• Nenhum resultado encontrado

Das ribeiras o tesouro, da receita o sustento: a administração da Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande (1606-1723)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Das ribeiras o tesouro, da receita o sustento: a administração da Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande (1606-1723)"

Copied!
227
0
0

Texto

(1)DAS RIBEIRAS O TESOURO, DA RECEITA O SUSTENTO: A ADMINISTRAÇÃO DA PROVEDORIA DA FAZENDA REAL DO RIO GRANDE (1606-1723). LÍVIA BRENDA DA SILVA BARBOSA. NATAL 2017.

(2) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – MESTRADO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: HISTÓRIA E ESPAÇOS LINHA DE PESQUISA: NATUREZA, RELAÇÕES ECONÔMICO-SOCIAIS E PRODUÇÃO DOS ESPAÇOS. DAS RIBEIRAS O TESOURO, DA RECEITA O SUSTENTO: A ADMINISTRAÇÃO DA PROVEDORIA DA FAZENDA REAL DO RIO GRANDE (1606-1723). LÍVIA BRENDA DA SILVA BARBOSA. NATAL 2017.

(3) LÍVIA BRENDA DA SILVA BARBOSA. DAS RIBEIRAS O TESOURO, DA RECEITA O SUSTENTO: A ADMINISTRAÇÃO DA PROVEDORIA DA FAZENDA REAL DO RIO GRANDE (1606-1723). Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção de título de mestre no Curso de Pós-graduação em História, Área de Concentração em História e Espaços, Linha de Pesquisa Natureza, relações econômico-sociais e produção dos espaços, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orientação da Profa. Dra. Carmen Margarida Oliveira Alveal e sob a coorientação do Prof. Dr. Mozart Vergetti de Menezes.. NATAL 2017.

(4) LÍVIA BRENDA DA SILVA BARBOSA. DAS RIBEIRAS O TESOURO, DA RECEITA O SUSTENTO: A ADMINISTRAÇÃO DA PROVEDORIA DA FAZENDA REAL DO RIO GRANDE (1606-1723). Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção de título de mestre no Curso de Pósgraduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela comissão formada pelos professores:. _________________________________________ Dra. Carmen Margarida Oliveira Alveal (UFRN) Orientadora. __________________________________________ Dr. Mozart Vergetti de Menezes (UFPB) Coorientador. __________________________________________ Dr. Helder Alexandre Medeiros de Macedo (UFRN) Avaliador interno. __________________________________________ Dr. Maximiliano Mac Menz (USP) Avaliador externo. __________________________________________ Dra. Juliana Teixeira Souza (UFRN) Avaliadora externa. Natal, 18 de setembro de 2017..

(5) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – CCHLA Barbosa, Lívia Brenda da Silva. Das ribeiras o tesouro, da receita o sustento: a administração da Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande (1606-1723) / Lívia Brenda da Silva Barbosa. - 2017. 227f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-graduação em História. Natal, RN, 2017. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Carmen Margarida Oliveira Alveal. Coorientador: Prof. Dr. Mozart Vergetti de Menezes. 1. Adminstração fazendária. 2. Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande. 3. Jurisdição. I. Alveal, Carmen Margarida Oliveira. II. Menezes, Mozart Vergetti de. III. Título. RN/UF/BS-CCHLA. CDU 94(81):35.

(6) CAPA: Foto de João Galvão (década de 1920). Foto do prédio construído no final do século XIX, que servia como Tesouraria da Fazenda, em seu lugar havia anteriormente o prédio do Erário Régio da capitania, construído no final do século XVIII. Localizado na Praça André de Albuquerque, abriga atualmente o Memorial Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte/Acervo digital da Secretaria de Mobilidade Urbana..

(7) Caravelas no mar a todo pano Terra à vista, a tripulação assanha Cachoeiras jorrando da montanha Quanta cor, quanta luz, quanto bichano Onça, paca, tatu, guará, tucano Cobra, mico, jacu, arara, aranha Peixe-boi, capivara e ariranha Que surpresa pro povo lusitano! Já valeu tanto tempo no oceano Pra pisar essa terra que ele banha Que riqueza a madeira dessa mata Pau-brasil, jatobá e gameleira Quanto ouro rolando a ribanceira Na pedreira, granito, ferro e prata Esmeraldas brotando em catarata Diamantes descendo em corredeira A borracha a escorrer da seringueira Índia nua nas águas da cascata É tesouro pra encher muita fragata Na fartura da terra brasileira E Cabral se lembrando da terrinha Dos banqueiros, nobreza, rei e escudo Enviou pra Lisboa o conteúdo Da poética carta de Caminha Sua Alteza gostou da ladainha Que o dinheiro investido foi graúdo E é fortuna demais pra botocudo A riqueza que a nova terra tinha Nem com quinhentos anos, ó Rainha Vai dar tempo da gente levar tudo (Descobrimento, Toquinho).

(8) Aos meus pais, meus maiores incentivadores. Minha gratidão aos meus guerreiros particulares, Iaracy e Valderi..

(9) AGRADECIMENTOS Sem dúvida, o momento de escrever os agradecimentos foi um dos mais esperados por mim, pois significa que consegui terminar este trabalho. Além disso, é um pequeno espaço destas poucas mais de 200 páginas dedicado com muito carinho e imensa gratidão a todos aqueles que me ajudaram nesta empreitada. Quando falo empreitada, me refiro não somente à dissertação em si, mas a todo o caminho que me levou à realização de um sonho que não é só meu. Por isso agradeço aos maiores responsáveis por esta realização, meus pais. A minha mãe, a mulher mais persistente que conheci em toda minha vida. Sem essa mesma teimosia eu não teria conquistado metade do que consegui. Ao meu pai, sonhador incurável, trabalhador de sol a sol. Sem seu modo de enxergar a vida sempre pelo lado bom e sem sua vontade para conseguir na força manter a família, eu sinceramente não sei o que seria de mim. Iaracy e Valderi foram os primeiros a sonhar por mim. São os representantes de uma geração que sequer cogitou entrar em uma universidade. De vocês, eu tenho um orgulho e gratidão que nenhum título, nenhum trabalho poderá pagar. Minha admiração por vocês é imensurável. A cada etapa, meus pais incentivavam ao ingresso em uma nova fase, da primeira graduação para a segunda, das graduações para o mestrado. Durante um bom tempo, se orgulharam até mais do que eu mesma das minhas escolhas. Em um país em que o trabalho de pesquisa, o do professor, não tem sido muito valorizado, justamente os meus pais, que não tiveram acesso à educação, foram os responsáveis pelo meu interesse nesse caminho árduo. Dedico a vocês o presente trabalho. Agradeço à professora Carmen Alveal que, desde 2013, quando adentrei a pesquisa, me ensinou muito, sempre disponível e atenta, contribuiu em grande medida para o meu crescimento no âmbito da pesquisa. Tenho muito que agradecer pelo acompanhamento e incentivo que recebi. Carmen tem sido uma grande orientadora, de quem sempre tive apoio para seguir no caminho da pesquisa. Ao professor Mozart Menezes, não poderia deixar de agradecer pelo acompanhamento, por e-mail, via Skype e, quando possível, pessoalmente. Em 2016, aceitou prontamente colaborar com a orientação do meu trabalho de mestrado. Agradeço pelas leituras cuidadosas e pela orientação que recebi. Contar com um professor que é referência nos estudos de Provedorias foi um aprendizado e tanto. Agradeço ao Laboratório de Experimentação em História Social da UFRN e a todos os seus membros. Grupo do qual faço parte desde 2013 e ao qual devo muito desta pesquisa. Sem dúvida,.

(10) o apoio de formação, estrutura e diálogo que tive no LEHS foi uma das bases fundamentais desta pesquisa. Foi no LEHS que aprendi o valor do diálogo, do debate e do trabalho coletivo. A todos os seus integrantes, o meu respeito e a minha grande gratidão. A trajetória de pesquisa e de estudos no curso de História me permitiu fazer grandes amizades. Não poderia deixar de agradecer a alguns dos colegas com quem pude contar nesses anos. Gratidão aos colegas de turma de mestrado Bruno Chaves – não só da turma de mestrado, mas grande amigo que conheci na graduação – e Júlio César, meus colegas de desesperos e de opiniões para escrita de todos os momentos. Também a Aledson Dantas, um excelente leitor e crítico dos meus capítulos. Outros grandes amigos, também colegas de pesquisa, Elenize Trindade, praticamente consultora do meu capítulo I, de quem recebi importantes críticas e sugestões. Além de ter sido minha amiga nas horas de medo, sempre com palavras positivas e de incentivo. Não poderia esquecer de Marcos Fonseca (Marquitos), meu amigo super-memória que sempre me enviava dicas de fontes, de bibliografia e a todo momento esteve disponível a ler o que escrevia. Ao Leonardo Paiva (Leo), pelo mesmo apoio que recebi, saliento a leitura atenta do meu capítulo II. A Patrícia Oliveira, Gustavo Melo, também minha gratidão. Eu poderia mencionar vários amigos e leitores atentos que me ajudaram ao longo da pesquisa e já peço desculpas se não mencionei nominalmente alguns. Ainda posso falar dos amigos que, a distância, me ajudaram. Ana Lunara e Arthur Curvelo, de longe, em terras lusitanas, foram sempre solícitos, muito obrigada. Do Ceará, agradeço a Gabriel Parente, pelas excelentes sugestões de fontes para o meu capítulo IV. Agradeço também a meus queridos amigos Rayane Ricelly, André Fellipe, Tamires Feliciano, Angélica Lopes, Alyne Américo, Angélica Thaís. Monique Rafaela, Kallyne Araújo, dentre tantos outros, colegas próximos que me apoiaram nesta trajetória. De maneira nenhuma poderia deixar de falar dos professores que contribuíram para a minha formação e alguns para a própria dissertação. Entre alguns, Carmen Alveal, como já mencionei, Raimundo Arrais, Raimundo Nonato, e ainda, Juliana Souza, que fez parte da minha banca de qualificação e de monografia, desta última, junto com Roberto Airon. Agradeço ainda ao professor Filipe Caetano, que também fez parte da minha banca de qualificação. Obrigada pelas críticas, pela atenção. Vocês foram fundamentais para a conclusão deste trabalho..

(11) Por fim, agradeço à CAPES, pelo financiamento desta pesquisa, muito importante para a viabilidade da dissertação. A todos, minha imensa gratidão..

(12) RESUMO. Este trabalho analisa, dentro da perspectiva da História administrativa e das instituições, o estabelecimento e a consolidação da administração fazendária na capitania do Rio Grande, por meio da ação dos oficiais da Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande, entre 1606 e 1723. O recorte temporal abarca a instalação de um elementar aparelho fiscal na capitania do Rio Grande, por volta de 1606, e a redução da área de jurisdição da Provedoria do Rio Grande, em 1723, à ocasião da criação da Provedoria do Siará Grande, antes espaço sob a competência da administração fazendária do Rio Grande. Nesse sentido, a instituição de um burocrático sistema fiscal na capitania do Rio Grande é compreendida como uma forma de a Coroa legitimar a presença de sua ação colonizadora em seus territórios ultramarinos. Da criação de um simples quadro de oficiais, no início do século XVII, à consolidação das zonas fiscais, as ribeiras da capitania, na transição do século XVII para o XVIII, estabeleceu-se em um organizado sistema administrativo. Desse modo, por meio de variados conjuntos documentais, analisou-se a fundação da Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande, a organização do seu quadro de oficiais a partir da segunda metade do século XVII, o processo de arrecadação realizado pela Provedoria do Rio Grande, bem como as suas circunscrições jurisdicionais. Por fim, será possível entender como, ao longo desse processo, consolidaram-se na capitania as zonas fiscais de arrecadação de tributos, construídas ao longo de décadas de atuação dos homens da Fazenda d’El rei no século XVII.. Palavras-chave: Administração fazendária; Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande; Jurisdição..

(13) ABSTRACT This work analyzes, from an institutional historical view, the establishment and consolidation of a financial administration in the Captaincy of Rio Grande, investigating its officers and their acts in Provedoria of Royal Treasury, between early 16th and 17th centuries. That temporal gap covers since the firsts tax enforcements at Rio Grande, c. 1606, the reduction of its jurisdiction, in 1723, to the foundation of a Royal Treasury in Siará Grande, previously administered by Rio Grande. Thus, settling a bureaucratic tax system in that captaincy, the crown tried to legitimate the control and colonization in overseas territories. From a simple officer corps, in early 17th century, to consolidation of tax districts (zonas fiscais), the capitaincie’s ribeiras, were established in a structured administrative system. Therefore, analyzing various administrative documents, this study try to understand the organization of Royal treasury in Rio Grande and the officer corp’s role, working for tax revenues, and the creation of Rio Grande’s jurisdiction. Finally, it was understood like, along a historical process, was established in that captaincy the tax districts, settled in by human labor at Royal Treasury, in 17th century.. Keywords: Treasury administration; Provedoria of Royal Treasury of Rio Grande; Jurisdiction..

(14) LISTA DE QUADROS Quadro I – Ofícios da capitania do Rio Grande (1606)....................................................................58 Quadro II – Despesas da capitania do Rio Grande (1607)................................................................60 Quadro III – Elementos da agricultura e produção no Rio Grande (1609).......................................64 Quadro IV – Detalhamento do quadro de filhos da folha no Estado do Brasil (1611/1612)....................................................................................................................................76 Quadro V – Detalhamento do quadro militar da capitania de Pernambuco (1612)........................ 80 Quadro VI – Oficiais fazendários nas capitanias do Estado do Brasil (1611/1612).........................82 Quadro VII – Despesas com os filhos da folha da capitania do Rio Grande (1612/1617)................84 Quadro VIII – Quadro administrativo da capitania do Rio Grande (c. 1620)................................. 85 Quadro IX – Quadro administrativo da capitania do Rio Grande (posterior a 1625)........................87 Quadro X – Provedores da Fazenda Real do Rio Grande (1663-1723).......................................... 99 Quadro XI – Almoxarifes da Fazenda Real do Rio Grande (1673-1723).......................................106 Quadro XII – Escrivães da Fazenda Real do Rio Grande (1673-1723)..........................................113 Quadro XIII – Porteiros da Fazenda Real do Rio Grande (1673-1723)........................................ 116 Quadro XIV – Informações dos oficiais da Fazenda do Rio Grande (1663-1723)........................ 119 Quadro XV – Arrecadação dos dízimos da Fazenda Real do Rio Grande (1660-1723)................ 125 Quadro XVI – Produtos almotaçados pela Câmara da cidade do Natal (1709-1759).....................127 Quadro XVII – Autos de arrematação da Provedoria do Rio Grande (1673-1723)....................... 136 Quadro XVIII– Lançadores e contratadores dos autos de arrematação da Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande (1673-1723).................................................................................................. 147 Quadro XIX – Informações dos homens dos contratos da Fazenda do Rio Grande (16731723).............................................................................................................................................152 Quadro XX – Distribuição de sesmarias na capitania do Siará Grande (1679-1759).....................173 Quadro XXI – Referências a pontos e espaços de arrecadação (1673-1723)................................ 178.

(15) LISTA DE GRÁFICOS Gráfico I – Relação das receitas e despesas no Estado do Brasil...................................................74 Gráfico II – Relação dos filhos da folha por capitania.....................................................................77.

(16) LISTA DE TABELAS Tabela I – Dados da administração e fisco no Estado do Brasil (16111612)...............................................................................................................................................72.

(17) LISTA DE IMAGENS Imagem I – Relações administrativas fazendárias da Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande..........................................................................................................................................168.

(18) LISTA DE MAPAS Mapa I – Caracterização da cidade do Natal (1609).........................................................................63 Mapa II – Marcos da formação da lógica das zonas fiscais da capitania do Rio Grande (16731723).............................................................................................................................................179 Mapa III – Projeção aproximada das ribeiras do Norte, do Sul, do Açú e do Apodi (c.1725)...... 184 Mapa IV – Dimensão aproximada das ribeiras do Rio Grande (1775)...........................................186.

(19) LISTA DE ABREVIATURAS AHU – Arquivo Histórico Ultramarino Cx. – Caixa D. – Documento DHBN – Documentos Históricos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro IHGRN – Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte LEHS-UFRN – Laboratório de Experimentação em História Social da UFRN SILB – Plataforma de Sesmarias do Império Luso-Brasileiro.

(20) MOEDAS E VALORES. Vintém ($020): vinte réis Tostão ($100): cem réis 100 réis: cem réis 100$000: cem mil réis Pataca ($320): trezentos e vinte réis Cruzado ($400): quatrocentos réis 1:000$000: um conto de réis.

(21) SUMÁRIO 1.. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 23. A PRIMEIRA FASE (c. 1606-1633).................................................................................. 40 2.. CAPÍTULO I – OS PRIMÓRDIOS DA FAZENDA REAL: ADMINISTRAÇÃO. E FISCALIDADE NA CAPITANIA DO RIO GRANDE, PERÍODO FILIPINO ....... 41 2.1 AS BALIZAS DE UMA ESTRUTURA FISCAL EM FORMAÇÃO .......................... 41 2.2 FASE INICIAL DE ESTABELECIMENTO: A FUNDAÇÃO DA PROVEDORIA DA FAZENDA REAL DO RIO GRANDE EM 1612? .............................................................. 50 2.3 POR MANDADO D’EL REI, PARA A ORDEM DA CAPITANIA: PERÍODO DE CONSOLIDAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO FILIPINA .................................................... 70 A SEGUNDA FASE (c. 1663-1723)) ................................................................................. 89 3.. CAPÍTULO. II. –. OS. HOMENS. DA. FAZENDA. D’EL. REI:. A. (RE)ESTRUTURAÇÃO DA PROVEDORIA DO RIO GRANDE E O SEU OFICIALATO, POST BELLUM ....................................................................................... 90 3.1 O QUADRO ADMINISTRATIVO ............................................................................... 92 3.1.1 Os provedores ............................................................................................................ 95 3.1.2 Os almoxarifes ......................................................................................................... 105 3.1.3 Os escrivães .............................................................................................................. 112 3.1.4 Os porteiros .............................................................................................................. 115 3.2 DINÂMICAS ADMINISTRATIVAS E SOCIAIS DOS OFICIAIS DA FAZENDA REAL DO RIO GRANDE ................................................................................................. 117 4.. CAPÍTULO III – DA INCERTEZA DOS RAMOS, DOS RUMOS DA. ARRECADAÇÃO: CONTRATOS E RENDAS DA FAZENDA REAL DO RIO GRANDE ........................................................................................................................... 123 4.1 A ARRECADAÇÃO .................................................................................................... 124 4.2 DO LANCE AO ARREMATE: RITUAIS .................................................................. 132.

(22) 4.2.1 O pregão público...................................................................................................... 133 4.2.2 Os ramos verdes em mãos ....................................................................................... 140 4.3 QUANDO ACABA O PREGÃO ................................................................................. 145 4.3.1 Os contratadores e as rendas .................................................................................. 146 A TERCEIRA FASE (c. 1723- [...])................................................................................. 157 5.. CAPÍTULO IV – NAS RIBEIRAS DA ARRECADAÇÃO: JURISDIÇÕES,. CIRCUNSCRIÇÕES ADMINISTRATIVAS E ZONAS FISCAIS DA PROVEDORIA DO RIO GRANDE ........................................................................................................... 158 5.1 ENTRE A PROVEDORIA-MOR E A PROVEDORIA DA FAZENDA REAL DE PERNAMBUCO: A COMPLEMENTARIEDADE DE GERENCIAMENTO ................. 159 5.2 A CIRCUNSCRIÇÃO SE (RE)FAZ ............................................................................ 171 5.3 DAS RIBEIRAS O TESOURO.................................................................................... 176 CONCLUSÃO................................................................................................................... 188 FONTES MANUSCRITAS ............................................................................................. 194 FONTES IMPRESSAS .................................................................................................... 198 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................. 201 APÊNDICES ..................................................................................................................... 209 APÊNDICE A .................................................................................................................... 210 APÊNDICE B ..................................................................................................................... 214 ANEXOS ........................................................................................................................... 223 ANEXO A .......................................................................................................................... 224 ANEXO B .......................................................................................................................... 225 ANEXO C .......................................................................................................................... 226 ANEXO D .......................................................................................................................... 227.

(23) 23. 1. INTRODUÇÃO O estabelecimento de instituições administrativas no Império ultramarino português foi uma constante durante os séculos de vigência da ação da Coroa em suas conquistas. Na capitania do Rio Grande não foi diferente. Entre avanços e percalços na conquista do território da capitania, os oficiais régios, agentes das instituições administrativas da Coroa, foram o braço do governo d’El rei, a atuação da monarquia portuguesa no além-mar. Este trabalho pretende estudar a ação de uma instituição administrativa específica da capitania do Rio Grande: a Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande. Instituição vinculada à provedoria-mor, na Bahia, cuidava dos assuntos fazendários, administrando o recolhimento de tributos e a aplicação das receitas da capitania. Por um lado, percebeu-se esse órgão administrativo como uma extensão do poder do reino de Portugal, bem como uma forma de a Coroa legitimar o papel da colonização por meio da organização administrativa do Estado do Brasil. Por outro lado, compreendeu-se como os vassalos no ultramar se apropriavam dos mecanismos da instituição. Este estudo está, portanto, ligado à perspectiva da História administrativa e concentrado na Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande. Nesse sentido, as próprias problemáticas deste trabalho se colocaram em consonância com essa perspectiva de análise. Durante todo o processo de pesquisa, as principais questões que circulavam – desde a tabulação de dados, análise de fontes à própria escrita – diziam respeito à forma como ocorreu a fundação da Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande, de que modo a instituição se estabeleceu na capitania e, principalmente, se a instituição passou por diferentes fases durante seu estabelecimento. Perpassando ainda, na análise desse processo, observou-se a questão sobre de que maneira a instalação da ação fiscal e fazendária na capitania contribuiu para a formação de uma sociedade colonial. As instituições, como Câmara, Igreja e militares tiveram influência no processo de efetivação da conquista e colonização do Rio Grande. A ação fazendária também teve o seu papel. Desde a instalação das primeiras bases fiscais até a expansão da fiscalidade para o interior, a área de alcance da Fazenda Real acompanhou o processo de colonização e conquista do Rio Grande. Houve a intenção de contribuir para a construção da História da Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande. Desse modo, compreender o processo de estabelecimento da Provedoria na capitania foi delimitado em alguns objetivos. Por meio de diferentes fontes, foi analisada a fundação da Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande, nas primeiras décadas do seiscentos..

(24) 24. Estudou-se a (re)organização do seu quadro de oficiais a partir da segunda metade do século XVII, quando ocorreu a retomada das atividades administrativas sob os auspícios da Coroa portuguesa, no período pós-ocupação holandesa. Foi feita a análise do processo de arrecadação realizado pela Provedoria do Rio Grande, bem como se intentou compreender as suas circunscrições jurisdicionais. O recorte temporal abarca o ano de 1606, provável ano do surgimento das primeiras bases do que viria a ser a Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande, atravessando seu processo de estruturação na segunda metade do século XVII e adotando como marco final o ano de 1723. Nesse ano, a área fiscal da Provedoria do Rio Grande, que se estendia até a capitania do Siará Grande, teve sua área de jurisdição reduzida, com a criação da Provedoria dessa capitania1. Considerando tais informações, este trabalho versa sobre o estabelecimento das bases administrativas fiscais da capitania do Rio Grande entre os séculos XVII e XVIII. A cada capítulo, foi preciso fazer escolhas de enfoque e, em alguns aspectos, foram lançadas hipóteses e possibilidades de pesquisa, para que fosse possível se concentrar nos objetivos do trabalho. Dessa forma, não apenas nesta introdução, como ao longo dos capítulos, tentou-se deixar claro quais foram as escolhas de pesquisa que precisaram ser feitas para viabilizar este trabalho. Tantas outras questões a respeito da Provedoria da Fazenda Real, de seus oficiais e da atuação fazendária na capitania foram apontadas como novas possibilidades de estudo a serem aprofundadas. A História da Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande pode surpreender o leitor, pois é mais antiga do que o seu próprio edifício sede, ainda existente no centro histórico da cidade do Natal. Hoje, talvez passe despercebido ao visitante do Memorial Câmara Cascudo (ver anexo A), localizado na Praça André de Albuquerque, centro da cidade, que está no local em que foi construído originalmente o prédio do Real Erário da capitania do Rio Grande, erigido em finais do século XVIII2. Mesmo com inúmeras fontes sobre essa instituição, a localização do prédio para antes da segunda metade do século XVIII – onde eram realizados os registros, guardados os livros de contas da Fazenda Real do Rio Grande – ainda não é tão exata. São diferentes as menções a espaços onde ocorriam os trâmites da Fazenda Real da capitania. O estudioso da arquitetura Rubenilson Brazão. 1 2. LYRA, Tavares de. História do Rio Grande do Norte. 3.ed. Natal, RN: EDUFRN, 2008. p.170. Ainda não foi possível descobrir a data exata de construção do prédio do Real Erário do Rio Grande..

(25) 25. Teixeira3 aponta que o atual Memorial Câmara Cascudo, construído em 1875, abrigou a Tesouraria da Fazenda, e que provavelmente em um período anterior à sua construção era o local do Erário régio, construído nos finais do século XVIII. A menção a um prédio da Alfândega e Contos foi feita por Olavo de Medeiros Filho, que aponta a localização para onde hoje fica o prédio da Pinacoteca do Estado (ver anexo B), antigo Palácio do Governo, próximo ao mencionado Memorial Câmara Cascudo4. Esse mesmo dado foi citado também pelo arquiteto Rubenilson Brazão, que aponta a casa da Alfândega e Contos Reais – que se acredita ser o local onde eram salvaguardados bens e valores da Fazenda Real – conhecida desde pelo menos 1755. Rubenilson Teixeira acrescentou que esse prédio poderia ser uma ampliação do Armazém construído nas proximidades da casa da Alfandega e Contos Reais. O Armazém continha um depósito de pólvora, alojamento de soldados, caderno e cofre da Fazenda Real, do qual a datação é mais antiga que a casa da Alfândega e contos, por volta de 17335. Fato interessante sobre isso é que existe, acerca do ano de 1715, uma vaga menção à “casa de Armazéns”, localizada na praça da cidade do Natal e, à época, utilizada como prédio da Provedoria6. A informação pode coadunar-se com a mencionada por Olavo de Medeiros Filho e Rubenilson Teixeira. As informações, aparentemente confusas, podem, na verdade, indicar que houve diferentes espaços para a realização de atividades de cunho fazendário na capitania. De qualquer forma, é possível concluir que o complexo administrativo da Fazenda Real, em termos de construções físicas, localizava-se na praça da cidade do Natal. Naquele período, além das atividades fazendárias, concentrava-se a Igreja Matriz e o Senado da Câmara do Natal7. Ao deter-se nas fontes produzidas pelos agentes dessa instituição, sabe-se que muito antes dessa data instituía-se a administração fazendária na capitania do Rio Grande. A existência de uma Provedoria da Fazenda Real está muito mais associada à ação de seus oficiais – a saber: provedor, escrivão, almoxarife e porteiro – do que a um local físico para a instituição. Natal, apesar de ser 3. TEIXEIRA, Rubenilson Brazão. Da cidade de Deus à cidade dos homens: a secularização do uso, da forma e da função urbana. Natal: Editora da UFRN, 2009. p. 528. 4 MEDEIROS FILHO, Olavo de. Terra Natalense. Natal: Fundação José Augusto, 1991. O historiador faz referência à carta passada ao padre Miguel Pinheiro Teixeira em 1755. As terras confrontavam com a Casa da Alfândega e Contos Reais. Ver: Fundo documental do IHGRN. Caixa 03 de Cartas e provisões do Senado da Câmara. Livro 10 (17551760). fl. 38. 5 TEIXEIRA, Rubenilson Brazão. Da cidade de Deus à cidade dos homens: a secularização do uso, da forma e da função urbana. Natal: Editora da UFRN, 2009. p. 528. 6 AUTO da arrematação dos dízimos da capitania do Rio Grande (1715). Fundo documental do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Caixa nº 49. fl. 22 - 69. 7 TEIXEIRA, Rubenilson Brazão. Da cidade de Deus à cidade dos homens: a secularização do uso, da forma e da função urbana. Natal: Editora da UFRN, 2009. p. 528..

(26) 26. cidade, ainda era um pequeno povoado, quando, em 1612, o rei Filipe II, por meio de um regimento, ordenava ao governador-geral, Gaspar de Sousa (1612-1617), que fosse estabelecido para a capitania um provedor da Fazenda, cabeça da hierarquia administrativa de uma provedoria da Fazenda Real. Data, portanto, ainda do período inicial da colonização da capitania do Rio Grande, o embrião da sua Provedoria da Fazenda Real8. A análise da Provedoria do Rio Grande é feita em duas áreas de estudo que, em grande medida, cruzam-se: a administração e a fiscalidade no período colonial. O trabalho de análise da composição de uma instituição fazendária toca em muitos aspectos da fiscalidade e da administração. Assim, para construir parte da História dessa instituição, foi possível valer-se de documentos que registravam os trâmites administrativos, a nomeação de oficiais e os registros contábeis. Entre esses registros, o contato com dados quantitativos, principalmente as rendas da Fazenda, foi constante. É muito comum associar esses dados à História Econômica e, de fato, é possível realizar estudos nesse campo a partir dos dados fazendários. Quando se trata de arrecadação, não se fala de números puros e simples. Aqueles valores têm origem na dinâmica de produção local, pois são resultado de configurações socioeconômicas. Situações de boa ou má arrecadação podem ser explicadas por diversas conjunturas econômicas. Ademais, a própria Fazenda Real foi criada em função de interesses de controle das rendas e ganho da Coroa em relação ao Estado do Brasil. Em Fiscais e meirinhos, por exemplo, a Provedoria é compreendida como um órgão administrativo que funcionava em coerência com a política econômica portuguesa. A Fazenda estava a serviço do controle das atividades mercantis e da transferência da renda da colônia para o Estado, agindo como uma das extensões dos interesses econômicos do reino9. Na primeira metade do século XX, os estudos de História Econômica do Brasil consolidaram-se em uma série de obras que são atualmente consideradas clássicos da historiografia brasileira. Ao inaugurar uma sequência de densos estudos sobre os elementos que constituíram as estruturas econômicas do Brasil colonial, Roberto C. Simonsen elaborou, na década de 1930, a sua História Econômica do Brasil10. Referenciando as políticas econômicas implementadas por Portugal no Brasil, o autor foi um dos que iniciou as interpretações acerca do monopólio colonial.. 8. REGIMENTO de Gaspar de Sousa In: MENDONÇA, Marcos Carneiro de. Raízes da formação administrativa do Brasil. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1972. p. 415-416. 9 SALGADO, Graça (coord.). Fiscais e meirinhos: A administração no Brasil Colonial Op. Cit., p. 83. 10 SIMONSEN. Robert C. História Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969..

(27) 27. Na década de 1930, Simonsen já fazia a aproximação entre a fiscalidade e a economia. Evidenciou os valores arrecadados pela Coroa, o controle da exportação e, em linhas gerais, fez constatações a respeito das receitas e despesas do Estado do Brasil nos seus primeiros séculos de colonização11. Caio Prado Júnior, por sua vez, propôs a leitura da formação do Brasil a partir de uma visão marxista. Caio Prado concluiu que, diferentemente da Europa, o Brasil não experienciou a transição do feudalismo para o capitalismo, e sim bases na economia voltadas para o monopólio de Portugal, constituindo-se como colônia de exploração12. Além disso, no aspecto da fiscalidade, Caio Prado foi um dos primeiros historiadores a explicar os parâmetros da organização administrativa fazendária do Brasil Colônia13. O autor afirmou que a administração portuguesa estendeu ao Brasil seu sistema administrativo, “não trazendo nada de novo para a colônia”. Assim, interpretando como “inovações insignificantes”, o exemplo fracassado da criação das capitanias donatárias. Ademais, tratou a respeito do cargo de governador. Segundo o autor, o governador se apresentava como uma “figura híbrida”, e suas jurisdições e funções administrativas não foram muito bem delimitadas. Entretanto, o caso fazendário poderia apresentar alguma diferença do reino, especificamente no aspecto da arrecadação, com a definição de formas diferenciadas para ela14. Acredita-se que, quando Caio Prado enfatizou esse aspecto, como uma leve diferença entre administração do reino e do Estado do Brasil, estava abordando o método dos contratos. Nesse sistema de contratos, particulares faziam em nome da Coroa a arrecadação de tributos15.. 11. Idem, p.50-60. Pode-se mencionar ainda o trabalho de Celso Furtado, na década de 1950, como seu livro Formação Econômica do Brasil, que também foi responsável por fazer uma análise das estruturas sociais e econômicas que teriam formado o Brasil colonial. Em um estudo que perpassa pelos primeiros séculos de colonização, ao considerar o processo de conquista como resultado de uma necessidade de expansão do mercado europeu, o autor tratou sobre aspectos da pecuária, do extrativismo do ouro, da produção do açúcar e da sua relação com a mão de obra escrava. Ver: FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. 13 PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. RICUPERO, Bernardo. Caio Prado Jr.: o primeiro marxista brasileiro. Revista USP, número 38, São Paulo: USP,1999. 14 PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo Op. cit. p. 320, 321, 341. 15 Os estudos do campo da História Econômica passaram a seguir uma linha diferente dos trabalhos anteriores, que estavam baseados em grandes modelos explicativos e principalmente voltados para a relação colônia-metrópole. Assim despontaram análises mais específicas, voltadas para espaços mais reduzidos do Brasil colônia. A preocupação com as dinâmicas internas da colônia pode ser exemplificada por meio dos trabalhos: LINHARES, Maria Yedda Leite. História do abastecimento: uma problemática em questão (1530-1818). Brasília: Binagri, 1979. SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Companhia das letras, 1998. FERLINI, Vera Lucia Amaral. Terra trabalho e poder: o mundo dos engenhos no Nordeste colonial. Brasília: Editora Brasiliense, 1988. CARRARA, Ângelo Alves. Agricultura e pecuária na capitania de Minas Gerais. (1674-1807). UFRJ, Rio de Janeiro, 1997 (Tese de doutorado). FURTADO, Júnia Ferreira. Homens de negócios: a interiorização da metrópole e do comércio nas Minas setecentistas. São Paulo: Hucitec, 1999. 12.

(28) 28. Essa ligação entre a fiscalidade e a economia é uma possibilidade de pesquisa levada em consideração para o caso da capitania do Rio Grande. Entretanto, utilizar os dados provenientes da Fazenda Real para esse fim exigiria um conhecimento do funcionamento da própria instituição. Afinal, como seria utilizar informações das quais não se sabe sobre sua origem e funcionamento? O que era a Provedoria da Fazenda Real? Como surgiu e se estabeleceu? Como eram os aspectos do seu funcionamento? Essas indagações já eram, desde o começo da pesquisa, por volta de 2013, grandes questões a serem respondidas. Os primeiros contatos com a bibliografia e com a enorme gama documental a respeito da Fazenda Real foram possibilitados graças ao trabalho no Laboratório de Experimentação em História Social. Desde 2013, a aproximação constante com a documentação, bem como o diálogo com as principais produções recentes sobre o Rio Grande do Norte colonial, a capitania do Rio Grande, advindas muitas vezes dos membros do próprio Laboratório, foram fundamentais para as conclusões aqui apresentadas. Além de algumas conclusões, tem-se apontamentos para pesquisas futuras que poderão contribuir em grande medida para a construção de um arcabouço sólido da historiografia em âmbito local e para o diálogo com as produções nacionais. Desse modo, é fundamental salientar que, apesar das possibilidades de análise em uma perspectiva econômica, o que se faz aqui é uma História administrativa da instituição da Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande e da ação de seus oficiais desde sua formação, por volta de 1606, até o início de outra nova fase para a instituição, em 1723, quando sua configuração jurisdicional mudou significativamente. Começar a construir a história da ação dos homens da Fazenda do Rio Grande, registrada em uma série de documentos burocráticos da Fazenda Real, ainda era necessário. Apesar da variada documentação que sobreviveu por séculos de existência – os livros de registros de arrematação de tributos, os de receitas, de despesas, de nomeações de oficiais e de comunicação de seus oficiais com as autoridades da Coroa, entre outros – espalhada em diferentes arquivos, entre eles o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN)16, o Arquivo Histórico Ultramarino (AHU) e os Documentos Históricos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (DHBN), o que se produziu até agora sobre a Provedoria do Rio Grande foi muito pouco. Até mesmo a historiografia potiguar do século XX relegou a rápidas menções da instituição. Ocorre que, de forma mais sistemática, nada se produziu sobre a Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande.. 16. Os livros de registro da Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande, provenientes do IHGRN, estão digitalizados no servidor do LEHS-UFRN (Laboratório de Experimentação em História Social da UFRN)..

(29) 29. Este trabalho parte de um desafio, que é começar a constituir a História da administração fazendária da capitania do Rio Grande. Foi pelo estudo dessa variada documentação e das rápidas notas feitas pela historiografia clássica do Rio Grande, como Tavares de Lyra, Luís da Câmara Cascudo e Olavo de Medeiros Filho, que esta pesquisa foi feita17. Mesmo quando se trata da historiografia produzida em outras localidades, o que se tem sobre estudos de fiscalidade para o Brasil ainda é pouco. Consideram-se os estudos sobre as Provedorias de outras capitanias, tomando como base o funcionamento dessas instituições em outras localidades para possíveis comparações18. Trabalhar com estudos sobre fiscalidade e administração requer um frequente diálogo com outras pesquisas que versam sobre o tema. No caso da Provedoria do Rio Grande, a ausência de estudos sobre ela aumenta a necessidade dessa busca, além do interesse em enriquecer esta análise que circulou por diferentes perspectivas e trabalhos que tratavam sobre fiscalidade, administração fazendária, jurisdições, instituições administrativas. Além das fontes, as leituras bibliográficas foram importantes para compor a estrutura do texto e as opções metodológicas, bem como para auxiliarem nas conclusões e hipóteses apresentadas. Desse modo, conhecer sobre o sistema fazendário do Estado do Brasil foi uma busca constante. Angelo Alves Carrara estudou as provedorias da Fazenda Real. O autor afirmou que a fiscalidade foi um dos elementos de maior importância nas relações entre Portugal e suas colônias. Para o autor, as provedorias eram fundamentais para constatar os ganhos da Coroa. Os administradores da Real Fazenda seriam responsáveis por responder quanto custou à Coroa, ganhou-se ou simplesmente manteve-se o que se havia conquistado19. Nesse sentido, o autor. 17. CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal. Natal: IHG/RN, 1999. LYRA, Tavares de. História do Rio Grande do Norte. Natal: EDUFRN, 2008. MEDEIROS FILHO, Olavo de. Aconteceu na capitania do Rio Grande. Natal: IHG/RN. 18 CARRARA, Angelo Alves. Receitas e despesas da Real Fazenda no Brasil, século XVII. Juiz de Fora: UFJF, 2009. MENEZES, Mozart Vergetti de. Colonialismo em ação: Fiscalismo, Economia e Sociedade na Capitania da Paraíba (1647-1755). João Pessoa: Editora da UFPB, 2012. SILVA, Daniele Ferreira da. Colonialismo e fiscalidade na capitania de Pernambuco (1770-1793), 2011. 113 p. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Pernambuco. SILVA, Clarissa Costa Carvalho e. Nos labirintos da governança: a administração fazendária na capitania de Pernambuco. 2014. 140 p. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Pernambuco. 19 Conforme Carrara, em uma metrópole com muitas conquistas “a aritmética financeira imperial era de um tipo particular: o que importava ao final do dia não era tanto o rendimento individual de uma de suas colônias, mas o balanço das receitas e despesas do conjunto delas, porquanto em uma se podia perder o que com outra se compensava”. CARRARA, Angelo Alves. Receitas e despesas da Real Fazenda no Brasil, século XVII. Juiz de Fora: UFJF, 2009. p. 8.

(30) 30. compreende que a administração fazendária era importante para constatar se havia equilíbrio entre o custo e benefício angariado pela metrópole nas colônias. Carrara considerou que conhecer a contabilidade colonial relacionava-se à balança econômica, ou seja, a soma da despesa e da receita. Essa ideia é partilhada por Luciano Figueiredo ao afirmar que “a diferença, no caso de superávit, isto é, do que a colônia estivesse conseguindo capitalizar para a metrópole, necessita ser considerada no tocante à redistribuição do excedente econômico [...]”, e era preciso saber o que ficava na colônia, o que era remetido à metrópole e o que retornava à colônia como investimento20. Helen Osório ressaltou que a prática da Coroa em conceder a particulares o direito de cobrar tributos era uma forma de desonerar-se dos custos da montagem de um aparelho burocrático mais amplo, bem como de “poder contar por antecipação, com uma renda certa”. Isso era possível, pois esses contratadores assumiam a responsabilidade de arrematar determinado tributo, por geralmente três anos, pagando antecipadamente à Coroa um valor definido. Ao ir além da perspectiva dos ganhos da Coroa, Osório analisou também os benefícios que esses sujeitos tinham ao se envolverem com tal prática. Em seu texto, a autora afirma que “os contratadores não lucravam apenas com a diferença entre o preço do contrato, os seus gastos de arrecadação e o produto arrecadado”21. No Rio Grande do Sul, os contratadores conseguiram usufruir de mecanismos concedidos pela Coroa, como o estabelecimento de lojas próximo aos locais de cobranças dos tributos. Nelas, os contratadores faziam comércio de bens para assistirem as tropas e os peões que por ali passavam. Além disso, eram pessoas ligadas ao comércio de inúmeros produtos na América portuguesa, conseguindo, em meio às práticas fiscais, montar redes comerciais que, em alguns casos, alcançavam diferentes pontos do Império. Este texto é importante a fim de pensar para além dos “ganhos” da Coroa com a máquina fiscal, pois permite perceber como os sujeitos envolvidos com o fiscalismo na colônia utilizavam-se do sistema administrativo organizado pela Coroa em benefício próprio22. 20. FIGUEIREDO, Luciano Raposo de Almeida. Tributação, sociedade e a administração fazendária em Minas no século XVIII. Anuário do Museu da Inconfidência. Ouro Preto, 1993. Vol. 9. p. 96 apud CARRARA, Angelo Alves. Receitas e despesas da Real Fazenda no Brasil, século XVII. Juiz de Fora: UFJF, 2009. 21 OSÓRIO, Helen. As elites econômicas e a arrematação dos contratos reais: o exemplo do Rio Grande do Sul (século XVIII). In: BICALHO, Maria Fernanda; FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima (Orgs.). O Antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2001, p. 109-110. 22 Ibidem, p. 123..

(31) 31. Mozart Vergetti de Menezes analisou, em sua tese de doutoramento, a Provedoria da Fazenda Real da Paraíba. O autor construiu a trajetória da dita provedoria desde a sua reestruturação, após a expulsão dos holandeses, adotando como marco 1647, até a sua anexação à provedoria de Pernambuco, em 1755. Menezes considerou que o funcionamento da Provedoria da Paraíba se reiniciou como “espólio da conquista”23. Aqueles que haviam combatido na ocupação holandesa em prol da Coroa tentaram, em meados dos seiscentos, obter mercês régias, como propriedades de ofício na capitania. Nesse contexto, em um jogo de concessão de mercês e interesse da Coroa pelo controle das rendas, foi montado o quadro principal dos oficiais da Provedoria da Paraíba24. Menezes considerou a possibilidade de conquistar ofícios por meio de mercês como resultado de uma série de negociações e conquistas de alguns sujeitos que pertenciam a famílias de antigos colonos da Paraíba e como demonstração de uma “fissura aberta entre as ordens da Coroa e os ditames do costume local, [e ainda como] [...] estratégias para tirar vantagem da moldura institucional patrimonialista”. Para o autor, isso não fere o poder central da metrópole frente à colônia. Essa fissura aberta “não se caracterizava como um vazio do poder”, pois, ao final das diferentes relações que se mantinham entre colônia e a metrópole, imperava o cumpra-se do poder real25. Mozart Menezes analisou ainda os tributos arrecadados pela Provedoria da Paraíba, traçando o processo de enfraquecimento da autonomia da capitania frente à sua paulatina dependência das rendas de Pernambuco, quando, em 1755, a Coroa declarou a falência da Provedoria da Paraíba e a tornou anexa de Pernambuco na sua jurisdição fazendária. O autor compreende esse processo como uma cada vez maior centralização da metrópole sobre a máquina fiscal da Paraíba, como o combate ao controle patrimonial da Fazenda. A maior centralização é explicada pelo autor como uma tentativa da Coroa em gerir a provedoria por princípios burocráticos, exemplificados na inserção de provedores letrados de posse trienal a partir de 1733,. 23. MENEZES, Mozart Vergetti de. Colonialismo em ação: Fiscalismo, Economia e Sociedade na Capitania da Paraíba (1647-1755). João Pessoa: Editora da UFPB, 2012. p. 68. 24 Entre a posse de ofícios analisados pelo autor, pode-se mencionar a de escrivão, concedido em 1653, a Lopo Curado Garro, e o de provedor concedido a Manuel Queiroz de Siqueira em 1647. MENEZES, Mozart Vergetti de. Colonialismo em ação Op. cit. p. 68-77. 25 Ibid., p. 72..

(32) 32. quando teve fim a propriedade do oficio26. Assim, Menezes reiterou o controle metropolitano nas relações que perpassavam na colônia. Os estudos sobre as provedorias são escassos, mas, nos últimos anos, alguns trabalhos de mestrado vêm sendo desenvolvidos e têm contribuído para a constituição de uma história da fiscalidade das Capitanias do Norte. Além da já mencionada tese de doutorado de Mozart Menezes, que contribuiu em grande medida para a compreensão das relações de poder e do funcionamento da administração fazendária da capitania da Paraíba, para a capitania de Pernambuco, pode-se mencionar dois trabalhos, a saber: a dissertação de mestrado de Clarissa Costa Carvalho e Silva e a de Daniele Ferreira da Silva, que tratam sobre a fiscalidade na capitania de Pernambuco durante um período de grandes mudanças na administração fazendária no Estado do Brasil 27. Ao estudar a fiscalidade no período pombalino, as autoras abarcam o período de transição das provedorias reais para as juntas da fazenda. Essas instituições foram sendo criadas em substituição às provedorias a partir de 1761. Quando da criação do Erário Régio, as instituições fazendárias ficaram vinculadas diretamente ao reino, diferentemente do período anterior, no qual eram ligadas à Provedoria-mor, na Bahia. Desse modo, dentro da linha dos estudos sobre a fiscalidade no Estado do Brasil, este trabalho surge como um desafio de contribuir, na perspectiva de um estudo local, para a consolidação da temática dentro da História colonial. Busca-se, por meio do estudo da fundação da Provedoria, sua estruturação e seu estabelecimento, bem como por intermédio de análises sobre a ação de um corpo de oficiais da Real Fazenda na capitania, compreender as jurisdições da Provedoria do Rio Grande. Assim, ao longo deste texto, utilizou-se alguns conceitos que auxiliaram na interpretação das fontes e constituição dos capítulos. Entre eles, o conceito de espaço foi sempre compreendido com uma categoria não meramente objetiva, mas, como discutido por Ana Cristina Nogueira e António Manuel Hespanha, realidade construída, em meio às ações humanas. Dessa forma, poderiam se constituir diferentes tipos de espaços, hierarquizados e significados de acordo com as. 26. Ibid., p. 113. SILVA, Daniele Ferreira da. Colonialismo e fiscalidade na capitania de Pernambuco (1770-1793). 2011. 113 p. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Pernambuco. SILVA, Clarissa Costa Carvalho e. Nos labirintos da governança: a administração fazendária na capitania de Pernambuco. 2014. 140 p. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Federal de Pernambuco. 27.

(33) 33. necessidades humanas28. Partindo desse conceito central, foram utilizados outros que se relacionavam diretamente com a História administrativa e fiscal. Da interação entre espaços administrativos, a complementariedade de gerenciamento foi um conceito muito interessante que surgiu da análise das especificidades da capitania do Rio Grande no que concerne à administração fazendária. Emergiu, portanto, por meio do estudo dessa conjuntura, o conceito de complementariedade de gerenciamento. Essa ideia constituiu-se de forma original, exclusivamente com base na condição da estrutura administrativa na qual se inseria a Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande, a partir da segunda metade do século XVII. Uma instituição subordinada à Provedoria-mor, mas que, ao mesmo tempo, mantinha relações administrativas com a Provedoria de Pernambuco e era responsável pela administração da arrecadação da capitania do Siará Grande. Condição esta que inseria os oficiais da Provedoria em interação com diversas instâncias administrativas. Desse modo, a ideia de que essas instâncias funcionavam de forma a se complementarem, com a finalidade de que a administração funcionasse, foi considerada, dando origem a um conceito próprio que se denominou de complementariedade de gerenciamento. Outro conceito importante foi a circunscrição jurisdicional, utilizado por António Manuel Hespanha e Ana Cristina Nogueira, que correspondia à área de competência de uma instituição, como o bispado e a freguesia no contexto eclesiástico e as comarcas, no jurídico29. Assim, a circunscrição jurisdicional dos oficiais da Fazenda do Rio Grande era subdividida nas ribeiras, as zonas fiscais de arrecadação de tributos. O conceito de zonas fiscais, para referir-se à lógica de arrecadação em ribeiras (termo que aparece nas fontes documentais), foi adaptado da expressão zonas econômicas, utilizada por António Manuel Hespanha ao referir-se à relação entre espaço e produção econômica30. No capítulo I, são evidenciados os primeiros indícios da administração fazendária na capitania do Rio Grande. De forma inicial, instituiu-se a Fazenda Real na capitania entre os anos de 1606 e 1612. Na primeira parte do capítulo I, com base principalmente no Regimento dos. 28. HESPANHA, António Manuel & NOGUEIRA, Ana Cristina Nogueira. O quadro espacial. In: MATTOSO, José (Org.). História de Portugal. Lisboa: Editorial Estampa, 1993. p. 35-37. 29. Idem. HESPANHA, António Manuel. As vésperas do Leviathan: instituições e poder político, Portugal-Séc. XVII. Coimbra: Almedina, 1994. p. 88-89. 30.

(34) 34. provedores de capitanias e do Regimento do provedor-mor31, bem como da bibliografia que versa sobre o tema, há análise de como se estabeleceu no Estado do Brasil a Provedoria-mor, em 1548. Em seguida, investigou-se como, nas primeiras décadas do século XVI, ainda no início do seu processo de colonização, fundou-se na capitania do Rio Grande uma lógica administrativa fazendária. Reconstituir os primórdios da Fazenda Real do Rio Grande foi um desafio. A tarefa foi feita com base em uma série de documentos que ofereciam indícios do estabelecimento de oficiais fazendários no Rio Grande e da existência de uma dinâmica fazendária na capitania, nas primeiras décadas do século XVI. Para isso, os principais documentos utilizados foram uma série de relatórios feitos durante o período filipino com informações referentes às questões de Fazenda e ao quadro administrativo no Rio Grande. Salienta-se o relatório de 1606, elaborado pelo governador-geral Diogo Botelho (16021608), com informações a respeito dos ofícios e dos valores de compra das capitanias do Estado do Brasil. Nesse relatório, estavam incluídas menções ao Rio Grande32, informações que foram importantes para problematizar a própria origem da Fazenda Real do Rio Grande. Por meio desse relatório, foi iniciada a investigação da formação dos quadros administrativos fazendários do Rio Grande. O relatório do sargento-mor Diogo Campos Moreno, elaborado em 1609, Relação das praças e fortes e coisas de importância que Sua Magestade tem na Costa do Brasil, foi importante para confirmar que havia um almoxarife e um escrivão da Fazenda no Rio Grande. Assim, a análise das fontes contribuiu para a definição da primeira fase de organização da administração fazendária no Rio Grande. O período entre 1606 e 1612 foi denominado como fase inicial de estabelecimento33. O início de uma nova e importante fase, o período de consolidação na administração filipina, foi analisado por meio de dois principais documentos. O primeiro, o Regimento de Gaspar. 31. REGIMENTO do provedor-mor; REGIMENTO dos provedores da Fazenda. In: MENDONÇA, Marcos Carneiro de. Raízes da formação administrativa do Brasil. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1972. p. 91-98; 99116. 32 Biblioteca da Ajuda (Cód. 51-VI-54), fls. 160-165 apud PÉREZ, José Manuel Santos. Visita, residência, venalidade: as “práticas castelhanas” no Brasil de Filipe III. In: MEGIANI, Ana Paula Torres; PÉREZ, José Manuel Santos; SILVA, Kalina Vanderlei (Org.). O Brasil na Monarquia Hispânica (1580-1668): Novas interpretações. São Paulo: Humanitas, 2014. 33 RELAÇÂO das praças e fortes e coisas de importância que Sua Magestade tem na Costa do Brasil, por Diogo Campos Moreno, 1609. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. PT/TT/MR/1/68. FALCÃO, Luís de Figueiredo. Livro em que se contém toda a fazenda e real patrimônio dos reinos de Portugal, Índia e ilhas adjacentes. Lisboa: Imprensa Nacional, 1839, p. 27-29..

(35) 35. de Sousa, passado por Filipe II (1598-1621), em 1612, que ordenava a nomeação de um provedor para a capitania do Rio Grande, instituindo a formação de um corpo de oficiais fazendários na capitania34. Além dessa fonte, foram analisados dados do Livro que dá razão do Estado do Brasil, um relatório feito, nesse mesmo período, sob a encomenda de Filipe II, com informações detalhadas dos gastos com oficialato das capitanias do Rio Grande, Paraíba, Itamaracá, Pernambuco, Ilhéus, Bahia, Sergipe e Porto Seguro35. Assim, foi feito um levantamento minucioso dos dados das receitas e despesas dessas capitanias, contidos de forma descritiva no documento. Pretendeu-se compreender como no início do século XVII a recém-criada Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande estava posicionada nos aspectos fiscais e administrativos em relação aos das outras mencionadas capitanias ainda antes da ocupação holandesa. Um estudo sobre os homens que ocuparam as funções da Fazenda Real, em suas trajetórias, detalhando esses primeiros quadros de oficiais da Provedoria do Rio Grande, não foi o objetivo do capítulo I. Primeiro, por um limite das fontes, que, apesar de trazerem informações como folhas de pagamento, não mencionaram nominalmente esses oficiais em nenhum momento. A dificuldade de fontes para esse fim foi a primeira limitação. Além disso, estudos em moldes prosopográficos, redes de interesses, não foram o intuito desta abordagem. Essa perspectiva de análise exigiria um enfoque específico nessa linha metodológica. Assim, as tentativas de montar os quadros administrativos fazendários do Rio Grande são direcionadas para o entendimento da estrutura de funcionamento, ou seja, como se caracterizava a composição do quadro fazendário, quais eram os ofícios que o compunham e suas competências. No capítulo II, é caracterizada a estruturação do quadro de oficiais da Provedoria da Fazenda Real do Rio Grande no post bellum. Um dos caminhos para compreender o processo de (re)estruturação da Fazenda Real do Rio Grande foi justamente verificar a remontagem de seus quadros de oficiais. Nesse recorte (1663-1723), as fontes de nomeação de ofício e os próprios documentos dos trâmites internos da Fazenda Real eram disponíveis, sendo possível, diferentemente da fase anterior (1606-1633), no período pré-holandês, reconstituir nominalmente esse quadro. Para os provedores, foi possível levantar, desses fundos documentais, informações a partir do ano de 1663, no mandato de Paulo Pereira de Miranda, seguindo-se a análise até o ano de. 34. REGIMENTO de Gaspar de Sousa In: MENDONÇA, Marcos Carneiro de. Raízes da formação administrativa do Brasil. Op. cit., p. 415-416. 35 LIVRO que dá razão do Estado do Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro/Ministério da Educação e Cultura, 1968..

(36) 36. 1723, fim do recorte desta pesquisa, na gestão de José Soares. Já para os outros oficiais, como escrivão, almoxarife e porteiro, as informações são mais esparsas. Recorrendo-se aos livros de registro da Fazenda Real, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, foi possível reunir os nomes desses oficiais, para então fazer o cruzamento de dados. Dessa vez, foram incluídas algumas informações que caracterizavam esses oficiais. Diferentemente do caso dos capitães-mores do Rio Grande, nenhum levantamento dos oficiais da Provedoria do Rio Grande havia sido feito antes. Enquanto alguns autores do século XX, como Tavares de Lyra e Vicente de Lemos, haviam tratado sobre os capitães-mores do Rio Grande entre os séculos XVII e XVIII36, sendo possível de imediato obter seus nomes, mandatos e algumas informações de trajetória, as quais foram importantes como ponto de partida na remontagem desse quadro, observando que a situação era bem diferente para o caso da Provedoria do Rio Grande. Até então, nenhum levantamento parecido havia sido feito na historiografia, partindo-se, então, do zero. Foi necessário buscar por nomeações, menções a esses oficiais em fontes da Provedoria do Rio Grande, livros do Senado da Câmara e registros de sesmaria. Com um cruzamento dessas informações, tentou-se delimitar os mandatos dos oficiais da Fazenda do Rio Grande entre 1663 e 1723. Trabalho de busca feito não somente para os provedores, como ainda para almoxarifes, escrivães e porteiros. É indubitável que algumas lacunas ainda existam, mas ao final do levantamento foi possível montar o quadro de todos esses oficiais e aproximar seu período de atuação nas suas funções. Além disso, observou-se sua circulação entre a Provedoria do Rio Grande e a Câmara do Natal, bem como se esses indivíduos haviam recebido sesmarias na capitania. Para todo esse levantamento, foram utilizados documentos do Arquivo Histórico Ultramarino, dos Documentos Históricos da Biblioteca Nacional, referentes a nomeações dos Provedores da Fazenda Real do Rio Grande. Nos autos de arrematação, o registro dos pregões dos contratos da Fazenda, foram observadas as assinaturas dos oficiais da Provedoria, com o intuito de fechar lacunas para ofícios dos quais não foram identificadas as nomeações. Além disso, os dados de sesmarias, obtidos na Plataforma SILB37.. 36. LEMOS, Vicente de. Capitães-mores e Governadores do Rio Grande. Volume I. Rio de Janeiro. 1912. LEMOS, Vicente de. Capitães-mores e Governadores do Rio Grande. Volume II. Rio de Janeiro. 1912. LYRA, Tavares. História do Rio Grande do Norte. 3.ed. Natal, RN: EDUFRN, 2008. 37 A Plataforma SILB (Sesmarias do Império Luso-Brasileiro) é uma base de dados que pretende disponibilizar online as informações das sesmarias concedidas pela Coroa Portuguesa no mundo atlântico. Disponível em < www.silb.cchla.ufrn.br>..

Referências

Documentos relacionados

Este trabalho tem como objetivo contribuir para o estudo de espécies de Myrtaceae, com dados de anatomia e desenvolvimento floral, para fins taxonômicos, filogenéticos e

(2019) Pretendemos continuar a estudar esses dados com a coordenação de área de matemática da Secretaria Municipal de Educação e, estender a pesquisa aos estudantes do Ensino Médio

A versão reduzida do Questionário de Conhecimentos da Diabetes (Sousa, McIntyre, Martins &amp; Silva. 2015), foi desenvolvido com o objectivo de avaliar o

8- Bruno não percebeu (verbo perceber, no Pretérito Perfeito do Indicativo) o que ela queria (verbo querer, no Pretérito Imperfeito do Indicativo) dizer e, por isso, fez

A Sementinha dormia muito descansada com as suas filhas. Ela aguardava a sua longa viagem pelo mundo. Sempre quisera viajar como um bando de andorinhas. No

a) Carlos mobilou o consultório com luxo. Indica o tipo de sujeito das seguintes frases.. Classifica as palavras destacadas nas frases quanto ao processo de formação de palavras..

5- Bruno não percebeu (verbo perceber, no Pretérito Perfeito do Indicativo) o que ela queria (verbo querer, no Pretérito Imperfeito do Indicativo) dizer e, por isso, fez

Os navegadores foram surpreendidos pela tempestade – oração subordinante Que viajavam para a Índia – oração subordinada adjetiva relativa