos externos de normatização e controle dos mercados consumidores de alimentos e da conexão entre produção e consumo por uma complexa trama na circulação de capitais e mercadorias em territórios descontínuos. Pelo exposto, aferimos que a dinâmica da fruticultura no Rio Grande do Norte caracteriza-se pela internacionalização da agricultura a partir da mudança na concepção de segurança alimentar dos países centrais, exercendo o controle dos mercados mundiais de alimentos, normatizada pela imposição dos protocolos de boas práticas agrícolas.

Palavras-chave: Agricultura. Fruticultura. Internacionalização. Mundialização. Rio Grande do Norte.

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ABSTRACT

Internationalization is an element of the economy’s globalization process, acting in an increasing pace and intensity on the promotion and selective integration of territories. In agriculture, the explanations to this economic, political and geographical phenomenon is on the productive (re)organization of the territory, demanding new agricultural uses based on the commodities production. Our aim is to understand Rio Grande do Norte’s internationalization, from tropical fruit farming, in the context of globalization. This study is focused on the melon, cashew nut, banana, papaya and pineapple crops, intending to cover different productive segments of fruit farming. Therefore, based on the assumption that the production of fruits in Rio Grande do Norte is an activity intended to regional markets’ food supply, mostly, European Union and North America, established with external transactions of standardization and control of food producer markets and the connection between production and consumption through a complex network in the movement of capital and goods in discontinuous territories. It is, then, possible to assess that the dynamics of Rio Grande do Norte’s fruit farming is characterized by agriculture internationalization from the changing on the core countries’ food safety understanding, controlling the food global markets, standardized by the imposition of good agricultural practices protocols.

Key-words: Agriculture. Fruit farming. Internationalization. Globalization. Rio Grande do Norte.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Representação esquemática da mundialização...38 Figura 2 – Evolução dos principais selos de certificação no Brasil...50 Figura 3 – Rio Grande do Norte: Exportação de Frutas – 2000 a 2015...98 Figura 4 – Rio Grande do Norte: Movimentação financeira em US$ FOB da exportação de Frutas – 2000 a 2015...100 Figura 5 – Rio Grande do Norte: Mapa de destino dos fluxos das exportações de Melão – 2002 a 2013...104 Figura 6 – Rio Grande do Norte: Mapa com destino dos fluxos das exportações

de Castanha de Caju – 2002 a

2013...106 Figura 7 – Rio Grande do Norte: Mapa com destino dos fluxos das exportações de Banana – 2002 a 2013...108 Figura 8 – Rio Grande do Norte: População ocupada por setores da economia em 1991...137 Figura 9 – Rio Grande do Norte: Taxa de analfabetismo em 1991...140 Figura 10 – Rio Grande do Norte: População ocupada por setores da economia em 2010...143 Figura 11 – Rio Grande do Norte: Taxa de analfabetismo em 2010...147 Figura 12 – Rio Grande do Norte: Índice de Desenvolvimento Humano 1991/2010...149 Figura 13 – Rio Grande do Norte: Indicador Social de Desenvolvimento dos Municípios (ISDM) 2012 ...153 Figura 14 – Rio Grande do Norte: Localização do Vale do Açu...157 Figura 15 – Rio Grande do Norte: Área plantada com Banana, por município, em 1990, 2000, 2010 e 2015...169 Figura 16 – Rio Grande do Norte: Quantidade produzida de Banana (cacho) em 1990, 2000, 2010 e 2015...175 Figura 17 – Rio Grande do Norte: Área plantada de Melão (hectare) em 1990, 2000, 2010 e 2015...190

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Figura 18 – Rio Grande do Norte: Quantidade produzida de Melão (tonelada) em 1990, 2000, 2010 e 2015...196 Figura 19 – Rio Grande do Norte: Área Plantada com Cajueiros (hectares) em 1990, 2000, 2010 e 2015...205 Figura 20 – Rio Grande do Norte: Quantidade produzida de Castanha de caju (Toneladas) em 1990, 2000, 2010 e 2015...214

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Rio Grande do Norte: Munícipios com mais 100 hectares com plantio de Banana em 2000...171 Tabela 2 – Rio Grande do Norte: Munícipios com mais de 100 hectares com plantio de Banana em 2010...172 Tabela 3 – Rio Grande do Norte: Munícipios com mais 100 hectares com plantio de Banana em 2015...173 Tabela 4 – Rio Grande do Norte: Municípios com produção superior a 100 toneladas de banana em 2000...176 Tabela 5 – Rio Grande do Norte: Municípios com produção superior a 100 toneladas de banana em 2010...177 Tabela 6 – Rio Grande do Norte: Municípios com produção superior a 100 toneladas de banana em 2015...179 Tabela 7 – Rio Grande do Norte: Municípios com mais de 100 hectares com plantio de Melão em 1990...192 Tabela 8 – Rio Grande do Norte: Principais produtos exportados em US$ FOB - 1997 a 2017...193 Tabela 9 – Rio Grande do Norte: Municípios com mais de 100 hectares com plantio de Melão em 2000...194 Tabela 10 – Rio Grande do Norte: Municípios com mais de 100 hectares com plantio de Melão em 2010 e 2015...195 Tabela 11 – Rio Grande do Norte: Municípios com produção superior a 100 toneladas de melão em 2000...197 Tabela 12 – Rio Grande do Norte: Municípios com produção superior a 100 toneladas de melão em 2010/2015...198

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Tabela 13 – Rio Grande do Norte: Municípios com mais de 100 hectares com plantio de castanha de caju em 2000...207 Tabela 14 – Rio Grande do Norte: Municípios com mais de 100 hectares com plantio de castanha de caju em 2010...210 Tabela 15 – Rio Grande do Norte: Municípios com mais de 100 hectares com plantio de castanha de caju em 2015...211 Tabela 16 – Rio Grande do Norte: Municípios com produção superior a 100 toneladas de castanha de caju em 2000...215 Tabela 17 – Rio Grande do Norte: Municípios com produção superior a 100 toneladas de castanha de caju em 2010...216 Tabela 18 – Rio Grande do Norte: Municípios com produção superior a 100 toneladas de castanha de caju em 2015...217

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Resumo dos Selos de Indicação Geográfica em Produtos Agropecuários – Brasil 2016...57 Quadro 2 – Sistematização das ações políticas na irrigação – século XX e início XXI...84 Quadro 3 – Periodização das práticas agrícolas no Vale do Açu: períodos 1, 2 e 3...161 Quadro 4 – Periodização das práticas agrícolas no Vale do Açu: período 4...164 Quadro 5 – Rio Grande do Norte: Empresas produtoras de Melão filiadas ao COEX...187 Quadro 6 – Certificações concedidas à empresa Agrícola Famosa...200

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGROAMIGO Programa de Microfinança Rural do Banco do Nordeste ALICEWEB Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior via Internet

BNB Banco do Nordeste do Brasil

BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social CODENO Conselho de Desenvolvimento do Nordeste

COEX Comitê Executivo da Fruticultura do Rio Grande do Norte CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional COOPYFRUTAS Cooperativa dos Fruticultores da Bacia Potiguar

DIBA Distrito de Irrigação do Projeto Baixo-Açu DIT Divisão Internacional do Trabalho

DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

EMATER/RN Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte

FGV Fundação Getúlio Vargas

FIESPE Federação das Indústrias do Estado de São Paulo FPFB Frente Parlamentar da Fruticultura Brasileira

GEIDA Grupo Executivo de Irrigação para o Desenvolvimento Agrícola

GLOBAL GAP The Global Partnersship for Good Agricultural Practice IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDE Investimento Direto Estrangeiro

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IG Indicação Geográfica

II PND II Plano Nacional de Desenvolvimento

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INPI Instituto Nacional de Propriedade Industrial

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

ISDM Indicador Social de Desenvolvimento dos Municípios LOSAN Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional

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MAISA Mossoró Agroindustrial S/A

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MDIC Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

OMC Organização Mundial do Comércio PBPA Protocolos de Boas Práticas Agrícolas

PIB Produto Interno Bruto

POLONORDESTE Programa de Desenvolvimento de Áreas Integradas do Nordeste

SAN Segurança Alimentar e Nutricional

SAPE Secretaria da Agricultura, da Pecuária e da Pesca

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SECEX Secretaria de Comércio Exterior

SEPLAN Secretaria de Estado de Planejamento e Finanças

SINDICAJU Sindicato das Indústrias de Beneficiamento de Castanha de Caju e Amêndoas Vegetais do Estado do Ceará

SISAN Segurança Alimentar e Nutricional

SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste UFERSA Universidade Federal Rural do Semiárido

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SUMÁRIO

1 Introdução: As formulações teóricas e metodológicas estruturantes da

tese...15

2 Território, agricultura e mundialização: elementos conceituais para análise geográfica...30

2.1 Princípios teóricos da mundialização: o motor único... 33

2.2Território, agricultura e economia-mundo ...43

2.3 Mundialização e regulação: o papel da certificação na produção de frutas ...49

2.4 Internacionalização da produção: dinâmicas da seletividade territorial...59

2.5 Agricultura e soberania nacional e alimentar: a produção de frutas no Brasil ...63

3 Estado, Políticas Públicas e Internacionalização agroalimentar ...71

3.1 Notas introdutórias sobre Estado e Território ...73

3.2 A ação política e a fruticultura tropical ...79

3.3 A ação política no século XXI: marcos e mudanças ...89

3.4 Agricultura, produção de commodites e internacionalização do agronegócio de frutas ...96

3.5 O comércio de frutas e a formação de mercados regionais na escala internacional ...101

4 Agricultura e cultivo de frutas tropicais no Rio Grande do Norte: ações seletivas de modernização do território ...110

4.1 O território Potiguar e os interesses oligárquicos na produção de frutas ...114

4.2 Oligarquia, agricultura e política no Rio Grande do Norte: reflexos na produção da fruticultura irrigada ...117

4.3 Disparidades territoriais e especialização produtiva: psicosfera da modernização x tecnosfera do atraso ...134

Fonte: RADARCOMERCIAL/SECEX/MDICE, 2016. Organização dos dados: Andrade, 2016

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5“Yes, Nós temos Banana”, Melão e castanha de caju! A produção de frutas tropicais no Rio Grande do Norte ...155 5.1 Agricultura científica e tecnificada no Vale do Açu...156 5.2 O projeto Baixo-Açu e a gênese da produção de frutas irrigadas no Rio Grande do Norte ...159 5.3 A produção de Banana ...165 5.4 Agricultura, densidade técnica e informacional no cultivo de melão ...180 5.5 A incorporação do tradicional na lógica internacional: o cultivo da castanha de caju ...202 6 Considerações Finais ...219 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...229

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1 INTRODUÇÃO: AS FORMULAÇÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS ESTRUTURANTES DA TESE

A mundialização do capital, da produção, da circulação e, por consequência, do espaço e do tempo, em virtude dos fluxos, faz com que o mapa do mundo apresente novos contornos no tocante ao entrelaçamento das redes e da divisão territorial do trabalho. Surge uma nova geografia mundial com ênfase nas relações estabelecidas entre áreas de produção e de consumo.

Essa tese, intitulada “Internacionalização e Agricultura: a fruticultura tropical no Rio Grande do Norte no contexto da mundialização”, parte da premissa que a Ciência Geográfica deve considerar os novos arranjos produtivos e territoriais como elementos de compreensão das dinâmicas socioespaciais contemporâneas, assim como os elementos e os usos do território como estratégia de acumulação no âmbito da mundialização do capital.

A mundialização promove uma integração seletiva dos lugares em ritmos e intensidades distintos, mediados por interesses de agentes e nações, por meio de imposições travestidas de normatização cuja finalidade, supostamente, é a segurança nacional, alimentar e nutricional do Estado-Nação, num processo de expansão geográfica do capital. As explicações para esse fenômeno econômico, político e geográfico não pode se limitar à esfera da troca internacional, o que comumente ocorre. Mas, deve-se considerar a dimensão do Investimento Direto Estrangeiro (IDE), da imposição de padrões de produção, das relações entre Estados-Nação e da mobilidade de capitais financeiros e de mercadorias. Pensar o uso do território, partindo da ideia de totalidade, requer considerar os agentes, as dinâmicas e os processos que perpassam necessariamente a compreensão do modus operandi com que o capital se reproduz na contemporaneidade.

Frente às mudanças racionalmente estruturadas, os diferentes usos do território consistem num processo complexo e contraditório. A modernização das técnicas de produção proporciona uma série de transformações na organização social, por meio da fragmentação das etapas que compõem o processo produtivo, considerado aqui enquanto produção-consumo, e no

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estabelecimento de redes e hierarquias territoriais, ora visualizadas na esfera da troca (comércio internacional), ora no deslocamento das filiais (empresa multinacional).

A mundialização não é um fenômeno recente dentre as estratégias de reprodução do sistema capitalista. Entretanto, metamorfoseia-se ao longo da história. No período atual, técnico-científico-informacional (SANTOS, 2009), acentua-se a esfera da troca internacional, graças aos avanços nos sistemas técnicos de comunicação e transporte. Este fenômeno faz crer numa pseudo-homogeneidade global possibilitada pela adaptabilidade das características locais aos eventos e demandas mundiais.

O período técnico-científico-informacional constitui a fase de acumulação expandida (CHESNAIS,1996), colocando a escala global como espaço privilegiado de acumulação e reprodução das heterogeneidades. Seu aporte político ideológico está nas formulações neoliberais em voga desde a década de 1970, e sua base técnica apoia-se nos avanços dos sistemas de comunicação e informação, originando uma reestruturação produtiva com o aparecimento de novas redes de circulação, produção e consumo, complexificando o espaço geográfico.

A reorganização espacial do cultivo e do consumo provocada por esse movimento de acumulação contribui para a criação de sistemas técnicos, ou a incorporação dos já existentes à esfera da produção agrícola. Os arranjos territoriais produtivos são constituídos e passam a compor o sistema mundial de produção, no qual o controle do comércio internacional passa a ser, paulatinamente, substituído pelo controle mundial da produção. Como exemplo deste fenômeno temos a fabricação de alimentos em que a produção e consumo ocorrem cada vez mais pelas trocas internacionais, possibilitada em virtude da normatização imposta pelos Protocolos de Boas Práticas Agrícolas (PBPA), pela produção de commodites, pela comercialização nas Bolsas de Mercadorias e Futuros e pela disseminação de ideologias de segurança alimentar e nutricional.

Nesse movimento, o deslocamento da base técnico-produtiva é um dos elementos mais palpáveis e considerados por pesquisadores das ciências econômicas e sociais, em particular os da geografia econômica e agrária, ao analisarem as transformações das estruturas de produção nos espaços rurais,

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considerando a formação de regiões agrícolas especializados na dinâmica mundial da produção agrícola (ELIAS, 2012; CASTILLO, et al, 2016).

Desse modo, a presença de empresas multinacionais ou mesmo a venda das mercadorias agrícolas nos mercados nacionais às multinacionais faz crescer uma homogeneidade das relações mercantis e na formulação de uma atividade econômica globalizada. No entanto, devemos considerar a relação de subordinação existente pois determinam a forma como a atividade econômica modela uma configuração espacial local dentro da divisão internacional territorial do trabalho e da acumulação e, até mesmo, as relações de dependência existentes no território nacional ao desenvolver uma atividade produtiva cuja ação fim é o abastecimento do mercado internacional.

Outrossim, a internacionalização não incide tão somente com o deslocamento de um alicerce físico para dar subsídio à produção, o caso clássico da empresa multinacional. Ela ocorre, também, com o estabelecimento de modelo de produção e circulação da produção nacional para atender à demandas extranacionais.

A agricultura brasileira, inserida na lógica de uma produção internacionalizada, responde aos interesses extranacionais, fortalecendo segmentos produtivos com a finalidade de produzir alimentos para mercados regionais, em especial de países do Norte. Este modelo produtivo beneficia uma elite agrária nacional que se reproduz enquanto elite política de base local (SPNELI,2006), com a produção de commodities agrícolas, num já fadado modelo de exploração alicerçado nas monoculturas intensivas e padronizadas pelas normas dos PBPA’s e pelas certificadoras internacionais de cultivo vegetal, beneficiando não só a uma elite agrária e política, mas também a uma elite industrial e financeira, contribuindo assim para a manutenção da estrutura desigual de classes existente no país.

Aflui nesse sentido o cultivo de frutas tropicais irrigadas e de sequeiro no Rio Grande do Norte, conectado a movimentos externos de normatização e controle dos mercados produtores de alimentos e da conexão entre produção e consumo, por uma complexa trama de fluxos de capitais e mercadorias em frações do território, descontínuo, mas com implicações diretas no campo socioespacial local. A produção frutícola se constitui em um importante segmento do agronegócio no Rio Grande do Norte com a dinamização e

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modernização da base agrícola, criando uma produção técnica-científica-informacional, mascarando as heterogeneidades dos diferentes segmentos produtivos, e produzindo desigualdades socioterritoriais.

O texto ora apresentado estrutura-se metodologicamente num estilo de redação que procurou articular dados e elementos empíricos aos elementos teóricos ao longo de toda a problematização do objeto de estudo, considerando na composição dos capítulos os objetivos propostos na realização deste trabalho. Com isso, desejamos ter rompido com a clássica divisão que estrutura os textos acadêmicos em partes teóricas e partes empíricas, por considerarmos que o conhecimento está alicerçado no diálogo entre teoria e empiria, ou entre o abstrato-formal e o empírico-concreto (ALTHUSSER, 1978). Salientamos que na formulação deste texto ocorreu, num primeiro momento, a necessidade de tecermos um estado da arte para encaminharmos as situações visualizadas ao longo da pesquisa, assim, ora haverá uma discussão de apropriação conceitual, ora a exposição de elementos da realidade apresentados à luz da concepção teórica adotada na problematização da temática desta tese, que se expressa na internacionalização da agricultura, enquanto um elemento da mundialização do capital no Rio Grande do Norte.

No cenário mundial o Brasil é o terceiro maior produtor de frutas, precedido por China e Índia, respectivamente, a produção de frutícolas corresponde a um importante fenômeno de reprodução do capital no campo, privilegiando o agronegócio como modelo preponderante de organização agrícola em todos os estados do país.

Considerando a inserção do Brasil a partir da produção de frutas e das relações econômicas e políticas que dela ensejam na economia mundial, o Rio Grande do Norte apresenta relevância por ser a segunda unidade da federação na comercialização internacional de frutas frescas, além de castanhas, precedido pelo Ceará (CARVALHO, 2017). No Rio Grande do Norte, ocorre o cultivo de frutas tropicais como melão, manga, banana, abacaxi e mamão, cultivados sob a insígnia do agronegócio das frutas. Contudo, os cultivos de maior expressividade em produtividade e exportação são de melão, banana e castanha de caju.

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Para fins de operacionalização do que chamamos de fruticultura tropical no Rio Grande do Norte, elegemos os cultivos de Cucumis Melo L. (melão), Musa spp (banana) e Anacardium occidentale L. (caju), este último com foco especificamente na castanha de caju. Ao longo do texto optamos por usar as expressões melão, banana e castanha de caju para facilitar a compreensão.

Em relação ao recorte espacial da pesquisa, delimitamos o Estado do Rio Grande do Norte, contudo, ressaltamos que os cultivos apresentam áreas especializadas às quais direcionamos nosso olhar de pesquisador para entendermos as dinâmicas e processos da atividade da produção de frutas. Aqui, fazemos mais um esclarecimento a respeito da delimitação: no Estado do Rio Grande do Norte, as expressões Vale do Açu, Rio Piranhas-Açu e Distrito de Irrigação Baixo-Açu são grafados com “ç” e o município de Assu é grafado com “ss”. Assim, quando a grafia aparecer com “ç” estamos nos referindo à área de produção banhada pelo corpo hídrico Piranhas-Açu, e quando grafarmos com “ss” estamos nos reportando ao município.

Tendo em vista as discussões sucintamente encaminhadas, coloca-se a indagação central que norteará este trabalho: como ocorre a internacionalização da agricultura do Rio Grande do Norte, a partir da fruticultura tropical, no contexto da mundialização? Essa questão se desdobra nos seguintes questionamentos específicos:

 Como se dá o processo de uso e apropriação do território por meio das práticas agrícolas internacionalizadas, com ênfase no cultivo de frutas no Rio Grande do Norte, no contexto da mundialização?  Qual papel desempenha o Estado na formulação de políticas que contribuem para a internacionalização da economia nacional, em especial nos circuitos de produção agroalimentar?

 Quais as características da reestruturação produtiva, no contexto da mundialização, no território Norte-rio-grandense para uma agricultura internacionalizada?

Como a lógica dos commodites se desdobra em especialização produtiva no cultivo de frutas tropicais e estabelece uma rede de circulação extravertida?

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 Quais agentes comandam o processo de internacionalização da produção da agricultura no Rio Grande do Norte, no âmbito da mundialização?

A partir das inquietações que nos acompanharam na construção desta pesquisa, propomos enquanto objetivo geral analisar a internacionalização da agricultura do Rio Grande do Norte, a partir da fruticultura tropical, no contexto da mundialização, considerando o fluxo de capitais e mercadorias nos cultivos de melão, de banana e de castanha de caju. Para concretizá-lo consideramos pertinente o estabelecimento de objetivos específicos, assim definidos:

 Discutir o uso do território por meio das práticas agrícolas internacionalizadas no cultivo de frutas tropicais no Rio Grande do Norte, considerando a mundialização enquanto motor único;

 Analisar o papel do Estado enquanto agente fomentador e facilitador na internacionalização da agricultura, com ênfase na produção agroalimentar de frutas;

 Delimitar as áreas especializadas no cultivo de frutas tropicais cultivadas em conformidade com os padrões da agricultura internacionalizada;

 Refletir sobre o processo de especialização produtiva, a partir do cultivo de commodites e as dinâmicas de formação de uma rede extravertida;

 Identificar os agentes externos e internos que controlam e se apropriam do território, a partir do cultivo de frutas no Rio Grande do Norte.

Considerando tais questionamentos e objetivos, esta pesquisa apresenta enquanto tese a proposição de que a produção de frutas tropicais no Rio Grande do Norte se configura numa agricultura internacionalizada, ao invés de uma agricultura globalizada.

A fruticultura no Rio Grande do Norte caracteriza-se por uma integração de mercados por meio da mobilidade de capitais produtivos e da internacionalização da agricultura moderna, elementos intrínsecos ao processo

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de mundialização, efetivada pela lógica externa/interna da produção de commodites, a partir da mudança na concepção de segurança alimentar dos países centrais, em que se muda do controle da produção para o controle dos mercados mundiais produtores de alimentos. Esse controle ocorre com a normatização e definição de modelos de produção e manutenção de mercados especializados em produtos primários.

Para operacionalizarmos esta pesquisa lançamos mão de um conjunto de procedimentos metodológicos que incluem a revisão bibliográfica, coleta e tratamento estatístico de dados secundários, seguido de elaboração de gráficos e cartográficos, e pesquisa de campo para levantamento de informações e dados primários e para a realização de entrevistas, totalizando 10 entrevistados. No trabalho de campo, percorremos instituições públicas e privadas para coleta de informações acerca do objeto de estudo e para compreendermos as dinâmicas inerentes às atividades de produção de frutas no segmento da produção de melão, banana e castanha de caju. Para além das entrevistas formais, empreendemos um conjunto de conversas informais com pequenos produtores, trabalhadores e moradores das áreas de produção, universo não contabilizado na pesquisa, mas que contribuiu para a compreensão da realidade observada.

O trabalho de campo ocorreu no período de 2016 e 2017 com a visitação de instituições diretamente ligadas ao segmento produtivo de frutas no Rio Grande do Norte, das quais passamos a falar agora. A primeira instituição visitada foi a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte (EMATER/RN), escritório de Mossoró. Nesta instituição foram coletadas informações acerca da implantação e da relevância da produção de frutas enquanto atividade de maior expressividade do agronegócio.

Segundo a EMATER/RN, a atividade se concentra na propriedade de médios e grandes latifundiários, na produção de banana e melão, e o cultivo de castanha de caju no segmento de pequenos proprietários camponeses. De acordo com a EMATER/RN, a instituição não oferece as condições ideais de assistência técnica, em especial aos produtores de castanha de caju, em virtude dos parcos recursos que o órgão dispõe e, também, não oferece

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assistência aos produtores de melão e banana, pois estes não se enquadram dentro do perfil de atendimento do órgão.

Visitamos também o Comitê Executivo da Fruticultura do Rio Grande do Norte (COEX), entidade que representa os produtores que exportam a produção de frutas. Observamos que a instituição mantém forte ligação com os produtores de melão, principal segmento organizado entre os fruticultores. O COEX, enquanto instituição representante do setor, endossa o discurso da omissão do Estado para com os produtores, alega que deveria existir mais incentivo fiscal para o setor e destaca a relevância na geração de emprego promovida pela atividade, em especial na porção interiorana do estado do Rio Grande do Norte.

Junto à Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA) obtivemos informações no que diz respeito à produção de conhecimento nas áreas da agronomia, fitotecnia, irrigação e drenagem e melhoramento genético das espécies, bem como a formação de mão de obra qualificada direcionada ao mercado fruticultor. Pesquisadores da Universidade destacam que existe forte especulação entre os produtores e uma resistência à socialização de avanços científicos: as empresas de grande porte mantém sigilo em relação as suas pesquisas e métodos de produção, o que dificulta a disseminação do conhecimento.

Na visita a Secretaria da Agricultura, da Pecuária e da Pesca (SAPE), fomos direcionados ao setor de projetos, onde nos foram apresentados os projetos pilotos em execução no estado para diversos segmentos produtivos. Fizemos um recorte no projeto da Cajucultura desenvolvido em Apodi, Mossoró, Severiano Melo e Caraúbas, uma tentativa do Governo de alavancar e reestrutura a atividade, que além da descapitalização dos produtores enfrenta os problemas decorrentes dos períodos de estiagem.

Percebemos a falta de gestão por parte do órgão no que compete à produção privada. Desde 2016 o Governo estadual está fazendo contratos de gestão, que são firmados entre as secretarias de Estado e entidades privadas na execução de projetos considerados prioritários para manter o andamento de uma carteira de projetos estratégicos ao desenvolvimento. Segundo informações coletadas em nosso trabalho de campo, o contrato da SAPE não foi priorizado para monitoramento em virtude falta de pessoal no escritório,

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contudo o órgão segue executando o projeto previsto no Plano Plurianual, as principais ações estão vinculadas a transferência de recursos para coorperativas, contudo a assistência técnica é ineficiente.

No tocante aos investimentos financeiros direcionados à produção de frutas, tínhamos a intenção de investigar os IDEs direcionados à fruticultura, contudo esbarramos em grande dificuldade na coleta desta informação, ideia que foi abandonada. Buscamos informações junto ao Banco do Nordeste, que nos apresentou dados de sua atuação na oferta de crédito a partir das linhas de créditos disponíveis com recursos do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste e Programa de Microfinança Rural do Banco do Nordeste (AgroAmigo). Informações referentes a clientes, valores, aplicação, monitoramento dos recursos não foram informadas sob a alegação do sigilo bancário. Outras instituições financeiras foram contatadas como as fectores que atuam em Mossoró e o Banco do Brasil, contudo sob a alegação do sigilo fiscal e bancário não fomos recebidos.

Fizemos ainda um trabalho de campo junto ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), unidade Mossoró. A instituição desenvolve e apoia projetos ligados ao segmentado da fruticultura por pequenos produtores, pauta ações de disseminação de tecnologia de tratos culturais e manejos de água e solo em projetos experimentais de maçã e uva na Chapada do Apodi, além de atuar na formalização e abertura de pequenos empreendimentos.

Na etapa final do trabalho de campo, após identificarmos as áreas especializadas nos cultivos que estudamos, optamos por entrevistar produtores de melão, banana e castanha de caju. Conseguimos entrevistar funcionários da Agrícola Famosa, que enalteceram sua condição de maior produtor de melão. Entrevistamos ainda prestadores de serviço a empresas produtoras de banana, já que as empresas procuradas não se mostraram disponíveis e entrevistamos agricultores e pequenos beneficiadores de castanha de caju.

Em relação à coleta dos dados secundários, consultamos o site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e sistematizamos os dados fornecidos referentes aos cultivos que estão sendo estudados nessa tese e a indicadores sociais, como Taxa de Analfabetismo e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Recorrermos, também, aos dados da Fundação Getúlio Vargas

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(FGV), o Indicador Social de Desenvolvimento dos Municípios (ISDM), para estabelecermos uma relação entre usos do território e condições de qualidade de vida. Na análise, observamos que existe um descompasso em relação às áreas de produção e acumulação de riqueza e os indicadores de qualidade de vida: de modo geral, as áreas produtoras de frutas apresentam baixos indicadores sociais.

No que diz respeito à internacionalização da produção, usamos a variável exportação disponível no Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior via Internet (ALICEWEB), disponibilizado pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), órgão vinculado ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Nele, coletamos informações das quantidades exportadas, do valor arrecadado com a exportação e dos destinos para onde são enviadas as frutas (melão, banana e castanha de caju) do Rio Grande do Norte. De posse dos dados, empreendemos sua análise e organização na elaboração cartográfica que nos ajuda a espacializar o domínio de produção frutícola do Rio Grande do Norte, bem como os usos do território.

No tocante ao método, consideramos que este é um aparelho coeso de ideias operacionalizadas com finalidade de atingir objetivos definidos, assim, deve-se ter claro o conjunto de técnicas empíricas e intelectuais que compõem a produção do conhecimento acerca do objeto pesquisado. Neste sentido, o próprio fenômeno analisado é quem indica o melhor caminho a ser percorrido. Nesse percurso, encaminhamos a construção da pesquisa pautados na obra do professor Milton Santos (2009), na qual considera o espaço como um conjunto indissociável de objetos e ações. Já a apreensão da realidade é pautada na compreensão do uso do território posto em prática a partir das possibilidades e efetivação dos agentes sociais dos objetos e ações que compõem o espaço geográfico.

Partindo dos objetivos traçados como elementos norteadores de nossa pesquisa e em busca de respostas para a questão estruturante deste estudo, adotamos por princípio de método um conjunto coerente de ideias, o qual nos permitiu uma análise do espaço visto em sua totalidade enquanto uma instância social (SANTOS, 2009), tendo o território como princípio e fim da pesquisa.

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Desse modo, o território não pode ser encarado como algo estático, inerte ou mesmo palco de realização da vida; ao contrário, o território é um quadro de vida dinâmico composto de materialidades e relações sociais que se faz a partir das normas, das técnicas, das ações humanas, sinônimo de espaço geográfico, definido como um conjunto indissociável, solidário e contraditório de objetos e ações. Elementos que são instalados e usados seguindo uma lógica que ultrapassa os interesses locais (SANTOS, 2009). Sendo assim, a concepção de território deve se balizar na indivisibilidade entre a “materialidade, que inclui a natureza, e o seu uso, que inclui as ações humanas” (SILVEIRA, 2009, p. 129), ambos mediados pelo trabalho e pela política.

Na estruturação desta pesquisa, foi necessário o entendimento de processos sociopolíticos e históricos que antecedem a introdução dos cultivos irrigados e a constituição do Rio Grande do Norte como área especializada na produção de frutas dentro da economia-mundo. Neste sentido, a produção irrigada e não irrigada de frutas no semiárido nordestino, incluindo o Rio Grande do Norte, está inserida num contexto nacional das ações do Estado que visaram dotar esta região de uma base técnica para lhe conferir maior dinamismo econômico, favorecer a integração com a região Sudeste, bem como, supostamente, combater os efeitos das secas, no intuito de minimizar os flagelos sociais decorrentes dos longos períodos de estiagem. Contundo, consideramos que esse modelo produtivo está inserido em uma lógica de expansão geográfica do capital e na manutenção de uma injusta divisão territorial do trabalho.

A relevância da pesquisa em curso está no aprofundamento dos debates acerca da Geografia Agrária e Econômica, áreas amplamente discutidas na Ciência Geográfica na perspectiva das relações de conflito sociais existentes no campo. Nossas proposições se afastam um pouco dessa linha de pensamento ao privilegiar, na análise, a concepção de usos do território enquanto elemento central de interpretação das realidades postas nos espaços rurais em especial, ao reconhecer que predomina na agricultura brasileira fortes elementos do processo de mundialização, principalmente a internacionalização de mercadorias, o que leva, em um primeiro momento, a formulações que afirmam a existência de uma agricultura globalizada.

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No entanto, visualizamos que a internacionalização dos capitais (produtivo e financeiro) e a exacerbação das trocas de mercadorias e insumos são, na verdade, componentes do processo de mundialização que se processa nas dimensões internacionais, multinacionais e globais, enquanto possibilidade de plenitude (MICHELET, 2003), estando as duas primeiras dimensões maciçamente presentes na agricultura brasileira. Para termos uma agricultura globalizada, sua abrangência deveria ter, como o próprio nome propõe, uma abrangência global em demandas, mercados e agentes. Estas foram evidências que nos propomos a investigar a partir da produção de frutas no Rio Grande do Norte e que não visualizamos, assim refutamos a afirmação que o Rio Grande do Norte apresente uma agricultura globalizada.

A fundamentação teórica a qual nos aportamos para compreendermos nosso objeto de estudo, partindo do território enquanto totalidade e categoria de análise geográfica, tem como principal ponto de apoio a obra de Santos (1978, 1997, 2000, 2004, 2008, 2008b e 2009), da qual nos apropriamos da teoria do espaço e das categorias dialéticas de análise que o autor propõe. Desse modo, lançamos mão das ideias de fluxo e fixos, horizontalidades e verticalidades, espaços opacos e espaços luminosos, uso do território e território usado, território recurso e território abrigo, dentre outros.

Nas formulações sobre a mundialização enquanto fenômeno econômico, político e geográfico no qual está inserida a internacionalização da produção, partimos das ideias de Benko (1996), Chesnais (1996), Michelet (1984, 2003), Wellwrstein (1988) e Silveira (1999). Considerando que a internacionalização de uma atividade econômica faz parte de um conjunto de ações que perpassa necessariamente a construção da soberania nacional, discutimos o papel do Estado a partir de Poulantzans (1985), Bonavides (2001) e Cedro (2008) que apontam para estruturas de recolonização dentro do sistema capitalista com base nas formulações teóricas de Harvey (2006, 2012), ou como expresso por Amin (2006), num processo de aprofundamento do imperialismo contemporâneo.

Para aproximarmos essa discussão do nosso objeto de estudo, recorremos a autores de outras áreas do conhecimento que trataram da modernização da agricultura, da expansão do agronegócio, da absorção de tecnologia nos espaços agrícolas, das políticas públicas e da padronização

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internacional de práticas agrícolas, no intuito de termos uma visão holística dos usos do território pela atividade de produção de frutas no Rio Grande do Norte.

Visando elucidar questões da pesquisa, bem como buscando proporcionar uma leitura interativa e dinâmica recorremos à elaboração de uma produção gráfica e cartográfica por meio de ilustrações com mapas, gráficos, quadro e tabelas produzidos a partir do levantamento de dados secundários de órgãos oficiais do Estado Brasileiro, no intuito de explicar a realidade da produção internacionalizada de frutas. O texto apresentado neste momento contém nossas reflexões divididas em seis capítulos, a contar com esta introdução e as considerações finais.

Nesta introdução, primeiro capítulo da tese, apresentamos sucintamente os fundamentos teóricos e metodológicos que usamos na construção desta pesquisa. Traçamos o modo como estruturamos nosso pensamento acerca da internacionalização da agricultura, os conceitos fundamentais da tese, os autores principais. Colocamos nosso esforço de sintetizar para apresentar ao leitor uma compreensão ampla do conteúdo deste trabalho.

No segundo capítulo, realizamos uma discussão teórica sobre a mundialização e internacionalização enquanto fenômenos econômicos e sociais, a partir de uma concepção geográfica, buscando perceber suas implicações na dimensão territorial. Ao definirmos nosso objeto de estudo e empreendermos um levantamento bibliográfico a respeito do tema, percebemos uma lacuna teórica na Geografia em aproximar o tema da mundialização e da internacionalização dos capitais com os conceitos geográficos. Na economia e na sociologia brasileira encontramos esforços de estabelecer uma leitura do mundo a partir destes fenômenos.

No terceiro capítulo, discorremos sobre a ação do Estado enquanto agente formulador e regulador dos processos de produção econômica e fluxos de capitais, tomando como referência as decisões acerca da definição de uma política de produção agrícola direcionada à produção de frutas no Rio Grande do Norte, por se constituir no nosso recorte de análise. Discorremos sobre o papel do Estado na construção da soberania nacional, frente aos processos de exploração dos recursos nacionais, do estabelecimento de uma produção

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direcionada ao mercado internacional, ao invés de priorizar a segurança nutricional do mercado interno.

As ações do Estado brasileiro para o agronegócio, incluindo a produção de frutas, enfraquecem os pilares da soberania estatal, reforçando os processos de reprimarização da economia. As ações políticas se voltaram ao atendimento de interesses de grupos econômicos ligados ao agronegócio, desconsiderando a consolidação de uma política de Estado pautada na Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) do país. A produção de frutas se enquadra na lógica de recolonização das riquezas nacionais.

No quarto capítulo, discutimos o caráter seletivo e excludente com o qual é conduzida a produção de frutas, e o caráter clientelista e oligárquico com que as elites agrárias norte-rio-grandenses se revestiram para se perpetuarem no poder político e econômico. O discurso da modernização, do progresso e da geração de riquezas que resultaria em melhores condições de vida para população, mascarou as reais intenções de exploração e saque do Estado pelos agentes políticos que se mantiveram no poder. As desigualdades socioterritoriais conflitam com o cenário de produção agrícola moderna, capitalizada e internacionalizada da fruticultura do Rio Grande do Norte.

No quinto capítulo, apresentamos a configuração produtiva dos cultivos de banana, melão e castanha de caju e as dinâmicas socioterritoriais vinculadas a cada um destes. O enfoque não se deu na quantificação das empresas nem na produção. Nosso olhar, nesse capítulo, voltou-se para a complementação do capítulo dois, que apresenta os destinos da fruticultura potiguar, explicados no capítulo um que aproximou a discussão sobre internacionalização e geografia e a demostrar a ação do Estado e dos agentes políticos no direcionamento dado à matriz econômica do Rio Grande do Norte. O capítulo cinco apresenta o maior número de dados empíricos, de modo a clarificar as intenções teóricas expressas anteriormente. Ressaltamos, contudo que não desvinculamos teoria e prática. Já no sexto capítulo apresentamos nossas considerações finais fazendo um apanhado das discussões e análises realizadas nos capítulos anteriores.

Assim, ansiamos que o texto expresse com clareza as intenções e andamento da pesquisa, de tal modo que seja possível a compreensão de nosso pensamento. Por fim, acreditamos que terminar uma tese é findar um

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projeto de modo inacabado: sempre haverá pontos a serem acrescidos, leituras a serem feitas, novos caminhos teóricos e empíricos a serem traçados. Contudo, desejamos que estas páginas possam impulsionar novos projetos e novos sonhos e contribuir na produção do conhecimento no âmbito da Ciência Geográfica.

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2 TERRITÓRIO, AGRICULTURA E MUNDIALIZAÇÃO: ELEMENTOS CONCEITUAIS PARA ANÁLISE GEOGRÁFICA

O território é nosso ponto de partida. Nosso esforço é pensá-lo para além de uma compreensão enquanto substrato físico, geométrico e inerte, a partir da concepção de apropriação/expropriação mercantil do território que nos permite visualizar os usos, agentes e escalas que perpassam a unidade territorial, mediada por relações conflituosas de poder.

Os modelos de apropriação/expropriação se manifestam com características distintas no território, com diferentes graus de investimento produtivo em atividades econômico-financeiras nas economias nacionais. Porém, as dinâmicas econômicas dos Estados-Nação fazem surgir padrões técnicos produtivos mundiais que, mesmo tendo particularidades, articulam-se de modo a complementarem-se. Essa conjuntura revela-se como mecanismo de reprodução do capital em escala mundial.

O funcionamento do capitalismo mundial é comandado por agentes com forte poder de intervenção e influência em escala planetária, seja na formulação de políticas de concessão de crédito, seja na especulação financeira, na elaboração de modelos produtivos ou na articulação midiática de padrões de consumo. Esses agentes assumem identidade nos bancos internacionais, nas empresas multinacionais, nas empresas de atuação internacional, nas políticas de estímulo à exportação dos Estados-Nação e nos acordos de cooperação entre empresa e Estado.

As circunstâncias históricas são reveladoras das estratégias de acumulação capitalista (BRANDÃO, 2010). As transformações na economia mundo, causadas pelos avanços técnicos e científicos das últimas décadas do século XX, provocaram profundas e complexas mudanças nas relações sociais, econômicas e políticas configurando novas formas de reprodução capitalista nas diferentes frações do território, elegendo espaços intermitentes de atração e repulsão ao capital.

Nesse cenário, a análise geográfica que clarifique os impactos da mundialização sobre o território é crucial. A Geografia enquanto ciência social, preocupada com o espaço geográfico, deve debruçar-se na investigação das novas configurações territoriais criadas pela mundialização do capital em suas

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múltiplas escalas e processos, a fim de construir as mediações necessárias à compreensão do território e seu papel no processo de acumulação capitalista.

Frente às mudanças racionalmente estruturadas, os diferentes usos do território consistem num processo complexo e contraditório. A modernização das técnicas de produção proporcionou uma série de transformações na organização social, por meio da fragmentação das etapas que compõem o processo produtivo e no estabelecimento de redes e hierarquias dos lugares (SANTOS, 2008), ora visualizadas na esfera da troca (comércio internacional), ora no deslocamento das filiais (empresa multinacional).

Neste trabalho de tese, esforçamo-nos na investigação de um elemento central da mundialização: a internacionalização da produção. Para analisarmos empiricamente, recortamos a produção da fruticultura tropical do Rio Grande do Norte no contexto da mundialização. O escopo de nossa análise busca compreender também como a agricultura, enquanto atividade de caráter social, é mercantilizada, deixando em segundo plano a premissa básica da garantia alimentar em detrimento de uma produção com vistas à geração do lucro, protegido num discurso de segurança alimentar e disseminação tecnológica nas atividades agrícolas.

Nesse sentido, temos que nos ater a compreender o discurso sobre a chamada “modernização da agricultura”, que se circunscreve na ampliação de novas técnicas à estrutura produtiva num processo excludente dos pequenos produtores, contribuindo para situações de vulnerabilidade e miserabilidade no campo. Nesse sentido, uma agricultura intensiva baseada em modelos de alta produção é cada vez mais defendida pelos interesses de grupos latifundiários/agrícolas e não agrícolas que lucram com a exploração dos recursos naturais. Canway (2003), analisando as projeções do crescimento demográfico mundial pari passu a produção de alimentos, fortalece a ideia de que se faz necessária uma produção agrícola intensiva para superar a situação de fome nos países em desenvolvimento.

E, para que isso ocorra, é urgente o incremento nos espaços rurais de elementos tecnológicos para maximizar a produção. Segundo Canway (2003),

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a Revolução Verde1 mudou para melhor a vida das pessoas, sendo necessária sua intensificação em regiões agrícolas da África e da Ásia, como forma de minimizar a pobreza e estimular o crescimento econômico. Para o autor, é urgente a implementação de uma Revolução duplamente Verde.

Visões como a de Gordon Canway devem ser encaradas com cautela uma vez que os impactos de processos como os da Revolução Verde estão para além do aumento da produtividade agrícola. São defesas de um modelo de produção agrícola exógeno à realidade local e que favorecem aos grandes grupos agrícolas que atuam em muitos setores da agroindústria, além de empresas do setor químico, metal-mecânico e do setor financeiro. Esse modelo produtivo é gerador de um passivo ambiental, por consumir grandes quantidades de recursos naturais, em especial solo e água, afetando profundamente a fauna e a flora nas áreas em que se desenvolvem. Para além do impacto ambiental, como a retirada de vegetação nativa, exploração dos corpos de água e solos. A Revolução Verde amplia a concentração de terra, amplia os conflitos e as desigualdades no campo.

A agricultura é e deve ser considerada motor de desenvolvimento, mas em uma perspectiva endógena, dando condições de reprodução digna aos pequenos agricultores. Uma agricultura pensada para suprir as necessidades nutricionais, produzindo alimentos saudáveis e de baixo custo deve ser difundida.

A agricultura e as atividades a ela relacionadas têm estreito vínculo com o crescimento econômico de um país. No Brasil nota-se uma expressiva participação do segmento agronegócio na composição do Produto Interno Bruto (PIB). A agricultura enquanto motor de desenvolvimento econômico deve ser analisada em uma conjuntura macroeconômica de acumulação capitalista. No período atual, todas as atividades produtivas e não produtivas como as rentistas e financeiras foram incorporadas ao ciclo de reprodução do capital mundializado. Desse modo, a mundialização que promove a acumulação capitalista deve ser entendida como

1 Revolução Verde diz respeito à expansão das técnicas modernas destinadas aos cultivos

agrícolas, materializada com o surgimento dos pacotes tecnológicos (Manejo + insumos + novas cultivares).

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uma revolução em processo, que revolucionariza endógena e constantemente suas bases, que homogeneíza e hierarquiza relações e heterogeneíza estruturas e mercadeja tudo, mas, ao mesmo tempo, dispõe de renovados instrumentos (inovacionais, financeiros etc.) para crescentemente se autotransformar e autoexpandir, tornando-se mais sensíveis às diferenciações e heterogeidades que lhe possa trazer vantagens distintivas extraordinárias (BRANDÃO, 2010, p. 44).

Examinar geograficamente a configuração dos usos territoriais a partir das práticas agrícolas no cultivo de frutas no Rio Grande do Norte é contribuir para um entendimento da agricultura como motor de desenvolvimento econômico local e enquanto forma de acumulação capitalista mundializada, uma vez que os cultivos frutícolas apresentam forte componente internacional, seja na comercialização ou no consumo de insumos. O sistema capitalista é por natureza um modo de produção internacional que busca a mundialização.

A busca pela mundialização nada mais é do que uma caçada pela acumulação primitiva permanente, como aponta Brandão (2010), ou nos dizeres de Harvey (2014), ao falar de uma acumulação por espoliação, usando de uma violência econômica e extraeconômica para mercantilização de frações dos territórios, tendo como característica símbolo desse processo a descartabilidade destas frações (BRANDÃO, 2010).

Diante disso, ocorre um processo de alienação do território frente à mundialização, comandado por mecanismos de modernização seletiva, reestruturação produtiva, subordinação dos Estados às empresas; evidenciado pela formulação de políticas públicas estruturantes visando a dotação de infraestrutura em frações do território para uma especialização produtiva. Desse modo, faz-se necessária uma discussão acerca dos usos do território por meio das práticas agrícolas internacionalizadas no cultivo de frutas tropicais no Rio Grande do Norte, considerando a mundialização enquanto motor único, tomando como elemento local a produção de frutas e a atividade agrícola como motor de desenvolvimento local.

2.1 Princípios teóricos da mundialização: o motor único

A geografia do mundo contemporâneo é cada vez mais densa e complexa. As transformações ocorridas na base técnico-produtiva das

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empresas e as novas configurações na esfera normativa dos Estados-Nação possibilitam o surgimento de novas arquiteturas espaciais com integração regional, reestruturação produtiva e organizacional das empresas, especialização territorial produtiva, criação de redes intrarregionais e internacionais e mudanças na forma de agir do Estado na esfera econômica e social.

A totalidade desses processos, por vezes, fica obscura nas análises geográficas, uma vez que estas se limitam nos eventos ao invés de perceber os processos que os impulsionam perante o mundo (SANTOS E SILVEIRA, 1996). A configuração atual do mundo permite-nos pensar em um novo período histórico. A globalização deve ser entendida enquanto período histórico demarcado por eventos que se materializam nos lugares, aliando ciência e tecnologia, criando um meio técnico-científico-informacional (SANTOS; SILVEIRA, 1996).

Esse período demarca a emergência de um novo processo de acumulação econômica com a incorporação dos espaços econômicos periféricos na economia-mundo, com base na difusão dos conhecimentos egressos do tripé eletrônica/informática/comunicação (FURTADO, 1999). Este ciclo a que nos referimos é definido como mundialização do capital por Chesnais (1996).

A mundialização é o embricamento do político e do econômico, em que a esfera rentista e usurária do capital é largamente fortalecida por Estados e empresas para consolidar novas formas de acumulação em escala mundial. A mundialização deve ser entendida como processo que impulsiona o desenvolvimento do capitalismo no período histórico atual; a globalização, como forma de superexploração econômica atual.

A mundialização apresenta múltiplas dimensões, a saber: a financeira, a produtiva, a tecnológica, a comercial e a territorial. Em todas, a hierarquia territorial é fortalecida, colocando as economias periféricas, aparentemente excluídas da dinâmica econômica mundial, em situação de disputa com as economias centrais promovendo uma integração hierarquizada por meio das especializações produtivas, fortalecendo, desse modo, o discurso da competitividade nacional (FURTADO, 1999).

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Como marco temporal, Alves (1999) acredita que a mundialização se instaura como forma dominante de acumulação a partir da recessão de 1974 a 1975, aliada às políticas neoliberais incentivadas por Estados capitalistas e materializadas em ações de desregulamentação econômica, privatização e liberalização de mercados. Furtado (1999, p. 98), ao analisar o fenômeno, destaca que “estaríamos em uma fase nova de desenvolvimento do sistema econômico, caracterizado pelo predomínio da dimensão que ultrapassa o quadro nacional e vai além da dimensão internacional tradicional”. Esclarece ainda que há duas correntes analíticas a respeito do surgimento da mundialização: a) os que a consideram uma evolução natural da expansão comercial do século XIX; e b) os que a consideram uma superação do crescimento econômico interrompido pelas grandes guerras do século XX.

Para o autor, a mundialização apresenta um conjunto de continuidades e rupturas na qual,

a onda atual de mundialização consiste na expansão sem precedentes do sistema, numa escala ampliada, segundo modalidades e características próprias, distintas das anteriores e que rompem com suas trajetórias. Estabelece-se agora hierarquias sem nenhum precedente histórico, que ocorrem em três planos: o das frações do capital, o dos grupos sociais e o das regiões ou espaços. Mudaram concomitantemente as relações entre as diferentes modalidades da riqueza, com novos setores dominantes, sobretudo com a financerização, com a busca de modalidades de valorização em que os grupos econômicos característicos do capital concentrado arbitram entre diferentes aplicações – em que funções produtivas e comerciais tomam cada vez mais as características próprias do capital financeiro (FURTADO, 1999, p. 100).

As barreiras de entrada a esse processo são quebradas nas economias nacionais com a adoção de políticas que fortalecem o comércio internacional como forma de superávit, estimulando a presença da empresa multinacional, por meio da concessão de crédito, isenção fiscal, investimento na infraestrutura pública para beneficiar a empresa que se instala para produzir mercadorias com ampla aceitação no mercado externo, por parte das empresas nacionais e internacionais.

As formas impositivas de normatizações globais visam atender às demandas de um mercado global que busca uma mais-valia universal,

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chamada por Santos (2004, 2009) de motor único. A formação desse motor único, segundo o autor, tornou-se possível graças a um conjunto de internacionalizações dentro da mundialização que acirra a competividade como nunca antes visto, na qual os que não têm poder de concorrência acabam sendo engolidos e extinguidos. Para o autor,

esse motor único se tornou possível porque nos encontramos em um novo patamar da internacionalização, como uma verdadeira mundialização do produto, do dinheiro, do crédito, da dívida, do consumo, da informação. Esse conjunto de mundializações, uma sustentando e arrastando a outra, impondo-se mutuamente, é também um fato novo (SANTOS, 2004, p. 30).

O motor único, a mundialização, se realiza nos lugares graças à unicidade das técnicas (SANTOS, 2004, 2009) produtivas que possibilitam a criação de padrões de produção e consumo, difundidos em escala global para dar legitimidade ao processo de superprodução do sistema capitalista, que coloca em competitividade as economias nacionais, imperando a lógica das empresas: a lucratividade.

A unicidade técnica é possível pela convergência dos momentos (SANTOS, 2004, 2009), que se efetiva pela possibilidade de conhecimento e integração entre os lugares produtivos e os lugares de comando e consumo. Essa possibilidade é proporcionada pelo avanço nos sistemas técnicos de informação e comunicação. A introdução nas atividades agrícolas desses sistemas técnicos presume uma relação de instantaneidade entre os agentes dos processos produtivos, os agentes logísticos e os agentes financeiros.

Nessa configuração dos processos mundializantes que impulsionam o espaço global, Heidrich (2008) aponta para o processo de transnacionalização das economias, fenômeno antigo, segundo o autor, mas que ganha novos contornos com as políticas de regulação criadas pela Organização Mundial do Comércio (OMC).

Destarte, as áreas periféricas foram tomadas como estoques de matérias primas e mão de obra na expansão do capital. A incorporação das economias emergentes, a partir da segunda metade do século XX, atende aos interesses de apropriação mercantil do território com a exploração de recursos

Referências

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