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PRODUÇÃO DE PORNOGRAFIA FEMINISTA: tensionado as transgressões e reafirmações. ¹

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Trabalho apresentado na 30ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2016, João Pessoa/PB.

PRODUÇÃO DE PORNOGRAFIA FEMINISTA: tensionado as transgressões e reafirmações. ¹

Aryani Ferreira Batista, PPGAS, UFG, GO. Prof. Dr. Carlos Eduardo Henning, PPGAS, UFG, GO.

Resumo

Este trabalho consiste em uma breve análise da produção de filmes pornográficos feministas. Antropologicamente discuto o que de diferente esses filmes trazem, ou seja, que impacto na indústria da pornografia a inserção das mulheres trouxe para o mercado de entretenimento adulto. Faço a análise das disputas em torno das formas de se produzir no campo da pornografia (pornô feminista, alternativo, mainstream, fetiches e bizarro). Buscando compreender os discursos teóricos feministas entre “pró-sex” e “antipornografia”, que nos anos 1970 mobilizaram boa parte das discussões entre acadêmicas feministas, que estão hoje recolocadas por diretoras de filmes pornográficos feministas. Nesse sentido, vale à pena iniciar pensando nas novas formas de agenciamento e autonomia das mulheres que atuam nesse campo. O estudo esta sendo desenvolvido com base na metodologia qualitativa, com a coleta de materiais em sites construindo uma etnografia na internet (de notícias, revistas, blogs das diretoras) e principalmente da análise de trailer e filmes.Para além dos debates feministas que estavam alocados dentro da teoria dividindo espaços entre as universidades e a militância. A partir dos anos 80 algumas mulheres começam a mesclar o feminismo com a sua própria inserção na pornografia à frente de produtoras de filmes pornográficos, com o discurso de produzirem filmes voltados para o prazer e uso de mulheres. Desenvolvo analise das diretoras/produtoras: Candida Royalle (Femme Productions), Erika Lust (Lust Store.), Ana Span, Nadia Granados (La Fulminante). Essas mulheres são importantes para o recorte que eu optei onde eu retomo as trajetórias e locais de fala de cada uma dessas diretoras, a relação que as mesmas estabelecem entre pornografia e feminismo, que embora não seja de homogeneidades ambas têm um posicionamento pro-sex, e as tensões que estão presentes nas produções das diretoras/produtoras que pesquiso que transitam pelo universo acadêmico. Tais materiais me permitiram dialogar com teorias acerca de gênero, sexualidade das mulheres, raça, consumo e relações de poder a partir de um olhar antropológico sobre o tema.

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Introdução

O presente trabalho, procura fazer alguns apontamentos, mesmo que de forma preliminar, a respeito dos diálogos e fronteiras ente o feminismo e a pornografia. Pensando em como essa relação é importante e esta contribuindo para pensar as sexualidades, principalmente das mulheres, que é o objeto de interesse da minha pesquisa. Quando digo das mulheres, estou pensado na multiplicidade de mulheres que existem, pensando que essas mulheres não estão em locais de homogeneidade, sendo traspassadas por diversos marcadores sociais da diferença.

A pornografia enquanto produções (literárias, audiovisuais e cibernéticas) esta envolvidas em inúmeras disputas onde a sua delimitação está profundamente associada ao contexto social, ao grupo que detém o poder dentro daquele contexto, para delimitar o que é cultura de massa ou não, pela crítica do mercado de entretenimento. Pela religião e moralidade. As questões políticas e legais. Pelas criticas acadêmicas, principalmente as feministas, e estéticas. “mais do que liberar a fruição dos prazeres, a pornografia legalizada explicita uma padronização dos desejos e uma domesticação dos corpos talvez nunca encontrada antes” (LEITE JUNIOR, 2006, P 15).

A distinção entre o implícito e o explicito, muita vezes pode ser pensado como o limite, para essa definição, do que é pornográfico. Mas devemos, lembrar que muitas imagens similares ou às vezes a mesma, transita entre o “erótico” e o pornográfico. Fazendo uma falsa fronteira entre o artístico e o chulo. Essas distinções, para a minha pesquisa, são importantes, pois as produtoras/ diretoras, com as quais eu trabalho, em diversos momentos, procuram utilizar outros termos, para fazerem a distinção da sua produção com a pornografia. Embora no limite, elas admitam em outros momentos, que produzem pornografia, e que dialogam com isso. Mas essas tensões serão aprofundadas mais a frente.

Por outro lado, estes mesmos agentes elaboram discursos sobre seu trabalho, chamando-o, contextual e estrategicamente, por qualificativos como erótico ou adulto. Muitas vezes, tais distinções são elaboradas com o

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intuito de se fugir do estigma. Sendo assim, ao longo do texto, tento mostrar os discursos que tais atores elaboram sobre sua ocupação e, a partir deles, analisar quando, como e por que algo é erótico ou pornográfico nessas redes. (DÍAZ-BENÍTEZ, 2012: 21).

Sendo assim, usar a pornografia para discutir sobre gênero, sexualidade, feminismo e mulheres. È um tema controverso, que faz necessário demonstrar a localização dos indivíduos, que estão produzindo, e problematizando a cerca desta temática. Ao entender que a Pornografia é uma produção mainstream, porém marginal. E que a principio foi criada por homens e para homens, com o intuito de provocar/regular o prazer e os padrões sexuais, inclusive sobre os corpos femininos, ou corpos passivos. Pensar a inserção das mulheres na teorização e produção de pornografia, é um olhar para um tema marginalizado, porém é o olhar de quem está na margem da margem. E entender as mulheres ocupando os mais diversos espaços dentro da hierarquia da pornografia, é uma transgressão, porém essa em várias nuance.

Quando falo em sexualidade aludo a Michel Foucault (1977), para quem ela deve ser tomada como um dispositivo histórico, que está mediado pelo poder, que regula, puni e premia.

Uma rede da superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências, encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas grandes estratégias de saber e de poder” (Ibid.: p. 100). Para autores como Jorge Leite (2006), a pornografia principalmente a criada nos últimos anos depois da sua disseminação devido à internet e as novas tecnologias, teve uma importância grande, para pensar a padronização das praticas sexuais, e isso está intimamente relacionado com o sistema de gênero e de sexualidade dominantes, e com a corporeidade. E até diria mais que também com outros elementos como racismo, gordofobia.

Debates entre feminismo e pornografia

Os movimentos feministas durante os anos 1970 demonstraram bastante preocupação com os efeitos da pornografia, e os impactos que ela teria sobre a vida social e privada das mulheres. Essas preocupações e debates foram intensos principalmente nos Estados Unidos, e acentuaram a divisão que já vinha ocorrendo com relação à forma de problematizar a sexualidade da mulher dentro

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do movimento feminista, onde essas correntes de pensamento ficaram conhecidas e divididas em dois grupos de teóricas feministas principalmente as estadunidenses: as chamadas “pró-sex” e as denominadas “anti-pornografia” (GREGORI, 2003).

Para além dos debates feministas que estavam alocados dentro da teoria dividindo espaços entre a universidade e a militância. A partir dos anos 80 algumas mulheres começam a mesclar o feminismo com a pornografia, mas se inserindo na indústria pornográfica, ou falando de dentro dela, uma dessas mulheres foi Cândida Royalle, uma das diretoras/ produtoras que eu pesquiso e uma das pioneiras a sair do local de atriz para diretora e produtora.

Esses debates e a produção de pornografia por mulheres possibilitaram que novas possibilidades de atuação surgissem, e novas problemáticas também. Mulheres que se denominam como feministas e estão à frente de produtoras de filmes pornográficos, que tem o discurso de produzirem filmes voltado para o prazer e uso de mulheres, estão produzindo não só pornografia, mas conteúdos acadêmicos. Falando da margem para o centro, e não somente do centro para a margem. Mas esses discursos não são homogêneos, um ponto em comum entre essas mulheres é que produzem pornografia, dialogam com a academia e as produções intelectuais feministas, e tem uma postura Pro-sex, mas entre elas é possível observar as tensões e as divergências.

. As diretoras/produtoras que optei por desenvolver a minha pesquisa são Candida Royalle, Erika Lust, Ana Span, Nadia Granados. Essas mulheres são importantes segundo o recorte que eu optei por fazer, por uma questão de viabilidade na minha pesquisa, onde tive que levar em conta a acessibilidade dos trabalhos, os locais de fala de cada uma dessas diretoras, a relação que as mesmas estabelecem entre pornografia e feminismo.

Candida Royalle, nasceu em 15 de outubro de 1950, em New York City como Candice Marion Vadala. Faleceu em 07 de setembro de 2015. Inicialmente formada em música, dança e arte em Nova Iorque, estudou em Escola Superior de Arte e Design na Universidade da Cidade de Nova Iorque. Em 1984 ela fundou a Femme Productions. Ela foi membro do Instituto Smithsonian,

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participou inúmeras vezes do Congresso Mundial de Sexologia. Em 1989, ela assinou o Manifesto Modernista Publicar Porn.

Erika Lust nasceu em 1977 na Suécia. Formou-se em Ciências Políticas pela Universidade de Lund. De todas as diretas que eu estou trabalhando neste momento, é uma das mais conhecidas midiaticamente. Fez muito sucesso com o premiado Cinco Histórias para Elas, e também o Barcelona de Sex Project. Para ela, a pornografia é um campo de prazer, erotismo e aprendizagem. Afirma que o pornô que produz se contrapõe à indústria mainstream e que os seus filmes são uma alternativa. Ela atualmente está à frente da Lust Cinema e da linha de produtos sexuais Lust Store.

Anna Span, seu nome é Anna Arrowsmith, nasceu em 1972 no Condado de Kent, na Inglaterra. Formada em Belas Artes (cinema e vídeo) escreveu a obra para uma nova pornografia, pois considerava uma parte do mercado pornô que não era muito explorada. Também retrata a pornografia com o olhar que diz ser “hardcore, mas feminista”. Atualmente está em seu último ano de Pós-Doutorado em Estudos de Gênero da Universidade de Susexx. Ela se considera uma feminista contra censura, que ela acredita que para ter a equidade de direitos não é necessário fazer censuras e restrições do acesso de determinados conteúdo.

Nadia Granados nasceu em maio de 1978, em Bogotá na Colômbia. Ela é uma performer colombiana que usa do seu corpo com uso de tecnologias para fazer a sua performance. As suas performances são diferenciadas das demais diretoras com as quais eu trabalho pois ela trabalha com curta-metragem e com performances ao vivo.

Das telas para trás das câmeras

As tensões que estão presentes nas produções das diretoras/produtoras que estão constantemente participando de seminários, palestras e concedendo entrevistas a sites, revista e jornais comentando a respeito de seus trabalhos, e também sobre as polêmicas com feministas anti-pornografia como Gail Dines, Shelley Lubben e Germaine Greer. Que traz uma clara retomada das tensões

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anti-pornografia e pro-sex, são elementos importantes para a analise da produção dessas mulheres.

Por meio da analise da produção fílmica e discursiva de quatro diretoras/ produtoras de pornografia. É possível observar que o trabalho dessas mulheres que estou pesquisando, em alguns aspectos se aproxima do sex shop Good Vibrations, analisado por Gregori (2004), onde as produções estão preocupadas com a conformação das minorias, pensado em como as mulheres tem demandas quanto à idade, raça, classe social, orientação sexual e de gênero, gostos sexuais. Poderia até apontar para uma questão do cuidado com o corpo, da sexualidade levando para um politicamente correto, principalmente de Erika, Candida. Embora, Ana Span em alguns momentos se aproxima de uma pornografia mainstream, o que faz dela uma alvo freqüente de criticas, enquanto uma produtora não feminista, e mainstream pensando na reprodução do machismo dentro das praticas sexuais, segundo a critica das primeiras citadas.

Desse modo, o rótulo “pornô feminista” é ambivalente e pode ser acionado, por determinados sujeitos e em contextos variados, seja com a intenção de promover e/ou apontar para as mudanças advindas da maior participação das mulheres nesse mercado em posições hierarquicamente superior, seja com a intenção de acusar aquelas que lançam mão desse rótulo, supostamente, apenas para “lucrar”. Sendo essa premissa uma das principais acusações entre elas. E para elas o cumprimento desta missão de promover o uso da pornografia em favor das mulheres está relacionada ao fato de que a sexualidade para as mulheres, ter sido construída socialmente, na obrigação, interdição e silenciamento. Ao mesmo tempo em que a heterossexualidade e o sexo para a reprodução, foram considerado a norma e o saudável, logo o comportamento esperado e ensinado. Diversas interdições foram sendo construídas, e passadas através da educação e da socialização, fazendo com que as mulheres desconhecessem o próprio corpo, fossem induzidas a não se interessarem/ pesarem em sexo, em sentir prazer, em usar o corpo enquanto um ato políticos e libertário. E o silenciamento que poder ser pensado como um instrumento, para que a negação da sexualidade feminina alcançasse sua máxima, onde o desejo e a liberdade de fazer sexo não fizessem parte da vida social das mulheres, ficando apenas restrita a vida privada, no maximo para uma

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conversa entre amigas. E nenhum comportamento que escape a esses moldes deve ser tolerado, negando qualquer sexualidade fora da heterossexualidade para reprodução ou dissidência.

Enquanto para homens a sexualidade principalmente a heterossexual, é tida como natural, saudável, e que necessita de inúmeros estímulos e causam varias demandas, construindo até argumentos dentro da própria biologia, de que o homem é um ser sexual, instintivo e impulsivo.

Os homens e as mulheres são construções metonímicas do sistema heterossexual de produção e de reprodução que autoriza a sujeição das mulheres como força de trabalho sexual e como meio de reprodução. Essa exploração é estrutural, e os benefícios sexuais que os homens e as mulheres heterossexuais extraem dela, obrigam a reduzir as superfícies eróticas aos órgãos sexuais reprodutivos e a privilegiar o pênis como único centro mecânico de produção de impulso sexual. (Preciado, 2006 Pag. 26)

Essa tensões mostram que a inserção das diretoras no campo da pornografia não está sendo de forma tão suave como ao aparenta ao lermos nas matérias sobre a mudança que o pornô feministas esta causando no mercado da pornografia. Pois traz à tona a disputa por espaço, para se inserir em um mercado, que já tinha suas velhas formulas consagradas e que move muito dinheiro, mas para, além disso, por ser um mercado marginalizado, que aciona temas que são delicados quando associado ao feminismo a consumo, venda, lucro. Causando a desconfiança e acionando categorias de acusações, internas ao campo (de uma diretora conta a outra) e externas a ele de produtoras do circuito mainstream e feministas anti-pornografia.

Candida Royalle com foi uma das pioneiras, tem uma forte influência dentro do campo da pornografia feminista, a sua opinião é muito levada em conta, principalmente no que diz respeito a críticas relacionadas à produção dos filmes feministas e muitas vezes ela alega estar desapontada pelo fato de que algumas diretoras não estão se diferenciando dos filmes mainstream. A principal problemática apontada por ela está relacionada às práticas sexuais que estão contidas nas películas, e sempre percebemos isso sendo apontado em entrevistas concedidas por essas diretoras, e também em suas páginas pessoas e de trabalho.

Sinto-me muito orgulhosa, claro. Há algumas mulheres na Europa que estão fazendo coisas muito inovadoras, como a alemã Petra Joy, da Strawberry

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Seductress, e a sueca Erika Lust, da Lust Films. Mas estou um pouco desapontada porque o trabalho de algumas mulheres que estão entrando no mundo dos filmes adultos não é assim tão diferente do pornô comum. Alguns desses filmes são um pouco grosseiros e muito explícitos. É difícil ver alguma diferença em relação aos pornôs comuns. E isso é muito irritante. Infelizmente, algumas pessoas acham que apenas colocar o nome de uma mulher como diretora torna o filme feminista. (CANDIDA ROYALLE, Época, 2009).

As práticas se tornam importantes, para pensar a produção de filmes pornográficos feministas, pois para essas diretoras o seu diferencial é produzir um filme onde as mulheres ao assistirem, se sintam representadas, diversas vezes em suas paginas de trabalho, Candida, Erika e Anna, alegam que é importante as mulheres se sentirem bem, excitadas, e não um incômodo ou uma sensação de obrigação em reproduzir performances ou práticas que possam ser dolorosas ou remetem a sentimentos negativos.

Elas alegam produzir filmes com uma iluminação, roteiro, trilha sonora, diálogos, e práticas sexuais voltadas para as demandas que as mulheres pedem. Tomando muito cuidado também com a escolha dos atores e atrizes. Em diversos momentos elas descrevem a necessidade de se distanciar dos exageros que para elas é típicos dos filmes pornográficos mainstream, sendo esses exageros, atrizes muito maquiadas, muito magras, com silicones muito grandes nos seios ou nadegas, unhas postiças enfim, todos os elementos que são típicos dos corpos que transitam nos filmes pornográficos consagradamente desenvolvidos para homens.

Do mesmo modo como os músicos treinam longas jornadas até dominarem seus instrumentos, atrizes, atores e travestis investem dinheiro e tempo no cultivo do corpo, um corpo pensado também como mercadoria. Neste sentido, assemelham-se a esportistas, modelos e pop stars, entre outras profissões. Assim, associam rotinas cotidianas em academias com dietas, hábitos alimentícios saudáveis, tratamentos de beleza como spilling facial, tratamentos para o cabelo, unhas, depilação, lentes de contato, bronzeamento artificial (para deixar a pele morena e imprimir a marca do biquíni), clareamento de dentes e cirurgias estéticas, especialmente lipo-sucção e silicone nos seios. É freqüente ainda que além dos homens – entre os quais isto é relativamente comum – e das travestis, as mulheres também façam uso de métodos como bombear-se com hormônios e medicamentos especiais (alguns utilizados em tratamentos veterinários) para arredondar glúteos e pernas e eliminar a celulite. (DÍAZ-BENÍTEZ, 2012: 118). Assim, pode-se observar que no discursos as produtoras feministas procuram demonstrar que se distanciam das preparações do corpo para a

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produção de pornografia. Embora ao fazer uma analise dos filmes destas diretoras é possível observar que embora Candida e Erika ao procurar se distanciar dos exageros, não se desvinculam dos corpos que tem um padrão hegemônico de beleza dominante, pois ainda se observam atrizes magras, brancas, jovens na maioria das suas produções, salvas algumas raras exceções, que ficam alocadas em um catalogo diferenciado, exemplo a femme chocollate, que é para a produção de pornografia para pessoas negras.

Com relação às praticas sexuais reproduzidas nos filmes feministas muitas diretoras procuram não colocar em seus roteiros cenas de sexo anal, com múltiplas penetração, roteiros que remetam a violência: exemplo estupros. E qualquer pratica que aluda a falta de consentimento. Essas práticas sexuais segundo o discursos destas diretoras, principalmente Erika e Candida é algo que remete a experiências negativas para as mulheres, apesar de ser uma prática que deveria proporcionar prazer, mas causam dor e constrangimento, devido à forma como ela é executada, principalmente nos filmes mainstream, na verdade não se tem a intenção de causar prazer a mulher que pratica. A prática de sexo anal nos filmes pornográficos mainstream, na verdade está focado em demonstrar a elasticidade do orifício anal, e dominar e subjugar o corpo que está sendo penetrado.

A prática do sexo anal consiste em um domínio de uma técnica corporal onde as atrizes ou as travestis, ou qualquer corpo que seja penetrado pelo orifício anal, necessita passar por um processo de preparação do corpo, que é típico das produções pornograficas, denominada de vaginização do ânus (fazer a limpeza das paredes do ânus e do intestino, o uso de relaxantes musculares, pomadas a base de xilocaína e o alargamento do ânus). Sendo assim, o sexo anal tal como é reproduzido nas películas passa por todo um processo de controle e técnicas específicas para desempenhar esse papel.

Para o hard core, a vagina é um lugar de prazer, por isso, ela é exibida minuciosamente nas fotografias, no clipe, no sexo oral e nas penetrações, visando atender a todos os gostos. No entanto, as práticas com ela efetuadas na pornografia comercial parecem compor um ritual que abre caminho a “algo maior”, constituindo a antecipação de um sexo integral, estranho, que só pode ser completado mediante a prática do sexo anal. (DÍAZ-BENÍTEZ, 2012: 118).

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Porém os filmes fazem parecer que é uma coisa natural, que todas as mulheres e pessoas estão aptas a praticar o sexo anal tal qual esta sendo demonstrado nas películas(com agilidade, e uma excitação rápida), fazendo transparecer que as mulheres que não conseguem desempenhar o sexo anal como é retratado no filme, não são aptas para uma praticas sexual plena, e também causa muita frustração para as pessoa que desejam praticar, por não conseguir com a ‘facilidade’ que é reproduzido na maioria dos filmes. Pois a distinção entre o que é ficcional para os estudiosos de pornografia, parece obvio, devido o conhecimento das praticas que permeiam e viabilizam a performance, mas para os consumidores, parece que é tudo natural , pois é essa a intenção dos filmes.

Atualmente, o sexo anal não é mais uma simples modalidade da pornografia, confundindo-se e entrecruzando-se com a corrente principal, a ponto de ser ele próprio considerado mainstream, fazendo parte do repertório-chave de (dis)posições sexuais. Na rede de produção de filmes pornográficos que pesquiso, fazer sexo anal é atualmente uma obrigação para a mulher que deseje ingressar na carreira ou participar temporariamente desse mundo; uma resposta negativa pode fechar as portas da indústria. (DÍAZ-BENÍTEZ, 2012: 121).

Os debates entre feministas pro-sex e anti- pornografia se acirram quando diz respeito às práticas sexuais e a violência, principalmente quando essas duas se misturam. Por isso Candida e Erika tem tanto cuidado com relação às essas praticas sexuais, que podem ser entendidas enquanto ambíguas. Elas propõe inversões, uma performance sadomasoquista, mas sempre colocando a mulher no controle. É muito comum observar nas descrições de filmes mainstream, principalmente às de sexo anal hardcore, que essas fronteiras estão muito borradas, principalmente com relação ao consentimento. E pode-se apontar que quanto mais transgressora for à prática, maior seria a virilidade e masculinidade colocada nela, e maior seria a fragilidade das atrizes. E é exatamente disso que elas procuram se afastar.

Eu tenho evitado usar cenas de sexo anal, não só pelo fato de que mulheres não gostam (até porque, certamente, existem mulheres que apreciam), mas por ser algo obrigatório na indústria pornográfica convencional. Ao apelar para um público que quer algo diferente do que havia em pornografia até então, eu tento criar novas cenas e diferentes formas de sexualidade. (ERIKA LUST, 2012).

Anna Span é uma das diretoras que produz os filmes pornográficos feministas que mais gera controvérsia no meio, pois foge do politicamente correto ela assume em

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suas entrevistas que produz filmes com muito sexo anal, dupla penetração, extremamente explícitos, com ângulos diferenciados que dão o ponto de vista feminino durante as filmagens, ela diz que quando a mulher faz sexo à visão que ela tem é a do homem, e que nos filmes dela ela reproduz isso, porque segundo ela essa é a fantasia e a curiosidade feminina, e isso é uma diferenciação da pornografia mainstream, pois nela a câmera foca o ponto de vista (POV) da mulher. Ela tem demonstrado que o mercado pornográfico apesar de ser restritivo em partes, em outras ele abre espaço para outras sexualidades.

Ana é uma forte ativista, não tem demonstrado estar abalada com as pressões internas de suas colegas de trabalho e nem com as pressões externas de acadêmicas e feministas anti-pornografia.

Nadia Granados é uma performer colombiana que usa do seu corpo com uso de tecnologias para fazer a sua performance. Ela se inclui enquanto uma feministas pós-porno. Procura usar os temas de violência contra a mulher, violência estatal, machismo, reforma agrária, e muitas outras questões políticas para desenvolver o conteúdo de suas obras. Sua personagem se chama La Fulminante.

Annie Sprinkle é apontada como a percussora do pós-porno, quando começou a fazer performances sexuais e convidar as pessoas a fazerem reflexões acerca das performances e das praticas sexuais, o seu livro “Post- PornModernist” consolida as suas performances e questionamento, dando uma nova interpretação do que seria sexo ao vivo, e para que ele serve. O pornô terrorismo de Diana Torres, também está em dialogo com essa vertente pós-porno, sendo entendido como práticas da puta que faz o patriarcado tremer, segundo ela.

Essa vertente pós-porno, não propõe o fim da pornografia, e sim que ela seja resignificada, e que aproveite das novas tecnologias para elaborar e executar a suas performances.

Essas idéias se encontram fortemente associadas à noção de performantividade de Butler (2003), pensado em usar o corpo e a performance como uma ferramenta política, sendo necessário separar três categorias da

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corporeidade: sexo anatômico, identidade de gênero e performance de gênero, esses três elementos se constroem separadamente dando lugar a uma performatividade corpórea determinada.

A noção de contrassexualidade de Preciado, que afirma “A Contrassexualidade tem por objeto de estudo as transformações tecnológicas dos corpos sexuados e generizados” para a autora a identidade performativa de Butler junto com a política ciborgue de Donna Haraway, servem para pensar a contrassexualidade propõe pensar sexo e a sexualidade, não apenas gênero como tecnologias complexas, sendo necessário fazer conexões políticas e teóricas entre os dispositivos e artefatos sexuais.

O nome contrassexualidade provem indiretamente de Michel Foucault, para quem a forma mais eficaz de resistência à produção disciplinar da sexualidade em nossas sociedades liberais não é a luta contra a proibição( como aquelas propostas pelos movimentos de liberação sexual antirepressivos dos anos setenta), e sim a contraprodutividade, isto é, produção de formas de prazer-saber alternativas a sexualidade moderna. (Preciado, 2011).

Considerações finais

Os apontamentos presentes neste trabalho mesmo que de forma preliminar, leva a compreensão de que forma a pornografia enquanto um fenômeno social e cultural, no âmbito da sua organização, traz a tona o reflexo das categorias e normatizações a cerca de gênero e sexualidade, e de como o desejo e as representações e performances estão reguladas e reproduzidas em seu interior. A produção e teorização de mulheres sobre pornografia vem sendo uma contribuição importante, tendo em vista a quebra das formulas consagradas, e possibilitando que outros trajetos possam ser feitos.

Cada uma das diretoras/produtoras que eu estou pesquisando, contribui para pensar de forma antropológica, como gênero, sexualidade, corpo e feminismo estão inseridos em suas produções e o impacto que isso causa na indústria da pornografia. A inserção das mulheres dentro deste campo marginal, que é a pornografia, traz um olhar novo, e novas possibilidades de leituras e interpretações, transgredindo o que já estava estabelecido e estável. Como

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Spivak, traz em sua obra, pode o subalterno falar? (2010), as problemáticas das mulheres são constantemente silenciadas, nunca sendo prioridade. “Não há nenhum espaço a partir do qual o sujeito subalterno sexuado possa falar”. Não pensado no ato de falar em si, mas para quem fala, quem escuta, e onde essa fala influencia ou afeta.

Mas pensar sobre sexo e sexualidade, no que diz respeito às mulheres, é uma tarefa urgente, e os desdobramentos entre a militância e a academia, cada vez mais acirrados e com as margens tão borradas se fazem presentes, possibilitando reflexões mais interessantes, pois são capazes de dar voz a mulheres e levar o conhecimento em espaços mais amplos e distantes, onde a academia não alcança. Sendo, por meio da pornografia e/ou do ciberativismo, as pesquisas e atuações feministas, conseguem se propagar em uma forma de rede, aonde o conhecimento vai se espalhando e alcançando um numero grande de mulheres.

E, se a pesquisa feminista encontra êxito sob tal aspecto, então seu sucesso reside firmemente no relacionamento- e em sua representação- entre a pesquisa (gênero) e o movimento feminista(vida). O jogo do contexto é criativo, devido à continuidade expressa entre as finalidade das feministas enquanto pesquisadoras e das feministas enquanto ativistas. Os objetivos podem ser percebidos de diversas formas, no entanto, a pesquisa é, ao final, representada com livre de molduras por um conjunto especial de interesses sociais. As feministas discutem entre si, com suas várias vozes, pois também se reconhecem como um grupo de interesse. (STRATHERN, 2013:80)

Sendo assim, o que essas diretoras, apesar de seus conflitos e afinidades, desejam dar voz e visibilidade a sexualidade feminina, visando sempre pelo consenso nas pratica tornado isso a sua busca comum. Embora cada uma produza um tipo de pornografia diferente da outra, que está marcado por suas vivencias, e sua preocupações sendo essas comum no momento que é desarticular o sistema patriarcal.

O subalterno não pode falar. Não há valor algum atribuído à “mulher” como um item respeitoso nas listas de prioridades globais. A representação não definhou. A mulher intelectual como uma intelectual tem uma tarefa circunscrita que ela não deve rejeitar com um floreio. ( SPIVAK, 2010:126

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Referências

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