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Desenvolvimento regional menos desigual: uma análise da região Corede Noroeste Colonial pela ótica do empreendedorismo

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO

DO RIO GRANDE DO SUL

PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DESENVOLVIMENTO

GESTÃO EMPRESARIAL

BETINA BELTRAME

DESENVOLVIMENTO REGIONAL MENOS DESIGUAL:

Uma análise da região Corede Noroeste Colonial pela ótica do empreendedorismo

IJUÍ 2014

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BETINA BELTRAME

DESENVOLVIMENTO REGIONAL MENOS DESIGUAL:

Uma análise da região Corede Noroeste Colonial pela ótica do empreendedorismo

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

Stricto Sensu em Desenvolvimento, na linha de pesquisa

Gestão Empresarial da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Orientadora: Profa. Dra. Adm. Denize Grzybovski

IJUÍ 2014

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B453d Beltrame, Betina.

Desenvolvimento regional menos desigual: uma análise da região

Corede noroeste colonial pela ótica do empreendedorismo / Betina Beltrame. – Ijuí, 2014. –

136 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientadora: Dra. Denize Grzybovski”.

1. Desenvolvimento regional. 2. Empreendedorismo. 3. Contágio regional. I. Grzybovski, Denize. II. Título: Uma análise da região Corede noroeste colonial pela ótica do empreendedorismo.

CDU: 338.2(816.5) 658.114.8(816.5) Catalogação na Publicação Frederico Teixeira CRB10/2098

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

DESENVOLVIMENTO REGIONAL MENOS DESIGUAL: UMA ANÁLISE DA REGIÃO COREDE NOROESTE COLONIAL PELA ÓTICA DO

EMPREENDEDORISMO

elaborada por

BETINA BELTRAME

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Profa. Dra. Denize Grzybovski (UNIJUÍ): _________________________________________

Prof. Dr. André da Silva Pereira (UPF): ___________________________________________

Prof. Dr. Dieter Rugard Siedenberg (UNIJUÍ): _____________________________________

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Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. LUÍS DE CAMÕES

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DEDICATÓRIA Aos meus pais, João e Cecilia, e a minha irmã, Bianca, minha eterna fortaleza. Aos meus avós (in memoriam), que sempre zelaram por mim. Aos demais familiares, que me incentivaram. À colega Déborah Traesel (in memoriam), que do pouco tempo que convivemos juntas, deixa seu exemplo de simpatia e humildade. Às pessoas que, direta ou indiretamente, me acompanharam e contribuíram com o meu estudo.

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AGRADECIMENTOS

Aos que sempre estiveram perto de mim e que dividiram comigo as dificuldades e que multiplicaram minhas forças, anjos de asas enormes: pai, mãe e mana, demais familiares.

À minha turma de mestrado 2012, em especial aos meus amigos e companheiros de jornada, Marise e Felipe, por estarem sempre ao meu lado.

Às novas amizades: Andréa, Neide, Lúcia, Juliana e Manuela obrigada pela acolhida. Aos professores do Programa de Mestrado em Desenvolvimento da Unijuí. Tenham certeza que todos vocês contribuíram tanto para o meu crescimento profissional quanto para o meu crescimento pessoal. Meu respeito e admiração aos ensinamentos compartilhados.

Em especial a minha orientadora, profa. Dra. Adm. Denize, que foi mais que orientadora. Me conduziu com sabedoria, precisão e com muito carinho não só para a obtenção de conhecimentos científicos, mas também para a vida. Tornou cada supervisão um momento de verdadeira aprendizagem. Não posso deixar de agradecer também ao seu esposo Carlos, pelos momentos de descontração.

Aos professores da banca, que aceitaram o convite para o debate e lapidação desse trabalho.

Aos empreendedores e entrevistados, pela generosidade e disponibilidade em contribuir com a minha pesquisa, o que me proporcionou mais essa conquista. Minha profunda gratidão.

À amiga e colega professora Maria e ao Rogério, com os seus conhecimentos em português e informática gentilmente me auxiliaram na construção desse trabalho.

Aos muitos anônimos, que me ajudaram ao longo da pesquisa, em especial as secretárias que fizeram a ponte entre a pesquisadora e os entrevistados.

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RESUMO

As teorias sobre o desenvolvimento trazem uma perspectiva interdisciplinar com vistas a contemplar diferentes saberes, razão pela qual tem se produzido pesquisas em diferentes campos do conhecimento e gerado conceitos amplos, complexos, quando não abstratos e distantes da realidade. As articulações propostas no presente trabalho visam qualificar as investigações sobre desenvolvimento na perspectiva teórica, a do desenvolvimento regional na tentativa de superação do distanciamento dos estudos da dimensão social em âmbito regional. O empreendedorismo é elemento central no desenvolvimento regional, mas ainda não é linha de pesquisa no campo do desenvolvimento regional, sendo um fenômeno eminentemente sociocultural, ligado à coletividade e que necessita dos impulsos e do apoio do ambiente, superando a visão schumpeteriana. Para tanto, inclui-se a variável “contágio empreendedor” como elemento de análise do tema explorando os fundamentos teóricos do desenvolvimento regional nas dimensões social e empreendedora. O presente estudo parte da dimensão social levando em consideração as características subjetivas dos atores, identificando potencialidades ou limitações na perspectiva de um desenvolvimento mais justo e mais harmônico na tentativa de diminuir as incertezas e reduzir as ambiguidades região Corede Noroeste Colonial. O olhar crítico é necessário para reconhecer desigualdades sócio-espaciais e que o desenvolvimento não é justo, nem harmônico. Desta forma, o estudo introduz as noções de milieu (meio), para o entorno e para o espaço, as quais contribuem para a compreensão do contágio e potencial empreendedor, e estes para promoção do desenvolvimento regional. A presente dissertação tem como objetivo principal compreender a dinâmica do desenvolvimento da região Corede Noroeste Colonial a partir da análise do contágio e potencial empreendedores. A pesquisa classifica-se como exploratória e descritiva, com abordagem quanti-qualitativa e orientada pelo paradigma interpretativista. Num primeiro momento foram identificados os atores sociais, aplicado um teste para medir o potencial empreendedor da região Corede Noroeste Colonial e concomitantemente foram realizadas entrevistas com os agentes sociais a fim de levantar as ações que ocorrem na região estudada. O software Excel 2010® serviu para tabular os dados do teste e para gerar o potencial empreendedor da região Corede Noroeste Colonial, cujos dados foram analisados qualitativamente. Os dados das entrevistas foram analisados pela técnica análise de conteúdo.

Constatou-se que há elementos do contágio empreendedor na região Corede Noroeste

Colonial, mas ainda não se pode dizer que este, de fato, ocorre de forma a promover o desenvolvimento. A partir da constatação do potencial empreendedor identificado, das características dos empreendedores e dos conteúdos nos discursos dos agentes locais, é possível pensar o desenvolvimento regional menos desigual pela óptica do empreendedorismo na região Corede Noroeste Colonial.

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ABSTRACT

Theories of development bring an interdisciplinary perspective in order to address different knowledge, why has produced research in different fields of knowledge and generated large, complex, if not abstract and distant concepts of reality. The articulations proposed in this work as intended to qualify on investigations development in theoretical perspective, the regional development to overcome the distancing of studies of the social dimension at the regional level. Entrepreneurship is central element in regional development, but it is not the line of research in the field of regional development, but an eminently sociocultural phenomenon, linked to community needs and impulses and support the environment, overcoming the Schumpeterian vision. To do so, include the variable "entrepreneur contagion" as an element of analysis of the topic by exploring the theoretical foundations of regional development in the social and entrepreneurial dimensions. This study of the social dimension taking into account the subjective characteristics of stakeholders, identifying potential or limitations from the perspective of a more just and harmonious development in an attempt to reduce uncertainty and to reduce the ambiguities of the Corede Noroeste Colonial region . The critical eye is needed to recognize socio- spatial inequalities and that the development is not fair, nor harmonic. Therefore, the study introduces the concepts of milieu (center) for the environment and for space, which contribute to the understanding of contagion and entrepreneurial potential, and these for the promotion of regional development. This thesis aims to understand the dynamics of the development of the region COREDE Northwest Colonial from the analysis of contagion and potential entrepreneurs. The research is classified as exploratory and descriptive with quantitative-qualitative approach and guided by the interpretive paradigm. At first the social actors, applied a test to measure the entrepreneurial potential of the region COREDE Northwest Colonial and concomitantly interviews with social activists were held in order to raise the actions that occur in the study area were identified. Excel 2010® software was used to tabulate the test data and to generate the entrepreneurial potential of the region COREDE Northwest Colonial, whose data were analyzed qualitatively. Interview data were analyzed using content analysis. It was found that there are elements of the entrepreneur contagion in the region COREDE Northwest Colonial, but still can’t say that this indeed occurs in order to promote development. After noting the identified potential entrepreneur, the characteristics of the entrepreneurs and the content in the discourses of the local agents, it is possible to think less uneven regional development from the perspective of entrepreneurship in the region COREDE Northwest Colonial.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Processos sociais de mudança... 28

FIGURA 2 – Esquema analítico para o estudo do desenvolvimento regional... 37

FIGURA 3 – Esquema do desenvolvimento regional mostrando como superar a incerteza e a ambiguidade inerentes a qualquer economia... 41

FIGURA 4 – Mapa dos municípios do Corede Noroeste Colonial... 51

FIGURA 5 – Escala de Likert de dez pontos... 55

FIGURA 6 – Desenho da pesquisa... 59

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Segmento de atuação dos empreendedores... 88

Gráfico 2 – Potencial empreendedor do E65... 91

Gráfico 3 – Potencial empreendedor do E78... 93

Gráfico 4 – Potencial empreendedor do E91... 94

Gráfico 5 – Potencial empreendedor do E98... 95

Gráfico 6 – Potencial empreendedor do E19... 96

Gráfico 7 – Potencial empreendedor por gênero... 98

Gráfico 8 – Comportamento dos onstructos planejamento e persistência, por faixa etária...99

Gráfico 9 – Potencial empreendedor por faixa etária (de 31 até 40 anos)... 100

Gráfico 10 – Potencial empreendedor por faixa etária (de 41 até 50 anos)... 100

Gráfico 11 – Potencial empreendedor dos descendentes alemães e italianos... 101

Gráfico 12 – Potencial empreendedor dos nativos... 103

Gráfico 13 – Número de empreendedores por tipo na região Corede Noroeste Colonial... 104

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – As diferentes abordagens do empreendedorismo... 39 Quadro 2 – Cálculo do potencial empreendedor...57 Quadro 3 – Categorias de análise e questões norteadoras nas entrevistas... 58

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Amplitude da amostra para medir o potencial empreendedor, em 2011... 52 Tabela 2 – Escores do potencial empreendedor, por etnia... 70 Tabela 3 – Escores do potencial empreendedor, por tipo de empreendedor... 105

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 15

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO... 17

1.1 APRESENTAÇÃO E DELIMITAÇÃO DO TEMA... 17

1.2 PROBLEMA... 20 1.3 OBJETIVOS... 24 1.3.1 Objetivo geral... 24 1.3.2 Objetivos específicos... 24 1.4 JUSTIFICATIVA... 24 2 REFERENCIAL TEÓRICO... 26 2.1 DESENVOLVIMENTO... 26 2.1.1 Concepções teóricas... 26 2.1.2 Desenvolvimento regional... 32

2.1.3 Novas possibilidades teóricas... 37

2.2 DESENVOLVIMENTO REGIONAL SOB A ÓTICA DO EMPREENDEDORISMO... 41

2.2.1 Diferentes abordagens teóricas do empreendedorismo... 41

2.2.2 O desenvolvimento regional e a contribuição teórica do empreendedorismo... 45

3 METODOLOGIA... 49

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA... 49

3.2 OBJETO DE ESTUDO... 51

3.3 SUJEITOS DA PESQUISA... 51

3.4 COLETA DE DADOS... 54

3.5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS... 56

4 O DESENVOLVIMENTO NA REGIÃO COREDE NOROESTE COLONIAL... 60

4.1 O CONSELHO REGIONAL DE DESENVOLVIMENTO – COREDE... 60

4.2 A REGIÃO COREDE NOROESTE COLONIAL... 62

4.3 OS DISCURSOS SOBRE DESENVOLVIMENTO NA REGIÃO... 66

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4.5 UMA REFLEXÃO SOBRE O DESENVOLVIMENTO REGIONAL MENOS DESIGUAL... 109 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 112 REFERÊNCIAS... 115 APÊNDICES... 125 ANEXO... 129

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INTRODUÇÃO

Na história da Humanidade é possível identificar os efeitos do desenvolvimento no que tange as pessoas, as organizações, os espaços geográficos, a economia, a política entre outros. A questão do desenvolvimento sempre foi tema que marcou e/ou determinou os contornos da Humanidade (ADORNO, 1995), a exemplo do que ocorreu com a globalização, fenômeno que aprimorou e expandiu as formas de trabalho e os processos de produção de bens de consumo, provocou efeitos positivos e negativos, como o crescimento das diferenças sociais e econômicas entre os mais ricos e os mais pobres. Hoje, a “desigualdade é maior e mais diversa, embora um número mais amplo de pessoas tenha acesso a bens que antes não conheciam, isto porque pobreza e desigualdade não são sinônimos” (NASCIMENTO; VIANNA, 2009, p. 12).

Para compreender o desenvolvimento regional no contexto do século XXI e buscar alternativas mais harmônicas na dimensão social faz-se necessário resgatar um pouco da trajetória do conceito e reduzi-lo ao contexto regional, com a pretensão de obter maior profundidade analítica, razão maior de um estudo científico.

O foco deste trabalho é o desenvolvimento regional menos desigual1, um olhar crítico

na perspectiva social que não nega a necessidade de discuti-lo também pela perspectiva econômica. Há autores, como Arrighi (2007) e Chang (2004), que tentam revitalizar os debates sobre desenvolvimento econômico pela perspectiva econômica desvelando facetas da desigualdade. Chang (2004) afirma que, se os países desenvolvidos tivessem adotado as políticas que recomendam aos países em desenvolvimento, não seriam o que são hoje, ou melhor, estariam “chutando a escada” para que os países em desenvolvimento não conseguissem seguir os mesmos caminhos trilhados por eles para se desenvolver. Afirma também que, não raras vezes, os países desenvolvidos adotaram práticas de exclusão (renda, sexo, cor) e de promoção da desigualdade (compra de votos, fraude eleitoral, corrupção),

1

“A noção de desenvolvimento geográfico desigual é recente. Mas, a de desenvolvimento desigual tem origens um pouco mais remotas. Consta que tenha sido Lênin (1982) quem, pela primeira vez, examinou com maior profundidade um processo – o desenvolvimento do capitalismo na Rússia – da perspectiva de sua desigualdade socioeconômica. No entanto, foi depois da Revolução de 1905 que a noção de desenvolvimento desigual, por intermédio de Leon Trotsky, ganhou um significado mais preciso. Aliás, com Trotsky, ela passou a ser

desenvolvimento desigual e combinado, uma lei que já não dizia respeito apenas à dimensão econômica, mas

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estimulando a reflexão crítica sobre as estratégias de desenvolvimento adotadas (VARELA, 2006), o tipo de democracia praticada e outras questões que estimulam desigualdades sociais. Essa abordagem provoca reflexões sobre como uma região pode construir sua própria “escada”, ou seja, como ela pode definir os passos ou caminhos a adotar para alcançar o desenvolvimento (OLIVIERI, 2005). Para Arrighi (2007, p. 14), uma alternativa seria os governos competirem, “não para fazer concessões cada vez mais extravagantes ao capital, mas para oferecerem educação, saúde e qualidade de vida, de modo a tornar seus cidadãos mais produtivos”. Por conseguinte, ter-se-ia um desenvolvimento mais harmônico (BOISIER, 1999), com menos desigualdades e com mais liberdade (SEN, 2000) e muito mais justo (HARVEY, 1980).

As variáveis da dimensão social do desenvolvimento regional aqui descritas não se encontram presentes na maioria das pesquisas brasileiras sobre o tema, pois maior atenção é dada à dimensão econômica, explicada não raras vezes por volume de investimentos realizados ou de recursos produzidos no interior de uma região. As dinâmicas socioeconômicas não aparecem nesses estudos e produzem imagens equivocadas das regiões descritas, numa aproximação do que Boisier (1999) entendeu ser uma construção mental muito mais do que uma realidade objetiva.

O desafio impresso na presente dissertação de mestrado está em discutir desenvolvimento regional aproximando-o dessa realidade objetiva e fazê-lo de forma que as pessoas, sujeitos ativos e proativos capazes de promover sinergias que reduzem desigualdades

sejam contempladas.Argumenta-se em favor de um novo olhar2 sobre o desenvolvimento na

região Noroeste Colonial do Conselho Regional de Desenvolvimento – Corede pela perspectiva teórica do empreendedorismo, aquele que contempla o potencial empreendedor dos atores sociais, sujeitos do desenvolvimento.

A estrutura do documento final compreende cinco partes seguindo desta introdução. A primeira contextualiza o tema, expõe o problema de pesquisa e os objetivos geral e específicos, bem como a sua justificativa. A segunda parte apresenta o referencial teórico dividido em três subtítulos, os quais são as concepções teóricas sobre o desenvolvimento e o desenvolvimento regional, as novas possibilidades para o desenvolvimento regional pelo

2Allebrandt et al. (2011) abordam a prática da gestão social nos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes), experiência vivenciada no Rio Grande do Sul ao longo dos últimos vinte anos. Bandeira (2010) investiga a instiucionalização associada à implementação dos Coredes regionais do RS. Barbieri et al. (2003) utilizaram o índice social municipal ampliado (Isma) dos municípios e Coredes chegando a conclusão, através dos indicadores socioeconômicos ecolhidos, que existem grandes desigualdades entre as regiões Coredes. Valandro, Silveira e Dimpério (2009) descrevem e analisam as propostas do Corede em termos de políticas, projetos e ações. Trennepohl e Macagnan (2008) estudaram o impacto ambiental no desenvolvimento a região Noroeste Colonial e qual foi a atuação do Corede na constituição do espaço da sociedade que o organiza e dirige.

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olhar de Boisier (1996; 1997; 1999; 2003), Harvey (1980; 2003; 2005) e Julien (2010). A terceira parte apresenta o percurso metodológico adotado neste estudo e a quarta parte apresenta a região Corede Noroeste Colonial, os discursos sobre desenvolvimento produzidos no seu interior e o potencial empreendedor de alguns atores sociais, os empreendedores locais. A quinta parte apresenta as conclusões do estudo, aponta suas limitações e indica elementos para estudos futuros.

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

Este capítulo da Dissertação apresenta a delimitação da temática e sua problematização, bem como os objetivos e as razões teóricas e práticas que justificam a realização da investigação.

1.1 APRESENTAÇÃO E DELIMITAÇÃO DO TEMA

Nos estudos científicos sobre desenvolvimento observa-se o interesse cada vez maior de diferentes áreas do conhecimento sobre o tema, pulverizando conceitos e constructos, aprofundando os debates de algumas dimensões, em especial as econômica, política e ambiental. A dimensão social do desenvolvimento entrou no debate apenas em 1970 e pouco avançou nas práticas e nas políticas públicas de forma a desvelar as imbricadas relações do desenvolvimento econômico com o desenvolvimento social, político e institucional (OLIVIERI, 2005), após tentativas de muitos teóricos em promover o debate em torno de um

desenvolvimento mais justo e igual pelo critério “social” de sustentabilidade.3 O enfoque no

papel das pessoas no processo de um desenvolvimento mais justo, igual e sustentável, no entanto, é ainda pouco explorado.

O presente estudo propõe contribuir com o debate sobre o desenvolvimento regional com a inserção da dimensão relacional entre atores sociais e organizações utilizando-se do conceito “contágio empreendedor” descrito por Julien (2010). É uma outra perspectiva analítica para reconciliar o econômico com o social. Contágio empreendedor é um

3

O critério social no debate internacional sobre o desenvolvimento sustentável contempla as seguintes dimensões: alcance de um patamar razoável de homogeneidade social; distribuição de renda justa; emprego pleno e/ou autonômo com qualidade de vida decente; igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais. O tema surgiu pela primeira vez no seminário internacional de Tóquio sobre os Desafios das Ciências Sociais em Face do Meio Ambiente, nos preparativos da Conferência de Estocolmo, ocorrida em 1972, e foi apresentado por Ignacy Sachs (STROH, 2008).

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constructo que compreende ações coletivas e vinculadas à dinâmica do contexto para o desenvolvimento de uma massa empresarial crítica capaz de sustentar redes informacionais ricas e de dinamizar o capital social de forma a promover sinergias que evitam desigualdades sócioespaciais num dado espaço temporal (BOISIER, 1999; LINS, 2007; THEIS, 2009; JULIEN 2010; FAÉ; FLORES, 2012; TEIXEIRA; GRZYBOVSKI, 2012). Para tanto, contemplam-se as especificidades dos atores sociais e as questões cognitivas, ambas apontadas por Santiago e Carvalho (2008) como emergentes no debate sobre desenvolvimento regional. Objetiva-se assim, subsidiar reflexões que permitam pensar e acionar planos para cada região a fim de promover um desenvolvimento mais igualitário.

Como mencionado anteriormente, a Humanidade apresenta-se e desenvolve-se numa perspectiva histórica, e a questão do desenvolvimento sempre foi tema que marcou e/ou determinou essa dimensão (ADORNO, 1995). Basta observar, por exemplo, a evolução das

relações de trabalho4. “Ao mesmo tempo, a sociedade burguesa também desenvolveu, em seu

processo, o indivíduo” (HORKHEIMER; ADORNO, 1985, p. 145). Assim, a partir da análise da história da Humanidade, é possível identificar aspectos que indicam os efeitos do desenvolvimento nas dimensões pessoas, organizações, espaços geográficos, economia e

política. A respeito disso, é importante evidenciar que a noção de progresso5 faz-se presente

como tentativa de justificar qualquer desenvolvimento: “O bem que impera no mundo não é o suficiente para que, a partir dele, possa enunciar-se um juízo predicativo do progresso, mas

nenhum bem, nem vestígio dele, existe sem o progresso”(ADORNO, 1995, p. 43).

No contexto atual, desenvolvimento associa-se à globalização, processo econômico que aprimorou e expandiu as formas de trabalho e os processos de produção de bens de consumo e provocou efeitos positivos e negativos no desenvolvimento (ADORNO, 1995; CHANG, 2004). Um dos efeitos positivos é o inegável acesso (fácil e rápido) às informações

4 As relações de trabalho podem ser pensadas a partir das primeiras civilizações, conforme os homens das cavernas iam aprimorando suas técnicas de trabalho. “O homem conheceu os primeiros progressos técnicos: à talha da pedra acrescenta a da madeira, trança cestos de ramos, afina dardos – suas ferramentas de pedra têm, nas necessidades que o homem lhes cria, um lugar cada vez maior pela melhoria das condições de vida e pelo crecente rendimento de seu trabalho” (RIBARD, 1964, p. 9).

5 “Progresso significa sair do encantamento – também o do progresso, ele mesmo natureza – à medida que a humanidade toma consciência de sua própria naturalidade, e pôr fim à dominação que exerce sobre a natureza e, através da qual, a da natureza se prolonga. Neste sentido, poder-se-ia dizer que o progresso acontece ali onde ele termina” (ADORNO, 1995, p. 47). A discussão sobre progresso de Horkheimer e Adorno (1985, p. 19) aponta para compreendê-lo a partir do “dissolver os mitos e subtituir a imaginação pelo saber”, pois “os homens sempre tiveram de escolher entre submeter-se à natureza ou submeter a natureza ao seu eu” (p. 43). Sendo assim, “poder e conhecimento são sinônimos” (p. 20) e faz com que “o despertar do sujeito tem por preço o reconhecimento do poder como princípio de todas as relações” (p. 24). Adorno (1995, p. 53) destaca que “os conceitos de progresso apresentam pontos comuns, não só no afastamento da desgraça derradeira, mas também em toda tentativa de mitigar o sofrimento que ainda persiste”. Ademais, o mesmo destaca que se possa distinguir “progresso do que, para que, em relação a que” (p. 37).

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e, por conseguinte, às modernas tecnologias para a geração, o monitoramento e a transmissão de dados e a disseminação de informações. Opostamente, observa-se o crescimento das diferenças sociais e econômicas entre mais ricos e mais pobres, provocando questionamentos sobre a participação das pessoas no processo de desenvolvimento e na melhoria de suas vidas (SEN, 2010). Os estudos de Sen (2000), Kliksberg (2004), Sen e Kliksberg (2010, p. 18) e outros vêm ao encontro destas questões. Estes últimos autores afirmam que “as inter-relações globais têm sido, com frequência, muito produtivas no desenvolvimento de vários países”. Da mesma forma, nos estudos de Laville (2009, p. 169) encontra-se o questionamento sobre a “nossa contribuição à melhoria da vida no planeta”, enquanto Bauman (2005, p. 77) faz um desabafo que vem ao encontro da reflexão de Laville (2009). Nas suas palavras:

os equipamentos eletrônicos, não muito tempo atrás alinhados entre os bens mais valiosos e duráveis, são agora eminentemente descartáveis e feitos para virar lixo – e rapidamente. As empresas de marketing aceleram seu trajeto rumo à obsolescência “tornando os produtos permanentemente defasados ou criando a impressão de que, se não se mantiver em dia, você é que será defasado”.

Desta maneira, a questão do desenvolvimento contemplando as características empreendedoras das pessoas para superar tais dificuldades apresenta-se como uma oportunidade de estudo. Elaborar estratégias de superação da dicotomia pessoa e progresso em prol dos menos favorecidos faz-se necessário para um desenvolvimento mais “harmônico e solidário” (BOISIER, 1999, p. 330) e mais justo, o que Harvey (1980) articula a partir do

conceito de justiça social territorial.6

Para pensar o desenvolvimento a partir do conceito de justiça social territorial é preciso considerar o que articula a sociedade que se quer, definindo um estado a ser atingido e questionando por qual(is) via(s) se chegará ao modelo proposto, seja ela do poder político, econômico, social ou outra. Pela dimensão cognitiva, investiga-se a natureza do processo de desenvolvimento e questiona-se como estudá-lo, como fazer da ciência um instrumento para a sua promoção e quais são as ferramentas necessárias para sua realização (ciência, tecnologia, criatividade, capacidades técnicas, associativismo, potencial empreendedor, democracia

participativa, parceria entre os agentes locais).7

6 Por justiça social territorial, Harvey (1980) entende que a distribuição de renda e os mecanismos para tanto deveriam ser plenos. Nas suas palavras: “1) A distribuição de renda deveria ser tal que (a) as necessidades da população dentro de cada território fossem localizadas, (b) os recursos fossem então alocados para maximizar os efeitos multiplicadores inter-territoriais, e (c) os recursos extras fossem alocados para ajudar a resolver as dificuldades específicas emergentes do meio físico e social. 2) Os mecanismos institucional, organizacional, político e econômico deveriam ser tais que as perspectivas do território menos favorecido fossem tão grandes quanto possível pudessem ser” (HARVEY, 1980, p. 99).

7 Para Jara (1996), o desenvolvimento local pode ser induzido pela mobilização do potencial endógeno, ao se fortalecer algumas compotências, dentre os quais figura o potencial empreendedor.

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Dentre essas possibilidades, opta-se pelo potencial empreendedor como ferramenta que pode contribuir para a promoção do desenvolvimento regional menos desigual e, por conseguinte, com justiça social, de forma a contemplar e explorar o potencial criativo das pessoas que constroem o meio. Entende-se “meio” pela origem da palavra francesa milieu, traduzida para o português como sendo um “ambiente de residência e atuação” do empreendedor (JULIEN, 2010, p. 5) em uso para designar empreendedorismo na concepção regional.

Estudar o empreendedorismo regional é algo bastante complexo, uma vez que se faz necessário compreender a dinâmica interna da região, devido as suas especificidades, e a forma como as inovações acontecem nesse território, mas sem restringir-se à visão clássica schumpeteriana (SCHUMPETER, 1988), que aponta o empreendedorismo como capacidade da pessoa em visualizar, analisar e administrar um novo produto/nicho de mercado. É preciso avançar nos estudos e reconhecer a importância do meio para o desenvolvimento, sua dinânica interna e as ações dos empreendedores neste meio (JULIEN, 2010).

Na presente dissertação, a ênfase do estudo recai nas ações dos agentes (econômicos e

sociais)8 neste meio. Identificar as competências, o perfil, o discurso dos agentes locais

requeridas numa proposta de desenvolvimento, torna-se necessário para pensar ou dar suporte para elaborar ou reorganizar os planejamentos estratégicos das regiões. O pressuposto teórico impresso na presente proposta é de que, para promover melhorias (progresso) no cenário econômico e social de uma determinada região, bem como criar condições para que ela se desenvolva plenamente (perspectiva teórica de desenvolvimento com justiça social), é marcante analisar o desenvolvimento de uma região pela ótica do empreendedorismo, especificamente o potencial empreendedor das pessoas no meio.

1.2 PROBLEMA

A abordagem teórica do desenvolvimento na perspectiva interdisciplinar, que contemple os diferentes saberes é possível considerando os dados já existentes (indicadores econômicos e sociais, análises políticas, dados ambientais, etc.) e índices (IDH, IDE, IDS,

8

De acordo com Braga (2002, p. 34), os agentes locais podem ser divididos em econômicos e sociais. Os agentes econômicos locais são entendidos como um agrupamento de pessoas com interesses comuns cujas atividades econômicas estão condicionadas pelas ações de regulação e provicao de condições gerais de produção no âmbito local. Os agentes sociais locais são entendidos como um agrupamento de instituições e/ou grupos sociais com interesses comuns cujas atividades de reprodução estão condicionadas pelas ações de regulamentação e provisão de bens comuns no âmbito local.

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outros), mas incluindo também a percepção, o perfil e os discursos dos empreendedores sobre desenvolvimento. O cruzamento das áreas do conhecimento com algum desses índices favorece o fornecimento de informações com vistas à melhoria das situações a serem estudas e para a construção de estratégias de desenvolvimento que contempla o sujeito do desenvolvimento, o empreendedor. Ademais, ocorre a obtenção de maiores informações sobre como ocorrem as ações empreendedoras no espaço regional, gerando mais um indicador, o potencial empreendedor. Isso possibilita vislumbrar a complexidade presente na questão do desenvolvimento regional devido aos seus múltiplos entendimentos.

Para compreender e articular as questões do desenvolvimento regional menos desigual é necessário se ter uma visão holística, uma vez que um aspecto da realidade a ser estuda interfere de forma direta ou indireta em outra. Afirma-se que a ação das pessoas, tratada por Filion (1999a) como “ação empreendedora”, pode ser responsável por gerar um tipo específico de desenvolvimento, pois cria uma dinâmica de questionar o que foi feito, considera alternativas consistentes para (re)definir a visão central e as visões complementares, bem como provoca contágios ou “cumplicidades territoriais”, como afirma Julien (2010).

Partindo de um breve estudo do “estado da arte” sobre o tema desenvolvimento e ao usar como palavras chave de investigação “desenvolvimento” e “pessoas”, constata-se que, no Brasil, as principais produções científicas sobre o tema exploram dados a partir de municípios, regiões, faixa etária da população, setores da economia ou relativos às organizações de saúde. Destaca-se assim, o papel do sujeito, explorado na dimensão espacial, contemplando espaço e tempo como dinâmicos no processo analítico do desenvolvimento, um dos focos do estudo que ora se apresenta. Busca-se, portanto, apreender processos de construção conjunta e mútuas transformações dos sujeitos em espaços marcados como “região”, abarcando interações, contextos, papéis atribuídos e assumidos pelos atores sociais e questões cognitivas. Estudos sobre desenvolvimento regional que contemplam essas dimensões analíticas revelaram as regiões como “inteligentes” e “reflexivas” (SANTIAGO; CARVALHO, 2008), numa proposta que pode contribuir para a promoção de um desenvolvimento regional com justiça social por contemplar as pessoas no sentido pleno de progresso.

Assim, em virtude de o tema “desenvolvimento regional” possibilitar um estudo por diferentes dimensões (políticas, econômicas, sociais, ambiental, entre outras), torna-se possível também identificar os fatores que possibilitam uma região apresentar indicadores de desenvolvimento mais elevados que outras pela óptica do empreendedorismo. É um novo olhar!

(23)

Nesta dissertação, há interesse particular da pesquisadora, com formação em Psicologia, em enfatizar as pessoas como elemento do desenvolvimento, na busca de estratégias mais adequadas para cada situação com vistas a proporcionar a construção de um mundo mais justo e menos desigual. Delimita-se, assim, o problema para uma concepção teórica de desenvolvimento com justiça social e de uma visão da região pela perspectiva do empreendedorismo. Desta forma, pessoas e empreendedorismo passam a ser considerados dois elementos centrais de análise do desenvolvimento regional.

Em pesquisas orientadas pela visão schumpeteriana do empreendedorismo (CAMARGO; CUNHA; BULGACOV, 2008; DALMORO, 2008; SILVA; GOMES; CORREIA, 2009), tal desenvolvimento aparece diretamente vinculado ao papel do “agente transformador” - o empreendedor (DOLABELA, 1999, 2008) o qual seria o responsável pela operação de (re)arranjos dos fatores produtivos, sem considerar que suas ações pudessem provocar “contágio” (JULIEN, 2010) à outros empreendedores; é uma visão essencialmente do desenvolvimento econômico provocado pelo número de inovações geradas. Alternativamente, o desenvolvimento poderia ocorrer pela “destruição criativa” (SCHUMPETER, 1957; 1988), isto é, pelo desequilíbrio na estrutura de mercado, compensada pelas melhores taxas de lucro em razão da inexistência de concorrência, mas que acaba sendo destruída quando novos empreendedores concorrentes surgem.

No entanto, alertam Furtado (2000) e Julien (2010), a visão coletivista e a abordagem construtivista devem preponderar no debate em torno do desenvolvimento e na perspectiva regional, pois se apresentam como fenômenos complexos, coletivos e incluem atores independentes usando sinergia de espaço, a atmosfera industrial e a cultura empresarial descritas por Marshall (1920), fundamentos teóricos presentes no discurso de Pierre-André Julien (FILION et al., 2010) para descrever um desenvolvimento travestido de empreendedorismo regional pelo contágio empreendedor (JULIEN, 2010).

Com tais fundamentos, entende-se que a existência de redes locais de empreendedores contribui sobremaneira para gerar vantagem competitiva e/ou riqueza em uma dada região, pois o ambiente é de mudança e o mercado é global. Isso reforça o pensamento de Julien (2010) sobre a necessidade de que na região ocorra “contágio empreendedor”.

Indiretamente essa concepção de desenvolvimento pela perspectiva empreendedora está impressa também em Schumpeter (1957) e outros estudiosos sobre o tema. De acordo com a teoria elaborada por Schumpeter (1957), o desenvolvimento econômico é resultado de mudanças espontâneas ou descontínuas, que podem ocorrer na estrutura produtiva existente

(24)

ou decorrente de ambiente favorável à ação do empreendedor e, por conseguinte, do nível de empreendedorismo local (DOLABELA, 1999).

Boisier (1999), no entanto, mantém sua crítica à forma como o desenvolvimento regional tem sido discutido. Ele defende que seria adequado desenvolver estudos para identificar modelos mais reais e específicos de desenvolvimento regional, que possam superar o positivismo e que, nas palavras do autor,

são os fatos, escassos exemplos de regionalizações de natureza constitucional (com não raras dúvidas acerca de sua funcionalidade contemporânea), processos de descentralização que ora avançam ora retrocedem, e desenvolvimento territorial extremamente incerto, que reflete nossa incapacidade coletiva para transferir, por meio de um adequado manejo do território, os benefícios do desenvolvimento a partir da matriz abstrata da macroeconomia à matriz concreta das pessoas de carne e osso (BOISIER, 1999, p. 317-318).

A dimensão “coletiva” apontada por Boisier (1999) para descrever a incapacidade de transferência dos benefícios do desenvolvimento às pessoas “de carne e osso” instiga a analisar o discurso sobre desenvolvimento na região Corede Noroeste Colonial, a medir o potencial empreendedor dos empreendedores locais e a discutir a capacidade de ambos, sujeitos do desenvolvimento da região, a promoverem o contágio descrito por Julien (2010).

Para Julien (2010), o empreendedorismo regional se baseia em ato coletivo e não mais em ato isolado, como propunha a visão schumpeteriana de empreendedorismo. Dessa forma, afirma Julien (2010), o desenvolvimento regional pode ser gerado a partir do “contágio empreendedor”, promovido por meio de redes inteligentes, capital social e circulação de informações e conhecimentos, os quais desempenham papel preponderante na geração de inovações e na promoção do desenvolvimento. Fazer a informação circular num dado espaço é um modo de reduzir as incertezas e as ambiguidades entre os atores sociais e a fomentar a inovação, fator muitas vezes decisivo para uma região tornar-se aprendiz. Isso em razão de que a dinâmica das organizações em uma dada região é resultado do ambiente que as cerca (milieu), da cultura do empresário, de sua família e da sociedade da qual o empreendimento faz parte.

Partindo desta reflexão, nesta dissertação propõe-se a investigar: o que é necessário

para que uma região promova9 o contágio empreendedor com vistas ao desenvolvimento

regional menos desigual?

9

O verbo promover refere-se a “dar impulso” ou “causar; originar” (CUNHA, 2010, p. 525), uma vez que o campo a ser explorado pode tanto necessitar impulsionar o empreendedorismo como originar e causar estímulos para as ações empreendedoras.

(25)

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Compreender a dinâmica do desenvolvimento da região Corede Noroeste Colonial pela ótica do empreendedorismo.

1.3.2 Objetivos Específicos

a) Descrever a região Corede Noroeste Colonial;

b) Identificar os atores da região selecionada e categorizá-los por tipo de empreendedor com base nas variáveis subjetivas (imaginação, espírito de iniciativa, capacidade para formação de redes e inovação) propostas por Julien (2010);

c) Mapear as ações empreendedoras promovidas pelos atores da região; d) Medir o potencial empreendedor dos empreendedores na região;

e) Identificar e descrever as ações para promover o contágio empreendedor na região.

1.4 JUSTIFICATIVA

O processo de escolha do tema “empreendedorismo” para o estudo do desenvolvimento regional partiu da crítica formulada por Boisier (1999) de que são as pessoas que formulam as estratégias de desenvolvimento e sofrem as ações, mas têm sido excluídas no processo de transferência dos benefícios do desenvolvimento. Pessoas são sujeitos de razão e dotadas de competências necessárias ao desenvolvimento pessoal e coletivo como organização e sociedade. Já o desenvolvimento deve ser visto como um processo em contínua evolução e que se adapta conforme as situações e os estímulos, assim como os sujeitos. Desta forma, os sujeitos podem ser vistos como agentes ativos ou passivos no processo de desenvolvimento.

O estudo se justifica pela importância de definir, primeiramente, qual a estratégia a ser adotada para o desenvolvimento regional que se quer, uma vez que pode ter como norte duas premissas: reconstrução dos territórios que possam gerar novos empreendimentos, oportunizando mais lucros ou agregação de valores às atividades que já existem, não com a finalidade de acumular lucros, mas de garantir a sobrevivência digna e sadia da população (DALLABRIDA, 2000). Desta forma, volta-se para a questão-problema da dissertação, mas

(26)

refletindo primeiramente para que ou para quem desenvolver a região. Ainda, onde se pretende chegar e quais serão as estratégias e ferramentas necessárias para o desenvolvimento, uma vez que o conceito de desenvolvimento apresenta significados diferentes para diferentes segmentos da sociedade.

Responder à questão-problema que esta pesquisa se propõe a investigar promove reflexão crítica sobre a participação ou não das pessoas na proposta de desenvolvimento na região Corede Noroeste Colonial. Os conceitos que embasam o tema trazem as pessoas como capital humano e também como ponto fundante da formação da autora deste estudo como psicóloga. Capital humano é entendido como “parte do homem e por isso é um fator de produção de propriedade intransferível, sendo humano por estar configurado no homem e capital por ser uma fonte de satisfação futura ou por vislumbrar futuros rendimentos” (HAIHER, 2012, p. 106). Agrega-se a esta concepção de Fitz-Enz (2001, p. 4), de que “somente as pessoas geram valor por meio da aplicação de suas características humanas intrínsecas, da motivação, das habilidades adquiridas e da manipulação de ferramentas. Mesmo a expressão capital humano remeter o pensamento à questão econômica, ou seja, ao ser humano como uma fonte de renda, enfoca-se na presente dissertação o sujeito, a “pessoa de carne e osso” (BOISIER, 1999), aquela que recebe educação e treinamento, que produz conhecimento, que tende a não só elevar a produtividade como trazer melhores oportunidades e retornos individuais (SCHULTZ, 1965). A isto soma-se a questão da necessidade de aprofundar o debate sobre o desenvolvimento regional, um dos temas do curso de Mestrado em Desenvolvimento, na perspectiva do empreendedorismo, contemplado na linha de pesquisa Gestão Empresarial.

Aliar o conhecimento sobre pessoas ao tema desenvolvimento regional pode viabilizar novos aspectos que poderão ser utilizados nas práticas de quem busca melhorar ou estudar regiões. Essa aliança temática entre os principais conceitos do estudo poderá disponibilizar dados sobre os atores sociais da região e promover um novo olhar sobre a questão do desenvolvimento.

A partir das razões expostas, justifica-se também este estudo pela oportunidade de aproximar os pressupostos teóricos relacionados ao tema da pesquisa aos resultados das ações previstas no planejamento estratégico da região Corede Noroeste Colonial.

(27)

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo apresenta as discussões teóricas que dão suporte aos objetivos deste estudo. Inicialmente, se apresentam as concepções teóricas sobre desenvolvimento e desenvolvimento regional e novas possibilidades de estudos. Num segundo momento apresenta-se o tema empreendedorismo para, ao final propor um novo olhar sobre o desenvolvimento regional menos desigual.

2.1 DESENVOLVIMENTO

Pela complexidade que envolve o termo “desenvolvimento” e a área temática do estudo, a seguir apresentam-se as concepções teóricas sobre desenvolvimento e os contornos que o envolvem.

2.1.1 Concepções teóricas

O termo “desenvolvimento” apresenta diferentes dimensões analíticas, pois pode ser considerado processo, estágio ou objetivo, cujos fundamentos clássicos estão na Grécia Antiga, na República e Império Romanos e na Igreja da Idade Média (SIEDENBERG, 2012). Hoje, encontra-se numa fase de transição da concepção de crescimento econômico para a concepção de processo pautado pela inter(subjetividade) humana, na animação e na sinergia para gerar inovação muito mais do que conquistas materiais (BOISIER, 1996; 2006). Os conteúdos presentes nas diferentes correntes teóricas também permitem diversas abordagens

temáticas, como desenvolvimento econômico (BRESSER-PEREIRA, 1992),

desenvolvimento social (ALVES, 1997), desenvolvimento como liberdade (SEN, 2000),

desenvolvimento local endógeno10 (BARQUERO, 2001) e desenvolvimento sustentável. Este

foi apresentado em 1970 por Ignacy Sachs (STROH, 2008) e ainda está em construção.

10

Importantes “notas críticas ao ‘desenvolvimento local endógeno’” encontram-se nos escritos de Tania Moreira Braga, a qual aponta os limites e as potencialidades das políticas de desenvolvimento local com inclusão social e solidariedade (BRAGA, 2002).

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No decorrer da História (Antiguidade à Idade Moderna), o conceito de desenvolvimento mostra-se fortemente atrelado à Antropologia e à Teologia, mas as abordagens contemporâneas (SIEDENBERG, 2012) revelam maior proximidade com as ciências sociais aplicadas e provocando reflexões críticas a partir da polaridade competividade e cidadania (BRAGA, 2002).

Destaca Latouche (1994) que, no processo de ocidentalização surgiu a necessidade de um ajustamento dos conceitos de desenvolvimento até então conhecidos, com a finalidade de se obter modelooiuy, mns para o mundo ocidental. Então, na década de 1950, o conceito de desenvolvimento consolidou-se a partir de sua aplicação em estratégias e políticas de desenvolvimento (BRESSER-PEREIRA, 1992) e posteriormente houve a integração de outras áreas do conhecimento, as quais contribuíram para o surgimento de novas posições teóricas sobre desenvolvimento. Concomitantemente, “o desenvolvimento da humanidade pode ser constatado de forma incontestável nos inúmeros e enormes avanços sociais, econômicos e políticos e técnicos que diferenciam as sociedades primitivas das pós-modernas” (SIEDENBERG, 2004, p. 13). Contudo, no século XXI “o local vem sendo alçado à principal escala para a busca de convergência entre os objetivos econômicos e aqueles relativos à cidadania” (BRAGA, 2002, p. 23), aproximando o processo decisório sobre o desenvolvimento dos cidadãos, num contexto onde justiça social e qualidade de vida estão se sobrepondo aos objetivos econômicos e numa concepção de desenvolvimento baseada numa lógica que prioriza a inclusão social, a solidariedade e a construção de laços sociais, bem como tem o empreendedorismo como uma ferramenta de fomento à emergência de novos negócios locais e responsáveis por um dos pilares em prol de um novo desenvolvimento.

Segundo Sachs (2000), em 1949, ao tomar posse dos Estados Unidos da América, o então Presidente Truman utilizou em seu discurso a palavra subdesenvolvido, a qual passou a ser usada para diferenciar os mais ricos e mais pobres e transformou-se em símbolo da hegemonia norte-americana da época. Contudo, foi Wilfred Benson quem usou a expressão “áreas subdesenvolvidas” pela primeira vez ao escrever suas bases econômicas para a paz, ainda em 1942. Rosenstein-Rodan, em 1944, também falava em áreas economicamente atrasadas e Arthur Lewis, neste mesmo ano, referiu-se à distância que existia entre países pobres e ricos. Nyerere, por sua vez, articulou o desenvolvimento a partir de uma mobilização política do povo para atingir seus objetivos. Já Rodolfo propôs olhar para a cultura a fim de que o desenvolvimento ocorresse. Ademais, Jimoh Omo–Fadaka sugere que o desenvolvimento comece de cima para baixo e Orlando Fals–Borda e Anisur Rahman defendem que o desenvolvimento deve ser participativo, sem esquecer as restrições impostas

(29)

em nome do desenvolvimento. Jun Nishikawa então expressa que todos esforços e perspectivas sobre desenvolvimento tornam-se contra produtivos, uma vez que a palavra desenvolvimento não permite restrições nem advertências.

Após a Segunda Guerra Mundial, questões como classe social, divisão do trabalho, mais valia, meios de produção, capital, lucro, mercados, presentes na obra de Smith (1999) e na ordem econômica daquela época, passam a ser utilizadas para a compreensão do desenvolvimento também no contexto atual. Contudo, somente na década de 70, pensou-se desenvolvimento a partir do aspecto humano (BRUNDLAND, 1991), corrente do pensamento ainda pouco explorada, na atualidade e que deu origem a presente dissertação de mestrado. Entende-se que o estágio atual dos estudo sobre desenvolvimento requerem um olhar mais específico para este enfoque (aspecto humano) e para os diferentes significados que a palavra desenvolvimento pode adquirir dentro dos mais variados contextos.

Originalmente o termo desenvolvimento surgiu na biologia, sustentado por outros termos, como crescimento e evolução, os quais são distintos entre si, pois indicam mudança de ordem quantitativa ou qualitativa. As mudanças dizem respeito tanto a questões individuais como coletivas e se diferenciam pela forma como se processa a mudança (SIEDENBERG, 2004). A observação dessas diferenças propicia, assim, maior clareza conceitual.

Na Figura 1 tem-se a representação gráfica dos processos sociais de mudança, elaborada por Siedenberg (2004), a qual explica o conceito de desenvolvimento num contexto epistêmico-sistemático e revela o desdobramento dos conceitos de crescimento, desenvolvimento e evolução. Nela é possível visualizar os processos socais das mudanças por meio dos vieses quantitativo e qualitativo. Partindo das alterações e não do aumento das qualidades no que concerne ao indivíduo e à população, pode-se vislumbrar a questão do desenvolvimento que necessita de aferição e adaptação para que ocorra o processo. Seguindo essas etapas, ocorrem transformações, as quais passam por um período de transição que acabam por se desdobrar em capacitação, o que gera melhorias (SIEDENBERG, 2004), ou seja, uma capacitação do indivíduo para que fique “melhor que antes”.

Assim, desenvolvimento é:

conseqüência natural da aplicação de um mecanismo de assimilação e adaptação de habilidades individuais e pré-existentes às necessidades postas; uma espécie de upgrade de habilidades. Normalmente estas mudanças individuais ocorrem em etapas diferenciadas de transições, de acordo com fases típicas de cada espécie [...] e correspondem a um desdobramento de habilidades no sentido de o indivíduo conseguir fazer frente às situações adversar de cada fase. [...] o mecanismo de assimilação e adaptação também se aplica às experiências abstratas vividas pelo indivíduo (SIEDENBERG, 2004, p. 20).

(30)

Schultz (1965), nos seus estudos sobre a agricultura, de certa forma, foi uns dos primeiros estudiosos que identificou a importância do investimento em pessoas no projeto de desenvolvimento, quando escreve: “é necessário investir no pessoal do campo” (p. 197), ainda que, para aquela época os investimentos em pessoas fossem muito onerosos. Ademais, o autor acreditava que a instrução para as pessoas traria pequena contribuição e na melhor hipótese, ajudaria na questão da alfabetização. Porém, estas mudanças travavam nas questões políticas.

Figura 1 – Processos sociais de mudança.

Fonte: Siedenberg (2004, p. 19).

Por pensar na cultura do campo, Schultz (1965) acreditava que a instrução para as pessoas traria pequena contribuição e, na melhor hipótese, ajudaria na questão da alfabetização. Esse pensamento é revisto por Furtado (1996), apesar de sua implementação restringir-se ao campo das ideias em razão de questões políticas. Na interpretação de Veiga (2006):

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O mais importante é que a idéia de desenvolvimento está no cerne da visão de mundo que prevalece em cada época. Nela se funda o processo de invenção cultural que permite ver o homem como um agente transformador do mundo, disse Furtado um quarto de século depois, na apresentação da terceira edição revista de um de suas obras primas: Introdução ao desenvolvimento (p. 30).

O processo de invenção social descrito por Veiga (2006) implica a compreensão dos processos sociais de mudança vinculados ao desenvolvimento regional, que envolvem conhecer tamanho (quantidade) e características (qualidade), assim como provoca processos igualmente distintos, sejam de crescimento, desenvolvimento ou evolução de uma região. As mudanças, por exemplo, podem ser de ordem quantitativa ou qualitativa. Além disso, elas dizem respeito tanto às questões individuais como coletivas e se diferenciam pela forma (SIEDENBERG, 2004). A observação dessas diferenças propicia maior clareza conceitual.

Furtado (1996) questiona se é possível admitir um modelo que projeta a economia mundial baseado somente na observação do comportamento histórico das atuais economias industrializadas e com suas estruturas, uma vez que essa visão ignora a especificidade do fenômeno subdesenvolvimento, descrito por Cardoso e Faletto (2004) como uma relação entre sociedades “periféricas” e “centrais”. Conseguir identificar a natureza do subdesenvolvimento não é algo fácil, afirma Furtado (1996), uma vez que muitas são as suas dimensões e as visíveis nem sempre são significativas. Para o mesmo autor, o subdesenvolvimento nada tem a ver com o tempo de existência de uma sociedade, mas o estilo de vida moderno é medido pelo “grau de acumulação de capital aplicado aos processos produtivos e o grau de acesso ao arsenal de bens finais que caracterizam o que se convencionou chamar de estilo de vida moderno” (p. 17).

A crescente hegemonia das grandes empresas tende para a acumulação e, por conseguinte, a homogeneização dos padrões de consumo nas economias industrializadas. Já nas economias periféricas, há um distanciamento das formas de vida de uma minoria privilegiada em detrimento da maioria da população. Desta maneira, alguns fatores serão decisivos, em prejuízo de outros, para a determinação da taxa de crescimento demográfico, como por exemplo, o acesso às terras produtivas para aqueles países que têm como subsistência a agricultura (FURTADO, 1996).

Ademais, o mesmo autor defende que o crescimento depende menos da introdução de novos produtos e mais da distribuição do uso de produtos conhecidos. Desta forma, a concentração de renda em países de mais alto nível de consumo, faz aumentar a pressão sobre os recursos não reprodutíveis. É relevante observar que as desigualdades do desenvolvimento de países periféricos acentuam-se mais dentro deles mesmos do que se comparadas aos países melhores posicionados economicamente. Se a maioria da população dos países periféricos

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tivesse que viver a partir dos parâmetros dos países desenvolvidos, não sobreviveria, pois suas rendas não seriam suficientes para os elevados padrões de consumo. Os excluídos do sistema se constituem assim como um grande entrave para a evolução do sistema.

Furtado (1996) explica que:

Quaisquer que sejam as novas relações que se constituem entre os Estados dos países periféricos e as grandes empresas, a nova orientação do desenvolvimento teria de ser num sentindo muito mais igualitário, favorecendo as formas coletivas de consumo e reduzindo o desperdício provocado pela extrema diversidade dos atuais padrões de consumo privados dos grupos privilegiados (FURTADO, 1996, p. 87).

Cabe observar que a globalização acaba por refletir na produção, direta ou indiretamente, do que é efêmero e volátil. Isto gera tentação para o consumo. O que se pensa então é: o homem trabalha para viver ou este trabalho apenas lhe proporciona o necessário para consumir? A sedução é uma poderosa arma para este novo momento porque a sociedade se modifica e as prioridades mudam. Nesta perspectiva: “os consumidores são primeiro, e acima de tudo, acumuladores de sensações, são colecionadores de coisas apenas num sentido secundário e derivativo” (BAUMAN, 1999, p. 91).

Sen (2010) também aponta a enorme assimetria que existe entre as potencialidades do planeta e a vida dos seres humanos. Boa parte da população, ainda é marcada pela pobreza e pela privação. Dessa forma, não é justo pensar que algumas pessoas apenas possam obter grandes benefícios com a globalização, enquanto o restante fica à margem da sociedade. Para o autor, todos devem ter acesso à prosperidade, seja ela social, econômica ou ecológica, porém, uma não exclui outra e sim, deveriam complementar-se.

Complementando a ideia, Harvey (2003, p. 218) afirma que:

as práticas temporais e espaciais nunca são neutras nos assuntos sociais; elas sempre exprimem algum tipo de conteúdo de classe ou outro conteúdo social, sendo muitas vezes o foco de uma intensa luta social. Isso se torna duplamente óbvio quando consideramos os modos pelos quais o espaço e o tempo se vinculam com o dinheiro e a maneira como esse vínculo se organiza de modo ainda mais estreito com o desenvolvimento do capitalismo.

Desta forma, o custo de vida necessário para o alto grau de consumo, impossibilitará que os países periféricos possam, em algum momento, se desenvolver a partir desses padrões de grandes disparidades de consumo de bens. Assim, a ideia de desenvolvimento econômico desvia a atenção “da tarefa básica de identificação das necessidades fundamentais da coletividade e das possibilidades que abrem ao homem o avanço da ciência, para concentrá-las em objetivos abstratos, como são os investimentos, as exportações e o crescimento” (FURTADO, 1996, p. 89).

(33)

As políticas de desenvolvimento se baseiam em índices (IDH, por exemplo), uma vez que servem de indicadores para analisar e comparar regiões. Entende-se indicadores de desenvolvimento como uma unidade de medida parcial, substitutiva. Esta unidade somente se configura como um indicador quando fizer parte de um contexto teórico-metodológico. Nas pesquisas, os indicadores têm a finalidade de quantificar determinada concepção de desenvolvimento (SIEDENBERG, 2003), mas não são suficientes para outras, como “desenvolvimento como liberdade” (SEN, 2000) e muito mais justo (HARVEY, 1980).

Com base no exposto, é evidente que crescimento, evolução e desenvolvimento são conceitos distintos, mas desenvolvimento também se apresenta por diferentes conceitos e perspectivas teóricas. Faé e Flores (2012, p. 429) complementam argumentando que as teorias contemporâneas buscam atualizar o conceito de desenvolvimento ao mesmo tempo em que reforçam a ideia de que “apesar de não ser sinônimo de desenvolvimento, o crescimento econômico é seu condicionante”. No entanto, se a lógica preponderante for a da “solidariedade, a participação e a gestão local saem fortalecidas, preservando seu conteúdo de cidadania e equidade” (BRAGA, 2002, p. 25).

Tal debate revela as diferentes faces do desenvolvimento. Cada autor tem enfoque e entendimento próprios do que seja desenvolvimento e sobre as estratégias mais adequadas para sua ocorrência. Ao mesmo tempo, a palavra desenvolvimento pode ser utilizada de forma errônea e é tão amplo seu significado, que pode ser por si só incapaz de dar credibilidade ao contexto no qual está sendo utilizada. Ainda hoje, a palavra desenvolvimento carrega consigo a ideia de algo positivo. Como afirma Sachs (2000), é uma concepção enraizada por mais de dois séculos na sociedade e que requer a construção de um novo olhar, mais crítico e reflexivo sobre as dimensões e variáveis que a incluem.

2.1.2 Desenvolvimento regional

A análise da origem dos conceitos de desenvolvimento regional, desenvolvimento endógeno e desenvolvimento local revela que as três “propostas sempre tiveram por pressuposto básico o fortalecimento do sistema capitalista de produção” (FAÉ; FLORES, 2012, p. 411). Na concepção de Boisier (1999, p. 310), os modelos reais de desenvolvimento regional, os quais foram construídos de acordo com três processos: a) regionalização dos países; b) a descentralização dos sistemas de decisão públicos e privados; c) o próprio desenvolvimento das regiões, supostamente descentralizado por definição. O referido autor afirma que o primeiro desses processos fracassou por completo e que o segundo ainda não se

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configurou em razão da cultura centralizadora que domina a vida na América Latina. O terceiro processo, por sua vez, raramente é adotado.

Harvey (2003), por sua vez, segue uma corrente marxista sobre o desenvolvimento e combate o capitalismo a fim de pensar outra forma de organização econômica, política e social que possa ser expressa no sentido de desenvolvimento como progresso. O referido autor sustenta seu pensamento analisando os indicadores das regiões, os quais revelam aumento da desigualdade social, da corrupção, da alienação que a mídia impõe aos cidadãos, bem como destruição acelerada do meio ambiente. Seus argumentos são construídos a partir de duas categorias, segundo ele, básicas, da existência humana: espaço e tempo.

Para o autor, as categorias espaço e tempo promovem interferência na vida e no poder social, pois contribuem para a transformação social e, inclusive, para o aumento da desigualdade. É no capitalismo onde David Harvey concentra suas críticas, como evidencia o extrato apresentado a seguir:

como é um axioma fundamental da minha pesquisa a ideia de que o tempo e o espaço (ou, no tocante a isso, a linguagem) não podem ser compreendidos independentemente da ação social, mudarei agora meu foco, passando a considerar o fato de relações de poder sempre estarem implicadas em práticas temporais e espaciais (HARVEY, 2003, p. 206).

Como conceito de tempo, Harvey (2003) apresenta uma série de sentidos – como os

movimentos cíclicos, repetitivos, “tempo da família”11 que, para a vida humana, oferecem

segurança num mundo que visa ao progresso, mas que podem gerar conflitos. Mas também questiona se “a taxa ótima da exploração de um recurso deve ser fixada pela taxa de juro, ou se devemos buscar, como insistem os ambientalistas, um desenvolvimento sustentado que assegure a perpetuação das condições ecológicas adequadas à vida humana num futuro indefinido”. Dessa forma a categoria tempo aparece como uma retórica política confusa, a qual revela a incapacidade da sociedade em adiar prazeres como uma explicação para o empobrecimento, “embora essa sociedade promova sistematicamente o financiamento de prazeres presentes como uma das principais engrenagens do crescimento econômico” (HARVEY, 2003, p. 188).

Harvey (2003) apresenta outras concepções de espaço, como um fato da natureza ou a partir de sentidos cotidianos comuns, as quais são diferentes em cada sociedade. Conflito, então, também é uma categoria teórica que gera conflitos nos estudos sobre desenvolvimento, como em momentos de acordos territoriais, em razão das práticas humanas, que Harvey (2003, p. 189) assim descreve:

11 O tempo implícito em criar filhos e transferir conhecimento e bens entre gerações através de redes de parentesco (HARVEY, 2000, p. 188).

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