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Algumas considerações sobre a hygiene da primeira infancia

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Academic year: 2021

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(1)

ALlMAS C0SS1DERAÇÕES

SOBRE A

II

Dissertação inaugural

APRESENTADA i

ESCOLA MEDICO-CIRÚRGICA

D O P O R T O

PORTO

TYPOGRAPHIA OCCIDENTAL 66, Rua da Fabrica, 66 1889

H*tz

(2)

S '^^-y-^x^ 4?£<gK~ £z^tz> <5*^

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K \ \

(3)

CQNSELHEIRO-DIRECTOR

VISCONDE DE OLIVEIRA

SECRETARIO

RICARDO D'ALMEIDA JORGE

CORPO D O C E N T E Professores proprietários / '

i.a Cadeira—Anatomia descriptiva ,

e geral João Pereira Dias Lebre. 2.a Cadeira—Physiologia <".,.. Vicente Urbíno de Freitas.

J.a Cadeira—Historia natural dos

medicamentos e materia

me-dica Dr. José Carlos Lopes. 4_a Cadeira —Pathologia externa e

therapeutica externa Antonio Joaquim de Moraes Caldas. 5.a Cadeira—Medicina operatória. Pedro Augusto Dias.

6.a Cadeira—Partos, doenças das

mulheres de parto c dos

re-cem-nascidos Dr. Agostinho Antonio do Souto. 7-;i Cadeira—Pathologia interna e

therapeutica interna Antonio d'Oliveira Monteiro. 8.a Cadeira—Clinica medica . . . Antonio d'Azevedo Maia.

9-* Cadeira—Clinica cirúrgica . . Eduardo Pereira Pimenta. io.a Cadeira—Anatomia

pathologi-ca Augusto Henrique d'Almeida Brandão. ii.a Cadeira—Medicina legal,

hy-giene privada e publica e

to-xicologia Manoel Rodrigues da Silva Pinto. i2.a Cadeira—Pathologia geral,

se-meiología e historia medica . Illidio Ayres Pereira do Valle. Pharmacia Isidoro da Fonseca Moura.

Professores jubilados

Secção medica S João Xavier d'Oliveira Barros.

3 | Jose d Andrade Gramacho.

SecçSo cirúrgica Visconde de Oliveira.

Professores sixbstitatos

Secção medica í Antonio Placidoda Costa.

} Maximiano A. d'Oliveira Lemos Junior.

Secção cirúrgica Ricardo d'Almeida Jorge. | Cândido Augusto Correia de Pinho.

Demonstrador de Anatomia

(4)

A Escola nao responde pelas doutrinas expendidas na dissertação c enunciadas nas proposições.

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MINHA EXTREMOSA MÃE

MINHA BOA IRMÃ

(6)

A

MEU PAE

OíTerecendo-vos a minha these cumpro um dever, túii tendes o producto das mi-nhas vigílias e locubrações, e o fructo dos vossos generosos sacrifícios.

Se mais não pude conseguir, não foi por-que me faltasse o vosso auxilio.

Acceitae esta mesquinha offerta como um testemunho

Do acrisolado amor filial e eterna gratidão, que vos consagra o

vosso filho

(7)

José Pereira Valverde Vasconcellos Corte-Beal

Foste para mim um segundo Pae ; à vossa protecção e amisade verdadeiramente fraternaes, devo eu a ventura de ver hoje realisados os vossos ardentes desejos e as minhas gratas aspirações.

Pertence-vos um quinhão d'esta pagina, que vos offerece

o vosso

affectuoso e sempre grato irmão

cA lexandre. A MINHAS IRMÃS

íftaria José Gort^-Real

Hnna Hlbina Cort^-Real

"Joaquina Julia <5ortç-Real

E

A MEU IRMÃO

cÃanctócc c/e QJaAccnce/Zos Qor/e.Q/Zeaf

A vós, que partilhaes da minha alegria, um apertado abraço do

vosso irmão

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A MINHA TIA

DE M i l W M m CORTE-REAL

E

A MEU TIO

PEREIRA VALMERDE IIMIDA VASCQNCELLQS CORTE-REAL

Nunca poderei pagar-vos com a minha dedicação o carinho e auxílios de toda a espécie, com que me ajudasteis durante a minha vida Académica.

Inscrevi os vossos nomes n'uma das pa-ginas d'esté meu humilde trabalho, para vos dar um testemunho publico de minha eterna gratidão.

Acceitae este fructo escasso do meu es-tudo; porque se é pequena a offerta.é grand» o sentimento que a acompanha.

Beija-vos as mãos o

vosso sobrinho muito agradecido

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(Anna Albina Vasconcellos Carte~T(eal Maria Emilia de Miranda e Silva

A MEUS TIOS

oAntonio Justino Peixoto Miranda Vasconcellos (Abb.' Luiz (Antonio 'Peixoto [Miranda Vasconcellos

A MINHAS PRIMAS

A MEUS PRIMOS

(10)

AO MEU PRESADISSIMO AMIGO 0 111.""1 e EX.™ SNR.

DR. PAULO MARCELLINO DIAS DE FREITAS

E A MEU "PRIMO

Dr. Lui^ de Vasconcellos Coríe-Real

Guiado pelos vossos sábios e úteis con-selhos, e amparado pela vossa protecção, consegui abraçar a mesma cruz, que vós abraçasteis.

E agora irei, como vós, prescrutar junto do leito da dôr os gemidos do enfermo, quer eu suba ao palácio dos reis, quer desça ao albergue dos pobres.

Irei, como vós, procurar ao centro da terra a historia d'um soffrimento ou o segredo d'um crime; mas não poderei receber, como vós tendes recebido, a gratidão d'uma mãe a quem salvasteis o filho ou da esposa a quem salvasteis o marido, se não continuar a ser guiado pela vossa mão intelligente n'esta nobre, mas por vezes espinhosa mis-são, que me confiaram.

Se a minha gratidão é pouco, para vos agradecer a vossa dedicação, permhti, ao menos, que vos offereça este insignificante trabalho

O vosso amigo muito reconhecido

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raeus GonDiSGiPUiiOS

Chegamos a esta encruzilhada da vida, c só nos faltam dois companheiros; um que a morte nos roubou, e outro que a doença prostrou no leito, sem que elle po-desse acompanhar-nosna íueta, em que ví-nhamos empenhados.

Se não fora esta nota tão triste, eu teria hoje a felicidade d'offereccr este meu hu-milde trabalho a trinta e seis condiscípulos, que foram para mim outros tantos verda-deiros amigos. Vosso irmão no trabalho, cu compartilhei comvosco das mesmas ale-grias, e bebi o fel das mesmas dores; e tendo a felicidade de merecer sempre a vossa amisade não estranheis agora que cu deixe d'especïalisar os nomes d'alguns de vós, que considero como Íntimos, e guar-dai este mesquinho frueto do meu trabalho, não pelo que vale, mas pelo que significa, que vol-o offerece

o vosso condiscípulo

^Alexandre Pereira Cortc-cReal.

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AO SEU PRESIDENTE

o Ill.mo e Ex.™ Sr.

Lr. Antonio d'Aseyedo Maia

Como testemunho de muita consi-deração c respeito pelo seu elevado ca-racter, homenagem ao seu profundo saber e admiração pela sua muita de-dicação ao trabalho

Off.-O discípulo agradecido

(Alexandre 'Pereira Corte í^eaZ.

AOS EX."™ PROFESSORES

T)r. eA gostinho do Souto Eduardo 'Pereira, T'intenta

[Manoel eRj>drigues da Silva 'Pinto

T)r, José Carlos Lopes *Pedro (Augusto TJias Illidio oAires Pereira do Z)alle zAntonio Joaquim de Moraes Caldas oAugusto Henrique d'zAlmeida Brandão [Maximiano d'Oliveira hemos Junior.

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Tendo concluído os exames parciaes do nosso curso de Medicina e Cirurgia restava-nos a apre-sentação e defeza d'uma dissertação a que se dá o nome de —these;-assim nol-o impõe a ultima determinação da lei.

Bem longe de possuirmos os recursos neces-sários para podermos apresentar um trabalho de algum valor scientifico, não podia acudir-nos ao espirito a estulta pretenção de tentar sequer dar-Ihe o desenvolvimento, que a importância do as-sumpto nos exigia.

Á pobreza da nossa intelligencia accrescia uma escassez considerável de tempo; é, portanto, um trabalho de occasião, feito muito á pressa, apenas, com o fim de cumprir uma obrigação.

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Sirva-nos esta confissão de desculpa para po-dermos merecer a benevolência do illustrado jury, que hade julgar o nosso trabalho.

A cada momento eram suscitadas duvidas no seio de nossa família relativamente ao modo de alimentar e educar as creanças; e, se uma vez por outra, conselhos de medicos auctorisados vieram resolvel-as, outras vezes por demasiadamente tar-dios não poderam obstar a que algum dos entes, que hoje nos são caros, fossem victimas d'um certo numero de preconceitos, que por ahi correm á conta de rotina, a maior parte das vezes preju-dicialissimos e até perigosos.

Curar o mal que apparece é muito, mas pre-venil-o, e n'estas idades tão expostas, é muito mais ainda.

Se a vida do infante, como diz Bouchut, não é ura estado normal, mas sim um esforço para elle, quem não ajudará esse esforço n'um ente tão sus-ceptível, tão delicado e á mercê de tantos males?

Não pôde haver edifício solido sem alicerces solidamente cimentados.

Agora que nós procuramos instruir a mulher, abrindo-lhe as [tortas das nossas Academias para que possamos fazer d'ella uma educadora intelli-gente, cliamemos-lhe a atlenção para este assum-pto, que deve ser olhado como d'uma importância capital.

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quaes as obrigações que ella tem a cumprir na sua funcção orgânica —a maternidade — ; mi-nistremo-lhe todas as noções as mais uteis, as mais praticas e as mais racionaes da hygiene da infância, para que ella possa tornar-se uma mãe exemplar no desempenho das suas funcções so-ciaes—a educação physica, moral e intellectual dos filhos.

Bem sabemos que se não podem apresentar re-gras fixas e absolutas, applicaveis a todos os ca-sos; mas se ao coração d'uma mãe intelligente jun-tarmos os esclarecimentos scientificos necessários, e umas certas noções de cousas que ella deve saber, teremos assim prestado um grande serviço em fa-vor da sociedade.

Não é apenas uma questão moral o problema da educação feminina, é também uma questão so-cial e económica.

A' educação da mulher está confiada a regene-ração da humanidade, e é a nós, os medicos, que nos cabe a restricta obrigação- de ensinar ás mães quaes os perigos, que podem advir aos filhos da transgressão cTum certo numero de preceitos hy-gienicos.

Importamos da sociedade costumes, e com el-les novos agentes modificadores, que, actuando desregradamente em nossa organisação, rompem, por vezes, o equilíbrio physiologico e criam apti-dões para moléstias, que mais tarde apparecem

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sob a influencia de causas bem insignificantes. A hygiene da primeira infância deve ser culti-vada com todo o esmero e assiduidade. As pes-soas a quem fôr confiada a educação das crean-ças, deverão saber qual,a influencia dos agentes naturaes na nossa organisação, e o modo d'apro-veitar essa influencia em beneficio da perfeição physica. Só assim poderão concorrer com a sua illustrada e efficaz direcção para o bem d'aquelle cuja sorte futura depende em grande parte da ma-neira porque foram educados.

O poder da hygiene, mais do que o da thera-peutica, está no conjuncto de meios de que ella dispõe, e, para que esse poder produza os deseja-dos effeitos, é preciso vulgarisal-os.

Feitas estas considerações, parece-nos ter jus-tificado o nosso propósito na escolha do assumpto, que, por tantos títulos, nos é sympathico.

Passemos, pois, a traçar o plano do nosso tra-balho. Na primeira parte estudamos, embora rapi-damente, alguns dos preceitos hygienicos que mais de perto devem ser observados, relativos ao feto e ao recem-nascido.

Na segunda, referimo-nos aos diversos proces-sos d'alimentaçao; e occupamo-nos na terceira d'al-guns cuidados hygienicos que se devem às crean-ças, até ao período de desmamação.

Damos ao nosso trabalho uma feição prática e perfeitamente elementar, e, se não conseguimos

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trazer alguma novidade para a sciencia, nem ser methodicos na disposição dos assumptos para que dirigimos a nossa attenção, sirva-nos de desculpa a falta de tempo e a necessidade que tínhamos, de nos referir só áquelles pontos, que julgamos de

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PRIMEIRA P A R T E

i

Hygiene da gravidez

Abrimos o nosso trabalho por um capitulo que intitulamos Hygiene da gravidez, e melhor fora tel-o precedido d'uni outro, que intitulássemos Hy-giene do casamento, seriamos até mais methodi-cos procedendo d'esté modo. Não o fazemos por-que as nossas obrigações diárias nos inhibera d'ir tão longe; o tempo de que dispomos é pouco e porisso preferimos dirigir a nossa attenção para outros pontos que prendem mais de perto com. o titulo da nossa dissertação, e que julgamos de maior utilidade prática.

Que alguém de maior competência, que a sa, se incumba d'ir procurar nas condições do

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nos-so meio nos-sociológico a origem d'um considerável depauperamento orgânico, que já herdamos e que temos de transmittir aos nossos filhos. E' nossa convicção, que a mortalidade sempre crescente dos recem-nascidos depende em grande parte da má escolha dos progenitores, e como assim seja não podemos esperar uma garantia segura para a per-fectibilidade da espécie.

Posto isto, vamos apresentar um certo numero de preceitos hygienicos que devem ser observados pela mulher, logo que para ella comece o papel de mãe.

Desde o momento da concepção até ao parto, espaço que comprehende, pouco mais ou menos, nove mezes, ella começa a alimentar inconsciente-mente o producto da concepção, e alimenta-o não com productos que ella possa voluntariamente es-colher, preparar e administrar, mas sim com aquelles que o seu organismo hygido ou mórbido prepara e ministra.

E' necessário, pois, que as suas funcções or-gânicas se executem com harmonia physiologica, e que a sua alimentação seja conveniente e apro-priada para evitar que no sangue possam circular princípios que lhe tornem o organismo doente.

O regimen alimentar da mulher gravida, deve, em regra, ser o mesmo que no seu estado normal, e em tempo nenhum ella deve observar com tanto rigor o preceito da temperança como durante

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a gravidez. Os alimentos devem ser de fácil diges-tão, nutrientes e pouco condimentados, e posto que a mulher gravida precise d'uma alimentação um pouco mais copiosa, é preciso que ella não so-brecarregue o estômago; porque pôde prejudicar a sua saúde, e, conseguintemente a do filho.

A quantidade dos alimentos deve ser regulada pelo appetite, e em proporção com o exercício; acontece porém algumas vezes que por uma per-versão do appetite a mulher gravida repugna os alimentos de que mais gostava, preferindo aquel-les que antecedentemente aborrecia, mas nem sem-pre é licito satisfazer taes caprichos, sobretudo quando a mulher deseja substancias que possam alterar-lhe a saúde, porque d'umas taes aberra-ções de paladar podem resultar-lhe verdadeiros estados pathologicos, com grave prejuízo da saú-de do filho.

Não ha justificação possível para que subsista a crença vulgar de que á mulher gravida se de-vem satisfazer todos os desejos, por mais extrava-gantes que pareçam.

As bebidas, que fazem parte da alimentação, devem ser usadas moderadamente, evitando-se sempre o abuso de bebidas alcoólicas e estimu-lantes, como vinho, chá ou café, que, accelerando consideravelmente a circulação, podem prejudicar a vida do feto.

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dos numerosos accidentes que acompanham o pe-ríodo da gestação, como nauseas, vómitos, ane-, mia, plethora, etc., as modificações dos alimentos

devem estar subordinadas á indicação therapeuti-ca, e n'este caso a intervenção do medico é indis-pensável.

Para que uma alimentação bem regulada lhe seja proveitosa, é necessário que ella faça exercí-cios de qualquer natureza, embora moderados; porque o exercício é um verdadeiro estimulante de todas as funcções; deve continuar a enlregar-se ás suas occupações habituaes, mas evitar enlregar- sem-pre exercícios violentos ou esforços exaggerados que possam determinar uma conformação viciosa do feto, ou mesmo provocar o aborto.

Se a sua condição social lh'o permitte, deve dar passeios a pé, curtos e frequentes, mas pro-curar sempre fazel-o com socego e serenidade de espirito, sobretudo nos últimos períodos da gravidez; abster-se de corridas a cavallo ou em carro, e especialmente da dança, cujos movimen-tos precipitados lhe podem ser muito prejudiciaes.

Durante a gravidez, a mulher está mais ex-posta a quedas, sobretudo nos últimos mezes, por isso que o seu centro de gravidade fica sujeito a novas condições d'equilibrio ; portanto, o calçado deve ser largo e de tacão baixo, porque qualquer choque ou contusão sobre o ventre pôde pôr em risco a vida do feto.

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A hygiene do vestuário deve merecer-lhe todo o cuidado; os vestidos devem ser leves, quentes e largos, para que não exerçam pressão alguma so-bre o thorax ou. soso-bre a cintura, pois é necessá-rio que os movimentos respiratónecessá-rios e a circula-ção se réalisera sem difficuldade, e que nada com-prima o abdomen.

A mulher gravida, cujos meios de fortuna lhe permitiam o viver no seio da sociedade elegante, deve abster-se d'uns certos rigores da moda, que a obrigam a andar entalada n'um sem numero de varas d'aço que fazem parte da confecção d'uns colletés a que se dá o nome d'um espartilho. Não sei mesmo se será possível calcular-se o perigo d'uma tal toilelle, tão ridícula e tão pouco hygie-nica.

Impõe-se claramente "ao espirito a gravidade d'uma compressão exaggerada, quer temporária quer permanente sobre órgãos que precisam de funccionar livremente para não haver ruptura de equilíbrio pbysiologico, que tão necessário se

tor-na no período da gravidez.

A compressão sobre o thorax além d'outros inconvenientes pôde dar origem a inílammações e engorgitamentos dos peitos, e se o colleté se op-põe á elevação do utero, este órgão é natural-mente deslocado, o que pôde ompromelter a saúde e até a vida da mãe, além de produzir no feto deformidades por vezes incuráveis.

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E' pre,iso que a mulher gravida não sacrifique a sua vida e a do filho, com o fútil prelexto de satisfazer um certo numero d'exigencias creadas pelo meio ignorante em que vive.

Pelo facto de conceber, deixou de ser inteira-mente livre, para ficar em rigorosa dependência da nobre missão que a natureza lhe confiou.

Reprovamos em absoluto o uso do espartilho, e aconselhamos os vestidos largos ; mas não se se-gue d'aqui que o ventre da mulher gravida fique desprovido de qualquer amparo e protecção.

Nos últimos mezes da gravidez, ha casos em que a mulher tem necessidade de amparar o ven-tre com uma cintura propria, para que não seja compromettida a elasticidade das paredes abdo-minaes em virtude do peso do feto; dá-se isto muito especialmente nas mulheres mulliperas.

A propria cintura pôde favorecer a accommo-dação do feto, fazendo corresponder o seu maior eixo com o eixo longitudinal da mãe.

A mulher deve conservar durante todo o pe-ríodo da gravidez o uso dos banhos de limpeza mornos, e, quando não ha contra-indicação, tomar os de mar frios excepto nos dois primeiros e no ultimo mez da gestação.

O banho morno não deve exceder em tempe-ratura 3i° a 35°, e é conveniente que a mulher gravida se recolha á cama depois de o tomar.

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ser praticadas cora um certo numero de precau-ções, de modo a evitar a provocação do aborto cu dar origem a hemorrhagias accidentaes, sem duvida muito perigosas tanto para mãe como para o filho. Sem querermos privar a mulher gravida d'uma funcção tão importante aconselhamos com-tudo o seu uso moderado e abstenção completa nos últimos períodos da gravidez.

Em regra, não lhe convém frequentar os bailes e os theatros ou outros divertimentos que possam impressional-a vivamente, augmentando assim a susceptibilidade nervosa, já tão exaggerada espe-cialmente nos últimos mezes da gravidez.

Ser-lhe-hia melhor passeiar pelo campo, se o seu estado lh'o permittir, para fugir ao ar viciado dos grandes centros, que lhe é muito prejudicial. Insistimos n'estes preceitos hygienicos durante a gravidez e referimo-nos, de preferencia, á mu-lher da cidade, porisso que, a robustez e condi-ções sociaes da mulher do campo dispensam um regimen tão rigoroso, que nos grandes centros con-stitue uma necessidade.

Nada se pôde dizer, em absoluto, relativamente a todas estas regras hygienicas, porisso que a gravidez se acompanha por vezes de um certo, numero de phenomenos que reclamam indicações especiaes, e só ao medico compete intervir em taes casos, para que não seja compromettida a saúde ou mesmo a vida da mãe e com ella a do filho.

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O recem-nascido

Chegou a hora solemne, em que o novo ser vai travar conílicto com o mundo exterior.

Romperam-se os envolucros, que o revestiam, fez-se a dehiscencia e eil-o no começo d'uma nova vida.

O ar que o cerca precipita-se até ás ultimas ramificações bronchicas, os raios luminosos atra-vessam-lhe a pupilla até á retina, ouve-se o pri-meiro vagido e alguns dos órgãos, que até alli estavam em repouso entram em actividade.

O sangue influenciado pelas circumstancias em que de subito se encontra pára um momento no seu curso e muda de direcção nos systemas de canaes em que circulava.

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?A

Todo este complexo d'acçôes, que n'iim mo-mento se manifestaram, tornam muilo susceptível todo o seu organismo e demasiado melindroso cada um dos seus órgãos.

Se antes do nascimento a creança era credora da mais vigilante sollicitude, com mais rasão o deve ser agora, que numerosos e nocivos agentes modificadores começam a exercer directamente so-bre ella a sua acção.

Um engano, uma omissão por insignificante que pareça pôde influir consideravelmente na saú-de futura do recemnascido.

Da falta d'alguns soccorros de que elle imme-diatamente carece, das irregularidades no regimen a maior parte das vezes por ignorância das mães, é que resulta quasi sempre a fragilidade da infân-cia e por vezes a sua morte prematura.

E não se attribua a causa de muita dôr, que crucia famílias inteiras pouco depois das alegrias do nascimento, a uma condição inhérente ao ho-mem, como muita gente julga.

Seria fútil attribuil-a a um principio económico estabelecido pela Providencia para conservar um certo equilíbrio entre o numero de vidas e os meios de as conservar, como que para pôr um dique ao crescimento progressivo da população, receiando que no mundo não hovesse logar para tanta gente.

A natureza já preveniu um tal resultado creando a morte como uma consequência inevitável da vida.

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São muitas e muito complexas as causas da extraordinária mortalidade das creanças e debaixo do ponto de vista social, é esta uma questão que tem preoccupado vivamente todos os hygienistas e economistas.

Atlendendo á pouca resistência, que estes fra-cos organismos oppõem aos modificadores exter-nos, é necessário que a sua educação seja baseada nos mais rigorosos preceitos da hygiene.

Vamos referir-nos aos cuidados immediatos para com os recem-nascidos, o que constitue toda a doutrina d'esté capitulo.

Cuidados immediatos

Logo que a creança nasce, o primeiro cuidado da parteira ou do medico parteiro deve consistir em collocal-a de lado, de modo a evitar que o san-gue e os líquidos, que se escoam da vagina da mãe, possam estorvarlhe a respiração ou mesmo as-phyxial-a.

D'esté modo facilitamos a sahida de mucosida-des e agua, que ordinariamente se encontram na cavidade bocal, e quando assim o não consigamos totalmente, devem extrahir-se com a ponta do dedo ou com uma penna de gallinha.

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m

Se o cordão umbilical tiver dado alguma volta no pescoço desenrola-se, e em seguida procede-se â sua ligadura e secção.

A ligadura applica-se á distancia de 1res a quatro centímetros pouco mais ou menos da ori-gem do cordão, e quando se reconheça que elle está infiltrado de serosidade, comprime-se

previa-mente com os dedos para que, do seu escoamento, não possa resultar o relaxamento ulterior da liga-dura.

Esta pôde fázer-sè com um fio de linho ence-rado bastante consistente, para que possa suppor-tai- o esforço necessário a produzir a constricçào das artérias umbilicaes; antes porém de aportar o fio é necessário verificar, que não haja alguma hernia umbilical, para que não seja envolvida por elle, pois que d'isso resultaria necessariamente a morte do recém-nascido.

Ligado o cordão, eorla-se com uma thesoura bem afiada para aquém da ligadura, logo depois envolve-se a creançan'uma llanella, e em seguida procede-se à sua lavagem.

Pôde acontecer que, durante estas operações preliminares, a creança não grite, nem mesmo dê indícios de que respira, levando-nos a crer que nasceu morta ou foi victima d'uma asphyxia pro-vocada por algum dos accidentes, que já aponta-mos ou por qualquer complicação no parlo.

N'este caso devemos procurar remover

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chatamente tudo quanto possa embaraçar-lhe a en-trada do ar, borrifal-a com agua fria, e em seguida dar-lhe fricções com um panno aquecido ou com a mão ; isto basta muitas vezes para dissipar os nossos receios ; porque não é raro nascerem as creanças n'este estado de asphyxia apparente para se reanimarem d'ahi a pouco; comtudo, quando assim não aqpnteça, devemos recorrer á insuflação e á respiraçãp artificial.

A creançavsae do ventre materno com a pelle coberta por um enducto sebaceo, que se localisa de preferencia na cabeça, assilla, regiões nadegueiras e inguinal; d'aqui a necessidade de lhe dar um banho, para tornar mais livre a transpiração cuta-nea; e como a agua simples não basta para tirar este enducto, é preciso juntar-lhe algum sabão de-pois de termos previamente untado o corpo da creança com uma substancia oleosa como: óleo de amêndoas doces ou manteiga, e melhor ainda com uma gemma d'ovo.

A agua deve ser morna, e depois de introdu-zida a creança na banheira, devemos suspender-lhe a cabeça com uma das mãos e com a outra ba-nhal-a cuidadosamente com uma esponja fina.

O banho deve ser morno e dado o mais de-pressa possível, não deixando nunca arrefecer o corpo do recem-nascido.

Lavada a creança enxuga-se cuidadosamente com um panno de, linho quente e examinam-se-lhe

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as vias e aberturas naturaes com o fim de verifi-car se ha occlusão ou alguma deformação, que re-clame uma operação cirurgica immediata.

Em seguida cobre-se-lhe a cabeça e applica-se uma faxa de linho sobre o abdomen da largura de três a quatro dedos com o fira de sustentar a parte do cordão, que ficou adhérente ao umbigo, deitan-do-se depois junto da mãe onde ella certamente en-contra a temperatura de que cresce nos primeiros momentos da vida.

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Enfaixamento

N'um capitulo especial trataremos do vestuá-rio da creança e teremos então occasião de nos re-ferir ás différentes peças, que fazem parte do seu enxoval.

Por agora referir-nos-hemos á pratica preni-ciosa da maior parte das parteiras relativamente ao modo de enfaixar as creanças, pratica esta con-tra a qual se insurgiram dous espíritos notáveis como Locke na Inglaterra e Rosseau na França, pelas deformidades por vezes incuráveis, a que pôde dar origem, quando não seja a causa mais fre-quente da sua grande mortalidade.

A hygiene moderna acompanha-os n'este pro-testo, e ao próprio senso commum repugna

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admit-40

tir, que seja util para uma creança aprisional-a com um sem numero de pannos, comprimindo-lhe os braços, estendidos ao longo do corpo, as per-nas immoveis e approximadas, e a cabeça firme-mente appoiada sobre a parte superior do peito.

É este um supplicio enorme que assim infli-gem ás creanças com receio que a liberdade de movimentos lhe seja nociva, deformando-lhe os membros e o tronco.

E querendo remediar um mal vão crear outro ainda maior; porque lhe applicam uma espécie d'apparelho de tortura, que lhe torna impossível o somno vivificador de que precisam, e que é mui-tas vezes causa d'aquelle vagir afflictivo e lasti-moso que nos confrange a alma e que as mães e amas ignorantes attribuera quasi sempre a cólicas, etc.

Este prejuízo tende, felizmente, a desapparecer e a educação physica terá feito um grande bem procurando eliminalo completamente.

Ë fácil conceber que uma tal compressão so-bre os ossos da creanca, que ainda estão mal li-gados e pouco desenvolvidos pôde dar origem a deformações, ou mesmo a fracturas, que ponham em risco a vida da creança.

As funcções da circulação, respiração e nutri-ção não podendo executar-se com regularidade, re-sulta daqui a transformação das creanças n'umas verdadeiras múmias, que a maior parte das vezes

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são victimas do rachitismo e de muitas outras doenças, que de futuro lhe podem produzir a morte.

Sendo impossível a transpiração da pelle é claro que a falta d'esta funcção importantíssima deve concorrer para comprometter a saúde e até a vida da creança.

Emfim seria um nunca acabar de prejuisos e perigos para a creança o resultado da prática d'um tal processo, e por isso vamos indicar aquillo que nos parece mais racional a tal respeito.

A parte do cordão que ficou adhérente ao um-bigo da creança, carece de ser amparada por meio d'um faixa, depois de coberta com uma compressa de linho fino, e não ha duvida que esta faixa pôde ser acompanhada por uma outra, que sirva para resguardar a creança da impressão do frio, que lhe pôde ser muito prejudicial.

Não ha porém necessidade de exercer compres-são, nem tão pouco prender-lhe os membros, que a creança carece de mover livremente ; porque para isso é que elles foram creados.

Percebe-se bem claramente, que a menor com-pressão no peito ou no abdomen pôde não só pro-duzir o desvio dVgãos importantes como estor-var-lhe o seu desenvolvimento, e a constricção dos vasos periphericos dar origem ás congestões por vezes perigosíssimas como são as dos pulmões e do cérebro.

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porque esta conservasse sempre húmida pelo au-gmenta da transpiração, e não só a creança enfra-quece consideravelmente como pôde ser affectada de rheumatismo quando por qualquer circumstan-cia arrefeça, e porque o próprio contacto da fla-nella pôde irritar-lhe a pelle.

A ílanella só convirá ás creanças muito fracas pouco dispostas a transpirar ou quando a tempe-ratura esteja baixa.

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i

Alimentação

Vamos entrar no estudo d'uni dos capítulos, em que dividimos o nosso trabalho, cuja importância é d'uma evidencia immediata, e muito embora nos seja impossível dar-lhe todo o desenvolvimento, de-morar-nos-hemos comtudo mais alguma cousa, que nos capítulos precedentes, sem procurarmos d'esté modo fugir á grave responsabilidade, que já pesa sobre nós pelo modo rápido como os havemos tra-tado.

Sendo o leite o único alimento do recemnas-cido, durante os sete ou oito primeiros mezes da sua idade, vamos referir-nos ao alleitamento natu-ral e artificial, tratando em primeiro logar da

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mentação materna e pelas amas, e por ullimo da amamentação artificial e mixta.

Amamentação materna

A mulher, que na hora extrema de ser mãe soffreu os horrores acerbos da dôr e do perigo, contempla agora orgulhosa o fructo do seu amor, e ostenta com soberania o seu mais precioso pri­ vilegio —■ a maternidade; — e ella que é toda ter­ nura e dedicação, não pôde furlar­se ao dever de amamentar o filho, a quem já cedeu uma parte da sua vida, porque se fizer appello'aos seus senti­ mentos, o desejo de cumprir tão nobre missão im:

põe­se­lhe espontaneamente ao espirito.

Ha infelizmente circumstancias fataes, que a im­ pedem de cumprir tão sagrado dever, mas quando assim não seja, ella não pôde subtrahir­se impu­ nemente ás leis da natureza deixando de ama­ mentar o seu filho; e, triste é confessal­o: ha mães que sacrificam os dulcíssimos sentimentos da ma­ ternidade ás exigências da sociedade e aos cuidados da formosura, entregando o filho a mãos mercená­ rias, sem se lembrarem que elle tem direito incon­ testável ao cumprimento d'esse doce dever, que é o complemento da maternidade.

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Prática fatal, que tantas vezes substitue as ale-grias e os enlevos do amor maternal, pelas lagri-mas inexhauriveis de saudade pungente por uma vida tão querida, que se finara.

E não nos queixemos da natureza, porque esta é sempre a mesma; queixemo-nos da epocha em que vivemos, porque esta fazemol-a nós, e mais tarde a posteridade pedir-nos-ha rigorosas contas quando ella se debata com o abatimento physico e moral, que o período sempre crescente da degra-dação de costumes, ha-de imprimir nas gerações vindouras.

Que se lembrem as mães, que os filhos podem mais tarde fazer pesar sobre a sua velhice, a indif-férence e o esquecimento, que lhe cercaram o berço. Feitas estas rápidas considerações, que não nos pareceram fora de propósito, vamos entrar no as-sumpto; mas antes d'isso seja-nos permittida uma observação, para antecipar um pouco a opinião d'aquelles, que nos lerem.

Não se julgue, pelo modo um pouco duro, com que nos dirigimos ás mães, que não querem ama-mentar os filhos, que admittimos em absoluto a necessidade de podermos sempre exigir d'ellas o cumprimento d'um tal preceito, porque ha casos em que isso não é possível, e no decorrer d'esté capitulo procuraremos justificar o que avançamos.

É nossa convicção, que a mulher seria mais perfeita, que defeituosa, se um certo numero de

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doutrinas lhe fossem comesinhas e discretamente ministradas no decurso da sua educação.

Vamos principiar por nos referir á mãe, e depois referir-nos-hemos ao filho, pratica esta, que já se-guimos desde o começo do nosso trabalho; é cer-to porém, que as duas entidades, mãe e filho, es-tão es-tão intimamente relacionados, que não podem deixar de ser tratados simultaneamente, da saúde da mãe depende necessariamente a do filho.

A amamentação materna é uma lei imposta pela natureza, e que vemos verificada em todos os ma-míferos, ainda os mais ferozes e indomáveis, cujo in-stincto e excesso d'amor maternal os leva muitas vezes a sacrificar a sua propria vida em proveito da dos filhos. JVa espécie humana, torna-se o cumpri-mento d'esté sagrado dever mais sublime, pelo sen-timento moral que o caractérisa, e se a lactação é o complemento physiologico da gestação e par-turição, a amamentação materna é como já disse-mos o complement da maternidade.

O leite materno é o alimento mais próprio para a creança, não só pela graduação da sua força nu-tritiva, mas também pelo facto de ser elaborado n'uma organisação, que mais se assemelhe com a sua.

Por outro lado a existência do infante, que é tão melindrosa e fraca, e sujeita a milhares d'ac-cidentés carece dos mais minuciosos cuidados que só a mãe lhe pôde dispensar ; só a ternura e amor

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maternal poderão adivinhar-lhe as necessidades de todos os momentos e só a sua dedicação poderá completamente satisfazer lh'as.

Ninguém como ella o sabe acariciar, quando elle sorri, ninguém como ella o sabe estreitar nos braços para o beijar, e com um amor puro e sem egoísmo, ella dispensa-lhe toda a solicitude, porque n'este delirar d'alma, que só ella experimenta, por-que é mãe, nenhuns cuidados lhe parecem afano-sos, nenhumas attenções a enfadam e nenhumas vi-gílias a fatigam.

Assim nasce e se fortalece o reciproco amor entre mães e filhos, que é um dos mais firmes sus-tentáculos da família e da sociedade.

Algumas vezes porém, a mãe vê-se privada de satisfazer o seu ardente desejo d'amamentar o fi-lho, ou porque a sua saúde lh'o não permitle, ou porque a natureza lhe não forneceu o leite neces-sário, ou a tornou victima d'algum defeito orgâ-nico, que a inhibe de o poder fazer.

Nem sempre a amamentação maternal é com-patível com os interesses da mãe e do filho, e por isso vamos apresentar as indicações e contra-indi-cações do aleitamento materno.

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Indicações e contra-indicaçoes

São muitos os auctores, que julgara proveitoso para a mãe, o ella amamentar o seu filho, conside-rando uns essas vantagens exclusivamente moraes, e outros attribuindo-lhe mesmo o valor de conju-rar certos accidentes a que estão mais sujeitas as mulheres, que não alleitam.

Com effeito, sendo a secreção do leite uma func-ção natural, é claro que a sua retenfunc-ção ou sup-pressão conservará no organismo os elementos, que deviam ser extrahidos do sangue e alterará mais ou menos as condições physiologicas da mulher que se eximir d'amamentar o filho. Ouçamos o que diz Gioux a este respeito.

« O leite é um liquido que para a mulher se torna, até certo ponto, de natureza excrementicia.

Para a formação d'esté liquido é que, pelo menos, conspiram todos os actos da economia pouco tempo depois do parto. Até então tinha o feto attrahido a si a quantidade de sangue bas-tante a prover ás necessidades do crescimento, e cessando este alíluxo com o parto, a natureza pro-tectora faz com que a corrente tome outra direc-ção. Da 30." ou 00.a horas em diante os seios

in-tumecem-se, enchem-se e o mamilo augmenta de volume, e com o afíluir do leite para a glândula

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mamaria prnduz-se uma derivação salutar e pro-veitosa aos órgãos da gestação».

Se recorrermos á phisiologia reconhecemos bem claramente, qual a influencia que a falta da secreção do leite pôde exercer sobre os órgãos pélvicos e nomeadamente sobre a involução ute-rina; a falta d'aquelle derivativo pelas glândulas mamarias tão intimamente relacionadas com estes órgãos, dá occasião por muitas vezes a hemorrha-gias abundantes, metrites chronicas, nevralhemorrha-gias dos ovários, etc., que podem comprometter gravemente a saúde da mulher.

Demais, é da observação de todos os dias que o amamentar suspende muitas vezes, por algum tempo, a evolução de certas doenças, e casos ha em que se observa uma cura completa.

Não é raro encontrarmos mulheres, que tendo amamentado os filhos, arrostando com uma fra-queza apparente, foram pagas da sua dedicação com uma saúde melhor e com uma constituição mais robusta.

Para que a mãe amamente o filho não é con-dição necessária ter as qualidades de saúde, força e robustez que se exigem das amas mercenárias. Por muitas vezes se observa que algumas mu" lheres, débeis e fracas em apparencia, teem ama-mentado os filhos e estes são sadios e robustos, tanto o leite da mãe é adaptado e próprio para a alimentação do filho.

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Nem sempre uma saúde mediocre é um obstá-culo ao alleitamento materno, por vezes mulheres chloro-anemicas, nevropathas e mais ou menos dyspepticas gosam d'uma excellente saúde em-quanto amamentam, e podem mesmo conserval-a terminado o alleitamento.

Pelo que temos dito se vê que o alleitamento materno é vantajoso para a mãe e para o filho, tanto debaixo do ponto de. vista moral como hygie-nico, mas existem casos em que ha necessidade de recorrer a uma ama ou ao aleitamento artificial, tal é o estado da mãe; ao medico compete intervir n'este caso para dar a sua opinião, sendo certo que o problema é muitas vezes difficil de resolver, por-que não é possível determinar com precisão quaes as condições de saúde a que deve satisfazer uma mãe para poder amamentar o filho.

O alleitamento materno é contra-indicado em certas affecções geraes como a escrophula, a diabe-tes, o mal de Biight, o rachitismo, e especialmente a tuberculose c a syphilis ; porque em taes casos prejudica quasi sempre tanto a mãe com » o filho. Certos auctores como Nalalis, Guillote Archam-bault, crêem que nada deve impedir a mãe d'ama-mentar o seu filho ainda que ella seja escrophn-losa, tuberculosa ou syphilitica; porque, segundo elles, nada prova que estas diatheses sejam trans-miltidas peio leite á creança.

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admit-tindo que a mãe nunca deve amamentar o filho, quando possa receiar-se o desenvolvimento ulte-rior d'estas affecções em virtude d'antécédentes he-reditários, embora até então não tenha apparecido quaesquer manifestações diathesicas.

Se não podemos admittir em absoluto a opi-nião dos primeiros, também achamos demasiada-mente exagerado o receio dos segundos. .

Detenhamo-nos um pouco na apreciação das diversas hypotheses, que podem apresentar-se rela-tivamente ás duas affecções geraes a que ligamos mais importância, a tuberculose e a syphilis.

Apresentemos primeiro a hypothèse que sup-pomos mais favorável.

O pae é manifestamente um tuberculoso. N'este caso não ha duvida nenhuma; porque os factos o demonstram, que o filho pôde herdar a doença, e com quanto se não tenha precisado bem qual o meio de transmissão, admitíamos que foi o gérmen fecundante do pae.

Se n'esta hypothèse a mãe nos offerece todas as condições de saúde para poder amamentar o fi-lho, é claro que em nenhum outro leite poderá o filho reparar as perdas que o seu organismo já af-fectado possa experimentar.

Acontece porém algumas vezes, que a creança não vem affectada; mas é fácil conceber que muito embora a mãe esteja sã, ella pôde contrahir a doença durante o alleitamento pela cohabitação com

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o marido e n'este caso haver possibilidade de que ella a transmitia ao filho.

Portanto, o qne nos parece mais regalar é o seguinte: que n'este caso a mãe deve amamen-tar o filho quando seja dotada d'uma consti-tuição robusta e em quanto gosar boa saúde; ao menor resentimento no seu estado hygido deve consultar um medico para saber se pôde continuar, ou não, a amamentação.

Supponhamos agora, que a mãe é que está af-fectada de tuberculose hereditaria ou adquirida.

Poderá esta transmittir a doença ao ti lho du-rante a vida intra-uterina, ou por intermédio do leite ?

As experiências de Landouzy e Marlin e muito recentemente as de Sonchcz-Toledo, demons-tram-nos que a placenta deixou de ser uma bar-reira para a passagem do bacillo tuberculoso, com quanto ainda se não possa determinar bem, qual a natureza da lesão placentar, que dá passagem ao agente infeccioso.

Que a tuberculose pode ser transmissível pelo leite, demonstram-no claramente as experiências de Yilkmin, Ffcming, Klcbs, e muitos outros, sem que nos seja preciso admittir como Chauveau a existência dos tubérculos nas tetas dos animaes sujeitos á observação.

yPóde a creança não apresentar, nos primeiros

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tu-berculose; mas lá está o gérmen da doença, que mais tarde produz os seus terríveis effeitos ; e hoje já não se admitte a crença dos antigos

pathologis-tas que suppunham ser muito rara esla doença nas primeiras idades.

As meningites tuberculosas, hoje tão frequen-tes nas creanças, podem ser consideradas a maior parte das vezes como uma manifestação da he-rança paterna ou materna.

Admittidos estes dous meios de transmissão da tuberculose é evidente que a mãe não deve amamentar o filho quando seja portadora d'esta doença, sem aggravar o seu estado de saúde ou compromelter a vida do filho.

Convém pois, entregar a creança a uma ama robusta e ver se com o auxilio d'uma boa alimen-tação, e dos outros meios que a hygiene indica, podemos neutralisar a predisposição nefasta com que ella nasceu.

A diathese syphilitica é pela sua gravidade e frequência, uma das que merece ser também mais especialmente estudada.

Não discutamos agora se um pae syphilitico pôde infeccionar o filho sem primeiro ter infeccio-nado a mãe, porque esse ponto é ainda muito controverso, admittamol-o; e demos como assente e demonstrado que uma mãe syphilisada dá ori-gem a um filho syphilitico.

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Podem alguns meios de transmissão ser obje-cto de contestação, como succède na tuberculose, porém, o que nos importa saber agora é se a mãe deve ou não amamentar o filho, quando ella tenha adquirido ou herdado a syphilis.

Estamos convencidos de que, ás difficuldades d'observaçào, se deve attribuir a opinião de mui-tos auctores relativamente á não possibilidade d'uma transmissão directa d'esta doença do pae

para o filho.

É evidente que a mulher ignore quasi sempre o estado de saúde do marido, e n'estas condições não lhe é possível elucidar o medico a este res-peito.

Umas vezes fazem-se as observações em hospi-taes onde o marido é desconhecido e por isso não pôde ser interrogado directamente. Outras vezes é o receio do medico em fazer perguntas indiscretas que possam perturbar a paz d'uma família.

Quando a creança apparece infeccionada e a mãe não apresenta qualquer manifestação syphili-tica filiamos quasi sempre a doença n'uma ques-tão d'hereditariedade paterna.

Foi observado por nós e por um medico, com. quem temos relações de parentesco, um facto, que não podia deixar duvidas no nosso espirito relati-vamente á possibilidade d'uma transmissão directa do pae para o filho. O mais seguro pois, n'este caso, é a mãe não amamentar o filho para que

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não possa ser infeccionada por elje, e por isso temos dous caminhos a seguir: ou entregar a creança a uma ama ou amamental-a artificialmente.

Entregar a creança a uma ama seria sujeital-a a ser infeccionada pela creança; portanto deve-mos procurar amamental-a por um animal como por exemplo a cabra, porque nos seria fácil

mi-nistrar-lhe por intermédio d'ella os medicamentos mais indicados para o tratamento da syphilis.

Quando não seja possível este processo d'ali-mentação recorremos enlão ao alleitamenlo artifi-cial com o auxilio do biberão.

Se a mãe está syphilisada e o filho nasce com symptomas syphiliticus pôde amamental-o; porque d'esté modo podemos curar a mãe e o filho ministran-do-lhe os medicamentos necessários, como já dis-semos ; se o seu estado de saúde lhe não permitte o amamentar, então devemos seguir o mesmo pro-cesso que acima indicamos.

São ainda contra-indicações para o alleitamen-to materno a pequenez do mamillo, fendas, ex-coriações, scirrhos ou cancros do peito, abcessos, etc., e por vezes a falta completa do leite ou a quantidade insufficiente.

Referir-nos-hemos á pequenez do mamillo e á falta do leite.

A pequenez do mamillo observa-se frequentes vezes nas primiperas, ou porque os peitos são

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muito volumosos e o mamillo fica muito retrahido ou por efïeitos de compressão exercida pelo espar-tilho, e n'este caso é preciso remediar este incon-veniente com antecipação para que a creança pos-sa exercer a sucção.

Já nos últimos mezes da gravidez a mulher pôde procurar dar uma certa conformação ao ma-millo com o auxilio dos dedos ou com umas ven-tosas especiaes como o tire-mamelon de Malhieu e em ultimo caso a sucção exercida por uma ou-tra pessoa até tornar o mamillo mais saliente, ou então a applicação d'um mamillo de cautchouc.

Desde os primeiros mezes da gravidez, e algu-mas vezes só nos últimos, as glândulas mamarias da mulher tornam-se túrgidas e a séde d'uma flu-xão, que persiste durante o período da gestação até que se produz a secreção d'um liquido quasi la-ctescente, que depois do parto se torna seroso e gosando de propriedades laxativas; liquido este que tem a propriedade de desembaraçar do meco-nio os intestinos do recem-nascido e a que se dá o nome de colostro.

Passados alguns dias torna-se mais espesso e nutritivo adquirindo todos os caracteres e proprie-dades do leite, variantes estas que se vão produ-zindo á medida das necessidades da creança acom-panhando o desenvolvimento e transformação na-tural dos seus órgãos.

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não se réalisa ou a sua quantidade é insùfficiente, e n'este caso é conveniente recorrer a um certo numero de processos, que a maior parte das vezes dão bons resultados.

O mais racional e geralmente seguido é provo-car a excitação da mama pela sucção prolongada do mamillo, e podemos conseguil-o com o auxilio d'outra creança, quando o recem-nascklo o não pos-sa fazer, e nunca depos-sanimemos quando as primei-ras tentativas sejam infructifeprimei-ras porque com al-guma insistência conseguimos muitas vezes por este meio provocar a secreção do leite. Algumas vezes se tem. recorrido a diversos tópicos para pro-vocar a secreção láctea como são: cataplasmas, so-bre os peitos, das folhas de palma-Christi, pimpi-nella, etc., e por vezes com vantagem.

Alguns auctores como Auberí, Alfred Becque-rel, Foumier e outros citam casos em que obti-veram uma secreção abundante de leite com a ap-plicação da electricidade, porém, o primeiro pro-cesso que apontamos é certamente o mais fácil e aquelle que a maior parte das vezes dá resultado. Da natureza e quantidade do leite depende cer-tamente a boa ou má nutrição da creança.

Quando estudarmos a amamentação pela ama teremos occasião de fazer algumas considerações sobre o modo de reconhecer a natureza do leite.

Já durante a gravidez nós podemos encontrar na mulher um certo numero de signaes, que pelo

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seu conjuncto nos podem garantir, com mais ou menos certesa, a quantidade e natureza do futuro leite.

Segundo Donné, Tournier e outros a mulher deve apresentar as glândulas mamarias sufficien-temente desenvolvidas e os mamillos salientes.

Pelos caracteres e quantidade do colostro nós podemos julgar o que será a secreção do leite nas suas qualidades essenciaes e na sua abundância, salvo o apparecimento de certas doenças consecu-tivas ao parto, que alteram todas as funcções e particularmente a da secreção láctea.

O estado habitual da menstruação antes da gravidez também nos pôde fornecer algumas pro-babilidades sobre a futura lactação. Quando o íluxo menstrual é pouco abundante e não apparece com regularidade ordinariamente a quantidade do leite é no geral pequena.

Não devemos confiar demasiadamente n'estes signaes e o nosso prognostico deve ser reservado, porisso que muitas vezes acontece diminuir ou che-gar mesmo a desapparecer a secreção do colostro nos últimos mezes da gravidez e comtudo o leite apparece depois em quantidade sufficiente e com todos os caracteres necessários para que a mulher possa amamentar convenientemente.

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Regimen hygienico durante

o alleitamento

A mãe.—A mulher que amamenta necessita de toda a tranquillidade d'alma esocego d'espirito em virtude da influencia que a actividade moral exerce sobre a secreção do leite ; segundo Cooper toda a anciedade d'espirito, qualquer noticia desagradável, um accesso de cólera, etc., pôde diminuir a secre-ção do leite e até alterar-lhe as suas propriedades.

D'ArJenne cita o facto d'uma creança que, sen-do amamentada pela mãe, pouco depois d'esta ter experimentado um violento medo, morreu alguns instantes depois no meio de fortes convulsões.

Merlicor observou ataques epileptiformes n'uma creança, cuja mãe tinha experimentado grandes af-flições, e reconheceu por meio d'analyses que o leite d'esta se tinha tornado extremamente acido.

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Vcrnois e Becquerel, tendo analysado o leite d'uma mulher e sendo ella pouco depois acomet-tida d'uma forte commoção reconheceram n'uma segunda analyse, que elle continha mais agua e matérias albuminóides tendo diminuído considera-velmente a quantidade d'assucar, saes e sobretudo de manteiga, que estava reduzida quasi a \ das suas proporções normaes.

É conveniente que a mulher dê passeios mode-rados e pretira os alimentos de mais fácil digestão para que a sua nutrição seja activa e reparadora. O seu regimen alimentar não deve ser exclusi-vamente animal ou vegetal, dando sempre prefe-rencia áquelles alimentos que constituíam a sua alimentação habitual.

As bebidas alcoólicas e outras excitantes como chá ou café devem ser usadas com moderação porque do seu abuso podem resultar graves incon-venientes tanto para a saúde da mãe como para a do filho.

Os peitos devem merecer-lhe cuidados particu-lares ; logo que a creança acabe de mamar é con-veniente lavar os mamillos com agua tépida para evitar que alguma quantidade de leite alli possa ficar depositada; porque da sua fermentação pôde resultar a producção d'uma espécie de cogumellos que passam facilmente para a mucosa boccal da creança.

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de qualquer espécie d'attrito ou compressões exa­ geradas; porque d'aqui podem resultar engorgita­ mentos ou abcessos da glândula e fendas ou ex­ coriações do mamillo, etc.

As relações conjugaes devem ser raras, porque ainda mesmo que não sejam seguidas de prenhez, pôde da sua frequência resultar graves inconve­ nientes para a secreção láctea.

■ Ainda debaixo do ponto de vista therapeutico é digna d'attender­se a hygiene do alleitamento, por isso que existe um certo numero de medicamen­ tos, como são o sulphato de magnesia e de soda, saes de ferro e chumbo, iodeto de potássio, etc., que são eliminados pelo leite; porém ao medico compete dirigir o tratamento tanto em relação á mãe como ao filho.

O filho. —A natureza sempre previdente des­ tinou o leito para o primeiro alimento do recem­ nascido ; com effeito é este o único que lhe con­ vém attendendo ás condições de pouca resistência e funcionalismo, que nos offerecem os seus órgãos digestivos anatómica e physiologicamente conside­ rados.

Salvos casos excepcíonaes só passados os oito ou nove primeiros mezes é que o estômago da creança está apto para poder supportar uma ali­

mentação mixta.

A ausência dos dentes é uma prova evidente de que o recem­nascido deve beber e não comer.

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Posto isto vejamos quando hade a -creança ma-mar pela primeira vez.

E prática geralmente seguida dar agua assu-carada á creança durante as primeiras vinte e qua-tro horas depois do nascimento, sem que nada pos-sa justificar a crença vulgar de que a creança não deve mamar na mãe sem que se desenvolva n'esta a febre do leite. Ë este um preconceito que só pôde acarretar prejuízos tanto para a mãe como para o filho.

Logo que a creança desperta do primeiro so-mno consecutivamente ao banho, já nos revela a sensação da fome, quer pelos vagidos, quer pelos movimentos de sucção, que executa com os lábios, e quando a mãe não tenha ainda restaurado as fa-digas do parto, o que ordinariamente só acontece passadas cinco a seis horas, podemos, é certo, mi-nistrar á creança algumas colheres d'agua assu-carada com algumas gottas de leite de vacca ou melhor ainda de jumenta, até que a mãe se encon-tre em condições de poder amamental-a. Quando mesmo'o leite não tenha apparecido, a propria suc-ção da creança provoca um afíluxo de sangue ás glândulas mamarias, qua as predispõe para a se-creção do leite e concebe-se perfeitamente que uma creança estando vinte e quatro ou mais horas sem ser alimentada,"deve soffrer uma diminuição no seu peso inicial, que só tarde pôde recupar. Além d'isto o primeiro leite da mãe tem propriedades

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purgati-vas que provocara a sahida do meconio que existe no canal intestinal do recém nascido e quando a se-creção do leite seja muito tardia então é mais con-veniente entregar a creança a uma ama do que su-jeital-a a um alleitamento artificial.

Durante os primeiros quinze dias, a creança deve mamar de duas em duas horas pelo menos e de três em três o máximo.

Passado o decimo quinto dia, já a creança ma-nifesta mais claramente que tem fome, e a partir do segundo mez adormece geralmente quando está satisfeita e desperta quando quer mamar, o que não quer dizer que se lhe deva dar de mamar to-das as vezes que despertar.

Á medida que ella vae crescendo, é conveniente ir distanciando os intervallos das horas de mamar; porque a creança, mamando cada vez, mais carece também de maior espaço de tempo para que a di-gestão do leite se faça d'um modo regular e com-pleto.

De noute basta que mame quando muito duas vezes, porisso que a mãe carece pelo menos de cinco a seis horas de descanço contínuo para se refazer das muitas fadigas, que a creação do filho lhe acarreta quando não accresce ainda o cumpri-mento das suas obrigações diárias.

A regularidade nos intervallos do alleitamento, é um preceito hygienico, que muito contribue para o desenvolvimento da creança tendo mesmo uma

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determinada influencia sobre a sua educação phy-sica e moral, que por vezes é compromettida quan-do a mãe não faça da sua parte um esforço su-premo para deixar de amamentar o filho, sempre que elle chore.

É da observação de nós todos, o modo como a mãe se apressa em offerecer o peito ao filho sem-pre que elle chora,julgando que por este meio lhe minora todos os soffrimentos, quando mesmo es-teja convencida de que elle não possa ter fome porque mamou ha pouco tempo.

Esta pratica seguida pela maior parte das mães, quando não compromette a saúde dos filhos, col-loca-os no mau habito de se servirem mais tarde d'aquelle meio, para que lhe satisfaçam todos os seus caprichos e impertinências.

É preciso que a mãe se habitue a soffrer sem emoção os choros do filho.

Quando uma creanca chora, podemos affirmar, que ella tem uma necessidade, uma verdadeira dôr ou emfim um mal estar, mas è preciso que a mãe se revista d'um certo animo e sangue frio para poder procurar a causa dos choros; porque elles nem sempre são indicio de fome.

Se a creança está habituada a mamar a umas determinadas horas e o leite não é de má quali-dade ou em quantiquali-dade insulTiciente, deve a mãe verificar se as roupas ou a cama a podem magoar,

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se é falta de sorano ou a temperatura do ambiente, etc., que lhe provocam o choro.

Em geral, as creancas choram pouco nos três primeiros mezes, que se seguem ao nascimento quando sejam convenientemente cuidadas e não ti-verem doença, mas choram ordinariamente mais proximo do quarto mez quando começa o trabalho da dentição.

Muitas vezes o mudar a creança de posição é bastante para a calar, collocando-a do lado es-querdo ou de costas se estiver deitada do lado di-reito e reciprocamente.

Tem-se tentado deduzir do rythma, do timbre e da duração do choro, o caracter das doenças, que o provocam, mas exceptuando as doenças das vias aéreas, o crup ou o edema da glote, que dão ao choro ou grito uma forma especial, parece-me im-possível dar a este uma significação symptomatica.

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IV

Amamentação pela ama

Quando a mãe não possa amamentar, por qual-quer das circumstancias, que já apontamos no ca-pitulo precedente, e outras que ainda podem appa-recer, a alimentação do filho tem de ser confiada a uma pessoa estranha, a que se dá o nome d'ama; e triste é confe.ssal-o, tão pouca importância se liga a este facto, que a maior parte das vezes é uma parteira a encarregada da escolha da ama, quando a mãe se não limita a acceitar a primeira que lhe appareça — a questão é ter abundância de leite e ser fiel.

É nossa convicção que o abatimento physico e moral, que se revela claramente na nossa sociedade, está filiado em grande parte no pouco escrúpulo

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com que confiamos a uma pessoa estranha a ali-mentação e educação dos nossos filhos.

Desgraçadamente o nosso meio social tem-nos creado um certo numero de necessidades e d'ha-bitos, que uma mulher d'uma certa gerarchia e meios de fortuna difficilmmte se resigna a renun-cial-os para se entregar á creação dos filhos.

Como assim seja, nós quereríamos ao menos, que os poderes dirigentes atlendessem a esta parte da hygiene publica, cuja importância devia ser re-gulada pelos preceitos da sciencia, como acontece em França, onde a escolha das amas de leite con-stitue um ramo d'adminislraçào publica.

A mortalidade sempre crescente das creanças nas primeiras idades, é um facto que reclama a in-tervenção urgente aos poderes públicos.

Infelizmente a existência das amas de leite já constitue, entre nós, uma necessidade, e os esta-belecimentos de caridade, que temos para abrigo da infância desvalida, como são os hospícios e as creches tornar-se-hão um sorvedouro de vidas, se não houver uma rigorosa vigilância na admissão do seu pessoal, para que possam ser observados um certo numero de preceitos hygienicos, que a sciencia aconselha, já que nas condições actuaes da nossa sociedade não pôde a caridade publica deixar de supprir a falta dos soccorros particulares.

Se ha necessidade d'ouvir sempre a opinião do medico para decidir da possibilidade do

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alleitamen-69

to materno, também só ao medico compete o de-cidir da escolha d'uma ama; porque só elle se acha convenientemente habilitado para avaliar bem todas as condições e requisitos indispensáveis a uma mulher, que se destina a amamentar.

Não é indifférente que se entregue o infante a qualquer mulher, que se proponha a crial-o ; pelo contrario, é do mais alio interesse e utilidade a sua minuciosa escolha e o papel do medico n'este caso é muito difficil e melindroso.

Escolher uma ama é garantir á família, que a procura a sua boa constituição e a sua saúde e conseguintemente a sua felicidade; porisso o me-dico não deve esquecer as mais minuciosas inves-tigações; porque nem sempre deixa de ser illudido pela ama, que escolhe, a quem importa menos a saúde e a vida da creança que a futura remunera-ção do seu trabalho.

É uni dos actos mais difficeis da prática me-dica, e se é possível prevenir até um certo limite não só a quantidade e natureza do leite como a existência de certas doenças, que a ama poderia transmittir á creança, não acontece o mesmo com relação a costumes, porque não pôde o medico determinal-os n'uma pessoa que vê pela primeira vez e que é possível não torne mais a ver.

Não poderá a creança mamar com o leite, que lhe compraram, e não com o que a natureza lhe

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destinou, maus hábitos que a viciam, e que nunca mais poderá perder?

Se uma mãe comprehendesse e ponderasse bem o quanto tem de trabalhar, de cuidar, e de se mortificar quando dá o filho a crear a uma ama, não seria a vaidade e a ociosidade que a levaria a requisital-a tantas vezes.

Muitas mães não reconhecem ao menos a pos-sibilidade dos muitos perigos a que vão expor a saúde do filho com a escolha muito precipitada d'uma ama, e a maior parte ignora a sua gravi-dade, d'onde resulta muitas vezes a desgraça do individuo e certamente da família e da sociedade. Feitas estas considerações passemos ás condi-ções physicas e moraes a que deve satisfazer uma ama.

Comecemos pelo habito externo. Deve ser ro-busta, ter uma presença agradável e um lypo de boa saúde e de intelligente; os peitos salientes e bem conformados, especialmente no mamillo, por que da sua conformação depende muitas vezes um obstáculo ao alleitamento.

Devemos verificar se ella tem feridas, ulceras ou cicatrizes e especialmente na garganta, no pes-coço ou debaixo das axillas, ou manchas na pelle; porque tudo isto nos poderia revelar um vicio or-gânico ou uma infecção syphilitica, ou escrophu-losa que a faça reprovar.

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fiarmos demasiadamente nas informações que nos derem; porque é sabido o empenho com que ella procura muitas vezes occultar qualquer doença ou defeito orgânico.

Pelo que diz respeito á idade, é conveniente que a ama tenha de 20 a 30 annós, porque sendo mais nova é completamente inexperiente dos cuidados que é necessário dispensar a uma creança, e sendo mais velha é menos apta para criar, porisso que á medida que se vae approximando da idade cri-tica o leite será menos abundante e de peior qua-lidade.

Relativamente ao seu estado, devemos esperar d'uma mulher casada, melhores costumes que d'uma solteira e até mais critério para se cohibir de tudo aquillo que as creancas não devem apren-der.

Em igualdade de circumstancias, devemos pre-ferir sempre aquella que tenha vivido no campo, á que habita na cidade.

A sua constituição deve ser forte, ter um peito largo e bem desenvolvido, a respiração fácil, e não ser excessivamente gorda nem revelar extrema ma-greza.

Ao medico compete o verificar por todos os meios d'exploração, que tiver ao seu alcance, que não exista actualmente alguma affecpão aguda ou chronica, nem disposição para ella, muito

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princi-palmente pelo que diz respeito a certas diatheses como tuberculose, syphilis, etc.

Deve preferir-se ura temperamento modera-damente sanguíneo com quanto haja difficuldade em precisar bem, qual seja o mais adoptado; com-tudo, devemos excluir os excessivamente lympha-ticos ou nervosos.

Relativamente á idade do leite será mais con-veniente para a creança, aquelle, que menos se distancie da epocha do parto, para que elle conte-nha ainda algum colostro, cujas propriedades pur-gativas são úteis para a creança, pode aconselhar-se desde o aconselhar-segundo até ao aconselhar-sexto mez.

Ao exame da ama segue-se naturalmente o do leite.

Quando tratamos da amamentação materna dis-semos que nos havíamos de referir á composição e analyse do leite, e vamos fazei-o, muito resumi-damente, porisso que o caracter genérico, que ter-mos dado ao nosso trabalho nos não permitte en-trarem minuciosos detalhes sobre este ponto, que de per si só podia fazer objecto d'uma dissertação. O leite da mulher não diffère essencialmente do leite dos outros animaes, mas distingue se d'elle por alguns caracteres, que lhe são peculiares.

Como já dissemos, o leite é o alimento exclusi-vamente destinado á nutrição nas recentes idades ; tão previdente foi a natureza em reunir n'este

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quido todos os elementos necessários, que elle é considerado como typo dos alimentos perfeitos.

Com effeito, encontramos no leite os três ty-pos d'alimentos: matérias albuminóides ou protei-cas, hydrocarbonadas e saes mineraes, que pelas suas propriedades concorrem para a nutrição e au-gmenta dos tecidos, para as necessidades da res-piração e para a formação das partes duras.

Este alimento, sendo formado de substancias que facilmente se separam, sem que a sua natu-reza se altere, é imminentemente próprio para adaptar os órgãos digestivos da creança ás condi-ções múltiplas da vida extra-uterina.

Vamos referir-nos ás suas propriedades physi-cas e chimiphysi-cas, e depois occupar-nos-hemos dos diversos ensaios e analyses, que podem auxiliar-nos na apreciação das suas qualidades nutritivas.

É este o único meio de podermos reconhecer se elle estará ou não, nas condições de poder servir para a alimentação da creança, e nem sempre o mais rigoroso exame nos offerece uma garantia se-gura, tantas e tão variadas são as circumstancias, que podem alterar a sua composição, tanto na pro-porção como nas propriedades dos elementos que o constituem.

Nem sempre, ás suas propriedades physicas e chimicas correspondem os seus effeitos physiologi-cos, e nós vemo-nos por vezes extremamente

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em-baraçado, para decidir se um determinado leite po-derá ou não ser util á creanca.

Para umas será até prejudicial o leite, que phy-sica e chimicamente se approximar mais do typo normal, como para outras aquelle que mais se af-fastar d'esse typo.

O leite, seja qual fôr o animal de que proceder, contém sempre-manteiga, assucar de leite ou la-dina, uma substancia albuinoide o caseum, agua e saes, como o chloreto de sódio, phosphatos al-calinos e terrosos ; e gazes, como o oxigénio e acido carbónico.

Muitas outras substancias teem sido encontra-das, embora em fraca quantidade, como são : os ácidos láctico, butyrico e silicico, o fluor, a urca, a hematina e a cholesterina, e dois alcalóides a que Blyth chamou galactino e glactro-chomo no leite de vacca, e lecithina no da mulher.

Como nos estamos occupando das condições necessárias a uma ama, referir-nos-hemos agora especialmente ao leite de mulher, e quando tra-tarmos da amamentação artificial apresentaremos uma tabeliã comparativa relativamente aos elemen-tos constituintes do leite da mulher e dos outros animaes, para que possamos apreciar o valor nu-tritivo de cada um.

O primeiro leite da mulher consecutivo ao parto, a que se dá o nome de colostro, diffère pelos seus

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caracteres e pelas suas propriedades do leite pro-priamente dito.

É um liquido viscoso, amarello, de sabor nau-seabundo e alcalino tendo propriedades purgativas e contendo menos agua e mais matérias solidas que o verdadeiro leite.

Deixado em repouso separa-se em duas par-tes, uma serosa e outra viscosa, que forma á su-perfície um creme amarello e espesso em maior quantidade que no leite propriamente dicto.

Tractado pelo ammoniaco transforma-se n'uma polpa viscosa, em quanto que o leite fica comple-tamente límpido.

Se o examinarmos ao microscópio reconhece-mos a presença de muitos glóbulos de gordura na-dando no liquido com o volume de Yioo a h/m de

millimetre

Este liquido vae passando por variantes nas proporções dos seus elementos, acompanhando passo a passo as necessidades da creança e o desen-volvimento e transformação natural dos seus órgãos.

Ás suas propriedades purgativas se attribue a evacuação d'um liquido verde, que existe no intes-tino do recem-nascido, chamado mecânico, com-posto de mucus intestinal e d'uma materia biliar, que apresenta as mesmas propriedades e reecções chimicas da bile.

Passados alguns dias depois do parto é que o colostro vae adquirindo as propriedades

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