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Um olhar para o sofrimento do trabalhador no contexto organizacional

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Academic year: 2021

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FERNANDA DA SILVA MORINI

UM OLHAR PARA O SOFRIMENTO DO TRABALHADOR NO CONTEXTO ORGANIZACIONAL.

IJUI,

2012

UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO

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FERNANDA DA SILVA MORINI

UM OLHAR PARA O SOFRIMENTO DO TRABALHADOR NO CONTEXTO ORGANIZACIONAL

Trabalho de pesquisa supervisionado,

apresentado como requisito parcial para conclusão do curso de formação de Psicólogo.

Orientadora: Tania Maria de Souza Borba

Ijuí 2012

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FERNANDA DA SILVA MORINI

UM OLHAR PARA O SOFRIMENTO DO TRABALHADOR NO CONTEXTO ORGANIZACIONAL

Trabalho de Pesquisa Supervisionado, apresentado como requisito parcial para conclusão do curso de formação de Psicólogo, pela Universidade Regional do

Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Data Aprovação:____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________ Orientadora: Tânia Maria de Souza Borba

_________________________________________ Prof.: Gustavo Brum

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RESUMO

Como é visto atualmente o processo de estruturação do contexto organizacional, vem sendo reformulado, com uma velocidade incrível. Por isso as pessoas que estão no mercado de trabalho precisam obter um lugar neste novo contexto, onde é indispensável que seguidamente estejam se adaptando e muitas vezes se transformando conforme a necessidade de produção a qual são submetidas no local de trabalho. Este antigamente era realizado coletivamente e com a concepção de todos, com a reestruturação, a partir da utilização das máquinas e novas tecnologias, onde o trabalho do trabalhador fica fragmentado, com mão-de-obra mecanizada, na preocupação de atender as exigências, deixando o social e o coletivo para segundo plano. Em visto disso, ocorreu um apagamento da figura e da posição do sujeito nas relações de trabalho. O que antes era tido pelo sujeito como possibilidade de idealização, havendo a implicação deste no processo produtivo, com as mudanças passou a ser realizado por um trabalhador objeto, desta forma há a possibilidade de existir desejo e subjetividade no trabalho?

Palavra-chave:

Organização, trabalho, sofrimento, objeto, subjetividade

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 5

1 As Raízes da Organização do Trabalho e de Possível Sofrimento do Trabalhador ... 9

2 As Relações Intersubjetivas Estabelecidas a partir do contexto Organizacional ... 32

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 53

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INTRODUÇÃO

O tema desta pesquisa se definiu durante o meu estágio supervisionado de ênfase em Psicologia e Processos Organizacionais e do Trabalho I e II, na qual, aconteceu na UNIGESTAR Assessoria em Psicologia Organizacional e do trabalho. Principalmente ao haver a possibilidade em poder escrever um novo eixo de trabalho para este estágio na qual se dominava Clínica do Trabalho. Foram muitos estudos e muitas questões levantadas, por isso pensei ser uma ótima oportunidade poder pesquisar com mais entusiasmo e mais tempo sobre o que circulava sobre o sofrimento do trabalhador, de onde este sofrimento vinha, como acontecia, se esse sofrimento só era causa da organização do trabalho, entre outras questões, que espero poder discorrer neste momento.

Com o objetivo de compreender o conceito de sofrimento no trabalho a partir de como os trabalhadores se inserem e se organizam no contexto laboral. Tentando entender também como ocorrem as estratégias de defesa elaborada pelos trabalhadores contra os efeitos desestabilizadores decorrentes de situações do trabalho que podem desencadear um sofrimento. Principalmente do ponto de vista das relações sociais, psicológicas e ainda psicodinâmicas do trabalho. Procurando identificar as raízes do sofrimento no trabalho, compreendendo as relações do trabalhador com esse sofrimento, e ainda em que circunstância o próprio contexto organizacional se revela uma ameaça à saúde do próprio trabalhador.

Primeiramente, o presente estudo se dará a partir de um breve histórico sobre a evolução do trabalho para então compreender melhor o que possivelmente desencadeia o sofrimento, para então posteriormente apreender os sentidos de trabalho e seus reflexos sobre a subjetividade do sujeito.

O trabalho pode não só causar sofrimento, mas também prazer, implicando assim em uma contradição que é movimentada pela organização do trabalho, pela estrutura do ambiente e ainda pela forma de como os indivíduos percebem o

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processo de realização de suas atividades, dos processos intersubjetivos e interativos que se desenvolvem nos locais de trabalho.

Portanto, esta pesquisa possui importância significativa à medida que expõe, dando maior embasamento no pensamento Dejouriano sobre o sofrimento no trabalho; um tema tão presente e próximo da realidade de todos os trabalhadores e da prática profissional do Psicólogo, tanto organizacional, como os que lidam clinicamente com o sofrimento, insatisfação, mal-estar, até mesmo bem estar, satisfação, prazer entre outros. O trabalho tem função fundamental para o individuo, além da sobrevivência constitui uma ferramenta para a formação de uma identidade do ser humano.

O primeiro capítulo é baseado no contexto histórico do trabalho e seus desdobramentos. De que modo o trabalho foi se dando, pois era tido apenas para satisfazer as necessidades de sobrevivência, onde o capital de troca era o produto extraído da natureza e que o próprio homem produzia, e com o tempo foi avançando, até desencadear a revolução industrial. A partir deste momento houve várias mudanças tanto na organização do trabalho como para o trabalhador, além da relação do trabalho com trabalhador. Portanto, poder pensar quais as consequências da demanda de trabalho até a contemporaneidade.

Em vista disso, com a inserção de novas tecnologias ocasionou a substituição do trabalho humano pelas maquinas, afinal de contas estas vieram para acelerar a produção e aumentar a lucratividade. Assim, não havendo tempo para o indivíduo pensar na realização da sua atividade, era apenas tido para produzir um objeto, ou seja, como uma mão-de-obra mecanizada, onde não tem lugar para o sujeito. O homem desta forma foi submetido a se adaptar as novas necessidades do mundo capitalista, onde é pago para fazer e não para pensar.

Esta foi uma das questões que mais causou interesse neste tema e o qual pode estar diretamente ligado ao sofrimento do trabalhador, pois se o sujeito não

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pode aparecer, deve manter sempre a subjetividade “apagada”. Como poder produzir/trabalhar desta maneira, como não causar mal-estar sobre o trabalho que exerce?

Atualmente percebe-se que o ser humano precisa ser autônomo, capaz de realizar o maior número de atividades no menor espaço de tempo possível. O mercado se coloca em busca da produtividade, satisfação e lucratividade, cabendo ao trabalhador responder essa demanda, caso contrário, o que coloca-se a sua frente é a insegurança, o medo de perder o emprego e consequentemente, um provável sofrimento.

Poder pensar que até as relações intersubjetivas de trabalho estão diretamente ligadas à forma como a economia organiza-se. O sistema capitalista visa como principal objetivo o lucro e nesta concepção, o que está em jogo é um aproveitamento máximo, seja de mão-de-obra, seja de oportunidades em relação a um consumidor/comprador ou até mesmo em relação à matéria prima.

Nesta perspectiva, cabe pensar de que forma o trabalhador se insere ou é inserido neste contexto. Em meio ao apuro e pressão por excelentes resultados que este sistema exige, temos uma grave conseqüência à saúde mental do trabalhador. A partir disto, faz-se necessário entender até que ponto a enfermidade e o trabalho repercutem um sobre o outro.

Enfim, trabalho não é um conceito ou termo que limita-se a uma única observação. Pode ser explorado tanto em sua vertente histórica, quanto em sua funcionalidade. No entanto, para analisar a historia do trabalho deve-se antes concebe-la envolvida juntamente com a história da civilização, com suas vicissitudes e seus períodos de desenvolvimento. Ocorre aqui, uma ligação entre pensar o trabalho e pensar o homem enquanto sujeito do trabalho. Para tornar um pouco mais

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clara a ideia, deve-se conceber a historia das relações humanas do sujeito com o trabalho.

Fazendo essa conexão, é possível esclarecer questões que parecem tão vividas na atualidade, pois o trabalho hoje, já não é mais somente sinônimo de retorno de “coisas boas”, mais do que nunca tem um contraponto, pois ocasiona várias patologias, causando o sofrimento do trabalhador. Já não existe mais prazer pelo trabalho, podemos pensar que quase só existe sofrimento no trabalho?

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1. As Raízes da Organização do Trabalho e de Possível Sofrimento do Trabalhador

O trabalho constitui uma ferramenta para a formação de uma identidade do ser humano. Não limita-se apenas para a criação de valores de troca, mas um estilo de vida, uma posição na sociedade. A sociedade do trabalho (produtora de mercadorias) é dependente dos fatores históricos, os quais influenciaram todos os métodos e relações de trabalho.

A organização laboral delimita as forças produtivas dentro do mercado de trabalho. As diversas faces do capitalismo, que determina o tipo de produção vigente, controlam as forças de trabalho de acordo com as imposições do atual momento. Por isso, cada época, o uso total de um modelo de gestão e o tipo de organização do trabalho faz com que solidifiquem as organizações trabalhistas.

Mesmo nos primeiros passos do capitalismo, que através da mão de obra do trabalhador tem por objetivo acumulação de riquezas, produção acelerada e através desta força de trabalho percebe-se que a organização do trabalho é fortalecida como amarras das forças produtivas, atuando em benefício a este modo de produção.

Com a modernização e ampliação do capitalismo um novo modelo de gestão e organização do trabalho surge em oposição à administração tradicional. Este novo modelo está pautado num sistema de iniciativa e incentivo, resultado de um novo padrão tecnológico que buscava uma concentração técnica e financeira, segundo ideias da teoria taylorista. A utilização deste modelo cria um conjunto de mecanismos que apropria-se do saber dos operários e impõe sua hegemonia nas relações de trabalho buscando maximizar a produção reduzindo a improdutividade e os custos.

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A amplificação deste modelo vem com o fordismo. Este modelo faz uma reformulação do projeto de administrar as particularidades de cada trabalhador. Na produção em massa existe a necessidade de uma enorme quantidade de trabalhadores (independente de sexo, idade e profissionalização) que em pouco tempo tenha domínio da função que ira desempenhar. Durante a hegemonia deste modelo, havia elevada oferta de empregos, uma vez que a produção em massa gerava igualmente um consumo em massa. A própria organização do trabalho ofereceria trabalho e renda para gerar um ciclo consumidor do mercado.

“Nós sabemos que essa repetição interminável da “copia” é o que tem produzido a sociedade industrial. Tanto no bloco dos países socialistas como no capitalista. Esta reprodução ad infinitum do mesmo objeto. Sabemos que, curiosamente, essa multiplicação do objeto teve um efeito paradoxal: o objeto parece carecer de valor. Passa a precipitar-se seu valor, mas, o curioso é que para que ele venha a perder esse valor de fazer falta, ele tem que passar a ser possuído em numero maiúsculo, pelo sujeito em questão”. (Jerusalisnky, 2000, p.40).

Desta maneira, além de se produzir em massa ocorre um outro problema advindo da sociedade capitalista, mencionada pelo Jerusalisnky, que através da produção em massa desses objetos e por ser de fácil acesso, este objeto perde logo seu valor ao conseguir possuí-lo, como se fosse valioso quando não se tem mas, ao adquiri-lo esse valor se perde.

Posteriormente ao modelo mencionado, a forma com que o trabalho está sendo organizado, ultrapassa o campo social, político e cultural. São oferecidos para a sociedade oportunidades de aprendizado tanto profissional como pessoal. A sociedade nota o crescimento das fábricas e uma grande intervenção no lazer, saúde e cultura dos trabalhadores.

Com a inserção das maquinas no processo produtivo gerou-se um grande desconforto e mal-estar, muitos trabalhadores foram retirados dos seus lugares de criação e desenvolvimento. Estes por sua vez tiveram que adaptar-se a este modo

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de produção, no qual, poucos trabalhadores realizam o trabalho em um lugar onde necessitava um número maior de mão-de-obra. Aquele espaço antes dado aos operários tornou-se restrito a um contingente muito mais seleto, causando o distanciamento e o declínio da função do sujeito no processo laboral. Este processo passou a ser realizado como forma de apropriação, apenas do produto produzido,

não interessando a sua importância ou para quem está sendo elaborado.

A fuga do trabalho formal contribuiu para o esgotamento da organização do trabalho. O ritmo elevado de produção, os salários baixos, a criação de novas tecnologias e a exigência de um nível educacional elevado exigido por estas, levaram a uma evasão dos trabalhadores dos seus postos de trabalho.

Um modelo japonês surge, impondo novas regras de produtividade. Este modelo não mais interessa ao capitalismo. Ao invés da produção centralizada do fordismo temos a flexibilização ou terceirização do toyotismo (just in time). Estas transformações trazem inúmeras modificações ao setor produtivo, ao mercado e à sociedade. Os trabalhadores devem ser polivalentes e possuir muita qualificação. Além disso, devem “mostrar serviço” e dedicação para ter garantia de seu emprego.

Com a Revolução Industrial ocorreu um profundo impacto no processo produtivo em nível econômico e social. Ao longo desse processo a máquina foi superando o trabalho humano e uma nova geração de capital e trabalho se impôs. Com a revolução os trabalhadores perderam o controle do processo produtivo, uma vez que passaram a trabalhar para um patrão e assim, passaram a ser empregados ou operários, perdendo a posse da matéria-prima, do produto final e do lucro.

Como há indivíduos tanto naquela época e principalmente atualmente que não se enquadram nestas expectativas do mercado de trabalho. Devendo estar sempre qualificando-se, pois as mudanças são muito rápidas para melhor suprir essa demanda de mercado. E mesmo tendo consciência disso, muitos indivíduos

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permanecem segregados ou ainda migrando de um emprego a outro, como se não houvesse lugar. Não caberia a partir disso, pensar talvez em uma resposta a um esgotamento da falta de atenção com subjetividade do sujeito? Como se estivessem cansados/esgotados de tanto responder a toda esta demanda.

O filme “Tempos Modernos”1, de Charles Chaplin nos ajuda há compreender

um pouco como estes modos de produção agiam sobre os trabalhadores. Primeiramente o filme faz uma crítica ao modo como os trabalhadores eram tratados. Cargas horárias extensas, compromisso de produzir em grandes quantias, condições subumanas de trabalho e baixos salários. A briga por mudanças sempre foi uma constante desde os tempos da Revolução Industrial.

Outra relação que pode ser retirada da crítica feita por Chaplin, tem relação com a exploração sofrida pelo trabalhador. Este trabalhava muito, mas a remuneração não era o suficiente nem mesmo para adquirir aquele bem que acabara de produzir. Esse filme retrata a década de 1930, mas podemos ver que o mesmo ocorre nos dias de hoje, através da busca constante por inovações que permitem maior produção em menos tempo. Tanto naquela época, como nos dias de hoje há esta preocupação com as inovações. Antes a substituição do homem pela máquina. Máquina esta que só funcionaria com mão de obra qualificada. Hoje a qualificação não permite que alguém que não saiba manusear as novas tecnologias (que pode ser comparado a saber ler e escrever) busque um espaço no mercado de trabalho.

Conforme esse modelo capitalista em que a preocupação gira somente em torno de melhores resultados atrelada à produtividade e lucratividade da organização, podemos nos questionar sobre o lugar que é dado para o trabalhador, ou quais as condições de trabalho dispostas aos trabalhadores; será que há lugar

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para subjetividade destes? E ainda, quais as consequências que poderão se desencadear a partir disso?

Tal concepção é possível a partir do momento em que se tem contato com trabalhadores em seu ambiente laboral. Esta experiência é importante, pois muito houve-se falar que o trabalho é meio de valorizar o homem, de dar sentido a vida de uma pessoa. No entanto, o que pode-se notar são pessoas que estão, em muitos casos, sofrendo com a realidade de trabalhar para sobrevivência tanto dela como de toda sua família. E desta forma não é possível proporcionar bem-estar. As pessoas trabalham para poder viver e sobreviver em uma sociedade desigual, onde o ser é substituído pelo ter, o que para todo sujeito neurótico precisa substituir o ser pelo ter, ou seja, precisa deixar de ser o falo, para passar a desejar ter o falo, onde trabalha-se para consumir e adquirir objetos, podendo neste caso, o trabalho trabalha-ser gerador de insatisfação e angústia que participam no feitil de determinado objeto, mas em alguns casos não do seu consumo.

Ao pensar em uma visão sociológica a questão do trabalho é designada como a relação do homem com a natureza e também através de relações técnicas de produção. Desta forma o trabalho é tido como exploratório gerador de riquezas e fatura. Onde foi inscrito através da história quando o homem passou a pensar em sua própria subsistência para além da exploração dos recursos naturais, passando a produzir através da transformação da natureza.

Com isso a identidade a partir trabalho refere-se também à consciência de pertencer a algum grupo social, inclusive aquele de sua atividade exercida e da carga afetiva que isto implica. Percebe-se que isso implica a questão do valor subjetivo do trabalho. Cientes de que o discurso social referido é o discurso capitalista, acompanhado dessa subversão do saber, situado agora do lado do objeto.

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Portanto, a organização do trabalho é designada a partir das divisões do trabalho, o conteúdo da tarefa, o sistema hierárquico, as modalidades de comando/liderança, as relações de poder, entre outros. Pensado o termo Organização na qual designa o ato organizador que é exercido nas instituições e, também, refere-se às realidades sociais, sendo a organização social um conjunto formado por cooperação, uma coletividade instituída com vistas a objetos definidos, tais como a produção como em empresas industriais, a distribuição de bens e empresas comerciais e a formação instituição educativa.

Essa divisão do grupo de trabalho causa ruptura no seu processo de trabalho, ficando cada trabalhador com uma tarefa de efetuar somente uma determinada ação. Sendo que sua tarefa já está pré-determinada, não precisando este pensar ou conhecer todo seu processo para trabalhar, basta somente reproduzir, advindo da concepção Taylorista., onde apenas apertar o parafuso e não participar de todo o processo, assim pode-se pensar que este indivíduo não passa de um instrumento para produção de um objeto. A partir disso será que estes trabalhadores sentem prazer em somente produzir e executar a mesma ação? Onde fica a implicação deste trabalhador, será que basta somente reproduzir? Será que a escolha profissional e com ela todo um futuro de trabalho, não está também relacionada ao desejo e identificação e será que são importantes ao ambiente organizacional?

As empresas desenvolvem uma estrutura formal de relacionamento entre os membros, fixam objetivos e cobram resultados. Com isso as empresas são caracterizadas por um lugar privilegiado de conflitos pessoais, profissionais, de grupos, de interesses, ideologias e cultura própria. Somente escutar as pessoas ou reconhecer um lado da moeda, não garante a resolução. Entender e trabalhar questões da diversidade passa a ser fundamental para uma organização moderna de trabalho.

“A cultura, nessa perspectiva, seria um conjunto de renúncias consentidas pelo homem, a fim, de viver em comunidade e reformar progressivamente as instituições sociais que se mostraram necessárias ao

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trabalho intelectual e a construção da solidariedade humana” (ENRIQUEZ, 1983, p. 96).

A organização de trabalho definida como Empresa, caracterizada pela produção e distribuição de bens e prestação de serviços, tendo o trabalhador como indivíduo motor ou ainda como mero instrumento para viabilizar a produção do objeto.

“Há diversas metáforas acerca deste lugar que o objeto passa a ocupar e de como o ser humano passa a ser, ele mesmo, um mero instrumento de produção desse objeto. Vai se deslocando de sua posição subjetiva e passa a ser instrumento para produção desse objeto”. (Jerusalinsky, 2000, p. 37,38).

Para ilustrar um pouco melhor dessa relação de mero instrumento para viabilizar a produção do objeto, na qual não há a possibilidade de aparecer a

objetividade pode-se ver o filme: “A classe operária vai ao paraíso”2

. Que a partir da perspectiva de considerar a subjetividade no campo do trabalho, poderia considerar o acidente que o personagem sofre rompendo com o gozo da entrega, de alienação, conforme o texto do Contardo “Sedução Totalitária”, seria uma forma de enunciação subjetiva? Então pensaria na importância do sintoma enquanto espaço subjetivo, se não houver outro. Neste caso o sintoma enquanto pathos.

“(...) a anulação do individuo, a obediência cega a regulamentos que fazem às vezes de lei e a construção de um mundo social fantasmagórico, regido por “forças ou ordens” que emanam de Ninguém, porque são tidas oriundas da tradição, da historia, da raça do costume ou simplesmente uma versão abastardas de destino, que é o “não tem jeito”, sempre foi assim e assim vai continuar sendo” (COSTA apud MARTINS, 2009, p. 54).

Calligaris (1991) em “A Sedução Totalitária” faz uma relação à alienação do sujeito, pela paixão de ser instrumento, no momento em que este entrega-se ao outro, de maneira que não possa aparecer um furo. O que há de sedutor é

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justamente por não haver o furo e consequentemente, não haver um sujeito, quando o há, este desejante, não há entrada na alienação e por isso não está condicionado a ser um mero instrumento.

Totalizante quando os indivíduos em grupo aceitam funcionar como instrumentos, compartilhando de um mesmo saber, instituído pela organização do trabalho e quando não há esse reconhecimento do saber compartilhado e não aceitando funcionar como instrumento, não podendo fazer parte deste modelo totalitário, deixam assim de serem alienados. Nesse sentido não podemos deixar de nos questionar em como o sujeito obtém algum prazer nessa relação de alienação. Segundo Calligaris (1991) “... efeito do interesse e da paixão humana em sair do sofrimento neurótico banal, alienando a própria subjetividade, ou melhor, reduzindo a própria subjetividade a uma instrumentalidade”. (p.111).

Segundo Calligaris (1991), a paixão da instrumentalidade é propiciada pela montagem onde um sujeito transforma-se em instrumento de um saber que o leva a praticar uma série de crueldades. O neurótico, através da paixão de ser instrumento de um saber, pode ‘optar’ por reduzir a sua própria subjetividade a uma instrumentalidade, para encontrar o alívio que a montagem promete. Ao abandonar sua singularidade o sujeito tampona sua falta, sua castração.

A consequência é a transformação do sujeito em instrumento de um saber assim estabelecido. Portanto o gozo não está em matar pessoas, sim em ser um "funcionário exemplar". Calligaris refere-se ao julgamento de Nuremberg, do Albert Speer, que primeiro foi arquiteto de Hittler e então ministro dos armamentos do Reich, na qual, dirigiu a guerra por alguns anos, onde referia-se a questão de como e porque, o nazismo prosperou e encontrou nele um adepto e cúmplice.

“Porque é bem ai que está o inaceitável: que, para conseguir uma saída do sofrimento neurótico banal através de um semblante perverso, o neurótico possa considerar que qualquer preço é bom. Em outras palavras, que, para conseguir o alívio que oferece a obediência do funcionário

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exemplar, ele esteja disposto a servir qualquer ordem”. (CALLIGARIS, 1991, p.115)

O autor não atribui a paixão da instrumentalidade somente aos episódios do totalitarismo, colocando-a como uma condição cotidiana e abrangente de saída da neurose.

Devido à paixão pela instrumentalidade compartilhar de um saber comum, uma tentação irresistível e muito cômoda, pois não é necessário pensar e sim obedecer, seguir esse funcionamento. Esse individuo torna-se um ótimo funcionário, no qual, apenas é o instrumento para chegar/obter o objeto o qual foi designado a fazer. Afinal, não é pago para pensar e sim para fazer, estando disposto a servir qualquer ordem, não só por este motivo, mas ainda pelo fato de hoje em dia haver alto grau de rotatividade de trabalhadores. O individuo que utilizar menos tempo para realizar sua tarefa com menos despesas, continua; caso contrário há centenas de outros indivíduos querendo, ou melhor, necessitando preencher esta vaga, o que não quer dizer que seja do seu desejo. Para CHEMAMA (1995), “Desejo é uma falta inscrita na palavra e efeito da marca do significante sobre o ser falante. O desejo do sujeito falante é o desejo do outro. Se constitui a partir dele, é uma falta articulada na palavra e é a linguagem que o sujeito não poderia ignorar, sem prejuízo”. (p.42).

Sobre essa relação da paixão pela instrumentalidade surge a questão sobre a alienação que diz respeito à inserção de cada um na Cultura, isto é, na linguagem. Assim, quanto mais próximo da cultura se está, mais se aproxima da alienação, quanto mais se é recoberto pelos significantes da linguagem. Por outro lado, quanto mais se caminha em direção ao sujeito, onde a linguagem não alcança com tanta eficácia, fica mais distante da cultura e assim fora da alienação. “Em outras palavras, não acho suficiente pensar que o desenvolvimento técnico enquanto tal seja alienante.” (CALLIGARIS, 1991, p. 109).

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Quando o sujeito está sem identidade e precisa identificar-se a algo a alienação vem no sentido de encobrir ou negligenciar o fato de que, o sujeito define-se não apenas na cadeia significante, mas no nível das pulsões, em termos de define-seu gozo em relação ao Outro.

“Mas para que o bando se torne uma sociedade, somente a multiplicidade de Desejos de cada um dos membros do bando se apoiem – ou possam se apoiar – nos Desejos dos Outros membros. Se a realidade humana é uma realidade social a sociedade só é humana enquanto conjunto de Desejos se desejando mutuamente enquanto tais”. (RUFFINO, p.4).

Pode-se identificar que na prática pouco escuta-se do funcionário, mesmo aplicando pesquisas de satisfação, de clima etc. Afinal escutar é diferente de ouvir e somente ouvir não garante. É preciso dar um valor, um lugar ao que se escutou. Pois nesse sentido o trabalhador não passará de um mero instrumento para viabilizar a produção de um objeto e principalmente sem reconhecimento de tal.

Contudo a realidade atual da maioria das empresas ainda está atrelada às noções mecanicistas, onde a frase que as resume seria “você é pago para fazer e não para pensar”. Trata-se de uma ideia justificável se buscarmos o cerne do conceito de organização, onde, provém do grego “organon”, que significa ferramenta ou instrumento, conceito surgido na época da Revolução Industrial, onde com o advento das máquinas as pessoas não tiveram outra escolha, senão a adaptação.

Segundo algumas teorias capitalistas, como mencionado inicialmente à contradição de capital e trabalho, “mais valia”, que vai assinalar a importância do investimento em máquinas, equipamentos, chamado produtivo, por outro lado possibilitará mais tarde a visão da compreensão do trabalho na sociedade contemporânea através da articulação do labor, trabalho e ação, onde:

“O labor é a atividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano (...); o trabalho é a atividade que corresponde ao artificialismo da existência humana, que produz um mundo “artificial” de coisas (...); a

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ação, única atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria (...)” (ARENDT, 1989 , p.15).

Arendt refere-se ao labor, o trabalho pela sobrevivência e era restrito à casa,

onde o homem vivia “privado de”, submetido às necessidades da natureza. O

produto advindo do labor era perecível, como o alimento por exemplo.

O termo trabalho propõe ainda uma associação relacionada com o sofrimento e a transformação da natureza através da atividade humana (do latim tripalium, instrumento de tortura e instrumento agrícola de cultura de cereais). Desta forma que para ter valor, para conseguir as coisas e merecê-las deve haver sofrimento.

Essa relação da transformação da natureza pode ser descrito no texto de Rodolpho Ruffino, em que este faz uma análise sobre o texto “Kojève introdução à leitura de Hegel”, Kojève discorre sobre a dialética do senhor e do escravo e sua relação, onde o sujeito busca seu reconhecimento através do desejo. Essa cisão entre sujeito/objeto indica o limite do saber que coloca-se nessa relação de luta mortal, em que a morte do outro não pode se dar, pois se assim acontecer não haverá a certeza subjetiva de si quanto tal. Uma vez que não haverá o outro para armar à dialética.

Hegel, segundo Kojève (apud Rufino) onde dois homens lutam entre si. Um deles, aceita arriscar sua vida no combate, o outro que não ousa arriscar a vida, é vencido por desistir da luta. O vencedor por sua vez, não mata aquele que não arriscou a sua vida e assim o transforma em escravo. Isso tudo para conservá-lo cuidadosamente como testemunha e espelho de sua vitória. Nesse luta, que Hegel chamou de luta por puro prestígio, na qual o vencedor se tornará o senhor e o que não se arriscou é o escravo, o "servus", aquele que, foi conservado.

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“Deve abandonar seu desejo e satisfazer o desejo do outro: deve “reconhece-lo” sem ser “reconhecido” por ele. Ora, o “reconhecer” assim, é o “reconhecer” como seu Senhor e reconhecer-se e fazer-se reconhecer como Escravo do Senhor. (RUFFINO, p. 5)

Essa relação consiste em o senhor ordenar o escravo, onde ele passa a gozar do que resulta disso. Ordenando e esperando do escravo como, por exemplo, seu alimento, onde é ele quem planta, cuida e colhe, para entregar pronto ao senhor. O senhor não conhece mais os rigores do mundo material, uma vez que interpôs um escravo entre ele e o mundo. O senhor, porque lê dessa ligação o reconhecimento de sua superioridade no olhar submisso de seu escravo, ao mesmo tempo em que este se vê despojado dos frutos de seu trabalho, numa situação de submissão absoluta.

“Todo esforço estando sendo feito pelo Escravo, o Senhor só tem que gozar da coisa que o escravo preparou para ele, e nega-la, destruí-la, consumindo-a... o Senhor tem sucesso ao chegar ao fim da coisa e satisfazer-se no gozo é unicamente graças ao trabalho de um outro (de seu escravo) que o senhor está liberto em face à natureza e, por conseguinte, satisfeito de si mesmo”. (RUFFINO, p. 8)

Entretanto, essa situação vai transformar-se dialeticamente porque a posição do senhor abriga uma contradição interna: o senhor só o é, em função da existência do escravo, que condiciona a sua. O senhor só o é, porque é reconhecido como tal pela consciência do escravo e também porque vive do trabalho desse escravo. Nesse sentido, pode-se pensar que ele é uma espécie de escravo de seu escravo.

“E é assim que, afinal, todo trabalho servil realiza não a vontade do Senhor, mas aquela – inconsciente a principio – do Escravo que – finalmente – obtém êxito lá onde o Senhor - necessariamente fracassa”. (RUFFINO, p. 11).

No entanto, o escravo, que era mais ainda o escravo da vida do que o escravo de seu senhor, submetendo-se a isso pelo medo de morrer, vai encontrar uma nova forma de liberdade. Entretanto o escravo incessantemente ocupado com o trabalho aprende a vencer a natureza ao utilizar as leis da matéria e recupera uma certa forma de liberdade (o domínio da natureza) por intermédio de seu trabalho.

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Por uma conversão dialética exemplar, o trabalho servil devolve-lhe a liberdade. Desse modo, o escravo, transformado pelas provações e pelo próprio trabalho, ensina a seu senhor a verdadeira liberdade que é o domínio de si mesmo. Então que de nada serve ao homem da grande Luta, matar seu adversário. Deve sim suprimi-lo dialeticamente.

“Por um lado, o Senhor não é Senhor senão porque seu Desejo se apoiou não em uma coisa mas num outro desejo, tendo assim sido um desejo de reconhecimento... Senhor, é enquanto Senhor que deve desejar ser reconhecido; mas não pode sê-lo como tal a não ser fazendo do Outro seu escravo.” (RUFFINO, p.8).

Através da dialética de uma relação de disputa de reconhecimento, ilustrado através do sujeito e o objeto. Utilizando do diálogo racional de duas consciências, para chegar ao reconhecimento de si e para si, até chegar à liberdade. A dialética do senhor e do escravo é um processo de constituição de liberdade, estabelecidas nas relações de reconhecimento, que é a preservação de um e de outro, onde reconhecer a si mesmo e ao outro é uma forma de ver nossos limites e dos outros, que são elementos necessários para a liberdade.

“Só o escravo pode transcender o mundo dado (sujeitado ao senhor) e não parecer. Só o Escravo pode transformar o Mundo que o forma e fixa na servidão e criar um mundo formado por ele onde será livre”. (RUFFINO, p.11).

Utiliza do desejo, como sendo consciência-de-si, nessa alteridade com o objeto, tem também consciência do outro como consciência de si e buscará sua satisfação nesse encontro com esse outro que, de certa forma, é si mesmo. Kojève cunhará a expressão "o desejo é o desejo do outro". Nesse sentido, toda relação humana é com o desejo do outro, na medida em que, negativamente, nos constituímos nessa dialética.

“Desejar o desejo de um outro é, então , em ultima análise, desejar que o valor que eu sou ou que eu represento seja valor desejado por esse

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outro: quero que “reconheça” meu valor como sendo seu, quero que me “reconheça” como um valor autônomo.” (RUFFINO, p. 5)

Retornando ao texto de Arendt a ação fazia parte da esfera pública chamada polis e consistia em privilégio de alguns, os cidadãos. Tinha como significado a dignificação do homem (virtudes) e era espaço do discurso caracterizado pela atividade espontânea e ilimitada. Pois era a única atividade exercida entre os homens que sem a mediação das coisas ou da matéria, cuja condição do homem é a pluralidade. Pois o sujeito identifica-se através do seu discurso, assim conta quem é através da sua realidade.

Com o advento da sociedade moderna a ação perdeu seu significado original e passou a ser confundida com o conceito de trabalho da Antiguidade. Assim, a ação perde o sentido ligado à virtude e identifica-se com a noção de ação como atividade finalista (trabalho). A ação torna-se um fazer.

Antes considerado trabalho, o fabricar agora está relacionado à ideia de domínio sobre as coisas, adquire o domínio sobre os homens numa relação impositiva de uma vontade sobre outra vontade como meio para atingir os fins da paz, segurança, bem-estar, conforto, etc.

O trabalho era considerado todas as atividades que resultassem em produtos ou bens de consumo não perecíveis. Era uma atividade considerada como não fútil, dominada pela relação meio e fim, sinônima de fabricação. O trabalho é o que oportuniza a experiência de sentir-se vivo, já que sua ausência é associada à morte, à exclusão e à segregação em uma sociedade pautada pelo valor produtivo. Passa então, a ser uma forma de identificação e ao desligar-se do trabalho ocorre uma nova busca de identidade para sentir-se útil por ser uma atividade realizada pelas mãos, pois são referentes ao meio de produção de objetos destinados a ocupar um lugar duradouro no mundo.

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Arendt (1989) fala de quem somos através das decorrentes condições dada ao homem ao longo do tempo e que ao mesmo tempo foi criada pelo homem. Sobre o labor, trabalho e ação podem ser sinônimos ao mesmo que são diferenciadas pela maneira como realizam-se, de acordo com o espaço que ocupam e principalmente, pelo resultado final obtido através da realização destas.

Na Era Moderna o significado das coisas foi instrumentalizado. Surgiu com ela o homo faber. A esfera pública, que na antiguidade era a esfera do homem político, passa a ser a esfera do mercado e a troca de produtos passa a ser a principal atividade política. Assim, os homens passaram a ser julgados não como pessoas, mas como seres que agem, que falam e julgam como produtores, segundo e seguindo a utilidade de seus produtos. O espaço de comunicação do homo faber tornou-se alienante, excluindo o próprio homem, pois este passou a mostrar-se através de seu produto. Mesmo que a condição do homo faber venha a ser a de produzir em isolamento, o destino final dos seus objetos repercute na dimensão do mundo dos homens.

Seguindo ainda na Era Moderna ocorreu à progressiva absorção da ideia de trabalho (produtividade) pela ideia de labor (necessidade de sobrevivência), despontando a sociedade de consumo onde o centro das coisas não é mais o mundo construído pelo homem, mas a mera necessidade de sobrevivência. Então, o homem voltado para sua própria sobrevivência não é capaz de dar sentido a outras coisas e as pessoas tornam-se descartáveis. O homem é julgado pela função que exerce no processo de trabalho e por sua produção social.

Arendt (1993) possibilita verificar que o trabalho, antes considerado como durável e permanente no mundo, hoje assume a forma de labor e está diretamente ligado à questão da necessidade, da sobrevivência atrelada ao consumo.

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A subjetividade vai desaparecendo, há humanos robotizados ou robôs

humanizados, no texto “La fábrica del Mundo” (2005) aparece claramente este

sofrimento, esta falta da subjetividade, do valor simbólico do trabalhador. Segundo a diretora Zhang Xuewen: “o negócio não é fácil, cada vez mais há competidores e temos que adaptar continuamente o produto para atrair os clientes”, para ela um salário de 75 euros por 10 ou 11 horas de trabalho diário e um dia de folga por mês é normal, porque é assim em muitos lugares na China. Assim esse trabalhador não tem escolha, ou trabalha a fim de suprir suas necessidades de sobrevivência, ou então será demitido se não seguir a risca a forma de trabalho da empresa.

Tornando assim o individuo como robô, onde o trabalhador tenha função automática, como se fosse afogado pelo processo vital da espécie e a única atitude exigida e possível deste fosse o abandono de sua individualidade.

Fica explicito a organização do trabalho como um agente interventor do quadro de emprego e desemprego. Todos os elementos históricos demonstram a influência da organização do trabalho na sociedade, agindo na ideologia do setor produtivo e, desta forma, no mercado de trabalho.

Anteriormente ter um emprego, trazia uma certa segurança, estabilidade e hoje em dia isso praticamente não existe. Já a palavra desemprego ganha mais

conotação e perde-se muito, em termos de segurança. Segundo Freud em “O

mal-estar na civilização” afirma que “O homem civilizado trocou uma parcela de suas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança” (Freud, 1929, p. 119).

Então as relações de trabalho pouco a pouco passaram a obter novas descrições e definições. O homem responsável pelo processo de trabalho ainda tem, a difícil tarefa e acompanhar essa reestruturação do processo laboral. O homem

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trabalhador enquanto sujeito pertence a este processo possui a necessidade de estar constantemente em adaptação.

Desde então, após a ocorrência da revolução outras mudanças acabaram por ocorrer juntamente a partir da modernidade. A ascensão do capitalismo e da globalização alterou completamente a maneira de viver das populações dos países que industrializaram-se. As gerações anteriores a nossa renunciaram a felicidade para ter segurança. Já as atuais gerações renunciam a segurança, em busca de um pouco de felicidade. A atualidade nos coloca alienados frente a outros discursos e com ideias diferentes do que seria a tão sonhada felicidade.

Percebemos uma movimentação também no fato de que a responsabilidade pela condição humana tornou-se privada. Atualmente, as condições básicas, saúde, educação, emprego, quase não são mais uma obrigação do estado. Mas o que acaba acontecendo é estas (soluções) virem do âmbito particular, ou seja, cada um cuida de si da maneira que pode/consegue. Sendo assim, aqueles que não alcançarem um determinado “sucesso” particular/individual, acabam sendo estigmatizados, sentindo na pele o mal-estar do mundo moderno.

Outra questão interessante de ser pensada é a fluidez dos vínculos que parece ser uma marca da contemporaneidade, pois os empregos, por exemplo, muitas vezes são temporários, circula-se muito pelo mercado de trabalho. Além disso, toda a facilidade que as novas tecnologias colocam, faz com que o tempo e o espaço diminuam muito, dando muito mais possibilidades de circular de um lugar para outro em um pequeno espaço de tempo.

Também, pode-se dizer que as pessoas passaram de produtores para consumidores, o que demonstra mais uma vez o quanto a sociedade atual se configura de forma mais individualista. Isto, pois no âmbito da produção, a sociedade combinava a busca de avanços mediante esforços coletivos, já o consumo é

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inteiramente individual, o que de certa forma torna o mercado consumidor sedutor.

Quanto mais consumidores, mais a sociedade é segura e próspera; Mas traz uma questão; os que podem satisfazer o desejo de consumir e os que desejam consumir. Existindo e aumentando uma diferença entre ambos. Essa sedução do mercado, ao mesmo tempo em que iguala, pois todos podem consumir, divide, já que nem todos poderão consumir o que desejam. E quem fica de fora acaba sendo excluído, marginalizado.

Isso nos dá uma ideia de como é o contexto onde os trabalhadores estão inseridos. E pensando o trabalho como o maior organizador dos indivíduos, é possível ter ideia do quão importante acaba sendo para que as pessoas consigam suportar ou adoecer na sociedade moderna. Isto se coloca, pois o que nos da renda, o que faz com que tenhamos a moeda de troca para entrar nessa sociedade consumista é exatamente o trabalho. Organiza, sustenta e da condição aos indivíduos ao mesmo tempo em que provoca o adoecimento, pois o sofrimento acaba advindo da divergência entre o que se quer (desejo) e a realidade.

Uma questão que parece estar totalmente ligada ao trabalho e as organizações parece ser a felicidade, pois muitas vezes observamos que as pessoas tendem a buscar realizações através do trabalho, projetam neste, expectativas e anseios do que acham que pode lhes ajudar a serem felizes. E isso, como já foi mencionado, é uma forte influência da cultura, visto que na contemporaneidade a realização profissional, a comodidade econômica traz fortes questões à subjetividade do sujeito, ao que considera poder ser o “caminho de sua felicidade” e o trabalho está fortemente ligado a isso. Pois a lógica atual se coloca no empreendedor como capacidade de consumo e sucesso para obter a felicidade.

O sujeito organiza-se e sustenta-se através de seu trabalho. Existem casos, onde através deste é possível expressar, dar vazão a agressividade (trabalhos

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manuais, por exemplo), organizando e dando um sentido a isso, que de outra maneira, pode ter dificuldades de encontrar expressão e encontrar-se, pode de alguma forma prejudicar o sujeito em questão.

Hoje em dia o ser humano precisa ser autônomo, capaz de realizar o maior numero de atividades no menor espaço de tempo possível. O mercado coloca-se em busca da produtividade, satisfação e lucratividade, e cabe responder essa demanda, caso contrário, o que coloca-se a sua frente é a insegurança, o medo de perder o emprego e consequentemente um provável adoecimento.

Observamos é que às organizações cada vez mais são vistas na perspectiva

de metáfora das prisões psíquicas onde os seres humanos tem uma inclinação para cair nas armadilhas criadas por eles mesmos, dando a entender que esta relação contraditória é base do ser humano, criando as organizações para submeter-se a elas.

Segundo Enriquez um homem que continua enfrentando um processo civilizatório, sujeito que não existe fora do campo social e que este permanece constantemente dividido entre seu próprio desejo (reconhecimento de seu desejo) e a necessidade de identificar-se com o outro (desejo de reconhecimento). Em vista disso ao referir-se a Freud, na qual, seu proposito ao tratar da fonte do sofrimento começa a afirmar que sua origem está no social, ao pertencer à civilização.

Pensar no declínio do valor simbólico na contemporaneidade primeiramente é necessário pensar nos acontecimentos e mudanças no decorrer de toda a história, seria como estar aqui e ali, sem importar-se com tais mudanças e consequências, principalmente ao que se referem à relação homem e trabalho não só na vida pessoal como também diante da sociedade.

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A relação que o homem tem com seu trabalho não ocorre igualmente como as

exigências deste trabalho lheatingem. O homem diminuiu a sua liberdade de criação

e de realização diante do trabalho que exerce. A imposição existente sobre o homem, construída pelas relações de trabalho, em tal perspectiva, introduzem marcas no sujeito, as quais vão repercutir no seu funcionamento físico e psíquico.

Na história da humanidade, o elemento capaz de representar o valor tem sido o trabalho, é o modo de representação de valor do sujeito no discurso. Nesse sistema de valor, como sabe-se, até o fim do século passado era o homem e não a mulher que prevalecia no sistema de representação de valor do intercâmbio social. A revolução feminista, em concordância com a demanda industrial, produziu uma modificação no sistema de distribuição de valor entre os sexos.

A mulher incorporou-se a este sistema de valor, mas também sofreu uma sobrecarga, ou seja, não conseguiu desvencilhar-se da posição de mãe, dona de casa, assim teve que assumir as duas posições – a de mãe e daquela que começou a participar desse sistema de valor do trabalho, um sistema de valor desde o ponto de vista da subjetividade, o qual se formaliza não da mesma maneira que ocorreu no intercâmbio econômico, mas trata-se em última instância do valor fálico, pelo menos desde o ponto de vista analítico.

O trabalho então encontra seu valor condicionado ao significado que terá culturalmente, também pela relação da organização vigente (onde o sujeito trabalha) e a sua subjetividade. O trabalho pode ser uma mera sobrevivência (ganha pão) como a parte mais significativa da vida interior de um ser humano.

A sociedade dita às regras impõe situações às quais de alguma forma nos amarram, pois a final de contas o processo civilizatório ocorreu a partir da renúncia à pulsão e, principalmente, a seus aspectos agressivos e destrutivos, nossos mais íntimos desejos acabam por serem reprimidos, ocultados, recalcados.

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Acompanhando o crescimento das indústrias no decorrer dos anos, a velocidade a qual tudo vai acontecendo, vejo o quanto essa possibilidade de reconhecimento foi tornando-se cada vez menos presente para o trabalhador. Os trabalhadores valem o quanto podem produzir, traçando visivelmente um caminho de muita lucratividade à empresa, não importando se esse trabalhador está satisfeito ou não com a forma de realizar o trabalho, o que importa é a empresa estar satisfeita com os resultados, consequentemente um poder de capital cada vez maior.

“A carga psíquica do trabalho resulta da confrontação do desejo do trabalhador, à injunção do empregador contida da organização do trabalho. Em geral a carga psíquica do trabalho aumenta quando a liberdade de organização do trabalho diminui”. (DEJOURS, 1994, p. 28).

Ainda no texto de Jerusalinsky, aparece claramente à questão do sujeito e o saber em relação ao objeto. Através do exemplo do relógio construído pelo relojoeiro Nicolas Kadañ, o qual teve seus olhos furados para que não construísse outro relógio igual, assim todo o saber de Kadañ passa a estar depositado no objeto. O individuo acaba convivendo com esse sofrimento, com esse descaso, com o valor simbólico de todo seu trabalho, da sua produtividade praticamente esquecido, sendo privado de sua condição de sujeito do saber que possui, esse saber fica lançado do lado do objeto. O valor do homem está no objeto, todo valor do trabalho fica acoplado ao objeto. O valor parece voltado ao objeto, de forma que, segundo Jerusalinsky (2000).

“Como nunca antes na História, hoje o sujeito fica numa total dependência para estabelecer seu valor simbólico, de sua equivalência ao objeto. Seja por possuí-lo, seja por fabricá-lo, seja por dominá-lo ou por usufruí-lo, eis como o sujeito encontra seu valor” (p. 3).

Assim, sabendo que o valor do homem está no objeto, que ele mesmo cria, consome e descarta numa sociedade pautada pelo fator produtivo. Muitas vezes

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sequer tem acesso ao produto final de seu trabalho, mas é definido por seu valor.

A questão do valor é colocada também quando aparece a posição do amo e

do escravo, ou seja, o amo assume uma posição cada vez mais autônoma a respeito do escravo e o escravo cada vez mais era um objeto e não mais um sujeito. O sujeito não somente não enxerga sua própria posição no discurso social, mas onde também, o Outro não tem chance alguma de vê-lo, o que pode-se observar no discurso econômico atual, no qual toda a preocupação orienta-se para que a economia caminhe bem, sem importar-se como andam os sujeitos por ela implicados. Martins (2009) “a partir da posição do desejo é possível construir uma visão clinica da relação psíquica do sujeito no trabalha: nesse contexto, a organização do trabalho representa (decifra) a vontade de um outro”. (p.58)

Ao mesmo tempo em que o escravo produz gozo para o amo, o amo não dá-se conta de que não é produção de dá-seu gozo, onde o dedá-sejo de ambos só aparece a partir do outro. Onde o amo goza com a produção do trabalho de seu escravo e o escrevo só goza ao ver o amo gozar, um não existe sem o outro.

Enfim, trabalho não é um conceito ou termo que se limita a uma única observação. Tanto pode ser explorado em sua vertente histórica quanto em sua funcionalidade. No entanto para poder pensar a historia do trabalho deve-se antes concebe-la envolvida juntamente com a historia da civilização, com suas vicissitudes e seus períodos de desenvolvimento. Ocorre aqui, uma ligação entre pensar o trabalho e pensar o homem enquanto sujeito do trabalho. Para tornar um pouco mais clara a ideia, deve-se conceber, então a historia das relações humanas do sujeito com o trabalho.

Nessas condições o individuo passa a ser, ele mesmo, mero instrumento de produção desse objeto, na qual, vai se deslocando de sua posição subjetiva e passa a ser instrumento para a produção desse objeto. O objeto em lugar de manter-se na

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posição de causador do desejo constitui-se em máquina de sua satisfação, é um lugar mais referido a ordem da falta.

Como é visível essa aceleração crescente das tecnologias e as mudanças históricas do capitalismo surge então, a necessidade desse sujeito de migrar com maior intensidade a fim de estudar, trabalhar em outro lugar, para não ficar fora do circuito produtivo e sofrer uma perda de valor de seu trabalho, para que o sujeito aprimore-se nas técnicas que lhe permitissem o domínio do objeto. Assim, o núcleo familiar que até então era lugar de refúgio perde sua eficácia, porque a aceleração migratória provoca sua dispersão.

Tornando-o assim vítima de forças econômicas que apresentam-se como enigmáticas, sem perceber o quanto é feitor daquilo de que queixa-se. Portanto, o trabalho pode assumir também ao considerar uma atividade especifica do homem e que pode vir a se constituir como sujeito implicado pelo desejo ou manter-se na posição de objeto. É este o ponto primordial, pois é o trabalho, em parte, que regula e organiza as relações sociais.

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2º As Relações Intersubjetivas Estabelecidas a partir do contexto Organizacional.

A relação entre saúde e doença mental no trabalho surge a partir da segunda metade do século XX. Consolidou-se no campo científico âmbito da psicologia aplicada à área do trabalho. Com a trajetória da psicologia no campo da saúde mental do trabalhador, começa a dar-se conta de que as condições e o meio ambiente – ergonomia - do trabalho podem ser responsáveis, em muitos casos, pelo aparecimento de mal-estar no trabalho, ou a partir deste.

A maneira como o sofrimento desencadeia-se vai ser diretamente dependente do tipo de organização de trabalho. Por exemplo, o grau ou intensidade de insatisfação ou medo de um funcionário submetido a um trabalho repetitivo será diferente do observado em um funcionário de escritório. Modificando-se também de acordo com as normas, regras, regimentos internos de cada empresa, bem como, com o clima organizacional que influencia as relações interpessoais que predomina na organização. Assim torna-se necessário ser cauteloso ao se fazer certas generalizações, por isso que a observação cuidadosa do ambiente organizacional com todas as suas especificidades faz-se tão relevante.

Os indivíduos, quando diante de uma situação de angústia e insatisfação decorrente de seu trabalho, elaboram estratégias de defesa que acabam por tornar o sofrimento um aspecto velado. Logo, o sofrimento disfarçado encontrará como meio de eclodir uma sintomatologia, a qual as vezes apresenta-se com uma certa estrutura própria a cada profissão ou ambiente de trabalho. Isso porque, a vida psíquica perpassa pelo funcionamento de todo sistema corporal integrando-o, desta forma manifestam-se as doenças psicossomáticas.

Ao longo do tempo, percebe-se, com efeito, que o homem vem buscando dar sentido ao trabalho como um valor fundamental na sua formação como pessoa.

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Podemos colocar o trabalho como um grande organizador social, pelo qual o sujeito pode reconhecer-se e ao mesmo tempo sentir-se valorizado.

O ato de trabalhar ganhou valor como elemento de inclusão social e consequentemente de definição da própria identidade como pessoa. Freud (1930) “Nenhuma outra técnica para a conduta da vida prende o individuo tão firmemente à realidade quanto a ênfase concedida ao trabalho, pois este, pelo menos, lhe fornece um lugar seguro numa parte da realidade na comunidade humana” (p.99).

Como forma de inserção social das pessoas e para uma formação de identidade, o trabalho vem a ser um fator relevante. Para a psicanálise, é fato que, quando o indivíduo é impelido pela organização a reprimir seus desejos, aparece o sofrimento, que pode ser decorrente de diversos fatores, como as condições precárias de trabalho e pressões impostas por essa organização. Porém, nem sempre o sofrimento é prejudicial à saúde física e mental do trabalhador, pelo

contrário, poderá representar um meio de o sujeito, através da sublimação3, conferir

uma nova significação ao trabalho, à medida que, quando levado à resolução de problemas dentro da organização, o sujeito tem a chance de alcançar um reconhecimento social de seu trabalho e tornar-se capaz de dominar suas angústias e, consequentemente, controlar seu sofrimento, para seu equilíbrio mental.

Em vista disso, pelo trabalho ser um meio de sustentação simbólica do sujeito, muitos ao perderem o seu emprego em decorrência de doenças ou outras causas perdem também sua identidade. A nomeação dada na organização como,

por exemplo ‘a secretária’, ‘o bancário’, ‘o vendedor’, perde-se, então é necessário

encontrar outro traço que o identifique. Por isso a importância da escuta destes trabalhadores, para que possam, a partir do outro, resignificarem sua sustentação simbólica que muitas vezes se encontra até mesmo na doença.

3

O termo sublimação ocorre através processo psíquico inconsciente sem relação com a sexualidade, que encontra seu elemento na força da pulsão sexual, a qual tem a capacidade de substituir um objeto sexual por outro objetivo não sexual. Visando sempre objetos socialmente valorizados, sem perder sua intensidade. Então é quando o sujeito se permite fazer uma escolha, produzir em forma de satisfação, se não há escolha não há sublimação.

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Para Martins (2009) a perspectiva da psicodinâmica do trabalho em relação à identificação o homem está dividido entre o corporal e uma inscrição com o social, na qual residem suas esperanças de realização. Onde luta contra o impulso que exige satisfação (corpo) e, por outro lado contra os determinismos sociais que lhe são atribuídos. Fazendo do homem um ser incompleto, que se dedica a procura de realização da sua identidade, e que só encontrará saída para os impulsos que estejam de acordo com a inserção no social na qual ele mesmo possa construir sua própria historia, sua biografia.

“O sofrimento está sempre impelindo o sujeito ao mundo – e também ao trabalho – na busca de condições de satisfação, auto-realização e identidade, fazendo-o construir eroticamente laços sociais constitutivos da intersubjetividade”. (MARTINS, 2009 p. 71).

A constituição da identidade dá-se através das relações estabelecidas entre os homens e entre estes e seu meio. O trabalho, por sua vez, é uma dimensão importante neste processo, pois cumpre muitas funções na vida do sujeito, é meio de sobrevivência, de realizações, de adoecimento, de construção de identidade.

“Processo psicológico pelo qual um sujeito assimila um aspecto, uma prioridade, um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente, segundo o modelo deste outro. A personalidade constitui-se diferencia-se por uma seria de identificações. (LAPLANCHE e PONTALIS, 2004, p.226)

Esta definição da importância do trabalho e de sua função na vida de uma pessoa. No processo de identificação é este que resulta da constituição do sujeito ainda enquanto criança, e, quando adulto. Portanto, o trabalho é crucial para a formação da personalidade e do sujeito. Pois organiza, ordena e estrutura o sujeito. Através do trabalho o sujeito organiza toda a sua rotina e consequentemente sua vida.

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Nas organizações isso fica bem evidente, na medida em que várias pessoas estão inseridas nesse contexto, convivendo durante algumas horas do seu dia, sentindo, pensando e agindo individual e coletivamente.

Certamente o que influencia o sentido do trabalho e as relações do sujeito com a sua produção, são as constantes mudanças sociais e no trabalho. Estando relacionado à boa produção do sujeito na organização, é que o trabalho continua sendo promotor de saúde e sofrimento.

Atualmente o trabalhador está inserido em uma conjuntura laboral cujas estruturas são perpassadas pela angustia e pelo medo, tudo isso desembocando em uma vivência de sofrimento, pois a atual organização do trabalho impõe condições de controle gerando ambientes ergonomicamente inadequados, instabilidade pela escassez de oferta de emprego, busca constante de alta produtividade.

Frente ao sofrimento, Dejours aponta que o sujeito devido a preocupação social, passa a fazer uma associação sobre a doença relacionada à passividade, na qual, podemos pensar esse modo como forma pejorativa. Pois fica implícito que o trabalhador que apresenta algum sofrimento sente-se envergonhado e tem a tendência de esconder esse estado, principalmente quando é desconhecida ou trata de algo psíquico, portanto invisível, pois não aparece no corpo e ao alcançar o corpo é porque já atingiu a um estágio mais elevado de doença, ou a um acidente de trabalho, muitas vezes grave.

O sofrimento que é vivenciado, mas não reconhecido, traz mais prejuízos para o sujeito, pois a função dos mecanismos de defesa é aliviar o sofrimento e isto finda em não permitir sua visibilidade tornado-o mais difícil de ser solucionado.

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O trabalhador ao assumir o seu sofrimento por alguma doença leva-o a destinar uma atenção maior a sua saúde que implica na maioria das vezes em gastos extras, tratamento, exames, medicamentos, consultas e assim faltas ao trabalho. Nesse sentido, estar nesse estado requer tratar da saúde e assim implica em prejudicar o trabalho consequentemente sua produtividade. Ao indivíduo cabe aquilo que é essencial o capital financeiro, isso é o que Dejours chama de “ideologia da vergonha”, onde o corpo deve padecer em silêncio até o limite em que o sujeito não suportar mais.

“A angústia contra a qual é dirigida a ideologia da vergonha não é a do sofrimento, da doença ou da morte; a angustia que ele ataca é, através da doença, a destruição do corpo enquanto força capaz de produzir trabalho. Esta observação é importante na medida em que não a encontramos em nenhuma outra classe social, nem mesmo no proletariado”. (DEJOURS, 1992, p.34).

Mesmo que o sofrimento possa ter origem na organização do trabalho e que este deve ter interesse pela saúde do seu trabalhador; desta forma será que é só de responsabilidade da organização a saúde do trabalhador? Pois há a implicação do trabalhador ao que diz respeito ao seu sofrimento, pois ao negar o sofrimento a doença se agrava, sendo uma forma de velar o sofrimento. Assim fica clara a ocorrência da ideologia da vergonha.

Tendo esta como função primordial a fuga da conscientização da doença, Dejours propõe algumas características dessa ideologia:

“Em primeiro lugar, a ideologia defensiva funcional tem por objetivo mascarar, contar e ocultar uma ansiedade particularmente grave. Em segundo lugar é a nível da ideologia defensiva enquanto mecanismo de defesa elaborado por um grupo social particular, que devemos procurar um especificidade. (...) A especificidade da ideologia defensiva da vergonha, resulta, por um lado, da natureza da ansiedade a conter e, por outro lado, da população que participa da sua elaboração. Em terceiro lugar, o que caracteriza uma ideologia defensiva é o fato de ela ser dirigida não contra a angustia proveniente de conflitos intra-psíquicos de natureza mental, e sim ser destinada a lutar contra o um perigo e um risco reais. Em quarto lugar a ideologia defensiva, para ser operatória deve obter a participação de todos os interessado. Aquele que não contribui ou não partilha do conteúdo de ideologia é, cedo ou tarde excluído. (...) Em quinto lugar, uma ideologia

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defensiva, para ser funcional, deve ser funcional, deve ser dotada de uma certa coerência. (...) em sexto lugar, a ideologia defensiva tem sempre um caráter vital, fundamental, necessário. Tão inevitável quanto a própria realidade, a ideologia defensiva torna-se obrigatória. Ele substitui os mecanismos de defesas individuais. Esta observação é de grande importância clinica na medida em que é a partir dela que se pode compreender porque os indivíduos isolados de seu grupo social se encontra brutalmente desprovido de defesas à realidade a que ele é confrontado. (DEJOURS, 1992, p. 35/36)

Neste momento é possível deparar-se com a responsabilidade do trabalhador com sua própria saúde e os mecanismos usados para agravar a situação e aumentar seu sofrimento no trabalho, afinal de contas ele mesmo o homem, cria as organizações para submeter-se a elas. Ao mesmo tempo visando encontrar mecanismos de soluções momentâneas. Não se quer desta maneira isentar a organização do trabalho, pelo sofrimento do trabalhador, pois a organização opera em busca pela produtividade desmedida, influenciando diretamente na saúde do mesmo. A discussão do sofrimento permeia fundamentalmente a responsabilidade da organização como causa de muitos males ao trabalhador.

Frente a várias situações de trabalho, os indivíduos reagem de formas diferentes, pois cada um chega à organização com sua história pessoal, suas próprias vivências e experiências. Então ao entrar numa instituição pode confrontar-se com questões que geram conflito, tanto nele, como também nas relações com os demais que não partilharam das mesmas vivências.

Tanto o individuo como a organização tem ideais diferentes, o indivíduo pode ir em busca de prazer, porém, com a exigência que o mercado impõem, isso pode transformar-se em sofrimento, por não levar em consideração a subjetividade do sujeito.

É fundamental para o trabalhador uma boa relação nas diferentes áreas da vida humana e esta relação depende dos suportes afetivos e sociais que os indivíduos recebem durante seu percurso profissional. O suporte afetivo provém do

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