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Repercussões do HIV/AIDS na família: estudo com um casal heterossexual na idade madura

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Academic year: 2017

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(1)

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Stricto Sensu em Psicologia

Dissertação de Mestrado

Repercussões do HIV/AIDS na Família: estudo com um casal

heterossexual na idade madura

Brasília - DF

2010

(2)

RENATA MAÊVE FALEIROS

REPERCUSSÕES DO HIV/AIDS NA FAMÍLIA: ESTUDO COM UM CASAL HETEROSSEXUAL NA IDADE MADURA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Psicologia.

Orientadora: Professora Doutora Maria Alexina Ribeiro

Co–Orientadora: Professora Doutora Maria Aparecida Penso

(3)

12,5 cm

7,5 cm

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

20/10/2010 F187r Faleiros, Renata Maêve.

Repercussões do HIV/AIDS na família estudo com um casal heterossexual na idade madura. / Renata Maêve Faleiros. – 2010.

150f. ; il. : 30 cm.    

 

Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2010.  Orientação: Maria Alexina Ribeiro

Co- Orientação: Maria Aparecida Penso  

(4)

Dissertação de autoria de Renata Maêve Faleiros, intitulada “Repercussões do HIV/AIDS na

família: estudo com um casal heterossexual na idade madura”, apresentada como requisito

parcial para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia da Universidade Católica de Brasília

em 15 de Setembro de 2010. Defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

_____________________________________________________ Professora Doutora Maria Alexina Ribeiro

Orientadora

Mestrado em Psicologia – UCB

____________________________________________________ Professora Doutora Maria Aparecida Penso

Co-Orientadora

Mestrado em Psicologia – UCB

____________________________________________________ Professora Doutora Maria Inês Gandolfo Conceição

Examinadora Externa Universidade de Brasília – UnB

_____________________________________________________ Professora Doutora Júlia Sursis Nobre Ferro Bucher-Maluschke

Membro

_____________________________________________________ Professora Doutora Marília Marques da Silva

Membro

Brasília

2010

(5)

Este trabalho é fruto de muita dedicação em um momento que é, ao mesmo tempo especial e difícil da minha vida, o que dá a ele um significado ainda mais importante na minha jornada pessoal e profissional. É, para mim, essencial agradecer às pessoas que contribuíram de alguma forma na realização desse trabalho e estiveram ao meu lado nessa caminhada.

À minha mãe que esteve sempre presente, vivenciando comigo minhas angústias, preocupações e realizações em casa passo dado nessa jornada. Sem seu apoio e suas cobranças, não seria possível a realização desse trabalho.

Ao meu pai e meu irmão pelas palavras de apoio e esforço em me distrair nos momentos mais difíceis.

Ao meu noivo pela compreensão dos momentos em que fiquei ausente e também por aqueles em que estive preocupada e ansiosa, não conseguindo dar a atenção que ele merecia e dedicação ao nosso casamento. Obrigada pela paciência e amor.

À minha orientadora Professora Doutora Maria Alexina Ribeiro, por sua compreensão, dedicação e flexibilidade. Soube me incentivar e me cobrar nos momentos certos.

À minha grande amiga Yara que me acolheu em Brasília e facilitou meus momentos na cidade, oferecendo sua casa, sua amizade e palavras acolhedoras e de incentivo. Foram importantes para me dar força nos momentos mais cansativos das viagens semanais entre Goiânia e Brasília.

Às minhas colegas de mestrado, em especial a Márcia e a Ana Paula, pelo apoio e pelas trocas de experiência, informações e sentimentos.

À minha co-orientadora Professora Doutora Maria Aparecida Penso, por suas contribuições que enriqueceram a pesquisa.

À coordenadora do Programa Estadual de DST/AIDS de Goiás, pela sua colaboração e esforço em conseguir os casais participantes da pesquisa.

Ao presidente do CADA, sempre disponível e atencioso no atendimento às pessoas convivendo com HIV/AIDS em Goiás e por seu empenho em conseguir o casal participante da pesquisa.

Às minhas sócias Priscilla, Anna e Hanah por compreenderem minhas ausências e falhas na clínica nesse momento de dedicação à pesquisa.

Aos meus pacientes pela compreensão da minha ausência nos atendimento nos momentos finais da elaboração da dissertação.

(6)

RESUMO

Maêve, R. F. Repercussões do HIV/AIDS na família estudo com um casal heterossexual na idade madura. 2010, 150 f. Dissertação de Mestrado. Universidade Católica de Brasília - UCB.

A aids é uma doença de dimensões alarmantes, transmitida principalmente pela via sexual, que traz à tona questões complexas e desafiadoras como o comportamento sexual e de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis, crenças e mitos relacionados à enfermidade, morte, preconceito, papéis e infidelidade. Pesquisas recentes apontam para significativo aumento de pessoas infectadas pelo HIV/AIDS com mais de 50 anos de idade e em relacionamento estável, denunciando baixos índices do uso de preservativo por essa população. Considerando a família como a base da constituição do sujeito e de seus padrões relacionais, construídos ao longo do ciclo de vida familiar e essenciais na forma como o indivíduo lida e enfrenta as vivências ao longo da vida, o presente estudo teve como objetivo conhecer e analisar aspectos do relacionamento conjugal e familiar de um casal heterossexual infectado pelo vírus HIV, bem como o impacto e as mudanças causadas pela doença no sistema conjugal e familiar. Devido ao seu caráter complexo e subjetivo, o estudo aqui proposto privilegiou o método da pesquisa qualitativa, que permite focar o específico e trabalhar com o universo dos significados e crenças, compreendendo as relações estabelecidas entre os sujeitos. A pesquisa foi realizada por meio do estudo de caso com um casal heterossexual casado há 27 anos. O marido tem 61 anos e a esposa 42. Ambos foram diagnosticados há dez anos como portadores do vírus HIV. O casal participa do Programa Estadual de DSTAIDS da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás. Para análise dos dados utilizamos a perspectiva interpretativa e construtivista que pressupõe o conhecimento enquanto uma produção e não uma assimilação linear da realidade. Trabalhamos com eixos de análise, indicadores e zonas de sentidos. Os instrumentos utilizados para coleta de dados foram: entrevista semi-estruturada, genograma, técnica da colagem, linha da vida do casal e a perspectiva do ciclo de vida familiar, sendo a abordagem sistêmica a base para análise e interpretação dos dados. Os dados mostraram o impacto da descoberta da doença gera sofrimento e angústia por levantar questões acerca das circunstâncias da infecção pelo vírus HIV, medo da morte, do preconceito, do tratamento e do estigma da aids. Verificou-se também a importância do apoio da família no enfrentamento, como facilitador de resiliência diante da doença e seus mais complexos significados, proporcionando maior adaptação às mudanças. Quanto às mudanças na relação conjugal, observamos uma reorganização do sistema familiar em busca de equilíbrio. O casal estudado se aproximou mais, aumentando o companheirismo e o respeito entre os cônjuges, por meio do desempenho de novos papéis dentro da relação. A análise demonstrou que a aids é uma doença estigmatizante, permeada por crenças e preconceitos que dificultam a sua prevenção e tratamento, tornando-se fundamental a atuação sobre essas crenças a fim de promover o sexo seguro, o uso de preservativo e a prevenção. A pesquisa confirma que não existem os grupos de risco e que a população estudada está vulnerável à doença por questões culturais e de gênero relacionadas com a negociação do uso de preservativo por casais em relacionamento estável.

(7)

ABSTRACT

Faleiros, R. M. Impact of HIV/AIDS in the family: a study with a heterosexual couple in mature age, 2010, 150f. Master´s Dissertation, Universidade Católica de Brasilia.

Aids is a disease with alarming dimensions, mainly transmitted through sexual intercourse, raising complex and challenging questions, such as sexual behavior, STD (sexually transmitted disease) prevention, beliefs and myths related to illnesses, death, prejudice, roles and infidelity. Recent researches show a significant increase of individuals infected by HIV/AIDS among those over 50, and those in a stable relationship, therefore unraveling low rates of preservative use among themselves. Considering the family as the base of an individual character and his/her standard relations, built up throughout a life cycle, and essential in the way an individual deals and face his/her daily life, the presented research aimed to focus on knowing deeper aspects of a conjugal and familiar relationship from a heterosexual couple who were infected by the HIV virus, as well as the impact and changes caused by the disease within the conjugal and family system. Due to the complex and subjective character, such research proposed here, was able to benefit the qualitative research method approach, which allows focusing on the specific and dealing with the universe of beliefs and meanings, comprising the established relations among the individuals. The research was performed by studying the case of a couple who has been married for 27 years. The 61 year-old husband and his 42 year-old wife were diagnosed with the HIV virus for over 10 years. The couple participates in a State Program in the fight against STD and AIDS, from The Goiás State Health System. To analyze the data, we used the constructivist and interpretative perspective in which presuppose the knowledge as a production and not as a linear assimilation of reality. We work with analysis axis, indicators and sense zones. The tools used for collecting data were: semi-structured interview, genogram, gluing technique, life lineage of the couple and their family life cycle perspective, being the systematic approach the base for the data analysis and interpretation. The data revealed that the impact of knowing that you are infected by the HIV virus causes suffering and agony for raising questions in regard to the circumstances of the HIV virus infection, fear of death, prejudice, treatment and of the aids stigma. The importance of the family support as a resilience facilitator was also analyzed when dealing with the disease as well as its most complex meaning, therefore trying to adapt with these new changes. In relation to the conjugal changes, we could observe a general reorganization of the family system within the search for balance. The couple studied wee more involved with one another, increasing their companionship and the respect between themselves through new roles within their relationship. The analyses showed that aids is a stigmatizing disease, challenged by beliefs and prejudice which difficult its prevention and treatment, making it fully essential an immediate action within these beliefs in order to promote safe sex, the use of preservatives and the prevention. The research confirms that there aren´t any group risk, and that the population studied is vulnerable to the disease through matters of cultures and related to mutual agreement involving the preservative use among couple in a stable relationship. By facing the aids complexity disease, we suggest that new researches are done, investigating more these beliefs which limit the prevention against the HIV virus within groups where this pandemic issue keeps on growing, in order to find strategies to establish effective awareness throughout the population.

(8)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Genograma Regina e Humberto

(9)

SUMÁRIO

I – INTRODUÇÃO 10

II – REFERENCIAL TEÓRICO 16

1 – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida 16

1.1Conceito e Contextualização da aids 16

1.2 – Aids no Brasil 18

1.2.1 – Perfil Espaço-temporal e Socioeconômico: Interiorização e Pauperização da aids 20

1.2.2 – Mortalidade: aids como doença crônica 22

1.2.3 – Questões de gênero (feminização da aids) e faixa etária 25

1.3 – Questões culturais 28

1.4 – Uso do preservativo e as transformações na sexualidade a partir da aids 31

2 – Pensando a Família Sistemicamente 38

2.1 – A Família Contemporânea: características e transformações 39

2.2 – Família: conceitos e funcionamento 42

2.3 – Estrutura Familiar 44

2.4 – Subsistemas Familiares 48

2.5 – Ciclo de Vida Familiar 51

2.5.1 – Lançando os filhos e seguindo em frente 56

2.5.2 – Família no estágio tardio da vida 57

2.6 – O casal: questões culturais e de gênero 58

2.7 – A sexualidade do casal e a aids 62

2.8 – Família e aids 65

(10)

1 – Geral 69

2 – Específicos 69

IV – Método 70

1 – Participantes 72

Figura 1: Genograma de Regina e Humberto 74

Legenda Genograma 75

2 – Instrumentos 76

2.1 – Roteiro de Entrevista semi-estruturada 76

2.2 – Genograma 76

2.3 – Roteiro para Compreensão do Ciclo de vida familiar 77

2.4 – Roteiro para realização da Técnica da Colagem 77

2.5 – Roteiro para realização da Linha da vida do casal 77

3 – Procedimento para coleta de dados 78

4 – Procedimento para análise dos dados 79

V – Resultados e Discussão 82

1 – “Namoro à moda antiga”: a construção da relação conjugal 82

2 – “Para mim esse assunto morreu”: a infecção pelo vírus HIV e a descoberta da doença 88

3 – “Raiva, medo e revolta”: impactos na relação do casal 92

4 – A vida continua: a relação após o diagnóstico 98

4.1 – “Há males que vem para o bem: a gente curte mais a vida do que antes” 99

4.2 – “Eu era o preferido, hoje não vai na minha casa”: mudanças que ocorreram nas relações familiares do casal após o diagnóstico 104

(11)

social do casal 109

4.4 – “O preconceito foi grande”: as mudanças na vida profissional de Humberto e suas repercussões na vida do casal 110

5 – A doença e suas privações: novos hábitos e rotinas do casal e da família 113

5.1 – “Enquanto você está privando, você está vivendo mais” 113

5.2 – Sem informação, não tem como haver prevenção 118

6 – “O futuro só a Deus pertence”: expectativas do casal em relação ao futuro 121 VI – Considerações Finais 123

VII – Referências Bibliográficas 128

VII – Anexos 137

Anexo A: Roteiro de Entrevista Semi-Estruturada 138

Anexo B: Roteiro para compreensão do Ciclo de Vida Familiar 140

Anexo C: Roteiro para elaboração do Genograma 141

Anexo D: Roteiro para realização da Colagem 142

Anexo E: Figura 2: Colagem feita pelo casal Regina e Humberto 144

Anexo F: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 145

Anexo G: Autorização do Comitê de Ética 148

(12)

I

-

Introdução

A aids (Acquired Immune Deficiency Syndrome) ou Síndrome da Imunodeficiência

Adquirida, é uma das epidemias mais complexas e desafiadoras já enfrentadas pela

humanidade (BERQUÓ; BARBOSA, 2008). Segundo Fernandes e Horta (2005), tem sido

uma das enfermidades mais estudadas nos últimos anos, tanto do ponto de vista biomédico

quanto social. Foi identificada em 1981, nos Estados Unidos, como sendo uma enfermidade

fatal que se dava com a infecção do organismo pelo vírus HIV (Human Immunodeficiency

Vírus) ou Vírus da Imunodeficiência Humana, que destruía o sistema imunológico do

indivíduo, causando o aparecimento de diversas infecções oportunistas. Seu início foi

marcado por uma série de dúvidas seguidas de preconceitos e medos irracionais que ainda

hoje persistem. Para Brito, Castilho e Szwarcwald (2001), a aids representa um fenômeno

global, dinâmico e instável, cuja ocorrência, nas diferentes regiões do mundo, depende, entre

outros determinantes, do comportamento humano individual e coletivo.

Segundo o relatório anual do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o vírus

HIV e a aids (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008a), existem, no mundo, aproximadamente 33

milhões de pessoas infectadas pelo vírus HIV, conforme dados referentes ao ano 2007. A

África Subsaariana é a área mais afetada, com aproximadamente dois terços do total mundial

(22,5 milhões de pessoas portadoras do vírus HIV), sendo que, desse número, três quartos são

do sexo feminino. Na América Latina a epidemia permanece estável. Em 2007, o número

estimado de novas infecções foi de 100 mil, alcançando 58 mil mortes nesse período.

Estima-se, atualmente, que 1,6 milhão de pessoas estão contaminadas pelo vírus HIV na América

Latina: são as PVHA (Pessoas Vivendo com HIV/AIDS). Segundo esse relatório, houve um

aumento de 150% no número de pessoas infectadas na Europa Oriental e Ásia Central,

(13)

No Brasil, de 1980 a junho de 2008 foram notificados 506.499 casos de aids, sendo

305.725 na região Sudeste, 95.552 na região Sul, 58.348 na região Nordeste, 28.719 na região

Centro-Oeste e 18.155 na região Norte. Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste a incidência

de aids tende à estabilização, enquanto no Norte e Nordeste a tendência é de crescimento. O

Brasil tem uma epidemia concentrada, com taxa de prevalência de infecção pelo HIV de 0,6%

na população de 15 a 49 anos e de 19,5 casos de aids a cada 100 mil habitantes

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

A aids reúne todos os estigmas que outras doenças no passado assumiram; é uma

doença que tem seu contágio principalmente através de líquidos que representam a vida

(sangue e esperma); é deformadora, pois altera a estética com suas infecções oportunistas; é

reveladora de condutas socialmente reprovadas, e é mortal com um curso muito lento, levando

ao sofrimento e à dor. Além disso, inicialmente foi ancorada como uma praga que abatia

somente identidades marginais, tais como homossexuais, haitianos, drogados e prostitutas, o

que a tornava menos ameaçadora (SILVA; ABRANTES, 2005).

Contudo, a aids passa a ser percebida como enfermidade que ameaça a todos e não

somente grupos específicos. E, cada vez mais, pessoas com diferentes características de

gênero, classe social, profissão, estado civil e idade vêm sendo infectadas pelo HIV,

modificando o perfil epidemiológico das pessoas portadoras do vírus, bem como os meios de

transmissão da doença e sua prevenção. Rodrigues-Júnior e Castilho (2004) afirmam que está

havendo uma heterossexualização, feminização, pauperização e interiorização da epidemia, o

que reflete em todo seu contexto social e cultural. E, devido a esse perfil epidemiológico

distinto, é necessário rever não apenas as medidas de prevenção e controle, como também a

assistência aos soropositivos (TAKAHASHI; SHIMA; SOUZA, 1998).

Segundo o Ministério da Saúde (2008a), a taxa de incidência de aids, no Brasil,

(14)

mulheres. Houve declínio da infecção no sexo masculino, com redução das taxas de

incidência nas faixas etárias de 13 a 29 anos e crescimento nas faixas posteriores,

principalmente a partir dos 40 anos.

Informações sobre as formas de transmissão do HIV (sangue, sêmen, secreção vaginal

e leite materno) e dos métodos de prevenção da aids, como o uso de preservativo e de seringas

descartáveis, vêm sendo divulgados e discutidos, o que levou à mudanças de comportamento

no que diz respeito à transfusão de sangue, compartilhamento de seringas por usuários de

drogas, esterilização e cuidados em procedimentos médicos e cirúrgicos e uso de preservativo

nas relações sexuais, que são hoje a principal forma de transmissão da aids. Verifica-se, então,

aumento significativo do uso de preservativo em alguns grupos, principalmente os que já

foram considerados como de risco no início da epidemia. Para pessoas com parceria estável o

uso do preservativo aumentou de 19,1% em 1998 para 33,1% em 2005. Aos jovens de 16 a 24

anos coube o maior percentual de uso do preservativo (59,2%), declinante com a idade,

cabendo às pessoas solteiras maior frequência de uso do mesmo (70,3%) (BERQUÓ;

BARBOSA; LIMA, 2008).

Em outra pesquisa, Berquó e Barbosa (2008) afirmam que é essencial compreender

como as práticas sexuais influenciam a vulnerabilidade de indivíduos e grupos populacionais

frente à epidemia e quais são as barreiras para a mudança do comportamento sexual exigida

pela aids. Para Ferreira (2008), apesar do aumento no nível de conhecimento geral sobre

percepção e risco de infecção pelo HIV, existe a necessidade de ações e programas de

prevenção para a população em geral, sendo importante, na formulação de políticas públicas

para o controle do HIV, conhecimentos atualizados sobre o nível de informação e percepção

de risco da população.

Na opinião de Takahashi e Shima (2005) a aids surge como uma enfermidade dos

(15)

apenas algumas pessoas, com comportamentos discriminados pela sociedade e que, portanto,

são culpados por adquiri-la. A ausência de sinais e sintomas torna a infecção pelo HIV algo

abstrato. E, embora se saiba que todos estão expostos às possibilidades de contaminação,

permanece fortemente arraigada a idéia de que se trata de uma doença do outro.

Nesse sentido, e devido às mudanças significativas ocorridas nos últimos anos no

quadro epidemiológico da aids, é fundamental estudar os grupos que, hoje, estão sendo mais

atingidos pela doença a fim de rever medidas de prevenção e controle, buscando intervenções

mais efetivas e voltadas às reais necessidades de cada grupo, como mulheres com

relacionamento heterossexual estável e pessoas com mais de 50 anos. Para Silva e Abrantes

(2005), o grande desafio que a aids apresenta, no momento, é trazer para uma reflexão

profunda questões que circulam no imaginário e que tem influenciado as relações sociais e

íntimas, bem como formas de cuidados e prevenção.

Dessa forma, é relevante compreender a aids no contexto do Ciclo de Vida Familiar

que possui fases características, importantes no entendimento das relações familiares e

conjugais e dos comportamentos de prevenção do HIV, pois os padrões familiares construídos

pelo casal na formação da família podem influenciar, de forma significativa, no uso de

preservativo, o que também pode explicar o aumento de pessoas com relacionamento estável

infectadas. Constitui um desafio a dificuldade do casal com relacionamento estável usar

preservativo com seu parceiro e se prevenir de doenças sexualmente transmissíveis,

principalmente a aids.

O contexto do desenvolvimento da aids no Brasil e no mundo somado ao aumento da

aids em pessoas com relacionamento estável e com mais de 50 anos, reforça a necessidade de

estudos detalhados acerca das novas relações e negociações sexuais, papéis sexuais e sociais.

Pesquisar como casais na idade madura foram infectados ao longo do ciclo de vida familiar e

(16)

lidam com questões relacionadas à sexualidade e métodos de prevenção é de fundamental

importância ante os dados recentes da epidemia.

Lazzaroto, Kramer, Hadrich, Tonin, Caputo e Sprinz (2008) constataram em sua

pesquisa que existem lacunas no conhecimento sobre HIV/AIDS entre homens e mulheres de

60-90 anos, demonstrando a necessidade de programas de saúde pública que visem à

elucidação das principais dúvidas, uma vez que o conhecimento é importante tanto para a

diminuição do preconceito com portadores do HIV quanto para medidas de prevenção.

Observa-se que existe um vazio de conhecimento sistematizado sobre esse grupo,

sobretudo no que diz respeito à qualidade de vida e enfrentamento da doença. Estudos dessa

natureza poderão contribuir para a discussão dos direitos das pessoas com idade acima de 50

anos a fim de melhorar o seu acesso aos serviços de saúde e para subsidiar o desenvolvimento

de ações de prevenção ao HIV/AIDS e controle da infecção (BRASILEIRO; FREITAS,

2006).

Diante desses dados, a atual necessidade diante da epidemia da aids é investir em

prevenção, atingindo os grupos onde a infecção vem aumentando a fim de diminuir a

vulnerabilidade dessas populações. Como a principal forma de transmissão do HIV é pela via

sexual, o foco é o fortalecimento das práticas de sexo seguro por meio do uso de preservativo,

que é um desafio entre casais heterossexuais com relacionamento estável. A partir da

compreensão da estrutura familiar construída pelos casais infectados pelo HIV, torna-se

viável o estudo de novas campanhas de prevenção que realmente atinjam essa população

específica.

Com tamanha complexidade e influência direta ou indireta na vida das pessoas, a aids

é mais um dos inúmeros desafios que os casais e famílias têm de enfrentar hoje. A prevenção

contra essa doença exige mudanças nas práticas e nos comportamentos sexuais, obrigando-os

(17)

Em seus trabalhos, Ribeiro (1996, 1998, 2000) chama a atenção para a importância da

família na prevenção das DST`s e aids por acreditar que seu papel é fundamental como fonte

de informações, orientação e modelo de comportamento preventivo. Além disso, a infecção de

um membro da família pelo vírus HIV tem sido motivo que leva a família a procurar terapia,

uma vez que a aids é uma doença de grupos humanos, atingindo toda a família (RIBEIRO;

GALLI; AMORIM, 2006).

Segundo Finkler (2003), as dificuldades na prevenção do HIV/AIDS em

relacionamentos heterossexuais estáveis leva a um deslocamento nos estudos do foco

individual para o interacional. A perspectiva sistêmica privilegia o estudo das interações entre

os membros da díade conjugal que se percebe mais vulnerável à infecção.

Por todos esses motivos e percebendo o aumento da contaminação pelo vírus HIV em

mulheres com relacionamento estável e com mais de 50 anos, o presente estudo visa pesquisar

como os padrões de relacionamento e as crenças construídas por um casal heterossexual ao

longo do ciclo de vida familiar podem influenciar no uso de camisinha e na prevenção da aids

por essa população. Pretende-se identificar elementos que possam contribuir para a

elaboração de programas que visem a prevenção de casais não contaminados pelo HIV de

forma mais efetiva, trabalhando as barreiras desse grupo em adotar comportamento de

prevenção diante da aids, negociando o uso de preservativo e buscando uma vida sexual

(18)

II - REFERENCIAL TEÓRICO

1 - SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA - AIDS

1.1– CONCEITO E CONTEXTUALIZAÇÃO DA AIDS

Segundo o Ministério da Saúde (2008a), a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

(aids) é uma doença que se manifesta após a infecção do organismo pelo Vírus da

Imunodeficiência Humana, mais conhecido como HIVque leva, em média, oito anos para se

manifestar. Para Sontag (1989), a aids não designa uma doença, e sim um estado clínico, que

tem como consequência todo um espectro de doenças. Para a autora, a própria definição de

aids requer a presença de outras doenças, as chamadas infecções e malignidades oportunistas.

Ainda segundo o Ministério da Saúde (2008a), a transmissão ocorre por meio do

contato com sangue, sêmen, secreção vaginal ou leite materno da pessoa doente, lembrando

que suor, lágrima, beijo no rosto ou na boca e uso comum de sabonete, toalha, copos ou

talhares, entre outros, não transmitem a doença.

Segundo Ribeiro (1996), a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida envolve uma

série de conceitos, sendo definida como uma síndrome por se caracterizar pela aparição de

várias doenças sucessivas e simultâneas, havendo a diminuição dos recursos orgânicos

responsáveis por manter o corpo imune às infecções. A aids então resulta da infecção pelo

vírus HIV que infecta as células do sistema imunológico e sistema nervoso, limitando

dramaticamente a capacidade do corpo para proteger-se, estando relacionada também a

síndromes neuropsiquiátricas (KAPLAN; SADOCK; GREBB, 2006).

O HIV é um retrovírus que causa disfunção imunológica crônica e progressiva no

organismo devido ao declínio dos níveis de linfócitos CD4, o que aumenta o risco do

(19)

assintomática, pode apresentar transtornos na esfera psicossocial (CANINI; REIS; PEREIRA;

GIR; PELÁ, 2004). Segundo Zampieri (2004), o HIV ataca o sistema imunológico do

indivíduo, tornando-o susceptível a muitos tipos de infecção. Desde a penetração do vírus até

a instalação da doença, a pessoa atravessa diferentes estágios clínicos e laboratoriais.

O surgimento da aids, bem como sua propagação pode ser entendida de forma

contextualizada e levando-se em consideração aspectos culturais e padrões de comportamento

no que diz respeito a drogas, sexualidade, conjugalidade, gênero e família, por exemplo.

Grmek (1995) afirma que a emergência da epidemia da aids está ligada a algumas

mudanças sociais que caracterizam a segunda metade do século XX como a globalização,

novas formas de relacionamentos sexuais, uso de drogas intravenosas e os progressos da

transfusão de sangue. E, quanto à situação particular da África, o autor lembra as perturbações

sociais e guerras que se seguiram à descolonização, à urbanização desenfreada, ao

desenvolvimento da prostituição e aos efeitos perversos dos procedimentos médicos

ocidentais, inadaptados para esse meio (mau uso das seringas, por exemplo).

Seu surgimento na década de 1980 trouxe à tona questões importantes para se pensar,

como sexualidade, infidelidade, uso de drogas, promiscuidade e, mais recentemente, o uso do

Viagra e da camisinha. Tais assuntos não se restringem neles mesmos devido à sua complexidade.

Não é possível falar de comportamento sexual, por exemplo, sem falar de cultura, valores, gênero,

e mitos familiares.

Segundo Galvão (2000), as diferentes dimensões da epidemia da aids, cultural, social,

política, médica e econômica não podem ser tomadas de forma isolada ou definitiva pois

aquilo que cada cultura classifica como crença, tabu, sexualidade, poder, saúde, estigma e

religiosidade pode marcar e determinar os caminhos da história natural de uma epidemia,

sendo também responsável pelo desenvolvimento de iniciativas no enfrentamento e prevenção

(20)

Segundo Zampieri (1996), a aids é uma doença de grupos humanos, de famílias e

casais e possui impactos sociais e demográficos, afetando jovens e adultos de ambos os sexos

e crianças. Para Polejack e Costa (2002), depois de seu surgimento em 1980, a aids se

espalhou rapidamente pelo planeta, deixando de ser uma doença dos grupos de risco para se

tornar uma realidade de todos: homens, mulheres, jovens, adultos e crianças. Mais do que

isso, para essas autoras a aids cumpre dois papéis, pois é causa de problemas no sentido das

mudanças e adaptações na vida do portador do HIV como rotinas de tratamento, exames e

remédios, mas também exerce o papel de sintoma na medida em que denuncia a necessidade

de se falar sobre tabus como sexo, infidelidade, drogas, morte, medo, preconceito,

sexualidade e uso de camisinha.

Carvalho (2003) acredita que, com o surgimento da aids, pôde-se observar diversos

fenômenos, tanto individuais quanto coletivos. Para esse autor, o tema invadiu o cotidiano

pelo medo, pelo preconceito, pela dúvida, pela dor e, também, pela solidariedade. Zampieri

(2004) compartilha dessa idéia ao afirmar que a epidemia da aids foi construída como: “coisa

de pessoas fracas ou imaginárias, gays, putas, drogados ou, eventualmente, pessoas

promíscuas” (p.194). Para a autora, a aids é muito mais que uma questão de saúde. Pobreza,

desnutrição, assistência médica precária, analfabetismo, moradia inadequada, discriminação

contra mulheres e sistemas políticos ineficazes exarcebam o impacto social do HIV. Para ela,

na história da humanidade, nenhuma doença jamais suscitou questões tão complexas quanto a

aids. As necessidades dos indivíduos, das suas famílias e comunidades são diversas e muitos

são os impactos psicológicos, sociais, políticos e econômicos do HIV e da aids.

1.2- AIDS NO BRASIL

Desde o início da epidemia, o Brasil vem figurando entre os principais países do

(21)

primeiro lugar. É inegável que a forma como emergiu a aids - inicialmente detectada em

grupos de homossexuais masculinos e a seguir entre usuários de drogas endovenosas - influiu

profundamente na resposta da sociedade que se manteve por muito tempo alienada à doença,

acreditando que ela se restringiria a apenas alguns grupos de risco (NICHIATA; SHIMA;

TAKAHASHI, 1995).

O primeiro caso clínico de aids no Brasil ocorreu em 1983 em um paciente portador de

sarcoma de Kaposi1. Na primeira metade da década de 1980, a identificação de novos casos

manteve-se restrita aos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, grandes centros urbanos. O

perfil epidemiológico se caracterizava por pacientes do sexo masculino, alto nível

socioeconômico, com transmissão de caráter homossexual/bissexual. No início da epidemia

alguns profissionais associavam a aids às histórias da hanseníase e da sífilis, quando algumas

pessoas se negavam a atender pacientes com aids, havendo dificuldades pelo

desconhecimento da doença e pelo pânico que se disseminava. A situação começou a mudar a

partir de 1985, com a criação do Programa Nacional de DST/AIDS, do Ministério da Saúde e

de grupos de apoio não governamentais no combate à doença, que tiveram papel decisivo na

evolução da assistência às pessoas com HIV/AIDS no país (SADALA; MARQUES, 2006).

A partir da década de 1990 verifica-se uma transição do perfil epidemiológico,

resultando na heterossexualização, feminização, pauperização e interiorização da epidemia, o

que significa que, devido à maior prevenção por parte dos ditos “grupos de risco”, os casais

heterossexuais ficaram mais vulneráveis à infecção, principalmente as mulheres, por questões

sociais e de gênero. Além disso, pessoas com menores condições socioeconômicas e culturais

estão mais susceptíveis devido à falta de informação sobre formas de contaminação e

prevenção da doença. A aids no Brasil pode ser vista como uma epidemia multifacetada, pois

não tem um perfil epidemiológico único e sim subepidemias regionais que são motivadas

(22)

A epidemia brasileira caracteriza-se por realidades regionais distintas, segundo Berquó

e Barbosa (2008). Trata-se de uma epidemia dinâmica devido aos contrastes sociais e

regionais do país. Nesse sentido, sua compreensão demanda pesquisas de abrangência

nacional que permitam coletar dados em diferentes níveis de desagregação geográfica,

devendo estabelecer parâmetros de referência para pesquisas locais, com populações

específicas. Sadala e Marques (2006) descrevem a epidemia no Brasil como sendo a

composição de um mosaico de diferentes realidades resultante dos diferentes perfis de renda e

de escolaridade da população e das diferentes capacidades de investimento em saúde.

Para Guimarães (2000, apud BRITO; CASTILHO; SZWARCWALD, 2001), o

aumento progressivo de crianças de 0 a 4 anos com HIV/AIDS pode ser visto como

consequência direta da maior participação feminina entre os casos de aids no Brasil. Segundo

Boletim Epidemiológico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009), em 2006 foram notificadas

6.014 casos de HIV em parturientes e 561 casos de aids em menores de 5 anos. O boletim

informa também que em 2006, no sexo masculino para a categoria de exposição sexual, há

maior transmissão entre os heterossexuais (43%) e na categoria sanguínea, a transmissão é

maior entre os usuários de drogas injetáveis (9%). Ao longo do período de 1980 a junho de

2008, observa-se também tendência ao crescimento proporcional da subcategoria de

exposição heterossexual, estabilização entre homo/bissexuais e redução entre os usuários de

drogas injetáveis (UDI). No sexo feminino, a transmissão é predominantemente heterossexual

(96%), seguida dos UDI (3%).

1.2.1 – Perfil Espaço-temporal e Socioeconômico: Interiorização e Pauperização

da aids

Para Brito, Castilho e Szwarcwald (2001), vem ocorrendo no Brasil a interiorização da

(23)

municípios brasileiros. Segundo os autores, a região Sudeste apresenta o menor ritmo de

crescimento, sendo que a dinâmica da disseminação espacial da epidemia tem sido maior

entre os municípios pequenos, com menos de 50 mil habitantes.

Para os autores acima citados, com base nos dados de casos acumulados de aids

identificam-se três classes de centros urbanos em relação à evolução da epidemia: centros

difusores principais, que são pólos de difusão; pólos regionais secundários, que são as cidades

com tendência de crescimento da epidemia e os subcentros secundários, que são as cidades

onde a epidemia não vem demonstrando padrões nítidos de crescimento. Além disso, é

possível identificar três diferentes padrões de difusão e disseminação da epidemia: difusão

restrita à metrópole regional e região adjacente (verificado no Norte e Nordeste); difusão

mista, que compreende centros metropolitanos e região adjacente, com expansão para

subcentros regionais (padrão característico da região Sul) e disseminação da epidemia através

de redes hierarquizadas de cidades (fenômeno observado no estado de São Paulo). A

correspondência entre as redes sociais e a organização espacial se dá através de relações

sociais resultantes da circulação de mercadorias e de pessoas, pois o vírus é transmitido por

meio de relações pessoais, especialmente nos centros urbanos e regiões de maior relevância

econômica e demográfica.

Além disso, no Brasil, é alarmante a tendência atual de pauperização da epidemia que

pode ser constatada pelo aumento no número de casos em áreas periféricas dos centros

urbanos e entre os segmentos menos privilegiados da população (GRANGEIRO, 1994;

CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES, 1994, apud TAKAHASHI; SHIMA;

SOUZA, 1998).

Para Barcellos e Bastos (1996) no Brasil, caracterizado pela heterogeneidade

(24)

comportamentais, pelos obstáculos à prevenção de ordem subjetiva, mas também pela falta de

acesso aos meios e possibilidades de prevenção.

Segundo o Boletim Epidemiológico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009), observa-se

queda da razão brancos/negros entre homens de 1,7:1 em 2001 para 1,2:1 em 2007 e entre

mulheres de 1,6:1 em 2001 para 1,1:1 em 2007. E apresenta dados de escolaridade, em anos

de estudo, segundo o ano de diagnóstico, observando-se aumento proporcional de casos entre

a população com 8 a 11 anos de estudo, que aumentou de 16%, em 1999, para 25% dos casos

em 2006.

O aumento do número de casos nos estratos de menor escolaridade (3% em 1991 e 6%

em 2000) remete à desigualdade no atendimento e assistência aos menos favorecidos

economicamente (RODRIGUES-JUNIOR; CASTILHO, 2004).

1.2.2 – Mortalidade: aids como doença crônica

Dados do Ministério da Saúde (2008b) apontam que, cinco anos depois de

diagnosticadas, 90% das pessoas com aids na região Sudeste estavam vivas, 78% no Norte,

80% no Centro-Oeste, 81% no Nordeste e 82% no Sul. Em números absolutos, o Brasil

registrou, segundo Boletim Epidemiológico (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009) 205.409

óbitos por aids, de 1980 a 2007. Desses, a maioria foi na região Sudeste, com 137.551 mortes.

Em seguida vem o Sul com 32.632, o Nordeste com 20.136, o Centro-Oeste com 9.457 e o

Norte com 5.633 óbitos. Foram declarados 150.719 (73%) óbitos do sexo masculino e 54.579

(27%) do sexo feminino.

Após a introdução da política de acesso universal ao tratamento anti-retroviral que

combina drogas com diferentes formas de ação, observou-se uma importante queda na

mortalidade. A partir do ano 2000, a taxa de mortalidade (que na década de 90 havia se

(25)

mil habitantes, sendo esta estabilização mais evidente em São Paulo e no Distrito Federal

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008c). Polejack e Costa (2002) afirmam que a tendência de

diminuição dos óbitos por aids no Brasil coincide com a adoção da terapia combinada de

anti-retrovirais (o coquetel) e a sua distribuição universal e gratuita pela rede publica de saúde

garantida pelo Ministério da Saúde.

A descoberta, em 1989, da zidovudina (AZT), inibidor da transcriptase reversa (ITR) e

que passou a ser fornecida gratuitamente pelo Ministério da Saúde aos pacientes cadastrados

em serviço de referência em 1992, ampliou o tempo de sobrevivência dos doentes. Em 1995

foram incorporadas a didanosina (ddI) e a zalcitabina (ddC). Essa nova proposta terapêutica

aumentou a sobrevida dos pacientes soropositivos, causando impacto na realidade da

epidemia no Brasil, com redução da morbi-mortalidade, diminuição das internações

hospitalares e progressiva mudança na maneira da sociedade e dos profissionais em se

relacionar com os pacientes (SADALA; MARQUES, 2008).

Segundo o Ministério da Saúde (2008c), desde 1996, ano da publicação da Lei 9.3132,

o governo brasileiro vem garantindo o acesso ao tratamento anti-retroviral (TART) à todas as

pessoas que vivem com HIV e que tenham indicação de recebê-lo, conforme as

recomendações terapêuticas vigentes no Brasil. O acesso universal ao tratamento foi fruto da

conquista do Ministério da Saúde, dos profissionais de saúde comprometidos com o

enfrentamento da epidemia e da sociedade civil organizada. Até o final de 2008, 180.000

brasileiros receberam o tratamento anti-retroviral. A utilização dessa terapia teve impacto no

programa brasileiro de DST/AIDS devido à melhora nos indicadores de morbidade, de

mortalidade e qualidade de vida dos brasileiros que realizam tratamento para o HIV e aids.

Por outro lado, contribuiu para o desenvolvimento do perfil crônico-degenerativo assumido

pela doença na atualidade. Parte das pessoas que estão em uso de TARV há mais tempo

(26)

disponíveis quatro classes de anti-retrovirais, mais potentes, menos tóxicos e com posologia

confortável, que possibilita apenas uma ou duas doses diárias.

Brito et al (2001) afirmam que estudo realizado com base em registro de casos

notificados ao Ministério da Saúde, de 1980 a maio de 1999, revelou queda estatisticamente

significativa de quase todas as doenças oportunistas. Porém, para eles, o impacto da aids ainda

mantém-se importante na mortalidade em adultos em idade produtiva, tendo sido a quarta

causa de óbitos no grupo de 20 a 49 anos de idade, em 1996, em ambos os sexos. Tal impacto

nessa faixa etária provoca grande número de órfãos, decorrente da morte materna por aids,

estimado em 29.928, entre 1987 e 1999.

Hoje, para Fernandes e Horta (2005), a aids é vista como uma doença crônica que

pode provocar a morte, cuja expectativa está presente nos indivíduos portadores do HIV e

suas famílias, provocando profundo impacto psicossocial. Entende-se por doença crônica

“qualquer estado patológico que apresente uma ou mais das seguintes características: que seja permanente, que deixe incapacidade residual, que produza alterações patológicas não reversíveis, que requeira reabilitação ou que necessite períodos longos de observação, controle e cuidados (...). O indivíduo é considerado paciente crônico se for portador de uma doença incurável” (ZOZAYA, 1995, apud POLEJACK; COSTA, 2002).

Para Polejack e Costa (2002), tal mudança se deve ao avanço nas pesquisas e aos

maiores recursos de tratamentos, com significativo aumento na expectativa e na qualidade de

vida do portador do HIV, alterando aos poucos a realidade dos indivíduos, casais e famílias e

trazendo novos desafios para a sua compreensão e seu enfrentamento.

Canini et al. (2004) referem que a inexistência de cura para a maioria das doenças

crônicas tem mostrado que a mensuração da qualidade de vida é imprescindível para a

avaliação de estratégias de tratamento e custo/benefício, sendo ferramenta importante para

direcionar os programas de saúde que também devem privilegiar as dimensões psíquicas e

(27)

1.2.3 – Questões de Gênero (feminização da aids) e faixa etária da aids no Brasil

Outra característica da aids é que esta vem atingindo mulheres jovens, no auge da sua

vida reprodutiva. Metade delas são mães, têm baixa escolaridade, são solteiras, trabalhadoras

ou “do lar” e foram expostas ao vírus principalmente através de relações heterossexuais com

maridos ou parceiros fixos. Verificou-se que 54% das mulheres exercem alguma atividade

fora do lar e 41% delas se dedicavam às atividades domésticas. Além disso, 65% das

mulheres viúvas haviam perdido o marido em decorrência da aids, o que mostra a importância

da transmissão do vírus em relações heterossexuais e estáveis (TAKAHASHI; SHIMA;

SOUZA,1998).

Esse deslocamento do perfil da aids, que agora inclui um número significativo de

mulheres entre os casos notificados, denuncia a necessidade de explicações sobre os caminhos

da epidemia. Explicações estas que devem ir além do elo bissexual, não podendo negligenciar

aspectos subjetivos da construção da sexualidade feminina, bem como as relações de gênero

que podem facilitar a exposição da mulher ao HIV (CARVALHO, 2003).

Para Finkler (2004), inicialmente as estratégias de prevenção à infecção pelo HIV não

se voltaram especificamente para a prevenção em relações conjugais ou uniões consensuais

consideradas estáveis, uma vez que a monogamia implícita nessas relações era considerada

fator de proteção. Tal crença dificultou a percepção da vulnerabilidade existente para pessoas

em relacionamentos estáveis, principalmente para as mulheres.

Segundo Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (2009) ,de 1980 até junho

de 2008 foram identificados 333.485 casos de aids no sexo masculino e 172.995 no sexo

feminino, observando-se que a razão de sexo (M:F) no Brasil vem diminuindo, passando de

15,1:1 em 1986 para1,5:1 em 2006.Do total de casos identificados em homens, 78% estão na

(28)

Em ambos os sexos, a maior parte dos casos se concentra na faixa etária de 25 a 49

anos, sendo que nos últimos anos, tem-se verificado aumento percentual de casos na

população acima de 50 anos. Observou-se uma estabilidade na proporção de casos no sexo

masculino devido ao aumento da transmissão heterossexual e redução importante e persistente

dos casos em usuários de drogas injetáveis. Entre as mulheres, observa-se, após 1998, a

tendência à estabilidade entre aquelas na faixa de 13 a 24 anos, com crescimento persistente

em praticamente todas as outras faixas etárias (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008b).

Pesquisas mostram que até junho de 2008 foram identificados 47.437 casos de aids em

pessoas de 50 anos ou mais de idade, o que representa 9% do total de casos, sendo 34% entre

mulheres e 66% entre homens. Também houve decréscimo na razão entre homens e mulheres

contaminados nessa população que em 1986 era de 19 casos de aids em homens para cada

caso em mulher e em 2006 foram 16 casos de aids em homens para cada 10 casos em

mulheres (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008b).

Para Brasileiro e Freitas (2006), pessoas com mais de 50 anos e com baixa

escolaridade, quando infectadas pelo HIV, tendem a manifestar os efeitos da imunodepressão

de forma mais acelerada devido aos efeitos de outras doenças que podem aparecer com a

aproximação da terceira idade. Tais efeitos podem ser ainda mais graves em se tratando de

pessoas com 65 anos ou mais. Somado a isso existe desinformação, preconceito, dificuldades

de acesso aos serviços de saúde, além da negação do risco de infecção pelo HIV nesse grupo,

tanto por parte dos usuários dos serviços de saúde quanto dos profissionais que atendem os

idosos.

Segundo Brito et al. (2001) no ano de 1984, 71% dos casos notificados eram referentes

a homossexuais e bissexuais. Verificou-se, então, relevante mobilização social e mudança de

(29)

casos de contaminação pelo HIV nesta subcategoria que, no ano de 2000, correspondia a 16%

dos casos.

Em contrapartida, pesquisa realizada por TaKahashi, Shima e Souza (1998), de

outubro a dezembro de 1995, mostrou que a grande maioria das mulheres entrevistadas foi

contaminada pelo próprio parceiro fixo, marido ou companheiro, através de relações

heterossexuais. Segundo os pesquisadores, diante da epidemia da aids, ser mulher implica em

especificidades e desvantagens que podem gerar uma situação de susceptibilidade em relação

ao homem, uma vez que vivemos em uma cultura onde as diferenças entre homens e mulheres

se convertem em desigualdade. Para Barbosa e Vilella (1996, apud TAKAHASHI; SHIMA;

SOUZA, 1998), a dominação histórica do sexo masculino, a submissão da mulher e aceitação

da sexualidade passiva da mesma faz com que a realização do sexo seguro se torne uma

questão complexa. Primeiro porque o uso do preservativo depende da vontade do parceiro e,

em segundo lugar, pela dificuldade que a mulher tem de solicitar ao parceiro que o utilize, por

suscitar desconfiança quanto a sua fidelidade.

Segundo Carter e McGoldrick (2001), as mulheres estão expostas a índices mais altos

de mudança e instabilidade em suas vidas do que os homens, sendo mais vulneráveis ao

estresse em função de seu maior envolvimento emocional com as vidas daqueles que as

cercam. Tradicionalmente as mulheres foram consideradas responsáveis pela manutenção dos

relacionamentos familiares e por todos os cuidados: por seus maridos, por seus filhos, por

seus pais, pelos pais de seus maridos e por qualquer outro membro da família doente ou

dependente.

Segundo Barbosa e Koyama (2008), a comparação dos dados sobre comportamento

sexual entre 1998 e 2005 sugeriu tendência de diminuição das diferenças entre homens e

mulheres. Não foram observadas mudanças significativas nos padrões de comportamento

(30)

nos padrões de homens e mulheres quanto às práticas sexuais mantidas com o (a) último (a)

parceiro (a).

Verificou-se, nessa pesquisa, que as mulheres continuam iniciando a vida sexual mais

tardiamente que os homens. Houve um aumento na proporção de mulheres sexualmente ativas

na faixa etária de 55-65 anos e a proporção de homens que referiu mais de um parceiro sexual

foi aproximadamente 5 vezes maior que a das mulheres nos dois períodos. No Centro-Oeste,

observou-se redução acentuada no número de homens com mais de uma parceira sexual no

ano anterior à entrevista: 32,2% em 1998 e 17,5% em 2005. Verifica-se, então, um cenário

diversificado e complexo, caracterizado pela variabilidade de comportamentos e práticas

sexuais, conforme idade, escolaridade, situação conjugal, religião e região geográfica de

residência, fatores que interagem entre si de maneira particular.

1.3 – QUESTÕES CULTURAIS DA AIDS NO BRASIL E NO MUNDO

Desde os tempos mais remotos, as epidemias fazem parte da história da civilização

humana, algumas de maneira fugaz, outras permanecendo por longos períodos, refletindo a

realidade sócio-cultural e econômica da época e, ao mesmo tempo, imprimindo sua marca no

tempo e no espaço histórico da humanidade (TAKAHASHI; SHIMA, 2005).

Segundo Silva e Abrantes (2005), cada sociedade, em um determinado período, tem

uma doença que é a metáfora dos seus problemas. São enfermidades que, a partir do

imaginário social, perpetuam na coletividade a ideia de perenidade do mal e de limites do ser

humano frente à ameaça da morte. As grandes epidemias que marcaram certos momentos da

história tiveram sua representação no imaginário coletivo, havendo consequência para a

(31)

A aids é uma epidemia repleta de significados simbólicos, sendo que muitas

descobertas científicas não foram compartilhadas, e mesmo entre os profissionais da saúde

permanecem ideias preconceituosas, o que faz persistir sentimentos de ameaça e medo. A

imagem corporal da aids, considerada como assustadora, ruim, negativa e desagradável, tem

sido mudada, porém a imagem da doença ainda não. A revelação do status soropositivo pode

representar a ruptura de relacionamentos tradicionais, uma redefinição dos papéis de gênero e

a assunção de identidades consideradas pelo grupo de referência como socialmente desviante,

como traidor/infiel, homossexual, usuário de drogas e profissional do sexo (FERNANDEZ;

HORTA, 2005).

Para Sadala e Marques (2006), dados recentes da literatura mostram que hoje a

discriminação é inaceitável, embora ainda persistam comportamentos de discriminação e

intolerância em relação a pacientes homossexuais e usuários de drogas, mas em menor

intensidade. Segundo os autores, angústia, impotência e ansiedade são os sentimentos

descritos por profissionais que atendem pacientes com HIV positivo por se depararem com

questões como a morte, sexualidade e abuso de drogas.

A visualização da aids como restrita a determinados "grupos de risco" imprimiu um

forte caráter estigmatizante, pois repassou a ideia de que ela afetava somente pessoas que

apresentavam comportamentos altamente condenados pela sociedade. Determinados meios de

comunicação de massa, somados a atitudes indesejáveis de alguns profissionais de saúde,

tiveram papel fundamental na construção social e cultural da aids, fomentando o medo e o

preconceito através da reprodução e divulgação de informações distorcidas e equivocadas

com relação à doença, fazendo com que até hoje os portadores do vírus HIV sejam alvo de

condenação, preconceitos, medo e discriminação (NICHIATA; SHIMA; TAKAHASHI,

(32)

Ser portador do vírus HIV pode sugerir que se faz parte de um determinado grupo ou

comunidade, pois o comportamento perigoso que “produz” a aids é encarado como algo mais

do que fraqueza, podendo ser visto como irresponsabilidade ou delinquência, pois o doente é

visto como viciado em substâncias ilegais ou sua sexualidade é considerada divergente

(SONTAG, 1989).

Para Garcia e Koyama (2008), é preciso deixar de pensar na aids como a doença do

outro. O estigma e a discriminação podem dificultar a procura pela realização do teste, bem

como a busca pelo tratamento adequado. A natureza da epidemia da aids, sua dinâmica,

abrangência, características específicas e questões morais envolvidas impõem desafios.

Segundo Mann (1987, apud GARCIA; KOYAMA, 2008), o estigma não é um atributo fixo,

mas uma construção social e cultural, sendo histórica e mutável, estabelecendo relações de

desvalorização do outro e envolvendo a discriminação nos espaços públicos e instituições

privadas, gerando hostilidade, segregação, exclusão e auto-exclusão daqueles que têm sua

condição sorológica revelada.

Polejack e Costa (2002) referem que a infecção pelo HIV pode acarretar uma série de

consequências sociais e individuais como, por exemplo, o preconceito relacionado com a

forma de contaminação e medo de ser contaminado, o que pode também gerar isolamento

social, problemas com a família e no trabalho, além das angústias do próprio paciente, como

solidão, culpa ou medo da morte. O impacto nos projetos de vida, na auto-estima, nos

relacionamentos afetivos e nos papéis sociais desempenhados pelo indivíduo é grande.

Jodelet (2002) afirma que no início da aids, devido à ausência de referências médicas,

a mídia e as pessoas se apoderaram deste mal desconhecido e estranho, elaborando teorias

apoiadas nos dados que dispunham. Isso favoreceu a eclosão de duas concepções: uma de tipo

moral, sendo vista como uma doença-punição pelas condutas degeneradas, pela

(33)

ocorrer também por meio de outros líquidos corporais, além do esperma, particularmente a

saliva e o suor. Tais representações, em menor grau e de formas variadas, permanece até hoje

em crenças acerca da aids que influenciam nos programas de tratamento do doente, bem como

na prevenção do HIV.

Garcia e Koyama (2008) verificaram que houve uma redução significante no

percentual de pessoas que, entre 1998 e 2005, responderam “sim” à obrigatoriedade do teste

da aids nas seguintes situações: para admissão no emprego, antes do casamento, entrada no

exército/forças armadas, usuários de drogas, entrada de estrangeiros no país e profissionais do

sexo. O percentual foi mantido para situações como: antes de internação em hospitais e de

mulheres grávidas. Porém, houve alto nível de concordância nos dois períodos quanto à

obrigatoriedade do teste para os seguintes grupos: profissionais do sexo, usuários de drogas e

mulheres grávidas, o que evidencia elementos estigmatizantes, demandando maior controle

social desses grupos.

Para os autores, tal resultado mostra que a disseminação de informação sobre formas

de transmissão (e não transmissão) da aids ainda requer melhor elaboração e divulgação,

principalmente para as populações que apresentam maior nível de intenção de discriminação:

as de menor escolaridade, residentes nos estados do Norte/Nordeste e pertencentes à faixa

etária acima de 45 anos.

1.4 – USO DE PRESERVATIVO E AS TRANSFORMAÇÕES NA

SEXUALIDADE A PARTIR DA AIDS

Até o surgimento da aids no Brasil, informações sobre o uso do preservativo estavam

associadas à contracepção e, nesse contexto, o preservativo era pouco referido como método

anticoncepcional. Em 1986, apenas 5% das mulheres casadas ou unidas referiram o

(34)

Segundo esses autores, em 2005 o uso do preservativo por pessoas somente com

parcerias eventuais entre homens foi 81,6% e entre mulheres 66,0%, atingindo 92% entre os

homens de 16 a 24 anos. A região Centro-Oeste apresentou a menor proporção (64,0%) de

uso de preservativo. Observou-se o uso consistente do preservativo entre pessoas solteiras, e

menor para casadas ou unidas. A análise mostrou que, em 2005, o uso do preservativo esteve

associado à idade, escolaridade, situação conjugal e religião. Jovens entre 16 e 24 declararam

maior frequência do uso consistente do preservativo, declinante com a idade; pessoas com no

máximo ensino fundamental apresentaram a menor proporção de uso e apenas 17% das

pessoas com parcerias estáveis declararam uso de preservativo de forma consistente. Mais

homens e pessoas mais jovens relataram o uso do preservativo na última relação sexual e a

maior escolaridade aumentou a chance de uso do preservativo, maior também entre pessoas

solteiras e aquelas com parceira eventual. As escolhas realizadas por homens e mulheres ao

longo de suas trajetórias sexuais estão intimamente conectadas à existência de diferenças de

gênero no que se refere às concepções de vínculo afetivo-sexual.

Ainda, segundo esta pesquisa, entre pessoas em relações estáveis, mas com parcerias

eventuais, o uso do preservativo cresceu de 24,5% em 1998 para 46,3% em 2005. Outro dado

importante é que entre casados/unidos o uso consistente do preservativo diminuiu com a

idade, de 17,3% na faixa etária 16-24 anos para 7,1% na faixa 45-65 anos. Entre os solteiros

essa queda se observa a partir da faixa dos 35-44 anos. O uso consistente do preservativo

entre homens foi de 9,1% entre casados/unidos, 27,3% entre viúvo/separado/divorciado e

52,8% entre solteiros. As mulheres apresentaram a mesma tendência, com magnitude maior

para as solteiras.

Os resultados desse estudo mostram aumento significativo no uso do preservativo nos

últimos anos, mas também a necessidade de reflexões sobre políticas de acesso a informações

(35)

discussão em torno de ações que visem aumentar o uso do preservativo, especialmente entre

populações mais vulneráveis como mulheres em parcerias estáveis.

Para Finkler (2004), o uso do preservativo, método masculino, depende de acordo

prévio e explícito entre os parceiros, prática que não é tão usual entre homens e mulheres em

nosso cultura, marcada por questões de gênero que influenciam as possibilidades de

negociação e que estabelecem o masculino como ativo e o feminino como passivo, limitando

as possibilidades e deixando as mulheres em desvantagem.

Em seu artigo sobre conhecimento e percepção de risco da população brasileira sobre

o HIV e a aids, Ferreira (2008) observou que houve aumento no nível de informação da

população em relação ao uso de camisinha (69,2% para 90,2%), bem como sobre a utilização

de seringas e agulhas em situação de alto risco para contaminação. Em relação ao nível global

de informação sobre HIV e aids, o percentual de pessoas que atingiram o nível mínimo de

informação cresceu de 51,7% em 1998 para 57,2% em 2005, sendo que o diferencial existente

entre os jovens do sexo masculino e feminino quanto às formas de transmissão do vírus e

situações de risco desapareceu em 2005.

Os jovens brancos apresentaram aumento no grau de conhecimento em relação ao HIV

e a aids e pessoas mais escolarizadas também apresentaram maior nível de informação e

percepção de risco. Cresceu a proporção de pessoas que se mostraram mal informadas em

relação a determinadas questões, como o contato social com portadores do HIV e doentes de

aids. Ferreira (2008) conclui que, apesar do aumento no nível de conhecimento geral, esse

cenário evidencia a necessidade de novas ações e programas de prevenção ao HIV.

Para Fernandez e Horta (2005), com o surgimento da aids, a humanidade tem sofrido

grandes mudanças em sua sexualidade. Pontos de reflexão, como a prevenção, começaram a

surgir entre as pessoas, mas ainda se esbarra em muitos preconceitos e medos frente a uma

(36)

discutida francamente entre alguns casais. Com isso, muitos deles podem ser acometidos por

essa infecção, formando os pares discordantes ou sorodivergentes3.

Para Carvalho (2003), a intimidade entre as pessoas tem também sofrido alterações,

bem como a construção de crenças sobre a sexualidade, concepção de mulher e seus papéis.

Por combinar comportamento sexual e doença, a aids acarretou desafios para a ciência,

ampliou os movimentos sociais e conferiu maior visibilidade a questões relacionadas à

sexualidade (GALVÃO, 2000).

No estudo realizado por Paiva, Aranha e Bastos (2008) sobre o comportamento sexual

e as percepções da população brasileira sobre o HIV e a aids, foram abordadas questões sobre

sexualidade. Para os autores, compreender atitudes e valores em relação à sexualidade é

fundamental para se planejar iniciativas no campo da prevenção e da promoção da saúde, das

políticas públicas no campo da educação e nas iniciativas de proteção e promoção de direitos.

Vários estudos têm indicado que a religião, a família e os grupos aos quais as pessoas

pertencem, afetam suas atitudes e sustentam um conjunto de diferentes normas em relação à

sexualidade.

A pesquisa citada acima demonstrou que a maioria dos brasileiros entrevistados

escolheu como significado para o sexo a alternativa “sexo é uma prova de amor pelo parceiro”

(46,8% das mulheres e 39,0% dos homens). Além disso, o estado conjugal se confirmou como

aspecto importante do contexto que define a atitude das pessoas diante da vida sexual,

principalmente no que diz respeito ao uso de preservativo e à fidelidade. À medida que a

escolaridade e a renda familiar aumentaram, o sexo ganhou maior importância como fonte de

prazer e decresceu sua relevância enquanto função reprodutiva e prova de amor.

Ainda segundo esse estudo, 97,5% dos entrevistados foram favoráveis aos jovens de

15 a 19 anos serem informados pela escola sobre métodos contraceptivos e preservativo,

(37)

serviços de saúde e 83,6% na escola. A opinião favorável à fidelidade na vida a dois

correspondeu a mais de 90% das respostas em 1998 e permaneceu assim em 2005. O apoio à

masturbação masculina cresceu de 41,7% em 1998 para 56,3% em 2005 e à feminina também

(35,9% em 1998 e 54,3% em 2005). A proporção dos que indicaram tolerância ao sexo

homossexual também aumentou (5,2% em 1998 para 14,6% em 2005), embora ainda

represente a opinião de uma minoria.

A partir dos resultados dessa pesquisa, os autores concluíram que não é possível

consolidar as opiniões sobre monogamia, fidelidade conjugal, significado do sexo e algumas

práticas sexuais em apenas uma dimensão que explique as atitudes dos brasileiros em relação

à sexualidade. Os resultados confirmam que as referências normativas para a sexualidade são

produzidas pelos grupos sociais a que se pertence, sendo marcadas por questões de gênero,

faixa etária, escolaridade e renda.

Ferreira (2008) concorda com essa ideia quando diz que a construção do conhecimento

sobre aids não está restrita a questões informativas, mas envolve também a percepção

individual sobre o problema e que a construção desse conhecimento na adoção de práticas

protetoras é mediada por questões de gênero, classe social, raça e outros componentes sociais.

Nesse contexto, a família é um componente social importante na media em que

estabelece padrões de comportamento e de relacionamento que são significativos e vão desde

a escolha conjugal até as regras e mitos familiares estabelecidos e que irão guiar a sexualidade

do casal, bem como o uso do preservativo.

Para Ribeiro (1996), a importância da família na prevenção da aids é inquestionável

devido à sua influência nos comportamentos relacionados a saúde. Além disso, o

comportamento sexual de homens e mulheres é fundamental na prevenção da aids e a adoção

(38)

nível de conhecimento sobre sexo e aids, atitudes em relação à sexualidade e à doença e a

estrutura familiar.

Segundo Ayres (1999, apud FERREIRA, 2008), as condições que afetam a

vulnerabilidade individual são de ordem cognitiva (informação, consciência do problema e

das formas de enfrentá-lo), comportamental (interesse e habilidade para transformar atitudes e

ações a partir daqueles elementos cognitivos) e social (acesso a recursos e poder para adotar

comportamentos protetores).

Souza (1986, apud NICHIATA; SHIMA; TAKAHASHI, 1995) explica que relacionar

a doença à questão da sexualidade, leva à repressão sexual por um lado e, por outro, a

questões da moral, que por sua vez resulta em dois subprodutos extremamente danosos a

qualquer sociedade: a criminalização de um fenômeno de saúde e a marginalização de

pessoas afetadas por uma doença. Acrescenta que, além disso, a vinculação da doença com a

morte é um complicador importante na abordagem da aids, porque provoca pânico entre as

pessoas. Essas estratégias acabam por disseminar o preconceito e a negação do problema e,

portanto, são impeditivas de ação que ultrapassem o nível individual. Este entendimento

distorcido a respeito da doença tem contribuído para a falta de solidariedade e reforçado a

alienação da sociedade geral, constituindo-se, sobretudo, num dos motivos que retardou a

adoção de ações coletivas de intervenção.

Além disso, segundo Lazzarotto et al. (2008), ao longo de uma década houve aumento de

10,7 milhões para 14,5 milhões de pessoas com 60 anos ou mais infectados pelo HIV no mundo,

o que representa um aumento de 35,5%. Somado a isso, os recentes avanços da indústria

farmacêutica e da medicina, permitem o prolongamento da vida sexual ativa, associado à

desmistificação do sexo, tornando as pessoas da terceira idade mais vulneráveis às infecções

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