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O julgamento teve a participação dos MM. Juízes MARIA FERNANDA BELLI (Presidente) e JOÃO DE OLIVEIRA RODRIGUES FILHO.

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Registro: 2017.0000106626

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1000822-60.2016.8.26.0050, da Comarca de São Paulo, em que é apelante DANILO GENTILI JUNIOR, é apelado JOSÉ TRAJANO REIS QUINHÕES .

ACORDAM, em 2ª Turma Recursal Criminal do Colégio Recursal Central da Capital, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso de apelação, por V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos MM. Juízes MARIA FERNANDA BELLI (Presidente) e JOÃO DE OLIVEIRA RODRIGUES FILHO.

São Paulo, 2 de outubro de 2017.

Flávia Poyares Miranda RELATOR

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Recurso nº: 1000822-60.2016.8.26.0050

Apelante: Danilo Gentili Junior

Apelado: JOSÉ TRAJANO REIS QUINHÕES

Rejeição da Queixa-crime. Recurso improvido.

VISTOS.

Trata-se de Apelação interposta por Danilo Gentilli Junior, contra sentença proferida a fls.174/178 que rejeitou a queixa-crime. Pleiteia a reforma para que a sentença anulada, determinando-se o recebimento da queixa-crime e a retomada da sua regular marcha processual. (fls.181/191).

Recebido o recurso, a parte recorrida ofertou contrarrazões a fls. 206/233 e pleiteou a manutenção da sentença ora combatida.

A seguir, os autos foram remetidos a este Colégio Recursal. O Ministério Público atuante em 2º grau lançou parecer a fls. 238/266, requerendo o improvimento do recurso.

É OBREVERELATO. FUNDAMENTOE DECIDO.

O apelo não merece provimento, respeitado entendimento diverso, devendo ser mantida in totum a r. decisão proferida a fls.174/178:

“(...) Trata-se de queixa crime por crime contra a honra. O Querelante sentiu-se atingido em sua honra por comentários feitos pelo Querelado em programa de televisão. Nessa sua manifestação, o Querelado teria manifestado seu repúdio ("irritado, enojado com a presença dele") à presença do Querelante em outros programas da grade da mesma emissora, isto porque, segundo o Querelado, o Querelante seria um "personagem engraçadinho que se posta comos e fosse um sujeito que faz apologia do estupro em nome do humor". Em defesa preliminar, o Querelado destacou (folhas 93 e seguintes) publicações do Querelante em redes sociais, destacando manifestações do Querelado, a título de humor, que justificariam sua crítica. Dada a

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palavra ao Querelante, este não negou a autoria daquelas postagens. Assim, é incontroverso que o Querelante, embora não faça expressa apologia do estupro, efetivamente faz troça de fatos que, em tese, poderiam caracterizar o também grave crime de posse sexual mediante fraude (vide fatos relacionados com o programa Big Brother Brasil folhas 92/93) ou, mesmo assim não se entendendo, reduz e vitupera valores prevalentes na sociedade, como a liberdade sexual da mulher. E da mesma forma age com relação a outros valores não menos relevantes, como o respeito à diversidade de orientação sexual, o respeito à diferença de raças, dentre outros vide folhas 93/95. Pouco importa que o Querelante tenha sido condenado ou absolvido relativamente a estas postagens em redes sociais. Ainda que pudessem não configurar ilícito civil ou penal, o que está em questão, nos estritos limites da presente lide penal, é o direito que o Querelado possa ter de desgostar do humor feito pelo Querelante (lícito ou ilícito que seja) e de externar aberta crítica a ele. Entendo que o Querelado tinha e tem o direito de critica quanto à atuação artística (humorística) do Querlante, ainda que dura seja a crítica feita. Com efeito, dispõe o artigo 142, II, do Código Penal, não constituir crime (injúria ou difamação) a opinião desfavorável da crítica artística. Esta é a hipótese dos autos. Embora as palavras do Querelado fossem dirigidas à pessoa do Querelante (repúdio à sua presença em programação de determinada emissora), fato é que dito repúdio manifestamente se relaciona com a atividade artística do Querelante e, então, firmemente criticada pelo Querelado. A menção feita pelo Querelado a pessoa que "se posta como se fosse um sujeito que faz apologia de estupro em nome do humor" deixa claro que o repúdio decorre do tipo de humor que o Querelante faz (que tem por mote valores socialmente relevantes, acima já destacados). E pouco importa que não seja tecnicamente exata a menção a estupro (o Qurelado não é jurista), já que é fato que o Querelante efetivamente menoscaba da liberdade sexual da mulher, em suas postagens. Vale ademais destacar que o artigo 142, II, do Código Penal, é corolário da garantia constitucional da liberdade de manifestação do pensamento. Tal garantia visa assegurar o aprimoramento do conhecimento, latu sensu, e seguramente envolve aspectos políticos, sociais e éticos da vida em sociedade. Assim sendo, quando o Querelante delibera tomar valores sensíveis da sociedade contemporânea como tema de suas manifestações, põese voluntariamente em terreno aberto para críticas que então não pode estranhar. Mas ainda que assim não fosse. Mesmo não se aplicasse às inteiras o disposto no artigo 142, II, do Código Penal, forçoso reconhecer que a conduta do Querelado, primando pela crítica, não estaria de toda sorte revestida do dolo específico sempre exigido para a tipificação dos crimes contra a honra. Nestes crimes, o elemento subjetivo do tipo

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envolve não só a vontade de praticar determinada conduta, mas também a de, por meio dela, atingir determinado resultado. Nos crimes contra a honra, não basta, portanto, prolação de palavras ofensivas. Mister que a vontade do agente esteja focada no ataque à esfera moral da vítima, como fim precípuo da ação. Como observa Alberto Silva Franco, em suas anotações ao elemento subjetivo do crime de calúnia: “Não nos parece que se possa prescindir do animus diffamandi, da vontade de ofender, da intenção de denegrir etc. Dolo é consciência da antijuridicidade do fato e não tem quem, embora proferindo palavras que possuam idoneidade ofensiva, age com fim que não é antisocial”...”Não basta, pois, que as palavras sejam aptas a ofender; é mister que sejam proferidas com esse fim” (Código Penal e Sua Interpretação Jurisprudencial, vol 1, tomo II, 6ª ed., pág 2245). E, como já destacado, o animus criticandi ressurge evidente do próprio teor da manifestação do Querelado e assim descrita na queixa. Cabe, a propósito, destacar entendimento já externado pelo Col. Superior Tribunal de Justiça, no tocante a imputação a terceiros de fato delitivo, porém com animus defendendi: “Não há crime de calúnia quando o sujeito pratica o fato com ânimo diverso, como ocorre nas hipóteses de animus narrandi, criticandi, defendendi, retorquendi, corrigendi e jocandi” (RTSTJ 34/237). Desde entendimento não discrepa a doutrina de Mirabete: “Em resumo, se o ânimo, desígnio ou móvel que impele à manifestação do pensamento representa, de algum modo, o exercício regular de direito ou o cumprimento de dever jurídico (animus defendendi, no debate judiciário; animus corrigendi vel disciplinandi no exercício do pátrio poder, tutela, instrução ou educação; animus consulendi na liberdade de crítica, ou no dever de informar ou dar parecer etc.), não haverá crime contra a honra a punir” (Manual de Dirreito Penal, vol 2, 3ª ed, pág. 136). Aliás, quiçá por ter agido com animus jocandi, não tenha sido o próprio Querelante punido pela suas postagens nas redes sociais. Então, por fundamento análogo (animus criticandi), deve ser o Querelado agora também absolvido sumariamente. Por reputar que os fatos descritos na queixa não configuram ilícito penal, por expressa exclusão legal, absolvo sumariamente o Qurelado, JOSÉ TRAJANO REIS QUINHÕES, do delito do artigo 140, combinado com o artigo 141, III, ambos do Código Penal, o que faço com fundamento no artigo 397, I, do Código de Processo Penal. P.R.Intime-se. São Paulo, 29 de junho de 2017.”

Inexistindo o dolo específico, agindo o autor do fato com animus narrandi ou animus criticandi, não há falar em crime de injúria ou difamação.

Esclarece o D. Promotor de Justiça que:

“Além do que, destacou a defesa do Querelado, o porquê de terem sido abordados diversos episódios da carreira do

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Apelante: A CRÍTICA FEITA PELO APELADO SE DEU EXCLUSIVAMENTE EM RAZÃO DO PERSONAGEM REPRESENTADO PELO APELADO. NÃO POR OUTRA RAZÃO O APELADO DISSE SE POSTA COMO SE FOSSE UM SUJEITO QUE FAZ APOLOGIA, OU SEJA, DIRIGIU SUA CRÍTICA POR FORÇA DO PERSONAGEM ASSUMIDO PELO APELANTE (sic.)... (...) Efetivamente, não se pode isolar determinadas afirmações, dissociadas do restante do contexto em que proferidas, para tipificar eventual delito contra a honra do Querelante/Apelante, sendo mais razoável, data venia, remeter os contendores para a esfera cível para apuração de eventual responsabilidade por danos materiais ou morais, tendo em vista o exame mais amplo dos requisitos legais, ao contrário do que ocorre na esfera penal, onde vige o princípio da estrita Legalidade. (...) No entanto, embora o Querelante tenha ingressado com pedido de explicações vale lembrar que arrolou com a queixa-crime testemunhas, mas se desconhece, completamente, o teor de seus depoimentos, o que impede, data venia, o recebimento da queixa. Cabe ao Magistrado examinar, nesta fase inicial, se o fato narrado constitui ou não crime em tese. Por conseguinte, não existindo nos autos o necessário fumus boni juris a amparar a imputação, dando-lhe os contornos de razoabilidade, pela existência de justa causa, ou pretensão viável, a meu ver agiu corretamente o il. MM. Juiz a quo após a audiência preliminar. Diante do exposto, o Ministério Público, embora louvando a dedicação e a combatividade do digno patrono do Querelante/Apelante, opina pelo improvimento do Apelo, a fim de ser mantido o r. despacho invectado, por seus próprios e jurídicos fundamentos, como medida de exata aplicação da lei à hipótese dos autos.”

Trago à colação o seguinte aresto:

“AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. QUEIXA-CRIME POR CALÚNIA, INJÚRIA E DIFAMAÇÃO. NOTÍCIA PUBLICADA NO SÍTIO ELETRÔNICO DA PGR ACERCA DE DENÚNCIA OFERECIDA PELO MPF. AUSÊNCIA DE

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DOLO ESPECÍFICO. NOTÓRIO ANIMUS NARRANDI. INEXISTÊNCIA DE JUSTA CAUSA. QUEIXA REJEITADA. 1. A divulgação de notícia no sítio eletrônico da Procuradoria-Geral da República acerca do teor de denúncia oferecida por membro do Ministério Público Federal, com referência a circunstâncias levantadas pelo órgão acusador para perfazer a opinio delicti, com notório animus narrandi, não se mostra abusiva, tampouco viola a honra dos acusados.

2. A queixa-crime não traz consigo a demonstração do elemento volitivo ínsito à conduta criminosa, ou seja, não demonstra a inicial acusatória a existência de dolo específico necessário à configuração dos crimes contra a honra, razão pela qual resta ausente a justa causa para o prosseguimento da persecução criminal.

3. Queixa-crime rejeitada.

(APn 628/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, CORTE ESPECIAL, julgado em 12/05/2011, DJe 17/10/2011)”

Portanto, respeitado entendimento diverso, agiu o Querelado com mero animus criticandi e, não, animus injuriandi.

Pelo exposto, nego provimento ao recurso e mantenho a sentença tal como proferida, nos termos deste voto.

FLÁVIA POYARES MIRANDA Juíza Relatora

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