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Doença periodontal em gatos: revisão de literatura

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Academic year: 2021

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DOENÇA PERIODONTAL EM GATOS: REVISÃO DE LITERATURA

Saiane Alves do Nascimento1

Vinicius José Maschio2 RESUMO:

A doença periodontal é uma das afecções mais comuns na clínica de pequenos animais. Ocorre devido ao acúmulo inicial de bactérias na camada mais superficial dos dentes e se não tratada, pode cursar com a evolução da doença até a total destruição do periodonto, atingindo as estruturas que o compõe como gengiva, osso alveolar, cemento e o ligamento periodontal. O tutor muitas vezes procura atendimento médico veterinário, pois um dos principais sinais clínicos seria o mau hálito e partir deste, a doença pode atingir localmente e sistemicamente o paciente. A prevenção é a melhor maneira de evitar a doença periodontal, faz-se necessário a orientação aos tutores por meio dos médicos veterinários da importância da escovação, uso de cremes dentais específicos a fim de manter a boa higiene oral de cães e gatos. O artigo tem como objetivo abordar as principais causas da doença periodontal na clínica de pequenos animais, patogênia, tratamentos, métodos de prevenção, focando nas particularidades pertencentes à espécie felina, com intuito de melhorar o manejo, qualidade de vida, proporcionar uma longevidade e bem-estar a estes pacientes.

Palavras-chave: doença periodontal, gatos, profilaxia dentária, prevenção

PERIODONTAL DISEASE IN CATS: LITERATURE REVIEW

ABSTRACT:

Periodontal disease is one of the most common conditions in the small animal clinic. It occurs due to the initial accumulation of bacteria in the most superficial layer of the teeth and if left untreated, it can progress with the evolution of the disease until the complete destruction of the periodontium, reaching the structures that compose it such as gums, alveolar bone, cementum and the periodontal ligament. The tutor often seeks veterinary medical care, as one of the main clinical signs would be bad breath and from this, the disease can affect the patient locally and systemically. Prevention is the best way to avoid periodontal disease, it is necessary to guide tutors through veterinarians about the importance of brushing, use of specific toothpastes in order to maintain good oral hygiene for dogs and cats. The article aims to address the main causes of periodontal disease in the clinic of small animals, pathogen, treatments, prevention methods, focusing on the peculiarities of the feline species, in order to improve management, quality of life, provide longevity and well - be with these patients.

Keywords: periodontal disease, cats, dental prophylaxis, prevention

INTRODUÇÃO

1 Saiane Alves do Nascimento – Graduanda do Curso de Medicina Veterinária da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). E-mail: saianevet@gmail.com.

2 Vinicius José Maschio – Biomédico, MSC, DSC, Professor do Curso de Medicina Veterinária da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).

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A cavidade oral dos gatos é composta pelos dentes e seus tecidos anexos, estruturas fundamentais para promover a saúde e bem-estar dos animais de qualquer espécie. Distúrbios que ocasionam quaisquer alterações na preensão e mastigação dos alimentos, podem estar associados a desordens da cavidade oral (COSTA, 2018). Afecções na cavidade oral de gatos são de grande importância na clínica médica, pois diversos estudos apontam um alto índice de acometimento nesta área, sendo a mais prevalente a doença periodontal. Responsável por comprometer a saúde e a expectativa de vida dos animais de companhia, além de afetar/prejudicar as funções de vários tecidos, como cardíaco, hepático e renal (PINTO et al., 2020). A doença periodontal varia de estágios subclínicos simples, como a gengivite, até formas mais avançadas e progressivas. A periodontite é a evolução da gengivite, na maioria dos casos. Muitos dos distúrbios acabam sendo detectados pelos tutores já em estágio avançado. Um exame oral detalhado, combinado ao conhecimento de anatomia e fisiologia dentária, é a chave para o diagnóstico e tratamento de doenças orais em felinos. Em felinos para por fim, traçar um plano de tratamento adequado e eficaz (WIGGS, BLOOM, 2011)

Observa-se que na clínica médica de pequenos animais, a doença periodontal tem seu diagnóstico, tratamento e prevenção subestimados, devido ao seu potencial de acometimento sistêmico (ENLUND et al., 2020). A maioria dos tutores não entende ou desconhece esta informação, devido à falta de conscientização do hábito na escovação diária e dispositivos para higiene, que são de suma importância para a prevenção da doença periodontal (SANTOSH et al., 2016).

REVISÃO DE LITERATURA CAVIDADE ORAL

Anatomia da Cavidade Oral

A cavidade oral é delimitada pelo palato duro parte do palato mole pelas arcadas dentárias, língua e mucosas adjacentes. (RADLINSKY, 2015). Os gatos possuem glândulas salivares. (Figura 1). A cavidade oral delimita-se dorsalmente pelo palato duro formado por processos dos ossos incisivo maxilar e palatino, coberto por uma membrana mucosa dura. O palato duro é caracterizado por cerca de sete cristas palatinas (Figura 2A), separadas por fileiras de papilas altamente cornificados. Apenas caudal aos dentes incisivos centrais é há uma pequena eminência, a papila incisiva, ao lado da qual estão as pequenas aberturas dos ductos incisivos direito e esquerdo que levam à cavidade nasal e ao órgão vomeronasal. A língua ocupa grande parte de cavidade oral e suas papilas filiformes (Figura 2B) servem como uma potente escova para lamber os pelos e absorver líquidos (BARNES, 2010). A cavidade oral tem como principais funções a mastigação e a obtenção de

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alimentos. A digestão química tem início na mastigação ao ser excretada saliva no material ingerido. (KÖNIG et al., 2016). Ela contém imunoglobulinas A (IgA) e agentes antimicrobianos que promovem um equilíbrio da microbiota oral. (GUEDES et al., 2016).

A mucosa oral tem como função a proteção contra as agressões causadas pelo meio externo, como os alimentos abrasivos e é revestida por um epitélio estratificado pavimentoso.A mucosa oral tem sua coloração normal rósea, mas em alguns animais pode ser localmente pigmentada (DYCE et al., 2010). Os lábios e as bochechas dos felinos são “duros” e seu vestíbulo oral é menos amplo do que o de cães, tornando sua mucosa oral menos suscetível ao fechamento de grandes feridas intraorais (REITER, 2015).

Fonte: Adaptado Atlas of Feline Anatomy of Veterinarians, p 157.

Figura 1: Localização das glândulas salivares principais, vista lateral – 1 glândula salivar parótida, 1 'Seu duto; 2 glândula salivar mandibular, 2 'Seu duto; 3 glândula salivar sublingual; 3 'Seu duto; 4 M. masseter; 5 M. digastricus; 6 M. brachiocephalicus; 7 M. parotidoauricular

Figura 2 Papila incisiva imediatamente caudal aos primeiros incisivos superiores maxilares e pregas palatinas do palato duro (A), Papilas firmes apontando caudalmente sobre a face áspera dorsal da língua (B).

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Fonte: Adaptado O Gato, p 479.

Dentição

A substituição dos dentes pelos permanentes ocorre para melhor adaptação de acordo com o crescimento e as necessidades do animal (KÖNIG et al., 2016; FERREIRA, 2018; NIEMIEC et al., 2020). A dentição dos felinos é especializada em dilacerar e não triturar o alimento. (REITER, 2015; FERREIRA, 2018). Os gatos apresentam duas dentições: a decídua, formada por 26 dentes, e a permanente, composta por 30 dentes. A transiçãocompleta entre os dentes decíduos e permanentes, se dá por completo aos 7 meses. Cada tipo de dente possui uma finalidade:os incisivos de cortar, apreender e limpar, molares e pré-molares segurar e transportar, além de quebrar e lacerar o alimento, os caninos penetrar e segurar e os carniceiros cisalhamento nos carnívoros. (REITER, SOLTERO-RIVERA, 2014; REITER, 2015) (Figura 3). Os gatos possuem a quantidade de dentes reduzida quando comparada ao cão ou demais espécies, assim como seu formato é típico de um verdadeiro carnívoro.

Figura 3: Localização dos dentes, vista lateral, nem todos os incisivos e raízes visíveis – 8 Incisivo superior 2; 9 incisivos superiores 3; 10 caninos superiores; 11 pré-molar superior 2; 12 pré-molar superior 3; 13 pré-molar superior 4; 14 molar superior 1; 15 osso incisivo; 16 maxila; 17 incisivo inferior 3; 18 canino inferior 19; pré-molar inferior 3; 20 pré-molar inferior 4; 21 molar inferior.

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Através da avaliação dentária é possível estimar a idade dos animais domésticos, comparando a sua erupção e desgaste. Porém dependendo da raça e condição de vida que este animal se encontra poderá haver variações. Até a terceira semana de vida, sem dentes (edêntulo), após a sexta semana a dentição decídua completa, a partir do terceiro mês ocorre o crescimento dos incisivos permanentes e no sexto mês a dentição permanente está completa (BUDRAS et al., 2010).

Dentes

Os dentes são estruturas especializadas de acordo com cada espécie, porém possuem a arquitetura básica comum: coroa do dente, colo do dente e raiz do dente. A coroa é a parte mais exposta do dente, sendo esmalte aquele que recobre a estrutura do dente e o colo é a intersecção entre a gengiva e o esmalte. Composto por três estruturas mineralizadas: esmalte, dentina e cemento (Figura 3). A gengiva é um tecido fibroso altamente vascularizado, que se retrai com a idade expondo o colo da raiz (SANTOS et al., 2012; REITER, SOLTERO-RIVERA, 2014; KÖNIG et al, 2016). A raiz do dente está inserida no alvéolo dentário sendo revestida por cemento, não vascularizado, com funcionalidade de se fixar às fibras do ligamento periodontal (DEBOWES, 2005; SANTOS et al., 2012; GUEDES et al, 2016; NIEMIEC et al., 2020).

Figura 3: Representação esquemática de um dente canino de um gato.

Fonte: Adaptado Anatomia dos Animais Domésticos, Texto e Atlas Colorido, p. 318.

A maior parte do dente permanente é composta por dentina, que envolve a câmara pulpar (região central), contendo nervos, vasos sanguíneos e linfáticos, tecido conjuntivo e odontoblastos (BELLOWS et al., 2019; NIEMIEC et al., 2020). Os dentes permanentes de gatos jovens têm uma cavidade pulpar muito mais ampla e paredes dentinárias mais finas quando comparadas à dentição permanente de gatos mais velhos (REITER, SOLTERO-RIVERA, 2014).

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Os dentes incisivos, caninos e quarto pré-molar superior (dentes carniceiros) estão presentes na mesma quantidade que em cães, porém os dentes pré-molares e molares estão em menor quantidade com superfície fissuradas (REITER, 2015; FERREIRA, 2018).

Sistema de Triadan

O sistema de numeração de dentes Triadan, usa números de três dígitos sem vírgulas. O primeiro numeral designa a localização do quadrante e se um dente é permanente ou decíduo. A sequência de números é superior direito, superior esquerdo, inferior esquerdo e inferior direito (Figura 4) (WIGGS et al, 2011).

Figura 4: Sistema de Triadan em gatos.

Fonte: The Feline Patient, p. 601.

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O periodonto é constituído por um conjunto de estruturas que fornecem o suporte e a nutrição dentária. As estruturas que compõem o periodonto são gengiva, ligamento periodontal, cemento e osso alveolar (STEPANIUK; HINRICHS, 2013). O dente é circundado pela gengiva e está firmemente aderida ao osso alveolar, o espaço entre o dente e a gengiva é denominado sulco gengival, e normalmente, não deve ultrapassar mais que 0,5mm. A espessura do cemento aumenta com a idade e frequentemente a produção excessiva (hipercementose) é observada em gatos, próximo a porção apical da raiz (REITER; SOLTERO-RIVERA, 2014; REITER, 2015).

O ligamento periodontal é responsável por prender o dente no alvéolo, fixando o cemento e o osso alveolar (BELLOWS et al., 2019). O cemento é uma estrutura semelhante ao osso, sendo responsável por ancorar as fibras de colágeno nas raízes dentárias (KÖNIG et al, 2016). Já o osso alveolar é a estrutura de sustentação do cemento e suas fibras, e abriga também o alvéolo dentário (DYCE et al., 2010; GUEDES et al., 2016).

O osso alveolar envolve a raiz do dente e é onde fixa-se o ligamento periodontal (altamente vascularizado). Os leucócitos (principalmente neutrófilos) migram de vasos locais através do epitélio juncional para o sulco gengival como parte do mecanismo de defesa normal na gengiva saudável (DEBOWES, 2005). A gengiva (camada mucosa) desempenha a função protetora, cobrindo o osso e é dividida em porção aderente e livre (FERREIRA, 2018).

DOENÇA PERIODONTAL

Estima-se que cerca de 95% dos cães e 50% dos gatos, com mais de 12 meses demonstram algum grau da doença periodontal. Sendo esta considerada a afecção mais comum na clínica de pequenos animais, porém drasticamente sub-diagnosticada em muitos casos, comprometendo a saúde e qualidade de vida destes pacientes (COSTA, 2018; ENLUND et al., 2020). A doença periodontal acomete grande parte da população de gatos adultos e cursa com a infecção do periodonto devido ao acúmulo de placa e a resposta do hospedeiro frente a esta agressão (REITER, 2015).

A doença periodontal interfere diretamente na saúde e na expectativa de vida dos animais de companhia e pode afetar a função de órgãos como coração, pulmões, rins e fígado (PINTO et al., 2020). Existem diversos processos patológicos que atingem a cavidade oral de cães e gatos, no entanto a mais comum é a inflamação do periodonto ou doença periodontal. O desenvolvimento da doença periodontal deve-se a diversos fatores, iniciada, geralmente pela presença do biofilme bacteriano, seguida de placa bacteriana e cálculo dentário. Fatores que predispõem a gengivite e periodontite, em caráter crônico, podem atingir todas as estruturas do periodonto (GUEDES et al., 2016; FERREIRA, 2018; BELLOWS et al., 2019).

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A doença periodontal caracteriza-se pelo processo inflamatório que ocorre após a deposição de biofilme microbiano (composto principalmente de bactérias), que ocorre após a deposição do biofilme bacteriano. O biofilme se torna mais espesso, formando a placa bacteriana. A placa quando não removida, se estende até a o sulco gengival e sofre mineralização de cálcio e fosfato (elementos presentes na saliva), formando assim o cálculo dentário, predispondo a gengivite. Esta condição se não tratada ocasiona danos irreversíveis ao periodonto que quando lesionado, gera mobilidade e muitas vezes a perda de dentes (PINTO et al., 2020).

Os efeitos sistêmicos em humanos estão bem elucidados, mas em animais de companhia vem cada vez mais sendo estudados (REITER, 2015). A doença periodontal interfere diretamente na saúde e na expectativa de vida dos animais de companhia e pode afetar a função de órgãos como coração, pulmões, rins e fígado (PINTO et al., 2020).

Etiologia

O agente etiológico primário da doença periodontal é a placa bacteriana (biofilme), sendo o causador da maior parte das infecções bucais (SANTOS et al., 2012). As bactérias da cavidade oral se combinam com as proteínas salivares e fixam-se na superfície do dente, dando início a reações locais e sistêmicas ao hospedeiro (WIGGS et al, 2011). A doença periodontal está ligada a vários fatores predisponentes, que juntamente a placa bacteriana contribui para o início e/ou agravamento da doença (FERREIRA, 2018). Os fatores estão correlacionados com o ambiente e o indivíduo, sendo eles: idade, raça, genética, sistema imune, anatomia dentária (apinhamento e maloclusão), rotina mastigatória e dieta (tipo de alimento) (DEBOWES et al., 2005; FERREIRA 2018).

Placa bacteriana

A partir da erupção dentária inicia a formação da placa bacteriana, que é constituída por mais de 400 espécies de bactérias, envolvidos em fluido biológico (SANTOS et al, 2012). Inicialmente a população bacteriana aderida ao dente é colonizada por bactérias anaeróbias gram-positivas (Streptococcus spp; Actinomyces spp;) (BELLOWS et al, 2019). Posteriormente com a progressão e o acúmulo de biofilme ocorre uma mudança para gram-negativas, com motilidade. Sem a remoção da placa, células descamadas e componentes salivares, ocasionam a matéria alba - compostos de proteínas salivares, restos celulares epiteliais, leucócitos desintegrados e bactérias aderidas ao dente (SANTOS et al., 2012; GUEDES et al., 2016).

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A placa dentária se apresenta como uma massa amarelada, densa, não calcificada aderida a superfície do dente (esmalte) e pela cavidade oral como um todo (tecidos moles adjacentes) (SANTOS et al., 2012; GUEDES et al., 2016). A placa bacteriana se divide em supragengival e subgengival (sulco gengival), sendo a placa visível do dente designada a porção supragengival, na qual sofre constantemente com a abrasão da mastigação, saliva e língua. A parte subgengival está na porção protegida (FERREIRA, 2018; NIEMIEC et al., 2020).

Uma nova formação de biofilme tem capacidade de se organizar a cada 24 e 48 horas, aproximadamente, aderindo com as bactérias já presentes e pela película do esmalte (SANTOS et al, 2012; VILLANOVA et al, 2019). O biofilme (Figura 7) é formado por matriz orgânica com associação de bactérias e subprodutos, glicoproteínas salivares, substâncias inorgânicas, restos alimentares, células epiteliais e inflamatórias (FERREIRA, 2018) que promovem a liberação local de citocinas pró-inflamatórias. Por consequência da ação inflamatória ocorre aumento de metaloproteinases na matriz e prostaglandina E (PGE), ocasionando a atração de neutrófilos para migrar para o fluido gengival crevicular (CGF), aumentando a resposta inflamatória (DEBOWES et al, 2005). O biofilme é resistente a diversas mudanças da microbiota, por ter seu próprio sistema de nutrição tornando único. (NIEMIEC, 2013c).

Figura:4 Representação esquemática do biofilme dentário.

Fonte: Gorrel et al, 2004.

Cálculo dentário

Cálculo dentário é a mineralização da placa dentária não removida, precipitada pelo cálcio e demais elementos minerais existentes na saliva. Por vezes, o cálculo não é patogênico, porém tem efeito irritante. Contudo a superfície dentária necessita estar limpa, pois o cálculo contém em sua superfície um revestimento de película com placa, contribuindo assim que o agente etiológico permanece próximo a gengiva, mantendo a inflamação periodontal. (NIEMIEC, 2013c).

As regiões mais acometidas pelos cálculos estão próximas às aberturas dos ductos salivares e próximo da região do colo dentário (esmalte-cemento) (SANTOS et al, 2012; NIEMIEC, 2013c; GUEDES et al, 2016; VILLANOVA et al, 2019). Formando o cálculo dentário que se localiza supragengival e/ou subgengival, com a evolução e formação de bolsa periodontal (sulco gengival

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profundo) ocasiona então o aumento da placa subgengival calcificando (cálculo dentário) posteriormente na extensão das raízes. Devido a agregação de pigmentos de ferro (hemoglobina degradada) a cor se apresenta escurecida na região subgengival, se diferenciando da supragengival (SANTOS et al, 2012).

PATOGENIA

A doença periodontal pode ser classificada segundo alguns critérios desenvolvidos pelas diretrizes

de atendimento odontológico AAHA 2019 para cães e gatos, sendo eles: gengivite (estágio 1) e periodontite (estágio 2, 3 e 4), que pode ser descrita como inicial, moderada ou avançada (BELLOWS et al., 2019).

Gengivite

A inflamação da gengiva é denominada gengivite, ocasionada principalmente devido ao acúmulo de placas bacterianas, sendo reversível após a remoção do agente causador. É importante saber identificar uma gengiva saudável (cor de rosa) sem acúmulos de placa ou cálculos dentários (LOBPRISE, 2007; SANTOS et al., 2012; NIEMIEC, 2013a). O indivíduo desenvolve inflamação pois há um desequilíbrio entre o hospedeiro e o biofilme (VILLANOVA et al., 2019). Também conhecida como estágio 1 da doença periodontal (gengivite), caracteriza-se por ter sondagem periodontal normal e não apresentar perdas ósseas (LOBPRISE, 2007; PEREIRA DOS SANTOS et al., 2019).

O processo é inicialmente formado, devido ao aumento do número de bactérias anaeróbias gram-negativas. Alguns fatores podem contribuir para o acúmulo de bactérias como: excesso de dentes, dentes ásperos, hipoplasia de esmalte, restaurações defeituosas, E algumas doenças, como diabetes e Síndrome Cushing, uso de alguns medicamentos, como corticosteroides e quimioterápicos,

podem alterar a resposta inflamatória do hospedeiro (DEBOWES et al., 2005; NIEMIEC, 2013a). Além disso, pacientes com deficiências nutricionais das vitaminas A, C, D e E, e ácido fólico das vitaminas B, niacina, ácido pantotênico e riboflavina podem ter predisposição a desenvolver gengivite (STELLA et al., 2018).

Em gatos jovens, podemos identificar a gengivite hiperplásica juvenil, que ocorre geralmente após a erupção dos dentes permanentes (6-8 meses de vida), a gengiva pode ficar tão inflamada a ponto de cobrir o dente. Não se sabe a causa, mas pode evoluir em gatos adultos para estomatite. Alguns medicamentos podem desencadear este processo, a correção deve ser cirúrgica (remoção da gengiva em excesso) (REITER, 2015).

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A periodontite pode ser definida como uma doença inflamatória do periodonto, ocasionada por lesões de microrganismos específicos, resultando na destruição deste tecido, com formação de bolsa. A característica que distingue a periodontite da gengivite, é a apresentação clínica, devido à perda dos anexos, muitas vezes considerada irreversível (LOBPRISE, 2007; NIEMIEC, 2013b).

No estágio seguinte, pode-se observar perda da inserção em menos de 25%, exposição da furca, já é possível identificar sinais radiológicos e as bolsas periodontais podem atingir 4mm. No estágio 3, entre 25 e 50% há perda da inserção óssea ou exposição da furca e a sondagem fica entre 4 e 6mm de profundidade. No último estágio há mais de 50% de perda óssea ou exposição da furca e com sondagem de pelo menos 6mm de extensão (PEREIRA DOS SANTOS et al., 2019; VILLANOVA et al., 2019).

SINAIS CLÍNICOS

Os sinais clínicos variam de acordo com o tipo e o estágio da doença periodontal. Porém os mais comuns que podemos associar a gengivite ou periodontite. São edema e inflamação das gengivas (gengivite), deposição de placa e cálculo, acúmulo de detritos ao redor dos dentes, exsudatos purulentos do sulco, halitose, ulcerações, gengivas que sangram facilmente quando sondadas, perda de osso ao redor dos dentes e recessão gengival, crescimentos gengivais ou hiperplasia, formação de bolsas em torno dos dentes, exposição de raiz, exposição de furca, mobilidade dentária, migração de dente ou novas formações de diastema, extrusão de dente, perda de dente (REITER, 2011).

O sinal clínico mais comum que traz os felinos ao consultório, é a halitose, devido ao acúmulo de placa e à produção resultante por bactérias anaeróbicas de compostos de enxofre voláteis. Porém, ele nem sempre está ligado a doença periodontal, sendo importante avaliar outras causas, como reabsorção dentária (muito comum em gatos), traumas, infecções bacterianas, doenças virais (calicivírus felino, herpesvírus felino, vírus da leucemia felina, vírus da imunodeficiência felina), doença do trato respiratório superior (corpos estranhos, rinite crônica, pólipos, estenose nasofaríngea), faringite, úlceras orais urêmicas (secundárias a doença renal), complexo granuloma eosinofílico, diabetes mellitus, desordens gastrointestinais crônicas (regurgitação/vômito) (CLARKE, CAIAFA, 2014).

A periodontite tem seus sinais clínicos mais severos conforme a evolução da doença, podendo estar associada a formação de bolsas periodontais, alargamento do sulco gengival, exposição gradual do colo e raiz dos dentes, aumento dos espaços interdentários, ter mobilidade dentária ou não, perda de tecidos periodontais, retração gengival e reabsorção do osso alveolar. Em gatos é uma condição

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bastante debilitante e pode ocasionar dificuldade de comer e beber (SANTOS et al., 2012; GUEDES et al., 2016).

Além da perda dos dentes, podem ocorrer alterações sistêmicas devido a disseminação de mediadores inflamatórios, citocinas e endotoxinas bacterianas, afetando órgãos distantes, tais como rins, fígado, pulmões e coração, além de contribuírem negativamente para casos de osteoporose, inflamação nas articulações, complicações na gestação e diabetes (BELLOWS et al., 2019; GAUDILLIERE et al., 2019; PEREIRA DOS SANTOS et al., 2019; NIEMIEC et al., 2020).

Outros sinais clínicos podem estar associados a doença periodontal (Figura 8), incluem a presença de sangue na escova de dentes após a escovação, alteração da coloração da mucosa oral, presença de sangue em brinquedos ou comida após mastigar, saliva com sangue, desconforto ao comer ou comportamento alimentar anormal, dor, corrimento nasal (fístula oronasal), abscessos locais, letargia, inapetência e sepse sistêmica (em casos graves), osteomielite e perda óssea facial, além de possível correlação com aumento de neoplasias orais (DEBOWES, 2005; CARTER et al., 2017; NIEMIEC et al., 2020).

Figura: Possíveis sinais clínicos da doença periodontal em cães e gatos.

Fonte: Baia, 2018.

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Há três principais doenças infecciosas que cursam com manifestações na cavidade oral em gatos, são elas a FIV, FeLV e Calicivírus. FIV e FeLV cursam com gengivite, estomatite e periodontite, não sendo possível identificar as doenças associadas a elas. O calicivírus apresenta ulceração da língua, palato duro e lábios, podendo apresentar envolvimento do trato respiratório superior (LOBPRISE, 2007). Estudo recente realizado no Rio Grande do Sul revelou que as principais lesões em cavidade oral associadas a retrovírus em felinos são periodontite e estomatite, podendo estarem associadas ou não, lesões em cavidade oral foram comumente associadas a infecções por FIV e FeLV (SILVA et al, 2019).

Diagnóstico

Avaliar metodicamente o corpo do paciente de maneira geral. Iniciar a pesquisa na cavidade oral, sempre após o exame físico detalhado, inicialmente sem a sedação, este fator vai depender da colaboração do paciente. Observar simetria da face e cavidade nasal, inchaços orais ou faciais, lábios, comissura da boca, gengivas, linfonodos, glândulas, articulação temporomandibular, palato, língua e dentes (WIGGS, BLOOM, 2011; CLARKE, CAIAFA, 2014).

O diagnóstico deve ser feito através do exame clínico completo da cavidade oral do paciente, em conjunto com a radiografia odontológica, para determinar qual o grau da doença periodontal e identificar os fatores que foram responsáveis pelo seu aparecimento. O exame clínico odontológico inclui a utilização do odontograma cirúrgico, examinar a cavidade oral contemplando a orofaringe, lábios e bochechas, mucosas orais, palato duro, assoalho da boca e língua e dentes. É importante que seja realizado de forma precoce e precisa, para instituição de um tratamento adequado, para melhorar a qualidade de vida destes pacientes e promover o bem-estar (SANTOS et al., 2012; COSTA, 2018; FERREIRA, 2018).

Para realização da radiografia e avaliação com os equipamentos adequados, é necessário que o paciente esteja imóvel (anestesiado). A sondagem periodontal (estímulo de dor), também é essencial para instituir o diagnóstico e recomendações de tratamento assertivas. Após o diagnóstico e testes apropriados, a condição de saúde geral do paciente deve ser avaliada corretamente através de exames laboratoriais (hemograma e bioquímicos) e quando necessários exames de radiografia torácica, eletrocardiograma, ecocardiograma, pois ele será submetido a anestesia geral para realização dos procedimentos dentários, sendo assim possível a realização do tratamento em segurança (RAWLINSON, et al., 2011;CARTER et al, 2017; COSTA, 2018; BELLOWS et al, 2019).

Além destes exames, em gatos recomenda-se a realização de testes de tipagem sanguínea e urinálise, a fim de diminuir os riscos anestésicos ou determinar a causa das possíveis lesões dentárias.

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Teste de FIV e FELV devem ser realizados em gatos com inflamação aguda ou crônica e se possível para bartonelose felina (REITER, 2015).

A radiografia é considerada obrigatória e complementar do exame da cavidade oral, pois com ela é possível avaliar as estruturas ósseas dentárias e periodontais de maneira mais completa. Realizado sob anestesia geral, o método intra oral é o mais indicado e mais sensível para identificação das alterações, sendo elas mais visíveis em estados mais avançados da doença periodontal, mas deve-se levar deve-sempre em consideração a classificação realizada durante o exame clínico (FERREIRA, 2018). Antes das extrações é importante realizar radiografias dentárias para avaliar a saúde do osso alveolar e as variações das raízes dos dentes a fim de evitar possíveis complicações durante o procedimento (REITER, 2015). Na doença periodontal a radiografia intraoral nos auxilia para avaliar a extensão e a natureza da perda óssea periodontal (LOBPRISE, 2007).

De maneira geral, o diagnóstico primário pode ser realizado através do exame detalhado da cavidade oral, radiografias, sondagem e identificações de outras anormalidades, um índice periodontal deve ser atribuído e o tratamento realizado conforme esta classificação. O exame extraoral é realizado na consulta clínica e intraoral de maneira completa sempre com sedação, junto com a sondagem periodontal e associada a radiografia intraoral para identificação da patologia (WIGGS et al, 2011; CLARKE, CAIAFA, 2014).

TRATAMENTO Profiláxia dentária

A inicialização da profilaxia dentária é dependente da característica racial, com recomendação de um ano de idade para gatos. (BELLOWS et al, 2019)

Para assegurar um tratamento periodontal adequado, é preconizado anestesia geral, e utilização do tubo endotraqueal com cuff insuflado, evitando assim aspiração de líquidos residuais durante a profilaxia dentária (NIEMEC et al, 2020).

A profilaxia dentária completa consiste em uma sequência de ações que devem ser seguidas a fim de promover um tratamento periodontal adequado. Recentemente a nomenclatura foi atualizada, na finalidade de evitar uma banalização do procedimento odontológico. Seguindo as diretrizes, se considera adequado os termos (COHAT) avaliação e tratamento completos da saúde bucal e (ATP) avaliação, tratamento e prevenção oral (NIEMIEC, 2013e; BELLOWS et al, 2019; NIEMIEC et al, 2020).

As seguintes etapas, sugerem uma sequência de medidas a ser implementada para uma profilaxia profissional (completa); estes doze passos são baseados nas Diretrizes Globais Dentárias da World Small Animal Veterinary Association (WSAVA):

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1) Consulta e exame pré-operatórios: Avaliação física prévia deve ser realizada com o paciente acordado, sendo visto possíveis patologias orais. Auxiliando no possível prognóstico.

2) Uso de clorexidina 0,12 ou 0,2%: A cavidade oral é bastante contaminada, devido à propagação de aerossóis de bactérias durante o uso de aparelhos ultra-sônicos e potencial bacteremia transitória. A administração de gluconato de clorexidina 0,12 ou 0,2% é eficaz no controle bactericida.

3) Raspagem supragengival: Com o auxílio do alicate (boticão) é possível remover placas de cálculos maiores. Com o devido cuidado para não lesar áreas adjacentes (dente e gengiva). A remoção do cálculo dentário supragengival, pode ser realizada de forma manual e/ou mecânica, sendo que combinados as técnicas existe uma melhor eficácia.

4) Raspagem subgengival: Considera-se a parte mais importante do tratamento, pode ser realizado manualmente (cureta) ou aparelhos com pontas sónicas modernas, porém a combinação das técnicas permite um maior resultado.

5) Visualização da placa e cálculos residuais: Deve-se usar um explorador com a finalidade de buscar quaisquer resquícios de placas e cálculos, fazendo uma exploração por toda a superfície dentária, podendo também utilizar a solução reveladora da placa ou até secando com ar comprimido. 6) Polimento: As ranhuras (Abrasão) causadas pela raspagem na superfície dentária, que facilitam a aderência da placa, são reversíveis com o polimento. Isso tornaa região lisa novamente, retardando a fixação da placa. Para o polimento é usado pasta profilática (própria) ou pedra pomes, utilizando uma taçade borracha inserido a peça de mão de baixa rotação em um ângulo de 90 graus em até 3000 rpm evitando o superaquecimento.

7) Lavagem do sulco: É necessário a remoção dos restos pasta e cálculo que eventualmente tenham sobrados dos processos anteriores (limpeza e polimento), a lavagem é feita com uma cânula (romba 22-25G) colocada delicadamente no sulco e injetado a solução de limpeza sem por pressão por toda extensão das arcadas. A solução mais utilizada neste procedimento é clorexidina 0,12% mas pode ser empregado o uso de soro fisiológico.

8) Sondagem periodontal, registro dentário e avaliação oral: Estes procedimentos visam um registro diagnóstico fundamental para a profilaxia dentária completa, porém é drasticamente subjugado e quando realizado é precário. Sendo importante avaliar todas as faces dos dentes, medindo a profundidade das bolsas periodontais.

10) Radiografias orais: As radiografias dentárias devem ser realizadas da área de onde foi constatado no exame oral uma alteração patológica, incluindo, bolsas periodontais, fraturas dentárias, massas, tumefacções e ausência dentária. Em felinos a radiografia de todos os dentes se torna imprescindível para avaliação de lesão de reabsorção dentária.

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11) Proposta terapêutica: Com base em achados radiográficos, visuais e táteis será possível determinar a melhor proposta terapêutica, considerando as condições de saúde do paciente, expectativas do tutor e condições de estabelecimento com os cuidados em casa.

12) Selante dentário (opcional): Esta etapa é uma sugestão, podendo ser ou não utilizada. Comercialmente existem duas marcas, ambas visam evitar uma aderência de placas bacterianas pós profilaxia profissional. Posteriormente deve ser reaplicado em casa pelo tutor, estudos demonstram um atraso na formação de placas e cálculos por 30 dias.

Exodontia

A exodontia (extração dentária) tem indicação quando o tratamento conservador não pode ser realizado (endodontia) ou mesmo quando as estruturas do periodonto estão debilitadas (DIAS et al., 2013), no caso avançado da doença quando os dentes com bolsas periodontais progridem para o ápice da raiz (FERREIRA, 2018).

A exodontia torna-se corriqueira na medicina veterinária. O tratamento cirúrgico de exodontia requer habilidades técnicas e um amplo conhecimento anatômico, pois o desconhecimento poderá acarretar em falhas tais como: fratura radicular, hemorragia, alveolite seca, alterações oftálmicas, secreção nasal e deiscência de sutura (SANTOS et al, 2012; DIAS et al., 2013). Exames pré-operatórios devem levar em consideração cada condição clínica. O paciente deve ser devidamente anestesiado (anestesia geral), podendo ser possível ser realizados bloqueios regionais, tornando assim o procedimento menos doloroso no pós-cirúrgico, menos volume anestésico visando o plano cirúrgico (RIBEIRO et al., 2015).

A exodontia preventiva tem efetividade em casos de persistência de dentes decíduos, atuando de forma profilática nestes casos (BELLOWS et al, 2019). Pois a permanência de dupla dentição ocasiona má oclusão e apinhamento dos dentes acarretando em um acúmulo de placa bacteriana, cálculo dental, doença periodontal precoce, podendo ocasionar perda dos dentes (decíduos e permanentes) (GIOSO et al, 2014).

PREVENÇÃO

O sucesso da prevenção da saúde bucal está relacionado diretamente com o diálogo estabelecido entre o clínico veterinário e o tutor do pet, juntamente com os cuidados diários em casa (NIEMIEC et al, 2020). É preconizado que a prevenção da saúde oral seja estabelecida desde as primeiras consultas ou primo vacinação, durante a consulta com o tutor do paciente, onde poderá

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receber as informações adequadas sobre a saúde oral, sendo ideal para o início do condicionamento do animal, já que a cavidade oral é de difícil manuseio (BELLOWS et al, 2019).

Um conjunto de métodos são fundamentais para a manutenção da qualidade na saúde bucal, porém quando a doença periodontal está presente, somente o tratamento adequado com a profilaxia dentária completa e realizada por profissionais capacitados e habilitados é eficaz. (NIEMIEC et al, 2020).

Fundamental após o tratamento a aplicação de orientação de medidas preventivas da saúde oral e prática de medidas preventivas em domicílio. A combinação destas medidas contribui para uma qualidade da saúde geral do animal. (DEBOWES, 2005; CUNHA, et al., 2018; PINTO et al., 2020).

Cuidados em casa

Os cuidados com a saúde oral em domicílio são fundamentais, pois a placa bacteriana se fixa na superfície dentária após vinte e quatro horas, já as bolsas periodontais tornam-se re-infectadas em duas semanas após a profilaxia dentária. Importante ressaltar que, caso os devidos cuidados sejam omitidos a regressão a nível de profundidade de bolsa periodontal tornam se pregresso ao tratamento em torno de seis semanas (REITER, 2015; NIEMIEC et al., 2020).

Escovação

A escovação oral (limpeza mecânica) diária dos dentes é considerada padrão ouro, para remoção da placa bacteriana tanto em humanos como para os animais domésticos, tendo como objetivo de medida preventiva, profilática e terapêutica evitando a progressão da doença periodontal (STELLA et al., 2018; ENLUND et al., 2020). Esta ação caseira se demonstra efetiva sendo frequente e de maneira adequada. Preconiza-se o uso de escova de dentes adequada para o porte e espécie animal. (DEBOWES, 2005; PINTO et al, 2020). Devido a estas limitações, o conhecimento técnico torna o diálogo entre o médico veterinário e o tutor mais acessível para o convencimento de inserção da prática. Durante a orientação deve se ressaltar a importância da escovação dentária diária e seus benefícios, ressaltando que a prática remove somente a placa bacteriana e não o cálculo dentário. O creme dental deve ser de uso veterinário e após a escovação dentária o animal deve ser recompensado, facilitando a aceitação da prática. Sabendo que o método não substitui a necessidade de consultas periódicas, exames e radiografias odontológicos anestesiados e tratamentos adequados (BELLOWS et al, 2019).

Com o uso de uma escova com cerdas macias, deve-se escovar a superfície dos dentes, não sendo necessário escovar a língua. Caso haja um sangramento gengival (gengivite) no período de até

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duas semanas a intercorrência deve cessar, por isso a importância de manter a frequência da limpeza mecânica. Caso o sangramento se mantenha, deve-se explorar com mais cuidado, pois pode estar relacionado com formação de placa sub gengival, cálculo dentário ou outra patologia ocasionando a inflamação, se fazendo necessário o exame radiológico da região acometida (DEBOWES, 2005).

Alimentação

A dieta contribui como fator adjuvante na saúde da cavidade oral dos animais, sendo um aliado no controle da placa bacteriana, evitando a formação de cálculos e doenças periodontais, quando fornecida de forma que contribua e por um período contínuo durante a vida dos animais domésticos. Características como, consistência, tamanho e formato do grânulo (pellets) da ração são essenciais para a manutenção da saúde oral (SANTOS et al., 2012).

A alimentação natural por ser de consistência úmida e menos firme, exige menos contato (atrito) durante a mastigação facilitando o acúmulo e predispondo a formação da placa bacteriana e consecutivamente a formação de cálculo dentário (SANTOS et al, 2012; PINTO et al, 2020).

A formulação de ração dentária promove o atrito necessário que contribui para que os movimentos mastigatórios sejam feitos com maior frequência que as rações comerciais comuns. Sendo os pellets maiores permitindo essa abrasividade entre o alimento e o dente, incluído a área marginal. Em sua formulação contém ainda aditivos como quelante de cálcio (polifosfato de sódio) sendo efetivo no controle de placa bacteriana e cálculo dentário. (NIEMIEC, 2013d; PINTO et al., 2020).

Consumidores e médicos veterinários podem acessar o site do Conselho Veterinário para saúde Oral (vohc.org) onde se encontra uma lista de produtos com eficácia na saúde oral. O Conselho é formado por uma equipe de médicos veterinários, odontologistas e pesquisadores. Em que são estabelecidos protocolos e padrões realizando pesquisa e não testando produtos. (NIEMIEC et al., 2020)

CONCLUSÕES

Para realizar as medidas de prevenção, é importante informar os proprietários sobre os cuidados com a higiene bucal, associados com a dieta adequada, tratamentos periodontais realizados por profissionais capacitados e de forma regular, em conjunto com um diagnóstico precoce e tratamentos das doenças concomitantes, contribuindo para a qualidade dental e diminuição do aparecimento das condições sistêmicas associadas mais relevantes (PEREIRA DOS SANTOS et al., 2019).

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Sem esquecer, que a boa saúde oral de cães e gatos, implica em melhor qualidade de vida dos pacientes, começando a partir de uma avaliação detalhada da cavidade oral, pois através dela é possível diagnosticar, tratar e prevenir diversas afecções bucais, incluindo a doença periodontal, por meio de visitas regulares ao médico veterinário (COSTA, 2018; RAWLINSON, et al.,2019).

A doença periodontal tem grande influência no comprometimento da saúde geral e estado do paciente, principalmente em idosos. Não possui cura, mas tratamento e o principal modo de evitá-la é por meio da prevenção, sendo esta muitas vezes negligenciada tanto por parte da orientação do médico veterinário, quanto devido a rotina dos tutores, pois exige que seja feita a escovação diariamente, além do uso de adjuvantes, como produtos odontológicos licenciados, próprios para cães e gatos. A maior parte dos estudos encontrados foi com cães, requer-se mais estudos dedicados à medicina felina e saúde oral.

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