VILA DO CONDE QUINHENTISTA
Igreja Matriz
DescriçãoPlanta composta em cruz latina com três naves, transepto e cabeceira salientes, sendo esta formada por ábside e dois absidíolos, com duas capelas no transepto. As coberturas são diferenciadas e apresentam telhados de uma, duas e quatro águas. As paredes que formam a nave central e a capela-mor, em toda a sua extensão, estão coroadas por duas ordens de merlões. Na fachada Oeste, o pórtico, cuja autoria se atribui a João de Castilho, é composto por três arcos trilobados e um grande arco conopial, ornado de folhagem, limitado por finos botaréus acogulhados e fechado por um cordame
entrançado que coincide com a ponta do arco de querena. No tímpano pode ver-se sob um grande dossel rendilhado uma escultura de pedra, figurando S. João Baptista, assente numa mísula esculpida e ladeada pelos símbolos dos Evangelistas. No espaço que se sobrepõe ao último arco vemos esculpidos vários adereços: o local onde estariam armas de D. Manuel ladeadas por duas esferas armilares e do lado oposto o escudo de Vila do Conde. A torre sineira, localizada a Norte, apresenta uma estrutura
quadrangular, quase ausente de ornamentação, com excepção para o balcão de
balaústres assente em mísulas. O portal lateral de arquivolta ogival assenta em colunas torsas de capitéis vegetalistas.
O interior é composto por três naves, sendo a central mais alta e mais larga que as laterais, e separadas por quatro arcos de volta inteira suportados por colunas oitavadas alternando faces planas e côncavas, com finos colunelos nos ângulos.
O pavimento é em soalho de madeira e os tectos são também de madeira. A Capela-mor é coberta com uma abóbada de aresta ricamente artesoada.
O absidíolo do lado do Evangelho tem uma abóbada de pedra com lanternim, sendo o do lado da Epístola coberto por uma pequena abóbada de nervuras, onde se notam alguns baixos relevos policromados.
As duas capelas transeptais, cobertas por abóbadas artesoadas, firmadas por bocetes e abertas por arcos de volta perfeita, recamados por folha de parreira, com retábulos de talha dourada, são obra quinhentista. A Capela da direita, dedicada a Nossa Senhora da Boa Viagem (1542), é toda forrada a azulejo do século XVII. A outra capela, dedicada a Nossa Senhora da Assunção, tem na parede do lado esquerdo a imagem gótica de S. João Baptista, de pedra d’ançã, que se crê ser proveniente da antiga Igreja que se
localizava no Monte do Mosteiro. A figura assenta numa mísula trabalhada e ostenta um nimbo com um dístico em caracteres góticos. A iluminação do interior faz-se por um grande janelão de volta perfeita, que se abre na frontaria, e ainda por várias frestas rasgadas nos flancos e no clerestório.
Utilização Inicial
Cultual e devocional: Igreja Matriz
Propriedade
Pública: Estatal
Época Construção
Séculos XVI; XVII; XVIII
Arquitecto | Construtor | Autor
Mestres Pedreiros: João de Rianho, Sancho Garcia, Rui Garcia de Penagós, João de Castilho, João Lopes, de Viana (início da torre sineira); André Pires, Francisco Luís (conclusão da torre sineira); Gonçalo Anes; Organeiros: Salvador Rebelo, Lourenço Rebelo, Joaquim António Claro, José António; Entalhadores: Pero de Figueiredo (caixa do órgão), Manuel Pereira da Costa Noronha (retábulo-mor), João Gomes de Carvalho; Relojoeiro: Paulo Gomes (autor do primeiro relógio).
Cronologia
953, 26 Março - Documento da venda dos bens que Flâmula Deovota possuía na sua vila de Vila do Conde, em que é citada uma igreja dedicada a São João, que se situaria noutro local da vila; 1052 - é edificada uma nova Igreja de São João; 1496 / 1497 – início da construção da actual Igreja, dirigida por João Rianho, no Campo de São Sebastião, no local onde existia uma capela, da invocação do mesmo Santo, que foi mudada para a implantação da nova Matriz, para substituir a antiga Igreja paroquial, localizada fora do centro do burgo, no Monte Castro de São João; 1500, 26 Maio - o mestre biscainho, João Rianho, foi substituído por Sancho Garcia; 1502, 6 de Novembro - D. Manuel I, passa por Vila do Conde a caminho de Santiago de Compostela, hospedando-se em casa do rico casal Jerónimo Roes e Garcia Dias, onde ouviu uma comissão de moradores que lhe solicitou a sua intervenção e auxilio régio para o prosseguimento da construção da Igreja; 1502, 5 de Dezembro - D. Manuel I, no seu regresso da Galiza, fez expedir uma carta de Arrifana da Feira, onde determina um novo plano da obra da nova matriz, alterando a que estava a ser levantada, indicando uma nova planta (ainda que adoptado apenas parcialmente, tendo-lhe sido acrescentado capelas absidais e o transepto,
também com duas capelas), um plano de arruamentos, mandando abrir uma nova rua, a Rua Nova, hoje Rua do Lidador, e, para a obtenção do dinheiro necessário para a
continuação das obras, definia um novo imposto a pagar pelo povo (que se prolongou para além da construção da Igreja, servindo depois para obras de restauro e acrescentos) e um donativo régio de trinta mil réis, decretando ainda a expropriação por utilidade pública dos terrenos necessários à sua edificação; 1506 - conclusão da construção da cabeceira, erguida a expensas do Mosteiro de Santa Clara; 1507 - colaborava na construção da Igreja, Gonçalo Anes, Mestre de Vila Real; 1509 - a construção da igreja era dirigida pelo biscainho Rui Garcia de Penagós, que integrara o grupo inicial; 1511, antes de - conclusão da abóbada da ábside; 1511 - passa a dirigir a obra João de Castilho, a quem foi entregue a responsabilidade de terminar a construção da igreja; 1514 / 1515 - conclusão do essencial da obra de construção; 1518 - a igreja é aberta ao culto; a torre sineira não estava ainda terminada; 1518 / 1519 - o Arcebispo de Braga, D. Diogo de Sousa, a pedido do povo e das freiras de Santa Clara, instituiu uma Colegiada Menor para a Igreja, composta por Prior, presidente, quatro beneficiados, chamados raçoeiros, ficando a Madre Abadessa de Santa Clara com a obrigação do altar-mor e da nomeação do sacristão, e tudo o mais era de fábrica própria e da Câmara; 1524 - Breve de Clemente VII, confirmando a Colegiada; 1542 - construção da capela do transepto, do lado da Epístola, pelos mareantes de Vila do Conde, dedicada a Nossa Senhora da Boa Viagem, ou dos Navegantes, ou do Corpo Santo; Segundo quartel do século XVI - construção da capela do transepto, do lado do Evangelho, dedicada a São Miguel, O Anjo,
com Salvador Rebelo para a execução do órgão, que teria que ser semelhante ao de Vilar de Frades, com menos dois registos; feitura da caixa por Pero de Figueiredo; século XVII - construção da torre; revestimento azulejar da capela-mor e da capela do transepto do lado da Epístola; 1606, 30 Novembro - escritura do contrato efectuado entre a Câmara e Lourenço Rebelo, filho de Salvador Rebelo, em que este se comprometia a ir todos os anos a Vila do Conde, durante os meses de Junho a Julho, afinar os orgãos; 1725 - execução do púlpito pelo entalhador de Vila Nova de Famalicão, João Gomes Carvalho; 1734 / 1735 - execução dos retábulos laterais por João Gomes de Carvalho; 1737 - colocação do sino grande; 1740 - execução do retábulo-mor pelo entalhador do Porto, Manuel Pereira da Costa Noronha; 1832 - extinção da Colegiada; 1860, 7 Dezembro - um raio atinge um dos sinos da torre, entrando pela igreja, durante a missa, não causando danos nem feridos; Finais do século XIX - por morte da última freira do Convento de Santa Clara, por intervenção do Monsenhor José Augusto Ferreira, são trazidas várias peças, nomeadamente, uma custódia de prata, ouro e pedras preciosas, um cálice de prata dourada, do século XVIII, um pálio, um paramento verde, um branco, um roxo e um preto e uma imagem do Senhor Morto; 1908 - execução do órgão do coro por
Joaquim António Claro, com oficina em Braga; 1905/1907 - data de execução dos vitrais em Bordéus/ Paris; 1911, 7 Agosto - data do arrolamento da imaginária, lavrado nos termos da Lei da Separação; 1949, 20 Setembro - segundo a DGEMN a igreja carecia de obras de restauro, compreendendo a demolição de anexos, reconstrução total de
telhados, demolição de altares, pavimentação da igreja e lajeado de cantaria, tratamento das cantarias das paredes incluindo o restauro de frestas e janelas, a execução e
assentamento de vitrais com rede de protecção, restauro do coro, arranjo da torre sineira e do adro, reparação geral dos altares, construção de portas e caixilharias e pinturas gerais; 1951 - estragos nos telhados em consequência de temporal; 1953 - alienação de objectos de culto da igreja pela paróquia, compreendendo os castiçais de talha dourada que se encontravam no trono do retábulo-mor, o resto do cadeiral do coro, dois anjos do retábulo-mor e de imagens incluindo a de Santa Ana; 1957 - um temporal provoca o desmantelamento em alguns pontos do telhado da nave, provocando a entrada de águas pluviais; 1961, Dezembro - a igreja encontrava-se em precário estado de conservação, nomeadamente a nível dos telhados, pondo em risco os tectos, altares, soalhos e restantes madeiramentos, e da instalação eléctrica; 1962, Fevereiro -
telegrama da CMVC dirigido à DGEMN, solicitando providencias urgentes para o resguardo do cemitério medieval do adro da igreja; 1963, 7 Novembro - carta do Priorado de São João Baptista de Vila do Conde, informando a DGEMN, de que não vê inconveniente na demolição da sacristia localizada no lado Oeste da fachada Sul da igreja; a sacristia é privativa da Confraria das Almas; 1974, Novembro - a composição do portal principal encontra-se em adiantado estado de alteração morfológica, devido à
exposição solar, variações térmicas e pluviométricas e a salinidade do mar; 1980, 22 Novembro - inauguração do órgão do coro, após o restauro, tendo sido adjudicado a Serafim Jerónimo de Braga e executado por José António de São Sebastian em Espanha.
Tipologia
Arquitectura religiosa, gótica, manuelina, renascentista. Igreja tardo-gótica de planta em cruz latina com 3 naves de diferente altura e cabeceira tripla, com portal axial
manuelino, muito semelhante ao da Igreja de Azuaga na Estremadura espanhola. Torre sineira renascentista.
Materiais
Estrutura de granito aparente; granito nos tectos das capelas da cabeceira, do transepto e em pavimentos; madeira na estrutura dos telhados e no tecto da nave, no coro, nos vãos de porta e janelas, pavimento interior, nos retábulos e no púlpito; azulejo no revestimento de uma capela transeptal, no roda-pé da capela-mor, e de uma capela lateral e na sacristia; telha cerâmica nas coberturas; cartão asfáltico como sub-telha; zinco em rufos e caleiros; chumbo no remate das empenas; bronze em pingadeiras; ferro em caixilharias; chumbo e vidro de vitral em caixilharias de janelas e de frestas.
Créditos:
www.monumentos.pt
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