Capítulo
Técnica 21 é um conjunto de procedimentos concretos ligados a uma arte ou ciência e que permite a aplicação do conhecimento científico na indústria ou nos
3.3 Modelos do processo de decisão
3.3.2 Modelo Circumplexo de McGrath
A compreensão do processo e do desempenho do trabalho em grupo passa obrigatoriamente pelo estudo dos tipos de tarefas realizadas (Steiner 1972) (Hackman, Morris et al. 1975) (Laughlin 1980) (Shaw, Robbin et al. 1981) (Gladstein 1984) (Witte and Davis 1996).
Steiner (1972) organizou as tarefas em dois grandes grupos: as indivisíveis, que produzem um único resultado e que devem ser executadas em bloco, e as divisíveis. Desagregou ainda as tarefas unitárias em função da forma como o esforço dos elementos do grupo é combinado para se chegar ao resultado: tarefas disjuntivas, conjuntivas, aditivas ou arbitrárias. Hackman e o seu grupo (1975) definiram três tipos de tarefas intelectuais: produção (por exemplo a geração de ideias), discussão e tarefas de resolução de problemas. Laughlin e os seus colegas (1980) classificaram as tarefas entre colaborativas e competitivas: as colaborativas incluíam tarefas intelectuais (criativas) e de decisão, enquanto as competitivas estavam associadas a
negociação, disputa e estabelecimento de alianças. Shaw e os seus colegas (1981) identificou seis dimensões para as tarefas em grupo: dificuldade, multiplicidade de soluções, interesse intrínseco, familiaridade, requisitos de cooperação e intelectuais versus manipulativos.
O modelo circumplexo de McGrath sistematiza e classifica os tipos de tarefas, integrando muitos dos conceitos propostos por Hackman, Laughlin, Shaw e Steiner. McGrath sugere que a maioria das tarefas pode ser classificada em quatro quadrantes, correspondentes a quatro processos básicos: Gerar, Escolher, Negociar e Executar ‐ ver a Figura 3.6, adaptada de (Hancock and Szalma 2008). Figura 3.6 ‐ Modelo circumplexo de McGrath
As categorias e os tipos de tarefas estão relacionadas entre si num espaço cartesiano, onde o eixo horizontal reflecte o grau em que a tarefa exige trabalho cognitivo versus comportamental e o eixo vertical reflecte o grau de colaboração versus competição dos tipos de tarefas. Os tipos de tarefas Escolha e Execução estão nos extremos opostos do eixo cognitivo/comportamental, respectivamente. A disposição das tarefas no modelo circumplexo está feita de modo a que as tarefas vizinhas sejam as que têm mais afinidades entre si.
O primeiro quadrante – Gerar – está dividido em Tarefas Tipo 1, Gerar Planos, e Tarefas Tipo 2, Gerar Ideias. As tarefas deste quadrante, principalmente as actividades de brainstorming, estão relacionadas com a criatividade do grupo e são do tipo colaborativo ou cooperativo, no sentido em que o grupo não necessita de decidir sobre uma resposta única nem de avaliar a qualidade das contribuições dos seus membros. Cada membro pode contribuir de forma independente com as suas ideias e cada ideia original aumenta a produtividade do grupo. A necessidade de coordenação entre os membros é mínima e o grupo não precisa de chegar a um consenso. O sucesso do grupo é determinado pela quantidade e qualidade dos planos e ideias gerados, sendo certo que não há, neste quadrante, respostas absolutas, certas ou erradas.
O segundo quadrante – Escolher – contém Tarefas Tipo 3, Intelectuais, e Tarefas Tipo 4, Tomada de decisão. Agora já existe necessidade de coordenação, no sentido tradicional do termo, pois há uma interdependência entre os membros do grupo, no sentido em que as contribuições de cada um dependem, em parte, dos contributos dos outros. As Tarefas Intelectuais são aquelas para as quais existe uma resposta “correcta”, ou seja que pode ser comprovada. Compete ao grupo procurar essa resposta, que poderá ser “demonstrada” por evidências factuais ou ser obtida por consenso de um grupo de peritos. As tarefas de Tomada de Decisão não têm uma resposta “correcta”. Compete ao grupo escolher a alternativa preferida, baseada no consenso entre os membros do grupo. São tarefas mais próximas do extremo Resolução de Conflitos da dimensão vertical. De facto, como se trata da escolha de
uma alternativa preferida e não da “demonstravelmente correcta”, para chegar a um consenso é necessário partilhar não só informação mas também valores, atitudes e crenças acerca do mérito das opções.
O terceiro quadrante – Negociar – contém tarefas em que é necessário escolher entre várias alternativas e em que existe um conflito no interior do próprio grupo. As Tarefas Tipo 5, Conflito cognitivo, são aquelas em que o grupo é obrigado a resolver conflitos relacionados com diferentes pontos de vista, muitas vezes devidos a interpretações diversas da informação disponível. Nas Tarefas Tipo 6, Motivos múltiplos, o grupo é obrigado a dirimir conflitos de interesses onde, por exemplo, cada membro tem de decidir entre optimizar o seu interesse particular e o interesse do grupo, sabendo que se todos os membros decidirem pelo seu interesse particular o grupo, no seu todo, fica a perder. Outro exemplo comum é o Dilema do Prisioneiro (Poundstone 1992), onde cada membro tem a maior recompensa se for o único a assumir uma postura competitiva e tem a menor recompensa se for também o único a assumir uma postura colaborativa. Para existir sucesso no grupo ‐ chegar a um consenso ou resolver um problema ‐ as tarefas neste quadrante exigem um grau elevado de coordenação
No último quadrante – Executar – estão classificadas as tarefas que envolvem actividade manual e psicomotora. Nas Tarefas Tipo 7, Competitivas, o grupo entra em competição com outros grupos, enquanto nas Tarefas Tipo 8, Desempenho, é a tentativa de atingir um dado patamar de excelência que motiva o grupo.
O modelo de McGrath foi entretanto usado em muitos estudos sobre a dinâmica e o desempenho de grupos, comparando a eficiência destes com e sem o apoio de diversos tipos de ferramentas informáticas. Um resumo dos resultados de várias dezenas de estudos realizados nos anos noventa pode ser encontrado em (Guzzo and Dickson 1996). Refira‐se que não há uma medida da eficiência do trabalho em grupo que seja universalmente aceite. Uma definição possível, embora generalista, é dada por Hackman (1987) e Sundstrom (1990) que sugerem que a
eficácia de um grupo é indicada por: i) as características dos resultados conseguidos pelo grupo, como quantidade ou qualidade, rapidez, satisfação das partes interessadas, entre outras; ii) as consequências que o grupo tem para os seus membros; iii) a capacidade de melhoria do desempenho futuro do grupo.
Depois do seu modelo inicial, McGrath formulou um novo modelo onde apresenta os grupos como sistemas abertos complexos (Arrow, McGrath et al. 2000). Não se pretende desenvolver aqui essa nova teoria. Refira‐se, no entanto, que McGrath aponta algumas ideias que nos parecem interessantes, como a sugestão de que os grupos são sistemas dinâmicos e adaptativos, com múltiplas formas de causalidade operando em simultâneo e em vários níveis hierárquicos distintos e interligados entre si. Os grupos interagem com sistemas mais pequenos embutidos no próprio grupo (ou seja, os membros do grupo) e com sistemas mais abrangentes (por exemplo organizações, comunidades e por aí fora) onde o grupo está incluído, sendo difusas as fronteiras que, ao mesmo tempo, os ligam e separam destes outros sistemas