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Português

Português – – 12.º Ano 12.º Ano

Mensagem, de Fernando Pessoa Mensagem, de Fernando Pessoa Sobre a obra,

Sobre a obra, Análise de “Brasão” e “Mar Português”, 3 Análise de “Brasão” e “Mar Português”, 3 Testes de Análise de Poemas,Testes de Análise de Poemas, Gramática

Gramática – – Actos ilocutórios, funções da linguagem, deícticos e figuras de estilo. Actos ilocutórios, funções da linguagem, deícticos e figuras de estilo. Inclui texto complementar ao estudo

Inclui texto complementar ao estudo da obra Mensagemda obra Mensagem Autor: Francisco CubalEstrutura da obra:

Autor: Francisco CubalEstrutura da obra:

A poesia da “Mensagem” poderá ser vi

A poesia da “Mensagem” poderá ser vista como uma epopeia, pois parte sta como uma epopeia, pois parte de umde um núcleo histórico. Contudo, a sua formulação é simbólica, mítica, e não possuirá núcleo histórico. Contudo, a sua formulação é simbólica, mítica, e não possuirá continuidade.

continuidade. O poema

O poema Mensagem, exaltação do SebastianisMensagem, exaltação do Sebastianismo que se cruza com amo que se cruza com a expectativa de ressurgimento nacional, as

expectativa de ressurgimento nacional, assenta num senta num simbolismo e misticismo,simbolismo e misticismo, revelador de uma faceta oculta e mística do poeta.

revelador de uma faceta oculta e mística do poeta.

Há na mensagem uma transcrição da história de uma nação, mas transfigurada, Há na mensagem uma transcrição da história de uma nação, mas transfigurada, onde

onde a acção dos heróis, só adquire plea acção dos heróis, só adquire pleno significado dentro duma referno significado dentro duma referênciaência A

A estrutura da Mensagem, estrutura da Mensagem, transfigura e repete a histtransfigura e repete a história duma pátriaória duma pátria

como o mito dum nascimento, vida, morte e renascimento de um mundo. A cada um como o mito dum nascimento, vida, morte e renascimento de um mundo. A cada um destes mom

destes momentos corresponde (respectivamente) o “Brasão”, o “Mar Português” e “Oentos corresponde (respectivamente) o “Brasão”, o “Mar Português” e “O Encoberto”.

Encoberto”.

O “Brasão” corresponde à primeira parte e ao plano narrativo da história de O “Brasão” corresponde à primeira parte e ao plano narrativo da história de Portugal, n’Os Lusíadas, onde encontramos hérois míticos

Portugal, n’Os Lusíadas, onde encontramos hérois míticos ou mitificados, desdeou mitificados, desde “Ulisses” a “D.Sebastião, rei de Portugal”.

“Ulisses” a “D.Sebastião, rei de Portugal”.

Tratam-se de heróis vencedores, mas falhados na opinião geral,

Tratam-se de heróis vencedores, mas falhados na opinião geral, ignorados, ou quase, porignorados, ou quase, por Camões.

Camões.

O “Mar Português” corresponde à segunda parte e ao tempo da “acção épica”. O “Mar Português” corresponde à segunda parte e ao tempo da “acção épica”. Constituída por doze poemas inspirados na ânsia

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heróico da luta contra o Mar

heróico da luta contra o Mar – –figurados em “O Mostrengo”, “Mar Português” e “Afigurados em “O Mostrengo”, “Mar Português” e “A Última Nau”.

Última Nau”.

“O Encoberto” corresponde à terceira parte, onde se insinua que o Rei “O Encoberto” corresponde à terceira parte, onde se insinua que o Rei Encoberto virá, “segundo as profecias de Bandarra

Encoberto virá, “segundo as profecias de Bandarra e a visão do Padre António Vieira, e a visão do Padre António Vieira, numa manhã de nevoeiro”.

numa manhã de nevoeiro”. Assim, a terceira parte, é toda ela Assim, a terceira parte, é toda ela um fim, umaum fim, uma desintegração; mas também toda ela cheia

desintegração; mas também toda ela cheia de avisos, de forças ocultas de avisos, de forças ocultas prestes a viremprestes a virem à luz depois da “Noite” e “Tormenta”, dando origem ao nov

à luz depois da “Noite” e “Tormenta”, dando origem ao novo ciclo que se anuncia: oo ciclo que se anuncia: o Quinto Império.

Quinto Império.

Linguagem e estilo: Linguagem e estilo:

A linguagem é lapidar, também carregada de simbolismo e, por vezes, A linguagem é lapidar, também carregada de simbolismo e, por vezes, arcaizante.

arcaizante. Corresponde este aspecto à vontade do autor intemporalizar conceitos queCorresponde este aspecto à vontade do autor intemporalizar conceitos que convergem para o ideal

convergem para o ideal absolutizado que deseja cumprir, assumindo-se como umabsolutizado que deseja cumprir, assumindo-se como um Super Poeta, um Supra

Super Poeta, um Supra Camões.Camões.

O lirismo revela emoção do poeta, perante a grandiosidade da Pátria, O lirismo revela emoção do poeta, perante a grandiosidade da Pátria, representada na excelência dos seus heróis bélicos, na a

representada na excelência dos seus heróis bélicos, na audácia dos seus nautas, noudácia dos seus nautas, no idealismo dos seus profetas.

idealismo dos seus profetas. O

Os elementos épicos presentificam um “épico suis elementos épicos presentificam um “épico sui--generis” de sentidogeneris” de sentido entusiasmo, voz de incitamento aos portugueses para devolverem à P

entusiasmo, voz de incitamento aos portugueses para devolverem à Pátria a sua glóriaátria a sua glória passada, numa sublimação futura.

passada, numa sublimação futura. O mito:

O mito:

As figuras e os

As figuras e os acontecimentos históricos são convertidos em símbolos, emacontecimentos históricos são convertidos em símbolos, em mitos, que o poeta exprime liricamente. “O mito é o nada que é tudo”, verso do mitos, que o poeta exprime liricamente. “O mito é o nada que é tudo”, verso do poema “Ulisses”, é o paradoxo que melhor

poema “Ulisses”, é o paradoxo que melhor define essa definição simbólica da matériadefine essa definição simbólica da matéria histórica da Mensagem.

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Sebastianismo: Sebastianismo:

A Mensagem apresenta um carácter profético, visionário,

A Mensagem apresenta um carácter profético, visionário, pois antevê umpois antevê um

império futuro, não terreno, e ansiar por ele é perseguir o sonho, a quimera, a febre império futuro, não terreno, e ansiar por ele é perseguir o sonho, a quimera, a febre de além, a sede de Absoluto, a ânsia do impossível, a loucura. D. Sebastião é o mais de além, a sede de Absoluto, a ânsia do impossível, a loucura. D. Sebastião é o mais importante símbolo da obra que,

importante símbolo da obra que, no conjunto dos seus poemas, se alicerça, no conjunto dos seus poemas, se alicerça, pois, numpois, num sebastianismo messiânico e profético.

sebastianismo messiânico e profético. Quinto Império: império espiritual: Quinto Império: império espiritual:

É esta a mensagem de Pessoa: a Portugal, nação construtora do Império no É esta a mensagem de Pessoa: a Portugal, nação construtora do Império no

passado, cabe construir o Império do futuro, o Quinto Império. E enquanto o Império passado, cabe construir o Império do futuro, o Quinto Império. E enquanto o Império Português, edificado pelos heróis da Fundação

Português, edificado pelos heróis da Fundação da nacionalidade e dos Descobrimentosda nacionalidade e dos Descobrimentos é termo, territorial, material, o

é termo, territorial, material, o Quinto Império, anunciado na Mensagem, é umQuinto Império, anunciado na Mensagem, é um espiritual. “E a nossa grande

espiritual. “E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existeraça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são

no espaço, em naus que são construídas daquilo que os sonhos são construídas daquilo que os sonhos são feitos… “Afeitos… “A

Mensagem contém, pois, um apelo futuro”.Resumo/Análise superficiais de alguns poemas de Mensagem contém, pois, um apelo futuro”.Resumo/Análise superficiais de alguns poemas de “Brasão” e “Mar Português”:

“Brasão” e “Mar Português”: 1.ª Parte 1.ª Parte 1. O dos Castelos 1. O dos Castelos »Personificação da Europa »Personificação da Europa

»“Futuro do passado” designa uma

»“Futuro do passado” designa uma alma que permanece.alma que permanece. 2. Ulisses

2. Ulisses

»Lenda da criação da cidade de Lisboa por Ulisses »Lenda da criação da cidade de Lisboa por Ulisses

»“O mito é o nada que é tudo”: apesar de fictício, legitima e explica a realidade »“O mito é o nada que é tudo”: apesar de fictício, legitima e explica a realidade »O mito está num plano superior à realidade, dada a sua intemporalidade »O mito está num plano superior à realidade, dada a sua intemporalidade 3. D. Afonso Henriques

3. D. Afonso Henriques

»D. Afonso Henriques equiparado a Deus, tendo como

»D. Afonso Henriques equiparado a Deus, tendo como missão o combate aosmissão o combate aos Infiéis

Infiéis

»Vocabulário de dimensão sagrada: “vigília”,

»Vocabulário de dimensão sagrada: “vigília”, “infiéis”, “bênção”“infiéis”, “bênção” »Referência ao aparecimento de D

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Ourique Ourique 4. D. Dinis 4. D. Dinis

»Mitificação de D. Dinis pela sua capacidade visionária (plantou os pinhais que »Mitificação de D. Dinis pela sua capacidade visionária (plantou os pinhais que viriam a ser úteis nos Descobrimentos); construtor do futuro

viriam a ser úteis nos Descobrimentos); construtor do futuro »O Presente é “noite”, “silêncio” e “Terra”,

»O Presente é “noite”, “silêncio” e “Terra”, eenquanto que o futuro é os nquanto que o futuro é os pinhais,pinhais, com som similar ao do mar, daí a “terra ansiando pelo mar”

com som similar ao do mar, daí a “terra ansiando pelo mar” 5. D. Sebastião rei de Portugal

5. D. Sebastião rei de Portugal

»A “loucura” ou “sonho” é a capacidade de desejar e ter iniciativa, para »A “loucura” ou “sonho” é a capacidade de desejar e ter iniciativa, para ultrapassar o estado de “cadáver adiado

ultrapassar o estado de “cadáver adiado que procria” (simplesmente viveque procria” (simplesmente vive esperando a morte)

esperando a morte)

»Convite a que outros busquem a

»Convite a que outros busquem a grandeza para construir algo importantegrandeza para construir algo importante (“Minha loucura, outros que me a tomem”)

(“Minha loucura, outros que me a tomem”)

»Para ser grande, Portugal deve ter loucura e desejar grandeza, para poder »Para ser grande, Portugal deve ter loucura e desejar grandeza, para poder “renascer o país”

“renascer o país”

»Enquanto figura histórica, D. Sebastião morreu em

Alcácer-»Enquanto figura histórica, D. Sebastião morreu em Alcácer-Quibir (“ficou meuQuibir (“ficou meu ser que houve”) mas persiste enquanto lenda e

ser que houve”) mas persiste enquanto lenda e exemplo de “loucura” (“não oexemplo de “loucura” (“não o que há”)

que há”)

»Apesar do fracasso, a batalha de Alcácer-Quibir é importante para motivar e »Apesar do fracasso, a batalha de Alcácer-Quibir é importante para motivar e recuperar Portugal do estado de “morte psicológica”

recuperar Portugal do estado de “morte psicológica” 2.ª Parte

2.ª Parte 1. O Infante 1. O Infante

»“Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce”: descrição do processo de criação »“Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce”: descrição do processo de criação »Porque Deus quis unir a Terra, “criou” o Infante D. Henrique para que este »Porque Deus quis unir a Terra, “criou” o Infante D. Henrique para que este impulsionasse a obra dos Descobrimentos

impulsionasse a obra dos Descobrimentos »Mitificação do infante, criado e

»Mitificação do infante, criado e predestinado por Deus»Depois de criado o Império materialpredestinado por Deus»Depois de criado o Império material (“Cumpriu

(“Cumpriu--se o mar”), “o Império sese o mar”), “o Império se desfez”, faltando “cumprir

desfez”, faltando “cumprir--se Portugal”, sob a forma de um Quinto Impériose Portugal”, sob a forma de um Quinto Império espiritual

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2. Horizonte

»O horizonte (“longe”, “linha severa”, “abstracta linha”) simboliza os limites »Descrição das tormentas da viagem (passado), da chegada (presente) e reflexão (projecção futura)

»A esperança e a vontade são impulsionadoras da busca

»O sucesso permite atingir o Conhecimento como recompensa 3. Ascensão de Vasco da Gama

»Capacidade de interferência de Vasco da Gama no plano mitológico das guerras entre deuses e gigantes

»Ascensão de Vasco da Gama e dos Portugueses, porque devido aos seus feitos “se vão da lei da morte libertando”, perante pasmo quer no plano mitológico (deuses e gigantes) quer no plano terreno (pastor)

4. O Mostrengo

»Existência permanente do desconhecido

»O homem do leme treme com medo do perigo, mas enfrenta-o (herói épico) »Imposição progressiva do homem do leme ao mostrengo

5. Mar Português

»Lamentação do “preço” dos descobrimentos e reflexão sobre a sua utilidade »O mar (“sal”, “lágrimas”) é de origem portuguesa – mitificação de Portugal »“Tudo vale a pena/Se a alma não é pequena”: o preço da busca é

recompensado, neste caso tornando-se português o mar. »É no mar (desconhecido) que se espelha o céu

»Cumprir o sonho é ultrapassar a dor 6. Prece

»Poema de transição da 2.ª para a 3.ª parte da obra

»Descrição negativa do presente e consequente saudade do passado

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Debaixo das cinzas ainda resta alguma esperança »Demonstração do desejo de novas conquistas

»Independentemente da conquista, interessa “que seja nossa” para recuperar a identidade e glória passadas.

»O Passado é representado pela grandeza nacional (Descobrimentos) e o Presente pela saudade do passado, daí a necessidade de recuperar o fulgor e o tom de esperança implícito no poemaTestes de preparação:

(Ilustração de Carlos Alberto Santos – Fonte:

http://www.historia.com.pt/Mensagem/MarPortugues/Padrao.htm)

1. Explique o primeiro verso, identificando a figura de estilo que o estrutura. 2. Apresente os traços caracterizadores de Diogo Cão.

2.1. Esclareça o significado dos dois últimos versos da segunda estrofe.

3. Explicite a intencionalidade da afirmação “O mar sem fim é português” (v.12). 4. Justifique o título do poema tendo em conta a estrutura da obra em que se integra. PADRÃO

O esforço é grande e o homem é pequeno. Eu, Diogo Cão, navegador, deixei

Este padrão ao pé do areal moreno E para diante naveguei.

A alma é divina e a obra é imperfeita. Este padrão sinala ao vento e aos céus Que, da obra ousada, é minha a parte feita: O por-fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano Ensinam estas Quinas, que aqui vês,

Que o mar com fim será grego ou romano: O mar sem fim é português.

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E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma E faz a febre em mim de navegar

Só encontrará de Deus na eterna calma O porto sempre por achar.

Fernando PessoaD. DINIS

1. Indique, baseando-se em passagens do poema, as duas facetas do rei D. Dinis postas em evidência.

2. O sujeito poético cria à volta de D. Dinis um ambiente de mistério. 2.1. Assinale os segmentos textuais que o comprovam.

2.2. Explique de que forma esse ambiente de mistério ajuda criar, para D. Dinis, uma imagem de visionário.

3. Embora predominem os verbos no presente do indicativo, o poema centra-se no futuro.

3.1. Explicite o sentido da metáfora “O plantador das naus a haver” (v.2). 3.2. Interprete a metáfora contida nos versos 6 e 7.

4. Ao longo do poema, podemos encontrar diversas referências a dois ciclos da nossa História – o da terra e o do mar.

4.1. Sinalize os versos que ilustram esta afirmação. Na noite escreve um seu Cantar de Amigo

O plantador de naus a haver,

E ouve um silêncio múrmuro consigo: É o rumor dos pinhais que, como um trigo De Império, ondulam sem se poder ver. Arroio, esse cantar, jovem e puro, Busca o oceano por achar;

E a fala dos pinhais, marulho obscuro, É o som presente desse mar futuro,

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É a voz da terra ansiando pelo mar.

(Ilustração de Carlos Alberto Santos  – Fonte:

Fernando Pessoa http://www.historia.com.pt/Mensagem/Brazao/DDinis.htm)1. Identifique os traços caracterizadores de D. Nuno Álvares Pereira valorizados

pelo eu poético.

2. Interprete a simbologia da espada do herói, tendo em conta que é comparada a Excalibur.

3. Indique a figura de estilo presente em “Ergue a luz da tua espada” (v.11) e refira a sua expressividade.

4. Aprecie os efeitos sugeridos pelo uso das frases interrogativas e exclamativa. 5. Explique o motivo pelo qual este poema integra a 1.ª parte da Mensagem. NUN’ÁLVARES PEREIRA

Que auréola te cerca? É a espada que, volteando, Faz que o ar alto perca Seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida, Faz esse halo no céu?

É Excalibur*, a ungida, Que o Rei Artur te deu. 'Sperança consumada, S. Portugal em ser,

Ergue a luz da tua espada Para a estrada se ver!

(Ilustração de Carlos Alberto Santos  – Fonte:

http://www.historia.com.pt/Mensagem/Brazao/NUNALVARES. htm)

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*Excalibur – espada sagrada, com poder indestrutível para a defesa do bem. Só os puros de coração podiam

empunhá-la.

Fernando PessoaIntrodução à Mensagem, de Fernando Pessoa. (Fonte:// http://www.historia.com.pt/Mensagem/Mensagem.htm)

Mensagem é um Poema constituído por 44 poemas independentes que foram

inseridos numa espécie de esqueleto que deu coerência ao conjunto. Este esqueleto está dividido em três partes (Brasão, Mar Português e O Encoberto que tratei

individualmente em textos introdutórios) e a coerência é dada, não pelos poemas propriamente ditos, mas antes pelos seus nomes e pelos títulos e subtítulos das partes em que se inserem. Esta é uma solução deveras inovadora!! Para evitar confusões, quando falar do Poema (com maiúscula) estarei a referir Mensagem; se falar de poema (com minúscula) referir-me-ei a qualquer dos 44 poemas que constituem o Poema. Mensagem foi publicada em livro no dia 1 de Dezembro de 1934, em vida de

Fernando Pessoa, mas em condições muito particulares que influenciaram a sua

composição: destinava-se a participar num concurso com regras rígidas em relação ao prazo e número de páginas. Das três partes do Poema a segunda "Mar Português" já existia como um conjunto e é evidente a sua homogeneidade e a constância da

qualidade da generalidade dos poemas; as duas restantes foram fabricadas a partir de poemas soltos. Destes, pelo menos quatro dos dezanove poemas da primeira parte (Brasão) foram escritos no próprio ano da publicação enquanto que pelo menos sete dos treze da terceira parte (O Encoberto) foram escritos em 1933 ou 1934. Talvez por ter sido mais apressadamente preparada, esta é a "menos boa" (todas são boas!!) do conjunto. Segundo as regras do concurso o livro teria que ter pelo menos cem páginas que foram conseguidas com muita dificuldade à custa dos 44 poemas e das páginas interpostas entre eles (artifício que, aliás, o júri não aceitou). Daqui resultaram enxertos de poemas soltos, anteriores, num conjunto para o qual não teriam sido pensados (pelo menos na posição que vieram a ocupar), duplicações e acrescentos.

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Quer isto dizer que Fernando Pessoa teve que construir de forma relativamente rápida um Poema que, provavelmente, teria sido diferente se as circunstâncias o não

tivessem pressionado.

Os Lusíadas foi escrito ainda no apogeu da expansão portuguesa (na sua fase

final, que hoje sabemos ser já irremediavelmente decadente mas que, na época, não seria necessariamente apercebido como tal) glorificando o esforço da Raça e

apontando para uma ainda maior predominância futura. Quando a si próprio se pôs como desafio produzir um Poema de grandeza semelhante (se possível superior), Pessoa vivia num Portugal descolorido e atrasado, sem nada que o recomendasse excepto a criatividade dos seus literatos. Há duas caracteristicas de Fernando Pessoa que importa notar: por um lado amava apaixonadamente a Pátria, de uma maneira que hoje, na Europa onde as nacionalidades se diluem, nos é difícil compreender; por outro era um lógico obsessivo cujas tentativas "científicas" de racionalizar o

irracionalizável impressionam e, às vezes, divertem pela candura que demonstram. Posto perante a inelutável equação do seu tempo, parece ter racionalizado a

situação da seguinte maneira: o Universo teve uma causa que o contém, um Criador a que podemos convenientemente chamar "Deus"; se Deus contém em si o Universo então também contém toda a História, que deve ter determinado desde o início (a esta determinação chama-se "Destino"); alguns homens conseguem por vezes

entrever o futuro porque ele já está estabelecido; um destes homens foi o Bandarra que profetizou nas suas "Trovas" (pensava o Padre António Vieira e com ele Fernando Pessoa, embora reconhecendo-lhes uma autoria múltipla) a hegemonia po rtuguesa numa época futura; o único trunfo de que Portugal dispunha era a cultura duma elite e, particularmente, um génio poético desproporcionado à sua população; logo a

hegemonia terá uma base cultural e será alcançada através de uma poesia tão superior que inspire os homens à fruição da beleza em paz e concórdia...

Este será o Quinto Império, uma época de união e paz universais sem limite final no tempo. Se Portugal está predestinado, então terá que produzir um grande poeta (a

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que Pessoa chamava super-Camões referindo-se, presumivelmente, a si próprio) e um grande líder que inspirem e conduzam todo o Mundo à união cultural que marcará o advento do Quinto Império. Esse líder é convenientemente chamado de "O Desejado", "O Encoberto" ou "D.Sebastião", uma designação que Pessoa valorizava por pensar ser mais fácil passar a ideia de um mito já estabelecido do que criar um inteiramente novo. Na prática é uma esperança semelhante à do Grand Roi da mitologia francesa, que seria o Carlos Magno do futuro.

A insistência de Fernando Pessoa na figura de D.Sebastião não significa

realmente que esperasse ver o espírito do rei morto reencarnar para conduzir o País à glória. Até porque a história nos ensina (e Pessoa sabê-lo-ia melhor do que eu) que D. Sebastião tinha muito pouco que o recomendasse. Só me ocorre uma coisa: soube morrer bem! Quando o nome do rei morto em Alcácer Quibir ocorre nos poemas, ou se trata de uma passagem histórica e, portanto, literal, ou então deve subentender-se que Pessoa se refere Àquele que há-de guiar Portugal e o Mundo ao Quinto Império. Pode-se ver na visão de Mensagem uma estranha beleza, bem como uma

inegável grandiosidade. Mas não pode ser ocultado que essa visão é também

decadente já que, ao dizer que o futuro nos está traçado em grandeza, desincentiva o

esforço que poderia levar a essa meta. Não se trata do tradicional efeito de uma "selffulfilling prophecy" (que pode realmente ter ocorrido no caso das Trovas do Bandarra

em relação à Restauração) mas de um convite à inacção porque nos bastaria esperar pelos Tempos e ter fé no Destino! Mas este meu ensaio é sobre beleza e não sobre decadência, por isso passemos a examinar as grandes linhas do Poema.

As duas primeiras partes de Mensagem percorrem a história de Portugal através de personalidades (quer heróis, quer pessoas-chave que, mesmo sem saber, tiveram consequência no futuro do País, quer ainda e até alguns anti-heróis), mitos e sinopses históricas. A Primeira Parte, chamada Brasão, propõe um extraordinário tour-deforce ao percorrer os campos, peças e figuras de um brasão real do tipo do utilizado

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da nossa história. A Segunda, chamada Mar Português, aborda a Idade das

Descobertas que foi a época individualizante da história portuguesa. No penúltimo poema do ciclo (A Última Nau) a época de ouro é encerrada com o desaparecimento de D. Sebastião e o poeta como que desperta de um sonho transportando subitamente o leitor à sua actualidade e confiando-lhe os seus pensamentos. Mas esses pensamentos são uma janela para um futuro em que O Desejado regressa para

retomar o caminho interrompido para o Império Universal. No último poema (Prece) Pessoa invoca a intercessão de Deus para reacender a Alma Lusitana para que de novo "conquiste a Distância".

A Terceira Parte de Mensagem, O Encoberto, é quase inesperada e totalmente extraordinária: Fernando Pessoa retoma o tema só indiciado em "A Última Nau" e precisa o que entende pela "Distância" que haveremos de conquistar. Trata-se do advento do Quinto Império do Mundo, um império de cultura, paz e harmonia entre os povos que será liderado por um português- O Encoberto, O Desejado, o Rei ou

D.Sebastião, como é indistintamente chamado. Nesta Parte vai intercruzar profecias, mitos antigos, símbolos de vária origem, e factos históricos sempre orientado por três vectores básicos: Portugal que dorme e que tem que despertar; o Quinto Império que há-deseguramente ser estabelecido mas que depende desse despertar; e O Desejado que realizará a visão do poeta.

Apesar de publicado numa época em que uma revisão ortográfica tinha já

imposto um padrão muito semelhante ao que ainda hoje utilizamos, Fernando Pessoa optou por utilizar em Mensagem uma ortografia arcaica. Por isso, essa ortografia é parte do Poema ( e, de facto, está-lhe de tal maneira associada que choca ler "Mar Português" em vez do clássico "Mar Portuguez") e nos textos que transcrevi optei pela fidelidade à intenção do poeta, utilizando a ortografia em que ele quis que Mensagem fosse lido.

Antes de passar à apresentação detalhada de cada parte de Mensagem, deixovos com um pensamento: sugere a lógica e comprova a história recente que uma

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agregação pacífica de estados baseada no entendimento terá necessariamente que advir dentro de alguns séculos, quando a tecnologia tal como a conhecemos já for irrelevante, a menos que a Humanidade sofra um retrocesso. Os grandes passos em frente são em geral fruto da influência de alguém extraordinário, com uma visão revolucionária e a capacidade de a levar à prática. Dentro de alguns séculos, quem sabe, talvez o encoberto se descubra e seja mesmo português (ou portuguesa). Afinal, como diz Pessoa, "Deus guarda o corpo e a forma do futuro"!

Joao Manuel Mimoso (2003-12-22), revisto 2004-01-24GRAMÁTICA Actos ilocutórios:

Assertivos (representativos)

Definição: Actos que se relacionam com o locutor, com o valor de verdade do que se diz, isto é, do enunciado.

Exemplos: Eu aceito (…) ; Acho (…), etc. Expressivos

Definição: Actos que têm como objectivo exprimir o estado psicológico do locutor em relação ao enunciado.

Exemplos: Parabéns! ; Que lindo vestido! Directivos

Definição: Actos em que o locutor

pretende que o ouvinte realize, no futuro, o acto verbal ou não verbal referido no enunciado.

Exemplos: Imploro(…); Espero (…), etc. Compromissivos

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compromete a realizar, no futuro, o acto referido no enunciado.

Exemplos: Juro(…); Até logo, à porta do cinema.

Declarativos

Definição: Actos em que, pela sua

enunciação, alteram a realidade, criando novos estados de coisas. Estes actos só podem ser praticados por locutores investidos de autoridade que lhes é reconhecida pelos interlocutores.

Uma declaração é a expressão verbal da realidade que ela própria cria ou de que pontualmente depende.

Exemplos: A sessão está aberta; Declarovos marido e mulher.Funções da linguagem: Função apelativa

A ênfase está directamente vinculada ao receptor, na qual o discurso visa persuadi-lo, conduzindo-o a assumir um determinado comportamento. A presente modalidade encontra-se presente na linguagem

publicitária de uma forma geral e traz como característica principal, o emprego dos verbos no modo imperativo.

Função referencial ou denotativa

Ocorre quando o objectivo do emissor é traduzir a realidade visando à informação.

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Sua predominância atém-se a textos científicos, técnicos ou didácticos, alguns géneros do quotidiano jornalístico,

documentos oficiais e correspondências comerciais. A linguagem neste caso é

essencialmente objectiva, razão pela qual os verbos são retratados na 3ª pessoa do

singular, conferindo-lhe total impessoalidade por parte do emissor.

Função fática

O objetivo do emissor é estabelecer o contato, verificar se o receptor está

recebendo a mensagem de forma autêntica, ou ainda visando prolongar o contato. Há o predomínio de expressões usadas nos comprimentos como: bom dia, Oi!. Ao

telefone (Pronto! Alô!) e em outras situações em que se testa o canal de comunicação (Está me ouvindo?).

Função Metalinguística

A linguagem tem função metalinguística quando o uso do código tem por finalidade explicar o próprio código.

Função Poética

Nesta modalidade, a ênfase encontra-se centrada na elaboração da mensagem. Há um certo cuidado por parte do emissor ao

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elaborar a mensagem, no intuito de selecionar as palavras e recombiná-las de acordo com seu propósito. Encontra-se

permeada nos poemas e, em alguns casos, na prosa e em anúncios publicitários.Deícticos:

São signos que referenciam objectos, espaços e pessoas da situação de enunciação; são palavras que actuam como referenciais da enunciação. Podem ser:

Aliteração – Repetição de sons consonânticos. Exemplo:

“Fogem fluindo à fina-flor dos fenos.” (Eugénio de Castro)

“Na messe, que enlourece, estremece a quermesse.” (Eugénio de Castro) Assonância – Repetição de sons vocálicos.

Exemplo:

“Sino de Belém, pelos que inda vêm! Sino de Belém bate bem-bem-bem. Sino da Paixão, pelos que lá vão! Sino da Paixão bate bão-bão-bão.”

(Manuel Bandeira, Poesia Completa e Prosa)

Onomatopeia – Conjunto de sons que reproduzem ruídos do mundo físico. Este conjunto de sons pode formar palavras com sentido (palavras onomatopaicas). Exemplo:

“Bramindo o negro mar de longe brada.” (Camões)

Anáfora – Repetição de uma ou mais palavras no início de verso ou de período. Exemplo:

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“Toda a manhã/fui a flor/impaciente/por abrir. /Toda a manhã/fui ardor/do sol/no teu telhado. “ (Eugénio de Andrade)

“É brando o dia, brando o vento.

É brando o Sol e brando o céu.” (Fernando Pessoa)Assíndeto – Supressão das partículas de ligação (vírgula, virgula,)

Exemplo:

“Quero perder-me neste Pisão, nesta Pereira, neste Desterro.” (Vitorino Nemésio) “Eu hoje estou cruel, frenético, exigente.” (Cesário Verde)

Polissíndeto – Repetição dos elementos de ligação entre palavras. Exemplo:

“Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e no jardim e onde quer que nos encontremos.” (Sebastião da Gama)

“E crescer e saber e ser e haver

E perder e sofrer e ter terror.” (Vinicius de Morais) Anástrofe – Inversão da ordem directa das palavras. Exemplo:

“Tirar Inês ao mundo determina.” (Camões)

Hipérbato – Inversão violenta da ordem dos elementos na frase. Exemplo:

“Casos/Duros que Adamastor contou futuros.” (Camões)

“Estas sentenças tais o velho honrado Vociferando estava.” (Camões)

Paralelismo ou simetria – Repetição do esquema ou construção da frase ou do verso.

Exemplo:

“Meu amor! Meu amante! Meu amigo!” (Florbela Espanca)

“E agora José? A festa acabou/a apagou/o povo sumiu/a noite esfriou/e agora José? E agora Joaquim? /Está sem mulher/está sem discurso/está sem caminho…” (Carlos Drummond de Andrade)“Ondas do mar de Vigo,

(19)

Se vistes o meu amigo, E ai Deus se virá cedo! Ondas do mar levado, Se vistes meu amado,

Ai Deus se virá cedo!” (Martim Codax)

Pleonasmo – Repetição de uma ideia já expressa. Exemplo:

“Vi, claramente visto, o lume vivo.” (Camões) “Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!” (Fernando Pessoa)

Quiasmo – Estrutura cruzada de quatro elementos, agrupados dois a dois. Assim, o segundo grupo apresenta os mesmos elementos do primeiro, mas invertendo a ordem (J.M. Castro Pinto).

Exemplo:

“Joana flores colhia/Joana colhia cuidado.” (Bernardim Ribeiro) “Mais dura, mais cruel, mais rigorosa,

(…)

Mais rigoroso, mais cruel, mais duro.” (Jerónimo Baía)

Antítese – Apresentação de um contraste entre duas ideias ou coisas. Repare-se nesta sequência de antíteses:

Exemplo:

“Ganhe um momento o que perderam anos/Saiba morrer o que viver não soube!”

(Bocage)“Ali, àquela luz ténue e esbatida, ele exalava a sua paixão crescente e escondia o seu fato decadente.” (Eça de Queirós)

“O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)

Paradoxo – Um mesmo elemento produz efeitos opostos. Exemplo:

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“Que puderam tornar o fogo frio.” Que saudade, gosto amargo.”

Apóstrofe ou Invocação – Interpelação a alguém ou a alguma coisa personificada.

Exemplo:

“Ó glória de mandar, ó vá cobiça/Desta vaidade a quem chamamos fama. ” (Camões)

“Bem puderas, ó Sol, da vista destes…” (Camões) Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!” (Fernando Pessoa)

Comparação – Consiste na relação de semelhança entre duas ideias ou coisas, através de uma palavra ou expressão comparativa ou de verbos a ela

equivalentes (parecer, lembrar, assemelhar-se, sugerir). Exemplo:

“O génio é humilde como a natureza.” (M. Torga)

“A rua … parece um formigueiro agitado.” (Érico Veríssimo)

“Eu toco a solidão como uma pedra.” (Sophia de Mello Breyner Andresen)

Eufemismo – Dizer de uma forma suave uma ideia ou realidade desagradável.Exemplo: “…Só porque lá os velhos apanham de quando em quando uma folha de couve

pelas hortas, fazem de nós uns Zés do Telhado!” (Aquilino Ribeiro) Tirar Inês ao mundo determina.” (Camões)

Disfemismo – Dizer de forma violenta aquilo que poderia ser apresentada de uma forma mais suave.

Exemplo:

“Esticar o pernil.”

“ – Foi. Enfurecendo-se, estourou. É dos livros…  – Se não se tivesse zangado hoje…

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 – Estourava amanhã. Estava nas últimas… Deixa em paz a criatura.

Está começando a esta hora a apodrecer, não a perturbemos.” (Eça de Queirós) Enumeração – Apresentação sucessiva de vários elementos.

Exemplo:

“Deu sinal a trombeta castelhana/Horrendo, fero, ingente e temeroso.” (Camões) Gradação – Disposição dos termos por ordem progressiva no seio de uma

enumeração. Pode ser crescente oudecrescente. Exemplo:

“Duro, seco, estéril monte…” (Camões)

”O Chico Avelar é bom moço; mas o pai é tacanho, um bana bóia…! Tem medo de tudo; é um capacho debaixo dos pés de certos senhores da cidade. Quanto á fortuna de dona Carolina Amélia, … bem sabes como aquilo estava:capitais espalhados, rendas em atraso, casas a cair…” (Vitorino Nemésio)

Hipálage – Atribuição a um ser ou coisa de uma qualidade ou acção logicamente pertencente a outro ser.Exemplo:

“As tias faziam meias sonolentas.” (Eça de Queirós) “Dá-me cá esses ossos honrados.” (Eça de Queirós)

Personificação – Atribuição de qualidades ou comportamentos humanos a seres que o não são.

Exemplo:

“Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal.” (Fernando Pessoa)

“Havia na minha rua/Uma árvore triste.” (Saúl Dias)

“Também, choram *as ondas+ todo o dia, /Também se estão a queixar. /Também, á luz das estrelas, / toda a noite asuspirar!” (Antero de Quental)

Hipérbole – Ênfase resultante do exagero. Exemplo:

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“Se aquele mar foi criado num só dia, eu era capaz de o escoar numa só hora.” (Agustina Bessa - Luís)

Ela só viu as lágrimas em fio/que duns e doutros olhos derivadas/se acrescentaram em grande e largo rio.” (Camões)

Ironia – Figura que sugere o contrário do que se quer dizer. Exemplo:

“Senhora de raro aviso e muito apontada em amanho da casa e ignorante mais que o necessário para ter juízo.” (Camilo Castelo Branco)

“A Câmara Municipal do Porto, com uma nobre solicitude pelo peixe, para quem parece ser uma extremosa mãe, ereceando com um carinho assustado, que o

peixe se constipasse … construiu-lhe uma praça fechada.” (Eça de Queirós)Metáfora – Comparação de dois termos, seguida de uma identificação.

Exemplo:

“A menina Vilaça, A loura, vestida de branco, simples, fresca, com o seu ar de gravura colorida.” (Eça de Queirós)

Sinédoque – Variante de metonímia, pela qual se exprime o todo pela parte ou vice-versa.

Exemplo:

“…a Ocidental praia Lusitana.” (Camões) “…novo temor da Moura lança.” (Camões)

Sinestesia – Fusão de percepções relativas a dados sensoriais de sentidos diferentes.

Exemplo:

“Da luz, do bem, doce clarão irreal.” (Camilo Pessanha) “…delicioso aroma selvagem.” (Almeida Garrett)

“Tinha um sorriso amargo.” (Eça de Queirós)

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subentende. Exemplo:

“Quero perder-me neste Pisão, nesta Pereira, neste Desterro.” (Vitorino Nemésio) Equivalente a: Quero perder-me neste Pisão, [quero perder-me] nesta Pereira, [quero perder-me] neste Desterro.

Animismo – Atribuição de vida a seres inanimados. Exemplo:

“Plácida, a planície adormece, lavrada ainda de restos de calor.” (Virgílio Ferreira)Interrogação  – Questão retórica, isto é, não visa uma resposta, antes procura

dar ênfase e criar expectativa. Exemplo:

“Sou por ele retrato possuído? /Ou ele me possui?” (Raul de Carvalho) Metonímia – Emprego de um vocábulo por outro, com o qual estabelece uma relação de contiguidade (o continente pelo conteúdo; o lugar pelo produto, o autor pela sua obra, etc.).

Exemplo:

Tomar um copo (=um copo de vinho). Beber um Porto (=um cálice de vinho do Porto).

Ando a ler Eugénio de Andrade (=a obra de…)

Os madeireiros “trabalham nesta praça contra a clorofila.” (Carlos de Oliveira) “O excomungado não tem queda para as letras.” (=estudo) (Aquilino Ribeiro) Perífrase – Figura que consiste em dizer por muitas palavras o que poderia ser dito em algumas ou alguma.

Exemplo:

“Tenho estado doente. Primeiramente, estômago – e depois, um incómodo, um

abcesso naquele sítio em que se levam os pontapés…” (Eça de Queirós) Português – 12.º Ano Mensagem, de Fernando Pessoa

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Gramática – Actos ilocutórios, funções da linguagem, deícticos e figuras de estilo. Inclui texto complementar ao estudo da obra Mensagem

Autor: Francisco CubalEstrutura da obra:

A poesia da “Mensagem” poderá ser vista como uma epopeia, pois parte de um núcleo histórico. Contudo, a sua formulação é simbólica, mítica, e não possuirá continuidade.

O poema Mensagem, exaltação do Sebastianismo que se cruza com a

expectativa de ressurgimento nacional, assenta num simbolismo e misticismo, revelador de uma faceta oculta e mística do poeta.

Há na mensagem uma transcrição da história de uma nação, mas transfigurada, onde a acção dos heróis, só adquire pleno significado dentro duma referência mitológica. Aqui só serão eleitos, só terão direito à imortalidade, aqueles homens e feitos que manifestam em si esses mitos significativos.

Assim, a estrutura da Mensagem, transfigura e repete a história duma pátria

como o mito dum nascimento, vida, morte e renascimento de um mundo. A cada um destes momentos corresponde (respectivamente) o “Brasão”, o “Mar Português” e “O Encoberto”.

O “Brasão” corresponde à primeira parte e ao plano narrativo da história de Portugal, n’Os Lusíadas, onde encontramos hérois míticos ou mitificados, desde “Ulisses” a “D.Sebastião, rei de Portugal”. Trata-se de heróis vencedores, nalguns casos, mas falhados na opinião geral, ignorados, ou quase, por Camões.

O “Mar Português” corresponde à segunda parte e ao tempo da “acção épica”. Constituída por doze poemas inspirados na ânsia do desconhecido e no esforço heróico da luta contra o Mar  – figurados em “O Mostrengo”, “Mar Português” e “A Última Nau”.

“O Encoberto” corresponde à terceira parte, onde se insinua que o Rei

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numa manhã de nevoeiro”. Assim, a terceira parte, é toda ela um fim, uma

desintegração; mas também toda ela cheia de avisos, de forças ocultas prestes a virem à luz depois da “Noite” e “Tormenta”, dando origem ao novo ciclo que se anuncia: o Quinto Império. Linguagem e estilo:

A linguagem é lapidar, também carregada de simbolismo e, por vezes,

arcaizante. Corresponde este aspecto à vontade do autor intemporalizar conceitos que convergem para o ideal absolutizado que deseja cumprir, assumindo-se como um Super Poeta, um Supra Camões.

O lirismo revela emoção do poeta, perante a grandiosidade da Pátria,

representada na excelência dos seus heróis bélicos, na audácia dos seus nautas, no idealismo dos seus profetas.

Os elementos épicos presentificam um “épico sui -generis” de sentido

entusiasmo, voz de incitamento aos portugueses para devolverem à Pátria a sua glória passada, numa sublimação futura.

O mito:

As figuras e os acontecimentos históricos são convertidos em símbolos, em mitos, que o poeta exprime liricamente. “O mito é o nada que é tudo”, verso do poema “Ulisses”, é o paradoxo que melhor define essa definição simbólica da matéria histórica da Mensagem.

Sebastianismo:

A Mensagem apresenta um carácter profético, visionário, pois antevê um

império futuro, não terreno, e ansiar por ele é perseguir o sonho, a quimera, a febre de além, a sede de Absoluto, a ânsia do impossível, a loucura. D. Sebastião é o mais importante símbolo da obra que, no conjunto dos seus poemas, se alicerça, pois, num sebastianismo messiânico e profético.

Quinto Império: império espiritual:

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passado, cabe construir o Império do futuro, o Quinto Império. E enquanto o Império Português, edificado pelos heróis da Fundação da nacionalidade e dos Descobrimentos é termo, territorial, material, o Quinto Império, anunciado na Mensagem, é um

espiritual. “E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo que os sonhos são feitos… “A

Mensagem contém, pois, um apelo futuro”.Resumo/Análise superficiais de alguns poemas de “Brasão” e “Mar Português”:

1.ª Parte

1. O dos Castelos

»Personificação da Europa

»“Futuro do passado” designa uma alma que permanece. 2. Ulisses

»Lenda da criação da cidade de Lisboa por Ulisses

»“O mito é o nada que é tudo”: apesar de fictício, legitima e explica a realidade »O mito está num plano superior à realidade, dada a sua intemporalidade 3. D. Afonso Henriques

»D. Afonso Henriques equiparado a Deus, tendo como missão o combate aos Infiéis

»Vocabulário de dimensão sagrada: “vigília”, “infiéis”, “bênção”

»Referência ao aparecimento de Deus a D. Afonso Henriques na Batalha de Ourique

4. D. Dinis

»Mitificação de D. Dinis pela sua capacidade visionária (plantou os pinhais que viriam a ser úteis nos Descobrimentos); construtor do futuro

»O Presente é “noite”, “silêncio” e “Terra”, enquanto que o futuro é os pinhais, com som similar ao do mar, daí a “terra ansiando pelo mar”

5. D. Sebastião rei de Portugal

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ultrapassar o estado de “cadáver adiado que procria” (simplesmente vive esperando a morte)

»Convite a que outros busquem a grandeza para construir algo importante (“Minha loucura, outros que me a tomem”)

»Para ser grande, Portugal deve ter loucura e desejar grandeza, para poder “renascer o país”

»Enquanto figura histórica, D. Sebastião morreu em Alcácer-Quibir (“ficou meu ser que houve”) mas persiste enquanto lenda e exemplo de “loucura” (“não o que há”)

»Apesar do fracasso, a batalha de Alcácer-Quibir é importante para motivar e recuperar Portugal do estado de “morte psicológica”

2.ª Parte 1. O Infante

»“Deus quer, o Homem sonha, a obra nasce”: descrição do processo de criação »Porque Deus quis unir a Terra, “criou” o Infante D. Henrique para que este impulsionasse a obra dos Descobrimentos

»Mitificação do infante, criado e predestinado por Deus»Depois de criado o Império material (“Cumpriu-se o mar”), “o Império se

desfez”, faltando “cumprir-se Portugal”, sob a forma de um Quinto Império espiritual

2. Horizonte

»O horizonte (“longe”, “linha severa”, “abstracta linha”) simboliza os limites »Descrição das tormentas da viagem (passado), da chegada (presente) e reflexão (projecção futura)

»A esperança e a vontade são impulsionadoras da busca

»O sucesso permite atingir o Conhecimento como recompensa 3. Ascensão de Vasco da Gama

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entre deuses e gigantes

»Ascensão de Vasco da Gama e dos Portugueses, porque devido aos seus feitos “se vão da lei da morte libertando”, perante pasmo quer no plano mitológico (deuses e gigantes) quer no plano terreno (pastor)

4. O Mostrengo

»Existência permanente do desconhecido

»O homem do leme treme com medo do perigo, mas enfrenta-o (herói épico) »Imposição progressiva do homem do leme ao mostrengo

5. Mar Português

»Lamentação do “preço” dos descobrimentos e reflexão sobre a sua utilidade »O mar (“sal”, “lágrimas”) é de origem portuguesa – mitificação de Portugal »“Tudo vale a pena/Se a alma não é pequena”: o preço da busca é

recompensado, neste caso tornando-se português o mar. »É no mar (desconhecido) que se espelha o céu

»Cumprir o sonho é ultrapassar a dor 6. Prece

»Poema de transição da 2.ª para a 3.ª parte da obra

»Descrição negativa do presente e consequente saudade do passado

»“O frio morto em cinzas a ocultou:/A mão do vento pode erguê-la ainda.”: Debaixo das cinzas ainda resta alguma esperança

»Demonstração do desejo de novas conquistas

»Independentemente da conquista, interessa “que seja nossa” para recuperar a identidade e glória passadas.

»O Passado é representado pela grandeza nacional (Descobrimentos) e o Presente pela saudade do passado, daí a necessidade de recuperar o fulgor e o tom de esperança implícito no poema

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D. DINIS

1. Indique, baseando-se em passagens do poema, as duas facetas do rei D. Dinis postas em evidência.

2. O sujeito poético cria à volta de D. Dinis um ambiente de mistério. 2.1. Assinale os segmentos textuais que o comprovam.

2.2. Explique de que forma esse ambiente de mistério ajuda criar, para D. Dinis, uma imagem de visionário.

3. Embora predominem os verbos no presente do indicativo, o poema centra-se no futuro.

3.1. Explicite o sentido da metáfora “O plantador das naus a haver” (v.2). 3.2. Interprete a metáfora contida nos versos 6 e 7.

4. Ao longo do poema, podemos encontrar diversas referências a dois ciclos da nossa História – o da terra e o do mar.

4.1. Sinalize os versos que ilustram esta afirmação.

Introdução à Mensagem, de Fernando Pessoa.

(Fonte:// http://www.historia.com.pt/Mensagem/Mensagem.htm)

Mensagem é um Poema constituído por 44 poemas independentes que foram

inseridos numa espécie de esqueleto que deu coerência ao conjunto. Este esqueleto está dividido em três partes (Brasão, Mar Português e O Encoberto que tratei

individualmente em textos introdutórios) e a coerência é dada, não pelos poemas propriamente ditos, mas antes pelos seus nomes e pelos títulos e subtítulos das partes em que se inserem. Esta é uma solução deveras inovadora!! Para evitar confusões, quando falar do Poema (com maiúscula) estarei a referir Mensagem; se falar de poema (com minúscula) referir-me-ei a qualquer dos 44 poemas que constituem o Poema. Mensagem foi publicada em livro no dia 1 de Dezembro de 1934, em vida de

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composição: destinava-se a participar num concurso com regras rígidas em relação ao prazo e número de páginas. Das três partes do Poema a segunda "Mar Português" já existia como um conjunto e é evidente a sua homogeneidade e a constância da

qualidade da generalidade dos poemas; as duas restantes foram fabricadas a partir de poemas soltos. Destes, pelo menos quatro dos dezanove poemas da primeira parte (Brasão) foram escritos no próprio ano da publicação enquanto que pelo menos sete dos treze da terceira parte (O Encoberto) foram escritos em 1933 ou 1934. Talvez por ter sido mais apressadamente preparada, esta é a "menos boa" (todas são boas!!) do conjunto. Segundo as regras do concurso o livro teria que ter pelo menos cem páginas que foram conseguidas com muita dificuldade à custa dos 44 poemas e das páginas interpostas entre eles (artifício que, aliás, o júri não aceitou). Daqui resultaram enxertos de poemas soltos, anteriores, num conjunto para o qual não teriam sido pensados (pelo menos na posição que vieram a ocupar), duplicações e acrescentos. Quer isto dizer que Fernando Pessoa teve que construir de forma relativamente rápida um Poema que, provavelmente, teria sido diferente se as circunstâncias o não

tivessem pressionado.

Os Lusíadas foi escrito ainda no apogeu da expansão portuguesa (na sua fase

final, que hoje sabemos ser já irremediavelmente decadente mas que, na época, não seria necessariamente apercebido como tal) glorificando o esforço da Raça e

apontando para uma ainda maior predominância futura. Quando a si próprio se pôs como desafio produzir um Poema de grandeza semelhante (se possível superior), Pessoa vivia num Portugal descolorido e atrasado, sem nada que o recomendasse excepto a criatividade dos seus literatos. Há duas caracteristicas de Fernando Pessoa que importa notar: por um lado amava apaixonadamente a Pátria, de uma maneira que hoje, na Europa onde as nacionalidades se diluem, nos é difícil compreender; por outro era um lógico obsessivo cujas tentativas "científicas" de racionalizar o

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Posto perante a inelutável equação do seu tempo, parece ter racionalizado a

situação da seguinte maneira: o Universo teve uma causa que o contém, um Criador a que podemos convenientemente chamar "Deus"; se Deus contém em si o Universo então também contém toda a História, que deve ter determinado desde o início (a esta determinação chama-se "Destino"); alguns homens conseguem por vezes

entrever o futuro porque ele já está estabelecido; um destes homens foi o Bandarra que profetizou nas suas "Trovas" (pensava o Padre António Vieira e com ele Fernando Pessoa, embora reconhecendo-lhes uma autoria múltipla) a hegemonia po rtuguesa numa época futura; o único trunfo de que Portugal dispunha era a cultura duma elite e, particularmente, um génio poético desproporcionado à sua população; logo a

hegemonia terá uma base cultural e será alcançada através de uma poesia tão superior que inspire os homens à fruição da beleza em paz e concórdia...

Este será o Quinto Império, uma época de união e paz universais sem limite final no tempo. Se Portugal está predestinado, então terá que produzir um grande poeta (a que Pessoa chamava super-Camões referindo-se, presumivelmente, a si próprio) e um grande líder que inspirem e conduzam todo o Mundo à união cultural que marcará o advento do Quinto Império. Esse líder é convenientemente chamado de "O Desejado", "O Encoberto" ou "D.Sebastião", uma designação que Pessoa valorizava por pensar ser mais fácil passar a ideia de um mito já estabelecido do que criar um inteiramente novo. Na prática é uma esperança semelhante à do Grand Roi da mitologia francesa, que seria o Carlos Magno do futuro.

A insistência de Fernando Pessoa na figura de D.Sebastião não significa

realmente que esperasse ver o espírito do rei morto reencarnar para conduzir o País à glória. Até porque a história nos ensina (e Pessoa sabê-lo-ia melhor do que eu) que D. Sebastião tinha muito pouco que o recomendasse. Só me ocorre uma coisa: soube morrer bem! Quando o nome do rei morto em Alcácer Quibir ocorre nos poemas, ou se trata de uma passagem histórica e, portanto, literal, ou então deve subentender-se que Pessoa se refere Àquele que há-de guiar Portugal e o Mundo ao Quinto Império.

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Pode-se ver na visão de Mensagem uma estranha beleza, bem como uma inegável grandiosidade. Mas não pode ser ocultado que essa visão é também

decadente já que, ao dizer que o futuro nos está traçado em grandeza, desincentiva o

esforço que poderia levar a essa meta. Não se trata do tradicional efeito de uma "selffulfilling prophecy" (que pode realmente ter ocorrido no caso das Trovas do Bandarra

em relação à Restauração) mas de um convite à inacção porque nos bastaria esperar pelos Tempos e ter fé no Destino! Mas este meu ensaio é sobre beleza e não sobre decadência, por isso passemos a examinar as grandes linhas do Poema.

As duas primeiras partes de Mensagem percorrem a história de Portugal através de personalidades (quer heróis, quer pessoas-chave que, mesmo sem saber, tiveram consequência no futuro do País, quer ainda e até alguns anti-heróis), mitos e sinopses históricas. A Primeira Parte, chamada Brasão, propõe um extraordinário tour-deforce ao percorrer os campos, peças e figuras de um brasão real do tipo do utilizado

por D. João II associando, a cada, um traço marcante ou uma personalidade relevante da nossa história. A Segunda, chamada Mar Português, aborda a Idade das

Descobertas que foi a época individualizante da história portuguesa. No penúltimo poema do ciclo (A Última Nau) a época de ouro é encerrada com o desaparecimento de D. Sebastião e o poeta como que desperta de um sonho transportando subitamente o leitor à sua actualidade e confiando-lhe os seus pensamentos. Mas esses pensamentos são uma janela para um futuro em que O Desejado regressa para

retomar o caminho interrompido para o Império Universal. No último poema (Prece) Pessoa invoca a intercessão de Deus para reacender a Alma Lusitana para que de novo "conquiste a Distância".

A Terceira Parte de Mensagem, O Encoberto, é quase inesperada e totalmente extraordinária: Fernando Pessoa retoma o tema só indiciado em "A Última Nau" e precisa o que entende pela "Distância" que haveremos de conquistar. Trata-se do advento do Quinto Império do Mundo, um império de cultura, paz e harmonia entre os povos que será liderado por um português- O Encoberto, O Desejado, o Rei ou

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mitos antigos, símbolos de vária origem, e factos históricos sempre orientado por três vectores básicos: Portugal que dorme e que tem que despertar; o Quinto Império que há-deseguramente ser estabelecido mas que depende desse despertar; e O Desejado que realizará a visão do poeta.

Apesar de publicado numa época em que uma revisão ortográfica tinha já

imposto um padrão muito semelhante ao que ainda hoje utilizamos, Fernando Pessoa optou por utilizar em Mensagem uma ortografia arcaica. Por isso, essa ortografia é parte do Poema ( e, de facto, está-lhe de tal maneira associada que choca ler "Mar Português" em vez do clássico "Mar Portuguez") e nos textos que transcrevi optei pela fidelidade à intenção do poeta, utilizando a ortografia em que ele quis que Mensagem fosse lido.

Antes de passar à apresentação detalhada de cada parte de Mensagem, deixovos com um pensamento: sugere a lógica e comprova a história recente que uma

agregação pacífica de estados baseada no entendimento terá necessariamente que advir dentro de alguns séculos, quando a tecnologia tal como a conhecemos já for irrelevante, a menos que a Humanidade sofra um retrocesso. Os grandes passos em frente são em geral fruto da influência de alguém extraordinário, com uma visão revolucionária e a capacidade de a levar à prática. Dentro de alguns séculos, quem sabe, talvez o encoberto se descubra e seja mesmo português (ou portuguesa). Afinal, como diz Pessoa, "Deus guarda o corpo e a forma do futuro"!

Joao Manuel Mimoso (2003-12-22), revisto 2004-01-24GRAMÁTICA Actos ilocutórios:

Assertivos (representativos)

Definição: Actos que se relacionam com o locutor, com o valor de verdade do que se diz, isto é, do enunciado.

Exemplos: Eu aceito (…) ; Acho (…), etc. Expressivos

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Definição: Actos que têm como objectivo exprimir o estado psicológico do locutor em relação ao enunciado.

Exemplos: Parabéns! ; Que lindo vestido! Directivos

Definição: Actos em que o locutor

pretende que o ouvinte realize, no futuro, o acto verbal ou não verbal referido no enunciado.

Exemplos: Imploro(…); Espero (…), etc. Compromissivos

Definição: Actos em que o locutor se compromete a realizar, no futuro, o acto referido no enunciado.

Exemplos: Juro(…); Até logo, à porta do cinema.

Declarativos

Definição: Actos em que, pela sua

enunciação, alteram a realidade, criando novos estados de coisas. Estes actos só podem ser praticados por locutores investidos de autoridade que lhes é reconhecida pelos interlocutores.

Uma declaração é a expressão verbal da realidade que ela própria cria ou de que pontualmente depende.

(35)

Função apelativa

A ênfase está directamente vinculada ao receptor, na qual o discurso visa persuadi-lo, conduzindo-o a assumir um determinado comportamento. A presente modalidade encontra-se presente na linguagem

publicitária de uma forma geral e traz como característica principal, o emprego dos verbos no modo imperativo.

Função referencial ou denotativa

Ocorre quando o objectivo do emissor é traduzir a realidade visando à informação. Sua predominância atém-se a textos científicos, técnicos ou didácticos, alguns géneros do quotidiano jornalístico,

documentos oficiais e correspondências comerciais. A linguagem neste caso é

essencialmente objectiva, razão pela qual os verbos são retratados na 3ª pessoa do

singular, conferindo-lhe total impessoalidade por parte do emissor.

Função fática

O objetivo do emissor é estabelecer o contato, verificar se o receptor está

recebendo a mensagem de forma autêntica, ou ainda visando prolongar o contato. Há o predomínio de expressões usadas nos

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comprimentos como: bom dia, Oi!. Ao

telefone (Pronto! Alô!) e em outras situações em que se testa o canal de comunicação (Está me ouvindo?).

Função Metalinguística

A linguagem tem função metalinguística quando o uso do código tem por finalidade explicar o próprio código.

Função Poética

Nesta modalidade, a ênfase encontra-se centrada na elaboração da mensagem. Há um certo cuidado por parte do emissor ao

elaborar a mensagem, no intuito de selecionar as palavras e recombiná-las de acordo com seu propósito. Encontra-se

permeada nos poemas e, em alguns casos, na prosa e em anúncios publicitários.Deícticos:

São signos que referenciam objectos, espaços e pessoas da situação de enunciação; são palavras que actuam como referenciais da enunciação. Podem ser:

Aliteração – Repetição de sons consonânticos. Exemplo:

“Fogem fluindo à fina-flor dos fenos.” (Eugénio de Castro)

“Na messe, que enlourece, estremece a quermesse.” (Eugénio de Castro) Assonância – Repetição de sons vocálicos.

(37)

Exemplo:

“Sino de Belém, pelos que inda vêm! Sino de Belém bate bem-bem-bem. Sino da Paixão, pelos que lá vão! Sino da Paixão bate bão-bão-bão.”

(Manuel Bandeira, Poesia Completa e Prosa)

Onomatopeia – Conjunto de sons que reproduzem ruídos do mundo físico. Este conjunto de sons pode formar palavras com sentido (palavras onomatopaicas). Exemplo:

“Bramindo o negro mar de longe brada.” (Camões)

Anáfora – Repetição de uma ou mais palavras no início de verso ou de período. Exemplo:

“Toda a manhã/fui a flor/impaciente/por abrir. /Toda a manhã/fui ardor/do sol/no teu telhado. “ (Eugénio de Andrade)

“É brando o dia, brando o vento.

É brando o Sol e brando o céu.” (Fernando Pessoa)Assíndeto – Supressão das partículas de ligação (vírgula, virgula,)

Exemplo:

“Quero perder-me neste Pisão, nesta Pereira, neste Desterro.” (Vitorino Nemésio) “Eu hoje estou cruel, frenético, exigente.” (Cesário Verde)

Polissíndeto – Repetição dos elementos de ligação entre palavras. Exemplo:

“Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e no jardim e onde  quer que nos encontremos.” (Sebastião da Gama)

“E crescer e saber e ser e haver

E perder e sofrer e ter terror.” (Vinicius de Morais) Anástrofe – Inversão da ordem directa das palavras. Exemplo:

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“Tirar Inês ao mundo determina.” (Camões)

Hipérbato – Inversão violenta da ordem dos elementos na frase. Exemplo:

“Casos/Duros que Adamastor contou futuros.” (Camões)

“Estas sentenças tais o velho honrado Vociferando estava.” (Camões)

Paralelismo ou simetria – Repetição do esquema ou construção da frase ou do verso.

Exemplo:

“Meu amor! Meu amante! Meu amigo!” (Florbela Espanca)

“E agora José? A festa acabou/a apagou/o povo sumiu/a noite esfriou/e agora José? E agora Joaquim? /Está sem mulher/está sem discurso/está sem caminho…” (Carlos Drummond de Andrade)“Ondas do mar de Vigo,

Se vistes o meu amigo, E ai Deus se virá cedo! Ondas do mar levado, Se vistes meu amado,

Ai Deus se virá cedo!” (Martim Codax)

Pleonasmo – Repetição de uma ideia já expressa. Exemplo:

“Vi, claramente visto, o lume vivo.” (Camões) “Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!” (Fernando Pessoa)

Quiasmo – Estrutura cruzada de quatro elementos, agrupados dois a dois. Assim, o segundo grupo apresenta os mesmos elementos do primeiro, mas invertendo a ordem (J.M. Castro Pinto).

Exemplo:

(39)

“Mais dura, mais cruel, mais rigorosa, (…)

Mais rigoroso, mais cruel, mais duro.” (Jerónimo Baía)

Antítese – Apresentação de um contraste entre duas ideias ou coisas. Repare-se nesta sequência de antíteses:

Exemplo:

“Ganhe um momento o que perderam anos/Saiba morrer o que viver não soube!”

(Bocage)“Ali, àquela luz ténue e esbatida, ele exalava a sua paixão crescente e escondia o seu fato decadente.” (Eça de Queirós)

“O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)

Paradoxo – Um mesmo elemento produz efeitos opostos. Exemplo:

“Que puderam tornar o fogo frio.” Que saudade, gosto amargo.”

Apóstrofe ou Invocação – Interpelação a alguém ou a alguma coisa personificada.

Exemplo:

“Ó glória de mandar, ó vá cobiça/Desta vaidade a quem chamamos fama. ” (Camões)

“Bem puderas, ó Sol, da vista destes…” (Camões) Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!” (Fernando Pessoa)

Comparação – Consiste na relação de semelhança entre duas ideias ou coisas, através de uma palavra ou expressão comparativa ou de verbos a ela

equivalentes (parecer, lembrar, assemelhar-se, sugerir). Exemplo:

(40)

“A rua … parece um formigueiro agitado.” (Érico Veríssimo)

“Eu toco a solidão como uma pedra.” (Sophia de Mello Breyner Andresen)

Eufemismo – Dizer de uma forma suave uma ideia ou realidade desagradável.Exemplo: “…Só porque lá os velhos apanham de quando em quando uma folha de couve

pelas hortas, fazem de nós uns Zés do Telhado!” (Aquilino Ribeiro) Tirar Inês ao mundo determina.” (Camões)

Disfemismo – Dizer de forma violenta aquilo que poderia ser apresentada de uma forma mais suave.

Exemplo:

“Esticar o pernil.”

“ – Foi. Enfurecendo-se, estourou. É dos livr os…  – Se não se tivesse zangado hoje…

 – Estourava amanhã. Estava nas últimas… Deixa em paz a criatura.

Está começando a esta hora a apodrecer, não a perturbemos.” (Eça de Queirós) Enumeração – Apresentação sucessiva de vários elementos.

Exemplo:

“Deu sinal a trombeta castelhana/Horrendo, fero, ingente e temeroso.” (Camões) Gradação – Disposição dos termos por ordem progressiva no seio de uma

enumeração. Pode ser crescente oudecrescente. Exemplo:

“Duro, seco, estéril monte…” (Camões)

”O Chico Avelar é bom moço; mas o pai é tacanho, um bana bóia…! Tem medo de tudo; é um capacho debaixo dos pés de certos senhores da cidade. Quanto á fortuna de dona Carolina Amélia, … bem sabes como aquilo estava:capitais espalhados, rendas em atraso, casas a cair…” (Vitorino Nemésio)

Hipálage – Atribuição a um ser ou coisa de uma qualidade ou acção logicamente pertencente a outro ser.Exemplo:

(41)

“As tias faziam meias sonolentas.” (Eça de Queirós) “Dá-me cá esses ossos honrados.” (Eça de Queirós)

Personificação – Atribuição de qualidades ou comportamentos humanos a seres que o não são.

Exemplo:

“Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal.” (Fernando Pessoa)

“Havia na minha rua/Uma árvore triste.” (Saúl Dias)

“Também, choram [as ondas] todo o dia, /Também se estão a queixar. /Também, á luz das estrelas, / toda a noite asuspirar!” (Antero de Quental)

Hipérbole – Ênfase resultante do exagero. Exemplo:

“Se aquele mar foi criado num só dia, eu era capaz de o escoar numa só hora.” (Agustina Bessa - Luís)

Ela só viu as lágrimas em fio/que duns e doutros olhos derivadas/se acrescentaram em grande e largo rio.” (Camões)

Ironia – Figura que sugere o contrário do que se quer dizer. Exemplo:

“Senhora de raro aviso e muito apontada em amanho da casa e ignorante mais que o necessário para ter juízo.” (Camilo Castelo Branco)

“A Câmara Municipal do Porto, com uma nobre solicitude pelo peixe, para quem parece ser uma extremosa mãe, ereceando com um carinho assustado, que o

peixe se constipasse … construiu-lhe uma praça fechada.” (Eça de Queirós)Metáfora – Comparação de dois termos, seguida de uma identificação.

Exemplo:

“A menina Vilaça, A loura, vestida de branco, simples, fresca, com o seu ar de gravura colorida.” (Eça de Queirós)

(42)

vice-versa. Exemplo:

“…a Ocidental praia Lusitana.” (Camões) “…novo temor da Moura lança.” (Camões)

Sinestesia – Fusão de percepções relativas a dados sensoriais de sentidos diferentes.

Exemplo:

“Da luz, do bem, doce clarão irreal.” (Camilo Pessanha) “…delicioso aroma selvagem.” (Almeida Garrett)

“Tinha um sorriso amargo.” (Eça de Queirós)

Elipse – Omissão de uma palavra (um adjectivo, um verbo, etc.) que subentende.

Exemplo:

“Quero perder-me neste Pisão, nesta Pereira, neste Desterro.” (Vitorino Nemésio) Equivalente a: Quero perder-me neste Pisão, [quero perder-me] nesta Pereira, [quero perder-me] neste Desterro.

Animismo – Atribuição de vida a seres inanimados. Exemplo:

“Plácida, a planície adormece, lavrada ainda de restos de calor.” (Virgílio Ferreira)Interrogação  – Questão retórica, isto é, não visa uma resposta, antes procura

dar ênfase e criar expectativa. Exemplo:

“Sou por ele retrato possuído? /Ou ele me possui?” (Raul de Carvalho) Metonímia – Emprego de um vocábulo por outro, com o qual estabelece uma relação de contiguidade (o continente pelo conteúdo; o lugar pelo produto, o autor pela sua obra, etc.).

(43)

Tomar um copo (=um copo de vinho). Beber um Porto (=um cálice de vinho do Porto).

Ando a ler Eugénio de Andrade (=a obra de…)

Os madeireiros “trabalham nesta praça contra a clorofila.” (Carlos de Oliveira) “O excomungado não tem queda para as letras.” (=estudo) (Aquilino Ribeiro) Perífrase – Figura que consiste em dizer por muitas palavras o que poderia ser dito em algumas ou alguma.

Exemplo:

“Tenho estado doente. Primeiramente, estômago – e depois, um incómodo, um abcesso naquele sítio em que se levam os pontapés…” (Eça de Queirós)

Reflexão do Poema “A Última Nau” de Fernando Pessoa

O poema “A última Nau” é um poema escrito por Fernando Pessoa ilustre poeta e escritor português do século XIX/XX. Apresentou este poema, na minha opinião, como um

espectro de alguém no seu presente mas com a perfeita noção de que seria mais tarde um passado. Na minha humilde análise penso que o autor, apresentou como tópico central “o mistério de el-rei D. Sebastião”.

Acontece que Fernando Pessoa conseguiu pegar numa passagem literária de Camões. Mais especificamente a epopeia Portuguesa “Os Lusíadas” (can to X) no suposto episódio que é conhecido como a ilha dos amores. O carismático evento onde os navegadores

Portugueses tem relações com as ninfas. Neste simples acontecimento pudemos associar ao sucedido, uma aproximação destes simples homens á divindade, ou seja, que, estes meros navegadores naquele momento, quase se tornaram

deuses. Servindo-se deste excerto

Fernando Pessoa conseguiu de algum modo associar esta epopeia que se centra numa “conquista náutica” e usando o seu campo lexical para conectar a um passado menos distante a partida de El-Rei D. Sebastião que foi via marítima. Contudo o criador de todo este enredo demonstra o seu génio quando escreve no seu presente com o ponto de vista dum futuro onde ele se ausentará. Sabe conscientemente, que no futuro a perspectiva sobre a sua época contemporânea será feita com um olhar feito na base de algo sucedido, que reflecte algo ainda mais antigo.

O poeta refere a uma hora, penso com base no que referi nos parágrafos anteriores que ele fala nada mais, nada menos na lenda de D. Sebastião, que ainda hoje persiste. Embora seja impossível de um ponto de vista científico, acreditamos que um dia de nevoeiro D. Sebastião irá regressar no seu cavalo branco. Como crianças que acreditam que os bebés vêm das cegonhas, achamos engraçada a ideia. E continuamos a transmitir esta fantasia

Referências

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