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Da Responsabilidade Civil Objetiva. É a mesma coisa que responsabilidade civil sem culpa. Ela tem como fundamento legal a teoria do risco.

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Da Responsabilidade Civil Objetiva

É a mesma coisa que responsabilidade civil “sem culpa”. Ela tem como fundamento legal a teoria do risco.

Na doutrina brasileira a matéria vem muito bem elaborada por Caio Mário da Silva Pereira, segundo o qual a inspiração de muitos foi que resultou na formação de várias subespécies da mencionada teoria.

Dentre elas, Caio Mario cita a teoria do risco integral, segundo a qual todo fato que provoque um dano, deve resultar na responsabilização do agente. Essa teoria não teve uma repercussão muito boa no direito privado, pois como explicar a responsabilização de uma pessoa em reparar o dano que não criou o risco ou deu causa ao resultado?

Continuando, o renomado doutrinador cita a teoria do risco profissional, pela qual haverá sempre o dever de indenizar “quando o fato prejudicial é uma decorrência da atividade ou profissão do lesado”. Segundo essa teoria o empregador está sujeito a ressarcir os danos resultantes de acidentes envolvendo seus empregados, no trabalho ou por ocasião dele. Ela ganhou muita força com o advento da Constituição da República de 1988, que em seu art. 5º, inciso XXVIII, instituiu seguro de acidente de trabalho a cargo do empregador, sem excluir a responsabilidade do mesmo quando agir com dolo ou culpa.

No direito previdenciário ( artigo 120 da lei 8.213/91 ), inclusive, com a finalidade de se ressarcir destes danos decorrentes da relação de trabalho, que são danos como vimos resultantes do trabalho ou por ocasião dele, o legislador também autorizou o INSS, em ação regressiva, a se ressarcir dos prejuízos sofridos com os benefícios previdenciários concedidos em razão desses acidentes.

Caio Mário menciona também a teoria do risco proveito, por força da qual a responsabilidade civil deve ser imputada a quem retira proveito ou vantagem do fato causador: ubi emolumentum, ibi ônus. O maior problema dessa teoria é definir o que se deve considerar como proveito ou vantagem.

Por fim, ele cita também a teoria do risco criado, que atribui a responsabilidade civil sempre ao sujeito que cria o risco.

A responsabilização sem culpa não é uma novidade em nosso meio acadêmico nem tampouco no ordenamento jurídico.

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Tomemos por exemplo o Dec. nº 2.681, de 07/12/1912, que previu a responsabilidade objetiva por danos causados a passageiros e proprietários marginais das estradas de ferro; a lei nº 7.565/86, que criou o Código Brasileiro de Aeronáutica; a lei nº 6.453/77, relativa às atividades nucleares; o próprio CC de 1916 que, apesar de ter como regra geral a responsabilidade fundada na culpa (RC subjetiva), também previa casos de responsabilidade objetiva; e recentemente o CDC (lei nº 8.078/90), que instituiu vários dispositivos de responsabilização objetiva em favor do consumidor, invertendo inclusive o ônus da prova, além da própria Constituição da República, em vários artigos, abrindo novos caminhos e prevendo novas hipóteses de responsabilização, como, por exemplo, as especificadas no art. 7º, XXVIII, art. 21, XXIII, e art. 37, parágrafo 6º.

Também não podemos deixar de registrar, em particular no âmbito da responsabilidade civil, ora objeto de nosso estudo, ante ao amplo e inegável reconhecimento da efetividade dos valores constitucionais, dentre os quais, em especial, pedimos venia para destacar o princípio da dignidade da pessoa humana, a crescente valorização do papel interpretativo das cortes e a inserção no debate jurídico de aspectos sociais, econômicos e éticos, preparando o caminho para transformações há muito esperadas, abrindo discussões em torno de novos problemas, e novas soluções, a dependerem muito mais da atuação do próprio intérprete que do legislador, muito bem citadas pelo professor Schreiber, em Novas Tendências da Responsabilidade Civil Brasileira, as quais têm contribuído em muito e de maneira bastante expressiva para solução desses novos problemas, e também para os quais, nós, operadores do direito e em especial os advogados militantes, ocupamos um papel importantíssimo, como meio, caminho e instrumentos que somos para administração desses problemas (art. 133 da CF), visando a tão esperada e perseguida Justiça, com o escopo de dar a cada o que é seu.

Lembremos ainda a valiosa observação feita pelo mencionado e ilustre professor Schreiber, que ele extraiu da atividade jurisprudencial e dos estudos doutrinários mais recentes, indicando como tendências contemporâneas principais, no campo da responsabilidade civil - 1ª) a erosão dos filtros tradicionais da responsabilidade civil, que nada mais é do que “a relativa perda de importância da prova da culpa (já denominada de prova diabólica) e da prova do nexo causal na dinâmica contemporânea da ações de responsabilização, observadas linearmente através da “multiplicação das presunções de culpa”, do “avanço da responsabilidade fundada no risco”, objeto deste título, e da “alteração da própria noção de culpa e do modo de sua aferição”; 2ª) a coletivização das ações de responsabilização, em favor das quais o legislador, com o escopo, dentre outros, de superar a dificuldade de acesso individual à Justiça, tem instituído instrumentos capazes de assegurar a tutela

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de interesses supraindividuais, como, por exemplo, os que se vê através da lei nº 4.717/65 (ação popular), da lei nº 7.347/85 (ação civil pública), esta aprimorada pela lei nº 8.078/90 (ação de defesa do consumidor), no nosso sentir, ambas voltadas à tutela coletiva ou de massa, ampliando o campo da legitimação ativa, ainda quando tais interesses sejam essencialmente individuais, poupando esforços e custos desnecessários às partes e ao Poder Público e eliminando inclusive as barreiras ao ressarcimento dos danos sofridos; 3ª) a expansão dos danos ressarcíveis e a necessidade de sua seleção, pois devido a erosão dos filtros tradicionais e a queda de barreiras processuais, um número maior de pretensões indenizatórias vem sendo acolhido pelo Poder Judiciário. Basta citar os casos de dano à privacidade, à imagem, à integridade psicofísica, à vida sexual, por nascimento indesejado, à identidade pessoal, ao projeto de vida, por brincadeiras cruéis, por férias arruinadas, por morte em agonia, por abandono afetivo, por fim de noivado, dentre outros conhecidos e, por último; 4ª) a despatrimonialização não já do dano, mas da reparação, devido as infindáveis dificuldades em torno da quantificação da indenização por dano moral, a doutrina e os tribunais vêm despertando para a necessidade de buscar meios não-pecuniários que, sem substituir a compensação em dinheiro, associem-se a ela no sentido de efetivamente reparar ou aplacar o prejuízo moral.

Pelo nosso ordenamento atual, estabelece o art. 927, parágrafo único, do CC, que “haverá obrigação de reparar o dano, independentemente

de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para o direito de outrem”. (O grifo é nosso)

Este dispositivo é interessante porque trata de uma cláusula geral de responsabilidade objetiva, de norma bastante ampla, na qual o legislador empregou termos cujo sentido é ainda indefinido, o que exigirá de todos os operadores do direito, principalmente do Poder Judiciário, como intérprete e aplicador da lei, um esforço muito maior para responder os conflitos de interesses sob responsabilização que forem distribuídos as cortes.

A finalidade principal da aplicação desta teoria é garantir ao ofendido alguma indenização, sendo relativizado para tanto a importância da prova da culpa (apelidada de prova diabólica) e da prova do nexo causal nas ações de responsabilização, o que temos observado através da “multiplicação das presunções de culpa”, do “avanço da responsabilidade fundada no risco”, e da “alteração da própria noção de culpa e do modo de sua aferição”, sem se cancelar evidentemente a importância do sentido de culpa ou nexo causal na estrutura elementar da responsabilidade civil, mas apenas mudando-se de foco

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em direção ao dano, para assegurar por qualquer meio disponível e na forma a mais ampla possível a integral reparação dos prejuízos sofridos pela vítima.

Todos esses problemas evidentemente vêm refletindo sobremaneira na sociedade contemporânea e, principalmente, por sobre as atividades empresariais de uma forma em geral.

Neste sentido, fala-se muito hoje, por exemplo, em prevenção e precaução de danos, ressaltando-se a importância da eliminação prévia dos riscos de lesão.

Fala-se também em um dever muito maior de uma fiscalização eficiente por parte do Poder Público, por meio de normas especificas, de natureza administrativa e regulatória, que visem tal eliminação.

Cogita-se também de mecanismos mais intensos de seguridade social e de seguros privados obrigatórios, capazes de garantir às vítimas de determinados danos reparação pelos seus prejuízos sem a necessidade do recurso à responsabilização civil, centrando os custos menos no Poder Público, e mais sobre a sociedade civil, onerando em particular os agentes potencialmente causadores do dano.

Pelo que se conclui, portanto, que a responsabilidade civil objetiva, isto é, sem culpa, tende cada vez mais a ser aplicada em matéria de responsabilização por sobre as atividades empresariais de uma forma em geral, especialmente sobre aquelas potencialmente causadoras de danos, as quais, enquanto não se criam os mecanismos citados no parágrafo anterior, dentre tantas outras medidas possíveis, deve evidentemente se precaver eliminando ou diminuindo cada vez mais os riscos de sua atividade econômica, investindo também em treinamentos de seus prepostos, ministrando-lhes inclusive aulas regulares de responsabilidade civil, já que dificilmente em um litígio proveniente de dano causado em decorrência de sua atividade conseguirão ver-se livre de uma possível condenação.

A contratação de seguros também parece ser uma boa idéia, visando o menor custo possível em caso de responsabilização. Temos no mercado financeiro uma variedade deles oferecida pela rede bancária. Tentar solucionar o problema de forma amigável ou extrajudicial e sem correr os riscos que representam um processo judicial, também parece uma boa estratégia que se concretizada com certeza trará benefícios para todas as partes envolvidas, evitando-se assim uma grande saída de dinheiro do caixa para pagamentos de indenização.

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Por fim, a contratação de uma assessoria jurídica de excelência, com especialistas preparados para a defesa do empresariado de uma forma em geral, que pode se dá através de quadro próprio (advogados contratados com exclusividade para esses fins) ou escritórios de advocacia, também é uma medida extremamente recomendada, bem como apta para realização dos objetivos sociais e tentativa de solução dos inúmeros problemas que surgem no dia-a-dia envolvendo o direito empresarial.

Bibliografia:

- A Constitucionalização do direito civil e seus efeitos sobre a responsabilidade civil, de Maria Celina Bodin de Moraes;

- Novas Tendências da Responsabilidade Civil Brasileira, de Anderson Schreiber; e

- Funções e Princípios Justificadores da Responsabilidade Civil e o Art. 927, parágrafo Único do Código Civil, de Flávia Portella Púschel.

Referências

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