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As transformações sociospaciais do Médio Vale do Paraíba Fluminense : a inserção do município de Valença no contexto da rede urbana regional

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

MICHELE PEREIRA DA SILVA

AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS DO MÉDIO VALE DO PARAÍBA FLUMINENSE: A INSERÇÃO DO MUNICÍPIO DE VALENÇA NO CONTEXTO DA

REDE URBANA REGIONAL

CAMPINAS 2016

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MICHELE PEREIRA DA SILVA

AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS DO MÉDIO VALE DO PARAÍBA FLUMINENSE: A INSERÇÃO DO MUNICÍPIO DE VALENÇA NO CONTEXTO DA

REDE URBANA REGIONAL

DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE ESTADUALDE CAMPINAS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRA EM GEOGRAFIA NA ÁREA DE ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

ORIENTADOR: PRF. DR. VICENTE EUDES LEMOS ALVESW

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO/TESE DEFENDIDA PELA ALUNA MICHELE PEREIRA DA SILVA ORIENTADA PELO PROF. DR.VICENTE EUDES LEMOS ALVES

CAMPINAS 2016

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Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Geociências Cássia Raquel da Silva - CRB 8/5752

Silva, Michele Pereira da,

Si38t SilAs transformações sociospaciais do Médio Vale do Paraíba Fluminense : a inserção do município de Valença no contexto da rede urbana regional / Michele Pereira da Silva. – Campinas, SP : [s.n.], 2016.

SilOrientador: Vicente Eudes Lemos Alves.

SilDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

Sil1. Socialismo. 2. Geografia urbana. 3. Políticas públicas. I. Alves, Vicente Eudes Lemos,1967-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Geociências. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Les transformations socio-spatiale du Milieu Atteint du Paraíba Fluminense : insertion la municipalité de Valença dans le contexte du réseau urbain regional Palavras-chave em inglês:

Socialism

Urban geography Public policy

Área de concentração: Análise Ambiental e Dinâmica Territorial Titulação: Mestra em Geografia

Banca examinadora:

Vicente Eudes Lemos Alves [Orientador] Regina Célia Bega dos Santos

Clerisnaldo Rodrigues de Carvalho Data de defesa: 25-04-2016

Programa de Pós-Graduação: Geografia

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INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ÁREA DE ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

AUTORA: Michele Pereira Silva Carvalho

O Município de Valença no Contexto das Transformações Socioespaciais do Médio Vale do Paraíba Fluminense

ORIENTADOR: Prof. Dr. Vicente Eudes Lemos Alves

Aprovado em: 25 / 04 / 2016

EXAMINADORES:

Prof. Dr. Vicente Eudes Lemos Alves – Presidente

Profa. Dra. Regina Célia Bega dos Santos

Prof. Dr. Clerisnaldo Rodrigues de Carvalho

A Ata de Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

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À MINHA FAMÍLIA PELA PRESENÇA E APOIO AO LONGO DO PERÍODO DE ELABORAÇÃO DESTE TRABALHO E, EM ESPECIAL, AO MEU FILHO THÉO, AO MEU COMPANHEIRO ANDRÉ E ÀS MINHAS QUERIDAS AVÓS QUE ME

INSPIRARAM A REALIZAR ESTE TRABALHO: DONA MARIINHA E TEREZINHA TAVARES (IN MEMORIAM)

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Vicente Eudes Lemos Alves pelo conhecimento transmitido, paciência, compreensão e comprometimento.

Ao Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas pela oportunidade de realização do curso de mestrado e pelo apoio financeiro através de seu Programa de Bolsas de Estudo.

À Profa. Dra. Regina Célia Bega dos Santos e ao Prof. Dr. Clerisnaldo Rodrigues de Carvalho pelos apontamentos feitos durante o exame de qualificação, também fundamentais para a revisão e desenvolvimento do presente trabalho.

Ao meu companheiro e amigo André Luiz de Carvalho, que contribuiu para a elaboração deste trabalho.

Ao Prof. MS Rinaldo Gomes Pinho pela assessoria na organização do material cartográfico.

Ao meu irmão William e família pela acolhida durante a realização dos trabalhos de campo e aos entrevistados e instituições consultados no município de Valença – RJ, que também contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho.

Aos meus pais, que jamais deixaram de mostrar a importância que o estudo tem em nossa vida.

À Val e Gorete do Instituto de geociências, por toda a atenção e esclarecimentos prestados durante o curso.

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“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.

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RESUMO

AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS DO MÉDIO VALE DO PARAÍBA FLUMINENSE: A INSERÇÃO DO MUNICÍPIO DE VALENÇA NO CONTEXTO DA

REDE URBANA REGIONAL

Ao estudar as transformações socioespaciais de Valença, município do Médio Vale do Paraíba Fluminense, foi utilizado o conceito de antivalor, de Francisco de Oliveira, para discutir o papel dos fundos públicos na reprodução do capital, principalmente a partir de sua relação com as corporações econômicas instaladas na região. A reprodução do capital assim caracterizada leva a uma constante realocação dos investimentos públicos e privados. Essa combinação vem provocando profundas transformações na rede urbana do Médio Vale do Paraíba Fluminense, da qual Valença faz parte. Se na primeira metade do século XIX, a produção cafeeira dava lugar de destaque a esse município, atualmente o mesmo não apresenta a condição de atrair capital com a mesma intensidade de outros centros urbanos da região, a despeito tanto da aprovação de leis tentando reforçar aí a participação de fundos públicos, quanto de sua inserção numa região que vem apresentando importante crescimento industrial.

Palavras-chave: Cidades médias, guerras dos lugares, antivalor e transformações socioespaciais.

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ABSTRACT

THE SOCIO-SPATIAL TRANSFORMATIONS OF THE MIDDLE VALLEY OF THE PARAÍBA FLUMINENSE: VALÊNCIA COUNTY INSERTION TO THE CONTEXT

OF REGIONAL URBAN NETWORK

By studying the socio-spatial transformations of Valencia, muncipality located in the Middle Valley of Paraíba Fluminense, we used the concept of anti-value, according Francisco de Oliveira, to discuss the role of public funds in the reproduction of capital, mainly from its relationship with the installed corporations in the region. Reproduction of well characterized capital leads to a constant reallocation of public and private investments. This combination has led to profound changes in the urban network of Middle Valley of Paraíba Fluminense, which is part of Valencia. If, in the first half of the nineteenth century, coffee production gave prominent place to the municipality, currently it has no condition to attract capital with the same intensity as other urban centers in the region, despite both the passage of laws trying to strengthen there the participation of public funds, as its insertion in a region that has shown significant industrial growth.

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RÉSUMÉ

LES TRANSFORMATIONS SOCIO-SPATIALE DU MILIEU ATTEINT DU PARAÍBA FLUMINENSE : INSERTION LA MUNICIPALITÉ DE VALENÇA DANS LE

CONTEXTE DU RÉSEAU URBAIN REGIONAL

En étudiant les transformations socio-spatiales du Valença, municipalité au Moyen-Valée du Paraíba Fluminense, nous avons utilisé le concept de l'anti-valeur, par Francisco de Oliveira, pour discuter du rôle des fonds publics dans la reproduction du capital, principalement de ses relations avec les sociétés économiques établis dans la région. Reproduction du capital bien caractérisé conduit à une réaffectation constante des investissements publics et privés. Cette combinaison a conduit à de profonds changements dans le réseau urbain de la Vallée du Paraíba Fluminense, qui fait partie Valença. Si la première moitié du XIXe siècle, la production de café a donné une place de choix à la municipalité, actuellement, il n'a pas la condition pour attirer des capitaux au même degré dans d'autres centres urbains de la région, malgré la fois l'adoption de lois qui tentent de renforcer puis la participation de fonds publics, que son insertion dans une région qui a connu une croissance industrielle significative.

Mots-clés: villes moyennes, guerre de sièges, anti-valeur et les transformations sócio-spatiales.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1– Unidades Têxteis de Valença: Número de operários e produção anual. ... 59

Tabela 2- Valor da transformação industrial do Vale do Paraíba do Sul- Principais

municípios: 1940 (em % ... 62 Tabela 3- Número de estabelecimentos industriais por classe e gênero de indústria nos municípios de Valença, Volta Redonda e Barra Mansa- 1959 ... 66 Tabela 4- Distribuição do produto industrial brasileiro em estados selecionados- em % . 69

Tabela 5- Distritos de Valença: população absoluta e percentual em relação ao total dos municípios (exceto sede... .99 Tabela 6- Porto Real, Resende, Valença e Volta Redonda: População estimada, 2014 .. 115

Tabela 7- PIB per capita das quatro cidades selecionadas ao Médio Vale do Paraíba

Fluminense-2011 ... 115 Tabela 8- Porto Real, Resende, Valença e Volta Redonda: PIB por setores da economia-2011 ... .115 Tabela 9- Resultados da variável Educação e IFDM dos municípios de Porto Real, Resende, Valença e Volta Redonda ... 117 Tabela 10- Resultados da variável Saúde do IFDM dos municípios de Porto Real, Resende, Valença e Volta Redonda ... 117 Tabela 11- Resultados da variável Emprego e Renda do IFDM dos municípios de Porto Real, Resende, Valença e Volta Redonda ... .117 Tabela 12- Resultados do IFDM dos municípios de Porto Real, Resende, Valença e Volta Redonda ... 118 Tabela 13- CAGED- Perfil dos municípios. Setor: indústria de transformação janeiro/2010 a janeiro 2015 (em números absolutos) ... 119 Tabela 14-CAGED- Perfil dos municípios. Setor: serviços janeiro/2010 a janeiro 2015 (em números absolutos) ... 120 Tabela 15- CAGED- Perfil dos municípios. Setor: comércio janeiro/2010 a janeiro 2015 (em números absolutos) ... 120 Tabela 16-CAGED- Perfil dos municípios. Setor: agropecuária, extração vegetal, caça e pesca janeiro/2010 a janeiro 2015 (em números absolutos) ... 121

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1-Estado do Rio de Janeiro: Região do Médio Vale do Paraíba Fluminense ... 29

Mapa 2- Estado do Rio de Janeiro. Divisão por regiões administrativas ... 34

Mapa3- Região do Médio Vale do Paraíba Fluminense ... 104

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Relação de empresas instaladas no Distrito Industrial ... 91

Quadro 2-Cidades do Médio Vale do Paraíba Fluminense e respectivas corporações do setor automotivo nelas instaladas ... 106

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LISTA DE FOTOS

Foto 1- Aspecto da antiga fábrica de tecidos em Valença (RJ) ... 60

Foto 2- Aspecto da antiga fábrica de tecidos em Valença (RJ) ... .61

Foto 3- Aspecto do Distrito industrial de Valença (RJ) ... 92

Foto 4- Aspecto do Distrito industrial de Valença (RJ) ... 92

Foto 5- Aspecto da estação ferroviária de Barão de Juparanã-Valença (RJ) ... 100

Foto 6- Aspecto de ocupação irregular no distrito de Barão de Juparanã-Valença (RJ) .. 102

Foto 7-Aspecto do centro do município de Valença (RJ) ... 124

Foto 8- Aspecto do Centro do município de Valença (RJ) com destaque para o comércio de confecções ... 125

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 16

CAPÍTULO I - O CICLO DO CAFÉ NO MÉDIO VALE DO PARAÍBA E EM VALENÇA: DO AUGE À DECADÊNCIA ... 31

1.1 A introdução da produção cafeeira no Médio Vale do Paraíba e em Valença ... 35

1.1.1 importância do café em Valença e seu papel na rede urbana da época ... 37

1.1.2 A crise do café no Médio Vale do Paraíba e em Valença: decadência econômica?40 CAPÍTULO II - O MÉDIO VALE DO PARAÍBA FLUMINENSE APÓS A DECADÊNCIA DA PRODUÇÃO CAFEEIRA ... 50

2.1 A decadência do café e o desenvolvimento econômico do Médio Vale do Paraíba Fluminense e do Interior de São Paulo ... 51

2.2 De 1909 a 1980: auge e declínio da indústria têxtil em Valença ... 55

2.3 O papel de Valença no contexto da construção da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) ... 63

CAPÍTULO III - A RENÚNCIA FISCAL, O ANTIVALOR E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS EM VALENÇA ... 72

3.1 A teoria marxista do valor: compreendendo o antivalor em Valença ... 77

3.2. O fundo público e o Médio Vale do Paraíba Fluminense... 83

CAPÍTULO IV - REDE URBANA, CIDADES MÉDIAS E CORPORAÇÕES: VALENÇA NO ATUAL CONTEXTO DO MÉDIO VALE DO PARAÍBA FLUMINENSE. ... 98

4.1 - Rede urbana no Médio Vale do Paraíba Fluminense ... 109

4.2 - Cidade média e região no contexto do Médio Vale do Paraíba Fluminense... 126

Considerações Finais ... 134

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INTRODUÇÃO

O fato de a cidade do Rio de Janeiro ser o centro do poder no Brasil Império e, continuar sendo após a proclamação da República até meados do século XX, contribuiu para que o desenvolvimento econômico ocorresse muito mais na capital fluminense do que em outras regiões do estado. Apesar de a presença do poder político favorecer o desenvolvimento econômico, baseado principalmente na atividade administrativa e industrial, a cidade do Rio de Janeiro e, por extensão o seu estado, foram perdendo posição para o crescimento econômico que passou a ocorrer no estado de São Paulo, principalmente a partir da segunda metade do século XIX.

Sendo assim, o objetivo principal aqui é discutir as transformações socioespaciais ocorridas no Médio Vale do Paraíba Fluminense com atenção especial para a cidade de Valença. A hipótese aqui discutida é que, no curso das várias transformações socioespaciais aí verificadas, as mais recentes (principalmente as ocorridas a partir da década de 1990) vêm tendo como principal motor a participação de fundos públicos junto ao desenvolvimento econômico que, na atual etapa do modo de produção capitalista, seriam imprescindíveis para a continuidade desse sistema, gerando o que Francisco de Oliveira chamou de antivalor.

A condição do município de Valença é peculiar, já que o mesmo está inserido numa rede de cidades próximas consideradas importantes pelo seu poder de polarização econômica, como Volta Redonda e, do ponto de vista do território nacional, fazendo parte do principal eixo econômico do país, o que envolve os estados de São Paulo e Rio de Janeiro1.

A metodologia aqui utilizada procedeu à revisão bibliográfica que teve como ponto de partida as discussões pertinentes às transformações socioespaciais ocorridas no Médio Vale do Paraíba e em Valença, bem como aquelas referentes à discussão sobre o antivalor acima citado, e como o mesmo se insere na atual fase de reprodução do capitalismo. Procedeu-se a entrevistas qualitativas junto a alguns moradores do distrito de Juparanã, no

município de Valença, no sentido de entender como tais transformações impactam ou não o referido distrito, bem como o próprio município. Foram levantados dados estatísticos de diferentes fontes para subsidiar de maneira mais consistente a discussão aqui proposta. Levando-se em conta as contradições inerentes aos desdobramentos do modo de produção

1 O mapa 1 destaca a região do Médio Vale do Paraíba Fluminense, onde localiza-se o município de Valença, e

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capitalista, deu-se especial atenção às questões referentes à participação (mais aprofundada) do Estado junto à economia.Tratando do avanço da cultura do café no Brasil e, em especial, no Médio Vale do Paraíba Fluminense, principalmente no que respeita à projeção que tal cultura ganha enquanto principal atividade de exportação brasileira, importantes pesquisas foram realizadas tornando-se referências para posteriores estudos. Pode ser citada como exemplo de estudos que tratam dessa questão a obra de Dean (1971), que logo de início de seu estudo cita a importância da expansão do mercado de café, no final do século XIX, a partir da maior procura por parte dos Estados Unidos e da Europa, período esse que ultrapassou o auge da produção cafeeira ocorrida no Médio Vale do Paraíba Fluminense.

Já Silva (1976) destaca que o final do século XIX foi o momento de surgimento de necessidades historicamente determinadas pelo desenvolvimento do capitalismo no Brasil, combinado com a sua inserção na economia mundial capitalista, resultando na necessidade de rompimento com a economia colonial baseada no trabalho escravo. Conforme será discutido ao longo desta pesquisa, a manutenção do trabalho escravo, no Médio Vale do Paraíba Fluminense, apresentou resistência mesmo com a aproximação de seu fim, enquanto que no estado de São Paulo, nas regiões em que crescia a cultura do café, o trabalho livre e outros aspectos relacionados ao capitalismo considerados mais adiantados2, apresentavam avanços significativos. A título de exemplo, podem ser apontados os trabalho de Stein (1961), Martins (1979), dentre outros.

Conforme já amplamente discutido em vasta literatura, uma importante parte do crescimento econômico paulista está associada à expansão, naquela região, da cultura do café, ao menos levando-se em conta o curto período que vai do final do século XIX até a primeira década do século XX. O início dessa expansão está diretamente associado a uma combinação de fatores, também apontados por Dean (1971), como o aumento da demanda de café na Europa e nos Estados Unidos acima citado, em específico de café de baixa qualidade, como era o produzido no Brasil, a crise na produção de países concorrentes, como o antigo Ceilão (atual Sri Lanka), a abolição da escravidão, a proclamação da República. Tais fatores influenciaram o surgimento de uma estrutura política e econômica descentralizada. Comentando o surgimento de fábricas que transformavam algodão em tecido, Dean (1971, p. 11) escreve que:

2 No final do século XIX, inicia-se a introdução do trabalho livre nas fazendas cafeicultoras no estado de São

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… Por volta de 1875, as vendas do café começavam a proporcionar dinheiro para comprar o pano e desestimular e emprego de escravos em ofícios manuais.

Com o advento de mão de obra livre, o uso do dinheiro difundiu-se pela massa da população…

Em São Paulo, os plantadores descobriram ser impossível atrair trabalhadores da Europa sem lhes pagar o salário em dinheiro...

Esse processo contribuiu decisivamente para que a atividade industrial encontrasse condições favoráveis para o seu crescimento em São Paulo, que já no final do século XIX ultrapassaria o estado do Rio de Janeiro em termos de resultados econômicos, a despeito de esse último ser o centro político e administrativo do país, pois “... esses súbitos progressos na região de São Paulo nas décadas de 1880 e 1890 foram, em sentido mais profundo, a causa da industrialização” (1971, p. 15)

A decadência da produção cafeeira no Médio Vale do Paraíba Fluminense, motivada por diferentes fatores aqui tratados (como a continuidade da aplicação do trabalho escravo e a perda de fertilidade do solo), impactou diretamente a economia da cidade de Valença, que junto com Vassouras eram os grandes centros produtores de café do Brasil na primeira metade do século XIX, chegando a responder, juntas, por 80% da produção nacional (STEIN, 1961). Este foi um motivo para que, nas décadas seguintes, viessem a ocorrer importantes transformações socioespaciais em Valença, como a instalação das indústrias têxtil e química. Nesse sentido, Ferraz (2006, p. 1) assinala que:

A possibilidade da presença de uma indústria em Valença já era discutida desde o final do século XIX, quando os sinais de crise econômica começaram a se tornar evidentes. Examinando as Atas da Câmara constatamos que na década de 1880 alguns membros do poder local já solicitavam incentivos para pequenas fábricas dos mais variados produtos, destacando-se a confecção e chapéus. Em 29 de julho de 1903 foi deferido um pedido de isenção dos impostos municipais feito por Avelino Augusto Guimarães para montagem de uma fábrica de meias e camisas, que seria instalada no largo da Estação.

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Na sequência, Ferraz (2006) aponta que a referida fábrica só não foi anteriormente instalada devido à crise do Encilhamento3, já que em outubro de 1891 a Câmara Municipal concedeu a área para a instalação da mesma, fato que se concretizaria em 1906 com a inauguração da Cia Industrial Valença de Tecelagem.

Esse movimento inicial de surgimento da atividade industrial no município de Valença ganhou algum fôlego com as políticas de defesa dos interesses dos cafeicultores, já que, aí, formou-se um núcleo urbano que permitia um movimento inicial de transferência de renda do meio rural para as áreas que se tornariam urbanizadas, favorecendo a industrialização. É o que aponta Furtado (1964, p. 113) ao escrever que “... como subproduto do realismo na defesa dos interesses dos cafeicultores, criaram-se condições extremamente favoráveis aos investimentos ligados ao mercado interno. Parte daí o processo de industrialização que permitirá a definitiva superação da economia colonial em crise”.

Já a passagem da primeira para a segunda metade do século XX apresentou, como fato relevante para a economia do estado do Rio de Janeiro a fundação da CSN - Companhia Siderúrgica Nacional, na cidade de Volta Redonda, também pertencente ao Médio Vale do Paraíba Fluminense. A presença desta siderúrgica intensificou o fluxo de transporte ferroviário a partir da antiga Central do Brasil, cujos trilhos passam por Valença, onde hoje ainda existe o prédio da antiga estação da referida ferrovia. Além disso, a CSN explorava no mesmo município a calcita, mineral empregado em diferentes atividades econômicas, com destaque para a produção de calcário para a correção de solos considerados com elevado teor de acidez. Apesar de o município de Valença distanciar aproximadamente 65 quilômetros do município de Volta Redonda, e a despeito de sua relação com a CSN principalmente em função da exploração do calcário, sua atividade econômica continuou apresentando desempenho pouco expressivo, principalmente do ponto de vista da ausência de uma atividade industrial de maior vulto.

A segunda metade do século XX, ao menos até os anos 1970, é abordada nesta pesquisa a partir de duas situações: uma que leva em conta o desempenho geral da atividade econômica, focando principalmente a atividade industrial em função de seu crescimento no país e; outra, focando especificamente a situação do estado do Rio de Janeiro nesse contexto

3Crise financeira ocorrida no Brasil a partir de 1890 decorrente da política de governo provisório do Marechal

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e, por extensão seus desdobramentos sobre o Médio Vale do Paraíba Fluminense, mais especificamente, sobre o município de Valença.

Quando nos voltamos para o caso de Valença, é também importante citar uma marcante característica de sua elite agrícola, destacada em diferentes passagens da obra de Stein (1961): a resistência em relação às modernizações trazidas pelo avanço das relações capitalistas no Brasil que, como visto, pode ser exemplificada através da tentativa de manutenção da mão de obra escrava. Essa manutenção é também consequência de uma atividade industrial mais frágil, já que essa elite agrícola não sofreu pressões do setor industrial no sentido de adotar a tecnificação e o uso de mão de obra especializada, que seriam fornecidos por essa mesma atividade industrial, caso ocorresse aí um maior dinamismo.

O contrário pôde ser observado no estado de São Paulo: a absorção mais rápida de relações capitalistas por parte da atividade agrícola foi considerada importante para o próprio avanço da atividade industrial.

É importante assinalar que todas essas transformações ocorridas no município de Valença e na região na qual o mesmo se insere, têm também relação direta com a reprodução do capital em nível mundial. Por exemplo, a produção cafeeira de Valença e Vassouras atendia principalmente o mercado externo e, utilizando-se de mão de obra cativa, tinha que recorrer ao tráfico internacional de escravos (embora também recrutasse escravos que já se encontravam no Brasil). Stein (1961) destaca a presença de uma combinação de fatores para explicar a queda da produção cafeeira nesta região, situação que gera crise produtiva de enormes proporções: problemas com o recrutamento de mão de obra escrava, perda da fertilidade dos solos, permanência de uma mentalidade favorável à manutenção do escravismo, por parte dos grandes fazendeiros que atuavam nesta região, dentre outros.

Conforme anteriormente apontado, o processo de industrialização no Brasil ganhou fôlego primeiramente com as transferências de renda da zona rural e, na sequência, com a capacidade de importar insumos. A partir daí ocorre o esgotamento desse mecanismo, levando, internamente, ao aumento da inflação devido à ascensão dos preços de produtos industrializados. Mesmo assim, Furtado (1964, p.116) entende que o processo inflacionário ocorrido nas décadas de 1940 e 1950 não representaram, nesse período, um “prejuízo” para o desempenho da atividade industrial no Brasil. Para ele:

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… Em face da insuficiência da capacidade para importar, a simples manutenção do nível de emprego acarretava a criação de desequilíbrios internos que se manifestavam na elevação do nível dos preços. Contudo, a economia estava operando a um nível de atividade bem superior ao que existiria na ausência da inflação. O incremento da renda decorrente era em boa parte concentrado pela inflação em benefício do setor industrial.

Ainda para Furtado, (1964) esse quadro teria se tornado possível em função da estabilização da taxa de câmbio, acarretando num controle seletivo das importações e elevando com consistência o nível interno dos preços. Seriam estas as condições para que ocorressem as transferências de renda para o setor industrial no período pós Segunda Guerra.

Porém, esse mecanismo parece não ter favorecido a atividade industrial do estado do Rio de Janeiro e, muito menos, do município de Valença, embora neste último tivessem ocorrido iniciativas pontuais vinculadas principalmente à indústria têxtil. O desempenho da atividade industrial do estado do Rio de Janeiro apresentava-se decadente a partir dos anos de 1940, ao passo que a dinâmica da atividade industrial do estado de São Paulo se valia cada vez mais do próprio processo inflacionário, ao menos no sentido do mecanismo que promovia a transferência de recursos favorecendo setores mais dinâmicos (Furtado, 1964 p. 119).

Chegando aos anos 1960, a capacidade de importar alcança a condição de saturação, o que, para Furtado (1964 p. 115), só seria superada através de uma autonomia do ponto de vista do desenvolvimento tecnológico, que não era o caso do Brasil:

… Quando se alcança este ponto de relativa saturação, a substituição deixa de ser um fator dinâmico para tornar-se sério empecilho à acumulação. Cria-se uma barreira ao desenvolvimento, cuja superação exige uma autonomia tecnológica e uma independência no que respeita à oferta de equipamentos que são característicos do pleno desenvolvimento econômico.

Se, para o conjunto do Brasil, o desempenho da atividade industrial já apresentava problemas na segunda metade do século XX, no estado do Rio de Janeiro a situação era ainda pior. Santos (2002),apresentando dados do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e

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Estatística, a respeito da distribuição do Produto Industrial Brasileiro, mostra que os percentuais referentes ao estado do Rio de Janeiro decrescem de 1940 a 1980: 1940: 25%; 1950: 20,3%; 1960: 17,5%; 1970: 15,6%; 1980: 11,8%.

Ainda para Santos, o quadro acima exposto teria sido agravado pela peculiaridade de o estado do Rio de Janeiro abrigar, então, a capital do país, além da posterior coexistência dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro4, inviabilizando iniciativas que incentivassem a atividade industrial no interior do Rio de Janeiro já que “... a Guanabara implementou políticas conducentes à expansão econômica, porém restritas ao seu próprio território; no interior fluminense, o governo do antigo Estado do Rio de Janeiro pecou por falta de iniciativa” (2002, p. 39). É de se deduzir que esse conjunto de fatores impactou negativamente a economia do município de Valença.

Já Oliveira (2003) discute a dinâmica brasileira de transformações no campo econômico como que resultante da combinação entre modos de dominação política, modos de acumulação de capital e modos de distribuição de renda e de riqueza. Para tanto, Oliveira trata dos conceitos de revolução e contra-revolução, associando à primeira as formas capitalistas mais modernas, que no período pós 1930, no Brasil, estão ligadas à classe industrial que tende a se fortalecer e, à segunda, a influência de grupos sociais considerados conservadores devido à sua postura em relação à manutenção do trabalho escravo, frente à expansão capitalista industrial registrada então no país. No entanto, o autor considera que a sua presença, antes de inibir o avanço de formas capitalistas consideradas mais modernas, contribui para elevar as taxas de lucros destas. Partindo desse raciocínio de Oliveira, é curioso observar que, em Valença, o choque envolvendo revolução e contra-revolução acontece antes da década de 1930, pois, como será visto, havia em Valença uma oligarquia ligada à produção cafeeira que também queria a manutenção do trabalho escravo, mas que entrara em decadência já na segunda metade do século XIX. No início do século XX, surgem algumas iniciativas empreendedoras vinculadas à atividade industrial que, no entanto, não parecem configurar uma situação de transferência de renda da atividade agrícola para a industrial conforme interpretada por Oliveira no período pós 1930. E isso em função dessa decadência mais

4

A transferência do governo federal para a nova capital, Brasília, gerou uma situação de desconforto junto à classe política do então distrito federal, localizado no estado do Rio de Janeiro. No sentido de compensar a perda de verbas públicas, houve a mobilização no sentido de criar o estado da Guanabara, garantindo assim verbas municipais e estaduais que compensassem as verbas antes recebidas na condição de distrito federal. A coexistência dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro durou de 1960 a 1975, ano em que ocorre a fusão de ambos. Recentemente (2004 e 2008) ocorreram movimentos que tentaram recriar o estado da Guanabara (Santos, 2002).

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precoce da oligarquia cafeeira valenciana, associada, evidentemente, a outra conjuntura de expansão capitalista mundial (pós 1930) na qual o Brasil ingressa como uma espécie de nova fronteira da expansão industrial.

Em outro trabalho, Oliveira (1998) discute uma questão que, para a presente pesquisa é central: a participação dos fundos públicos, em suas mais diversas formas, no processo atual de reprodução do capital. Segundo o autor, essa expressiva participação dos fundos públicos na composição dos salários - segundo o mesmo, cerca de um terço do salário total - tornou-se a “... brecha para a inovação técnica, desparametrizada do salário real total...” resultando num “... processo de inovações tecnológicas sem paralelo” (1998, p. 30 - 31). Esse fato contribuiu para aprofundar a participação dos fundos públicos no processo de reprodução do capital, principalmente quando o mesmo se relaciona à intensificação da guerra dos lugares no sentido exposto por Santos (1996). Para Oliveira, há aí uma contradição, pois se registra uma elevação da rentabilidade ou das taxas de retorno dos capitais, enquanto que o fundo público “... dá visível mostra de exaustão como padrão privilegiado da forma de expansão capitalista desde os fins da II Guerra Mundial” (1998, p. 31).

As oscilações da economia mundial, nas décadas de 1960 e 1970, novamente apresentam situações que, em muitos casos, trarão diferenças entre o estágio de desenvolvimento econômico e industrial do Brasil em comparação com o do estado do Rio de Janeiro. O curto período do chamado “milagre econômico” brasileiro também é marcado pelo início de uma relativa descentralização da atividade industrial localizada majoritariamente no estado de São Paulo. Porém, conforme os dados de Santos (2002) anteriormente apontados, não representam ganhos para a atividade industrial do estado do Rio de Janeiro.

Já as chamadas “décadas perdidas” de 1980 e 1990 coincidem com o avanço das políticas neoliberais e com o que Oliveira (2003) chamou de dialética do processo de expansão industrial, já que, o moderno (por exemplo, a presença mais forte de corporações na atividade industrial) e o arcaico (o inchaço do terciário, principalmente nos grandes centros urbanos, gerando várias “atividades por conta própria”), são, na verdade, um conjunto coerente, capitaneados pelo setor secundário.

A partir do ano de 2003 ascende ao poder político no Brasil um governo de orientação distinta da identificada nos dois governos anteriores, estes claramente afinados com as orientações de caráter neoliberal.

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Os avanços na área social registrados nos últimos doze anos, como a diminuição da parcela da população que se encontrava na condição de pobreza absoluta, são reconhecidos internacionalmente, inclusive por organismos internacionais que defendem as políticas neoliberais, como o Banco Mundial.

O aumento relativo da renda dos brasileiros significou um fortalecimento do mercado interno, fato que também contribuiu para que os investimentos estrangeiros diretos crescessem no país, condição esta, aliás, discutida por Furtado (1964) em relação à conjuntura brasileira durante o governo de Juscelino Kubitschek, em que este destaca a vinda de empresas multinacionais do setor automotivo que, segundo ele, devia-se ao fortalecimento do mercado interno brasileiro naquela época.

Por outro lado, os diferentes investimentos governamentais, baseados também na utilização de fundos públicos, acabaram por favorecer as corporações, conforme verificado em relação ao próprio setor automotivo, no que respeita à redução do IPI - Imposto sobre Produtos Industriais para venda de veículos novos e à adoção do Programa INOVAR-AUTO5. Tais iniciativas incentivaram a recente vinda de novas montadoras do setor automotivo para o Brasil e, no que interessa a essa pesquisa, mais especificamente para o Médio Vale do Paraíba Fluminense.

É nesse contexto que o presente trabalho discute as iniciativas de renúncia fiscal tentando atrair investimentos, como o caso do município de Valença aqui estudado, bem como sua comparação com outros municípios do Médio Vale do Paraíba Fluminense. Se, o estado do Rio de Janeiro ficou, por um longo período, em situação desvantajosa em relação ao desenvolvimento da atividade industrial no Brasil, atualmente, com o processo de globalização escorado pela ampla participação de fundos públicos na economia, abrem-se novas possibilidades de ampliação da privatização dos lucros.

Essa possibilidade de ampliação da privatização dos lucros, ancorada no amplo processo de desregulamentação da economia, e associada à autonomia ganha pelos municípios brasileiros, a partir da promulgação da Constituição de 1988, vem levando a um acirramento da chamada “guerra dos lugares” exposta por Santos (2006) conforme anteriormente citado. Nesses termos, identificam-se pressões políticas (inclusive no Médio

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Segundo o site do MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, o referido programa possui validade do ano de 2013 a 2017, sendo algumas de suas metas a produção de veículos mais econômicos e o aumento da segurança dos veículos produzidos. Dentre os benefícios estão o crédito presumido de IPI de até 30% e o crédito presumido de IPI referente a gastos em pesquisa e desenvolvimento. Disponível em

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Vale do Paraíba Fluminense) no sentido de alcançar a emancipação de determinados territórios, com o objetivo de formar novos municípios. Por detrás dessa estratégia encontram-se interesencontram-ses que beneficiarão basicamente determinados grupos políticos locais, bem como as próprias corporações, que se beneficiarão da disputa por seus investimentos, podendo assim exigir e obter mais vantagens dos chamados fatores locacionais.

Além dessa questão, será discutida também, como outro desdobramento de tal processo, afetando diretamente o Médio Vale do Paraíba Fluminense, o fato de ocorrerem desequilíbrios do ponto de vista da oferta de serviços públicos, já que municípios com menor população podem ganhar mais investimentos (inclusive públicos, como o FPM - Fundo de Participação dos Municípios) do que outros municípios com população maior e que, portanto, deveriam investir mais em serviços públicos.

Por fim, as discussões acima expostas, além das entrevistas realizadas nos trabalhos de campo, com especial destaque para o distrito de Juparanã, município de Valença, chamaram a atenção também para questões do cotidiano das pessoas que vivem neste lugar.

As entrevistas qualitativas foram realizadas com moradores da região que pudessem apresentar diferentes visões acerca do município de Valença em relação à sua história.

A importância dessa abordagem está na necessidade de associar os diferentes processos decisórios, ocorrendo em diferentes escalas, como pode ser observado na análise de Santos (2006), por exemplo, com os vários desdobramentos que podem ser identificados no nível dos lugares. Com base nos depoimentos dados por moradores do distrito de Juparanã, foi possível identificar e discutir questões relacionadas ao urbano e suas áreas periféricas, à expectativa de modernização do lugar, à dificuldade de acesso a serviços públicos, levando à necessidade de busca dos mesmos em outras localidades6.

A desregulamentação da economia, posta em prática na escala planetária, associada à fragmentação da produção industrial, colocam hoje o estado do Rio de Janeiro numa situação peculiar: o seu setor secundário rapidamente saiu da condição de hegemonia para tornar-se decadente, tentando, nesse momento, retomar uma posição de maior destaque no cenário nacional. Essa tentativa de retomada dá-se num contexto em que há disputa mais acirrada por investimentos, principalmente estrangeiros, envolvendo diferentes lugares do território nacional. Esse cenário associa-se a uma conjuntura mais ampla, relacionada a uma nova

6 Os moradores do distrito de Barão de Juparanã recorrem, muitas vezes, aos serviços públicos de saúde e

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realidade de reprodução do capital, que é a da participação dos fundos públicos como que sendo um dado inerente para que essa mesma reprodução se realize. Ou seja, sem essa participação, e levando-se em conta a atual realidade do capitalismo – o alto grau de sua financeirização, apoiada num processo especulativo sem precedentes, fazendo com que o processo produtivo em si tenha sua participação nessa reprodução diminuída - essa reprodução fica simplesmente inviabilizada.

Foi dessa maneira que achamos pertinente discutir o município de Valença, inserido na rede de cidades que compõem o Médio Vale do Paraíba Fluminense, num contexto em que estes e o próprio estado do Rio de Janeiro vêm presenciando transformações socioespaciais até chegar ao recorte atual em que a reprodução ampliada do capital, em específico a atividade industrial com suas recentes transformações tecnológicas, exige dos lugares vantagens em quantidade cada vez maiores na forma dos chamados fatores locacionais.

O papel atribuído ao Estado (pensando-se na lógica do capital), nessa nova conjuntura, deve ser visto a partir de sua participação ativa na atual etapa de reprodução do capital, no qual o mesmo organiza o seu território, muitas vezes beneficiando o capital monopolista, tanto indireta quanto diretamente. As diferentes maneiras de atuação de fundos públicos junto à reprodução do capital forçam esse mesmo Estado (levando-se em conta suas diferentes esferas) a privilegiar uns lugares em detrimento de outros, muitas vezes aprofundando as diferenças socioespaciais entre eles, a despeito de, como no caso aqui estudado, as distâncias geográficas serem ínfimas.

Centrando-se na análise proposta por Oliveira (1998, 2003) e buscando-se uma maior equidade do ponto de vista socioespacial, fica evidenciada a incompatibilidade entre os interesses postos na reprodução do capital (em especial a partir da atuação das corporações), contando com a efetiva participação dos fundos públicos, por um lado, e avanços socioeconômicos em lugares como o município de Valença, por outro.

Portanto, no capítulo 1 discute-se a expansão da cultura cafeeira nos municípios de Valença e Vassouras, no início do século XIX, situação que fez com que os mesmos ganhassem grande projeção, principalmente no âmbito nacional. Também são abordados os diferentes fenômenos que levaram à decadência aí da produção cafeeira, afetando sobremaneira a economia local, contribuindo assim para transformações socioespaciais importantes, a serem registradas no período subsequente.

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No capítulo 2 discute-se o processo de industrialização registrado no município de Valença. Esse processo ganha força na primeira metade do século XX, decorrente da queda de produção cafeeira associada aos primeiros investimentos na atividade industrial, ligada principalmente ao setor têxtil. A primeira metade do século XX registrou, no Brasil, tanto a primeira etapa do processo de industrialização, ainda sem a presença da indústria de base, como a etapa seguinte, na qual diferentes governos no Brasil adotam a política de substituição de importações.

No capítulo 3 são avaliadas tanto as transformações na escala planetária influenciadas pela Revolução Técnico-Científica, quanto seus desdobramentos no Brasil e, em específico, no modelo de desenvolvimento industrial pautado, até então, na substituição de importações. Decorre daí o debate em torno do conceito de antivalor, estudado por Francisco de Oliveira, implicando na adoção de políticas de renúncia fiscal a partir dos diferentes níveis de governo (municipal, estadual e federal) que, segundo o autor, torna-se condição para a reprodução ampliada do capital. Esses acontecimentos recentes favorecem o surgimento de outra etapa de transformações socioespaciais, tanto no Médio Vale do Paraíba Fluminense, quanto no município de Valença.

O capítulo 4 discute os conceitos de rede urbana, cidade média e cidade de porte médio, relacionando-os à chegada recente,em algumas cidades do Médio Vale do Paraíba Fluminense, de corporações ligadas ao setor automotivo, influenciando no acirramento da disputa por investimentos (provocando, inclusive, movimentos de emancipação, que resultaram na formação de novos municípios na região), além de nova divisão territorial do trabalho, situando-se nesta, o município de Valença. Essa nova conjuntura é entendida aqui como uma reafirmação da ideia de antivalor, pois o Estado, em suas diferentes esferas, lança mão de fundos públicos para aplicá-los de maneira a favorecer principalmente as grandes empresas do setor privado.

As cidades interioranas do estado do Rio de Janeiro passaram por diferentes etapas no que concerne ao seu processo de industrialização. Primeiramente, houve expansão da atividade industrial para, em seguida, a mesma ser concentrada na capital do estado. A primazia do estado de São Paulo no que respeita à concentração da maior parte da atividade

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industrial no Brasil7, além da mudança da capital para Brasília, enfraqueceu, inclusive, a atividade industrial da própria capital fluminense.

Foi somente há pouco mais de uma década, aproximadamente, que investimentos (públicos e privados) em maior volume passaram a ser alocados na atividade industrial, tanto na capital fluminense, quanto em algumas regiões do interior do estado do Rio de Janeiro.

No entanto, essa retomada parece se dar sob a condição de participação efetiva de fundos públicos enquanto garantia de lucros para o setor privado, em especial, para as corporações. Acreditamos que esse seja um ponto que também contribua para discutir-se a atual conjuntura vivenciada no Brasil que, porém, não é uma conjuntura exclusivamente “brasileira” e, sim, muito mais uma crise sistêmica.

7 Vale lembrar, no entanto, que essa primazia vem apresentando sucessivas quedas em relação ao conjunto

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CAPÍTULO I - O CICLO DO CAFÉ NO MÉDIO VALE DO

PARAÍBA E EM VALENÇA: DO AUGE À DECADÊNCIA

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CAPÍTULO I - O CICLO DO CAFÉ NO MÉDIO VALE DO PARAÍBA E EM VALENÇA: DO AUGE À DECADÊNCIA

O estudo sobre o período áureo e a decadência do café no Médio Vale do Paraíba Fluminense e em Valença tem como objetivo compreender as transformações ocorridas nessas localidades, com especial atenção para a gênese da industrialização da região que, com o passar dos anos, trará nova configuração a sua rede urbana.

Durante o período áureo do café nesta região, que correspondeu principalmente à primeira metade do século XIX, Valença e Vassouras chegaram a responder por mais de 80% de toda produção cafeeira brasileira8. No entanto, não se verificou nestas a situação que ocorreu em vários municípios paulistas que acolheram a etapa posterior de prosperidade do café: a dinamização econômica apoiada na herança da economia cafeeira. Ao contrário destes, Valença e Vassouras apresentaram uma expansão econômica relativamente fraca quando se leva em conta o seu anterior status de principais áreas produtoras de café do Brasil9.

Ademais, outros municípios do Médio Vale do Paraíba Fluminense registraram crescimento econômico muito mais significativo muito em função de decisões do ponto de vista do planejamento governamental que, nesse caso, passa a ter como um de seus focos o desenvolvimento da indústria de base objetivando dar suporte para o incremento da atividade industrial no país, em especial na Região Sudeste. É o caso da fundação da CSN - Companhia Siderúrgica Nacional, na cidade de Volta Redonda, inaugurada em 1946.

Do ponto de vista das regras estabelecidas pelo capital, o maior desenvolvimento industrial na Região Sudeste, evidentemente contando com o apoio de políticas públicas, deveria ser beneficiado pela formação de um exército de reserva que possibilitasse a maior extração de mais valia possível, otimizando o acúmulo de capital e a continuidade de expansão dessa atividade industrial.

Posteriormente, serão analisados os casos de outras cidades do Médio Vale do Paraíba Fluminense, como Resende e Itatiaia, que, em um outro contexto da reprodução do capital, em período mais recente, também registraram expansão de sua atividade industrial.

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De acordo com Stein, 1961, op cit. 9

Diferentes trabalhos citados anteriormente tratam da maior dinâmica econômica proporcionada pela produção cafeeira no interior paulista, no período que abrange o final do século XIX até o início do século XX, em oposição à simultânea decadência da produção cafeeira em Vassouras e Valença, no estado do Rio de Janeiro: Dean (1971), Monbeig (1984), Martins (1979), Stein (1961), Santos (2002), dentre outros.

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O mesmo não ocorreu com o município de Valença, onde recentemente se verificou a adoção de leis de incentivos fiscais na tentativa de melhorar seu desempenho econômico. Aliás, essa não é uma iniciativa isolada, já que, conforme será analisado adiante se trata de um fator presente também em outros municípios que compõem a rede de cidades do Médio Vale do Paraíba Fluminense (ver mapa 1). Daí a importância em se analisar os fatores que propiciaram e propiciam a ocorrência de diferentes transformações socioespaciais.

O município de Valença pertence à região do Médio Vale do Paraíba do Sul, localizado a 148 km da capital Rio de janeiro possui uma área administrativa de 1.305 Km2, contando atualmente com 71.843 habitantes10. No mapa 2, que apresenta as regiões administrativas do estado do Rio de Janeiro, é possível observar a localização estratégica do Médio Vale do Paraíba Fluminense.

A chegada do café e sua posterior expansão contribuíram sobremaneira para o crescimento populacional da região do Médio Vale do Paraíba. Diferentes autores associam a ocupação do Médio Vale à produção cafeeira. Segundo Muaze (2010, p.306):

(....), a ocupação do Médio Paraíba se deu a partir da decadência da mineração. Com a decadência, as estradas da Polícia e do Comércio, localizadas na região, serviram de rota para o escoamento da produção agrícola para a capital. Nas margens dessas estradas surgiram as primeiras culturas dos cafeeiros.

Stein (1961) também assinala que o café era plantado à beira das estradas já utilizadas pelas tropas que viajavam entre os centros da mineração de Minas Gerais e a Capital, e mais tarde, ao longo do Vale do Paraíba. Ainda de acordo com Stein, a concessão de sesmarias e a posse de terras por conta da mineração, foram fatores

importantes para a ocupação de terras da região, proporcionando inclusive a concentração das mesmas.

Quanto às sesmarias, Stein informa que estas foram concedidas pela Coroa portuguesa àqueles que a pleiteavam por terem prestado algum serviço considerado relevante, por exemplo, contribuído para a construção de uma estrada. Com relação à posse de terras, o referido autor aponta que: “atraídos pelo movimento comercial proporcionado pelas tropas, os

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posseiros construíam ranchos para os tropeiros, e formavam pastagens para os animais, assim como pequenas roças de milho, feijão e cana-de-açúcar.” (1961, p. 13).

A constituição do território de Valença tem origem no conflito de interesses que envolvia os colonizadores e os índios Coroados. Por conta do esgotamento do ouro em Minas Gerais, houve a necessidade de ocupação de terras virgens do Vale do Paraíba do Sul. Entretanto, estas terras eram ocupadas pelos índios Coroados que, inicialmente, ofereceram resistência ao colonizador. Valença possuía uma importância econômica ímpar nesse contexto, pois conforme aponta Lemos (2004), havia aí muitas terras férteis e virgens, sendo as mesmas uma área de passagem para o sul de Minas e um dos principais centros de abastecimento do Rio de Janeiro. Objetivando o controle destas terras, os colonizadores iniciaram o processo de aldeamento dos índios que aí viviam buscando sua transferência para outras localidades.

Após o processo de aldeamento, Valença passou à condição de vila no ano de 1823. Mais tarde, no ano de 1857, através da Lei 961 da Assembléia Provincial, Valença alcançou a condição de cidade.

Stein (1961) destaca a questão referente à eliminação dos índios Coroados na região que corresponde atualmente ao município de Valença, e julga tal fator como importante para completar o povoamento da região, especialmente do município de Vassouras.

Cabe observar que a prática do aldeamento era comum durante o período colonial e permitia ao colonizador, conforme aponta Petrone (1995), abrigar uma população indígena em fase de assimilação, ou seja, o aldeamento era uma espécie de aglomerado criado pelo colonizador, com as mais diversas finalidades, diferente de uma aldeia, na qual o índio não sofre a influência de outras culturas. Nas palavras de Petrone, “aldeia é o termo trazido pelo colono português que aqui se instalou. Vê-se utilizado para indicar uma forma particular de habitat rural concentrado; corresponde ao villaggio italiano, village francês, dorf alemão” (1995, p. 103). Com relação ao aldeamento, Petrone assinala ainda que, no tocante aos núcleos de origem religiosa ou leiga, a expressão aldeamento “serve para distinguir tais aglomerados ‘criados’, daqueles outros, tipicamente ‘espontâneos’ (...). Aldeamento, por outro lado, implica a própria noção do processo de criação de núcleos aglomerados, portanto, inclusive, a ideia de núcleo criado conscientemente, fruto de uma intenção objetiva” (1995, p. 103)

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1.1 A introdução da produção cafeeira no Médio Vale do Paraíba e em Valença

Há diferentes versões a respeito da introdução do café na região do Médio Vale do Paraíba, que apresentou importância econômica principalmente na primeira metade do século XIX, em virtude de sua destacada produção. Valverde (1967) aponta que o caminho percorrido pela rubiácea, em território brasileiro, começa ao norte, pelo atual estado do Pará. Posteriormente, alcança o Amazonas e o Maranhão, para então seguir em direção ao estado do Rio de Janeiro, onde, nos primórdios do século XVIII, passa a ser cultivado em quintais e chácaras do território que, atualmente, corresponde ao atual município de Niterói.

O café, assim como a cana-de-açúcar, foi importante para a economia agroexportadora do Brasil a partir do Século XIX, sendo sua cultura introduzida no Brasil no século XVII com a conhecida estrutura colonial: dependência dos produtos primários, subordinação ao mercado externo e utilização de mão de obra escrava.

A literatura atinente à cultura do café no Rio de Janeiro e especialmente no Vale do Paraíba apresenta os fatores que concorreram para sua introdução nesta região.

Becker e Egler (1994, p. 107) abordam a questão do café no Vale do Paraíba da seguinte maneira:

Foram os capitais acumulados com a intermediação comercial da zona mineradora, que financiaram o surgimento da atividade econômica que se transformou na marca registrada do Império no Brasil: a ‘plantation’ escravista cafeeira. O café brasileiro nasceu da combinação do capital acumulado (...) aliado ao trabalho escravo disponível com a decadência das minas e a disponibilidade de terras florestadas nas vizinhanças do Rio de Janeiro, excelentes para a produção cafeeira.

Sendo o Rio de Janeiro capital do Império e Distrito Federal, houve, portanto no estado uma maior concentração de atividades de importação e exportação, gerando, como nos aponta Santos (2002), uma maior circulação de capitais e população que foram decisivos para a exploração da economia cafeicultora do país. Para a autora “sem esses recursos, dificilmente essa cultura teria sido implantada no Rio de Janeiro, pois a província não contava com condições de solo especialmente favoráveis ao café”. (2002, p. 33)

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Para Cano (1975), havia procura pelo café e o preço era convidativo, portanto, o aumento da demanda e dos preços estimulou um grande plantio de cafeeiros na primeira metade da década de 1830.

De acordo com Stein (1961), no início do século XIX, o cafeeiro era um arbusto exótico, plantado em hortas nas encostas dos morros das vizinhanças de áreas baixas como São Gonçalo, Niterói e Jacarepaguá. Com seu advento em escala comercial, a produção do café passou a se alastrar pelo estado do Rio de Janeiro. Inicialmente, o café era plantado ao longo das estradas que ligavam o Rio de Janeiro a Minas Gerais. Mais tarde a produção foi se espalhando ao longo do Vale do Paraíba.

Whately (1987) assinala que o município de Resende, pertencente à Região do Médio Vale do Paraíba Fluminense foi o precursor na implantação da cultura cafeeira na região. De acordo com a autora, com o fim da mineração, parte da população que se dedicava a essa atividade se deslocou para o Médio Vale e passa a cultivar, por exemplo, milho, feijão entre outros. No início do século XIX o café passa a ser plantado em Resende.

Para Taunay (1945, p. 39), inicialmente o café era plantado no Distrito Federal, entretanto, posteriormente espalhou-se pelo interior fluminense, que se tornou a mais importante área de cultivo de café. O autor destaca ainda que:

Dois rumos notáveis e principais tomou a invasão cafeeira em terras fluminenses, nos primeiros anos da disseminação da rubiácea: o do noroeste, com os núcleos importantíssimos de S. João Marcos e Rezende, e o do norte, de que decorreriam as grandes lavouras de Vassouras, Valença e Paraíba do Sul.

Há um consenso dentre todos os autores aqui consultados que se ocuparam em pesquisar a produção cafeeira no Médio Vale do Paraíba Fluminense: o que aponta essa região como sendo a principal área produtora de café do Brasil na primeira metade do século XIX. Foi essa condição que conferiu a Valença, juntamente com Vassouras, um importante papel polarizador dentre os outros aglomerados aí existentes naquela época. Conforme se poderá observar, esse papel será reforçado pela instalação do transporte ferroviário, embora a sua chegada tenha ocorrido no período (1865) em que a produção cafeeira da região começava a apresentar problemas, tais como a perda de fertilidade dos solos.

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1.1.1 importância do café em Valença e seu papel na rede urbana da época

A cultura do café foi de grande importância para a região do Médio Vale do Paraíba Fluminense, visto que sua introdução contribuiu para intensificar o povoamento da mesma, além de gerar uma importante infraestrutura local, especialmente por conta da instalação de linhas férreas, que foram construídas com a finalidade de facilitar o escoamento do produto.

Diferentes obras atestam a importância econômica do café sob vários aspectos. De acordo com Marafon et alli (2005, p. 35),a importância da produção cafeeira e o fato de boa parte dessa ser exportada, possibilitou a forte integração entre o interior e a cidade do Rio de Janeiro, por conta da presença do porto:

O café foi, portanto, um importante dinamizador no processo de ocupação e estruturação do território fluminense, permitindo que se desenvolvesse uma rede de circulação que, de certa forma integrou o referido território. Nesse sentido, cabe destacar o papel desempenhado pelo porto do Rio de Janeiro, o qual possibilitou que o interior fluminense se articulasse com a cidade carioca.

Já para Ferraz (2006) a produção de café foi decisiva para a instalação do primeiro ramal ferroviário em Valença para o escoamento do produto, fazendo com que a cidade se tornasse numa das mais importantes do Vale do Paraíba Fluminense no século XIX, com grande comércio e residências de importantes fazendeiros.

No ano de 1865 foi inaugurada no distrito valenciano de Barão de Juparanã, a estação ferroviária Desengano (antigo nome deste mesmo distrito), que atendia a linha Centro e ao ramal Jacutinga. Atualmente a estação Desengano está desativada e tornou-se a única do ramal Centro no município de Valença, sendo seus trilhos utilizados apenas para transporte de cargas.

Em 1871, foi inaugurada a Estrada Ferroviária Valenciana, também ligando Valença a Barão de Juparanã, No ano de 1880 o ramal Jacutinga, que teve sua origem na Cia Estrada Ferroviária Valenciana, foi prolongado até Rio Preto-RJ.

Além das linhas férreas, que dinamizaram a economia da região, atividades complementares ao café também se destacaram na mesma, fortalecendo assim a economia daquela localidade além de seus arredores. Conforme nos aponta Valverde (1967, p.17) “a

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clássica fazenda de café poderia ser comparada a uma cidade em miniatura, possuindo capelas, sapatarias, alfaiatarias, chaveiros entre outros”.

Um importante comércio varejista, que supria as necessidades dos fazendeiros foi constituído na região do Médio Vale do Paraíba Fluminense. No caso de Vassouras havia um importante comércio local que supria o pequeno fazendeiro e prosperava com as tropas que percorriam a Estrada da Polícia, a mais importante do Brasil na época (STEIN, 1961).

Ainda no que respeita à constituição de importantes redes envolvendo diferentes povoados, gerando riquezas vinculadas à produção cafeeira, Valverde (1967, p.57) destaca que:

Uma dessas grandes fortunas era a do comendador Joaquim José de Souza Breves. Possuía ele mais de vinte fazendas, situadas nos municípios de São João Marcos, Piraí e Rio Claro nas quais colhiam200 a 300 mil arrobas anuais de café… Mangaratiba era um porto quase todo seu. Entre o porto e suas fazendas circulavam diariamente setenta diligências…

Joaquim José de Souza Breves não correspondia exatamente à figura de um aristocrata, visto que ele era considerado uma pessoa simples, com poucos requintes de cultura (VALVERDE, 1967).

No entanto, uma parcela considerável dos fazendeiros de café à época se enquadrava nesta condição. Fora isso, predominava no Médio Vale do Paraíba Fluminense a postura do aristocrata que vivia na própria fazenda acompanhando de perto seus negócios, situação que passa a se modificar com o avanço do café em território paulista (MONBEIG, 1984).De acordo com Muaze (2010), concomitante a essa presença aristocrática, famílias se fortaleceram através de sua posição de grande prestígio e influência política, controlando vastas extensões de terras da região, resultando em expressiva concentração fundiária.

Se, por um lado, se atribui importante dinamização da economia em território paulista em função da diversidade de capitais relacionados direta e indiretamente com a produção cafeeira que aí se desenvolvia (MONBEIG, 1984), por outro lado, torna-se importante assinalar que, em Vassouras, surgiram iniciativas de diversificação do capital que se apoiavam simultaneamente na produção cafeeira e em empréstimos junto às Casas Comissárias do Rio de Janeiro, cujos capitais voltavam para o município de Vassouras na

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forma de empréstimos para a mesma produção cafeeira que aí ocorria. A família Teixeira Leite cumpriu esse duplo papel (STEIN, 1961).

A estrutura fundiária altamente concentrada vigente na produção cafeeira do Médio Vale do Paraíba Fluminense, acabava por favorecer a criação de vilas e, portanto, de novos cargos políticos que estariam sob o controle destas mesmas influentes famílias. Além dos casos acima, podem ser citados ainda os de Ribeiro de Avellar, os de Werneck e os de Rodrigues da Cruz. As duas últimas famílias foram fundadoras da Vila de Valença (MUAZE, 2010).

Manuel Jacinto Nogueira da Gama, o Marquês de Baependi, foi proprietário de diversas fazendas valencianas. Um de seus filhos, Manuel Jacinto Carneiro da Costa e Gama, o Barão de Juparanã, foi um dos responsáveis pela construção da estação Desengano, inaugurada no ano de 1871.

A chegada da estrada de ferro, a partir dos interesses postos por essa estrutura patriarcal-patrimonialista-coronelista, acabou por exercer forte influência na formação de uma rede de aglomerados apoiada na produção cafeeira. Valença passou a ser o elo entre o sul de Minas Gerais e o porto do Rio de Janeiro. Sediando importantes fazendas de café da época, Valença também fomentava o comércio envolvendo estas duas “pontas”: do sul de Minas de onde vinham importantes gêneros alimentícios, enquanto que do porto do Rio de Janeiro chegavam variados produtos importados, principalmente da Europa11.

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1.1.2A crise do café no Médio Vale do Paraíba e em Valença: decadência econômica?

Conforme apontado, podemos observar que o café foi de suma importância para a região do Médio Vale do Paraíba fluminense e, em particular, para o município de Valença. Entretanto, no terceiro quartel do século XIX a produção cafeeira entrou em decadência, ocasionando profundas transformações nessas localidades.

Há um consenso entre diversos autores que discutem a questão da crise e decadência do café no Vale do Paraíba Fluminense em função, principalmente da manutenção do trabalho escravo num período em que este já começava a ser extinto. Referindo-se a Joaquim José de Souza Breves, proprietário de mais de vinte fazendas na região, Valverde anota que o mesmo passou por enormes dificuldades econômicas em função da abolição visto que “o alicerce disso tudo era, porém, mais que o de nenhum outro, o trabalho escravo. a abolição trouxe-lhe o colapso financeiro. Morreu endividado” (1967, p. 58). A perda de fertilidade dos solos da região; a ocorrência de algumas pragas na lavoura cafeeira; em alguns períodos, a ocorrência de quantidades de chuvas consideradas excessivas e, portanto, prejudiciais à lavoura cafeeira, bem como aos solos. São estes alguns fatores também apontados como que concorrendo para a crise na cafeicultura do Médio Vale do Paraíba Fluminense. Todos, porém, considerados menos relevantes do que a abolição (STEIN, 1961).

Conforme aponta Whately, a crise do café em Resende acentua-se a partir de 1870, quando mesmo com o fim do tráfico de escravos, não houve a extinção imediata do trabalho cativo. Essa questão seria percebida depois, quando começou a ocorrer falta de braços (por exemplo, quando escravos envelheciam e/ou morriam e sentia-se a dificuldade para sua reposição) e consequente inflação de seu preço. É possível observar que mesmo extinto o tráfico de escravos em 1850, não se cogitava ainda a vinda de imigrantes para Resende, diferente do que ocorreu nas fazendas de café paulistas. A autora cita a Ata da Câmara de 1874, na qual foi registrada uma discussão a respeito da falta de braços para a produção cafeeira:

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