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A aids, como dito anteriormente, é uma doença de grupos humanos, relacionada com o comportamento sexual e que tem sua prevenção baseada no uso de preservativo e, principalmente na mudança de comportamento sexual. Tal mudança, conforme discutido, envolve questões complexas como papéis, gênero, comunicação, regras, mitos e crenças. Assim, a família é essencial nesse processo de mudança, uma vez que é responsável pela transmissão desses padrões de comportamento, contribuindo na formação de seus membros e no enfrentamento dos mesmos às doenças e dificuldades. Para Bucher-Maluschke (2008), a família representa apoio na prevenção de doenças e na promoção da saúde de seus membros.

Segundo Ribeiro (1998), a família deve ter sua participação considerada quando se pensar em prevenção da aids, devido ao seu papel na criação e influência de formas e normas de comportamento em geral, atitude e comportamento sexual, papéis e valores. A comunicação familiar tem papel importante na socialização sexual da criança, uma vez que é

no contexto social da família que a socialização inicial e sexual ocorre, determinando o contexto, o conteúdo informacional específico e o tom avaliativo do que o indivíduo aprende sexualmente. A comunicação familiar é responsável também pela transmissão de opiniões, crenças e atitudes, sendo a comunicação não verbal tão importante quanto a verbal.

Bucher-Maluschke (2008) afirma que qualquer doença causa transtornos tanto do ponto de vista intrapessoal quanto familiar. Se a doença é crônica, ou ainda, irreversível, as repercussões são maiores e até mais duradouras. Para Sontag (1989), as doenças que mais causam terror são as consideradas não apenas letais, mas também desumanizadoras e que refletem um processo subjacente e progressivo da dissolução da pessoa. O que mais se teme não é o sofrimento em si, mas o sofrimento degradante. E a aids leva a uma morte sofrida, tornando o indivíduo cada vez mais fraco. Além disso, a infecção pelo HIV pode ser encarada como irresponsabilidade ou delinquência, expondo a sexualidade da pessoa.

Segundo Bonuck (1993, apud RIBEIRO, 1996) o impacto psicossocial do HIV e aids sobre a família começa com a revelação da infecção. As respostas e sentimentos da família em relação às pessoas infectadas têm relação com a forma como a pessoa se infectou e incluem: estigma social e isolamento, medo de ser contaminado, medo de contaminar os demais, medo de abandono, culpa e fadiga psicológica e física. Tais medos podem dar lugar ao silêncio e à negação. Para Bucher-Maluschke (2008), no imaginário do HIV positivo, falar pode significar rejeição, pode indicar risco de perder seu trabalho ou pode revelar segredos da sua sexualidade.

Bucher-Maluschke e Roque (1993, apud RIBEIRO, 1996) afirmam que a angústia de abandono e a ruptura de relações interpessoais são fenômenos que acompanham a pessoa infectada pelo HIV. Observa-se uma união da família em torno do problema, a partir da vinculação entre aids, morte e perda. Para a autora, o trabalho com a família visa, então,

organizar o sistema de crenças, o sistema emocional e as ações e comportamentos que surgem no momento em que a doença se torna explícita.

A aids atinge não só o membro infectado pelo HIV, mas toda a família e veio transformar a percepção de muitas pessoas acerca da concepção de família e de sexualidade. Tem sido chamada a “doença do segredo”, existindo entre os membros da família os não- ditos, os silêncios, os segredos e até a mudança da nomenclatura da enfermidade. A base disso está em mitos individuais ou familiares, vinculados ao sexo, ao sangue, à morte e revelados pelos aspectos da transmissão. A confrontação da família em face da doença crônica, da morte e do sentimento de perda pode levá-la a reorganizar suas estruturas internas e a redefinir as relações de seus membros (BUCHER-MALUSCHKE, 2008).

Ainda segundo a autora, muitos membros demonstram sentimentos de preocupação, ansiedade, superproteção, carinho e amor no que diz respeito ao diagnóstico de aids e à família de origem. Quanto à família atual, verifica-se nos cônjuges e companheiros, preocupação, ansiedade e medo quanto à situação de saúde e diagnóstico. Para um casal, o anúncio do diagnóstico de HIV positivo de um dos cônjuges pode levar à ruptura, ou à consolidação da relação. Quando os dois recebem o diagnóstico, cada um deles vive uma situação de culpa e de questionamentos sobre quem transmitiu para quem.

Para Ribeiro (2000), o comportamento sexual de homens e mulheres é fundamental na prevenção da aids, sendo que o comportamento de risco ou não é influenciado por vários fatores, dentre os quais: conhecimentos sobre sexualidade e aids, atitudes em relação à sexualidade e à própria doença, estrutura familiar, comunicação entre pais e filhos, por exemplo. Sendo assim, a família precisa assumir a sua responsabilidade pela prevenção de doenças, comportamentos e estilo de vida que coloquem seus membros em situação de risco de vida. O papel da família na socialização sexual tem especial importância uma vez que é no lar que esta se inicia. Além disso, a educação sexual não se resume à transmissão de

informações e não envolve somente a comunicação verbal, estando relacionada com as atitudes dos pais em relação ao sexo e à própria sexualidade. Assim, a adequada educação sexual dos filhos depende do grau de superação por parte dos pais, dos tabus que cercam o comportamento sexual humano. Nesse sentido, o relacionamento sexual do casal é importante por representar um paradigma de relacionamento para os filhos. Como afirma Skinner (1979, apud RIBEIRO, 2000), a capacidade de cada indivíduo para relações, incluindo amor, casamento e parentalidade é determinada pelo repertório estabelecido nos modelos de relações internalizados.

A revisão bibliográfica aqui apresentada nos oferece subsídios para a formulação dos objetivos da pesquisa, que apresentaremos a seguir.

III-OBJETIVOS

1 – GERAL:

Conhecer e analisar algumas repercussões do HIV/AIDS no relacionamento conjugal e familiar de um casal heterossexual na idade madura.