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Pº R. Co. 39/2005 DSJ-CT- Averbamento de mudança de sede para concelho limítrofe Título. DELIBERAÇÃO

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Pº R. Co. 39/2005 DSJ-CT- Averbamento de mudança de sede para concelho limítrofe – Título.

DELIBERAÇÃO Recorrente:…, Ldª.

Recorrida: Conservatória do Registo Comercial …

Registo a qualificar: Averbamento à matrícula nº 4296/… de mudança de sede para o concelho limítrofe de …, requisitado pela Ap. 22, de 13 de Julho de 2005.

Relatório:

O registo foi peticionado com base em acta da reunião da gerência de 6 de Julho de 2005, na qual participaram os únicos gerentes da sociedade, que consta de documento particular avulso com data de 11 de Julho de 2005 e com duas assinaturas.

Consta da acta que a proposta de mudança de sede para o concelho de … foi aprovada por unanimidade.

O art. 3º do pacto social dispõe que a sede social pode ser transferida dentro do mesmo concelho ou para concelho limítrofe por deliberação unânime de todos os gerentes.

O registo foi recusado nos termos do disposto no art. 48º, nº 1, b), do CRCom, porque “as deliberações – resoluções da administração não se podem provar por documento avulso (particular), como é o caso, mas outrossim têm de ser reduzidas a acta e lavradas no livro próprio conforme o prevê o artigo 37º do C. Comercial”.

Do despacho de qualificação foi interposta reclamação, mas esta foi desatendida, tudo nos termos que aqui se dão por integralmente reproduzidos.

Do despacho de indeferimento da reclamação foi interposto o presente recurso hierárquico, no qual foram tiradas as seguintes conclusões:

1ª. A gerência instruiu a requisição de registo com um documento particular assinado pelos dois únicos gerentes, do qual consta a deliberação tomada por aquela, nos termos legais e estatutários, de mudança da sede;

2ª. O artigo 37º do Código Comercial não impõe a obrigatoriedade das deliberações da gerência constarem do livro de actas ou em folhas soltas, aliás tal obrigatoriedade apenas existe em relação às deliberações dos sócios e às deliberações do conselho de administração das sociedades anónimas, vide artigos 63º e 410º, nº 8, ambos do Código das Sociedades Comerciais;

3ª. Mesmo no que toca às deliberações dos sócios é permitido que as mesmas possam ser documentadas e provadas quer por escritura pública ou instrumento público avulso quer por documento particular (nas deliberações por escrito), vide artigo 63º, nº 1, do Código das Sociedades Comerciais;

4ª. Assim, por maioria de razão, também se deve aceitar que uma deliberação unânime, por escrito, da gerência possa ser documentada e provada pelo documento donde ela conste;

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5ª. O documento particular faz prova plena quanto às declarações atribuídas ao seu autor, conforme preceitua o artigo 376º do Código Civil;

6ª. Para sustentar o despacho de recusa não são invocáveis razões de ordem probatória ou de publicidade, na medida em que a deliberação da gerência, para a mudança da sede, está sujeita a registo e consta de um documento assinado pelos dois únicos gerentes da sociedade e tal documento ficará arquivado na conservatória;

7ª. O despacho recorrido viola, designadamente, os artigos 47º e 48º, nº 1, alínea b) e 2 do Código do Registo Comercial.

O processo é o próprio, as partes legítimas, o recurso tempestivo, a recorrente está devidamente representada, e inexistem questões prévias ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do mérito.

A posição deste Conselho vai expressa na seguinte

Deliberação

1- O averbamento de mudança de sede de uma sociedade por quotas para concelho limítrofe pertencente à área de conservatória diversa daquela em que está registada, deliberada pelos gerentes ao abrigo de autorização estabelecida no contrato social, será efectuado em face do(s) documento(s) donde conste(m) a emissão da vontade dos gerentes exigida no pacto social ou a deliberação formada pela gerência funcionando colegialmente também de acordo com o estabelecido no contrato social 1.

1- De acordo com o art. 12º, nº 2, do CSC, «o contrato de sociedade pode autorizar a

administração, com ou sem consentimento de outros órgãos, a deslocar a sede dentro do mesmo concelho ou para concelho limítrofe». E o art. 261º, nº 1, do mesmo Código, diz-nos que «Quando haja vários gerentes e salvo cláusula do contrato de sociedade que disponha de modo diverso, os respectivos poderes serão exercidos conjuntamente, considerando-se válidas as deliberações que reúnam os votos da maioria e a sociedade vinculada pelos negócios jurídicos concluídos pela maioria dos gerentes ou por ela ratificados».

Coloca-se nos autos a questão de saber como em sociedade por quotas em que haja vários gerentes deverão estes exercer os poderes que lhes foram conferidos no contrato social de mudar a sede social para concelho limítrofe. Portanto, coloca-se a questão do funcionamento da gerência plural.

Como ensina Raul Ventura, in Sociedade por Quotas, Vol. III, pág. 189, no art. 261º, nº 1, do CSC distingue-se a administração ou gestão stricto sensu, a representação activa e a representação passiva. Para as duas primeiras é ressalvada a cláusula do contrato que disponha de modo diverso (a norma é, assim, supletiva).

Cremos que a mudança de sede é um acto de administração ou gestão stricto sensu (não respeita à emissão de vontade em nome da sociedade, dirigida a terceiros, isto é, à representação activa).

O art. 261º, nº 1, do CSC é expressamente dispositivo. O contrato social pode adoptar o método disjuntivo (cada um dos gerentes pode administrar e representar a sociedade,

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não tendo que consultar previamente qualquer dos outros e não estando dependente de instruções ou consentimentos deles), o método colegial (a gerência é exercida por todos os gerentes, deliberando em conselho, por maioria de votos), ou adoptar formas especiais de gerência (cfr. Raul Ventura, ob. cit., págs. 197/200).

Relativamente ao método que o citado art. 261º, nº 1, supletivamente consagra, Raul

Ventura (ob. cit., págs. 189/191), perante dois sentidos possíveis no caso da

administração stricto sensu (o método conjunto e o método colegial), interpreta a norma como consagrando o método conjunto, privilegiando a expressão “os respectivos poderes são exercidos conjuntamente” em detrimento das expressões “deliberações” e “votos”. No mesmo sentido Pedro Maia, Função e Funcionamento do Conselho de Administração da Sociedade Anónima, in STVDIA IVRIDICA 62, 2002, pág. 184, nota (247). Este Autor (ob. cit., pág. 190, nota 257) ensina que «A grande diferença entre o funcionamento colegial e o funcionamento conjunto de um órgão traduz-se no facto de, no primeiro, as decisões serem tomadas pelos seus membros (em colégio), ao passo que no segundo as decisões resultam do acordo (maioritário ou unânime) dos seus membros, acordo que se obtém sem recurso a uma reunião». E que «A principal diferença que o funcionamento conjunto por maioria apresenta relativamente à colegialidade reside no facto de esta, ao contrário daquele, requerer a reunião dos elementos que compõem o órgão para a tomada de qualquer decisão» (ob. cit., pág. 208).

Se o método é conjunto, parece que as vontades dos gerentes não necessitam de ser emitidas simultaneamente. Neste sentido, cfr. Raul Ventura, ob. cit., pág. 191, a propósito da representação activa, e Soveral Martins, Os Poderes de Representação dos Administradores de Sociedades Anónimas, in STVDIA IURIDICA 34, pág. 119, igualmente a propósito da representação activa neste tipo de sociedades, que também é conjunta (ao contrário da administração ou gestão stricto sensu, onde vigora o funcionamento colegial), que escreveu: «A lei não exclui, porém, que possa ter lugar uma actuação sucessiva, um após outro, dos membros do conselho de administração, até que se atinja o número exigido por lei ou pelo contrato de sociedade».

Se o método é colegial, parece que a maioria se forma pela emissão simultânea das vontades dos gerentes que formam essa maioria. O acto – resultado (a deliberação) é a declaração juridicamente imputável à sociedade, formada mediante o concurso dos gerentes e moldada pela fusão das declarações individuais receptícias por eles emitidas (votos) que, no mínimo, integrem o núcleo mais numeroso de declarações de sentido idêntico (segundo o conceito de “deliberação” que nos é dado por Pinto Furtado, in Deliberações dos Sócios, 1993, pág. 49).

Resulta do exposto que se o método de funcionamento da gerência plural for conjunto haverá que comprovar a emissão das declarações de vontade dos gerentes exigidas pela lei ou pelo contrato social. Se bem ajuizamos, inexiste na lei norma expressa que exija forma escrita para a declaração. Mas parece-nos evidente que não pode deixar de ser exigida esta forma. Ademais, o facto está sujeito a registo e este exige prova documental (cfr. art. 32º, nº 1, do CRCom).

Resulta também do exposto que se o método de funcionamento da gerência plural for colegial haverá que comprovar a deliberação do órgão gerência. Julgamos úteis os ensinamentos de Pinto Furtado (ob. cit., págs. 76/79) sobre deliberações dos sócios

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com e sem reunião de assembleia geral (distinção que prefere à de Brito Correia, in Direito Comercial, 3º Volume, Deliberações dos Sócios, 1990, págs. 68 e 248 – funcionamento colegial e funcionamento conjunto). Segundo o Autor, a deliberação unânime por escrito pode ou não formar-se com reunião da assembleia, e sendo formada sem reunião da assembleia «a deliberação unânime por escrito deverá, em princípio, constar de um documento avulso que, de regra, será um escrito particular» (ob. cit. pág. 202). De resto, o Autor (ob. cit., pág. 753) propõe uma interpretação restritiva da 2ª parte do nº 1 do art. 63º do CSC, «a concluir que só as deliberações unânimes por escrito – e não também as por voto escrito – se provarão pelos documentos donde constem».

Não vamos especular sobre a possibilidade de uma deliberação da gerência plural por voto escrito, à semelhança da deliberação dos sócios (de sociedade por quotas e de sociedades em nome colectivo) por voto escrito (cfr. art. 247º do CSC, caso em que

Pinto Furtado – ob. cit., pág. 753 – entende que a mesma só pode provar-se por acta).

Resta-nos, assim, apurar como se comprova a deliberação formada pela gerência plural “em assembleia”.

O art. 31º do Cód. Comercial prescreve que às sociedades são indispensáveis outros livros ou folhas soltas para actas da assembleia geral. E o art. 37º do mesmo Código diz-nos que os livros ou as folhas das actas das sociedades servirão para neles se lançarem as actas das reuniões dos sócios, de administradores e dos órgãos sociais. No CSC exige-se a acta para documentar as deliberações dos sócios em assembleia (art. 63º,n º 1), as deliberações por voto escrito em sociedades por quotas e em nome colectivo (art. 247º, nº 6, e 189º, nº 1) e as deliberações do conselho de administração, do conselho fiscal e do conselho geral das sociedades anónimas (art.s 410º, nº 8, 423º, nº 4, e 445º, nº 2).

Não se exige a acta para comprovar as deliberações da gerência plural das sociedades por quotas e das sociedades em nome colectivo formadas “em assembleia”.

E não se pode retirar das citadas normas do Cód. Comercial que é obrigatório o livro ou folhas soltas de actas das reuniões da gerência (ainda que plural) das sociedades por quotas. Nem tão pouco que as deliberações da gerência só podem ser provadas pelas actas das reuniões (tal como o faz o art. 63º, nº 1, do CSC para as deliberações dos sócios).

Assim sendo, somos de opinião de que também aqui a deliberação provar-se-á por documento avulso que, de regra, será um escrito particular.

Apenas perante a adopção de método diverso expressamente consagrado no contrato social (e não em deliberação dos sócios ou em deliberação dos próprios gerentes, porque estas não estariam sujeitas a registo e publicação – cfr. Raul Ventura, ob. cit., págs. 200/201), onde constasse a exigência de acta da reunião lavrada em livro próprio (ou em folhas soltas), seria a nosso ver pertinente a exigência deste meio de documentação da deliberação.

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2- O documento particular avulso assinado pelos únicos gerentes de uma sociedade por quotas, que se apresenta como “acta” de uma reunião desses gerentes onde por unanimidade foi aprovada a mudança da sede da sociedade para concelho limítrofe, expressamente autorizada por cláusula do contrato social, é título suficiente para o averbamento da mudança de sede no registo comercial 2.

Nos termos expostos, é entendimento deste Conselho que o recurso merece provimento.

Esta deliberação foi homologada por despacho do Director-Geral de 03.04.2006.

2- Em face da posição assumida na conclusão anterior, julgamos que não merecerá

reparos o conteúdo desta conclusão.

A nosso ver, o art. 3º do pacto social exige uma deliberação unânime por escrito dos gerentes para mudar a sede social dentro do mesmo concelho ou para concelho limítrofe.

É indiferente que a deliberação seja formada em assembleia convocada ou em assembleia espontânea.

E também não importará o nome com que se designa o documento que reveste a forma dessa deliberação. O que importa é que dele constem as declarações individuais dos gerentes (votos) que concorrem para a formação da declaração juridicamente imputável à sociedade. E as assinaturas deles, obviamente.

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