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Conteúdo regional nas aulas de Geografia na Escola José Geraldo da Cruz

2.2 Aspectos gerais das Escolas, campo da pesquisa

2.3.3 Conteúdo regional nas aulas de Geografia na Escola José Geraldo da Cruz

João de Barro Os passarinhos fazem ninhos com

galhinhos em seus caminhos. (SILVA, 2018)

Nesta escola, a professora de Geografia, no 7º ano, chama-se Maria de Fátima Alves Pereira é licenciada em História pela URCA. Atua como professora há 03 (três) anos. Para Fátima ensinar o conteúdo distante do convívio dos alunos com os aspectos da realidade é tão complexo, quanto atuar numa área que não é de sua formação inicial.

Observamos no período da tarde, no mês de outubro de 2017, as aulas de Geografia, nas turmas do 7º ano. Os conteúdos ministrados eram sobre as sub- regiões climáticas do Nordeste (Figura 13) brasileiro: percurso 19: “O sertão”; e o percurso 20: “O meio-norte”.

Tendo estratégia de ensino da professora, a leitura sequenciada do livro didático. Identificamos que nessa turma as leituras ficam concentradas em 04 (quatro) alunos, desencadeando nos demais conversas paralelas.

Figura 13 O espaço do Sertão no ensino de Geografia

Fonte: SILVA, 2018.

A prática da leitura, sobretudo, no mundo atual é indiscutível, pois:

Ao que tudo indica, as habilidades do leitor contemporâneo estão caminhando mais para ver do que para a leitura, atenta, absorta, reflexiva. No entanto, é interessante reiterar que não se pode dizer que se lê menos, mas se lê de uma maneira diferente. [...] As práticas que cercam o leitor e o espectador são diversas e aprendidas nos contextos socioculturais. Entre esses contextos, a escola se constitui em um primoroso espaço, uma instituição em que as práticas precisam ser refletidas, sistematizadas e redimensionadas. A escola tem o papel de trabalhar a leitura e formar leitores. (GUIMARÃES, 2017, p.142)

Neste caminho metodológico a professora auxilia os alunos no domínio da leitura. Ao dialogarmos com essa profissional ela nos relata que um dos desafios é ministrar as aulas de Geografia, uma vez que a sua área de formação é outra.

Mas, nas observações dessa aula, pudemos constatar que, o entendimento do Sertão e do Cariri Cearense pelos alunos por meio da leitura e a partir das exemplificações dos fatos históricos trazidos na fala da professora gera uma melhor compreensão dos fatos geográficos.

A primeira observação da aula de Geografia aconteceu no dia 09 de outubro de 2017, na turma do 7º ano B. O conteúdo da aula era: “Região Nordeste: as sub- regiões climáticas, o sertão”.

A professora ao iniciar a aula retira o diário de sua pasta e começa a fazer a chamada. Após essa atividade, inicia-se a exploração do conteúdo, com a seguinte questão:

“- O Ceará está localizado em qual sub-região, do Nordeste?” Em um instante, um dos alunos responde:

“- Na sub-região do Sertão!”12. Essa resposta veio após a observação de um dos

mapas no livro de Geografia. Sim! O livro é usado pelo aluno, é lido e consumido para aprender.

Com a resposta do aluno a professora indica para abrirem o livro didático de Geografia, na página 158. Outra ação é sugerida pela professora, fazer a leitura do capítulo, com isso os alunos passam a aprimorar a habilidade leitora. A professora diz:

“- Todos peguem o livro e abram na página 158, e vamos fazer a leitura e conforme forem surgindo dúvidas nós vamos explicar.”

O conteúdo do livro didático é o “Percurso 19: o sertão”, que trata da localização do sertão enquanto região sub-climática. Os alunos leem em voz alta:

Assim como ocorre no Agreste, o Sertão também possui áreas úmidas, os brejos. O principal deles é o do Cariri (figura 19), localizado no sul do Ceará, na base da encosta norte da Chapada do Araripe. O Cariri possui fontes de água que formam riachos permanentes e possibilitam o desenvolvimento da agricultura e da criação de gado no ambiente da Caatinga. Nessa área desenvolveram-se cidades importantes, como Juazeiro do Norte, Crato e Iguatu. O Cariri, em virtude de suas condições naturais favoráveis, é a segunda porção do território do Ceará mais povoada atrás apenas da Grande Fortaleza. Considerando-se apenas o Sertão, é a que possui a maior densidade demográfica. (ADAS e ADAS, 2015, p.159)

Com a leitura dos alunos sobre a região do Cariri Cearense (Figura 14), região na qual está inserido o município de Juazeiro do Norte, a professora faz outro questionamento:

12Considerando a classificação das sub-regiões feita por Manuel Correia de Andrade são identificadas quatro sub-regiões: zona da mata, agreste, sertão e meio norte. Classificação essa indicada no livro didático na página 144.

Figura 14 O Cariri Cearense no currículo escolar

Fonte: SILVA, 2018.

“- A nossa região do Cariri, está localizada no Nordeste, e na sub-região do Sertão, mas há uma diferença! Alguém aqui sabe o que é um oásis?” Um dos alunos responde:

“- Uma ilha no meio do deserto?!”

A resposta assim de imediato é interessante, justamente pelo nível do conhecimento por parte do aluno. A professora entusiasmada com a resposta, mas com o desejo de continuar a explanar aos demais, explica:

“-Exatamente, um oásis é uma área que se diferencia do seu entorno, a nossa região do Cariri tem um diferencial em relação ao Sertão, aqui temos água em abundância. A chapada do Araripe é que contribui para essa diferenciação.”

A aula segue com a professora explicando o clima do Sertão, o tropical semiárido. Um dos principais fatores que caracteriza essa região.

Além disso, há a explicação das causas da escassez das chuvas e a correlação dos fatores que contribuem para o Cariri Cearense ser considerado um “oásis”. A professora ainda argumenta:

“-A região do Cariri é conhecida como a região de brejo! Possuí lençóis de água uma de suas características em relação aos outros sertões. O tipo de vegetação do sertão em quase sua totalidade é a caatinga, ela no período de falta de chuva fica embranquecida, porém com as chuvas mesmo curtas as plantas florescem com

facilidade.” Esse conteúdo, pela nossa análise, não consta no livro didático de Geografia. O que amplia o entendimento sobre esse recorte espacial.

Existe uma antecipação ao pensamento do aluno. Ao acompanharem a leitura no livro didático e no decorrer da explicação pela professora, e no detalhamento, o raciocínio espacial é significativo.

Nesta aula percebemos o quão importante, no saber escolar, é a sistematização do ensino de região considerando a relação com o espaço de vivência dos alunos. Após explicar sobre o oásis a professora pergunta:

“-Quais as características da Chapada do Araripe?”

Essa pergunta alinha o pensamento do aluno ao aspecto geomorfológico da Chapada do Araripe. E como sai do assunto do livro didático e traz o aluno para o reconhecimento do espaço onde vive, o atraí à aprendizagem em Geografia. Vendo que a sua estratégia teve o efeito desejado, a professora complementa:

“- Ela é tabular e retilínea. O que isso significa? Que quando a gente vai para o Horto na Semana Santa a gente percebe uma forma reta e linear do que muita gente chama de Serra do Araripe, e, ela é tabular justamente porque apresenta a ideia de uma tábua.”

Nesta afirmação, os alunos são convidados a pensarem sobre a forma da Chapada do Araripe a partir da Colina do Horto13.

Para avaliar os alunos, a professora indica a resolução da atividade da página 165, do livro didático de Geografia.

Na turma do 7º ano B, o dia da observação foi 10 de outubro de 2017. Nessa aula são retomados aspectos tratados anteriormente como o Sertão, Zona da Mata, Agreste e informação do conteúdo a ser ensinado: o “Percurso 20: Meio Norte, localização e condições naturais”, (Figura 15). A estratégia inicial é a leitura sistematizada, a partir da página 166.

13 É uma forma de relevo que fica em Juazeiro do Norte-CE, onde se consegue ver o Vale do Cariri, bem como a forma da Chapada. Na sexta-feira Santa, muitos moradores de Juazeiro sobem ao Horto em alusão ao martírio de Jesus Cristo. Ao longo da subida da “ladeira do Horto” as pessoas, vão consumindo vinho, com paradas nas 12 estações. O ponto máximo é a chegada à estátua do Padre Cícero que fica no topo da colina. Desse ponto veem-se também os aglomerados urbanos de Barbalha ao Sul, Crato a Oeste, Missão Velha a Leste e Caririaçu ao Norte.

Figura 15 A região do Meio Norte

Fonte: SILVA, 2018.

Com o propósito dos alunos entenderem a localização é solicitado que retomem a página 144 e observem o mapa: “Região Nordeste: zonas ou sub-regiões naturais” (Figura 16), nisso é explicado à definição do relevo: “Tudo que cobre a superfície terrestre: planícies, planaltos e depressões”.

A professora ensina a importância dos recursos hídricos para o Meio-Norte e argumenta:

“- São as águas dos rios, lagoas e dos lençóis freáticos.”

Após a professora ensinar sobre a região Nordeste, suas características físicas, naturais, e o processo histórico observa a participação dos alunos por meio das leituras do livro didático de Geografia dentro do conteúdo. As atividades escritas servem (Figura 17) para diagnosticar o que os alunos sabem sobre o conteúdo.

Figura 17 Simulado do conteúdo

Fonte: SILVA, 2018. Fonte: SILVA, 2018.

Desta feita, no dia 16 de outubro de 2017, na turma do 7º ano B, foi encaminhada uma atividade com o propósito de pesquisar a partir do livro didático e que, os estudantes ao responderem as perguntas pudessem entender o conteúdo de região, tendo como referência o Nordeste brasileiro.

A atividade consistiu nas seguintes perguntas:

01-O desenvolvimento de uma cultura agrícola em determinados locais depende de quais fatores naturais?

02-Destaque as principais características da sub-região da Zona da Mata. 03-Por que podemos dizer que existem “vários Nordestes” na região Nordeste do Brasil?

04-Indique a relação do clima semiárido com a região do Cariri. 05-Quais as principais características da região Meio Norte?

06-Faça um breve texto falando sobre a região do Cariri e o que a diferencia das demais regiões. (ROTEIRO DE CAMPO, 2017)

É na aula que os conteúdos se ajustam à necessidade de ensinar. Neste sentido, o currículo que se estabelece na sala de aula e na escola, está para além das indicações, inclusive, do currículo escrito. Na atividade solicitada percebe-se, por exemplo, a relação com a região dos estudantes. Ressalta-se a qualidade das perguntas, no sentido de que, as associações com as explicações estão ligadas ao que se apresentou do conteúdo ensinado.

No dia 17 de outubro de 2017, a aula do 7º ano B, iniciou-se um novo conteúdo, a região Sudeste do Brasil. Foi retomado o conceito de região e regionalizar para que os alunos tivessem a dimensão do que iriam aprender. A aula começou com a leitura sistematizada dos conteúdos indicados no livro didático de Geografia. Pode-se perceber que nessa turma alguns alunos leem bem, já outros se escondem, pois o medo do erro surge, no entanto, aqueles que se habilitam há um incentivo por parte da professora para ser superado esse desafio. Na mesma data, na sala do 7º ano A, a professora utilizou a estratégia de revisão sobre a região Nordeste, a partir das sub-regiões climáticas.

No dia de 18 de outubro de 2017 observamos uma aula na turma do 7º ano A. Como conteúdo a professora planejou um simulado sobre a região Nordeste. Esse teste tinha o propósito de avaliar a aprendizagem dos alunos sobre o Nordeste, tendo em vista que a participação dos alunos em sala não rendeu o esperado. O cerne agora era identificar na parte escrita o rendimento dos alunos, a partir das seguintes questões:

01-Por que podemos dizer que existem “vários Nordestes” na Região Nordeste do Brasil?

02-Que atividades econômicas contribuíram para o grande desmatamento da Mata Atlântica na Região Nordeste?

03-A construção inicial de espaços no Meio Norte está relacionada a que fato histórico? Exemplifique-os resumidamente.

04-Podemos afirmar que a seca que se abate de tempos em tempos no Nordeste é a única causa das migrações internas dessa região para as demais regiões do Brasil?(ROTEIRO DE CAMPO, 2017)

Do acompanhamento das aulas, sobretudo, na explicação do Nordeste e das sub-regiões as questões propostas versaram sobre o Agreste, Sertão, Meio Norte e Zona da Mata, genericamente na questão 01. A questão 02 tratou dos fatores da economia na Zona da Mata, a 03 do Meio Norte no aspecto histórico e 04, implicitamente do Sertão no sentido da “seca”.

No dia 25 de outubro de 2017 observamos, na turma do 7º A, a última aula de Geografia. O conteúdo a ser ensinado: Região Sudeste do Brasil (Figura 18). Em sala os alunos estão dispersos, em meio a esse comportamento a professora inicia a leitura do texto da página 184 do livro didático.

Há pausas compassadas para esclarecimento de algumas questões levantadas. A professora pergunta:

“-Alguém sabe o que é a produção de subsistência?” Após alguns instantes de silêncio e a professora continua:

“- É a produção de alimentos apenas para o sustento próprio e da família, ou seja, na capitania de São Vicente e também nas outras capitanias era o tipo de produção de alimentos”.

Figura 18 A região Sudeste

Com a retomada da leitura e de outro trecho do livro didático, há o seguinte questionamento:

“-A partir do que nós lemos alguém sabe o que significa o termo bandeiras?” Um dos alunos, por nome de Juan diz:

“-Eram expedições organizadas pelos portugueses e espanhóis que adentravam no interior do Brasil, para capturar índios.”

O riso da professora pela resposta do aluno com um ar de satisfação nos faz crer que, por mais que haja momentos de descontentamento e por vezes a turma não responder satisfatoriamente o que esperamos, há momentos como esse que reforçam a afirmação: “Tudo vale à pena se a alma não é pequena!”

Ainda sobre a explicação da região Sudeste, e dos processos históricos que culminaram com o seu “desenvolvimento” a professora pergunta:

“- A primeira capital do Brasil era onde?” Outro aluno responde perguntando: “- Salvador!?”

A professora amplia o grau de dificuldade: “- Alguém sabe por quê?”

O aluno responde:

“-Porque lá foi o primeiro lugar a ser descoberto?!”

“- Exatamente” é a resposta da professora, “Além disso”, continua ela, “Salvador foi por muito tempo centro econômico, pois tinha um porto e de lá se embarcava ouro da colônia para Portugal.”

Observamos que o livro didático é um recurso importante para o ensino desse conteúdo, mas pode ser ampliado a partir da associação a outras linguagens e destas a uma perspectiva local. Assim, a brecha que aparece e que merece uma contribuição está relacionada a elaboração de estratégias que levem o professor a utilizar outras fontes de informações. Assim, um caminho é relacionar a discussão sobre a região no ensino de Geografia, a linguagem como dispositivo didático, e as linguagens elaboradas sobre o Cariri Cearense é uma possibilidade para o ensino que ocorre no 7 º ano. É disso que trataremos no próximo capítulo.

3 DO IMAGINÁRIO AO REAL: A REGIÃO COMO CONTEÚDO PARA ENSINAR GEOGRAFIA

Geografia em sala de aula I

Na nossa mente, Há territórios incoerentes. Literalmente, a gente espera que o mundo seja uma esfera.

Achatado nas pontas, afinal de contas há no solo poros. Não há como falar da Terra,

sem considerar os polos. (SILVA, 2018)

A região e a sua existência é uma simbiose entre a natureza e a cultura, que ganha sentido a partir da interpretação e das vivências do sujeito, mas que também ensina, sendo um desafio para o professor saber transformar o conteúdo a ser ensinado ao que pulsa nas relações que estão impregnadas no dia a dia. O professor tem o livro didático, e nele a região se apresenta como um dado estabelecido, mas há de considerar que:

A região existe de facto, mas numa certa fluidez. Fluidez em ligação directa com a prevalecente nas relações que unem os homens e os lugares. Fluidez, quer dizer o caráter daquilo que, como um líquido, é facilmente deformável, móvel e cambiante, e deste modo bastante difícil de captar. (FRÉMONT, 1980, p.170)

A fluidez está assinalada nas experiências dos sujeitos com os seus lugares, e nisso se apresenta a necessária ação docente em fazer fluir de um canto para outro as experiências, sem que para isso dilua as particularidades que instituem as regiões. Aqui é preciso usar a escala geográfica, mais do que a escala cartográfica, o que significa situar mais do que localizar, contextualizar mais do que representar, movimentar mais do que estabilizar. A escala geográfica é conexão. Nesta, as medidas podem ser saturadas pelas experiências e por isso a representação pode estar borrada pelas sensações e percepções. A escala adquiri um valor heurístico ou um elemento de correspondência com “a percepção, a concepção e um operador de complexidade” (CASTRO, 1995, p. 135).

Para Tuan (1982, p.156), “A Geografia Regional, que têm êxito em capturar a essência de lugar, é um trabalho de arte. A retratação de uma região tem a mesma espécie de dificuldades que a retratação de uma pessoa, porém multiplicada várias vezes”. Considerando essa ideia temos em perspectiva que ensinar sobre a região é lidar com a escala como conexão e a conexão como uma estratégia de criação, o que para nós se apresenta como a possibilidade de ligar linguagens dispersas. Isso por que, a região se qualifica, em parte, pela diferenciação de áreas, mas não se constitui como espaços autossegregados. Pelo contrário, elas são provocações espaciais entre o que está dentro e o que está fora, e sendo assim, a sua inserção no ensino, é um contínuo movimento de aproximação e distanciamento entre dizer o que é e o que não é regional; entre o materializado e o experimentado. É um contínuo fazer desfazendo os limites; é um contínuo abrigo para as experimentações das linguagens no âmbito da didática.

Desta feita não é tão simples ensinar esse conteúdo, como pudemos perceber com as observações feitas nas escolas. O aprisionamento ao estabelecido no livro didático, a ausência de outras fontes e a falta de variação das linguagens, tornam a região um recorte geográfico sem movimento espacial. No entanto, a sua presença aciona questões diversas que vão do físico ao cultural, das mais objetivas e materiais das representações as mais imateriais e subjetivas sensações. Neste direcionamento,

[...] para o entendimento das diferentes abordagens dos conceitos de região na Geografia, devem ser apreendidos: os distintos paradigmas que orientam esta ciência; a época e o contexto espacial em que tais paradigmas foram gerados e utilizados; a filosofia predominante e suas apropriações historicamente contextualizáveis. Só assim, esse conceito passa a ter importância. [...] é necessário perceber que esse conceito é resultante das interações dinâmicas que ocorrem no espaço geográfico. Ou seja, a utilização do conceito de região está (e sempre estará) ligada à dinâmica, característica peculiar de todas as ciências que tem no espaço geográfico seu principal objetivo de estudo, é ela que privilegia a interpretação da região. (BEZZI, 2004, p.242)

Como já dissemos é um conjunto de fatores que dão sentido à região. Nas palavras de Souza (2013), tem os seguintes pressupostos:

Os processos de formação (e alteração e dissolução) de identidades sócio- espaciais em escalas regional não dependem de vivência direta e quotidiana da região como um todo; a "experiência regional" pode se dar, muitas vezes, mediada por um compartilhamento (de um falar ou dialeto, de

certos valores, de determinadas tradições, de alguns interesses etc.) que se sabe ou presume, com base em uma extrapolação plausível, nos contatos esporádicos (ou regulares) com outros moradores da mesma região e, no limite, nas informações que circulam pela própria imprensa ou que estão cristalizadas na literatura (e que ajudam, muitas vezes, a "congelar" uma identidade, ainda que seja mutável, ainda mais em nossos dias.) (SOUZA, 2013, pp.147-148)

Ainda no aspecto regional, em se tratando dos fatores culturais, isso se evidencia a partir do estudo historiográfico do conceito de região desenvolvido por Bezzi (2004). Para essa autora, que estuda esse conceito,

Considerando a identidade cultural como um novo paradigma regional, a região pode ser definida, representada e diferenciada. Assim, a perspectiva humanística sobre a sociedade é valorizada e passa a ser vista como um conjunto de significados expressos em um determinado recorte regional. (BEZZI, 2004,p.232)

É pertinente entender que:

[...] a partir do estudo dos costumes, dos hábitos ou das representações que as coletividades fazem de sua existência em um território, é possível superar o entendimento da região como uma simples espacialização ou projeção de fenômenos determinados fora daquele espaço. A identidade serve, assim, a uma visão mais global e comprometida com os objetivos do espaço que se está investigando. Nesse ponto, fica bem claro o antagonismo com as correntes mais racionalistas, que pretendem usar a região como um instrumento de análise, um artifício locacional. Sob o enfoque da identidade cultural, a região existe, é concreta e tem uma consistência que ultrapassa as considerações daqueles que o observam. Ela é apropriada e vivida por seus habitantes e diferencia-se das demais, ou seja, o espaço fornece a identidade do grupo social nele existente. (BEZZI,