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O recurso à autoridade dos clássicos e o retrato do adversário como estratégias discursivas na Apologia contra Rufino, de Jerônimo

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Classica, São Paulo, v. 15/16, n. 15/16, p. 203-213, 2002/2003.

O recurso à autoridade dos clássicos

e o retrato do adversário como estratégias

discursivas na Apologia contra

Rufino, de Jerônimo

LUÍS CARLOS LIMA CARPINETTI

Universidade Federal de Juiz de Fora

RESUMO: Este artigo trata de dois procedim entos literários que encontram os no texto de São

Jerônimo, a A pologia contra Rufino, a saber, o recurso à erudição clássica para construir uma imagem favorável de si m esm o e, por outro lado, construir com os recursos retóricos próprios uma im agem desfavorável e pejorativa do adversário.

PALAVRAS-CHAVE: estilo polémico; citação; erudição clássica; procedim entos retóricos.

1. Introdução

A ob ra A p o lo g ia contra R ufino é um cam po em que abundam as polém icas acesas que o co rreram no seio do cristian ism o rom ano no século IV, época em que viveu São Jerô n im o , d o u to r e sa n to da Ig re ja C a tó lic a , m o n g e na c id a d e p a le stin a de B elém , epistológrafo, exegeta, tradutor, polem ista e hagiógrafo de notável inteligência e brilho.

N osso trabalho de tese tem por m eta resgatar o aspecto polém ico do texto jeronim iano, a partir do estudo do texto da A pologia contra R ufino. N este artigo trabalharem os sobre duas estratég ias discursivas que encontram os no texto: o recurso à autoridade dos clássicos e o retrato do adversário, com o etapa de abordagem dos recursos linguísticos e literários do estilo p olém ico na ob ra citada.

P o lém ico vem do grego polsm ikon, adjetivo que traz em sua form ação a noção de guerra, com bate. A o adotarm os a categoria de estratégia discursiva, estam os falando, ao utilizarm os o term o estratégia, de um elem ento afim à noção de guerra e de com bate, já que estratégia é u m elem ento essencial a qualquer com bate, m esm o que seja discursivo. E m Jerônim o, p odem os depreender um m odelo antigo do panfletário, aquele que busca defen­ der e lu ta r p ela verdade da fé cristã, pela ortodoxia e contra a heresia e que, nas suas rela­ ções p esso a is c o m R ufino, busca pu rificar os m eandros obscurecidos por “calú n ias” e “acusações” falsas, que condenam o ex-am igo Jerônim o à vala com um da heresia origeniana,

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tem a de acesos debates na época. Jerônim o diz no texto que é forçado a defender-se publi­ cam ente e p o r escrito - esta defesa constitui o texto da A pologia, em resposta a um a Apolo­

gia contra São Jerônim o, de R ufino - para isentar-se de ser considerado hereticam ente um

origeniano. O próprio discurso está carregado de m etáforas que trazem em si o imaginário do com bate com a enum eração de arm as ou apetrechos bélicos tais com o iacula uenenata (projéteis envenenados), tela (dardos), sagittae (flechas), hastae (lanças), scutum (escudo oval e convexo), clipeus (escudo em form a de telha de cum eeira).

O conjunto da ob ra em questão com preende três livros, sendo os dois primeiros li­ vros endereçados a P am áquio e M arcela com o sequência às publicações por R ufino primei­ ram ente, depois p o r Jerônim o, da tradução latina do P erl Archôn, de O rígenes, a partir do grego, episódios que m arcam publicam ente a dissidência dos ex-am igos e o recrudescimen- to de posições quanto às doutrinas de Orígenes. Tais doutrinas sustentam o subordinacionismo do Filho e do E sp írito Santo ao Pai; a queda das alm as em corpos etéreos, aéreos, ou mais espessos com o os corpos carnais dos hom ens, po r causa de sua negligência; a redenção e salvação do diabo; a ressurreição dos corpos em vez da carne. Estas teses não estão em co nform idade com a S agrada E scritura. A interpretação alegórica que lhes dá origem não perm ite v er com clareza o ensinam ento da E scritura, pois m obiliza interpretações infinitas para ca d a texto. A ssim , este m étodo de exegese faz o sentido do texto explodir. Tal método de exegese levantava na época m uitas suspeitas de heresia, e os debates em torno de Orígenes seguiam -se natu ralm en te às suspeitas, dois séculos após a m orte do m estre alexandrino. As traduções do P erl A rchôn refletem as posições diferenciadas de seus autores. R ufino mostra no texto de O rígenes um a visão católica, enquanto Jerônim o denuncia o herético de Orígenes num a tradução que revela cruam ente os erros doutrinais, as heresias, enfim , tudo o que R ufino havia encoberto, segundo o testem unho do texto da A pologia contra Rufino, já que esta tradução de Jerônim o que desm ascarava o falseam ento pela tradução rufiniana do ver­ dadeiro teor do texto de O rígenes foi destruída por causa do escândalo que ela provocou no m eio eclesiástico. A pós os acontecim entos da festa de Pentecostes de 394, época em que eclode a co n tro v érsia origenista, na diocese de Jerusalém , dentre os quais podem os citar a ordenação de P auliniano, irm ão de Jerônim o, pelo bispo chipriota E pifânio de Salamina, em territó rio sob ju risd iç ão do bispo de Jerusalém , o que constituiu um a grave usurpação das prerrogativas episcopais do bispado hierosolim itano; a denúncia pelo bispo Epifânio do origenism o do bispo de Jerusalém , fato que se tornou notório a partir da tradução latina de um a carta de Epifânio ao bispo João de Jerusalém , entre outros eventos, a discussão ganha aspectos sociais e não apenas teológicos, e seguirá por décadas a fio. Retom ando a questão dos tem as tratados nos dois prim eiros livros da A pologia contra Rufino, o tem a do origenismo ocupa b oa parte desse texto. O prim eiro livro trata do conflito dos tradutores quanto ao proble­ m a da tradução da obra Peri Archôn que os dois protagonistas (Jerônim o e Rufino) traduzem diferentem ente; trata tam bém das doutrinas de O rígenes e das questões de comentários na literatura. O segundo livro contém as refutações à Apologia a A nastásio e ao livro da Adulte­ ração dos livros de O rígenes, além da justificação das traduções bíblicas de Jerônimo.

O terceiro livro da A pologia contra Rufino ou a “C arta de Jerônim o contra Rufino” é um a resp o sta antecipada da parte de Jerônim o à A pologia contra São Jerônim o, escrita por R ufino, antes que a A pologia de R ufino chegue ao conhecim ento de Jerônim o. A carta

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discute m étodos de tradução, apresenta notícias sobre personalidades no O riente e no O ci­ dente, co m enta vários incidentes, ju stifica a réplica de Jerônim o à tradução por R ufino do

Perl A rchôn e tece apreciações cristãs com o soluções do conflito.

2. O recurso à autoridade dos clássicos

C itarem os a seguir um a passagem do prim eiro livro da A pologia contra R ufino, obra na qual podem os v erifica r a im ensa cultura clássica profana de Jerônim o, e o m odo pelo qual ele se vale d este cabedal para aum entar a sua credibilidade ju n to ao público leitor e ao seu oponente. N a verdade, Jerônim o faz um duplo m ovim ento: por um lado, um m ovim ento favorável ao extrem o à sua im agem pessoal e, por outro lado, um m ovim ento desfavorável à im agem do oponente.

V ejam os agora um a passagem do prim eiro livro da A pologia contra R ufino, extraída da edição fran cesa de P ierre L ardet, seguida de tradução nossa:

(...) T am en in in c e rtu m re sp o n d eb o , d o n e c a d c e rta p e r u e n ia m , et a vT lÇ r)X o v m eum d o ceb o se n e x q u o d p u e r didici, m u lta esse genera d ic tio n u m et, p r o q u a lita te m a te ria e , n o n so lu m se n te n tia s , s e d et structurarum uerba uariari.

C hrysippus et A n tip a te r inter spineta uersantur. D em osthenes et A eschines contra se inuicem fu lm in a n t. Lysias et Isocrates du lciter flu u n t. M ira in sin g u lis diuersitas, sed om nes in suo p erfecti sunt. Lege a d H erennium Tullii libros, lege R hetoricos eius; aut, quia illa sibi dicit inchoata et rudia excidisse de manibus, reuolue tria uolum ina D e Oratore in quibus introducit eloquentíssim os illius tem poris oratores, Crassum etA ntonium , disputantes, et quartum O ratorem quem iam senex scribit a d Brutum . Tunc intelleges a lite r co nponi historiam , a liter orationes, a liter diálogos, a liter epistulas, a lite r com m entarios. E go in com m entariis a d E phesios sic O rigenem et D idym um et A pollinarem secutus sum, qui certe contraria inter se habent dogm ata, ut fid e i m eae non am itterem ueritatem . C om m entarii q u id operis habent? A lterius dieta edisserunt, quae obscure scripta sunt p la n o serm one m anifestant, m ultorum sententias replicant, et dicunt: H unc locum quidam sic edisserunt, alii sic interpretantur, illi sensum suum et intellegentiam his testim oniis et hac n ituntur ratione firm are, ut p ru d en s lector, cum diuersas explanationes legerit et m ultorum uel probanda uel im probanda didicerit, iu d ic et q u id uerius sit et, q uasi b onus trapezita, a d u lterin a e m o netae p ec u n ia m reprobet. N um diuersae interpretationis et contrariorum in ter se sen su u m te n eb itu r reus, qui in uno opere q u o d edisserit, exp o sitio n es p o s u e r it p lu rim o ru m ? P u to q u o d p u e r leg e ris A sp ri in V ergilium ac S a llu stiu m com m entarios, Vulcatii in ora tio n es C iceronis, Victorini in diá lo g o s eius, et in Terentii com oedias praeceptoris m ei D onati, aeque in Vergilium, et aliorum in alios, P lautum uidelicet, Lucretium , Flaccum , P e rsiu m a tq u e L u ca n u m . A rg u e in te rp re te s eo ru m q u a re non unam

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explanationem secuti sint, et in eadem re qu id uel sibi uel aliis uideatur enum erent.

P ra eterm itto Graecos, quorum tu iactas scientiam - et, dum peregrina sectaris, p a e n e tui serm onis oblitus es - , ne ueteri prouerbio sus Mineruam docere u id ea r et in siluam ligna portare. Illu d m iror quod, Aristarchus nostri temporis, puerilia ista nescieris, quam quam tu, occupatus in sensibus, et a d struendam m ihi calum niam cernulus, gram m aticorum et oratorum p ra ecep ta contem pseris, p a ruipendens vneppaza p o st anfractus reddere, a speritatem uitare consonantium , h iu lca m fu g ere dictionem . Ridiculumest d ebilitati e tfr a c ti totius corporis uulnera pauca m onstrare. N on eligo quod reprehendam , eligat ipse quo uitio careat. Ne illud quidem socraticum nosse debuerat: Seio qu o d nescio?

N auem agere ignarus nauis timet; habrotonum aegro non audet, nisi qui didicit, dare. Q uod m edicorum est, p ro m ittu n t mediei. Tractant fa b rilia fabri.

Scribim us indocti doctique poem ata passim .

N isi fo r te se litteras non didicisse iurabit, quod nos illi et absque iuramento p e tfa c ile credimus, uel a d Apostolum confugiet profitentem : Etsi imperitus serm one, non tamen scientia. Ille hebraeis litteris eruditus et ad pedes doctus Gamaliel, quem non erubescit, iam apostolicae dignitatis, magistrum dicere, g ra e c a m fa c u n d ia m co n tem n eb a t, uel certe q u o d n o u e ra t humilitate dissim ulabat, ut p ra ed ica tio eius non in persu a sio n e uerborum, sed in signorum uirtute consisteret, spernens alienas opes, qui in suis diues erat. Q uam quam a d imperitum, et p e r singulas, instar tui, sententias corruentem, num quam pro tribunali Festus diceret: Insanis, Paule, insanis! Multae te litterae ad insaniam conuertunt. Tu qui in latinis mussitas et testudineo gradu m oueris potius quam incedis, uel graece debes scribere ut, apud homines graeci serm onis ignaros, aliena scire uidearis, uel si latina temptaueris, ante a u d ire g ra m m a tic u m , fe r u la e m a n u m su b tra h e re et, in te r paruulos

aorjvoyepcov, artem loquendi discere. Quam uis Croesos quis spiret et Da-

rios, litterae m arsupium non sequuntur. Sudoris com ités sunt, laboris sociae; ieiuniorum, non saturitatis; continentiae, non luxuriae. Demosthenes plus olei quam uini expendisse se dicit, et omnes opifices noctum is semper uigiliis praeuenisse. Q uod ille in una littera fecit exprimenda, ut a cane rho disceret, tu in m e criminaris, quare hom o ab hom ine hebraeas litteras didicerim. Inde est quod quidam ineruditae prudentiae remanent, dum nolunt discere quod ignorant, nec H oratium audiunt commonentem:

C ur nescire, p ru d en s praue, quam discere m aio?

L o q u itu r et Sapientia, quam sub nom ine Salom onis legim us: In maliuolam anim am non introibit sapientia nec habitauit in corpore súbdito peccatis. Spiritus enim sanctus eruditionis fu g ie t dolum et recedet a cogitationibus stultis. A liu d est si, uulgi lectione contenti, doctorum aures despiciunt, et contem nunt illud elogium quo procax im peritia denotatur:

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...N on tu in triuiis, indocte, solebas stridenti m iserum stipula disperdere carm en ?

Q uasi non cirratorum turba M ilesiarum in scholis fig m e n ta decantent, et T esta m en tu m Su is B esso ru m ca ch in n o m em bra concutiat, a tq u e in ter scurrarum epulas nugae istiusm odifrequententur! C ottidie in p la teis fic tu s hariolus stultorum nates uerberat et obtorto scipione dentes m ordentium quatit, et m iram ur si im peritorum libri lectorem inueniant? (...)

Texto latino que assim traduzim os:

(...) E ntretanto, eu responderei generalizadam ente, até que chegue a dados precisos, e, velho, eu instruirei m eu rival sobre aquilo que aprendi quando criança, que m uitos são os géneros literários e que, segundo a natu­ reza do assunto, variam não som ente os pensam entos, m as tam bém a fo r­ m a das construções. C risipo e A ntípatro passam seu tem po em m eio a espinhosas sutilezas. D em óstenes e Ésquino desencadeiam ataques fulm i­ nantes um contra o outro. L ísias e Isócrates têm um doce fluir. A dm irável diversidade, se considerados separadam ente, m as todos são perfeitos, cada um em sua obra, a seu m odo. Lê os livros de C ícero a H erênio, lê sua

R etó rica , ou porque ele diz que estes trabalhos lhe caíram das m ãos no

estágio de esboço grosseiro, percorre os três volum es do De oratore, nos quais ele introduz um a discussão entre os oradores m ais eloqutlentes d a­ quele tem po, C rasso e A ntónio; e seu quarto tratado, o Orator, que, já em sua velhice, escreve para B rutus. E ntão entenderás que há um m odo de co m p o r a história, um outro para os discursos, um outro para os diálogos, um outro para as cartas, um outro para os com entários.

Q uanto a m im , em m eus com entários sobre a E pístola aos Efésios, eu segui O rígenes, D ídim o e A polinário, que certam ente têm entre si teses contraditórias, sem abandonar a pureza da m inha fé. Q ual é o papel dos co m entários? Eles desenvolvem o que foi dito por um outro. O s textos que com portam obscuridades, eles os explicitam em um a linguagem clara. Eles repro d u zem pontos de vista m últiplos e dizem : alguns desenvolveram esta passagem assim , outros assim a interpretam , alguns se esforçam por apoiar seu sentim ento e seu m odo de ver sobre tais citações e tal argum entação, de m odo que o leitor avisado, depois de ter lido as diversas explicações e ter aprendido quais são as m últiplas opiniões suscetíveis de serem aprova­ das ou rejeitadas, poderá ju lg a r o que é m ais exato e, com o bom cam bista, recu sar o dinheiro de cunho falsificado.

V ai-se por acaso m anter sob acusação de interpretação flutuante e apreciações contraditórias aquele que terá exposto, na extensão de um a só obra, as explicações de vários com entadores? Penso que tu leste em tua infância os com entários de A sper sobre V irgílio e Salústio, de V ulcácio sobre os discursos de C ícero, de V ictorino sobre seus diálogos, sobre as com édias de Terêncio os de D onato, m eu professor, assim com o sobre

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V irgílio e outros sobre outros autores, a saber, Plauto, L ucrécio, Horácio, Pérsio e L ucano. D enuncia seus com entadores por não terem adotado uma linha de interpretação única e por recapitular, sobre o m esm o assunto, seu próprio ponto de vista e os de outros autores.

E u d eix o de lado os gregos que tu te gabas de co n h ecer - e a freqtientação das obras estrangeiras quase te fez esquecer tua própria língua! - para que eu não pareça, segundo o velho provérbio, um porco a instruir M inerva e lev ar m adeira à floresta. O que m e espanta é que tu, o Aristarco de nosso tem po, tenhas ignorado essas infantilidades, ainda que tu tenhas podido desprezar os preceitos dos gram áticos e dos oradores, absorvido com o estás pelas questões de fundo e inclinado a arquitetar contra mim a c a l ú n i a , c u id a n d o p o u c o d e r e s o lv e r os h ip é r b a to s d e p o is das circunlocuções, de evitar a aspereza das cacofonias, de fugir aos hiatos. E ridículo m ostrar algum as feridas de um corpo todo quebrado e fraco. Eu não ressalto tal ponto para criticar; que ele próprio escolha o defeito de que carece. E le não deveria conhecer, pelo m enos, este adágio socrático: “Sei que nada sei” ?

“Tem m edo de conduzir um navio aquele que não entende de na­ vios. Só ousa adm inistrar o abrótono ao doente aquele que aprendeu a fazê- lo. Os m édicos se com prom etem com aquilo que lhes é próprio. Os operários se o cupam de sua obra. M as ignorantes e sábios, indistintam ente, nós es­ crevem os poem as!”

A m enos que, por acaso, ele ju re que não aprendeu as letras! Nós acreditarem os nele m uito facilm ente, ainda que não ju re, ou se refugie na declaração do A póstolo: “A pesar de ser inábil em m atéria de discurso, não o sou em ciência” . Paulo, instruído nas letras hebraicas e aos pés de Gamaliel que ele não se envergonha de cham ar seu m estre, j á revestido da dignidade apostólica, ele desprezava sua facilidade de falar o grego, ou, em sua hu­ m ildade, dissim ulava o que sabia, para que sua pregação não repousasse na persuasão da palavra, m as sobre a força dos signos, desdenhando os recur­ sos alheios, pois era rico de recursos próprios. A liás, a um incompetente com o tu, precipitando-se a cada frase, nunca Festus diria do alto de seu tribunal: “Tu deliras, Paulo, tu deliras! Tua vasta cultura te torna louco.”

Tu que, nas letras latinas, m urm uras e te m oves a passo de tartaruga m ais do que avanças, ou deves escrever em grego para que pareças saber as letras estrangeiras, ju n to aos hom ens que desconhecem a língua grega, ou então se queres exercitar-te nas letras latinas, ouvir primeiramente o p ro fesso r de gram ática, subtrair a m ão à palm atória, e em m eio aos garo­ tos, discípulo senil de A tená, aprender a arte de falar.

P ode-se representar C reso ou D ario, as letras não seguem a bolsa. A s le tra s são co m p an h eiras do suor e do esfo rço , dos je ju n s, não da saciedade; da continência, não da luxúria. D em óstenes diz que gastou mais óleo que vinho, e que superou todos os artesãos em vigílias noturnas. 0

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que ele fez para articular um a só letra - ele aprendeu o rho de um cão - tu te queixas disto a m im que, sendo hom em , aprendi de um hom em as letras hebraicas. D aí vem que alguns perm anecem em um grosseiro bo m senso, enquanto não quiserem aprender o que ignoram e não ouvem a H orácio com sua adm oestação: “P or que, por falsa vergonha, eu prefiro ignorar a aprender?” A sabedoria que nós lem os sob o nom e de Salom ão diz tam ­ bém : E m um a alm a m alévola, a sabedoria não entrará nem habitará em um corpo subm etido aos pecados; porque o E spírito Santo que nos instrui fu g i­ rá à fraude e distanciar-se-á dos pensam entos tolos.” E bem outra coisa se, co n ten tan d o -se de ser lido pelo vulgo, desdenham os ouvidos das pessoas instruídas e desprezam aquela disposição pela qual se estigm atiza a in co m ­ petên cia atrevida: N ão és tu, nas encruzilhadas, ignorante, que tinhas o hábito de arruinar um m ísero poem a com um a charam ela estridente? C om o se não fosse um a tropa de cabeças encaracoladas que repetem cantando, nas escolas, as fábulas m ilésias; e o T estam ento do Porco que sacode os m em bros dos B essos com um riso incontido, e nos banquetes dos histriões abundam frivolidades dessa espécie. Todo dia, nas praças públicas, um falso adivinho bate nas nádegas dos im becis e, virando rapidam ente seu bastão, sacode os dentes daqueles que m ordem nele. E nos adm iram os que os livros dos incom petentes encontrem leitor? (térm ino da tradução) P assam os agora a levantar no texto todos os elem entos vinculados à cultura clássica: as alusões a perso n ag en s, autores e obras, citações de textos, entre outras coisas que nos dão a exata m ed id a do cabedal do autor que delas se serve.

O s poetas que Jerônim o cita na passagem apresentada, ele os conheceu na escola de Donato, o qual editou um a obra de com entários sobre os sete poetas m encionados. Terêncio e Virgílio eram lidos integralm ente; os outros, em trechos selecionados. Jerônim o evoca, em prim eiro lugar, Terêncio, dando a entender que este lhe deixou um a recordação duradoura. Também para Virgílio, D onato deve ter feito um texto contínuo. A edição francesa da obra de Donato, feita por Louis Holtz, apresenta Jerônim o com o o mais brilhante aluno de Donato.

Os dois provérbios que Jerônim o tom a de em préstim o à sátira de H orácio fazem parte de um a corrente grega popular e datam de longa tradição: sus M ineruam docere uideri (pare­ cer um porco a instruir M inerva) e in siluam ligna portare (levar m adeira à floresta), em prega­ dos aqui com tom irónico, um a vez que Jerônim o insinua que Rufino tem conhecim ento superficial da língua grega.

C risipo e A ntípatro são autores estóicos cujas obras chegaram até nós por m eio de Cícero (Tusculanae disputationes, De ojficiis, D e fin ib u s bonorum et m alorum ). Os espinhos ou as espinhosas sutilezas (spinae) é um uso clássico, enquanto que spineta é um uso novo. Em outras passagens, existem referências a Crisipo com os vocábulos acumen, acutus e contorta (seu pensam ento tortuoso). D em óstenes e Ésquino, polem istas gregos, opõem -se pela hostili­ dade (no caso de D em óstenes) e pelo apoio (no caso de Esquino) a Felipe de M acedônia. A alusão aos polem istas gregos é m uito oportuna, pois isso torna m ais espesso o propósito da obra de Jerônim o, um a vez que os protagonistas em questão, Jerônim o e Rufino, enfrentam -se

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em lados opostos quanto às teses origenistas. É verdade que há elem entos complicadores neste em bate, com o a am izade rom pida, as relações entre m em bros da Igreja etc. e que mere­ ceriam um a atenção especial em outro estudo. Lísias e Isócrates, oradores gregos, são caracte­ rizados por Jerônim o com a im agem do rio que corre, im agem extraída de Q uintiliano (Inst.

Or. 10,1,76s.), que faz contraponto com a im agem do raio fulm inante (fulm en contra flumeri).

Pelo recurso da antonom ásia, tropo que consiste em designar um personagem por um nom e com um ou um a perífrase que o caracteriza ou, inversam ente, designar um indivíduo pelo personagem do qual ele lem bra o caráter típico. A antonom ásia aqui lem bra Aristarco de Sam otrácia, que, por volta de 145 a.C. dirigiu a biblioteca de Alexandria, e cujas recensões, sobretudo as de H om ero, fizeram dele o tipo do crítico exigente. “Aristarco de nosso tempo” é outro tratam ento irónico que concorre desfavoravelm ente ao adversário, visto que Jerônimo lem bra os erros do ex-am igo, que corroem a im agem de grande crítico.

Jerônim o cita um fragm ento das Epístolas de H orácio (E pist.2,1,114-117), o qual inte­ gra um texto sobre vários aspectos da literatura em R om a e na G récia tais com o o tratamento pelo público dos escritores jo v en s e velhos, a apreciação da novidade, as relações entre os m odelos gregos e a literatura produzida em Roma.

C om a citação testudineo grndu Jerônim o insere em seu texto o clim a divertido das com édias de P lauto, relaxando a atm osfera séria de sua A pologia, tecida de discursos teoló­ gicos e citações da E scritura. A cena evocada é da peça A ulularia, na qual E uclião xinga e agride v erb alm en te E stáfila, dizendo-lhe que não se m eta nos assuntos de seu dono, menci­ onando o passo de tartaru g a de E stáfila. N o com entário exegético In O seam , a im agem da tartaruga, lenta e o prim ida pelo próprio peso, corresponde ao pecado da heresia. Ironica­ m ente, Jerônim o ev o ca a im agem do m estre com a palm atória, ao qual R ufino deveria diri­ gir-se e ap render a gram ática e as letras latinas, sendo a palm atória um a m etoním ia para o aprendizado e o estudo da língua em R om a; no caso de R ufino, ele deveria fazê-lo mesmo n a velhice, com o discípulo senil de Atená.

P ara criar a situação da qual o discípulo deveria distanciar-se para progredir no apren­ dizado das letras, Jerônim o recorre a duas antonom ásias: C reso e D ario. C reso, rei da Lídia, é o tipo do rico soberano, igualm ente a m esm a situação para o caso de D ario. A riqueza de que estes soberanos são representantes é retom ada pelo vocábulo m arsupium , term o corren­ te em P lauto, e tam bém em Jerônim o, atestando a predileção deste pelo com ediógrafo lati­ no. O s req u isito s p ara o aprendizado das letras vem em seguida, sem pre na rota contrária da saciedade e d a luxúria.

A s fá b u la s m ilésias m encionadas no texto são um a designação genérica do conto licencioso, a p artir de um a obra de A ristides de M ileto (séc. II a.C.) adaptada em latim por L. C ornelius Sisenna. U m a obra que contém contos que m uito parecem dever às fábulas m ilésias e que chegou até nós é o Satiricon, de Petrônio. O testam ento do porco (Testamentum

G runnii C orocottae P orcelli), farsa grosseira em que um porco deixa em herança seus mem­

bros a seus pais e am igos, fornece a Jerônim o a alcunha com a qual designará a Rufino. E m alguns m om entos deste item , com o nas antonom ásias, nas m enções irónicas, nas citações e alusões em geral, percebe-se um a tendência a desqualificar o personagem -alvo das críticas p o r parte do autor d a A pologia contra Rufino. N o próxim o item , verem os todos

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os p ro cedim entos u tilizados no texto para atender a esta finalidade, na construção do retrato do adversário.

2. O retrato do adversário

D e uso antigo na diatribe cínico-estóica, Jerônim o utiliza em sua A pologia o m odelo que ele to m a em C ícero, em cuja obra podem os citar dois exem plos: o retrato de C atão no

Pro M urena e o retrato de Verres no In Verrem. É com um que encontrem os descrições do

adversário no sentido de caracterizá-lo de m odo pejorativo, com antonom ásias, m etáforas, ultrajes, u ltrajes irónicos, com parações exageradas, descrições pejorativas, desqualificação irónica, uso de vo cab u lário vulgar, considerações sobre o estilo do adversário, chiste, pala­ vras caricatu rais, expressões proverbiais. N este item , darem os exem plificações a cada p ro ­ cedim ento qu e co m p õ e o retrato do adversário.

C om o antonom ásia, podem os citar a ocorrência na passagem apresentada: Aristarchus

nostri tem p o ris e rem iniscências clássicas quasi religiosus et sanctulus (quando Jerônim o

se q u eix a de ter que se d efender com um “escudo” do “punhal” de R ufino o qual se cobria de dev o ção e santidade), satellites (os guardas ou cúm plices, por m eio dos quais R ufino dava a ler ao m undo inteiro os livros que ele com punha contra Jerônim o), cereales et anabasii

tui (a m en ção rem em o ra a solicitude de C eres em busca de sua filha P rosérpina e aplica a

idéia d esta solicitude às pessoas que espalhavam nas diversas províncias os “in fam es” elo­ gios de R ufino a Jerônim o.

C om o m etáfora, tem os n a abertura do texto da A pologia contra Rufino, a m etáfora de cães ap licad a aos inim igos: D id ici obici in schola Tyranni, a lingua canum m eorum ex

inim icis ab ipso, cu r P erl A rchôn libros in latinum uerterim . (Eu soube que sou acusado na

escola de T irano - no caso R ufino - pela língua de cães de m eus inim igos de ter traduzido em latim o Peri A rchôn).

H á os ultrajes irónicos que têm sabor ciceroniano. A o cham ar R ufino de “hom inem

p ru d e n tissim u m ’ (c. R uf. 1, 27), Jerônim o espanta-se que R ufino, em sua “grande persp icá­

cia” , não tenha com preen d id o a técnica da sua explicação. Ironicam ente, Jerônim o tam bém o insulta com ‘u ir sapientissim us, R om anae dialecticae c a p u t” (c.Ruf. 3, 27 - o sábio por excelência e o chefe dos dialéticos rom anos); “sapientiae colum en et norm a catonianae

se u e rita tis” (c. R uf. 1, 13 - cum e de sabedoria e norm a de severidade catoniana); “inclytus sy n g ra p h e u s” (c. R uf. 1 , 9 - ilustre escritor); “hom o ueracissim us” (c. R uf. 3, 10 - hom em

de grande veracidade); “hom o seu e rissim u s” (c. Ruf. 1, 3 0 - h o m e m de grande severidade);

“vetustissim us m onachorum , bonuspresbyter, im itator Christi, dulcissim us a m ic u s” (c. Ruf.

2, 34 - o m ais velho dos m onges, bom presbítero, im itador de C risto, o m ais doce am igo) A s palav ras de ultrajes que acusam o inim igo de estupidez e de falta de cultura e eloquência se enquadram em um contexto de querela m ais restrito e são utilizadas aqui para d esq u alificar as teses do adversário. A censura de estupidez aparece em form as variadas, chegando até m esm o a abranger em si a censura de loucura: “syngrapheus agram m atos,

p ro ca cita tem disertitudinem , et m aledicere om nibus bonae conscientiae signum arbitraris"

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generalizad a p o r sinal de b oa consciência). H á, entretanto, partes de proposições relativas que se apoiam na fórm ula do adversário, em parte, proposições principais que exageram conteúdos n egativos do adversário, com alusões e insinuações, que, na classificação de Ilona O p elt (1973) d enom ina-se Satzschim pw õrter, o que, em português, podem os conside­ rar com o frag m en to s de frase de ultraje. E is um exem plo: “S e d uolui (condiscipulis tuis, qui

tecum non d id iceru n t litteras) q u id p e r triginta annos in O riente p ro fe c e ris” (c. Ruf. 3, 6 -

eu quis m o strar aos teus condiscípulos, que contigo não aprenderam as letras, porque via­ ja ste po r trinta anos no O riente). O utro exem plo: “qu id de uno pecto ris sterquilinio et odorem

rosarum e tfo e to r e m p ro fers c a d a u e ru m ” (c. Ruf. 3, 42 - tu cujo coração com o um único

m onte de esterco exalas ao m esm o tem po o odor das rosas e o fedor dos cadáveres). A m enção de traços de caráter negativos do adversário é um outro m eio de atacá-lo, e enco n tram o s com m uita frequência a desqualificação m oral com o traço deste procedi­ m ento, lem b ran d o m uitas vezes a linguagem ju ríd ica. Vejamos alguns exem plos: “effrenata

a u d a cia ” (c. R uf. 3, 25; C ícero, C atilinárias, 1, 1); “effrenata tem eritas” (c. R uf. 2, 21); “fo e t o r ” (c. R uf. 3, 26); “r a b ie s ” (c. Ruf. 3, 19); “apertissim um m e n d a c iu m ” (c. Ruf. 2,2); “m ira te rg iv e rsa tio ” (c. R uf. 3, 23) etc.

C om o desq u alificação irónica podem os citar o m odo pelo qual Jerônim o se refere à A p o lo g ia co n tra São Jerônim o, à qual nosso autor escreve um a refutação antes de lê-la:

“eru d itissim i lib r i” (c. R uf. 3, 3) e “libri venustate a ttic a ” (c. Ruf. 1, 3) ou seja livros

eruditíssim os, livros de delicadeza ática.

C om o chiste, podem os exem plificar com o fragm ento seguinte, sem pre com o intuito de d esq u alificar o adversário: “tantam habes graeci latinique serm onis scientiam , ut Graeci

te latinum et L a tin i te g r a e c u m p u te n t” (c. Ruf. 3 , 6 - tens tanto conhecim ento do grego e do

latim que os gregos te consideram um latino e os latinos, um grego).

3. Referências Bibliográficas

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C A R P IN E T T I, L uis C arlos L im a, Le recours à 1’autorité des classiques et le portrait de 1’a d v ersaire co m m e stratégies discursives dans 1 'A pologie contre R ufin, de Jerôm e.

C lassica, São P aulo, v. 15/16, n. 15/16, p. 203-213, 2002/2003.

RÉSUMÉ: C et article traite deux procédés qu’on trouve dans le texte de \’A pologie contre Rufin,

à savoir: le recours à 1’érudition classique dans le but de construire une image favorable de soi- mêm e et, en m êm e tem ps, construire avec les ressources rhétoriques propres une image défavorable et péjorative de 1’adversaire.

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