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Claudio Costa Neto. poetices IMPRIMATUR

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Academic year: 2021

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poetices

Claudio Costa Neto

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sumário

prólogo 7 aforismos, hokku/haiku e outros poemas curtos 11 Aforismos 16

Hokku de Bashô 17

Sobre o que acontece nas estações do ano 19 Dor, doença, sofrimento, prazer 23 Os belos anos da velhice 26 poemas curtos (mas não tão curtos

quanto os kokku/haiku) 31 Sobre o infinito das coisas e das ideias 34 Sobre a importância das coisas 36 A paixão: os prazeres do corpo e da alma 39 Como os xistos cantam a natureza 41 Tuberculose e miséria 50 Sobre como Linneu pensou a natureza 54 Sobre vantagens e desvantagens e quando se revela

a importância do insignificante 58 Mosaico: poemas soltos 62

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poemas longos 67 Sobre o amor e o ódio que existem

no sentir das pessoas 70

Alegria, aflição 78

Sobre fatos, ideias... e memória 81 Sobre pedras e castelos 88

Trabalho e ócio 94

Química, tuberculose e a sociedade brasileira 98 Sobre amores, amantes e amadores 116

Tudo é passageiro 120

A vida é o presente, um presente do presente 123 Sobre o prazer dos sabores 133 Tu que me olhas... 135 Um sonho: de como são as coisas do mundo

e de como começaram 138 A fala dos pobres e dos ricos 153 epílogo 161

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prólogo

Poetices, o título dado a este livro, reflete um espírito de

des-contração, de manifestação da alma, livre de compromissos com regras cartesianas de expor ideias. O sufixo ‘ices’ é o que dá essa liberdade de agir: são peraltices com poemas...

Na definição dos dicionários [9], o sufixo ice diz que “-ice: suf. formador de subst. abstratos der. de adjetivos ou substan-tivos (...) sua fecundidade é viva:” Aqui Houaiss cita “entre outros”, 111 palavr(ices), das quais podem ser ressaltadas, “asnice, beatice, brasileirice, burrice, brejeirice, caduquice, canalhice, cafonice, chatice, crendice, criancice, esquisitice, idiotice, imun-dice, guloimun-dice, maluquice, meiguice, pieguice, rabugice, tolice, velhice, vigarice...”

O que o Houaiss não disse é que esse sufixo dá à palavra-raiz a opção de caminhar por uma ‘via paralela’ de compreensão do termo (raiz), uma conotação alternativa à que lhe dá a palavra--raiz. Talvez um pouco do “parece, mas não é”. Afrouxa a rigi-dez com que o termo é definido. O que é, por exemplo, idiotice, imundice, tolice em relação às palavras idiota, imundo, tolo?

Idiotice, tolice são coisas feitas por alguém que “parece” ser idiota

ou tolo, mas que talvez não seja sempre idiota nem tolo: fazer uma idiotice ou uma tolice pode ser uma atitude passageira, em que a pessoa apenas se comportou, naquela ação, como um idiota ou um tolo. Também imundice atribui uma conotação de

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imundo (superlativo de sujo) a alguma coisa/situação que talvez não seja ou esteja realmente imundo, mas quem a ela se refere quer lhe dar a conotação de imundo. É usada muitas vezes como metonímia para significar uma ação que, na visão de quem cri-tica, assemelha-a a um ambiente sujo de sujeira real.

Assim é com poetices – peraltices de alguém que se faz de poeta – e com poesices ou poemices – travessuras com a forma de poesias ou de poemas –, uma via paralela percorrida por uma obra produzida por um autor (eu no caso) sem compro-missos com os cânones vigentes (principalmente porque os des-conhece) podendo até ir-lhe de encontro. São poetices porque o autor faz as vezes de poeta. Pode parecer ser um poeta, mas não se diz como tal (o que é ser um poeta?). Usa a forma de se expressar como fazem (alguns) poetas, sem se fazer pertencer à mesma categoria. São poesices ou poemices porque mimetizam poesia ou poemas sem buscar se enquadrar nos cânones vigen-tes. São formas livres de expressar o sentimento, talvez fruto de um inconsciente. Só isso.

De três elementos são compostos os poemas: as palavras que lhes dão o corpo, as ideias que lhes dão a alma e o canto que lhes dá a vida. Se corpo e alma estão sempre juntos e indissociáveis, então um poema se forma sempre de palavras e ideias, mas é pelo canto – a música, com o que tem de melodia, harmonia e ritmo – que o poema alcança a alma das pessoas.

Mas... qual música, qual estilo de música, qual melodia, har-monia, qual ritmo que um poema deve ter para alcançar a alma das pessoas? A resposta é simples: qualquer música, qualquer estilo, porque sempre haverá alguma forma de música quando palavras e ideias se juntam, só que serão músicas e estilos diferen-tes. E lembrar que músicas e estilos diferentes ressoam de maneira

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diferente em pessoas diferentes. E será assim, também, com os poemas: a música que seus corpo e alma “compõem”, de estilos diferentes, fará com que pessoas diferentes as recebam de maneira diferente. Difícil será alcançar a todos. Muitas vezes alcançam poucos. Poucas vezes, muitos. Às vezes não alcançam ninguém.

A música é o que dá vida ao verso/poema, pode-se assim dizer, e mais, que essa música é tecida com o som que as pala-vras, escolhidas e arrumadas para materializar um pensamento, ao serem lidas, lhe dão.

Aforismos foram introduzidos nessa antologia porque podem ser vistos e sentidos como poemas de um verso só (nem todos...). São poemas onde as ideias se mostram concentradas (encapsuladas?), mas capazes de explodir num mundo de con-sequências, qual fogos de artifício.

Os poemas que constituem este livro foram extraídos de três outros, a saber: Vila Rosário [2], A filosofia do óbvio [3] e

Tuberculose e miséria [4]. No primeiro, a maioria dos poemas

está inserida em um contexto próprio do capítulo, intimamente ligado à prosa com que é escrito. Por essa razão, só alguns foram trazidos para esse volume e, assim mesmo, editados para ganha-rem uma forma ‘autônoma’. Poemas dos outros livros também sofreram modificações uma vez que sempre é possível aperfei-çoar as ideias e as palavras de modo melhorar a sua musicali-dade. O texto contém, também, muitos poemas inéditos.

Minha intenção ao escrever é sempre fazê-lo de modo a per-mitir ao leitor compreender diretamente as ideias expostas, sem necessidade de maiores “interpretações” (um pouco na contra-mão do estilo usual dos filósofos e poetas). Por isso a linguagem

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usada é explícita. Contudo, para abstrair ideias apresentadas numa linguagem concisa, é necessário atenção (concentração?). É sempre bom acompanhar a leitura do texto com uma “degus-tação” – lenta, recorrente e profunda – da sua forma e conteúdo. Por ser uma coletânea de poemas escolhidos, este livro pode ser apresentado como uma antologia. Antologia é uma palavra romântica. Vem do grego “ανθος, anthos = flor e λέγω, légo = escolho, escolha de flores. Por extensão, coletânea de versos e trechos escolhidos”[8]. Quem pela primeira vez a usou queria certamente dizer que a coletânea de poemas que fazia, reunia a quintessência de sua produção artístico-intelectual, o melhor da sua alma, da mesma forma que a flor é para a planta a quintes-sência dela mesma, de como ela se mostra para o mundo.

Os poemas desse livro não são todos de trato leve. Muitos se apresentam como uma poesia “dura”, da busca da verdade, da busca de respostas a perguntas triviais e transcendentais, de confrontar a dor e o sofrimento. Outros tratam da alegria e da felicidade de viver.

É firme o desejo que os poemas que compõem este livro se comportem como canções. As letras dessas canções tratam de coisas da natureza, das pessoas, da sociedade. Que essas letras quando lidas, cantem e digam.

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aforismos, hokku/haiku

e outros poemas curtos

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Aforismos e hokku/haiku1 são formas compactas de se

expri-mirem ideias: aforismos podem ser vistos como poemas de um verso só, enquanto o hokku/haiku é uma forma de poema japonês escrito em três versos de 5, 7 e 5 sílabas. Em ambas as modalidades a concisão (precisão?) é uma das características que define o estilo da poesia.

Na sua forma original, os versos dos hokku/haiku são escri-tos em sequência, em uma mesma linha, com certa vinculação (às vezes tênue) com as estações do ano. Seu poeta-príncipe foi Bashô, que viveu no Japão, no período de 1644 a 1694.

Esse tipo de poesia tem dois grandes atrativos para mim: primeiro, a imposição de descrever um pensamento em forma bastante concisa, a ser formulada em dois versos. Segundo, por conter um chamado momento poético, um momento de

ilu-minação (satori), que se cria pela quebra da cadeia de ideias

1 O termo haiku é produto de uma evolução da poesia japonesa. Derivou de uma primeira forma denominada waka ou tanka (já presente no período 794-1191 da dinastia Heian), formada de trinta e uma sílabas dividida em duas estrofes, a primeira com três versos de 5,7,5 sílabas e a segunda com dois, ambos de 7 sílabas. Logo começaram a ser escritas em grandes sequências denominadas

renga, cada unidade produzida por um poeta, que se sucediam num longo jogo

intelectual estimulante. Os poemas se ligavam, tenuamente, pelo tema ‘estação’. No século XVI, o gênero espirituoso passou a ser dominante da renga-haikai, e foi a partir desse período que o poema inicial composto de 17 sílabas (três versos de 5,7, e 5 sílabas), denominado hokku, desprendeu-se da sequência de poemas da renga haikai. No final do século XIX, Masaoka Shiki (1867-1902) criou o termo haiku (nome composto a partir de haikai e hokku) para ser uma nova unidade poética, autônoma, composta agora só das 17 sílabas do hokku (três versos de 5,7, e 5 sílabas). Pelo fato do termo haiku ter sido criado muito depois da morte de Bashô, muitos autores evitam denominar seus poemas de haiku, preferindo usar a denominação da época em que foram compostos:

hokku. Uma descrição ampla sobre a história do hokku/haiku pode ser

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exposta pelos dois primeiros versos, quando se passa ao terceiro. Esse momento, produzido por uma mudança no fluxo de ideias, confere ao poema uma “luz” ímpar.2

Esse terceiro verso sem ser uma continuação nem conter conclusões sobre os primeiros, deixa ao leitor fazer a ponte entre o que foi dito nos dois primeiros e no terceiro versos. O haiku original trata, geralmente, de ideias simples, do cotidiano das pessoas, sem a preocupação em descrever uma ideia rica. Apenas dá ao leitor a oportunidade de sentir um momento de satori, um momento de prazer, que lhe é dado pela leitura do poema.

Não é bem assim, entretanto, o que ocorre com todos os ver-sos desse capítulo: se para os haiku ortodoxos a visão do todo é imperturbada e imperturbável (conquanto iluminante), nos desse capítulo há sempre uma instigação à meditação profunda sobre a natureza das coisas de que trata (conquanto procure ser, também, iluminante a passagem do segundo para o terceiro verso), seja na forma de uma afirmação seja na de uma pergunta. Nesse parti-cular, compare-se, por exemplo, o poema clássico de Bashô, “No tanque velho, uma rã mergulha. A água resmunga”, com o que é dito no Capítulo 1.4: “Dor do corpo, dor da alma, dor qualquer, só desespero. Fugir p’ ra onde?” No primeiro mergulha-se na sensa-ção zen dos haiku ortodoxos. O segundo deixa transparecer um estado de angústia, talvez mesmo de uma aporia.

O hokku/haiku tem um formato bem estabelecido que se impõe como um estilo de poema. E é claro que é possível escre-ver haiku na língua portuguesa respeitando toda a sua ortodoxia,

2 Essa “quebra” no fluxo das ideias é também encontrada nas anedotas (“pia-das”), com a diferença que o final no haiku é, ao lado da surpresa, a sensação de uma luz brilhante que se acende bruscamente – como um relâmpago, talvez –, enquanto o final da piada – também uma surpresa – leva a uma explosão súbita de riso, pelo humor a que se propõe.

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embora – é importante lembrar – na gramática da língua japo-nesa não existem artigos, pronomes, distinção entre singular e plural, nem entre presente, passado ou futuro na conjugação dos verbos, e outras tantas diferenças que existem para com a lín-gua portuguesa. Para o poeta que escreve em português, melhor será buscar a concisão das ideias em três (às vezes quatro) ver-sos e a “iluminação” (surpresa?) na passagem do segundo para o terceiro (o que melhor caracteriza o espírito do haiku), sem, no entanto, se preocupar com a métrica, menos ainda com as esta-ções do ano. A estrutura zen das ideias pode ser mantida ou não. Contudo, reconheço que não obedecer à métrica, não mer-gulhar na simplicidade do vazio e nem se preocupar em mencio-nar, mesmo que de leve, as estações do ano, distorcem a forma clássica do haiku. Vêm daí variações da designação que podem ser dadas aos poemas que buscam mostrar o mesmo espírito – e até o mesmo formato – de um haiku sem, contudo, manter sua plena ortodoxia: seria um quase-haiku, ou como-um-haiku (um iso-haiku, semelhante ao haiku, sem lhe ser igual) ou, talvez até um falso haiku (pseudo-haiku,3 ψ-haiku) ou, ainda, um outro

nome qualquer. São, na verdade, tercetos e quartetos (raramente

quintetos) que incorporam o espírito dos hokku/kaiku. Seria

uma maneira de dizer que há desvios da forma (corpo?) e até do espírito dos poemas com relação aos haiku clássicos, mas que as ideias minimalistas, de simplicidade e concisão, e o ‘estado de graça’ a que conduzem, estas, são mantidas. E é isso o que buscam os poemas deste capítulo.

3 O prefixo “pseudo”, do grego ψευδὴς = pseudés, significa “falso” [8]. Entretanto, não há nada de falso no que querem dizer esses novos poemas. Esses são ape-nas fruto de uma evolução dos hokku/haiku originais.

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aforismos

Aforismos que soem musicalmente e que portem uma ideia objetiva e incisiva podem ser tratados como poemas (de um verso só, embora, às vezes, possam conter mais do que um). São poemas-título ‘ultracurtos’ que podem trazer uma mensagem de vida (própria dos aforismos), mas que nessa antologia devem ser pensados apenas como poemas. Alguns desses aforismos são comentados na referência [3]. Alguns são peças da Filosofia do

Óbvio. Poucos se apresentam sob duas formas, para escolha.

São eles:

As coisas têm a importância que a elas se lhes dá. As pessoas são como são (e não são como não são). As pessoas são o que fazem e fazem o que são. Bons momentos no presente, bom passado no futuro. Cuida do que cuidas.

P’ ra fazer bem uma parte é preciso ver o todo. O remédio que cura é o mesmo veneno que mata.

Onde tem gente... tem problema! / Onde tem problema... aí tem gente!

Para quem não tem grandeza, o mundo é só miudezas. Pessoas diferentes são diferentes.

Quem propõe... que faça...

Só quem faz, aperfeiçoa / Só melhora quem produz.

Toda vantagem tem seu lado desvantagem / Todo sim tem também seu lado não.

Todo trabalho dá trabalho.

Tudo é infinito: o limite das coisas é o limite de quem pensa as coisas.

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hokku de bashô

Nesta seção são apresentadas versões em português de vários hokku de Bashô. Com exceção do primeiro, essas versões são, por sua vez, uma terceira via de alguns dos mostrados por Ana Mafalda Leite e José Manuel Lopes na antologia Cem Haiku [10]. Refazem, livremente, as versões de Leite e Lopes, sem preocu-pação com a métrica, mas apenas com a musicalidade que a sequência de palavras dá.

O primeiro deles é o mais famoso dentre todos os hokku de Bashô. Na sua versão original, o poema é apresentado em três versos de 5, 7, 5 sílabas, em uma só linha, que em japonês trans-literado se lê:

Furuike ya, kawazu tobikomu, mizu no oto.

Em português, esse hokku poderia ser cantado, na sua forma linear (como no japonês) da seguinte forma:

No tanque velho, uma rã mergulha. A água resmunga.

Na forma tradicional de apresentar, no modo ocidental, ele viria da seguinte forma [2, p. 16]:

No tanque velho uma rã mergulha. A água resmunga.

Seguem-se outros poemas de Bashô trazidos através das versões de Leite e Lopes para este texto:

Cantar, cantar... fez a cigarra do seu corpo apenas música. Só deixou ficar a casca.

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Faltava arroz

para encher de todo a cuia. Pus-lhe uma flor.

O vaso virou

com a água e com a camélia. Agora são todas pétalas.

No charco, amanhecia.

Busquei, correndo, seguir a lua. Ela, com pressa, se despedia. Vi pelas águas do lago

que a lua se despedia. Levava a noite com ela.

O bambuzal preenche ora com a luz da lua

às vezes com o canto do cuco os espaços da renda que tece. Flor de malva à beira da estrada

a dar graça ao viajante. P’r’um cavalo mais é saboreio.

Sinto um perfume de flores não sei de que flores são nem sei bem de onde vem. Saber p’ ra quê?

Referências

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