Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
Órgão 4ª Turma Cível
Processo N. Apelação Cível 20080111563923APC
Apelante(s) DS SERVICOS DE COMUNICACAO E CONSULTORIA LTDA
Apelado(s) DISTRITO FEDERAL E OUTROS
Relator Desembargador CRUZ MACEDO
Revisor Desembargador FERNANDO HABIBE
Acórdão Nº 476.734
E M E N T A
ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL. PREGÃO ELETRÔNICO. IMPUGNAÇÃO AO CERTAME. ALEGAÇÃO DE NULIDADE. PRETENSÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS. INEXISTÊNCIA DE PROVA.
1. Constatando-se que o vencedor de pregão eletrônico apresentou proposta pouco abaixo do segundo e terceiro colocados, é de presumir que não houve a prática de preço predatório, especialmente se o quarto colocado, que impugna a licitação, não comprova conluio entre aqueles participantes.
2. Para fazer jus à reparação de perdas e danos, impõe-se ao postulante a comprovação do fato constitutivo do seu direito, na forma do artigo 333, I, do CPC, sob pena de indeferimento da pretensão.
3. Configuraria enriquecimento ilícito eventual reparação de danos no valor contratado com terceiro, na hipótese de o preterido não ter prestado qualquer serviço ou entregue qualquer material. Certamente, a empresa alijada erroneamente do certame teria custos com o cumprimento do contrato.
A C Ó R D Ã O
Acordam os Senhores Desembargadores da 4ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, CRUZ MACEDO - Relator, FERNANDO HABIBE - Revisor, ANTONINHO LOPES - Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador ANTONINHO LOPES, em proferir a seguinte decisão: NEGAR
PROVIMENTO AO RECURSO, UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas
taquigráficas.
Brasília (DF), 12 de janeiro de 2011
Certificado nº: 44 36 13 0C 31/01/2011 - 15:56
Desembargador CRUZ MACEDO
R E L A T Ó R I O
Cuida-se, na origem, de ação declaratória de nulidade c/c obrigação de fazer, com pedido de antecipação dos efeitos da tutela, ajuizada por DS SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO E CONSULTORIA LTDA. em face do DISTRITO FEDERAL e do MERCADO CULTURAL LTDA. EPP, requerendo a declaração de nulidade da Ata de Julgamento que adjudicou o objeto constante do pregão eletrônico nº 1120/2008 para a contratação de empresa especializada na prestação de serviços de locação e montagem de equipamentos, mobiliário, matérias, mão-de-obra especializada, veículos e hospedagem, nos termos e condições fixadas no Edital às fls. 45/100, bem como a nulidade do contrato firmado entre o DISTRITO FEDERAL e a empresa MERCADO CULTURAL LTDA. EPP, vencedora do certame, e a desclassificação de todas as propostas que, no seu entender, violaram o aludido edital e a legislação de regência, prosseguindo o certame com o exame das demais ofertas. Sucessivamente, requereu a condenação dos réus ao pagamento do valor do contrato a título de perdas e danos.
Em sentença às fls. 1088/1092, o douto juízo do conhecimento original constatou a perda do objeto quanto ao pedido de declaração de nulidade da Ata de Julgamento e, por conseguinte, do contrato firmado entre os réus, uma vez que houve o encerramento do procedimento licitatório, inclusive com a execução do contrato e seu respectivo pagamento por parte da Administração Pública. No mérito, apreciou apenas o pedido relativo à pretendida condenação dos réus em perdas e danos, julgando-o improcedente. Face à sucumbência, condenou a autora ao pagamento da custas e honorários, estes fixados em R$ 5.000,00 (cinco mil reais).
Irresignada, apela a autora e nas suas razões (fls. 1112/1125), em suma, alega que a nulidade do certame está configurada em razão da prática de preços predatórios, violação literal aos termos do edital e ausência do requisito de qualificação técnica, motivo pelo qual faz jus ao pedido de perdas e danos no valor do contrato celebrado entre as partes. Alternativamente, requer a redução da verba honorária fixada na sentença impugnada.
Contrarrazões às fls. 1137/1144 e 1152/1154, apresentadas pelo DISTRITO FEDERAL e por MERCADO CULTURAL LTDA. EPP, respectivamente.
Preparo regular à fl. 1133. É o relatório.
V O T O S
Conforme relatado, busca a apelante reparação por perdas e danos ao argumento de que o certame estava viciado em razão da prática de preços predatórios, violação literal aos termos do edital e ausência do requisito de qualificação técnica.
Consoante consta da própria inicial, fl. 27, a vencedora do pregão eletrônico, MERCADO CULTURAL LTDA. EPP, ora apelada, ofertou lance de R$ 1.821.450,00 (um milhão, oitocentos e vinte e um mil, quatrocentos e cinquenta reais), ao passo que o lance da segunda colocada foi de R$ 1.850.185 (um milhão, oitocentos e cinquenta mil, cento e oitenta e cinco reais) e R$ 1.981.018,00 (um milhão, novecentos e oitenta e um mil e dezoito reais). A apelante aparece somente na quarta posição, com lance de R$ 3.992.060,00 (três milhões, novecentos e noventa e dois mil e sessenta reais).
Da simples leitura dos dados acima, percebe-se que o valor apresentado pela vencedora está pouco abaixo dos ofertados pela segunda e terceira colocadas no certame, o que, a princípio, seria suficiente para afastar a alegação ofensa aos artigos 3º, 15, 44 e 48, todos da Lei nº 8.666/93, ao artigo 21, X, da Lei nº 8.884/94 e aos artigos 21 e 28 do Decreto nº 5.450/05, por prática de preços predatórios.
Acresce-se ainda que a recorrente não forneceu elementos mínimos de que houve conluio entre a vencedora e as empresas que forneceram o segundo e terceiro menores preços, sendo dado concluir que o lance ganhador não está em descompasso com a realidade do mercado. Ademais, não há impugnação específica das cotações realizadas pela segunda e terceira colocadas, reforçando, então, a regularidade dos preços descritos pela recorrida.
O segundo argumento da recorrente está balizado na violação literal aos termos do edital, no sentido de que a recorrida MERCADO CULTURAL LTDA. EPP participou do pregão com preços manifestamente inexequíveis, tendo em vista que o instrumento convocatório previa que os critérios para aferição de preço seriam os valores praticados no mercado e desde que não fossem irrisórios, simbólicos ou de valor zero.
Como visto, o seu segundo argumento está umbilicalmente ligado à análise do tópico anterior, onde restou prontamente afastada a caracterização de proposta predatória, cabendo ainda esclarecer, por oportuno, que o julgamento das propostas obedeceu ao critério de menor preço por lote, na forma do item 6.1 do edital em epígrafe, sendo irrelevante, no caso, que determinados preços unitários estivessem abaixo do valor de mercado.
Destaca-se ainda, segundo noticia o DISTRITO FEDERAL nas contrarrazões, que a contratada cumpriu adequadamente o avençado e sem qualquer reajuste do valor global ofertado no pregão eletrônico, afastando, por derradeiro, qualquer hipótese de prática de preço irrisório ou impossibilidade de se cumprir o objeto da contração.
Quanto à alegação de ausência do requisito de qualificação técnica, também sem razão a recorrente.
É que o edital que regeu o pregão eletrônico em comento, tratou da habilitação dos licitantes no item 7.2.1, e da leitura da sua redação não se verifica a necessidade de apresentação de comprovante de registro no Ministério do Turismo, muito embora o item 17 do Termo de Referência, citado pela apelante, faça alusão àquele documento.
No particular, insta registrar que o item 13.15 do edital de licitação preceitua que “eventuais divergências entre os termos do edital e de seus anexos,
prevalecem os termos do edital” (fl. 54). Ademais, segundo testemunho do
DISTRITO FEDERAL, em suas contrarrazões, a empresa vencedora apresentou toda a documentação exigida no edital, comprovando a sua capacidade técnica. Prova disso é cumprimento integral do contrato, consoante noticiado alhures.
Além disso, sobreleva notar que a reparação de danos postulada pela apelante somente teria cabimento se, acaso comprovadas as irregularidades apontadas, o que não ocorreu nos presentes autos, frise-se, ela fosse realmente a vencedora na hipótese de anulação da adjudicação levada a efeito pelo ente federativo, o que efetivamente não é possível concluir dos autos. Ao revés, verifica-se que a apelante ofereceu o quarto menor preço. Vale dizer, na hipóteverifica-se de desclassificação da vencedora, à frente da recorrente estariam as empresas A3 Brasil Promoção e Participação de Eventos Ltda.-ME e Aplauso Organização de Eventos Ltda., segunda e terceira colocada, respectivamente.
Assim, afora a exclusão da recorrida, teria a apelante que desclassificar as duas empresas acima declinadas, consubstanciando objeto estranho à lide.
Nessa linha, conclui-se que não há nos autos qualquer comprovação de que a apelante seria a contratada caso as impugnações lançadas na apelação fossem acolhidas.
Em arremate, quanto a este tópico, pretende a apelante a reparação no valor do contrato firmado. Por óbvio, tal pretensão também esbarraria na vedação ao enriquecimento ilícito, porquanto não forneceu nenhum serviço ou material. Na eventualidade de sagrar-se vencedora do certamente, além de receber o valor contratado, seria imputado a ela o dever de prestar os serviços e descrito no edital, o que implicaria gastos para o seu atingimento. Logo, representaria enriquecimento sem causa a obtenção do valor contratado sem a devida contraprestação.
Por fim, mantenho os honorários advocatícios fixados no julgado a
quo, eis que observado adequadamente o princípio da sucumbência e as diretrizes
expostas nos artigos 20, § 4º, e 21, ambos do CPC, especialmente no que diz respeito ao valor, à natureza e à complexidade da causa.
DISPOSITIVO
Com essas considerações, NEGO PROVIMENTO ao recurso, mantendo ilesa a r. sentença impugnada.
O Senhor Desembargador FERNANDO HABIBE - Revisor
Com o Relator
O Senhor Desembargador ANTONINHO LOPES - Vogal
Com a Turma.
D E C I S Ã O