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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA (PPGS) SELEÇÃO DE MESTRADO 2014/2015 PRÉ-PROJETO DE DISSERTAÇÃO LINHA

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (UFF)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA (PPGS) SELEÇÃO DE MESTRADO – 2014/2015

PRÉ-PROJETO DE DISSERTAÇÃO

LINHA DE PESQUISA: PODER, ESTADO E CONFLITO

TÍTULO: AS DISPUTAS PELA IDENTIDADE MAIA NA GUATEMALA CANDIDATO: THIAGO JOSÉ BEZERRA CAVALCANTI

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INTRODUÇÃO

A identidade maia, tal qual é entendida hoje, refere-se antes a um grande tronco linguístico composto por 31 línguas distintas. Tal definição partiu da academia, e é preciso destacar que, originalmente, apenas uma dessas línguas era, do ponto de vista da autoidentificação, Maya: a iucateca. Como os maias iucatecos estavam precisamente na região inicialmente invadida pelos espanhóis, isto certamente foi definitivo para que os outros grupos parecidos fossem também chamados de maias.

Com a ditadura e a guerra civil na Guatemala, houve um empoderamento desta identidade maia mais ampliada por parte dos indígenas, maias por direito sob o ponto de vista linguístico. Até bem pouco tempo (já numa altura bem avançada do século XX), os indígenas não autoidentificavam-se como maias, mas sim K'iche', Kaqchikel, Mam, etc, sendo de antropólogos e outros acadêmicos a prerrogativa de identificá-los como maias.

Tratou-se, portanto, tanto de buscar, a partir da identidade maia, uma unidade maior frente às ameaças do Estado, quanto de reinvidicar seus direitos e seu passado glorioso, o mesmo que tanto fascina, até os dias de hoje, o “homem branco”. Está claro, sem dúvida, que tal unidade identitária sempre foi de alguma maneira frágil, frente à ampla diversidade étnica que existe na prática, e isto se evidenciou ainda mais com as fragmentações políticas após os acordos de paz. Me interessa, então, precisamente as disputas atuais em torno de projetos que visam forjar tal identidade unificada.

Em Janeiro de 2012, estive na Guatemala após 1 ano na graduação, em Ciências Sociais. Aquela viagem, ainda que curta, foi planejada também para servir como uma primeira experiência de cunho mais etnográfico naquele país, na ânsia de um maior contato com os maias contemporâneos. Considerando a dificuldade da falta de tempo, e a maior facilidade de acesso, acabei visitando algumas instituições alegadamente maias.

Conheci diferentes ONGs e associações com distintos propósitos, mas especialmente em associações de sacerdotes maias (em língua maia, Ajq'ijab', autoridades guardiãs dos calendários) me confrontei com uma dura realidade guatemalteca. Foi no campo, e na interlocução direta com algumas lideranças dessas instituições maias, que tornou-se claro para mim a existência de uma disputa política em torno da própria definição do que é “maia”, “ser maia”, e do que é “calendário maia”.

Aqueles encontros me deixaram por demasiado inquieto, já que ficou claro, para mim, uma disputa entre os próprios maias por hegemonia. A tentativa de forjar

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lideranças pan-maias (capazes de supostamente representar todas as etnias maias e eventualmente unificá-las) parece acompanhada de uma forma de fazer política que nos remete aos opressores históricos dos maias. Há a impressão de que o objetivo de alguns maias é ganhar influência junto ao Estado nacional e ao capital nacional e internacional. OBJETIVOS

Neste pré-projeto, o objetivo principal é o de revisar a história do movimento pan-maia na Guatemala e atualizá-la a seus episódios mais recentes, como o “ciclo de 2012”. Com a abertura gradual da Guatemala, este movimento passou a ser cada vez mais incluído nas políticas de Estado. A constituição de 1993, em seu artigo 66, prevê que o Estado deve proteger, reconhecer, respeitar e promover os grupos étnicos maias. Às vésperas de 1997, ocorreu a assinatura de um definitivo acordo de paz, e então veio a conjuntura ideal para que se colocasse em prática ainda mais o previsto na constituição.

Um ponto importante a se destacar, é que o Estado não necessariamente voltou-se às comunidades maias, mas, aparentemente, ajudaram a legitimar as figuras indígenas que orbitavam seu centro de poder e buscavam fazer parte dele ou beneficiar-se dele de alguma maneira. Aqui entram, por exemplo, várias ONGs que buscaram reconhecimento oficial e, consequentemente, financiamentos oficiais, em busca também de legitimar-se, junto ao Estado, enquanto instituições capazes de representar os maias.

Existe, ainda hoje, resistência em relação a movimentos de esquerda, geralmente oriundo do fato de que algumas guerrilhas que combatiam a ditadura também maltrataram comunidades maias. Além disso, há também a denúncia de que muitos marxistas parecem ter demonstrado pouca sensibilidade para lidar com a grandíssima diversidade maia, que só na Guatemala conta com 22 etnias. Dessa maneira, a esquerda tem, para muitos maias, a imagem de quem impõe seus métodos políticos e categorias kaxlan (“não-maias”). Para críticos maias, a preferência pela unidade do proletariado em detrimento da diversidade étnica é esvaziada de esforços mais antropológicos.

Como objetivos específicos, destaco, primeiro, a realização de um estado da arte acerca das tensões entre o movimento pan-maia e as esquerdas, que aparecem – para citar um exemplo – na escrita do antropólogo maia Jakalteka Victor Montejo. Outros objetivos que movem meu interesse são o de analisar as relações entre o movimento pan-maia e as comunidades maias, e também o de problematizar a importância e os usos

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dos calendários maias para a realização de projetos políticos pan-maias, e de que maneira eles se diferenciam em relação às tradições comunitárias.

ALTERNATIVAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS

No âmbito teórico, além do já mencionado Victor Montejo, parto também de autores como Kay B. Warren, José Roberto Morales Sic, Aura Cumes, Santiago Bastos, John Watanabe e Edward Fischer, e “clássicos” como Georg Simmel, entre outros. Para Montejo, é possível compreendermos o empoderamento da identidade maia da Guatemala como uma renascença intelectual: especialmente a partir dos anos 80, vemos cada vez mais maias inserindo-se na academia e tornando-se lideranças importantes na própria busca por direitos e conscientização acerca da história de seus antepassados.

Particularmente, me parece interessante a proposta de Watanabe no sentido de “desimaginar” os maias. Isto implica numa desnaturalização das idealizações acerca dos maias, incluindo aquelas reproduzidas e reforçadas por cientistas sociais no passado. O autor destaca que os movimentos pan-maianistas buscam também escrever sua própria história (isto é, a história maia), descolonizando-a.

Já Warren lembra que, para os detratores, os líderes pan-maias não são vistos como indígenas e nem como ladinos (mestiços), mas como uma terceira etnicidade, evidenciando ainda mais os problemas dos conflitos que aqui se almeja estudar. De acordo com a minha experiência etnográfica, tais detratores podem ser tanto acadêmicos quanto maias mais tradicionalistas e preocupados com as comunidades, por exemplo.

Dentre minhas alternativas metodológicas posso destacar, além da revisão bibliográfica, a etnografia e a netnografia. Estou imerso nas questões que envolvem os projetos de maianidade e a definição de suas fronteiras, e tenho contato cotidiano, através da internet, com uma ampla rede de contatos maias e maianistas. Isto faz com que a netnografia ou etnografia virtual, a análise de documentos e postagens virtuais e entrevistas através da rede se tornem alternativas metodológicas bastante pertinentes.

Vi de perto a intolerância que maias tradicionalistas mais radicais podem ter, e sofri pessoalmente a censura de nativos que negam alteridade a outros indivíduos que são plenamente aceitos enquanto maias em outros círculos. Neste sentido, estou imerso nesses conflitos, interfiro conscientemente nos debates pertinentes aos maias e me engajando politicamente, o que torna uma abordagem sociológica ainda mais desejável.

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ESBOÇO DE BIBLIOGRAFIA

ALVAREZ, Sonia E.; DAGNINO, Evelina; ESCOBAR, Arturo (orgs.). Cultura e Política nos Movimentos Sociais Latino-Americanos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000.

BARROSO HOFFMANN, Maria. Fronteiras étnicas, fronteiras de Estado e imaginação da nação: um estudo sobre a cooperação internacional norueguesa junto aos povos indígenas. Tese de Doutorado em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ. Rio de Janeiro, 2008.

BASTOS, Santiago; CUMES, Aura (orgs.). Mayanización y vida cotidiana: la ideología multicultural en la sociedad guatemalteca (4 vol.). Guatemala: FLACSO, 2007.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989.

FISCHER, Edward. Cultural Logic and Maya Identity: Rethinking Constructivism and Essentialism. Current Anthropology, Vol. 40, No. 4. Chicago: The University of Chicago Press, 1999.

JACKSON, Jean E.; WARREN, Kay B. (orgs.). Indigenous Movements, Self-Representation, and the State in Latin America. Austin: University of Texas Press, 2002. MONTEJO, Victor. Maya Intellectual Renaissance: Identity, Representation, and Leadership. Austin: University of Texas Press, 2005.

MORALES SIC, José Roberto. Religión y política: el proceso de institucionalización de la espiritualidad en el movimiento maya guatemalteco. Guatemala: FLACSO, 2004. PERES, Sidnei Clemente. Cultura, política e identidade na Amazônia: o associativismo no Baixo Rio Negro. Tese de Doutorado em Ciências Sociais pela Unicamp. Campinas, São Paulo, 2003.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 63. Coimbra: CES, 2002.

SIMMEL, Georg, A natureza sociológica do conflito. In: Moraes Filho, Evaristo (org.). Simmel. SãoPaulo: Ática, 1983.

WARREN, Kay B. Indigenous Movements and Their Critics: Pan-Maya Activism in Guatemala. Princeton: Princeton University Press, 1998.

WATANABE, John. Unimagining the Maya: Anthropologists, Others, and the Inescapable Hubris of Authorship. Bulletin of Latin American Research, Vol. 14, No. 1. New York: Wiley, 1995.

Referências

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