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Geozine: linguagem para o ensino do conteúdo de região na geografia escolar

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Academic year: 2021

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ANTONIO MARCOS GOMES DA SILVA

GEOZINE: LINGUAGEM PARA O ENSINO DO CONTEÚDO DE REGIÃO NA GEOGRAFIA ESCOLAR

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, Mestrado Profissional (GEOPROF) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para obtenção do título de Mestre em Geografia.

Orientadora: Dr.ª Eugênia Maria Dantas

NATAL-RN

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GEOZINE: LINGUAGEM PARA O ENSINO DO CONTEÚDO DE REGIÃO NA GEOGRAFIA ESCOLAR

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, Mestrado Profissional (GEOPROF) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para obtenção do título de Mestre em Geografia.

Aprovada em: 22/08/2018

BANCA EXAMINADORA

___________________________________ Dr.ª Eugênia Maria Dantas (Orientadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

____________________________________ Dr. Alessandro Dozena

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

____________________________________ Dr. Emerson Ribeiro

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Às Marias Luiza e Clara, minhas filhas. Ao José, meu pai. Ao Severiano e Bárbara, meus avós paternos (in memoriam). A Regina, minha mãe. Ao ‘Seu Nêgo’ (in memoriam) e Beatriz, meus avós maternos.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora professora Doutora Eugênia Maria Dantas pelo suporte teórico, dicas metodológicas e pela disponibilidade em nos orientar, além do incentivo na escrita poética e estética que saem das amarras do pensamento formal. Suas palavras e visão “complexa” do pensamento contribuem na reinvenção do professor. Admiração pelo seu trabalho e intelectualidade.

Aos cuidados dos que direta e indiretamente contribuiriam na realização desse sonho, pois, um dos filhos da classe trabalhadora em retorno de onde saiu se refaz um ser melhor.

Ao meu irmão Abel Gomes da Silva, de quando em 2009, disponibilizou de seus poucos recursos do ofício de mecânico para pagar o vestibular em Geografia na Universidade Regional do Cariri (URCA). Hoje com saudosismo me recordo das manhãs pós-carnaval, Natal e Ano Novo que nós, por ironia do destino e capricho do sistema capitalista saíamos nas ruas do bairro Triângulo em Juazeiro do Norte-CE para “catar” as latas de alumínio e sucatas - lixo aos olhos da sociedade, mas sobrevivência para nós - para nos alimentarmos e alimentar os nossos irmãos mais moços. Recordo-me, ainda, daquelas férias escolares onde fomos ao Estado de Pernambuco, na localidade de Tabocas em Exu para procurar a melissa nos “monturos” para também manter o nosso sustento e bancar os aluguéis de nossa casa. Compreendi contigo o que significa classe social, hombridade, ternura, afeto e respeito.

Aos membros da banca de qualificação de mestrado professor Doutor Alessandro Dozena, pela sensibilidade e sugestão de leituras e das reflexões profícuas na disciplina de “Geografia e Relações Étnico-Raciais”, soube de seus escritos através de outro grande ser humano o professor Doutor Alex Ratts da Universidade Federal de Goiás (UFG); ao professor Doutor Pablo Sebastian Moreira Fernandez pela sugestão no aprofundamento sobre linguagem no ensino de Geografia, descobertas foram feitas ao longo desse processo, gratidão!

Ao amigo e colega do Departamento de Geociências (DEGEO) da URCA, professor Doutor Emerson Ribeiro por fazer parte da defesa de mestrado, pois seus escritos sobre as instalações geográficas apresentam contribuições à Geografia.

Aos membros do Conselho Municipal de Educação de Juazeiro do Norte-CE, pela acolhida e disponibilidade dos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas

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campo da pesquisa para consulta, nas pessoas das Professoras Rosinha e Edna Belém.

A professora Ana Maria e sua equipe, gestora, do Ensino Fundamental II da Secretaria Municipal de Educação de Juazeiro do Norte pelo levantamento dos dados referentes aos professores e escolas municipais.

Aos colegas da segunda turma do GEOPROF (UFRN) especialmente ao professor e amigo Francisco das Chagas Nascimento Ferreira e sua família pela acolhida ao estranho em vosso lar.

Aos professores Ivison do Nascimento Freire Lopes, Maria Valdemiza de Brito e Maria de Fátima Alves Pereira pela disponibilidade de participarem da pesquisa, bem como o envolvimento na oficina, Geozine: linguagem didática ao ensino de Geografia. Às escolas Mário da Silva Bem, Zila Belém e José Geraldo da Cruz que abriram as portas para a efetivação da pesquisa.

Aos membros do Grupo de Estudos em Geografia (GESTEGEO), criado após a Medida Provisória-MP 746 de 2017, e ao Laboratório em Ensino de Geografia (LEG) da URCA pelas discussões e provocações em relação ao Ensino de Geografia. Aos colegas que fazem parte da Comissão de ensino, do DEGEO URCA, pelas sugestões, sobretudo a professora Maria Soares da Cunha. À Professora Maria de Lourdes Carvalho Neta por ter me propiciado fazer parte do universo acadêmico na concessão de uma bolsa no Laboratório de Geoprocessamento-(LABGEO).

À professora, Mestre e amiga Antônia Carlos da Silva, coordenadora do LEG, e orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia na URCA, pela leitura atenta no texto inicial e final da dissertação, bem como na sutiliza das sugestões de melhoramento e aos empréstimos de livros para consulta em relação ao ensino de Geografia. Seu olhar no ensino é motivador.

Aos alunos colaboradores do projeto de extensão desenvolvido na Escola Mário da Silva Bem - Geozine: linguagem, metodologia e ensino de Geografia - Cícero Antônio Jatanael da Silva Tavares, Bruno Matheus de Melo Silva e Ana Nádia Vieira de Oliveira pelas reflexões e atividades desempenhadas, e principalmente pela construção afetiva.

Aos alunos da Educação Básica e aos futuros professores de Geografia da URCA, as nossas prosas em versos nos propuseram novos olhares sobre o mundo. Que o Geozine seja o que dizem!

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Negro Drama, Onde jaz meu coração? No pequeno mapa do tempo Ao som dos galos noites e quintais. A esperar por notícia de terra civilizada, pois a vida é desafio.

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RESUMO

Esta dissertação tem como temática a linguagem no ensino de Geografia. Surge da seguinte problemática: quais as concepções teórico-metodológicas relacionadas à região que estão presentes no ensino de Geografia? Como o Geozine pode se constituir um artefato de combinações de linguagens diversas para o ensino de região, articulando diferentes escalas espaciais? As questões apresentadas nos conduzem a compreender o ensino do conteúdo de região, no âmbito do 7º ano, considerando o uso de diferentes linguagens em escolas públicas da cidade de Juazeiro do Norte. Metodologicamente realizou-se pesquisa exploratória em documentos como Projetos Políticos Pedagógicos-PPP, Regimentos Escolares-RE e o livro didático de Geografia utilizado nas escolas; fizemos observações e registros das aulas dos professores que ministram a disciplina de Geografia no 7º ano sobre o conteúdo regional com o propósito de identificar como se dá o uso das linguagens no ensino de região. A partir dessa exploração pudemos verificar lacunas quanto ao uso de linguagens diversas e situar o Geozine como uma linguagem que combina esteticamente diferentes elementos artísticos, textos em prosa e versos, imagens, colagens, que amplia as condições metodológicas para o ensino de Geografia. O Geozine é uma metodologia de ensino a partir da combinação que usa a arte e as linguagens criadas pelos alunos, onde o professor é o mediador que se refaz enquanto educador no recorte na sala de aula na medida em que potencializa a constituição do conteúdo no seu fazer pedagógico. Para dar consistência teórica ao trabalho foram importantes as contribuições de Deleuze e Guatarri (2001) e Vygotsky(1998) sobre conceito e sua formação na mente humana; Cavalcanti (1998) no entendimento dos conceitos na escola, e Couto (2006) como se forma o conceito, Magalhães (2013) sobre os fanzines; Mikhail Bakhtin (1981), Chauí (2001) na discussão sobre linguagem; e Costa (1971 e 1972) e os seus estudos sobre a linguagem didática, e Pontuschka, Paganelli e Cacete (2007) na perspectiva do uso das linguagens na Geografia escolar; Oliveira Junior (2017) e Ferraz (2017) no entendimento de Geografia a partir das linguagens como possibilidade de refletir o espaço geográfico.

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ABSTRACT

This thesis provides as thematic the language in the Teaching of Geography. It arises from the following issue: what conceptions theoretical and methodological related to the region they are present in the Teaching of Geography? How Geozine canbe as various linguistic artifacts for the teaching of region, articulating different spatial scales? The issues raised lead us to understand the teaching about region, in the 7th grade, considering the use of different languages in public schools of the city of Juazeiro do Norte. Methodologically, an exploratory research was conducted in documents such as Pedagogic Political Project-PPP, School’s Regiment and Geography textbook used in schools; The classes of seventh grades geography teachers, about region were observed and recorded for the purposes of identify how the use of the language in region teaching happens. From this exploration we observed some gaps as the use of several languages and we present Geozine such as language integrates with different artistic elements, texts in prose and verse, pictures, collages, that improve didactic- methodical conditions in the Teaching of Geographyin perfect harmony in terms of aesthetics. Geozine is a teaching methodology stemming from the mixture of art and a language crieted by the students, whose teacher is the mediator as the educator that organises the classroom, as long as potencializes the constituition of contente pedagogical. Giving theoretical consistency in this work the important contributions of Deleuze and Guatarri (2001) and Vygotsky (1998) about concept formation in the human mind; the question of the concept of region in geographic science and the relationship with teaching in the School, by Cavalcanti (1998) and Couto (2006), Magalhães (2013) about fanzines; Mikhail Bakhtin (1981), Chauí (2001) in discussions about language; and Costa (1971 and 1972) and his studies about didactic, and Pontuschka, Paganelli and Cacete (2007) in the stand point of the use of languages in School geography; Oliveira Junior (2017) and Ferraz (2017) in the view of the Geography from the languages.

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Lista de siglas e abreviaturas

Base Nacional Comum Curricular (BNCC) Conselho Nacional de Educação (CNE) Conselho Municipal de Educação (CME) Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) Educação de Jovens e Adultos (EJA) Floresta Nacional do Araripe (FLONA)

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Lei de Diretrizes e Bases (LDB)

Mestrado Profissional em Geografia (GEOPROF) Ministério da Educação (MEC)

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) Projeto Político Pedagógico (PPP)

Regimento Escolar (RE)

Secretaria Municipal de Educação (SEDUC)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Universidade Regional do Cariri (URCA)

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Lista de ilustrações

Mapa 1 Localização do munícipio de Juazeiro do Norte-CE ... 20 Mapa 2 Localização das escolas pesquisadas... 27

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Lista de figuras

Figura 1: Escola Mário da Silva Bem ... 29

Figura 2 Escola Professora Zila Belém ... 32

Figura 3 Escola José Geraldo da Cruz ... 35

Figura 4 Livro de Geografia ... 39

Figura 5 Conteúdos escolares... 40

Figura 6 O livro é currículo ... 40

Figura 7 Conteúdos geográficos ... 48

Figura 8 O ensino do mapa com o mapa ... 49

Figura 9 Ensino sobre a região Norte ... 51

Figura 10 Os conteúdos do livro permeiam as escolas ... 54

Figura 11 O conteúdo sistematizado na sala de aula ... 55

Figura 12 Aprendizagem em Geografia ... 62

Figura 13 O espaço do Sertão no ensino de Geografia ... 64

Figura 14 O Cariri Cearense no currículo escolar ... 66

Figura 15 A região do Meio Norte ... 68

Figura 16 As sub-regiões do Nordeste ... 69

Figura 17 Simulado do conteúdo ... 69

Figura 18 A região Sudeste ... 71

Figura 19 Experenciação do Geozine no IV EREPEG, 2018 ... 86

Figura 20 A arte no Geozine ... 90

Figura 21 (Re)significando o mundo ... 93

Figura 22 Materialização artística no Geozine ... 95

Figura 23 Conteúdo: industrialização brasileira ... 97

Figura 24 Preparação do ambiente, alunos do IFCE, Juazeiro do Norte-CE ... 98

Figura 25 Corte e recorte ... 99

Figura 26 Entender para pensar e dar sentido ... 100

Figura 27 Compartilhando ações ... 101

Figura 28 Alimentando dúvidas, XII Semana de Geografia URCA ... 102

Figura 29 A montagem do Geozine pelo professor ... 105

Figura 30 O Cariri Cearense no Geozine ... 106

Figura 31 A composição imagética ... 107

Figura 32 Do pertencimento às manifestações e cultura popular ... 108

Figura 33 Região Nordeste: temáticas diversas ... 109

Figura 34 Para além do visível ... 110

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 14

2 ESCOLAS E OS PROFESSORES DE GEOGRAFIA DO ENSINO FUNDAMENTAL II ... 19

2.1 Conteúdos da Geografia escolar no currículo ... 22

2.2 Aspectos gerais das Escolas, campo da pesquisa ... 27

2.2.1 Escola Mário da Silva Bem...28

2.2.2 Escola Professora Zila Belém...31

2.2.3 Escola José Geraldo da Cruz ... ...34

2.3 “Expedições geográficas”, o livro didático de Geografia e a abordagem regional no 7º ano ... 36

2.3.1 Conteúdo regional nas aulas de Geografia na Escola Professora Zila Belém 46 2.3.2 Conteúdo regional nas aulas de Geografia na Escola Mário da Silva Bem 53

2.3.3 Conteúdo regional nas aulas de Geografia na Escola José Geraldo da Cruz 64 3 DO IMAGINÁRIO AO REAL: A REGIÃO COMO CONTEÚDO PARA ENSINAR GEOGRAFIA ... 73

3.1 Uso de linguagens no ensino da Geografia escolar ... 79

4 LINGUAGEM DO GEOZINE: EXPERENCIAÇÃO PARA ENSINAR GEOGRAFIA ... 86

4.1 Geozine à prática docente ... 103

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 113

REFERÊNCIAS ... 117

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho surge da necessidade de reinventar a nossa prática em relação ao ensino de Geografia, mediante as experiências na escola básica e no curso de licenciatura em Geografia, da Universidade Regional do Cariri (URCA). Como professor dessa área e coordenador pedagógico estive sempre envolvido nas questões relativas à didática e na organização do bem ensinar. Nesse sentido, a inserção no Programa de Mestrado Profissional em Geografia (GEOPROF) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (URFN), se configurou como uma oportunidade para sistematizar aspectos dessa prática associando-as às reflexões teóricas tendo em vista que na maioria das vezes a rotina cotidiana docente não possibilita.

Esse contexto me levou a querer entender a relação teoria-prática na docência, sendo que para isso verticalizei o estudo para explorar como a metodologia se apresenta numa estratégia importante na tessitura da linguagem didática. A didática mais do que uma técnica se constituía uma experiência com o uso de diferentes linguagens e nisso se configurava um desafio, posto que, o caminho para ensinar não estava pronto, mas refém do painel de linguagens que o professor pode usar em sala de aula. Como experimentar essas linguagens que tem a pluralidade como caminho?

A incursão sobre esse universo remeteu ao encontro da poesia, do texto científico, da fotografia, da canção, da literatura cordelista, da interpretação das sextilhas dos cantadores de viola e da xilogravura como meio para relacionar os conteúdos de Geografia na base da experimentação artística. Um campo vasto se descortinou e requereu a necessidade de buscar uma estratégia em que o ensino pudesse ser conduzido pela aproximação dessas diferentes linguagens estruturando o conteúdo geográfico.

Assim, emerge o Geozine como uma linguagem que encontra outras linguagens, e nisso se torna uma possibilidade de ampliação para refletir o espaço geográfico, bem como ensinar Geografia.

A partir desse recorte que articula linguagem, didática e Geozine quis aprofundar a compreensão a respeito da habilidade do professor associada às realidades vivenciadas nos espaços da sala de aula. Ensinar exige, dentre outras coisas, observar as orientações curriculares e a partir delas traçar caminhos para a

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aprendizagem dos alunos. Assim, ensinar é agir sobre o dado, recriando-o, tornando, nesse caso, o currículo um dispositivo aberto à dinâmica da sala de aula.

No ensino básico, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) de Geografia para o Ensino Fundamental II orientam que os conteúdos relacionados aos conceitos de paisagem, lugar, região, território devem ser direcionados de modo a garantir que os alunos desenvolvam habilidades de raciocinar espacialmente e que possam analisar o espaço na sua totalidade evitando a fragmentação (BRASIL, 1998).Nesse sentido, tomando os PCN’s1 como uma orientação para a organização

curricular, o ensino do conteúdo conceitual de região aparece com ênfase no 7º ano do Ensino Fundamental II.

Do que está indicado como conteúdo conceitual a ser explorado no ensino básico, nesta pesquisa priorizamos o viés regional, porque compreendemos que a região é uma escala para a análise geográfica que combina um campo diverso de experiências e que se apresenta difuso em representações e linguagens didáticas. Além disso, o município de Juazeiro do Norte no estado do Ceará está inserido em um espaço geográfico cuja matriz regional se configura emblemática na elaboração de um conjunto de linguagens que tratam da região, para além dos registros acadêmicos e escolares.

A partir dessas referências pesquisei como ocorre o uso das linguagens e dos recursos didáticos utilizados pelos docentes para ensinar o conteúdo de região. Neste contexto, essa dissertação contém sistematizações que visam responder aos seguintes questionamentos: quais as concepções teórico-metodológicas relacionadas à região que estão presentes no ensino de Geografia? Como o

1Os conteúdos balizares para os currículos das escolas pesquisadas são referenciados nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), no entanto, quando da realização dessa pesquisa estava acontecendo a atualização do currículo tendo como suporte a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)que muda significativamente a estrutura dos conteúdos escolares em detrimento dos PCN’s. Na BNCC são indicados os seguintes conteúdos em Geografia para o 7º ano: “No 7º ano, os objetos de conhecimento abordados partem da formação territorial do Brasil, sua dinâmica sociocultural, econômica e política. Objetiva-se o aprofundamento e a compreensão dos conceitos de Estado-nação e formação territorial, e também dos que envolvem a dinâmica físico-natural, sempre articulados às ações humanas no uso do território. Espera-se que os alunos compreendam e relacionem as possíveis conexões existentes entre os componentes físico-naturais e as múltiplas escalas de análise, como também entendam o processo socioespacial da formação territorial do Brasil e analisem as transformações no federalismo brasileiro e os usos desiguais do território. Nesse contexto, as discussões relativas à formação territorial contribuem para a aprendizagem a respeito da formação da América Latina, em especial da América portuguesa, que são apresentadas no contexto do estudo da geografia brasileira. Ressalta-se que o conceito de região faz parte das situações geográficas que necessitam ser desenvolvidas para o entendimento da formação territorial brasileira.” (BRASIL, 2017, p.380)

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Geozine pode se constituir um artefato de combinações de linguagens diversas para o ensino de região, articulando diferentes escalas espaciais?

O Geozine é uma metodologia de ensino desenvolvido a partir da combinação que usa a arte e as linguagens criadas pelos alunos, onde o professor é o mediador que se refaz enquanto educador no recorte na sala de aula na medida em que potencializa a constituição do conteúdo no seu fazer pedagógico.

As questões apresentadas nos conduzem a compreender o processo de ensinar sobre o conteúdo de região, no âmbito do 7º ano, considerando o uso de diferentes linguagens em escolas públicas da cidade de Juazeiro do Norte. Para tanto, foram importantes os objetivos específicos: identificar a situação do ensino de Geografia no que diz respeito à abordagem regional, os recursos didáticos utilizados, as concepções que se fazem presentes no ensino de Geografia; relacionar linguagens elaboradas sobre o Cariri Cearense aplicadas no âmbito do ensino do conteúdo de região; e desenvolver o Geozine como uma linguagem que possibilita o encontro com linguagens diversas para o ensino de região o que favorece a articulação de diferentes escalas espaciais.

Buscou-se discutir sobre o papel das linguagens no processo de ensinar Geografia e do conteúdo de região e explicitar as estratégias metodológicas desenvolvidas por docentes para ensinar sobre o referido conteúdo. Da pertinência do tema e das dificuldades enfrentadas pelos professores propusemos a confecção e uso da linguagem didática e metodologia do Geozine para o ensino do conteúdo de região. Nesse contexto, foi importante nos inteirarmos de como ocorre o ensino desse conteúdo nas aulas de Geografia no 7º ano nas escolas Professora Zila Belém, Mário da Silva Bem e José Geraldo da Cruz.

Nas observações das aulas, nessas escolas, os materiais didáticos que auxiliam a prática do professor estão pautados no livro didático de Geografia, na oralidade e na lousa, na sistematização dos conteúdos. Diante dessa constatação percebeu-se uma lacuna, justamente na utilização de linguagens diversificadas. Para contribuir com a diminuição das dificuldades encontradas, desenvolvemos os Geozines.

Para o desenvolvimento do trabalho foi realizada pesquisa qualitativa e exploratória na área (escolas) campo de estudo com levantamento da quantidade de professores que atuam na Secretaria Municipal de Educação (SEDUC), por área de atuação no Ensino Fundamental II; análise da Lei de Diretrizes e Bases

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(LDB)9.394/96, dos PCN’s de Geografia para o Ensino Fundamental e Projetos Políticos Pedagógicos (PPP’s), Regimento Escolares (RE’s); e, observações das aulas de Geografia do 7º ano ministradas pelos professores e o uso de caderno de campo; “análise de documentos” dentre os quais os currículos explicitados nos documentos oficiais, e análise do livro didático de Geografia adotado no 7º ano.

O total de profissionais que ministram aulas de Geografia no Ensino Fundamental II são 73 (setenta e três), conforme (JUAZEIRO DO NORTE, 2017). No campo das observações foram analisadas as aulas de 03 (três) professores que ministram a disciplina de Geografia no 7º ano. Com as observações nas escolas, realizamos oficina com os professores da pesquisa intitulada: Geozine: linguagem didática e metodologia de ensino de região na Geografia.

A realização desse estudo tem relevância para a Geografia escolar, pois, ao refletir sobre a ação do professor de Geografia, abrem-se espaços para o reconhecimento das práticas em curso, pensando em possibilidades metodológicas que contribuam na melhoria da prática docente. Além disso, a proposta de discutir o ensino do conteúdo de região e a comunicação geográfica pelas linguagens didáticas é também uma forma de pensarmos sobre a pertinência dos processos metodológicos na ação do professor.

O ensino do conteúdo de região pode ser articulado à dimensão local, a partir da organização de estratégias que combinem a exploração de linguagens e recursos didáticos conectados aos objetivos planejados pelo professor. Desta feita, estamos colocando o Geozine como uma estratégia que pode ser utilizada para o ensino de Geografia. Como o Geozine contribui para os futuros professores ensinar sobre o conteúdo mencionado?

Os Geozines fazem parte de nossa ação didática, na URCA, no curso de licenciatura em Geografia, a partir da disciplina de Prática Curricular II: conceitos do ensino e da pesquisa em Geografia. Nessa disciplina fazemos com os alunos da licenciatura reflexões sobre o ensino de Geografia, na nossa prática usamos das linguagens poéticas, imagéticas, musicais para tratar dos conceitos e categorias que fazem parte do escopo da análise da Geografia. O curso é de licenciatura e a pretensão em primeiro lugar é de formar professores, portanto, quanto mais atividades associadas ao trabalho docente no sentido de conectar teoria e prática, mais os alunos veem sentido no porquê de aprender os conceitos e o porquê devem

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ensinar esses conceitos na escola. Os Geozines são confeccionados com esse propósito de conectar teoria e prática.

O Geozine fornece subsídios metódicos para o pensamento espacial geográfico. Enquanto linguagem à Geografia escolar funciona como possibilidade de abordagem para se ensinar conteúdos geográficos.

O trabalho está organizado em 03 três capítulos. O capítulo: Escolas e os professores de Geografia do Ensino Fundamental II apresenta os aspectos gerais das escolas da pesquisa; expõe a análise do livro didático de Geografia e a abordagem regional no 7º ano; faz uma discussão do conteúdo regional em sala de aula considerando as práticas docentes em Geografia nas escolas.

O capítulo: Do imaginário ao real: a região como conteúdo para ensinar Geografia, faz a reflexão sobre o conceito de região à luz da Geografia acadêmica, relacionando-o ao contexto da Geografia escolar onde se configura como conteúdo. Sequencialmente trata do uso de linguagens no ensino da Geografia escolar.

O capítulo: Linguagem do Geozine: experenciação para ensinar Geografia, aborda a concepção da linguagem didática do Geozine como potencial para ensinar Geografia. Neste sentido, é apresentada a confecção de Geozines como itinerário metodológico. Nas considerações finais, é feito um relato de como atingiu-se os objetivos, apontando o Geozine como possibilidade para o ensino na Geografia escolar.

Na abertura dos capítulos e dos subcapítulos há epígrafes com versos e Geocrônicas autorais. O trabalho é destinado àqueles que acreditam no ensino e na mudança social a partir da sala de aula. Geozine-se!

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2 ESCOLAS E OS PROFESSORES DE GEOGRAFIA DO ENSINO FUNDAMENTAL II

Na madrugada Busco as ideias. Elas teimam em não vir. Meninas mesquinhas e fúteis, eu quero desistir. Meu coração acelera, a mão adormece, quero ficar. Preciso ir. Caí na risada, te juro não consegui. A rima não saiu. Mas quem disse que poema deve ter rima? Que história! Bom mesmo é doce de leite com coco. (SILVA, 2018)

Juazeiro do Norte é um município localizado no Sul do estado do Ceará como apresenta o mapa 01. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua população no ano de 2010 era 249.939 (duzentos e quarenta e nove mil, novecentos e trinta e nove) habitantes e com uma estimativa de 270.383 (duzentos e setenta mil, trezentos e oitenta e três) habitantes para 2017.

O sistema educacional desse município surge ainda quando o lugarejo era conhecido por “Fazenda Tabuleiro Grande”, na segunda metade do século XIX, sob os cuidados de Padre Pedro Ribeiro de Carvalho2.

Em 2017 o sistema educacional público de Juazeiro do Norte3 contava com

95 (noventa e cinco) escolas de Ensino Infantil e Fundamental, sendo essas mantidas pela prefeitura e vinculadas à Secretaria Municipal de Educação.

2Ver: OLIVEIRA, Amália Xavier de Oliveira. O Padre Cícero e o problema educacional de Juazeiro. In:____________O Padre Cícero que eu conheci: verdadeira história de Juazeiro do Norte. 4ª ed. Recife: Fundaj, Editora Massangana, 1989. (p. 248-266). Neste livro escrito pela Professora Amália Xavier de Oliveira é possível encontrar além da história da ocupação do CaririCearense, registros importantes como a independência de Juazeiro, e, o registro do surgimento do sistema educacional desse munícipio. (N.A.)

3Aqui não foi levantado o quantitativo de escolas da rede particular de ensino, estadual e federal, o que significa que o número de escolas é maior que o apresentado.

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As escolas de Ensino Fundamental estão distribuídas na zona rural e urbana, sendo 09 (nove) e 35 (trinta e cinco), respectivamente. As 03 (três) escolas que fazem parte dessa pesquisa correspondem 8.57% do total das situadas na zona urbana do município.

Para atender a esse quantitativo de escolas do município a prefeitura tem 1.169 (um mil cento e sessenta e nove) professores efetivos e 811 (oito centos e onze) professores contratados, compondo um total de 1.980 (um mil novecentos e oitenta) docentes (JUAZEIRO DO NORTE, 2017).

Mapa 1 Localização do município de Juazeiro do Norte-CE

Fonte: SILVA, 2018.

O quadro de professores do Ensino Fundamental II, por área de atuação é assim distribuído: Português 165 (cento e sessenta e cinco); Língua Inglesa 90 (noventa); Arte 179 (cento e setenta e nove); Educação Física 50 (cinquenta); História 75(setenta e cinco); Geografia 77 (setenta e sete); Ensino Religioso 217 (duzentos e dezessete); Estudos Regionais 105 (cento e cinco); Ciências 169 (cento e sessenta e nove); Matemática 159 (cento e cinquenta e nove), (JUAZEIRO DO

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NORTE, 2017). A quantidade de professores por área de atuação não necessariamente diz respeito à área de formação inicial do professor, tendo em vista que muitas vezes o docente tem que atuar em disciplinas diferentes daquela para o qual foi formado, isso ocorre para atender o cumprimento da carga horária exigida.

Dos professores que ensinam Geografia no 7º ano, e que fazem parte das observações uma delas é licenciada em História pela URCA. Isso sinaliza por parte do poder público municipal inadequação em relação à recomendação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Básica 9.394/96, sobretudo no ‘Título VI’ que trata dos profissionais da educação:

Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido formados em cursos reconhecidos [...] Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como fundamentos: I - a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho [...] Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal. (BRASIL, 1996, s/n)

Há ainda uma inadequação em relação à resolução n° 02 de 01 de julho de 2015, do Conselho Nacional de Educação (CNE) que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial, ou seja, nos cursos de licenciatura. As inadequações dizem respeito à área de formação inicial dos professores e as especificidades teóricas e metodológicas de cada área de atuação conforme a legislação. De acordo com o artigo segundo dessa resolução, no primeiro parágrafo:

Compreende-se a docência como ação educativa e como processo pedagógico intencional e metódico, envolvendo conhecimentos específicos, interdisciplinares e pedagógicos, conceitos, princípios e objetivos da formação que se desenvolvem na construção e apropriação dos valores éticos, linguísticos, estéticos e políticos do conhecimento inerentes à sólida formação científica e cultural do ensinar/aprender, à socialização e construção de conhecimentos e sua inovação, em diálogo constante entre diferentes visões de mundo. (BRASIL, 2016, s/n)

Coletamos dados junto a SEDUC de Juazeiro do Norte sobre a quantidade de professores que ministram aulas de Geografia no Ensino Fundamental II e o perfil de formação. Nessa direção, foi-nos informado que 60 (sessenta) professores têm a

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formação inicial em Geografia; 10 (dez) professores apresentam graduação em História; 02 (dois) estão com formação em História e em Geografia; e, 01(um) professor tem o curso de magistério. Dos professores formados em Geografia 02 (dois) apresentam pós-graduação, em nível de especialização. É desse contexto que selecionamos o ensino de Geografia como campo de estudo. Iremos discorrer inicialmente a respeito da relação dos conteúdos geográficos e currículo.

2.1 Conteúdos da Geografia escolar no currículo

Na tarde É comum após a refeição as pessoas cochilarem. Sinto-me, no momento, impossibilitado de tal sorte. Tenho que ler; escrever... Olho no fundo dos olhos da mesa azul e A sensação é: a Merlot cairia bem. Contento-me com as palavras, por enquanto. Nem sempre as uvas nos ajudam. (SILVA, 2018)

A ação docente está vinculada, dentre outras coisas às práticas curriculares. Nesse sentido, é preciso situar que o conteúdo de região está no 7º ano, considerando a orientação do que está disposto nos documentos basilares da educação brasileira. Nesse contexto, é importante saber como a escola absorve essas diretrizes, reflete e a põe em prática no seu dia-a-dia.

De modo geral, os documentos que balizam a organização curricular estão na esteira do que diz a LDB 9394/96 e os PCN’s. Além desses documentos é de grande relevância na escola o livro didático, divulgado pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), tendo se revelado um meio efetivo para a seleção e aplicação de conteúdos e atuação do professor em sala de aula. Desta feita, o currículo se constitui uma peça no cenário escolar, sendo um documento construído por aqueles que estão na atividade de ensino e tendo o professor como um sujeito efetivo nesse processo. Isso porque,

[...] é o currículo que fornece a principal matéria-prima para o trabalho do professor: o conhecimento escolar, ou seja, o conteúdo da aula, o conjunto de temas que será abordado ao longo de um determinado período de tempo. [...] é o currículo escolar que dá identidade ao professor. (SERRA, 2013, p.151)

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Nesse currículo que se estrutura no espaço escolar, a experiência docente é fundamental para dar consistência às ações e alguns materiais se constituem verdadeiros aportes que tomam um lugar fundamental na seleção e na abordagem dos conteúdos, como é o caso do livro didático. Os documentos apresentados como as diretrizes precisam ser concretizados nas ações de ensino e, para isso, torna-se desafiador selecionar, de um campo vasto de saberes sistematizados, aqueles que irão compor o corpus geográfico para ser tratado em sala de aula. Dentre esses materiais, nos PCN’s de Geografia é possível identificar aspectos relativos a orientações que levam o professor a poder trabalhar conteúdos que são importantes, como é o caso da região. Aqui o documento sugere, por exemplo, que a abordagem regional do território brasileiro seja ampla quanto aos critérios que norteiam o entendimento desse conteúdo. Essa abertura favorece a inserção de outras perspectivas, tornando o currículo uma prática mais flexível. Nisso,

O professor pode buscar um trabalho com as heterogeneidades regionais sem fragmentar a sua análise geográfica, para discutir como se deu o desenvolvimento desigual das regiões brasileiras dentro de uma visão sociocultural ampla e não apenas econômica. [...] Evidentemente, para o ensino fundamental, não se pretende esgotar o estudo regional do Brasil, mas introduzi-lo. (BRASIL, 1998, p. 110)

Nas escolas campo dessa pesquisa buscamos documentos oficiais para entender a organização curricular, o ensino de Geografia e os conteúdos. Com base nos documentos oficiais da Escola Professora Zila Belém, na edição do PPP de 2017, pôde-se perceber que o currículo de Geografia, do 6º ao 9º ano apresenta os seguintes objetivos:

Compreender a evolução do pensamento geográfico, onde a geografia deixou de ser restritamente física para adquirir uma visão analítica, crítica, sugestiva, social, econômica, política e humanista diante das profundas e, cada vez mais rápidas, mudanças do mundo em que vivemos; perceber que a geografia pode articular-se de forma interdisciplinar com outras ciências na construção e aprimoramento do aprendizado; adquirir a capacidade de percepção da paisagem como produção de experiência humana; desenvolver hábitos de trabalhar com mapas, escalas, gráficos e outros instrumentos de geografia na escola nos diversos âmbitos da vida considerando-se como elementos capazes de fornecer uma visão de mundo. (JUAZEIRO DO NORTE, 2017, p.13)

A definição dos verbos compreender, perceber, adquirir e desenvolver impele a ação docente para uma organização curricular em que a noção de espaço ganha experiência humana e tonalidade crítica; contém a necessidade de integração a

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outros saberes; e se desenvolve articulada com o uso da linguagem cartográfica. O currículo escolar, neste caso, expressa questões pertinentes, no entanto, impõe à docência o desafio de criar a sequência dos conteúdos, tendo que para isso, saber selecionar o que deve ser ensinado, como deve ensinar e quais linguagens utilizar. Nesse sentido, o currículo se apresenta também como diretriz, sendo o planejamento anual, semestral, bimestral, semanal e diário o caminho para tornar o currículo pertinente e executável.

É necessário que se entenda, o currículo é uma projeção de uma dada realidade, que reflete questões do passado. São nas aulas diárias com os sujeitos reais que os professores (re)significam e subvertem o que está posto nas propostas oficiais que não dão conta das especificidades de cada espaço escolar. Nesse caminho, para uma perspectiva educacional que se faça pensar, existe o professor como agente que pensa o currículo a partir de seu espaço real de atuação, a sala de aula.

No PPP a definição de objetivos comuns para as séries do 6º ao 9º se configura mais um desafio à prática curricular, na medida em que desconsidera as diferenças nos níveis cognitivos e de idade dos alunos que estão implicados nesses anos, o que requer a definição dos conteúdos diferentes para cada série, embora relacionados entre si.

Em diálogo com uma representante do Conselho Municipal de Educação (CME) de Juazeiro do Norte, ela nos disse: “Muitas vezes os Projetos Políticos Pedagógicos são em EUquipe”, ou seja, na construção e elaboração dos PPP’s muitos profissionais, inclusive, os professores quando convidados se excluem do processo de elaboração, na maioria das vezes são as próprias secretarias escolares que formulam e elaboram o currículo escolar, o que deve se constituir numa construção coletiva acaba sendo individual. Isso talvez justifique, em parte, a imprecisão apresentada no PPP, quanto a definir, de modo indistinto, os objetivos para o Ensino Fundamental II, desconsiderando as diferenças por séries.

A Escola José Geraldo da Cruz compreende o currículo da seguinte forma:

Art. 85. Os currículos escolares constituem um meio que a escola dispõe para a efetivação de um projeto educacional, compatível com as determinações legais e Diretrizes e Bases da Educação Nacional adequada a realidade social e cultural do estabelecimento. Art. 86. O currículo possibilitará ao aluno, estabelecer relações com o meio ambiente percebendo-se parte dele, entendendo-se as relações de trabalho

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estabelecidos entre os homens, valorizando suas formas de pensar, de agir e se expressar, sem desconsiderar o intercâmbio entre diferentes culturas. (JUAZEIRO DO NORTE, 2015, p.27)

Apreende-se do exposto que os conteúdos indicados para o saber escolar devem ser organizados no currículo por disciplinas. O currículo de Geografia, neste caso, é indicado conforme o nível cognitivo dos alunos, além de tratarem os conteúdos de formas específicas do saber escolar, correlacionados aos conceitos de paisagem, lugar e território. A compreensão dos conteúdos está associada também às linguagens usadas no ensino, tais como a música, a literatura, e às imagens de modo que os alunos entendam a composição e que consigam nitidamente interpretar o espaço geográfico.

Expressamente não encontramos indicações no PPP da Escola José Geraldo da Cruz, a referência ao ensino sobre região. No entanto, identificamos que esse conteúdo ocorre na prática, no 7º ano, sendo o livro de Geografia uma fonte para exploração. Percebemos o ensino sobre região como uma possibilidade para interligar os conceitos de paisagem, lugar e território apresentados no referido documento.

Ao manusear documentos que favorecem o entendimento da organização curricular e os conteúdos sobre região, identificamos no município de Juazeiro do Norte, a existência da disciplina de Estudos Regionais4. Nesta disciplina as

indicações do que os alunos devem aprender, tem como referência a região do Cariri Cearense.

Em Geografia o livro didático é uma referência curricular, pois esse sistematiza e organiza o que se deve aprender numa dada série escolar. Acompanhando a realização dos planejamentos das aulas que ocorrem semanalmente às quintas-feiras, e que são em conjunto com coordenação pedagógica e professores que atuam na área das Ciências Humanas, percebemos que há socialização dos conteúdos e reflexões sobre o desempenho e o comportamento dos alunos na dimensão de interdisciplinaridade.

4É colocado como objetivo na disciplina de Estudos regionais: “Espera-se que, ao longo dos nove anos do ensino fundamental, os alunos construam um conjunto de conhecimentos subsequentes a compreensão de localização do Munícipio onde mora, da região do Cariri, referentes a conceitos, procedimentos e atitudes relacionados aos Estudos Regionais. Respeitar e valorizar a pluralidade cultural existente na região do Cariri, assim como conhecer os recursos naturais, a sociedade e a cultura das principais cidades valorizando a região a qual esteja inserida.” (JUAZEIRO DO NORTE, 2015, p.26)

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Analisando os PCN’s de Geografia (1998) e comparando com as indicações curriculares tanto da Escola Mário da Silva Bem e Escola José Geraldo da Cruz e Professora Zila Belém, a construção “referentes a conceitos, procedimentos e atitudes relacionados à Geografia” são os mesmos dos PCN’s, nas duas primeiras escolas. A igualdade que se apresenta entre as diretrizes nacionais e os currículos escolares pode sinalizar uma dificuldade de aproximação entre a Geografia local e o ensino, pois bem sabemos que o currículo e seus conteúdos não são neutros, eles influenciam ou induzem o ensino. Sinaliza também a dimensão do planejamento que é feito e confirma as ideias apresentadas pelos membros do CME. O currículo enquanto manifestação de um ideal pode se efetivar na escola, o que supõe entender o contexto local em que se insere, bem como as realidades e vivências dos alunos, saberes dos professores e da gestão escolar. O currículo também é uma expressão política por que:

A educação está intimamente ligada à política da cultura. O currículo nunca é apenas um conjunto neutro de conhecimentos, que de algum modo aparece nos textos e nas salas de aula de uma nação. [...] O que conta como conhecimento, as formas como ele está organizado, quem tem autoridade para transmiti-lo, o que é considerado como evidência apropriada de aprendizagem e- não menos importante- quem pode perguntar e responder a todas essas questões, tudo isso está diretamente relacionado à maneira como domínio e subordinação são reproduzidos e alterados nesta sociedade. Sempre existe, pois, uma política do conhecimento oficial, uma política que exprime o conflito em torno daquilo que alguns vêem simplesmente como descrições neutras do mundo e outros, como concepções de elite que privilegiam determinados grupos e marginalizam outros. (APPLE, 2000,p. 59-60)

Tendo explorado aspectos mais gerais sobre a dimensão curricular, adentramos de modo mais particular no que está previsto para o ensino sobre região, conteúdo para ser ensinado no 7º ano. Neste sentido, nas Escolas Professora Zila Belém e José Geraldo da Cruz, não foram identificados esses conteúdos de Geografia e os objetivos a serem atingidos pelos alunos, diferentemente da Escola Mário da Silva Bem. A referência à região ficou restrita ao que está sistematizado no livro didático.

Feita uma exploração geral do ensino de Geografia considerando a dimensão curricular e sua efetivação nas escolas campo da pesquisa, realizamos visitas às escolas com vistas a acompanhar o desenvolvimento do ensino, considerando a prática docente e o ambiente escolar.

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2.2 Aspectos gerais das Escolas, campo da pesquisa

Caneta preta Com Uma caneta Posso desenhar planetas. Com lápis de cor Posso colorir também as etiquetas. No entanto, não perco O meu tempo Com indelicadezas, Não! (SILVA, 2018)

Na perspectiva de elaborar uma compreensão de como ocorre o ensino de Geografia e reconhecer o ambiente escolar, realizamos no segundo semestre do ano de 2017 visitas as 03 (três) escolas, campo da pesquisa (Mapa 2).

Mapa 2 Localização das escolas pesquisadas

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Nesses momentos fizemos observação de aulas; verificamos os materiais didáticos utilizados; dialogamos com professores, participamos do planejamento das aulas, consultamos os planos das aulas, do semestre e do ano letivo.

As informações relacionadas aos aspectos gerais das escolas foram coletadas mediante observações em campo, conversas com o núcleo gestor e análise das informações dos PPP’s e RE’s.

Com o objetivo de compreender a metodologia de ensino relacionada ao conteúdo de região, foram observadas 08 (oito) aulas em cada escola, sendo neste caso 24(vinte e quatro) aulas no total. Nas observações das aulas levamos em consideração: os conteúdos ensinados, os objetivos concernentes para serem apreendidos pelos alunos, os recursos didáticos e a relação com a sequência didática e prática dos professores. Os registros das observações das aulas dos professores foram transcritos conforme a narrativa dos sujeitos. As análises foram realizadas no segundo semestre de 2017.

Em relação às observações das aulas, de forma geral e comum, identificamos que os alunos apresentam dificuldades em aprender o conteúdo, pela falta de domínio na leitura e pela dificuldade de concentração no momento da aula, além da inadequação das condições físicas das salas de aula, pois a ausência de iluminação e ventilação que foram constatadas influenciam a participação ativa dos alunos.

Dos diálogos com os professores para entender as metodologias e do acompanhamento dos planejamentos das aulas, as ações se baseiam a partir das necessidades dos alunos, sobretudo dos desafios da inserção no processo de ensino e aprendizagem. Passamos a descrever o que foi observado em cada escola.

2.2.1 Escola Mário da Silva Bem

A Escola Mário da Silva Bem (Figura 1), localiza-se na rua Vereador Raimundo José da Silva, no bairro Frei Damião.

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Figura 1: Escola Mário da Silva Bem

Fonte: SILVA, 2018.

Essa escola funciona nos turnos matutino, vespertino e noturno. Oferta a modalidade de Ensino Regular para o Ensino Fundamental I e II e a Educação de Jovens e Adultos (EJA). A escola põe como objetivo da disciplina escolar de Geografia: “Conhecer a organização do espaço geográfico e o funcionamento da natureza em suas múltiplas relações, de modo a compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar”, (JUAZEIRO DO NORTE, 2014, s/n).

A escola foi criada pela Lei nº 3056 de 14 de junho de 2006, e inaugurada em 13 de julho de 2007. Em comparação às demais escolas essa é relativamente nova. Conforme os dados obtidos na secretaria da Escola, no ano de 2018, são 844 alunos matriculados no Ensino Fundamental I, no período da manhã e intermediário; 461 alunos matriculados no Ensino Fundamental II, no período da tarde; e no período da noite, um total de 169 alunos matriculados na EJA. O número de alunos é expressivo, levando em consideração que a escola passa por uma reforma na sua estrutura física: são 1474 (mil quatrocentos e setenta e quatro) alunos matriculados. Para Fábio Júnior Araújo da Silva, secretário da unidade escolar, o número de professores é suficiente para atender ao público. São 74 (setenta e quatro) professores, 04 (quatro) ministram aulas de Geografia.

A escola está localizada no bairro Frei Damião, um dos bairros de maiores disparidades sociais e econômicas de Juazeiro do Norte. O surgimento desse bairro

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é associado aos movimentos sociais da década de 1990. Para a Escola Mário da Silva Bem, os fatores que contribuem para o planejamento das ações dizem respeito ao entendimento e diagnóstico de como funciona o entorno da comunidade, por

[...] está inserida numa comunidade periférica considerada de alto risco onde pais e responsáveis advém de baixa situação sócio-econômica, na sua maioria separados, com filhos criados pelos parentes consanguíneos mais próximos como avós, tias ou adquiridos tais como padrastos e madrastas[...] (JUAZEIRO DO NORTE, 2014, p.06)

Os fatores de localização elencados são refletidos na sala de aula como podemos destacar em diálogo registrado no roteiro de campo em uma das aulas observadas. É necessário que os professores nos seus planejamentos levem em consideração as características da comunidade para que o trabalho tenha o efeito desejado. A Escola,

Também tem que lidar com o desinteresse de grande parte dos alunos, uma pequena parcela das famílias que ainda se omitem no acompanhamento às atividades escolares, a indisciplina e altos índices de migração (mudança de endereço) e de abandono, os quais acreditamos influenciarem diretamente nas taxas de distorção idade-série, que aqui, chega a ultrapassar os limites nacionais. Essa situação preocupa toda a gestão que adotou metas na tentativa de minimizá-las, uma vez que se refletem claramente nos índices de desempenho do aluno. (JUAZEIRO DO NORTE, 2014, p.06)

Na Escola Mário da Silva Bem, onde observamos as aulas de Geografia, no 7º ano, os conteúdos ministrados eram sobre a região Norte do Brasil (Percurso 13, do livro didático de Geografia: região norte: localização e meio natural).

O professor fazia o resumo do capítulo, em seguida o anotava em forma de tópicos na lousa. Os alunos copiavam no caderno, após isso havia a explicação por parte do professor, à medida que iam surgindo as dúvidas dos alunos essas eram esclarecidas. O professor argumenta que a estratégia usada é em decorrência do mau comportamento dos alunos, sendo propósito dessa metodologia, propiciar o ensino de Geografia. O ato de copiar leva o discente a ficar ocupado, criando a sensação de que a situação está sob o controle do professor. Essa ação, por vezes classificada por tradicional nos manuais de pedagogia, se apresenta na concepção de ensino da Escola assim descrita no PPP:

A metodologia da Escola Tradicional não será por nós descartada, já que muito tem a nos ensinar, uma vez que tentaremos adequar o que dela extrairmos a real situação dos nossos educandos pois entendemos que

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hoje, em educação, se faz necessário que nos utilizemos de vários métodos e concepções conforme a necessidade da escola e dos alunos, na tentativa de construir um conhecimento sólido, que faça sentido e o ajude a melhorar a sua vida e as condições do lugar e daqueles que nele vivem.(JUAZEIRO DO NORTE, 2014, p.07)

Ensinar a partir da realidade em que está inserida a escola pode ser entendida como uma diretriz que objetiva direcionar o ensino a formação do indivíduo considerando a cidadania. Nesse sentido, os objetivos para o ensino fundamental ressaltam essa necessidade:

[...] o objetivo geral do Ensino Fundamental é proporcionar a todos os que nele ingressem as condições necessárias ao seu desenvolvimento pessoal, capacitando-os a exercer a sua cidadania de forma consciente.[...] os objetivos de cada disciplina para o ensino fundamental, extraídos dos PCN’s que acreditamos serem mais próximos da nossa realidade. (JUAZEIRO DO NORTE, 2014, p.10)

A partir deste entendimento e de acordo com PPP da escola, o ensino de Geografia deve levar o aluno, nessa fase da educação básica a:

Compreender a espacialidade e temporalidade dos fenômenos geográficos estudadas em suas dinâmicas e interações; conhecer a organização do espaço geográfico e o funcionamento da natureza em suas múltiplas relações, de modo a compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar; identificar e avaliar as ações dos homens em sociedade e suas consequências em diferentes espaços e tempo, de modo a construir referenciais que possibilitem uma participação propositiva e reativa nas questões socioambientais locais. (JUAZEIRO DO NORTE, 2014, p.12)

Depois de analisar os objetivos da Geografia para o Ensino Fundamental II, buscou-se compreender os relativos ao 7º ano. O PPP não trata diretamente da Geografia como disciplina escolar, mas como componente da área de Ciências Humanas. Especificamente, destaca-se que os alunos devem:

Questionar a sua realidade, identificando alguns de seus problemas e refletindo sobre algumas de suas possíveis soluções, reconhecendo formas de atuação política, institucionais e organizações coletivas da sociedade civil. Conhecer a organização do espaço geográfico e o funcionamento da natureza em suas múltiplas relações, de modo a compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar. [...] observar a distribuição dos continentes, destacando diferenças entre países ricos e países pobres; conhecer várias formas de representar o mundo atual; classificar as principais características naturais de cada continente; conhecer as particularidades da colonização portuguesa e espanhola; conhecer a etnia mexicana suas características, relevo, hidrografias e cursos fluviais do continente americano; estudo dos costumes

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de diferentes regiões: identificação de populações locais que possuem descendência, suas descendências e costumes específicos; identificação das populações nativas locais (indígenas, seu modo de vida e os confrontos com populações europeias) (JUAZEIRO DO NORTE, 2014, p.31)

As características apresentadas no currículo acima dão a dimensão da interpretação do espaço. Pelos documentos oficiais da escola, e das análises feitas consideramos que a organização curricular, teórica e metodológica, ligam-se, diante da realidade que a comunidade escolar se insere.

2.2.2 Escola Professora Zila Belém

A Escola Professora Zila Belém, localiza-se na rua, Francisco Cavalcante, S/N, bairro Triângulo. A escola foi criada a partir do decreto nº 951 de 03 de junho de 1982, tendo, neste caso 35 (Trinta e cinco) anos de atuação na comunidade, no bairro. É a única escola pública de Ensino Fundamental a ofertar os níveis I e II, ou seja, do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental. As aulas voltadas ao Ensino Fundamental I são realizadas no turno matutino; no turno vespertino são as aulas do Ensino Fundamental II. Além da modalidade voltada para o Ensino Regular no nível fundamental, a escola, no turno noturno oferta a EJA.

Figura 2 Escola Professora Zila Belém

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É uma escola que atende a 1.211 (mil duzentos e onze) alunos. São 333 (trezentos e trinta e três) no Ensino Fundamental I, no turno da manhã; 689 (seiscentos e oitenta e nove) no Ensino Fundamental II; e, 189 (cento e oitenta e nove) alunos na EJA, no período noturno. Para atender esse público de alunos, a escola está organizada em direção, núcleo gestor, professores, secretaria escolar, bibliotecários, vigias, merendeiras. Para o trabalho em sala de aula, conta com 63 (sessenta e três), 04 (quatro) são professores de Geografia.

Os materiais didáticos que a escola disponibiliza para o ensino de Geografia são: um planetário e os “mapas políticos, de estudos físicos, do estado do Ceará”. A Escola traz uma concepção de:

[...] instituição capaz de desenvolver nos alunos capacidades intelectuais, afetivas e sociais, ao invés de mera transmissora de conteúdos, onde o conhecimento resulta de um processo interativo, entre o homem e a realidade que o cerca. (JUAZEIRO DO NORTE, 2014, p.08)

As aulas de Geografia, no 7º ano, são ministradas no período da tarde. Nesta unidade escolar, conforme o currículo, os alunos devem desenvolver as seguintes competências e habilidades:

Geografia, competências e habilidade: compreender a evolução do pensamento geográfico, onde a geografia deixou de ser restritamente física para adquirir uma visão analítica, crítica, sugestiva, social, econômica, política e humanista diante das profundas e, cada vez mais rápidas, mudanças do mundo em que vivemos; perceber que a geografia pode articular-se de forma interdisciplinar com outras ciências na construção e aprimoramento do aprendizado; adquirir a capacidade de percepção da paisagem como produção de experiência humana; desenvolver hábitos de trabalhar com mapas, escalas, gráficos e outros instrumentos de geografia na escola nos diversos âmbitos da vida considerando-os como elementos capazes de fornecer uma visão de mundo. (JUAZEIRO DO NORTE, 2014, p.22)

Os alunos, na escola, pelo exposto devem compreender a Geografia sob as diferentes óticas. A peculiaridade de análise espacial torna a disciplina escolar uma significativa contribuição ao aluno dada a sua complexidade.

Na escola um problema enfrentado diz respeito à área onde está inserida:

Por tratar-se de uma escola localizada na zona urbana periférica, os conflitos e os problemas são cada vez maiores, pois as influências exercidas pela localização são extremamente fortes. O desafio é desenvolver um trabalho pedagógico que auxilie o educando a tomar consciência de valores necessários à sua convivência com os outros, como

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a questão do respeito, ética, moral, ou seja, valores que possuem dimensões, significativas à vida social. (JUAZEIRO DO NORTE, 2014, p.06)

O entendimento do entorno da escola, mostra que, existe uma preocupação dos gestores da instituição, sobretudo na identificação dos problemas causados pelos agentes externos no desenvolvimento do aluno. Agir a partir do contexto é incluir a sociedade escolar. Nesta direção, não há como desconsiderar o contexto social que a escola pertence.

Mediante as observações das aulas, percebemos que a professora trabalhava os conteúdos de Geografia relacionados à cartografia de maneira frequente, o que na nossa perspectiva possibilitava o aluno a localização espacial do fato geográfico explicado.

No PPP da Escola Professora Zila Belém não há a indicação explicita sobre o conteúdo de região, no 7º ano. A partir disso procuramos entender como esse conteúdo de ensino se apresenta o que nos remeteu aos PCN’s de Geografia e o próprio uso do livro didático.

Em um dos momentos das observações das aulas na escola, onde se ensinou sobre o conteúdo da região Norte do Brasil, a professora adotou a seguinte estratégia: os alunos foram distribuídos em 06 (seis) equipes, cada uma contendo 05 (cinco) participantes. Nas equipes os alunos iam elaborando questões sobre a região Norte. A professora destinava um tempo da aula para cada equipe. Os alunos deveriam observar os mapas ilustrados no livro e tentariam identificar o que cada símbolo representaria. A partir desse entendimento a professora conduzia as explicações de modo que as dúvidas fossem esclarecidas. Nesta aula, notamos que o barulho feito propositalmente por parte dos alunos comprometeu o andamento da aula.

2.2.3 Escola José Geraldo da Cruz

A Escola José Geraldo da Cruz, localiza-se, na rua Do Rosário nº 622, no bairro Salesianos. A escola fica próxima de fábricas de sandálias, de um curtume e de um córrego onde são despejados esgoto, dejetos humanos e lixo. A criação da escola é de 1986, com funcionamento ocorrendo a partir de 1987.

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Figura 3 Escola José Geraldo da Cruz

Fonte: SILVA, 2018.

A escola funciona nos turnos matutino e vespertino, com a oferta o Ensino Fundamental I pela manhã e o Ensino Fundamental II a tarde. No ano de 2018 a escola conta com um público de 306 (trezentos e seis) alunos, que segundo a Coordenação Pedagógica são oriundos dos bairros Centro, Socorro, Salesianos, Santa Tereza e Tiradentes.

O corpo docente em 2018é de 25 (vinte e cinco) professores, entre efetivos e temporários. Deste quantitativo, 03 (três) professores lecionam a disciplina de Geografia, no Ensino Fundamental II. Esses docentes atuam também em disciplinas como Estudos Regionais, História e Ensino Religioso para cumprir a carga horária mínima definida na legislação municipal.

As observações das 08 (oito) aulas de Geografia, no 7º ano, aconteceram no período da tarde, durante o mês de outubro de 2017. A partir das observações foi possível perceber as metodologias usadas pela professora, os desafios enfrentados durante as aulas, e o envolvimento dos alunos.

No contexto das observações das aulas, identificamos que o livro didático é o aliado na prática do professor. Ao passo que os professores nas suas opções metodológicas utilizam esse material, os alunos argumentam: “Se tá no livro?! Então vou copiar pra quê?!” ou ainda “A gente só usa o livro professora? não!”. Notamos que essas afirmações acabam sendo as mais comuns quando houve a indicação pela professora aos alunos: “Vamos ler o percurso 21!, um ler o primeiro parágrafo e

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o outro o segundo.” Como estávamos observando a prática nas aulas, após a indicação da professora percebemos que alguns alunos permaneceram de cabeça baixa, outros causaram muito barulho e vez por outra com tons de voz mais elevados.

Durante as observações das aulas realizadas nas 03 (três) escolas identificamos que o livro didático assume um protagonismo na prática docente. Por ele o professor planeja, define conteúdos, desenvolve metodologias. Na maior parte das vezes o livro não só auxilia a ação docente, mas se torna o único meio para ensinar. Desta feita, fizemos uma exploração pelo livro didático utilizado nas escolas e focamos a análise no conteúdo de região.

2.3 “Expedições geográficas”, o livro didático de Geografia e a abordagem regional no 7º ano Vogal O Livro É Livre ... É! É? (SILVA, 2018)

Na prática do professor são inseridos materiais didáticos com o propósito de estabelecer a conexão com a realidade, dentre eles destaca-se o livro didático. Mas o que é um livro didático? De modo geral, Albuquerque define-o como “[...] todos aqueles que são utilizados na escola com fins didáticos, sejam eles manuais, compêndios, apostilas, obras literárias, atlas paradidáticos, além daqueles elaborados em formato digital” (2011, p.159). Essa definição apresentada por Albuquerque (2011) é a que representa a dimensão escolar, pois considera, também, os materiais elaborados e selecionados pelos próprios professores.

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Os livros didáticos são também instrumentos culturais produzidos para os ambientes escolares, porque “O livro didático é um representante legítimo das disciplinas escolares e busca dar conta das necessidades surgidas na relação ensino-aprendizagem da educação básica. Sua produção tem como referência a cultura escolar” (SENE, 2014, p.29). Prioritariamente as escolas públicas adotam os livros divulgados pelo PNLD5 e, muitas vezes, deixa de ser um suporte para consulta

e planejamento do professor e passa a ser o aporte, quase exclusivo, da sua ação em sala de aula.

Para Tonini (2011), o livro assume, em certa medida, uma orientação curricular, tanto em termos de conteúdo quanto em perspectiva de comunicação e linguagem. Nessa direção, afirma a autora:

Ao entender o livro didático como local de suporte curricular, por materializar um currículo editado, é buscar não só os contextos teóricos da Geografia para sua análise, mas também os novos modos de comunicações da contemporaneidade que estão estabelecendo novas linguagens para aprender, os quais também vêm nos constituindo como sujeitos. (TONINI, 2011, p.146)

Ainda, na visão de Tonini (2011, p.146), “O livro didático é um dos recursos de aprendizagem mais universal de todos na cultura escolar permanece na centralidade da prática pedagógica e com seu irresistível desejo: o de comunicar-se.” É preciso saber quem produz o saber escolar? Quem produz o livro didático? E principalmente, como os livros contribuem ideologicamente na formação dos alunos na escola? Como material didático quais são os riscos de assumir o livro como único meio para ensinar?

Conceitualmente e esteticamente o livro didático é um dos recursos que os professores encontram para efetivar o seu planejamento. Nesse sentido, a seleção de um livro didático deve se pautar por uma avaliação criteriosa do docente, visando ter a disposição um meio que favoreça a sua ação, mas principalmente, atenda as necessidades de aprendizagem dos alunos.

5As editoras inscrevem as coleções de livros didáticos no PNLD para serem avaliados e aqueles aprovados, considerando os critérios pedagógicos definidos pelo Programa, são escolhidos pelas escolas públicas de educação básica do país. As avaliações pedagógicas são coordenadas pelo Ministério da Educação (MEC) e contam com a participação de Comissões Técnica específica, formada por especialistas das áreas do conhecimento correlatas. As obras aprovadas e selecionadas pelas escolas são distribuídas pelo MEC.

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