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Amamentação artificial O processo d'alimentar as creanças com outro

leite, que não seja o de mulher, é sem duvida d'uma inferioridade manifesta, e o seu empreg ) exclusivo deveria ser proscripto em absoluto, salvo casos ex- cepcionaes, em cpie a creança é portadora d'algu- ma deformidade, congenita ou temporária, que a impossibilite de poder exercer a sucção.

A mãe que não pôde amamentar a creança, ou não tem leite em quantidade sufficiente, recorre or- dinariamente a este meio quando lhe faltam os re- cursos necessários para pagar a uma ama, e infe- lizmente é nas grandes cidades, que este processo d'alimentar creanças é mais usado.

A multiplicidade de doenças a que se expõe a creança, e de que é victima a maior parte das ve- zes," é um facto que nos é revelado pelas estatisti-

cas da mortalidade das creanças, que se eleva a 80 % quando amamentada, por este processo, ao passo que se reduz a 35 % quando alimentada naturalmente.

E' evidente que vamos ministrar á creança um leite cujas qualidades não são proprias aos seus órgãos digestivos, e cuja temperatura não podemos conservar constante.

Quando este processo d'alleitamento tem de ser adoptado, pela força da necessidade, deve ser con- venientemente dirigido e quanto possa ser combi- nado com o alleitamento da mulher constituindo assim uma alimentação mixta.

Em certos casos o processo, que parecia mais racionalmente indicado, seria a latação animal e entre as classes pobres temos visto substituir a ama por uma cabra, por ser este o animal, que melhor condições offerece não só pela confirmação e posição de tetas como pela abundância do leite. Com quanto a cadella podesse substituil-a com vantagem é certo que já em epocha, muito remota, se escolhia a cabra para amamentar as creanças, e é do conhecimento de nós todos, que ella chega mesmo a affeiçoar-se-lhe, correndo a amamentar a creança quando lhe ouve os vagidos e procuran- do ageitar-se com todo o cuidado para que ella possa exercer melhor a sucção.

Este processo d'amamentaçao tem comludo bas- tantes inconvenientes; não só (loa bastante caro,

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especialmente nas cidades, como a experiência e a razão nos está indicando, que uma creança não pôde sem perigo, e especialmente nas primeiras semanas da vida, mamar um leite mais rico em matérias gordas e mais nutritivo que o de mulher. Mas voltemos ao alleitamento artificial, que é o processo mais económico, e porisso mesmo o mais usado.

O leite de vacca, pelo seu baixo preço, e por ser de fácil acquisição, é o que geralmente se em- prega para alimentar a creança, sem comtudo ser aquelle que pela sua composiço mais se aproxima do de mulher.

Se percorrermos as diversas analyses que se teem feito, como as de Lehman, líegnaull, Be- cquerel, Bouchardat emuitos outros, encontramos differenças mais ou menos consideráveis nos resul- tados obtidos.

A tabeliã comparativa de Doyere dá-nos uma idéa approximadadas differenças que existem entre a composição do leite de mulher e o de vários ani- inaes, como a vacca, burra e cabra.

Mulher Vacca Burra Cabra 87,38 87,60 89,63 87,30 3,80 3,20 1,50 4,40 0,34 3,00 0,60 3,50 1,30 1,20 1,55 1,35 7,00 4,30 6,40 3,10 0,18 0,70 0,32 0,35 Agua . Manteiga Caseína Albumina Lactose Saes .

Por aqui se vê a superioridade relativa do leite de mulher, considerando o fun a que é destinado; porisso que contém maior quantidade de manteiga e assucar; segue-se lhe o de burra, como porém é difíicil obtel o, raras vezes servirá para a alimen- tação da creança.

O leite de vacca e o de cabra, são certamente mais ricos que o da mulher, especialmente na ca- seína, que é a parle mais nutritiva d'esté liquido; esta riqueza, porém, é imprópria para um orga- nismo tão fraco, como o da creança, e dá oecasião a um certo numero d'accidentés, que iremos apon- tando no decorrer d'esté capitulo.

Além d'isso, o leite de vacca é quasi sempre acido, o que é uma condição desfavorável para a digestão, emquanto que o de mulher é sempre al- calino.

Comquanto não seja possível tornar o leite de vacca chimicamente egual ao da mulher, de modo a fazer desapparecer as differenças, que existem nos seus effeitos physiologicos, podemos comtudo, até uma certa medida, tornai-o de mais fácil di- gestão, e por isso mais em harmonia com as ne- cessidades nutritivas da creança, nas suas diversas idades.

Para isso deve misturar-se com agua de ceva- da, d'aveia, d'arroz, ou, o que é melhor, com agua simples.

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natural do assucar, deve juntar-se-Ihe uma peque- na porção d'elle, preferindo-se o de leite, que hoje se encontra no commercio por um preço módico. A proporção do liquido, que se mistura, varia á medida que a creança vai crescendo em idade.

Nos três primeiros mezes misture-se o leite com duas terças partes d'agua, diminuindo gra- dualmente esta quantidade de modo que a creança mame leite puro quando se approxime da epocha do desmame.

O leite deve ser ministrado o mais fresco pos- sível, e melhor fora dal-o á creança na propria oc- casião em que é ordenhado, pela facilidade com que pôde alterar-se.

Quando se não possa renovar o leite mais que uma vez por dia, recommenda Trousseau que se dissolvam cinco decigrammas de bicarbonato de soda em cada litro de leite, e outros uma pequena quantidade de borax e agua de cal para obstar á sua coagulação e acidificação, que tantas vezes dá origem á diarrhea, que por vezes ataca as creanças sujeitas a esta espécie d'alleitamento.

Um meio simples e económico para evitar, até um certo ponto, este inconveniente é levar o leite á ebullição; porém nem todos os auctores são con- cordes n'este ponto.

Uns não querem que se ferva o leite; porque a ebullição far-lhe-hia perder a sua homogeneidade, e alterar mesmo a proporção d'alguns dos seus

elementos constituintes, o que os tornaria de mais difficil digestão, e portanto o seu uso perigoso para a saúde da creança.

Julgam desnecessário aquecel-o de verão, e d'inverno recommendam que se aqueça apenas a agua que se mistura, e quando seja leite puro aquecel-o a banho maria.

Outros são d'opiniào que se deve ferver o leite; porque só d'esté modo podemos destruir todos os germens maléficos que elle contenha e bem assim todas as substancias, que possam servir de fermento o que provoca mais facilmente as diversas altera- ções porque pôde passar este liquido.

Para evitar a possibilidade de que qualquer doença, de que esteja affectada a vacca, se possa transmittir á creança, e acompanhando a opinião da maior parte dós auctores, é nossa convicção que o leito fervido põe a creança ao abrigo d'um certo numero de doenças, e especialmente a tuberculose, e não se altera com tanta facilidade.

Não é raro que a vacca esteja affectada d'aphtas, carbúnculo ou tuberculose e também se compre- hende facilmente, que na occasião d'uma epidemia possa a creança ser affectada por intermédio da agua, que se addiciona ao leite, de qualquer doen- ça infecciosa como por exemplo a febre typhoide.

Quando seja possível ter uma vacca em casa para fornecer o leite podemos d'algum modo mo-

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dificar as propriedades nutritivas d'esté liquido re- gulando a sua alimentação.

A experiência tem mostrado que as cenouras tem a propriedade de tornar o leite mais leve, e porisso de mais fácil digestão, e a beterraba mui

forte e substancial.

D'esté modo podemos addiccionar-lhe ás forra- gens qualquer d'estes productos, conseguindo mo- dificar as propriedades nutritivas do leite, de for- ma a adoptal-as convenientemente á idade da creança.

A quantidade do leite a ministrar à creança pôde ser nas mesmas proporções que o leite de mulher, quando misturado com agua e em menor porção quando seja puro.

Moissenet e Tarnier fixam a quantidade de leite, por dia, em 300 grammas durante o primeiro mez, 600 desde o segundo ao quinto e 800 no sexto, augmentando-se depois a quantidade diária de 100 a 200 grammas.

Segundo Ufflemann pôde dar-se leite puro á creança, logo que ella tenha nove mezes; mas al- gum tempo antes é necessário ir diminuindo a quantidade da agua, que se addicciona, de modo que se vá procedendo por transições graduaes e successivas.

E' conveniente não ministrar o leite á creança sem o aquecer, especialmente d'inverno; nos pri- meiros tempos do alleitamento deve ter uma tem-

peratura de 25 a 26° centígrados diminuindo-se depois até 15 ou 20°.

O leite pôde dar-se á creança por uma colher ou por um copo, porém o processo mais geral- mente seguido, e o mais indicado, é o do biberão, uma espécie de garrafa, munida de um mamillo, ordinariamente de cautchouo, por onde a crean- ça exerce a sucção, o que tem a vantagem de lhe desenvolver os músculos boccaes e respiratórios. Antigamente fazia-se uso d'urn frasco de vidro munido d'um gargalo, onde se collocava uma es- ponja ou algodão em rama, coberto por uma pel- lica cheia de buracos, por onde a creanca extrahia o leite.

Hoje ha uma variedade considerável de bibe- rões, porém o mais usado é o biberão inglez, que pela sua simplicidade e por haver maior facilidade em se lavar de todas as vezes, é o mais usado.

O vidro deve ser bem transparente para se re- conhecer o seu estado de limpeza.

Para os lavar devemos servir-nos d'agua quente, areia, ou sal de cosinha, e nunca com chumbo como muitas mães costumam fazer ; quando isto não baste junto-se á agua uma pequena porção de carbonato de soda com o fim de saponificar a manteiga e neutralisar o acido láctico, de que se deixam impregnar os biberões quando não sejam lavados todas as vezes que tenha de servir.

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zes, porque geralmente amollece rapidamente e quando não seja convenientemente limpo pôde ser

a séde d'um sem numero de sporos do Odium al- bicans, o que pôde produzir uma estomatite á creança.

Muitos outros cogumellos e micro-organismos se podem formar á custa do leite alterado ; porisso quando se tenha de recorrer a este processo d'al- leitamento deve haver o mais rigoroso escrúpulo na observação dos preceitos e regras, que temos indicado.

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