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Apoio à Tomada de Decisão em Grupo na Área da Saúde

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Academic year: 2021

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  Departamento de Informática            Luis da Costa Lima    Apoio à Tomada de Decisão em Grupo na Área da Saúde      Tese submetida à Universidade de Trás‐os‐Montes e Alto  Douro para obtenção do grau de Doutor em Informática,  elaborada sob a orientação do  Professor Doutor Paulo Jorge Freitas de Oliveira Novais  e do  Professor Doutor José Afonso Moreno Bulas Cruz      2009   

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Para a Fernanda,

Para o Miguel,

Para a Filipa

   

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Quero  em  primeiro  lugar  agradecer  aos  meus  orientadores,  Professor  Doutor  Paulo Jorge de Oliveira Novais e Professor Doutor José Afonso Moreno Bulas Cruz. A  ambos  agradeço  a  orientação  científica  e  constante  incentivo,  sem  o  qual  não  teria  conseguido levar esta tarefa a bom porto, e em especial ao Professor Paulo Novais,  amigo de longa data, por nunca deixar esmorecer o entusiasmo neste projecto. 

Um  agradecimento  muito  especial  ao  amigo  e  colega  Ricardo  Costa,  também  membro  do  projecto  VirtualECare  e  co‐autor  de  alguns  dos  meus  trabalhos,  pelas  sugestões e contribuições. 

A toda a equipa do VirtualECare, principalmente o Davide Carneiro e o Ângelo  Costa. 

 

A  todos  os  colegas  da  ESTGF  pelo  seu  continuado  incentivo  e  interesse  pelo  andamento do trabalho. 

 

Finalmente,  à  Fernanda,  ao  Miguel  e  à  Filipa,  pelas  ausências  que  não  podem  nunca ser recuperadas. 

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Resumo 

 

A decisão em grupo é um processo complexo, principalmente quando envolve  problemas  do  mundo  real  multi‐critério,  caracterizados  por  uma  enorme  subjectividade, e onde a informação necessária nunca está completa. Por outro lado,  cada  vez  mais  as  decisões  nas  organizações  são  tomadas  em  grupo  e  o  trabalho  colaborativo,  nomeadamente  sob  a  forma  de  Organizações  Virtuais  suportadas  por  Redes  Colaborativas,  será  a  forma  de  obviar  as  limitações  de  tempo  e  espaço  em  vários sectores de actividade, nomeadamente na área dos cuidados de saúde. 

A Tese que pretendemos defender é que num contexto de tomada de decisão  multi‐critério  em  grupo,  a  percepção,  pelos  agentes  de  decisão,  da  qualidade  de  informação melhora o processo de tomada de decisão. 

Neste contexto foram abordados os problemas associados à tomada de decisão  em  grupo  e  foi  proposto  um  metamodelo  para  o  processo  de  decisão  adequado  a  interacções  assíncronas  entre  os  seus  participantes,  em  localizações  dispersas.  Foi  também proposta uma forma de representação do conhecimento para problemas do  mundo real, caracterizados por diferentes tipos de informação imperfeita, adequada  ao  cálculo  da  medida  da  qualidade  da  informação  e  foi  definido  um  método  de  cálculo  para  essa  métrica.  Pretende‐se  assegurar  o  controlo  e  a  avaliação  da  qualidade  de  toda  a  informação  que  flui  numa  Rede  Colaborativa  e  em  especial  no  componente de suporte à decisão em grupo. Foi ainda proposta uma representação  gráfica num hiperespaço da qualidade de informação, representação essa que pode  assumir diferentes perspectivas conforme o destinatário a quem se dirige. 

Foi  também  definida  a  estrutura  lógica,  física  e  funcional  de  um  Sistema  de  Apoio à Decisão em Grupo, com aplicação no projecto VirtualECare. Com base nessa  especificação  foi  desenvolvido  um  protótipo  que  permitiu  a  realização  de  várias  experiências,  as  quais  permitiram  tirar  algumas  conclusões  sobre  o  trabalho  desenvolvido e apontar caminhos futuros. A aplicação a um exemplo prático simulado 

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Abstract 

 

Group  decision  is  a  complex  problem,  chiefly  for  real  world  multi‐attribute  problems,  where  always  exist  a  great  deal  of  subjectivity,  and  the  necessary  information  is  never  complete.  On  the  other  hand,  more  and  more  decisions  in  organizations are a group process. Collaborative work, namely in the so called Virtual  Organizations supported by Collaborative Networks, will be the path to overcome the  time and space limitations in many sectors, namely in healthcare organizations. 

The  Hypotheses  we  indorse  here  states  that  in  a  context  of  multi‐attribute  group  decision  making,  the  perception  by  the  decision  makers  of  the  quality  of  information improves the decision making process. 

In  this  background  we studied  the problems  related  to  group  decision making  and  a  metamodel  was  proposed  for  these  processes,  suitable  for  asynchronous  interactions  between  far‐flung  participants.  A  knowledge  representation  for  real  world  problems,  embodying  different  kinds  of  imperfect  information,  was  also  suggested.  This  representation  is  adequate  for  the  evaluation  of  quality  of  information.  A  evaluation  method  was  proposed  using  this  kind  of  representation.  We aim to assure the control and quality evaluation of all the information flowing in a  Collaborative  Network,  and  above  all  in  the  group  decision  support  component.  A  graphical  visualization  matching  the  quality  of  information  evaluation  was  another  proposal, assuming different perspectives in accordance with the needs of the several  participants. 

It  was  also  defined  the  logical,  physical  and  functional  structure  of  a  Group  Decision Support System, applied to the VirtualECare project. 

Based on this specification a prototype was developed. The prototype has been  used  in  several  experiments,  leading  to  some  conclusions  and  to  the  provision  of  future work. 

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Índice

 

Índice ... XI  Lista de Figuras ... XV  Lista de Tabelas ... XVII  Lista de Programas ... XIX  Lista de Exemplos ... XXI  Lista de Abreviaturas ... XXIII  1.  Introdução ... 1  1.1  Motivação ... 2  1.1.1   Conhecimento na tomada de decisões ... 2  1.1.2   Decisão em grupo ... 4  1.1.3   eSaúde... 6  1.1.3   Inteligência Artificial ... 9  1.2   Tema e Objectivos... 11  1.3   Metodologia de Investigação ... 14  1.4   Estrutura da Tese ... 16  2.  Representação do Conhecimento ... 19  2.1  Introdução ... 20  2.2  Conhecimento, representação e raciocínio ... 23  2.2.1  Conhecimento ... 23  2.2.2  Representação ... 25  2.2.3  Raciocínio ... 28  2.2.4  Gestão do conhecimento ... 30  2.3  Sistemas Inteligentes Baseados em Conhecimento ... 33  2.3.1  Metáfora Computacional ... 35  2.3.2  Metáfora Conexionista ... 37  2.3.3  Metáfora Biológica... 38  2.3.4  Sistemas Periciais ... 39  2.4 Informação Imperfeita ... 41  2.5  Representação quantitativa de informação imperfeita ... 48  2.5.1  Teoria das Probabilidades ... 49  2.5.2  Factores de Certeza ... 50 

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2.5.5  Conjuntos vagos ... 56  2.5.6  Lógica probabilística ... 57  2.6  Programação em lógica ... 59  2.7  Extensão à Programação em Lógica ... 64  2.8  Reflexão Crítica ... 67  3   Tomada de Decisão Multi‐critério ... 71  3.1  Introdução ... 72  3.2  Modelo, metamodelo de processo e metodologia ... 74  3.2.1   Modelo de Processo ... 74  3.2.2   Metamodelo de processo ... 76  3.2.3   Metodologia ... 79  3.3  Modelos do processo de decisão ... 82  3.3.1  Modelo racional clássico vs. Modelo da racionalidade limitada ... 82  3.3.2  Modelo Circumplexo de McGrath ... 89  3.4  Taxonomia de decisão multi‐critério ... 93  3.5  Métodos de apoio à decisão multi‐critério ... 100  3.5.1   Método Analítico Hierárquico ... 101  3.5.2   Técnica de Grupo Nominal ... 105  3.5.3   Método Delphi ... 106  3.6  Reflexão Crítica ... 108  4   Sistemas de Apoio à Decisão em Grupo ... 113  4.1   Introdução ... 114  4.2  Redes Colaborativas e Organizações Virtuais ... 115  4.3  Origem dos Sistemas de Apoio à Decisão em Grupo ... 121  4.4  Taxonomias dos Sistemas de Apoio à Decisão ... 127  4.5  Exemplos de Sistemas de Apoio à Decisão em Grupo ... 132  4.6  Sistemas de Apoio à Decisão na Saúde ... 133  4.7  Guias Clínicos ... 136  4.8  Reflexão Crítica ... 140  5   Metodologia de Avaliação da Qualidade da Informação ... 143  5.1  Introdução ... 144 

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5.2  Qualidade da Informação ... 145  5.3  Representação de Informação Imperfeita ... 152  5.4  Método de Avaliação ... 156  5.4.1   Dos Actores ... 160  5.4.2   Dos Fluxos de Informação ... 166  5.4.3   Do Sistema ... 174  5.5  Reflexão Crítica ... 175  6   Modelo do Processo de Tomada de Decisão ... 177  6.1  Introdução ... 178  6.2  Modelo de Processo Faseado ... 179  6.3  Metamodelo de Processo ... 185  6.4  Reflexão Crítica ... 193  7   Estudo de Caso ... 195  7.1  Introdução ... 196  7.2  O Projecto VirtualECare ... 197  7.3  SADG do VirtualECare ... 200  7.4  Aplicação a Guias Clínicos ... 207  7.5  Reflexão Crítica ... 223  8  Conclusões ... 227  8.1  Síntese e Contribuições da tese ... 228  8.2  Trabalhos Relevantes Realizados ... 231  8.3  Sugestões para Trabalho Futuro ... 234  Bibliografia ... 237  Anexo ... 257  A.   Research Overview ... 257  A.1   Introduction ... 257  A.2   Knowledge Representation ... 258  A.3   Group Decision Support Systems ... 262  A.3.1   Idea Generation and Argumentation in the Group Decision Module ... 267  A.3.2   Meeting phases ... 268  A.5   Quality of Information ... 269  A.5   Process Model ... 273  A.6   Conclusion ... 276 

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Lista de Figuras 

  Figura 1.3 –Modelo de pesquisa na metodologia I‐A ... 16  Figura 2.1 – Modelo Gestão do Conhecimento / Memória Organizacional /  Aprendizagem Organizacional de Jennex ... 31  Figura 2.2 – O ciclo da Gestão do Conhecimento nos sistemas de saúde (Dwivedi, Bali  et al. 2002) ... 32  Figura 3.1 – Metamodelo de processo de decisão (adaptado de Potts) ... 77  Figura 3.2 – Metamodelo Domino (adaptado de (Isern and Moreno 2008)) ... 78  Figura 3.3 – As três dimensões críticas num trabalho em grupo ... 79  Figura 3.4 – Relação entre métodos, técnicas e ferramentas ... 80  Figura 3.5 ‐ Modelo do processo de decisão ... 85  Figura 3.6 ‐ Modelo circumplexo de McGrath ... 90  Figura 3.7 – Taxonomia de métodos para a TDMA ... 98  Figura 3.8 – Decomposição hierárquica do problema ... 102  Figura 3.9 – matriz com ponderações dos critérios de decisão ... 103  Figura 3.10 – pesos dos critérios de decisão ... 103  Figura 3.11 – Ponderação das alternativas, duas em duas, em relação ao critério  estética. ... 104  Figura 3.12 – Decomposição hierárquica do problema, com pontuações ... 104  Figura 3.13 – Pontuação final de cada alternativa ... 105  Figura 4.1 – Evolução dos Sistemas de Apoio à Decisão ... 125  Figura 5.1 – Medida da qualidade da informação para um programa em lógica ... 160  Figura 5.2 – Medida da qualidade de informação acerca do participante luis ... 165  Figura 5.3 ‐ Medida da qualidade de informação acerca do participante ricardo ... 165  Figura 5.4 ‐ Qualidade da informação dos parâmetros ambientais do quarto do utente  ... 169  Figura 5.5 – Qualidade da informação dos sinais vitais do utente ... 171  Figura 5.6 ‐ Qualidade da informação dos sinais vitais do utente ... 173  Figura 5.7 ‐ Qualidade do sistema ... 174  Figura 6.1 – Modelo de processo faseado ... 181  Figura 6.2 ‐ Forum (Argumentação e Votação) ... 183  Figura 6.3 – Avaliação da qualidade de informação no processo de decisão ... 186  Figura 6.4 – Predominância de trabalho (a) em paralelo ou (b) sequencial ... 188 

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Figura 7.1 ‐ VirtualECare ... 198  Figura 7.2 ‐ Arquitectura de alto nível do SADG do VirtualECare ... 200  Figura 7.3 – Vista Use Case do SADG do VirtualECare ... 202  Figura 7.4 – Arquitectura física do SADG do VirtualECare ... 204  Figura 7.5 – Diagrama de arquitectura UML do SADG ... 205  Figura 7.6 – Exemplo de uma mensagem XML trocada entre WS ... 206  Figura 7.7 – GC de tratamento de exacerbações em DPOC ... 209  Figura 7.8 – Estruturação do problema da escolha do local de tratamento segundo o  método MAH ... 211  Figura 7.9 – Ponderações entre os pares de critérios ... 211  Figura 7.10 – Ponderação das alternativas de decisão para o critério c1, do Exemplo  7.1. ... 216  Figura 7.11 – Valores locais para as duas alternativas de local de tratamento, casa ou  hospital, do Exemplo 7.1 ... 217  Figura 7.12 – QoI para o Programa 7.1 ... 218  Figura 7.13 – Valores locais para as duas alternativas de local de tratamento, casa ou  hospital (primeiro instante do Exemplo 7.2) ... 218  Figura 7.14 – QoI para o Programa 7.2 ... 220  Figura 7.15 – Valores locais para as duas alternativas de local de tratamento, casa ou  hospital (segundo instante do Exemplo 7.2) ... 221  Figura 7.16 – QoI para o Programa 7.3 ... 223  Figure A.1. The System Architecture, VirtualECare. ... 265  Figure A.2‐ Top‐level architecture of VirtualECare GDSS ... 265  Figure A.3 – Use Case view of VirtualECare GDSS ... 267  Figure A.4. Forum (Argumentation and Voting) ... 268  Figure A.5. A measure of the quality of information for a logic program or theory P 271  Figure A.6. A measure of quality of information about participant luis ... 272  Figure A.7 – Staged decision process model ... 273  Figure A.8 – In‐meeting stage: design and choice phases separated by quality  evaluation ... 274  Figure A.9 – In‐meeting stage with several iterations ... 275   

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Lista de Tabelas 

  Tabela 4.1 – Contextos para tomada de decisão em grupo ... 130  Tabela 4.2 – Exemplos de SADG ... 133  Tabela 5.1 – Dimensões dos itens de conhecimento Rao e Osei‐Bryson (fragmento)  ... 150  Tabela 5.2 – Operadores temporais na avaliação da qualidade em Guias Clínicos ... 151  Tabela 7.1 – Factores a considerar na escolha do local para a intervenção terapêutica  ... 210  Tabela 7.2 – Peso de cada factor a considerar na escolha do local para a intervenção  terapêutica ... 212  Tabela 7.3 – Correspondência entre termos médicos e GC ... 215  Tabela 7.4 – Qualidade da informação para o Programa 7.2 ... 220  Tabela 7.5 – Qualidade da informação para o Programa 7.3 ... 222     

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Lista de Programas 

  Programa 2.1 – Conhecimento sobre aves ... 63  Programa 2.2 ... 66  Programa 5.1 – Extensão do predicado que representa a credibilidade de um  participante ... 154  Programa 5.2 – Credibilidade do participante ricardo, de valor desconhecido ... 154  Programa 5.3 – Representação da credibilidade dos participantes carlos e paulo ... 155  Programa 5.4 – Extensão ao meta‐predicado demo ... 156  Programa 5.5 – Programa lógico com três critérios de qualidade de um grupo com  três elementos ... 164  Programa 5.6 – Representação do conhecimento acerca do ambiente do utente ... 167  Programa 5.7 – Representação do conhecimento acerca dos sinais vitais do utente170  Programa 5.8 – Conhecimento actualizado acerca dos sinais vitais do utente ... 172  Programa 7.1 – Programa lógico com dezasseis critérios de decisão de apoio a GC  DPOC, com informação completa (fragmento), para o Exemplo 7.1 ... 216  Programa 7.2 – Programa lógico com dezasseis critérios de decisão de apoio a GC  DPOC, com informação incompleta – primeiro instante do Exemplo 7.2 ... 219  Programa 7.3 – Programa lógico com dezasseis critérios de decisão de apoio a GC  DPOC, com informação incompleta – segundo instante do Exemplo 7.2 ... 221  Program A.1. Extension of the predicate that describes the credibility of a participant  ... 260  Program A.2. Credibility about participant ricardo, with an unknown value ... 261  Program A.3. Representation of the credibility of the participants carlos and paulo 262  Program A.4. Extension of meta‐predicate demo ... 262  Program A.5. Example of universe of discourse ... 272  Program A.6. Measuring the global quality ... 273     

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Lista de Exemplos 

  Exemplo 5.1 – Características dos participantes num grupo de decisão ... 153  Exemplo 5.2 – Características dos participantes num grupo de decisão ... 163  Exemplo 5.3 – Alguns parâmetros ambientais da casa do utente ... 167  Exemplo 5.4 – Alguns parâmetros clínicos do utente ... 170  Exemplo 7.1 – Doente com DPOC acompanhada ... 213  Exemplo 7.2 – Doente com DPOC não acompanhada ... 214  Example A.1 – Properties of group participants ... 260     

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Lista de Abreviaturas 

  AHP  Analytical Hierarchy Process  AO  Aprendizagem Organizacional  AS  Arden Syntax  CDI  Crenças‐Desejos‐Intenções  DPOC  Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica  EHR  Electronic Health Record  FIPA  Foundation for Intelligent Physical Agents  FIPA‐ACL  FIPA Agent Communication Language  GC  Guia Clínico  GCS  Glasgow Coma Scale  GLIF  Guideline Interchange Format  HTTP  Hypertext Transfer Protocol  HTTP  Hypertext Transfer Protocol Secure  I‐A  Investigação‐Acção  IA  Inteligência Artificial  MAH  Método Analítico Hierárquico  MADM  Método de Apoio à Decisão Multi‐critério  MLM  Medical Logic Modules  MO  Memória Organizacional  NGC  National Guideline Clearinghouse  NGT  Nominal Group Technique  OLAP  Online Analytical Processing  OMS  Organização Mundial de Saúde  OV  Organizações Virtuais  PCE  Processo Clínico Electrónico  PMF  Pressuposto do Mundo Fechado  QoI  Qualidade da Informação (Quality of Information) 

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RM  Raciocínio Monótono  RNM  Raciocínio Não Monótono  SAD  Sistema de Apoio à Decisão  SADbGC  Sistema de Apoio à Decisão baseado em Guias Clínicos  SADS  Sistemas de Apoio à Decisão na Saúde  SADG  Sistema de Apoio à Decisão em Grupo  SI  Sistema de Informação  SMA  Sistemas Multi‐Agente  SOA  Service‐Oriented Architecture  SP  Sistema Pericial  TDMA  Tomada de Decisão Multi‐atributo  TDMC  Tomada de Decisão Multi‐critério  TDMO  Tomada de Decisão Multi‐objectivo  TDS  Teoria de Dempster‐Shafer  TGN  Técnica de Grupo Nominal  TIC  Tecnologias da Informação e Comunicação  WS  Web Services  XML  Extensible Markup Language   

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Capítulo 

                 

1.  Introdução  

     

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  True knowledge exists in knowing that you know nothing.  And in knowing that you know nothing, that makes you the smartest of all.    Socrates    1.1  Motivação  1.1.1   Conhecimento na tomada de decisões 

Simon  Haykin  (2009)  apresenta  uma  definição  genérica  para  o  termo  “conhecimento”, que faz ressaltar a preocupação sobre qual a informação que deve  ser tornada explícita e como deve ser fisicamente representada para potenciar o seu  uso futuro: 

“Knowledge  refers  to  stored  information  or  models  used  by  a  person  or  machine  to  interpret,  predict,  and  appropriately  respond  to  the  outside  world.” [pág. 24] 

A  omnipresença  de  incompletude  na  informação  é  uma  realidade  na  maioria  dos  processos  de  tomada  de  decisão,  os  quais  são,  para  além  disso,  realizados  em  presença  de  informação  imprecisa  e  incerta.  Muitos  sistemas  de  informação  pura  e  simplesmente  ignoram  esta  característica  da  informação  acerca  do  mundo  real  e  baseiam‐se em modelos idealistas de onde está arredada qualquer incerteza (Parsons  1996). 

O mundo é infinitamente complexo e o nosso conhecimento do mundo é finito,  portanto, sempre imperfeito. Qualquer Sistema de Informação (SI), principalmente os  que  incorporam  conhecimento  do  senso  comum,  deverá  ser  capaz  de  representar  e 

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manipular informação imperfeita. Os Sistemas de Apoio à Decisão em Grupo (SADG)  enquadram‐se  nessa  categoria  de  sistemas  e  são  objecto  de  estudo  nesta  tese.  Em  particular, o SADG do VirtualECare, projecto em que o autor participou (Lima, Costa  et al. 2008) (Lima, Novais et al. 2009), é um exemplo desse tipo de sistemas. 

Sendo  a  informação  sempre  incompleta,  pelo  menos  nos  sistemas  que  nos  interessam para esta tese, é impossível representar todo o universo do discurso. Por  esse  motivo,  não  é  possível  assumir  o  Pressuposto  do  Mundo  Fechado  (PMF),  com  implicações na escolha da forma de representação de conhecimento/informação e na  escolha dos mecanismos de inferência, como se verá no Capítulo 2. 

Ao longo de um processo de tomada de decisões, principalmente no contexto  que é referido nesta tese, é constantemente incorporada nova informação. Essa nova  informação  pode  dar  origem  a  conhecimento  que  torne  necessário  a  alteração  de  decisões  anteriores  ou,  pelo  menos,  que  leve à  alteração da  ordem  de  preferências  das  alternativas  em  análise.  Foi  assim  seleccionada  uma  abordagem,  para  o  desenvolvimento do Sistema de Conhecimento de SADG, que permita mecanismos de  raciocínio não monótono. 

O  processo  de  tomada  de  decisão  em  grupo  é  caracterizado,  entre  outros  aspectos,  por  um  maior  grau  de  criatividade,  quando  comparado  com  processos  individuais.  Muitos  dos  processos  de  decisão  são  também  realizados  através  de  interacções  assíncronas.  Temos  assim  um  cenário  em  que  muitas  alternativas  para  uma dada decisão são geradas de forma pragmática, com base em juízos perceptivos  dos elementos de um grupo. Isso levou‐nos à necessidade de incorporar mecanismos  de  raciocínio  abdutivos,  em  que  a  validade  da  alternativa  é  feita  posteriormente,  procurando nexos de causalidade. 

O SADG do VirtualECare, usado como caso de estudo nesta tese, é caracterizado  por  suportar  a  representação  de  informação  imperfeita  (incerteza,  incompletude,  inexactidão  e  incoerência),  não  assumir  o  Pressuposto  de  Mundo  Fechado  e  incorporar mecanismos de raciocínio não monótono e abdutivo. 

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No  âmbito  do  desenvolvimento  desta  tese,  foram  estudadas  diversas  abordagens  para  o  desenvolvimento  de  Sistemas  de  Conhecimento  dos  SADG,  enquadradas  em  dois  grandes  grupos:  abordagens  quantitativas  e  abordagens  qualitativas.  Praticamente  todas  as  do  primeira  grupo  incorporam  ou  a  Teoria  da  Probabilidades  ou  os  conjuntos  vagos  (fuzzy  sets).  Um  aspecto  comum  a  essas  abordagens  é  a  dificuldade  na  definição  dos  valores  que  estão  na  base  de  cada  um  dos  métodos,  associada  ainda  a  custos  computacionais  elevados.  São  também  abordagens  caracterizadas  por  uma  maior  dificuldade  em  enfrentar  o  problema  da  informação incompleta, mais ainda o da ignorância (ausência de informação). 

No segundo grupo apresentamos abordagens qualitativas baseadas em lógica e  alterações  à  lógica  clássica  que  permitam  o  raciocínio  não  monótono  e  a  libertação  do  espartilho  do  PMF.  De  entre  as  duas  vias  tradicionais  ‐  introdução  de  novos  operadores  ou  introdução  de  novas  regras  de  inferência  –  seguimos  a  segunda  alternativa.  Propomos,  assim,  uma  representação  simbólica  de  conhecimento,  suportada por uma extensão à programação em lógica. 

1.1.2   Decisão em grupo 

O resultado da interacção num grupo de trabalho depende de três elementos  contextuais principais: o grupo, as tarefas e a tecnologia de suporte (Benbunan‐Fich  1997).  

A  tecnologia  engloba  os  meios  de  suporte  à  interacção,  que  terá  de  ser  adequada  aos  diferentes  modos  em  que  esta  pode  ocorrer.  A  tecnologia  necessária  para suportar o trabalho em grupo depende dos padrões característicos das reuniões  do grupo no espaço e no tempo. No espaço, a maior ou menor dispersão do grupo é o  factor principal. As reuniões podem ocorrer com todos no mesmo local (numa sala de  decisão),  ou  os  participantes  podem  estar  geograficamente  afastados.  Os  padrões 

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temporais  referem‐se  à  distinção  clássica  entre  reuniões  síncronas  (os  participantes  reúnem  ao  mesmo  tempo)  ou  assíncronas  (interacção  não  simultânea).  Estas  categorias não são mutuamente exclusivas, podendo ocorrer situações mistas. 

Como se verá mais adiante, não há um padrão característico ideal para a forma  de  interacção  em  grupos,  principalmente  em  tarefas  de  tomada  de  decisão  (Benbunan‐Fich, Hiltz et al. 2003). Em muitas situações, a interacção assíncrona entre  elementos  geograficamente  distantes  conduz  a  excelentes  resultados  (Majchrzak,  Malhotra et al. 2004).  

O contexto que motivou o trabalho desta tese é essencialmente caracterizado  por  uma  dispersão  geográfica  dos  participantes  e  por  uma  interacção  assíncrona,  podendo estas características ocorrer ao mesmo tempo. 

O  grupo,  como  factor  de  contexto,  representa  os  atributos  próprios  e  as  questões  associadas  ao  processo  de  trabalho.  Os  atributos  do  grupo  incluem  o  seu  tamanho,  a  sua  composição  e  homogeneidade,  histórico  comum,  alinhamento  de  objectivos  e  a  motivação  dos  participantes.  Quanto  ao  processo,  as  principais  variáveis  incluem  o  anonimato,  grau  de  estruturação  ou  hierarquização  do  grupo,  liderança, conflitualidade e facilidade de intercomunicação.  

Numa  perspectiva  sistémica,  podemos  dizer  que  um  grupo  é  um  sistema  complexo  que  funciona  a  um  nível  acima  da  mera  agregação  das  competências  e  características individuais dos seus membros. Como também se verá adiante, não se  pode afirmar de modo categórico, em absoluto, que o processo de decisão em grupo  conduz  a  melhores  resultados  que  uma  decisão  individual,  sendo  certo  que  num  grupo as capacidades e competências individuais podem ser pouco homogéneas. 

No contexto do VirtualECare, propomos um modelo de processo de tomada de  decisão  em  grupo,  que  inclui  o  apoio  de  um  facilitador  para  coordenar  o  processo.  Este modelo é baseado no Modelo da Racionalidade Limitada de Simon, modificado  para decisão em grupo. 

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Quanto  às  tarefas,  usamos  a  taxonomia  do  Modelo  Circumplexo  de  McGrath  para sistematizar e classificar os tipos de tarefas que podem ocorrer na interacção de  um grupo. As quatro grandes categorias desta taxonomia, assim como os respectivos  tipos  de  tarefas,  estão  relacionados  entre  si  num  espaço  bidimensional  em  quadrantes  mutuamente  exclusivos,  como  melhor  se  apresenta  em  capítulo  posterior, e são: gerar (ideias ou planos), escolher (a resposta correcta ou a solução  preferida), negociar (perspectivas diferentes ou interesses opostos) e executar. 

Para  o  projecto  VirtualECare  (Costa,  Carneiro  et  al.  2008),  e  projectos  com  as  mesmas características, atendendo ao contexto de incerteza na tomada de decisões e  aos atributos característicos dos participantes, propomos uma adaptação do modelo  de McGrath. Essa adaptação passa pela inclusão de uma dimensão de incerteza e pela  sobreposição dos quadrantes “gerar” e “escolher”. De facto, em situações complexas  um  grupo  vai  (re)gerando  várias  alternativas, analisa‐as  e  chega  a  uma  decisão,  por  consenso ou não. 

Finalmente,  devido  ao  contexto  e  à  motivação  para  a  realização  desta  tese,  interessa‐nos apenas a área de aplicação da tomada de decisão multi‐atributo, com  suporte  para  grupos  com  interacções  síncronas  ou  assíncronas.  É  um  contexto  em  que  os  objectivos,  as  restrições  e  as  consequências  das  acções  alternativas  não  são  completamente  conhecidas.  O  conhecimento  sobre  os  atributos  que  estão  em  jogo  no processo de tomada de decisão é imperfeito, tornando‐se essencial a existência de  uma medida da qualidade da informação. 

1.1.3   eSaúde 

O  conceito  de  «saúde  em  linha»  (eHealth)  refere‐se  às  ferramentas  baseadas  nas  Tecnologias  da  Informação  e  da  Comunicação  utilizadas  no  apoio  e  reforço  da  prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, assim como para controlar e gerir 

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questões  relacionadas  com  a  saúde  e  o  estilo  de  vida.  É  um  tópico  abrangente  que  inclui a interacção e comunicação entre doentes e prestadores de cuidados de saúde,  a  transmissão  de  dados  entre  instituições,  os  registos  electrónicos  de  saúde,  os  serviços  de  telemedicina,  as  redes  de  informação  sobre  saúde  e  os  sistemas  de  comunicação para monitorizar e prestar assistência aos doentes. 

O termo eSaúde já vinha a ser adoptado pela União Europeia e a preocupação  com  este  tópico  foi  reforçada  com a  Decisão  da  Comissão de  15  de  Março  de  2006  (2006/215/EC),  que  instituiu  um  grupo  de  peritos  de  alto  nível  para  aconselhar  a  Comissão Europeia sobre a execução e o desenvolvimento da estratégia i2010 ‐ “Uma  sociedade  da  informação  europeia  para  o  crescimento  e  o  emprego".  Dentro  desse  "Grupo de Alto Nível i2010" foi criado o subgrupo para a eSaúde, em Abril de 2006,  com  o  objectivo  de  aconselhar  a  Comissão  no  desenvolvimento  das  actividades  planeadas neste âmbito até ao final de 2010, nomeadamente no desenvolvimento de  um  espaço  europeu  de  serviços  de  saúde  e  de  informação  que  permita,  ao  mesmo  tempo, a mobilidade dos doentes e a contenção de custos. 

A  evolução  da  estrutura  demográfica  da  maioria  dos  países  da  Europa  aponta  para  uma  cada  vez  menor  percentagem  de  força  de  trabalho  relacionada  com  Cuidados  de  Saúde  Continuados  e  Apoio  Social,  comparativamente  com  o  número  crescente  de  idosos  necessitados  desses  cuidados.  Em  Portugal  a  situação  não  é  diferente  da  do  resto  da  Europa,  prevendo‐se  um  posicionamento  preocupante  de  entre  os  países  da  EU  a  25  para  as  próximas  décadas  (DESA  2001).  Acresce  a  esta  situação  o  factor  negativo  de  as  zonas  onde  incide  uma  maior  percentagem  de  população  idosa  (interior  rural)  serem  precisamente  aquelas  onde  os  serviços  e  recursos  humanos  assistenciais  são  mais  escassos.  Num  recente  relatório  sobre  o  actual panorama dos cuidados continuados de saúde em Portugal conclui‐se: 

“O isolamento dos idosos e a ocorrência de factores como o crescimento  de  formas  de  organização  familiar  atípicas,  a  emancipação  laboral  da  mulher  (que  tradicionalmente  cumpriu  a  função  de  cuidadora  informal 

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familiar)  e  a  diminuição  verificada  nas  redes  formais  ou  informais  de  solidariedade, cria novas formas de dependência que obrigam a encontrar  novos tipos de organização dos cuidados de saúde e sociais.” (Gesaworld  2005) 

Uma nova categoria de sistemas está a emergir, como resultado do esforço em  encontrar  uma  resposta  ao  mesmo  tempo  eficaz  e  economicamente  viável  para  o  problema dos cuidados de saúde referidos anteriormente. Estes sistemas posicionam‐ se na intersecção da telemedicina, equipas virtuais de cuidados de saúde e Processos  Clínicos Electrónicos (PCE) ‐ na terminologia anglo‐saxónica: Electronic Health Record1  ou EHR (Kristiina, Kaija et al. 2008).  

Projectos  como  CAALYX  (Boulos,  Rocha  et  al.  2007)  e  VirtualECare  (Costa,  Novais et al. 2009) são exemplos deste novo tipo de sistemas. Propõe‐se, no âmbito  deste último projecto, encontrar uma solução para o modelo do processo de tomada  de decisões, através da utilização de um SADG que incorpore informação incompleta  e conhecimento imperfeito, mas mesmo assim capaz de gerar decisões baseadas na  avaliação da qualidade do conhecimento disponível e na qualidade das suas fontes.  O projecto VirtualECare incorpora um sistema inteligente multi‐agente que tem  como objectivo monitorar e interagir com os seus utilizadores, principalmente idosos  e  os  seus  familiares.  Sistemas  deste  tipo  serão  usados  no  futuro  para  interligar  instituições de saúde, instalações vocacionadas para a manutenção física e ocupação  dos  tempos  livres  e  mesmo  o  comércio  em  geral  através  de  uma  rede  comum.  A  arquitectura  do  VirtualECare  é  distribuída,  com  cada  um  dos  seus  nodos  a  poder  representar um papel diferente, como por exemplo uma central de atendimento, um  sistema  de  apoio  à  decisão  em  grupo  ou  um  dispositivo  de  monitorização,  entre 

         

1 De acordo com a ISO/DTR 20514:2005, EHR significa um repositório de informação sobre um doente

em formato digital, armazenado e comunicado de forma segura, acessível a múltiplos utilizadores autorizados. 

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outros. O VirtualECare enquadra‐se no tipo de sistemas a que chamamos, em capítulo  mais adiante, de Rede Colaborativa de Organizações. 

1.1.3   Inteligência Artificial 

No  Dicionário  Houaiss  da  Língua  Portuguesa  (Houaiss  and  Villar  2003)  a  inteligência é definida como: 

“Inteligência:  s.f.  faculdade  de  conhecer,  compreender  e  aprender  (…)”  [pág. 2114] 

O  comportamento  racional,  próprio  do  ser  humano,  está  directamente  relacionado  com  a  inteligência.  Mas  a  inteligência  pode  manifestar‐se  sob  diversas  formas e em vários graus, não só nos humanos mas também nos animais e em certos  artefactos, ou seja naquilo que nesta tese designamos por um agente. Um agente é  algo que interage com o ambiente, executando acções com um dado objectivo. Pode  ser  um  insecto,  um  termóstato,  um  automóvel,  uma  pessoa,  uma  organização  ou  a  sociedade. O agente inteligente será aquele que manifesta algum tipo de inteligência:  percebe o ambiente em que actua, aquilo que faz é apropriado aos seus objectivos,  adapta‐se  ao  ambiente,  é  capaz  de  fazer  as  escolhas  certas  em  tempo  oportuno  e  aprende com a experiência (Russell and Norvig 2009).  

Nesta  tese  adoptamos  uma  definição  neutra  do  termo  agente  para  nos  referirmos  a  qualquer  entidade  que  tem  objectivos  a  cumprir  e  consegue  aplicar  o  conhecimento  que  possuiu  para  atingir  esses  objectivos.  Pode  ser  uma  pessoa,  um  dispositivo dotado de inteligência artificial ou até uma entidade abstracta teórica. 

A  inteligência  tem  sido  estudada  no  âmbito  de  diversas  áreas  científicas,  nomeadamente  a  Filosofia,  a  Biologia  e  a  Psicologia,  entre  muitas  outras.  Mais  recentemente tem vindo a ser estudada no âmbito das Ciências da Computação e da  Engenharia sob a designação de Inteligência Artificial (IA), expressão atribuída a John 

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McCarty que a terá usado pela primeira vez num workshop no Dartmouth College em  1956.  Outros  autores  preferem  o  termo  Inteligência  Computacional2  (Poole,  Mackworth et al. 1998) para enfatizar a diferença entre o objectivo – compreender o  comportamento  inteligente  –  e  a  metodologia:  conceber,  construir  e  experimentar  sistemas computacionais capazes de realizar tarefas ditas inteligentes. 

No mesmo dicionário Houaiss, inteligência artificial é definida como:  “Ramo da informática que visa dotar os computadores da capacidade de  simular certos aspectos da inteligência humana, tais como aprender com  a  experiência,  inferir  a  partir  de  dados  incompletos,  tomar  decisões  em  condições de incerteza e compreender a linguagem falada, entre outros.”  [pág. 2114] 

Luger (2005) define IA como sendo “… o ramo das ciências da computação que  se  preocupa  com  a  automatização  do  comportamento  inteligente.”[pág.24].  Ainda  segundo o mesmo autor, e numa perspectiva da engenharia, a IA pode ser definida  como  o  “…  estudo  da  representação  do  conhecimento  e  da  procura  de  soluções  (mecanismos  de  raciocínio)  que  permitam  realizar  actividades  inteligentes  num  dispositivo mecânico”. [pág. 35]. 

A IA está intimamente ligada à Epistemologia, mas não se limita ao estudo do  conhecimento  humano  e  da  inteligência,  estendendo‐se  à  construção  de  artefactos  que se comportem como seres inteligentes. Mais do que reproduzir mecanismos de  raciocínio  ou  mimetizar  capacidades  cognitivas  do  ser  humano,  ainda  nem  sequer  totalmente  compreendidos,  a  IA  tenta  desenvolver  sistemas  computacionais  que  sejam capazes de resolver problemas para os quais é necessária inteligência. 

Muitas  outras  definições  de  IA  poderiam  ser  apresentadas,  convergindo  estas  para a presença de três conceitos. 

         

2

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 Representação  do  conhecimento,  que  será  sempre  uma  aproximação  imperfeita  da  realidade  observada,  incorporando  alguns  aspectos  e  ignorando outros; 

 Raciocínio,  enquanto  capacidade  de  aplicar  mecanismos  de  inferência,  dedutivos,  indutivos  ou  abdutivos  para  resolver  problemas,  num  determinado espaço de procura de soluções; 

 Aprendizagem,  como  faculdade  de  aumentar  o  conhecimento  decorrente  da  assimilação  de  informação  obtida  em  experiências  passadas. 

Embora  não  se  tenham  concretizado  as  expectativas  criadas  pelo  entusiasmo  inicial  dos  anos  sessenta  do  século  passado,  a  IA  tem  vindo  progressivamente  a  ocupar  um papel  relevante  em  praticamente  todas  as  áreas  de  actividade,  quer em  áreas  transversais  onde  seja  necessário  a  representação  do  conhecimento  e  o  raciocínio lógico, quer em aplicações específicas como a visão por computador ou o  diagnóstico médico.  

1.2   Tema e Objectivos 

O  principal  objectivo  que  norteou  este  trabalho  tem  por  base  a  validação  das  condições  em  que  os  sistemas  inteligentes  podem  apoiar  a  tomada  de  decisão  em  grupo, nomeadamente na percepção que os agentes decisores têm, ou necessitam de  ter, sobre a qualidade da informação presente no processo de decisão.  

O  projecto  que  motivou  este  trabalho  –  o  VirtualECare  –  exemplifica  os  principais  tipos  de  processos  de  decisão  a  que  os  resultados  deste  trabalho  se  aplicam: decisão multi‐participante e multi‐critério, com a intervenção assíncrona dos  diferentes decisores.  

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É  suportada  nesta  tese  a  hipótese  de  que,  cada  vez  mais,  as  decisões  nas  organizações  são  tomadas  em  grupo  e  que  o  processo  de  decisão  não  pode  estar  condicionado  pela  realização  de  reuniões  frente‐a‐frente.  De  facto,  a  realização  de  reuniões  tradicionais  frente‐a‐frente,  no  mesmo  local  e  ao  mesmo  tempo,  impõe  limitações  que  condicionam  o  melhor  resultado  do  processo  e  introduzem  atrasos  incomportáveis.  A  dificuldade  de  conjugação  das  agendas  dos  participantes  e  a  impossibilidade  de  intervenção  no  processo  de  especialistas  sediados  em  locais  distantes são as limitações mais óbvias para a realização de reuniões frente‐a‐frente. 

Tendo  então  como  pressuposto  a  característica  assíncrona  do  processo  de  tomada  de  decisão,  consideraram‐se  genericamente  as  Redes  Colaborativas  como  sendo  capazes  de  suportar  um  processo  desse  tipo.  Essa  característica  assíncrona  introduz  ainda  a  necessidade  de  considerar  o  factor  tempo,  nomeadamente  na  disponibilização de uma Memória Organizacional do Processo de Decisão. 

Para  suportar  este  trabalho,  foi  efectuado  um  estudo  sobre  métodos  e  tecnologias  de  interesse  para  a  investigação,  começando  pelo  levantamento  do  estado  da  arte  em  diferentes  áreas  de  interesse,  nomeadamente  em  Redes  Colaborativas,  Sistemas  de  Apoio  à  Decisão  em  Grupo,  Processos  de  Decisão  Multi‐ critério,  Representação  do  Conhecimento  e  Sistemas  Inteligentes  Baseados  em  Conhecimento.  

Passou‐se de seguida ao estudo de uma arquitectura própria para um Sistema  de Apoio à Decisão em Grupo e de um modelo de processo de decisão em grupo. 

Sendo  certo  que  em  qualquer  Sistema  de  Informação  a  garantia  da  qualidade  da  informação  contida  no  sistema  é  um  factor  de  importância  inquestionável,  a  utilização de arquitecturas distribuídas aporta dificuldades acrescidas à sua avaliação,  pelas múltiplas fontes de informação envolvidas neste tipo de (macro)sistemas e pela  possível, e desejável, interligação entre sistemas heterogéneos.  

Acresce  ainda  o  facto  de  que,  dadas  as  reuniões  serem  virtuais,  não  existe  interacção pessoal entre os participantes. O cenário mais provável é aquele em que 

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vários  dos  agentes  de  decisão  não  se  conhecem  pessoalmente,  ou  até  não  se  conhecem  de  todo.  Este  contexto  aponta  para  a  necessidade  de  o  sistema  proporcionar aos participantes não só uma medida sobre a qualidade da informação  fornecida, mas também sobre os participantes e sobre as trocas de informação entre  os agentes de decisão.    Em suma, a hipótese assumida nesta tese é que:  Num contexto de tomada de decisão multi‐critério em grupo, a percepção,  pelos agentes de decisão, da qualidade de informação melhora o processo  de tomada de decisão.  Nesse sentido, foi estabelecido um conjunto de objectivos mais específicos:   Definição de um método de avaliação que permita obter uma medida da 

qualidade  de  informação  usando  apenas  a  informação  contida  no  sistema,  ou  seja,  que  não  exija  a  disponibilização  de  informação  /  conhecimento  adicionais,  externos  ao  sistema,  para  o  cálculo  das  métricas; 

 Incorporação  de  informação  imperfeita  no  sistema,  nomeadamente  informação inexacta, incerta, incompleta e não coerente; 

 Representação explícita da ignorância sobre o mundo real no sistema de  apoio  à  decisão,  para  que  a  tomada  de  decisão  possa  ter  em  conta  aquilo que se conhece, mas também o que se sabe que não é conhecido;   Definição  e  apresentação  da  arquitectura  de  um  Sistema  de  Apoio  à 

Decisão em Grupo adequado a um ambiente assíncrono de decisão;   Definição de um modelo de processo de tomada de decisão em grupo 

que inclua a avaliação da qualidade de informação.   

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Do  ponto  de  vista  científico,  pretende‐se  com  este  projecto  contribuir  para  a  compreensão  da  utilização  de  metodologias  de  tomada  de  decisão  em  grupo,  de  forma  a  melhorar  a  capacidade  de  desenvolvimento  de  sistemas  como  os  referidos  acima. 

A  arquitectura  proposta  para  este  tipo  de  sistemas  e  o  contexto  em  que  são  utilizados  realça  a  importância  da  avaliação  da  qualidade  da  informação  e  a  sua  integração no próprio modelo de processo de tomada de decisão. 

1.3   Metodologia de Investigação 

Os  métodos  de  investigação  mais  usuais  na  área  dos  Sistemas  de  Apoio  à  Decisão em Grupo passam pelos estudos em laboratório, estudos de caso e estudos  empíricos  (Gray  and  Nunamaker  1993).  Enquanto  a  maioria  dos  trabalhos  de  investigação publicada sobre SAD entre 1990 e 2004 corresponde a estudos empíricos  (Arnott  and  Pervan  2005),  a  tendência  actual  é  uma  abordagem  não  empírica  baseada nos conceitos da Design Science (Arnott and Pervan 2008) (Hevner, March et  al. 2004). 

No  processo  de  investigação  deste  trabalho  de  doutoramento  foi  seguida  a  metodologia  de  Investigação‐Acção  (I‐A)  (Lewin  1946).  Esta  metodologia  permite  estudar  processos  e  fenómenos  que  não  ocorreriam  sem  a  intervenção  do  investigador,  ou  que  ocorrem  de  forma  diferente  pela  acção  decorrente  da  própria  investigação. 

A  I‐A  permite  associar  a  teoria  à  prática  e  tem  sido  usada  com  sucesso  em  diversos  domínios  de  investigação  científica  aplicada,  nomeadamente  na  Educação,  Psicologia e Saúde (Masters 1995). Na área dos Sistemas de Informação, a abordagem  I‐A  deu  origem  a  diversos  métodos  específicos  de  desenvolvimento  de  Sistemas  de 

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Informação  (Baskerville  1999),  dos  quais  destacamos  o  ETHICS  (Mumford  1995)  e  o  Multiview (Avison, Wood‐Harper et al. 1998).  

Um aspecto importante da I‐A é o de que decorre normalmente inserido num  contexto  real,  transformando‐se  muitas  vezes  os  utilizadores  do  sistema  em  co‐ investigadores.  

Uma  forma  possível  de  concretização  da  I‐A  é  através  da  prototipagem  (Baskerville 1999), o que nos permitirá ultrapassar alguns dos problemas associados a  uma validação empírica de resultados. 

Ao contrário de outras metodologias em que existem duas fases perfeitamente  distintas  e  sequenciais  –  primeiro  a  investigação  e  depois  a  aplicação  dos  seus  resultados – a I‐A desenvolve‐se num processo em espiral, com ciclos sucessivos, na  procura  de  uma  solução  para  um  problema  em  concreto,  onde  novos  resultados  surgem  durante  a  própria  aplicação.  Em  cada  ciclo  são  identificados  quatro  quadrantes:  diagnóstico,  planeamento  de  acções,  execução  das  acções  e  aprendizagem com a prática.  

Seguindo  então  o  enquadramento  dado  pela  metodologia  I‐A,  o  trabalho  de  investigação do qual resultou esta tese seguiu um modelo proposto por Nunamaker e  Chen (1990), esquematizado na Figura 1.3. 

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Figura 1.3 –Modelo de pesquisa na metodologia I‐A 

Foi  assim  construído  um  protótipo  do  sistema,  primeiro  para  efectuar  a  validação  em  laboratório  e,  no  futuro,  para  testar  o  sistema  num  ambiente  mais  próximo da realidade. Usando a metodologia I‐A, o protótipo foi utilizado para testar  hipóteses e desenvolver novos conceitos. Por outro lado, observando a utilização do  protótipo em laboratório, em condições controladas, foi possível refinar conceitos e  melhorar o próprio protótipo. 

1.4   Estrutura da Tese 

Nesta  secção  é  apresentada  a  estrutura  da  tese,  com  um  resumo  de  cada  capítulo. A tese é composta por oito capítulos e um anexo, sendo o primeiro capítulo  introdutório,  nele  se  descrevendo  as  motivações  que  estiveram  na  origem  deste  trabalho, a hipótese e objectivos e a metodologia de investigação seguida. No final de  cada  capítulo  é  apresentada  uma  reflexão  crítica,  onde  se  tenta  resumir  o  que  foi  apresentado  e  a  relevância  para  a  tese,  nomeadamente  para  as  opções  tomadas  e  para o suporte às propostas efectuadas ao longo do trabalho. 

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O  Capítulo  2,  Representação  do  Conhecimento,  além  da  definição  de  alguma  terminologia  e  conceitos  básicos  sobre  Sistemas  Inteligentes,  define  o  que  consideramos ser Informação Imperfeita. Depois são analisadas técnicas quantitativas  e  qualitativas  de  representação  de  conhecimento,  no  sentido  de  ser  seleccionada  uma alternativa capaz de lidar com os aspectos da informação imperfeita. 

No Capítulo 3, Tomada de Decisão Multi‐critério, começa‐se por caracterizar o  tipo  de  problemas  multi‐critério  e  apresentar  modelos  de  processo  de  decisão  com  interesse  para  a  tomada  de  decisão  em  grupo,  para  esse  tipo  de  problemas.  Apresentam‐se  depois  técnicas  de  geração  de  ideias  e  métodos  analíticos,  como  exemplos de suporte à decisão em grupo. 

O  Capítulo  4,  Sistemas  de  Apoio  à  Decisão  em  Grupo,  contempla  uma  introdução às Redes Colaborativas e Organizações Virtuais e uma análise da evolução  e características dos Sistemas de Apoio à Decisão em Grupo. É dada especial atenção  aos Sistemas de Apoio à Decisão na Saúde. 

No Capítulo 5, Metodologia de Avaliação da Qualidade de Informação, propõe‐ se  uma  forma  de  representação  de  conhecimento  baseada  numa  extensão  à  Programação  em  Lógica  e  desenvolve‐se,  sobre  essa  representação,  o  método  de  cálculo da Qualidade da Informação. Propõe‐se ainda uma representação gráfica para  essa métrica. 

No Capítulo 6, Modelo do Processo de Decisão, começa‐se por apresentar uma  proposta  concreta  de  processo  decisório,  faseada  e  iterativa,  adequada  à  resolução  de  problemas  multi‐critério  em  grupo,  incluindo  geração  de  ideias  e  argumentação.  Passa‐se depois para um nível de abstracção superior, definindo um metamodelo de  processo  de  decisão  em  grupo,  incorporando  a  avaliação  da  Qualidade  da  Informação. 

O  Capítulo  7,  Estudo  de  Caso,  contempla  a  apresentação  da  especificação  do  Sistema  de  Apoio  à  Decisão  do  VirtualECare  e  a  aplicação  dos  novos  conceitos 

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propostos até aqui num exemplo prático baseado num Guia Clínico de uma doença  crónica. 

Finalmente,  no  Capítulo  8,  são  apresentadas  as  conclusões  do  trabalho  realizado assim como as principais contribuições e trabalhos apresentados durante a  realização  desta  tese.  São  ainda  apresentadas  algumas  perspectivas  de  trabalho  futuro, tomando como ponto de partida o trabalho realizado. 

No  Anexo  é  apresentado  um  resumo  alargado  em  inglês  desta  tese,  para  permitir uma maior visibilidade da mesma. 

Ao  longo  do  texto  são  utilizados  vários  termos  estrangeiros  que  não  foram  traduzidos  para  a  língua  portuguesa  pelo  facto  de  serem  termos  amplamente  difundidos  e  utilizados  na  comunidade  científica  nacional  ou  ainda  por  não  existir  uma tradução consensualmente aceite. Nos casos em que foi decidida uma tradução  de termos menos comuns, apresenta‐se simultaneamente o termo na língua original. 

Finalmente,  o  formato  das  referências  bibliográficas  segue  as  recomendações  da Norma Portuguesa NP 405 (IPQ 1994). 

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Capítulo 

                 

2.  Representação do Conhecimento  

     

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  As far as the laws of mathematics refer to reality, they are not certain; and as  far as they are certain, they do not refer to reality.    Albert Einstein  2.1  Introdução 

Neste  capítulo  abordamos  essencialmente  as  questões  relacionadas  com  a  representação do conhecimento, particularmente a representação do conhecimento  obtido a partir de informação imperfeita.  

Um  aspecto  importante  acerca  dos  tipos  de  representação  do  conhecimento,  tem  a  ver  com  o  facto  de  que  qualquer  mecanismo  de  raciocínio,  de  um  ponto  de  vista puramente mecanicista, é um processo computacional. Logo, as questões sobre  eficiência  computacional  são  fulcrais  a  qualquer  tipo  de  representação.  Diversas  abordagens  podem  ser  utilizadas,  desde  as  puramente  estruturais,  que  passam  por  incluir  estruturas  adicionais  na  representação,  que  aumentem  a  eficiência  computacional,  até  às  que  privilegiam  os  aspectos  heurísticos  do  raciocínio,  em  detrimento dos aspectos epistemológicos. 

No  contexto  da  Inteligência  Artificial,  quando  o  conhecimento  sobre  um  domínio é representado com um formalismo declarativo, o conjunto de objectos que  pode  ser  representado  designa‐se  por  universo  do  discurso.  Este  conjunto  de  objectos,  juntamente  com  os  relacionamentos  que  é  possível  descrever  entre  eles,  são representados através de um vocabulário com o qual um programa representa o  conhecimento num domínio específico. A este vocabulário é associado um conjunto  de  definições,  que  associam  o  nome  das  entidades  no  universo  do  discurso  com  o  significado  desses  nomes,  e  axiomas  que  restringem  a  interpretação  dos  termos  e  garante a coerência do seu uso. 

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Vários formalismos de representação do conhecimento têm sido propostos. De  entre  estes,  os  que  estão  mais  vocacionados  para  o  desenvolvimento  de  Sistemas  Baseados em Conhecimento (Luger 2005) são os indicados a seguir:   Tripletos (Objecto, Atributo, Valor) e Listas de Propriedades;    Relações de Classificação e Pertença (IS‐A e IS‐PART);    Redes Semânticas;    Enquadramentos (Frames);    Guiões (Scripts);    Regras;    Lógica.   

Ao  nível  dos  formalismos  de  representação  do  conhecimento  mais  comuns,  como  a  lógica,  frames  e  regras,  há  compromissos  ontológicos  inevitáveis.  A  lógica,  como ferramenta computacional, permite a formalização de modelos associados aos  processos de representação do conhecimento e implica um compromisso, à partida,  em visualizar o mundo através de entidades individuais e relacionamentos entre elas.  Os  sistemas  baseados  em  regras  representam  o  mundo  em  termos  de  triplos  (atributo, objecto, valor) e de regras de inferência plausíveis que os interliguem.  

Já os sistemas baseados em frames (Minsky 1974; Nebel 2001) usam o conceito  de  frame,  ou  classe,  para  representar  colecções  de  instâncias:  os  conceitos  da  ontologia (Stevens, Goble et al. 2001). Uma frame é uma colecção de atributos (slots)  e  respectivos  valores  associados  que  descreve  uma  entidade  do  mundo  real.  Os  sistemas  baseados  em  frames  permitem  implementar  mecanismos  de  raciocínio  eficazes. À luz da teoria dos conjuntos, o conceito de frame é facilmente entendido:  cada frame representa uma classe (conjunto) ou uma instância (um elemento de uma  classe). O valor de um atributo pode também ser outra frame. As frames permitem  representar taxonomias, incorporando o conceito de hierarquia de classes e herança 

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de  atributos.  Os  sistemas  baseados  em  frames  são  usados  para  a  representação  do  conhecimento,  especialmente  em  aplicações  de  processamento  de  linguagem  natural. 

As frames também podem ser entendidas como extensões às redes semânticas  (Sowa 1992). A ideia por detrás das redes semânticas é a de que o significado de um  conceito  deriva  do  seu  relacionamento  com  outros  conceitos,  sendo  a  informação  representada através de adjacências que interligam vértices. Os vértices representam  objectos ou conceitos e as adjacências representam os relacionamentos entre esses  objectos.  As  adjacências  são  dirigidas,  sendo  portanto  a  rede  um  grafo  dirigido.  As  redes semânticas foram inicialmente usadas na Filosofia, Psicologia e na Linguística,  sendo  as  primeiras  implementações  em  computador  usadas  em  aplicações  de  inteligência artificial e na tradução automática. 

Finalmente,  as  representações  do  conhecimento  são  também  um  meio  de  comunicação. É através da representação que exprimimos e comunicamos à máquina  (e  eventualmente  a  outras  pessoas)  o  conhecimento  sobre  o  mundo  real.  É  um  aspecto  eventualmente  menos  estudado  mas  cuja  importância  não  pode  ser  menorizada: se a representação não tiver poder expressivo, não for suficientemente  geral, não permitir uma comunicação ao mesmo tempo exacta e fácil, poderá pôr em  causa todo o sistema. O aspecto principal, no que respeita à representação enquanto  meio de comunicação, é a sua facilidade de utilização. 

Este capítulo está organizado da seguinte forma: começa‐se por apresentar os  conceitos  de  conhecimento,  representação  e  raciocínio,  realçando‐se  a  possível  influência  que  o  tipo  de  representação  escolhida  pode  ter  nos  mecanismos  de  raciocínio, assim como as actividades relacionadas com a gestão do conhecimento e o  seu  impacto  numa  organização.  De  seguida  são  sumariamente  caracterizados  os  sistemas  inteligentes  baseados  em  conhecimento,  identificando  as  diversas  abordagens  seguidas  para  a  construção  de  uma  máquina  inteligente.  Os  principais  paradigmas da Inteligência Artificial são ilustrados através das metáforas subjacentes 

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a  essas  abordagens:  metáfora  computacional,  metáfora  conexionista  e  metáfora  biológica.  A  seguir  são  identificadas  as  principais  técnicas  de  representação  quantitativa para o raciocínio com informação imperfeita que têm vindo a ser usadas  nos  sistemas  baseados  em  conhecimento.  Finalmente,  depois  de  apresentados  os  conceitos da operacionalização da lógica clássica através da Programação em Lógica,  é apresentada uma abordagem qualitativa, simbólica, capaz de lidar com os aspectos  da informação imperfeita, através da extensão dessa Programação. 

2.2  Conhecimento, representação e raciocínio 

É  importante  desde  logo  esclarecer  o  que  se  entende  por  conhecimento,  nomeadamente  fazendo  a  distinção  entre  dados,  informação  e  conhecimento.  A  fronteira  entre  estes  conceitos,  principalmente  entre  os  dois  últimos,  não  está  totalmente  definida,  principalmente  nas  Ciências  da  Computação,  em  geral,  e  em  particular na Inteligência Artificial. 

2.2.1  Conhecimento 

No  Dicionário  Houaiss  da  Língua  Portuguesa  (Houaiss  and  Villar  2003)  conhecimento é definido como: 

“Conhecimento:  s.  m.  o  acto  ou  a  actividade  de  conhecer,  realizado  por  meio  da  razão  e/ou  da  experiência;  acto  ou  efeito  de  apreender  intelectualmente, de perceber um facto ou uma verdade  

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A  dualidade  entre  conhecimento  e  informação  é  reconhecida  por  muitos  investigadores  na  área  da  IA.  Shaheen  Fatima  e  os  seus  colegas  (2005)  definem  informação como sendo o “… conhecimento acerca de todos os factores que afectam  a capacidade de um indivíduo em tomar decisões numa dada situação”. Por sua vez  Nikola Kasabov (1998) define conhecimento como “… informação estruturada de alto  nível.”  e  informação  “…  em  sentido  lato,  inclui  quer  dados  estruturados  quer  conhecimento.” [pág. 75]. 

No entanto, podemos dizer que existe uma hierarquia entre dados, informação  e  conhecimento.  A  informação  é  baseada  em  dados  e  é  necessária  para  formar  o  conhecimento.  A  informação  deve  ter  significado  para  um  sujeito  e  a  distinção  fundamental  entre  dados  e  informação  está  no  seu  significado  e  utilidade  (Teodorescu 2003). Os dados podem ser total ou parcialmente inúteis e não têm um  significado associado nem uma relação directa com um sujeito, ou seja, não têm um  significado  até  serem  apreendidos  e  processados  por  um  sujeito.  Por  outro  lado  a  informação tem sempre dados associados, resulta geralmente da comunicação entre  sujeitos  (Teodorescu  2003),  pressupõe  a  existência  de  um  sujeito  receptor  que  a  interpreta, fazendo aumentar o seu conhecimento, e tem utilidade para um objectivo  específico. 

Esta  distinção  entre  dados  e  informação  é  consistente  com  as  definições  em  (Turban, Rainer et al. 2001): 

Dados são factos ou descrições elementares de coisas, eventos, actividades e  operações que são registadas, armazenadas e classificadas mas que não são  organizadas tendo em vista algum fim específico. 

Informação é uma colecção de dados organizada de alguma forma, com um  dado  fim  em  vista  e  com  significado  para  alguém.  A  informação  é  obtida  através do processamento de dados. 

Conhecimento  consiste  em  informação  que  foi  processada  e  organizada  de  forma a transmitir a compreensão, a experiência, o saber ou a perícia sobre 

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um  dado  processo  de  negócio  ou  para  a  resolução  de  um  problema  específico. 

As  definições  anteriores  têm  já  subjacente  um  contexto  orientado  para  a  representação  do  conhecimento  sob  uma  forma  adequada  para  o  seu  eventual  tratamento mecanizado.  

O que é então o conhecimento? É uma pergunta que nos poderia fazer recuar  até ao debate iniciado por Platão e entrar numa discussão filosófica que extravasa o  âmbito deste trabalho. Será importante, no entanto, dizer que o conhecimento está  intimamente  ligado  às  afirmações  que  um  agente  inteligente  é  capaz  de  produzir,  com base na sua percepção do mundo real, e que correspondem a proposições que  podemos classificar como verdadeiras ou falsas num dado contexto. 

Admitindo  que  cada  agente  inteligente  tem  uma  percepção  diferente  do  mundo,  o  conhecimento  está  também  ligado  ao  conceito  de  crença.  Ou  seja,  as  afirmações  produzidas  por  um  agente  inteligente  resultam  daquilo  que  ele  acredita  que é verdade, quer, de facto, o seja ou não. 

2.2.2  Representação 

Embora muitos sistemas de Inteligência Artificial usem representações ad‐hoc,  concebidas para uma aplicação específica, a maioria dos estudos sobre representação  do  conhecimento  deriva  da  percepção  da  necessidade  de  uma  representação  unificada (Debenham 2001), capaz de representar dados, informação e conhecimento  com um único formalismo.  

A  noção  de  representação  do  conhecimento  pode  ser  explicada  segundo  diferentes perspectivas, ou papéis (Davis, Shrobe et al. 1993).  

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A  primeira  é  que  a  representação  do  conhecimento  é  uma  substituição  dos  objectos  reais,  permitindo  que  uma  entidade  use  essas  substituições  num  processo  interno – raciocínio – para determinar consequências sem interagir com os objectos  externos.  As  operações  sobre  as  representações  permitem  evitar  as  interacções  directas  com  o  mundo  real.  Esta  perspectiva  de  que  a  representação  do  conhecimento  é  um  substituto  que  permite  raciocinar  sobre  o  mundo  real  levanta  algumas questões.  

Uma dessas questões é a sua identidade, no sentido da correspondência com o  objecto representado e que é dada pela semântica da representação.  

Outra  questão  é  a  exactidão  com  que  a  substituição  representa  o  original,  sendo certo que a única representação exacta de um objecto é o próprio objecto, a  não ser que seja um objecto formal, como por exemplo as entidades matemáticas.  

Por outro lado, as representações, enquanto substituições, são adequadas para  raciocinar sobre objectos tangíveis ou intangíveis, nomeadamente noções abstractas  como processos, crenças, relações de causalidade, taxonomias, entre muitas outras.  

Admitindo  que  qualquer  processo  de  raciocínio  envolverá  sempre  objectos  naturais  (do  mundo  real)  e  objectos  formais,  as  substituições  imperfeitas  serão  inevitáveis.  Uma  consequência  desta  inevitabilidade  é  a  de  que,  num  processo  de  raciocínio  suficientemente  alargado  sobre  o  mundo  real,  poderá  eventualmente  chegar‐se a conclusões erradas, independentemente do processo de raciocínio usado  e  da  representação  utilizada.  Se  o  modelo  do  mundo  real  usado  é  imperfeito,  e  sê‐lo‐á sempre, então algumas conclusões serão incorrectas, independentemente do  rigor  do  processo  de  raciocínio  (Way  1991).  A  minimização  da  dimensão  e  da  importância  do  erro  dependerá  de  uma  boa  escolha  da  representação  do  conhecimento assim como dos mecanismos de raciocínio que lhe irão ser aplicados. 

Tomando  como  certo  que  todas  as  representações  são  aproximações  imperfeitas da realidade, cada uma incorporando determinados aspectos e ignorando  outros, então, ao seleccionar uma dada representação, estamos a tomar um conjunto 

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Figura 1.3 –Modelo de pesquisa na metodologia I‐A 
Figura 2.1 – Modelo Gestão do Conhecimento / Memória Organizacional / Aprendizagem  Organizacional de Jennex 
Figura 3.2 – Metamodelo Domino (adaptado de (Isern and Moreno 2008)) 
Figura 3.3 – As três dimensões críticas num trabalho em grupo 
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Referências

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