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Superior Tribunal de Justiça

CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 96.532 - MG (2008/0127004-8)

RELATORA : MINISTRA JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG)

AUTOR : JUSTIÇA PÚBLICA

RÉU : RAPHAEL JEAN DA SILVA PONCIANO

SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DE CONSELHEIRO LAFAIETE - MG

SUSCITADO : JUÍZO DE DIREITO DA 1A VARA CRIMINAL DE CONSELHEIRO LAFAIETE - MG

EMENTA

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. LEI MARIA DA PENHA. RELAÇÃO DE NAMORO. DECISÃO DA 3ª SEÇÃO DO STJ. AFETO E CONVIVÊNCIA INDEPENDENTE DE COABITAÇÃO. CARACTERIZAÇÃO DE ÂMBITO DOMÉSTICO E FAMILIAR. LEI Nº 11.340/2006. APLICAÇÃO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL.

1. Caracteriza violência doméstica, para os efeitos da Lei 11.340/2006, quaisquer agressões físicas, sexuais ou psicológicas causadas por homem em uma mulher com quem tenha convivido em qualquer relação íntima de afeto, independente de coabitação.

2. O namoro é uma relação íntima de afeto que independe de coabitação; portanto, a agressão do namorado contra a namorada, ainda que tenha cessado o relacionamento, mas que ocorra em decorrência dele, caracteriza violência doméstica.

3. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, ao decidir os conflitos nºs. 91980 e 94447, não se posicionou no sentido de que o namoro não foi alcançado pela Lei Maria da Penha, ela decidiu, por maioria, que naqueles casos concretos, a agressão não decorria do namoro.

4. A Lei Maria da Penha é um exemplo de implementação para a tutela do gênero feminino, devendo ser aplicada aos casos em que se encontram as mulheres vítimas da violência doméstica e familiar.

5. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete -MG.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do conflito e declarar competente o Suscitado, Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete - MG, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.

Votaram com a Relatora os Srs. Ministros Arnaldo Esteves Lima, Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi e Og Fernandes.

Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Felix Fischer, Paulo Gallotti e Maria Thereza de Assis Moura e, ocasionalmente, o Sr. Ministro Nilson Naves.

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Superior Tribunal de Justiça

Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Laurita Vaz.

Brasília, 05 de dezembro de 2008(Data do Julgamento)

MINISTRA JANE SILVA

(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG) Relatora

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Superior Tribunal de Justiça

CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 96.532 - MG (2008/0127004-8)

RELATORA : MINISTRA JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG)

AUTOR : JUSTIÇA PÚBLICA

RÉU : RAPHAEL JEAN DA SILVA PONCIANO

SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DE CONSELHEIRO LAFAIETE - MG

SUSCITADO : JUÍZO DE DIREITO DA 1A VARA CRIMINAL DE CONSELHEIRO LAFAIETE - MG

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG) (Relatora): Trata-se de conflito de competência suscitado pelo

Juízo de Direito do Juizado Especial Criminal de Conselheiro Lafaiete - MG em face dos Juízos de Direito da 1ª Vara Criminal e da 2ª Vara Criminal e de Execuções Penais de Conselheiro Lafaiete - MG, em que se busca definir qual o Juízo competente para processar inquérito tendente a apurar conduta de ex-namorado que praticou agressões físicas, ameaças e injúrias contra antiga namorada.

Requerida medida protetiva para a vítima ao Juízo de Direito 1ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete/MG - Juízo designado pelo Tribunal Estadual como competente para processar tais medidas -, foi determinada a redistribuição do feito entre as varas criminais por entender tratar-se de crime da competência do juízo comum, vez que não há relação doméstica entre os envolvidos (fl.35).

Remetidos os autos ao Juízo da 2ª Vara Criminal e de Execuções Penais este, todavia, entendeu não ser o caso de aplicação da Lei nº 11.340/06 e determinou a remessa do feito ao Juizado Especial Criminal daquela localidade que, por sua vez, entendendo que a ofensa praticada por ex-namorado à antiga parceira configura violência doméstica, suscitou o conflito negativo de jurisdição ao Tribunal de Justiça mineiro.

O Tribunal a quo, declinou da competência e remeteu os autos a esse Superior Tribunal de Justiça, entendendo ser este o competente para examinar conflitos de competência atinentes a magistrados do Juizado Especial.

Levando-se em consideração que se tratava de conflito negativo de competência suscitado nos autos de inquérito policial já relatado, designei o Juízo suscitado para solucionar, em caráter provisório, as medidas urgentes que eventualmente surgissem (fl.65).

O Ministério Público Federal opinou pela competência do Juízo de Direito da 1ª Vara

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Criminal de Conselheiro Lafaiete -MG (fls.72/74).

É o relatório.

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 96.532 - MG (2008/0127004-8)

RELATORA : MINISTRA JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG)

AUTOR : JUSTIÇA PÚBLICA

RÉU : RAPHAEL JEAN DA SILVA PONCIANO

SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DE CONSELHEIRO LAFAIETE - MG

SUSCITADO : JUÍZO DE DIREITO DA 1A VARA CRIMINAL DE CONSELHEIRO LAFAIETE - MG

VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG) (Relatora): Após examinar cuidadosamente os autos, entendo

que a competência para processar o feito é do Juízo de Direito da 1ªVara Criminal de Conselheiro Lafaiete -MG.

Consta dos autos que os envolvidos mantiveram relacionamento amoroso durante mais de um ano e que após o término da relação o réu não aceitava tal fato, passando então a perseguir a vítima pela rua, fazer ameaças por telefone, agredi-la fisicamente e proferindo ofensas morais contra sua pessoa.

Ao contrário do que entenderam os Juízos tido por suscitados, conforme já manifestado em outros julgamentos, reafirmo meu posicionamento no sentido de considerar que o namoro configura, para os efeitos da Lei Maria da Penha, relação doméstica ou familiar, simplesmente porque essa relação é de afeto.

Ressaltamos que mantemos esse entendimento porque a 3ª Seção desse Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar os conflitos de competência nº 91980 e 94447, embora tenha decidido, por maioria, por remeter a causa a julgamento pelo Juízo de Direito do Juizado Especial e não para o Juízo de Direito da Vara Criminal, o fez por entender que, naqueles casos específicos sob julgamento, a violência praticada contra a mulher não decorria da relação de namoro.

A 3ª Seção não decidiu na oportunidade do julgamento dos conflitos que a relação de namoro não é alcançada pela Lei Maria da Penha.

As disposições preliminares da Lei Maria da Penha dispõem em seu artigo 4º que a lei deverá ser interpretada tendo por escopo os fins sociais a que ela se destina, considerando-se, especialmente, as mulheres nas suas condições peculiares em situação de violência doméstica.

Cito artigo 4º da Lei 11.340/2006:

Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em

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situação de violência doméstica e familiar.

Depois de o legislador chamar a atenção para a interpretação correta, dispõe em seguida o que configura violência doméstica para os efeitos da lei.

Preceitua que a unidade doméstica refere-se a todo e qualquer espaço de convívio, ainda que esporádico, que a família é considerada a união de pessoas, dentre outras, por vontade expressa e que o âmbito doméstico e familiar é caracterizado por qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de

coabitação.

Transcrevo o artigo 5º da Lei 11.340/2006:

Para efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimentos físicos, sexuais ou psicológicos e dano moral ou patrimonial: I. No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II. No âmbito da família, compreendida como a unidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III. Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. (Grifo nosso).

Não se trata de saber se a relação do casal caracterizou união estável ou não, se o relacionamento já cessou ou não, basta que os elementos apontem para a direção de que ambos, em determinado momento, por vontade própria, ainda que esporadicamente, tenham tido relação de afeto, independente de coabitação.

A lei não exige esforço de interpretação para essa conclusão, pelo contrário, ela é expressa, não deixa margem de dúvidas.

Isso porque, seu escopo de proteção às mulheres, constantemente vítimas de agressões em suas relações domésticas e familiares, gira em torno de algo maior do que o casamento ou uma possível união estável, ele gira em torno da necessidade de resguardo daquela que é colocada em situação de fragilidade frente ao homem em decorrência de qualquer relação íntima que do convívio resulta.

Aquele que namorou por vontade própria expressa, independentemente do tempo, manteve, por óbvio, vínculo íntimo de afeto com a namorada, ainda que com ela não tenha coabitado ou que da relação não tenha resultado união estável.

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Realidade que nos assalta todos os dias pelo noticiário com a violência de todo tipo, mas, especialmente nos últimos tempos, com aquela dirigida à mulher, em muitos casos, contra a mulher que manteve relação íntima com seu agressor “tão-somente” no âmbito do namoro.

Afastar o namoro do âmbito de proteção da Lei Maria da Penha é corroborar com o estado de coisas que nos apresenta diuturnamente os telejornais.

Por oportuno, há de se ressaltar que um dos princípios comezinhos de direito, no que tange à interpretação da norma, preconiza que ela não utiliza palavras inúteis e, nesse caso, ela é clara ao dizer que qualquer relação íntima de afeto, ainda que os envolvidos não tenham morado sob o mesmo teto, caracteriza âmbito doméstico para a Lei 11.340/2006, abarcando, por corolário, também o namoro.

Dessa forma, configurada hipótese de aplicação da Lei nº 11.340/2006, o Juizado Especial Criminal resta absolutamente incompetente para processar o feito nos termos do artigo 41 da lei em comento, ao dispor que aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra

a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995.

De outra ponta, verifica-se que o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, por intermédio da Resolução 529/2007, fixou, até a implantação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher previstos no art. 14 da Lei 11.340/2006, a competência do Juiz da 1ª Vara Criminal para processar e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica.

Portanto, a competência para processar o feito é do Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete - MG.

Confira-se no mesmo sentido as seguintes decisões monocráticas: CC 88952/MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho; DJU 04/03/2008; e CC 90.603/MG, Rel. Min. Felix Fischer; DJU 01/02/2008.

Ante o exposto, com fundamento no artigo 120, parágrafo único do Código de Processo Civil, c/c artigo 3º do Código de Processo Penal, conheço do conflito, para declarar competente o Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete -MG.

É como voto.

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ERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA SEÇÃO Número Registro: 2008/0127004-8 CC 96532 / MG MATÉRIA CRIMINAL Números Origem: 10000074538091 10000084682160 1252007 183071321545 183071343093 EM MESA JULGADO: 05/12/2008 Relatora

Exma. Sra. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG) Presidenta da Sessão

Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ Subprocurador-Geral da República

Exmo. Sr. Dr. JAIR BRANDÃO DE SOUZA MEIRA Secretária

Bela. VANILDE S. M. TRIGO DE LOUREIRO

AUTUAÇÃO

AUTOR : JUSTIÇA PÚBLICA

RÉU : RAPHAEL JEAN DA SILVA PONCIANO

SUSCITANTE : JUÍZO DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DE CONSELHEIRO

LAFAIETE - MG

SUSCITADO : JUÍZO DE DIREITO DA 1A VARA CRIMINAL DE CONSELHEIRO LAFAIETE

- MG

ASSUNTO: Processual Penal - Termo circunstanciado CERTIDÃO

Certifico que a egrégia TERCEIRA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Seção, por unanimidade, conheceu do conflito e declarou competente o Suscitado, Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete - MG, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.

Votaram com a Relatora os Srs. Ministros Arnaldo Esteves Lima, Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi e Og Fernandes.

Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Felix Fischer, Paulo Gallotti e Maria Thereza de Assis Moura e, ocasionalmente, o Sr. Ministro Nilson Naves.

Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Laurita Vaz.

Brasília, 05 de dezembro de 2008

VANILDE S. M. TRIGO DE LOUREIRO Secretária

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