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2 Território, agricultura e mundialização: elementos conceituais para

2.4 Internacionalização da produção: dinâmicas da seletividade

A internacionalização da produção é uma estratégia das empresas para se manterem competitivas no mercado. Com a ampliação da circulação de mercadorias, graças aos avanços técnicos das redes de comunicação e informação, as empresas perceberam que necessitavam de uma atuação para além da área de localização stricto senso em seus países de origem. A necessidade de aumentar o lucro conduziu a expansão das áreas de produção, seja com a criação de novas unidades produtivas ou na fragmentação da produção, na compra de matérias primas e insumos de fornecedores cada vez mais distantes e da formação dos mercados consumidores em escala mundial.

Nesse cenário, a internacionalização é considerada uma capacidade dinâmica da empresa (FLORIANI; BORINI; FLEURY, 2009) que, ao inovar em suas estratégias no mercado competitivo, internacionaliza suas unidades de produção ou parte do seu processo produtivo. Por decisão individual e dentro de suas estratégias de crescimento e inovação, as empresas tendem a criar mecanismos de ampliação de suas atividades. Dessa forma, as empresas se mantêm no mercado frente as suas concorrentes na produção, com elevado índice de não imitação, versatilidade e geração de valor (FLORIANI; BORINI; FLEURY, 2009).

A internacionalização, assim entendida, constitui uma vantagem da empresa em relação às demais, uma vez que ao se internacionalizar as empresas podem replicar suas competências produtivas e organizacionais em

diferentes localidades. A localização é uma variável importante na produção. Ao internacionalizar-se a empresa busca áreas rentáveis, ou seja, com ampla possibilidade de geração de lucro, com baixo preço de mão de obra e de matéria prima e com baixa participação de empresas concorrentes nas proximidades.

No caso de produções primárias, como a mineração e a agricultura, a localização geográfica é fundamental para a instalação de uma unidade produtiva. Os fatores edafoclimáticos são importantes para se estabelecer o sucesso nos cultivos em larga escala, como os desenvolvidos no cultivo de frutas no Rio Grande do Norte. As condições de escoamento da produção, ou seja, a infraestrutura e a logística, também contribuem para a seletividade que elege o Estado como área produtora de frutas.

A escolha pela internacionalização deve promover uma valorização dos ativos no mercado nacional da unidade que se internacionaliza e, também, no mercado mundial. A dinâmica do mercado, no entanto, não favorece a manutenção das áreas de produção, levando em curto intervalo de tempo ao abandono de áreas que em um determinado momento foram importantes ao desenvolvimento econômico das empresas. Uma vez que a mobilidade dos capitais e das unidades produtivas é importante para a viabilidade econômica das firmas internacionais, ocorre a migração destes capitais para outras áreas que atendam os critérios fisiográficos, fiscais e produtivos para se instalarem por mais um curto período.

De modo geral, a internacionalização ocorre gradualmente no país estrangeiro e os investimentos das empresas internacionalizantes se direcionam para fortalecer a nova unidade produtiva (JOHANSON; VAHLNE, 1977). A internacionalização serve à empresa como modo de ampliação do seu mercado de consumo e aquisição de matérias-primas com novos países estrangeiros e o acirramento da concorrência para com outras empresas do segmento, vislumbrando a posteriori o domínio dos mercados. A internacionalização pode ocorrer via parcerias e fusões das empresas internacionalizantes com as nacionais por meio da transferência direta de tecnologia e capitais.

As internacionalizações não ocorrem de modo aleatório, nem por afinidades entre as firmas. Para que o processo ocorra, é necessário um

cabedal institucional dos Estados nacionais que possibilitem a entrada dos capitais internacionais ou a saída dos capitais nacionais. Johanson e Vahlne (1977) traçaram um modelo usado pelas firmas em seus processos de internacionalização. Os autores destacam que a internacionalização pode ocorrer sem a necessidade da instalação de bases físicas, ou seja, filiais, por parte das empresas, portanto, ocorre uma tipologia do processo de instalação que perpassa a implantação de bases produtivas filiadas, as parecerias entre firmas, por meio da transferência de tecnologia e capitais e por meio da exportação de mercadorias.

Esse tipo de internacionalização não ocorre de modo único, as firmas podem desenvolver tipos combinados de atuação internacional, a depender do seu nível de capitalização, produto, concorrente e a depender também das políticas de internacionalização do seu país de origem, juntamente com as políticas desenvolvidas como barreiras de entrada por parte dos países de expansão. Alguns elementos devem ser considerados para que o processo de internacionalização seja exitoso. Johanson e Vahlne (1977) alertam ainda para o que chamam de distâncias psíquicas entre os Estados, como a língua, a educação, a cultura, as políticas de negócios (incentivos ficais e subsídios) e a religião, para que as formas de internacionalização sejam satisfatórias e adequadamente desenvolvidas.

Ao considerar os aspectos das distâncias psíquicas, segundo os autores, as empresas tendem a traçar estratégias diferenciadas, a depender do modelo de internacionalização que irão desenvolver. Podendo resultar na contratação de agentes de comercialização, criação de novas marcas e produtos, observância à legislação fiscal e sanitária dentre outras estratégias. Para os autores, ao optar pela internacionalização via filias, estas unidades criadas passam a produzir para os mercados locais ou regionais de onde se instalou.

A opção de exportar possibilita um campo maior de atuação, desde que tenham exigências semelhantes e uma forma de diminuir os custos com instalações físicas. A cooperação entre Estados-Nação na formulação de padrões de produção e consumo favorece a criação de mercados e áreas de produção regionalmente demarcadas e controladas a partir das barreiras de

entrada, favorecendo a formação de mercados inter e intra-regionais em escala internacional (MERCOSUL, UNIÃO EUROPEIA, NAFTA).

Devemos atentar para o fato de que a internacionalização não ocorre tão somente com o deslocamento de uma base física para subsidiar a produção, o caso da empresa multinacional. Ela ocorre, também, com o estabelecimento de modelos de produção e circulação da produção nacional para atender a demandas extranacionais. Ocorre uma produção normatizada por ordens e padrões internacionais em estruturas produtivas impostas na escala nacional.

A soberania territorial nacional é subjulgada por uma soberania econômica mundial que estabelece as áreas que melhor atendem aos interesses de acumulação de agentes econômicos mundiais, na qual o Estado- Nação deixa de ser um espaço fechado e passa a compor um mosaico de possibilidades, um espaço de reserva, subvertendo uma clássica divisão territorial internacional do trabalho (MICHALET, 1984). Nesse sentindo, a subserviência de um Estado neoliberal contribui para a expansão de um modelo de produção internacional nas atividades nacionais.

Os aspectos territoriais e políticos são intrínsecos à internacionalização produtiva. Os valores dos IED movimentam vultosas somas de capitais e estão associados à tipologia ou modelos de internacionalização existentes, incentivando os espaços nacionais a se especializarem em determinados ramos produtivos (agrícolas ou industriais) dentro de uma divisão internacional do trabalho na qual se ampara a economia mundial e o intercâmbio entre empresas pelos territórios nacionais.

Nesse jogo de interesses econômicos e espaciais, a dimensão internacional do comércio de bens e serviços e os IED são ferramentas que estabelecem usos do território. A normatização da produção e a facilitação das barreiras de entrada fazem com que o território seja disputado por interesses internacionais pautados na minimização dos custos e nos baixos riscos financeiros, elementos que não coadunam com os interesses locais de apropriação e uso do território, visto como abrigo5 para pequenos produtores e empresas familiares.

5 Santos (2000) considera que os agentes hegemônicos usam do território como recurso, já os

Destarte, a segurança alimentar e a soberania nacional são evocadas no estabelecimento técnico, normativo e jurídico com vistas a propiciar uma produção com caráter eminente à internacionalização, preocupada com a geração de lucros e controles dos mercados de produção. Assim, cabe-nos nesse momento refletir sobre o papel desempenhado por segmentos da agricultura brasileira especializada no cultivo de frutas, racionalmente destinadas ao mercado externo, enquanto estratégia de internacionalização das empresas e das ações do Governo brasileiro, inseridos numa lógica de mundialização do capital, conduzida por padrões econômicos que atendem aos interesses das economias centrais, bem como, os desdobramentos territoriais que esse conjunto de intencionalidades promove na escala nacional.

2.5 Agricultura e soberania nacional e alimentar: a produção de frutas no