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Os coronéis, as armas e a justiça

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Academic year: 2021

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Os coronéis, as armas e a justiça

Valmiro Ferreira Silva Graduado em História pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes Mestrando em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia, bolsista CNPq

Email: valmirofs@yahoo.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Sedição; Eleições; Poder KEYWORDS: Sediction; Elections; Power

Comentários:

Esta transcrição é fruto de uma pesquisa realizada durante o ano de 2007 na cidade de São Francisco, Norte de Minas Gerais. Na ocasião, atuava como pesquisador bolsista FAPEMIG digitalizando processos cíveis e criminais do século XIX, sobretudo os que envolviam escravos e demografia nos contornos da região Norte de Minas. “Sedição Januária do Amparo 1872”.

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O seguinte título na capa do processo instigou-me para a leitura da fonte em português arcaico, revelador e surpreendente a cada folha. Das indagações que vieram à tona, a primeira foi tentar desvendar como um processo criminal do final do século XIX, ocorrido na cidade de Januária, se encontra em São Francisco, cidade vizinha? E qual a relação que circundavam essas cidades? Por que um documento daquela cidade estava em São Francisco desde o final do século XIX? Para entender esta questão é preciso esclarecer alguns pontos. O documento encontra-se nos arquivos da ONG Preservar, é uma instituição que mantém e preserva documentos, processos cíveis e criminais datados a partir do início do século XIX, e outros manuscritos. O objetivo da ONG é auxiliar estudantes em pesquisa e trabalhos escolares. O acervo documental desta ONG é riquíssimo e variado. São documentos desde 1831 até meados de 2000. Nesse universo é possível

1 Esta fonte encontra-se no Núcleo de pesquisa e preservação do patrimônio cultural de São Francisco – ONG PRESERVAR.

Localiza-se na Avenida Olegário Maciel, N° 1021, Centro, São Francisco-MG. A fonte é a seguinte: Sumário de Culpa.

Sedição. 1872. Estante 04, Caixa 07, Documento 03. Do conteúdo da ONG já saíram pesquisas de enormes contribuições, possibilitando novos debates com a historiografia, como teses de doutorado e pós doutorado, mestrado e inúmeras monografias. Pesquisadores renomados já visitaram e pesquisaram nos acervos desta ONG.

Tais como:

- BOTELHO, Tarcisio Rodrigues. Projeto digitalização, disponibilização do acervo dos autos findos século XIX da comarca de São Francisco (MG). EDT2874/06. Belo Horizonte/São Francisco. FAPEMIG, 2007.

- CAMELO FILHO, José Vieira. Rio São Francisco: problemas e soluções, uma questão de políticas públicas. 408 fls.

Tese (Pós-doutorado em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2005.

- LIMA, Marcela Telles Elian de. Pelas margens do São Francisco: trajetória histórica e ficcional de Antonio Dó. 108 fls.

Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006.

- RODRIGUES, Rejane Meireles Amaral. Antonio Dó: um bandido social das margens do rio São Francisco 1910- 1919. Dissertação (Mestrado em História) - Instituto de História, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2004.

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encontrar documentos a respeito de escravos, demografia, arrolamentos, testamentos, divisão de terras, inventários, sumários de culpa, Atas da Câmara Municipal de São Francisco e da cidade de São Romão, desde o início do império até a metade da república. O acervo desta ONG possibilita o acesso de estudantes em geral.

Os documentos do século XIX compreendem, sobretudo, as cidades de São Francisco e São Romão (antiga Comarca do Rio São Francisco). Isso porque, São Francisco no início do século XIX pertencia ao município de São Romão. Entretanto, em fins do século XIX, a sede municipal foi transferida para São Francisco e a Vila Risonha de São Romão passou a fazer parte do município de São Francisco, (na ocasião, atendia-se pelo nome de Pedras dos Angicos). Com a transferência dos foros administrativos, todo o corpo político e judiciário transferiu-se junto para a nova sede, sendo que todos os documentos da jurisprudência passaram a ser armazenados e julgados em Pedras dos Angicos. Nesse ínterim, alguns episódios acontecidos na região e os que haviam sido julgados em São Romão foram arquivados em São Francisco. Ou seja, o referido processo julgado em São Romão foi transferido para São Francisco junto com a administração.

Outro ponto deve ser esclarecido, os documentos, incluindo este, não foram armazenados e conservados por iniciativa pública ou judiciária local. Muito pelo contrário, os documentos seriam incinerados. Um membro da ONG Preservar recolheu-os do local onde estavam jogados e teve a iniciativa de colocá-los num prédio e disponibilizá-los ao público.

Considero esta fonte de suma importância, especialmente, para debates a respeito da transição do império para a república no interior do Brasil. Houve uma mobilização de parte dos moradores da cidade, prós e contra os sediciosos que eram vinculados ao Partido Liberal tentando romper uma supremacia Conservadora que dominava a cidade. Os liberais, além de lutarem contra os opositores tentavam armar a população e comandar os rumos da cidade a partir daquele episódio.

Os movimentos ou adeptos de uma república no Brasil não ocorriam somente nos grandes centros. Neste processo de sedição ficam explícitos os desejos de partidários prós e contra a república. Alguns dos envolvidos possuíam grandes prestígios na região e até mesmo no país recorrendo algumas vezes a políticos de renome nacional para que interviessem na questão.

Numa parte do processo em que são explícitos os motivos e argumentos para punir os réus, a promotoria acusava-os de tiranos, comparando-os a Herodes, atemorizador de crianças e os classificava como Republicanos titãs que significava subversivo na época.

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2 CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite imperial. Teatro de Sombras: a prática imperial. Rio de

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Ao fim do julgamento no dia 18 de fevereiro de 1873, todos os réus foram absolvidos e considerados inocentes por unanimidade. Pesquisando sobre a cidade de Januária em obras de memorialistas e cronistas da região, encontrei várias crônicas ou “lendas” que faziam menções a acontecimentos semelhantes a esta sedição. Ao que parece os “boatos” do motim e do julgamento foram passando por gerações. Além do mais, prevalece nesses estudos passagens sobre um dos principais líderes políticos e cabeça da sedição, o Tenente Coronel Manoel Caetano de Souza e Silva, que deixou uma herança política na cidade. Seu filho, Coronel Lindolfo Caetano de Souza e Silva exerceu importantes cargos como os de Agente Executivo da cidade, Deputado Provincial, Deputado Estadual Constitucional e Deputado Federal pelo Partido Republicano Nacional em fins do século XIX e início do século XX.

Esta sedição pode estar ligada à conturbada história e formação política de Januária que desde a formação de Vila estava acometida por disputas entre sedes administrativas e paroquiais.

A mesma localidade possuía duas comunidades, Brejo do Amparo e Porto do Salgado que por

divergências políticas de seus respectivos representantes alternaram na sede administrativa e

paroquial durante anos. Essas contendas de transferências da sede administrativa entre os

povoados prolongaram-se até 1860, quando a Vila foi elevada à categoria de cidade, tendo como

sede Porto do Salgado e, em 1884 foi criada a Comarca de Januária. Acredito que o uso desta

fonte possa nos direcionar para outras esferas e fontes que estão se tornando disponíveis a partir

do uso de multimídias. Grande parte dos processos-crimes que não são incinerados ainda está

nos “porões” e necessita de olhares atenciosos tanto para sua preservação quanto para sua

exploração abrindo leques para outras histórias a respeito de nossa sociedade.

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Transcrição do documento:

SUMÁRIO DE CULPA SEDIÇÃO 1872 [capa]

Cidade de Januária 28 de Agosto de 1872 [contracapa]

Sedição [denúncia]

Januária do Amparo, denúncia apresentada pelo promotor público.

Denúncia contra o Tenente Coronel Manoel Caetano de Souza e Silva, Ricardo Gomes Lagoeiro, Alferes Marcelino Isidoro de Mello, Vicente Antonio de Castilho, Francisco de Ozeda Alla, Tenentes Seraphim Barbosa da Silva, José Antonio Pereira de Meirelles, Alferes Martiniano José Cabelludo, Antonio da Silva Couto, Linceste Alexandrino de Salles, Onofre José da Cunha Sucupira, e Joaquim Dias Moreira no Mocambo. [fl. 1].

No dia 19 do corrente mês de agosto, com armas hiam atacar o povo e as authoridades na Praça da Matriz do Porto de Januaria para as eleições. Foi premeditado e os fins conhecidos. De há muito elles propalavão q pelas eleições do mesmo anno do dia 18 teriam de promover grandes desordens, derramamento de sangue, mortandade, desta forma haveriam de alcançar a vitória nas eleições. Elles já estavam com bastante armas e já espalhavam boatos que deveriam aproveitar qualquer occasião e motivo para praticar seus planos. [fl. 2].

As 10 ou 11 horas da manhã do dia 19 de agosto o Subdelegado procedia busca em uma casa ao lado da Matriz dizendo ser esta casa o canto dos scelerados devendo existir ahi grande porção de armas.

Vicente Antonio de Castilho e o Tenente Coronel Manoel Caetano de Souza e Silva procurando estraviar a busca blateravão contra as aucthoridades e executores da diligencia e saem precipitados, correndo a rua Direita abaixo chamando o povo ás armas, vão á rua da Mangueira e se armam. Vão á casa de Ricardo Gomes Lagoeiro que as distribui ao povo, reúne grande massa de desordeiros. Cada vez mais se engrossa cerca de duzentas pessoas. Se encaminhão para a praça anunciando de morte a todos quantos chamão governistas. [fl. 3].

Enquanto se opera este movimento deste lado, do outro lado na rua do Comércio outro

aparato de ataque. O Tenente Coronel Seraphim Barbosa da Silva e José Antonio Pinto de

Meirelles armaram seus apaniguados, de concerto para investirem a praça acommettendo os

dependentes pela retaguarda. Enquanto os sediciosos preparam o ataque o Capitão José Joaquim

da Rocha aparece fardado em frente que guardava a embocadura da rua Direita e com revolve em

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com receio de que o Capitão fazesse uso do revolver contra elle, mas um soldado o tornão.

Controlão o Capitão. [fl. 3v].

Neste momento chega o Delegado Bertholdo José Pimenta que toma o Capitão das mãos dos soldados, acalma-o e em vista da atitude belicosa que achava todo o povo toma o acordo de leva-lo para casa. Ao chegarem em casa são cercados pela turba capitaneada pelo Tenente Coronel Manoel Caetano de Souza e Silva, Ricardo Gomes Lagoeiro e outros que hiam em direção a praça. O Tenente Coronel Manoel Caetano de Souza e Silva proclama o povo que prende o delegado a quem chama de anarchico. O delegado lança-os atentados que principião os sediciosos. [fl. 4].

O delegado desarmado ordena o povo que desarme e não prossiga na marcha que cahiria toda a responsabilidade do luto e carnificina em que mergulhariam todos com os atos q hiam commetter. Os sediciosos instão com o delegado q parta a sua frente visto q estavão tão bem em armas toda a força e o povo contrário. O delegado resiste preferindo cair aos golpes de punhais e as balas de seus trabucos.

Na praça estavão mais de 500 pessoas, aucthoridades, soldados e povo, armados, cada qual, como pode defendião os pontos por onde tinhão de entrar os sediciosos guardavam o quartel e as urnas e se mantinhão dispostos a rechaçarem os facciosos, resolutos a sustentarem-se na sua dignidade, e a não serem victimas passivas de scelerados. [fl. 4v].

Em meio a choro de crianças, lamúria de mulheres que saiam da Igreja, o Exmo. Bispo Diocesano sai da Matriz e pede as aucthoridades a providencia para reestabelecer a paz. Alguns cidadãos de ambos os lados políticos tão bem pedem calma aos sediciosos e aconselhão o povo a moderação e ordem. Tudo isso produzio o effeito de não consumarem os planos dos sediciosos de se servirem da mortandade para se apoderarem da Mesa Eleitoral. [fl. 5].

Depois o Capitão Francisco Antonio Serrão e outros entenderam com os revoltosos que estes pediram ao delegado ordem por escripto para o povo se desarmar. Feito isto foi se despersando os grupos e a ordem publica foi se restabelecendo. Isto é ato criminoso incurso no artigo 111 do Código Criminal, a promotoria requer q instaure o processo contra os cabeças de sedição e convocadas as testemunhas e também intimado o Capitão José Joaquim da Rocha no artigo 207 e 208 do mesmo Código. [fl. 5v].

Testemunhas:

Manoel Antonio Ribeiro, Pedro Augusto Soares Manga, Benedicto Rocha, Linceste José

Pimenta, Augusto Angelo e Silva, Dr. Otto Carlos Magnnam, Cabo Eduardo do Couto Moreno,

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Sebastião Corrêa de Souza, Francisco Lima dos Santos, Antonio José Moreira Granja, Manoel Luiz Ferreira Gonçalves. [fl. 6v].

Promotor Paulino de Andrade Faria.

O comando do Destacamento disse ter recebido denuncia de que havia armamento numa casa de frente a Matriz q seria destinada para ser o posto central do ataque dos sediciosos q tinhão de investir contra a Mesa Parochial e as aucthoridades no dia 19 de Agosto de mesmo anno. Não fosse a moderação das aucthoridades teria uma carnificina a depender da audácia de Manoel Caetano e Vicente Antonio de Castilho por armarem mais de 200 pessoas e dar voz de prisão ao delegdo que gritavam em alta voz “Vingança e Sangue”.

Januária do Amparo 21 de Agosto de 1872. [fl. 7].

Versão do delegado:

Ao chegar a casa próxima a Matriz onde seria o deposito de armas dos sediciosos procedia regularmente a busca, quando apareceu Manoel Caetano e Vicente Antonio de Castilho que pretendendo estouvar a diligencia declararam que haviam de mostrar onde estavam as armas.

Reuniram mais de 200 pessoas com armas de fogo para atacar as authoridades. Quando o delegado dirigiu com o Capitão Rocha encontrou o grupo dos sediciosos, tendo a frente Ricardo Gomes Lagoeiro, Tenente Coronel Manoel Caetano de Souza e Silva, Vicente Antonio de Castilho, Martiniano, Antonio da Silva, Joaquim Dias do Mocambo e Linceste Alexandrino que mandarão o povo a prenderem o delegado e as demais authoridades. Apareceram o juiz de Direito e o de Paz ordenando o delegado a tomar posto, apareceram também o Bispo e os padres exortando a paz o que fez os revoltosos desistirem. Salienta também o delegado que o grupo de Seraphim Barbosa hia atacar as authoridades pela retaguarda. Felismente os planos de desordem fracassaram graças a intervenção do Bispo, sem nenhum facto desastroso.

Povoação de Januária 19 de Agosto de 1872. [fl. 9].

Argumento do Tenente Honorário Olympio José Pimenta. <Este foi comandante na Guerra do Paraguai>.

Quando há iminente perigo da ordem publica com ameaças a paz do povo Januarense é

dever da justiça e policia manter a paz e todas as forças se juntem para malograrem planos de

malvadeza apaixonados pelo derramamento de sangue, há noticias de conhecimento do publico,

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O Juiz Municipal José do Couto Moreno manda intimar em Porto do Salgado Manoel Caetano de Souza e Silva, Ricardo Gomes Lagoeiro, Alferes Marcelino Izidoro de Mello, Vicente Antonio de Castilho, Francisco D’Ozeda Alla, Tenente Seraphim Barbosa e Silva, + José Antonio Pinto Meirelles, Alferes Martiniano José Barbosa Cabelludo, Antonio da Silva Couto e Antonio Sucupira para o processo no dia 31 do mesmo anno e mês, pelo crime de sedição. Tão bem o Capitão José Joaquim da Rocha.

O Tenente Coronel Manoel Caetano disse não se dar por intimado por estar no goso do endulto comedido pelo artigo 64 da lei de 19 de Agosto de 1846 aos eleitores de Parochia, mas acataria a ordem do Juiz. [fl. 13].

Termo de Junta

Aos 31 de Agosto de 1872 perante o Juiz Tenente Ignacio José do Couto e o promotor compareceram as testemunhas.

1º testemunha, Benedicto José da Rocha 47 anos, natural da Villa do Juazeiro Bahia, morador de Porto do Salgado. Testemunhou sobre os Santos Evangelhos dizer a verdade. [fl. 16].

Inquirido sobre os factos, disse que estava a porta da Igreja Matriz quando ouviu algumas vozes de pessoas que estavam do lado de fora da Igreja na casa pertencente a Ricardo Gomes Lagoeiro, ocupada por votantes do Ricardo e do Tenente Coronel Manoel Caetano. Dirigindo ao lugar viu que o Tenente Coronel Manoel Caetano contendia com o Tenente Olympio José Pimenta a não continuar a dar busca na casa dizendo ser um desaforo em conseqüência chamou o povo que o acompanhou. Disse que voltou a sua casa na rua do Sucego e depois de um quarto de hora voltou e já viu uma multidão na porta da casa do Capitão Rocha para atacar a polícia.

Disse ter ouvido dizer que, outro grupo liderado por seraphim Barbosa, Antonio Pinto Meirelles distribuiu armas com o povo. [fl. 16v]. Perguntado sobre o facto envolvendo o Capitão Rocha, disse ser verdade, sobre se viu o delegdo ser cercado pelo bando respondeu ser verdade e o grupo deu voz de prisão ao delegado. [fl. 17].

2º testemunha, Francisco Lima dos Santos, morador do Porto do Salgado, natural da Villa da Barra Bahia. Soube que havia grande movimento na praça, vendo a força publica e o povo armados na praça, o povo de cacete, armas hiam em imbocadura na rua Direita. Sobre o Capitão Rocha, só sabe que estava com o cidadão Manoel Ferreira. O pessoal do Manoel Caetano prendeu o delegado. Nada sabia se Seraphim e outros distribuíram armas com o povo. [fl. 18].

3º testemunha, Antonio José de Miranda Granja, natural da Villa de Xique Xique, Bahia,

morador de Porto do Salgado. Viu a busca na casa em frente a Matriz, Manoel Caetano e Linceste

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Castilho queriam [ilegível] e impedir, a diligencia, sahiram convocando o povo as armas pela rua Direita. Depois foram a casa de Ricardo Loagoeiro e reuniu grande número de gente armada, foram a Matriz, depois a casa de Manoel Joaquim Gonçalves e o alferes Marcelino e outros cercaram o delegado dando lhe ordem de prisão e retirada da Força que estava na embocadura para conter os sediciosos. [fl. 19]. Viu ainda o Capitão Rocha ameaçar a Força e alguns cidadãos que hiam atacar quando chegou o delegado e o prendeu. Acredita a testemunha que os sediciosos faziam grande estrago porque há hora que planejavam a desordem e grande ajuntamento de armas e disiam publicamente q nas eleições haveria grande mortandade de gente do Governo:

tanto que o Alferes Marcelino e Juvencio Suares disseram q em lugar do delegado ser o Juiz interino Luiz Affonso fosse aprisionado e disse a mim testemunha q fosse se ajuntar com os outros camaradas para morrerem todos de uma só vez porquanto Marcelino comandava muito boa gente. [fl. 19v]. Perguntado sobre José Antonio Pinto Meirelles, Seraphim Barbosa da Silva, disse q os ditos distribuíam armas ao povo pra pegar pela retaguarda a Força e elle e o Cabo Eduardo forão athe la eram 20 ou 30 pessoas, mas aumentou com os barqueiros. [fl. 20].

4º testemunha, Dr. Otto Carlos morador da cidade natural do Império da Alemanha.

Disse q é inimigo do Tenente Coronel Manoel Caetano de Souza e Silva [fl. 20v].

Disse q os reos tinhão intenção de depois das eleições assaltarem com um grupo armado a Igreja do Porto, assassinar o Juiz de Direito Luiz Affonso Fernandes Junior e outras pessoas desta cidade dispersar as Forças votantes Conservadoras e fazer a eleição a seu bel prazer. Não se admira quando viu proceder busca numa casa ao lado da Matriz onde seria o deposito de armamento. Poucos minutos depois da chegada da Força entrou o Tenente Coronel Manoel Caetano dentro cerco da tropa e gritou acompanhe-me meu povo quem tiver vergonha e correu com Vicente Antonio de Castilho q hiam se armar porque um despotismo se rebateo com outro neste. A testemunha foi guardar o Quartel. [fl. 21]. Voltando viu o Capitão Rocha fardado de Guarda Nacional desfeixar um tiro contra o Manoel Pereira de Souza o q teria feito se não fosse contido por um paisano e um soldado, depois puxou um punhal e tentou ferir o dito Manoel, mas não conseguiu. [fl. 21v]. No mesmo tempo vinhão 100 a 200 pessoas armadas capitaneadas por Manoel Caetano com intenção de agredir a Força legal. Disse ainda, que o delegado foi extorquido pelo grupo armado e uma ordem por escripto do comandante para retirar as Forças do posto disse soube por uma pessoa que viu.

Viu tão bem José Antonio Meirelles Pinto, Seraphim Barbosa, soube ainda por Guardas q

os dois estavão na rua do Comercio dando armas e cartuxames ao povo. Então espalhou-se o

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5º testemunha, Luiz Pereira Gonçalves morador de Cruz Matus da Freguesia de Morrinhos deste Districto. Disse q estava a conversar com alguns camaradas quando viu o alvoroço. Viu tão bem o incidente do Capitão Rocha. A testemunha tentou ajudar os Guardas a conte-lo e foi ferido na mão. Concorda com os demais sobre a voz de prisão ao delegado. [fl. 24].

Ouviu dizer q outros distribuíam armas ao povo.

6º testemunha, Linceste José Pimenta, natural de Januária, estava no Quartel quando soube da busca, dirigiu para lá e viu os denunciados, ouviu o Tenente Coronel Manoel Caetano de Souza e Silva Chamar quem tiver vergonha na Companhia. O capitão Rocha apareceo insultando: dizia, canalha, vil, infame, não faço caso desta Força é “tico tira”. [fl. 25]. O delegado para acalmar os ânimos apareceo desarmado perante o povo armado. Apareceo reforço da policia, então os revoltosos fizeram um acordo: o delegado retirava a Força da praça e elles se dispersarião. [fl. 26]. Disse q os sediciosos queriam apoderar da Mesa Eleitoral e fazerem as eleições como querião. Disse ser de há muito tempo q preparavão armas e cacetes.

7º testemunha, Sebastião Correa de Souza, natural de Januária. Estava na praça, viu a busca na casa, onde era o deposito de armas e capangas ao lado da Igreja. Os capangas estarião na embocadura e quando o Manoel Caetano e Ricardo Lagoeiro dessem o grito de: “fora a mesa”, elles a tomarião de assalto. Vicente de Castilho aparece entre os soldados tentando impedir a tal busca. É quando aparece, Manoel Caetano incitando o povo. Vicente de Castilho pronuncia as seguintes palavras: eu já lhes venho dar a resposta quem tiver vergonha me acompanhe. A Força tão bem dá ordem ao povo que estava na praça para as eleições que se colocassem na defesa nas embocaduras das ruas no Quartel e Matriz e para repelirem os revoltosos que a vinhão atacar. [fl. 28v]. Viu também o Cap. Rocha sair de casa armado e os sediciosos sabiam que seriam mal sucedidos no ataque pois a praça estava guarnecida por authoridades e povo do lado desta. Além do mais viu a testemunha alguns armados de espada, em grande alarido tirando piruetas. Algumas mulheres avisaram as authoridades de que os sediciosos estavão armados para atacarem a Matriz. [fl. 29v].

8º testemunha, Manoel Antonio Ribeiro da Silva, natural de São Romão. Padrinho de Ricardo Gomes Lagoeiro. Mas disse, ele, que isto não seria impedimento para falar a verdade.

Elle ia para a Igreja tratar dos trabalhos das eleições. Pois é um dos membros da Mesa Parochial.

Viu e ouviu o Manoel Caetano correndo e gritando em voz alta q todos o acompanhace, elles

correndo entrarão ainda pelos muros abertos da Dona Benedicta para chegar a casa de Manoel

Caetano q ficava por detraz daquela, viu também o povo armado. [fl. 30]. O bando subiu a rua

acima athé a porta do Cap. Rocha queriam atacar a Força q estava garantindo a ordem, a paz e o

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voto livre da eleição, os sediciosos demoraram em frente a casa do Rocha, marchariam para a sede, depois voltaram para trás. Perguntado qual o motivo desses homens terem se debandado?

Dizia ter sido, por ouvir dizer por estar o delegado na casa do dito Rocha. [fl. 31]. Qual o motivo da sedição? Foi por ordem do Subdelegado dar ordem de busca na casa e q Manoel Caetano queria vencer as eleições ainda q houvesse muitas mortes. Pois elle era membro da Mesa Eleitoral. [fl. 32].

Conclusão

As testemunhas concordaram com a denuncia e que tem provas para enquadrá-los no artigo 111 do Código Criminal. Onofre da Cunha Sucupira, Joaquim Dias, Linceste Alexandrino de Salles, Antonio da Silva Couto, Martiniano José Cabeludo, José Antonio Pinto de Meirelles, Seraphim Barbosa, Francisco D’Ozeda Alla, Vicente Antonio de Castilho, Marcelino Isidoro de Mello, Ricardo Gomes Lagoeiro e Manoel Caetano de Souza e Silva, como chefes da sedição. O Rocha no artigo 207 e 208 por ameaças. [fl. 34].

Diz o Auto q no ato da vistoria compareceu o Tenente Coronel Manoel Caetano de Souza e Silva tentando desviar a atenção e direção da busca na casa, q seria seu deposito declarou formalmente q hia lançar mão as armas. Correu com capangas e depois foi a casa do Ricardo Gomes Lagoeiro. Distribuiu 150 armas de fogo ao povo. O Capitão Joaquim José da Rocha ameaçava os Praças, paisanos e authoridades. O povo estava chefiado por caudilhos. [fl. 35]. Dizia que os sediciosos queriam tirar do posto quem investiu nele legal. Indicia os réus no artigo 111 e cabendo no 34. Faz o mandado de prisão na forma da lei.

Cidade do Amparo 5 de Setembro de 1872.

O promotor Paulino de Andrade Faria.

O Capitão Rocha pagou fiança.

Diz q o crime do afiançado é um dos exceptuados no artigo 102 e 103 e deve concedê-lo.

Fiança de quatrocentos mil réis.

Amparo 8 de Setembro de 1872.

Os réus Manoel Caetano, Antonio Castilho, Martiniano, Francisco D’Ozeda se entregam.

Interrogatório

Juiz Municipal Luiz Affonso Fernandes Junior.

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