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ACÇÃO CONTRA TERCEIRO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 7168/03.2TJPRT.P1 Relator: CARLOS GIL

Sessão: 14 Janeiro 2013

Número: RP201301147168/03.2TJPRT.P1 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: REVOGADA A DECISÃO

OBRIGAÇÕES CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE TERCEIRO

ACÇÃO CONTRA TERCEIRO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA

Sumário

Não sendo conhecido do credor o erro do terceiro que se apresta a cumprir a obrigação alheia, na convicção errónea de estar obrigado para com o devedor a cumpri-la, fica este forçado a agir contra quem viu satisfeito o crédito com base no seu enriquecimento sem causa.

Texto Integral

Acordam, em audiência, os juízes abaixo-assinados da quinta secção cível do Tribunal da Relação do Porto:

1. Relatório

A 27 de Fevereiro de 2003, nos Juízos Cíveis da Comarca do Porto, o B…, SA instaurou acção declarativa sob forma sumária contra C… e D… pedindo a condenação dos réus à restituição da quantia de € 13.451,12, sendo € 10.225,36 de capital e € 3.225.,76 de juros de mora vencidos à data da

propositura da acção, a que acrescem juros vincendos, contados à taxa anual de 7 % sobre o montante do capital em dívida, até efectivo e integral

pagamento.

Para fundamentar a sua pretensão o autor alegou, em síntese, que em cumprimento de ordem de penhora proferida no processo de execução por alimentos que sob o nº 64-A/1995 correu termos no 2º Juízo do Tribunal Judicial de Chaves, instaurado pela mãe dos aqui réus em representação destes, então menores, contra E…, pai dos mesmos, com relação aos saldos

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das contas de que este último ali fosse titular, o “F…, S.A. (entretanto

incorporado, em 23 de Junho de 2000, por fusão, com transferência de todo o seu património, direitos e obrigações, pelo “B…, S.A.”) procedeu em 27 de Novembro de 1998 ao depósito, à ordem do referenciado processo, da quantia em escudos equivalente a € 10.225,36, da conta nº …/…….... Não se

apercebeu então a instituição bancária em causa de que esta referenciada conta não pertencia ao executado naqueles autos, mas sim a um outro cliente seu, com o mesmo nome do executado e, tal como este, natural de …,

Montalegre e emigrante nos Estados Unidos da América. Assim que deu conta do erro em que incorrera, e perante a recusa da representante dos exequentes na mencionada execução em proceder à devolução da quantia indevidamente penhorada e que lhe foi entregue, em 24 de Maio de 2002 creditou a dita conta nº 015/21298.203.4 pelo valor por que indevidamente havia sido

debitada, acrescida dos correspondentes juros entretanto vencidos, quantias de que, apesar de aos réus não assistir razão para reter, continua

desembolsada na presente data.

Efectuada a citação dos réus, ambos vieram contestar alegando que a partir do momento em que foi penhorado o saldo bancário referido pelo autor, a então representante dos réus, convencida de que tinha obtido satisfação integral da sua pretensão, não mais diligenciou pela procura de bens

penhoráveis do pai dos réus, que a penhora foi efectivada por força de uma actuação descuidada dos serviços do autor, assistindo por isso aos réus o

direito a reterem o montante que receberam do autor, além de que o montante recebido foi utilizado na satisfação das necessidades do agregado familiar então constituídos pelos réus e pela mãe de ambos, pelo que não foram os réus os únicos a beneficiar da prestação efectuada pelo autor.

Foi comprovada a concessão de apoio judiciário aos réus na modalidade de dispensa total do pagamento de taxa de justiça e demais encargos com o processo, bem como o pagamento de honorários a patrono escolhido.

O autor respondeu à contestação.

Realizou-se uma infrutífera tentativa de conciliação a 02 de Novembro de 2004.

Proferiu-se despacho saneador tabelar e procedeu-se à condensação da

factualidade julgada relevante para a boa decisão da causa, discriminando-se os factos assentes dos controvertidos, estes últimos a integrar a base

instrutória.

As partes ofereceram as suas provas.

Realizou-se a audiência de discussão e julgamento, respondendo-se seguidamente à matéria constante da base instrutória.

Proferiu-se sentença que julgou a acção parcialmente procedente, sendo os

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réus condenados a pagar ao autor a quantia de € 9.849,46, acrescida de juros de mora vencidos e vincendos calculados à taxa anual legal prevista para os juros civis desde 06 de Março de 2000 e até efectivo e integral pagamento.

Inconformados com a decisão final, os réus dela interpuseram recurso que foi admitido como de apelação e com efeito meramente devolutivo.

Os réus ofereceram as suas alegações de recurso, terminando-as com as seguintes conclusões:

“A- A mãe dos RR/recorrentes executou uma sentença que condenava o seu exmarido, E… a pagar os alimentos que eram devidos áqueles.

B- Segundo informação do próprio banco/A, havia uma conta e por via disso, foi-lhe então solicitada a apreensão dos depósitos bancários de quaisquer contas que o pai dos RR aí detivesse, por ordem do Tribunal Judicial de Chaves.

C- Nessa altura, em 1998, havia outra conta do pai dos RR, no “G…, S.A.” – III Motivação, A) Factualidade provada, t) (in sentença recorrida).

D- A mãe dos RR optou por uma delas, nesta caso, a do aqui banco/A.

E- Após várias notificações recebidas do Tribunal de Chaves, que permitiam ao banco/A ser confrontado com a identidade do pai dos menores, só passados meses e após apurar se efetivamente teria havido lapso é que informou que houve erro de identificação e pretendia reaver o valor indevidamente posto à disposição do Tribunal, o que foi por este indeferido.

F- Teve o banco/A ensejo de verificar a identidade do seu depositante, atempadamente.

G- Nada disse ou fez, donde se possa inferir que nesse largo período de tempo pudesse vir remediar o mal que tinha feito.

H- Só por falta de cuidado no tratamento dos elementos identificadores fornecidos, é que os serviços do A penhoraram a conta de outra pessoa, pelo que o erro cometido é indesculpável, como ressalta do art.º 477º CC.

I- E por esta atuação culposa só o A é responsável.

J- Essa atuação culposa gerou um prejuízo equivalente à quantia exequenda e respetivos juros, tudo em conformidade, entre outros, com o disposto nos art.ºs 477º e 483º do CC.

K- Assistindo por ia disso o direito de retenção da quantia entregue aos RR.”

Não foram oferecidas contra-alegações.

Colhidos os vistos legais e nada obstando ao conhecimento do objecto do recurso, cumpre apreciar e decidir.

2. Questões a decidir tendo em conta o objecto do recurso delimitado pelos recorrentes nas conclusões das suas alegações (artigos 684º, nº 3 e 690º nºs 1 e 4, ambos do Código de Processo Civil, na redacção

aplicável a estes autos), por ordem lógica e sem prejuízo da apreciação

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de questões de conhecimento oficioso, observado que seja, quando necessário, o disposto no artigo 3º, nº 3, do Código de Processo Civil 2.1 Da desculpabilidade do erro do autor na entrega do saldo de uma conta bancária penhorada da titularidade de pessoa homónima mas diversa daquela que era devedora dos réus.

3. Fundamentos de facto exarados na decisão recorrida que não foram impugnados pela recorrente, não se verificando qualquer caso em que seja legalmente admissível a alteração oficiosa da decisão da matéria de facto

3.1

Em Junho de 2006, o F…, S.A. fundiu-se, por incorporação, com transferência total do respectivo património, direitos e obrigações, no “B…, S.A.” (facto aditado nos termos do artigo 659º, nº 3, do Código de Processo Civil, por se mostrar plenamente provado por documento junto a fls. 153 e 154).

3.2

Em Janeiro de 1998 o “F…, S.A.” recebeu, na sua agência de …, uma

notificação do 2º Juízo do Tribunal Judicial de Chaves relativa ao processo de execução especial por alimentos, do seguinte teor: “(…) Solicito a Vª. Exª.

para proceder à apreensão dos depósitos bancários de quaisquer contas que o executado E…, divorciado, residente em parte incerta dos EUA e com último domicílio conhecido em Portugal na …, .., nesta cidade, detenha nesse Banco, até ao montante de 2.050.000$00, calculados como suficientes para

pagamento da quantia exequenda e custas, em dívida nos autos à margem indicados, em que é Exequente H…, divorciada, residente na …, …, Bloco ., …, nesta cidade, ficando aquele crédito penhorado e à ordem deste Juízo,

Tribunal e Processo, acima mencionados. (…)” (facto aditado nos termos do artigo 659º, nº 3, do Código de Processo Civil, por se mostrar plenamente provado por documento junto a fls. 158).

3.3

Nessa altura no Banco em questão, em Janeiro de 1998[1], existia uma conta bancária com o nº …/…..., domiciliada na sua agência de …, e cujo titular era E…, emigrante nos Estados Unidos (alínea A dos factos assentes).

3.4

O titular dessa conta bancária era natural de …, Montalegre, era titular do B.I.

nº ……., contribuinte fiscal nº ……… e nasceu em 10 de Setembro de 1952 (alínea B dos factos assentes).

3.5

Naquela conta existia um saldo positivo de 3.785.481$50, correspondente ao depósito a prazo nº …….. (alínea C dos factos assentes).

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3.6

A agência bancária em causa procedeu então à penhora, à ordem dos referenciados Tribunal e Processo, de 2.050.000$00 do saldo da referida conta, do que tudo deu conta nos respectivos autos (facto aditado nos termos do artigo 659º, nº 3, do Código de Processo Civil, por se mostrar plenamente provado por documento junto a fls. 159, 160 e 164).

3.7

Em 27 de Novembro de 1998, notificado pelo tribunal para o efeito, o “F…, S.A.”, através de guia de depósito obrigatório, depositou, na I…, a quantia de 2.050.000$00 (equivalente a € 10.225,36) assim penhorada (facto aditado nos termos do artigo 659º, nº 3, do C.P.C., por se mostrar plenamente provado por documento junto a fls. 164).

3.8

Em Maio de 1999, o Banco A. recebeu uma reclamação da parte do titular da dita conta nº …/…..., alegando ser alheio ao processo judicial à ordem do qual o Banco A. lhe efectuou a penhora (alínea D dos factos assentes).

3.9

Face a tal reclamação, o Banco levou a cabo diligências junto da exequente no dito processo nº 64-A/95, do 2º Juízo do Tribunal Judicial de Chaves, H…, com vista a apurar se efectivamente teria havido lapso (facto aditado nos termos do artigo 659º, nº 3, do Código de Processo Civil, por se mostrar plenamente provado por documento junto a fls. 167).

3.10

Daquelas diligências resultou que, de facto, o cliente do Banco, titular da conta nº …/…... e o executado no referido processo, eram (e são) pessoas diferentes; com efeito, apesar de terem ambos o mesmo nome, serem ambos de …, Montalegre, e estarem emigrados nos Estados Unidos, o executado naquele processo, pai dos réus C… e D…, por contraposição ao titular da aludida conta, com os elementos de identificação mencionados nas alíneas A e B dos factos assentes), nasceu em 25 de Julho de 1954, é titular do B.I. nº …….

e contribuinte fiscal nº ……… (facto aditado nos termos do artigo 659º, nº 3, do Código de Processo Civil, por se mostrar plenamente provado por

documentos juntos de fls. 167 a 168, conjugados com as alíneas A, B e G dos factos assentes).

3.11

Em 11 de Junho de 1999 o “F…, S.A.” dirigiu ao processo de execução nº 64- A/95 do 2º Juízo do Tribunal Judicial de Chaves o requerimento que se mostra certificado a fls. 167, onde, além do mais que refere, solicita ao tribunal que

“(…) ordene à Exequente a restituição do valor que indevidamente o banco pôs à disposição do Tribunal, e dela, em última instância (…)”(facto aditado

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nos termos do artigo 659º, nº 3, do Código de Processo Civil, por se mostrar plenamente provado por documento junto a fls. 167).

3.12

Sob registo de 6 de Março de 2000 o Banco foi notificado da resposta da exequente (facto aditado nos termos do artigo 659º, nº 3, do Código de

Processo Civil, por se mostrar plenamente provado por documento junto a fls.

169).

3.13

E, posteriormente, foi também notificado do despacho proferido em tal

processo em 27 de Março de 2000 e certificado nos autos a fls. 170, a indeferir a sua pretensão de ver restituída a quantia penhorada e depositada (facto aditado nos termos do artigo 659º, nº 3, do Código de Processo Civil, por se mostrar plenamente provado por documento junto a fls. 170).

3.14

O Banco autor repôs, em 24 de Maio de 2002, na dita conta nº …/…..., a quantia de € 10.225,36, indevidamente debitada, acrescida de juros entretanto vencidos (alínea E dos factos assentes).

3.15

Até à data, tal quantia não foi restituída ao Banco autor (alínea F dos factos assentes).

3.15

A mãe dos réus recebeu, em representação destes, a quantia de € 10.225,36, provinda da referida conta bancária do autor com o nº …/…... (alínea H dos factos assentes).

3.16

O Banco autor contactou a mãe dos réus, solicitando-lhe a devolução da

quantia referida na alínea E dos factos assentes (alínea I dos factos assentes).

3.17

A apontada quantia foi utilizada na satisfação das necessidades alimentares comuns do agregado familiar dos réus (resposta ao artigo 1º da base

instrutória).

3.18

No momento em que a mãe dos réus recebeu tal quantia, o pai destes era titular de conta no “G…, S.A.” (resposta ao artigo 2º da base instrutória).

4. Fundamentos de direito

4.1 Da desculpabilidade do erro do autor na entrega do saldo de uma conta bancária penhorada da titularidade de pessoa homónima mas diversa daquela que era devedora dos réus

Os recorrentes pugnam pela revogação da sentença sob censura alegando que a entrega do capital que serviu para satisfação do crédito exequendo dos réus

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à custa do saldo de uma conta bancária de pessoa homónima do devedor dos réus, se deveu a erro indesculpável dos serviços do autor e que por força de tal erro os réus sofreram prejuízo em montante igual ao do crédito exequendo, já que, por causa disso, a representante dos réus optou por penhorar o saldo existente no banco autor e não o saldo de uma conta bancária do devedor existente no G…, SA.

Na decisão sob censura, não obstante esta questão ter sido logo suscitada em sede de contestação (vejam-se os artigos 1º a 13º da contestação), nada se discorreu sobre esta questão.

Cumpre apreciar e decidir.

Nos termos do disposto no artigo 477º, nº 1, do Código Civil, “Aquele que, por erro desculpável, cumprir uma obrigação alheia, julgando-a própria, goza do direito de repetição, excepto se o credor, desconhecendo o erro do autor da prestação, se tiver privado do título ou das garantias do crédito, tiver deixado prescrever ou caducar o seu crédito, ou não o tiver exercido contra o devedor ou contra o fiador enquanto solventes.”

Quando aquele que cumpre obrigação alheia, julgando-a própria não tenha o direito de repetir a prestação efectuada, fica subrogado nos direitos do credor (artigo 477º, nº 2, do Código Civil). Assim sucederá, segundo cremos, sempre que o erro do autor do cumprimento de obrigação alheia não seja desculpável.

No caso em apreço, o antecessor do banco autor, notificado “para proceder à apreensão dos depósitos bancários de quaisquer contas que o executado E…, divorciado, residente em parte incerta dos EUA e com último domicílio

conhecido em Portugal na …, .., nesta cidade, detenha nesse Banco, até ao montante de 2.050.000$00, calculados como suficientes para pagamento da quantia exequenda e custas, em dívida nos autos à margem indicados, em que é Exequente H…, divorciada, residente na …, …, Bloco ., …, nesta cidade, ficando aquele crédito penhorado e à ordem deste Juízo, Tribunal e Processo, acima mencionados”, procedeu à penhora da quantia de € 2.050.000,00, da conta de depósitos a prazo nº …………...., titulada por E….

Porém, o titular da conta penhorada era homónimo do executado, achando-se tal como este emigrado nos Estados Unidos da América.

Sem estar ciente da referida homonímia, o antecessor do banco autor colocou o montante penhorado à ordem do tribunal que ordenou a penhora, sendo os executados pagos à custa do referido montante.

Neste circunstancialismo, o antecessor do banco autor efectuou a prestação à ordem do tribunal convicto de que, na qualidade de depositário, estava

obrigado a entregar o montante por si penhorado, a fim de solver uma obrigação do seu depositante. Deste modo, com a conduta adoptada, o

antecessor do banco autor efectuou a prestação bem ciente que a mesma se

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destinava a solver uma dívida alheia, mas fê-lo porque julgou que o titular da conta de que proveio o montante com que foi satisfeita a obrigação era o devedor da obrigação a cuja satisfação se destinou a importância penhorada.

Foi assim satisfeita, embora por via coerciva, mas com o concurso da conduta do antecessor do autor, uma obrigação de alguém que o banco julgava ser seu credor da obrigação de restituição do capital da conta donde foi retirada a importância penhorada.

Por isso, o antecessor do banco autor não cumpriu uma obrigação alheia, julgando-a própria, antes cumpriu uma obrigação alheia, convencido de que estava obrigado a cumpri-la para com o devedor, atenta a sua qualidade de depositário e a obrigação de restituição do capital depositado que sobre si incide (vejam-se os artigos 1205º, 1206º e 1142º, todos do Código Civil). Ora, assim sendo, não é aplicável ao caso dos autos o disposto no artigo 477º do Código Civil[2], mas antes o disposto no artigo 478º do mesmo diploma legal, normativo que se convoca atento o disposto no artigo 664º do Código de Processo Civil.

De acordo com o disposto no artigo 478º do Código Civil, “Aquele que cumprir obrigação alheia, na convicção errónea de estar obrigado para com o devedor a cumpri-la, não tem o direito de repetição contra o credor, mas apenas o direito de exigir do devedor exonerado aquilo com que este injustamente se locupletou, excepto se o credor conhecia o erro ao receber a prestação.”

À luz do normativo que se acaba de citar, o recorrido não tem direito de

repetição contra os réus, tendo antes o direito de exigir do devedor exonerado aquilo com que este injustamente se locupletou. Na verdade, não sendo

conhecido do credor o erro do terceiro que se apresta a cumprir a obrigação alheia, na convicção errónea de estar obrigado para com o devedor a cumpri- la, é compreensível que as consequências desse erro recaiam sobre o errante, forçando-o a agir contra aquele que por força de tal conduta viu diminuído o seu passivo, em vez de poder agir contra quem apenas viu satisfeito o seu crédito, embora por parte de quem a isso não estava obrigado. Entre o credor que apenas viu o seu crédito satisfeito e o devedor exonerado,

equilibradamente, a lei determinou que o autor do cumprimento em erro tivesse direito de acção contra o devedor beneficiado.

Face ao que precede, conclui-se que o recurso procede, devendo a sentença sob censura ser revogada.

5. Dispositivo

Pelo exposto, em audiência, os juízes abaixo-assinados da quinta secção cível do Tribunal da Relação do Porto acordam em julgar procedente o recurso de apelação interposto por C… e D… e, em consequência, em revogar a sentença sob censura proferida a 21 de Maio de 2012, julgando-se pelos fundamentos

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expostos a acção improcedente e indo os recorrentes absolvidos do pedido.

Custas do recurso e da acção a cargo do B…, SA.

***

O presente acórdão compõe-se de nove páginas e foi elaborado em processador de texto pelo primeiro signatário.

Porto, 14 de Janeiro de 2013 Carlos Pereira Gil

Luís Filipe Brites Lameiras

Carlos Manuel Marques Querido ___________

[1] E não 2008 como por patente lapso consta da sentença recorrida.

[2] Na nossa perspectiva, se acaso fosse aplicável o disposto no artigo 477º, nº 1, do Código Civil, a existência de homonímia não seria suficiente para

qualificar o erro do autor de desculpável. A uma entidade que exerce profissionalmente o comércio bancário exige-se cuidado e rigor na

identificação das pessoas visadas com a penhora de depósitos bancários, não sendo a homonímia uma situação imprevisível. Certamente, porque assim é, o legislador teve a necessidade, aquando da alteração da redacção do artigo 861º-A, do Código de Processo Civil, operada pelo decreto-lei nº 38/2003, de 08 de Março, de prever no nº 6 do artigo citado a necessidade de indicação do número do bilhete de identidade ou documento equivalente e número de

identificação fiscal do executado.

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