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2.2 DESENVOLVIMENTO REGIONAL SOB A ÓTICA DO

2.2.1 Diferentes abordagens teóricas do empreendedorismo

O tema empreendedorismo geralmente está associado ao conceito impresso por Schumpeter (1988), na Teoria do Desenvolvimento Econômico, o qual considera que os empreendedores são a força motriz do crescimento econômico ao introduzirem inovação tecnológica nos produtos/processos tornando os existentes obsoletos. Essas inovações compreendem cinco categorias de fatores: fabricação de um novo produto, introdução de um

novo método de produção, abertura de um novo mercado, conquista de uma nova fonte e/ou matéria-prima e o estabelecimento de um monopólio. Nessa última categoria, as condições de competição no mercado deixam de enfatizar preço e voltam-se para inovações tecnológicas e organizacionais (SANDRONI, 2005), desvelando o empreendedorismo como um processo.

Na interpretação de Hisrich (2004), empreendedorismo é o processo de criar algo novo com valor, assumindo riscos financeiros e recebendo as consequentes recompensas; é um processo dinâmico de criar mais riqueza. Para empreendedores que buscam lucros, a recompensa econômica é uma das mais importantes e o dinheiro torna-se o indicador do grau de sucesso. Contudo, o empreendedorismo não configura-se apenas como um processo realizado por pessoas em busca de lucro, quase unicamente visto como benéfico para a vida

econômica e social de países e regiões e medido pelas taxas de empreendedorismo.13

Empreendedorismo também se refere a ações inovadoras e dinâmicas em busca de resultados concretos tanto em empresas quanto em outros tipos de organizações (PINTO; RODRIGUES, 2005). O ato de inovar é uma das tarefas mais difíceis do empreendedor, pois exige não só capacidade de criar e conceitualizar, mas também de entender as forças no ambiente (HISRICH, 2004). O desafio, afirmam os autores, está em entender as razões que determinam, incentivam ou limitam a ação empreendedora (FILION, 1999a).

Julien (2010) amplia a compreensão do quadro teórico do empreendedorismo e, apoiando-se no estudo de Davidsson (2001), apresenta quatro tipos de empreendedores: o que cria uma nova empresa, o que retoma uma empresa já existente, o que visa a um mercado existente e o que visa a um novo mercado. Contudo, ao finalizar sua exposição, Julien (2010) reconhece que qualquer um desses tipos refere-se ao empreendedorismo regional, ou seja, a condição de existência de um ambiente geral e de relações sociais com membros da família do empreendedor, com redes sociais e empresariais disseminando informações, com agentes sociais exercendo seu papel de provenientes do meio para que o desenvolvimento do empreendimento seja possível.

Se, por um lado, para Filion (1991), o principal fator de suporte da criação e do desenvolvimento da visão empresarial é o sistema de relações do empreendedor, o qual é

influenciado pelos fatores liderança, energia e percepção individual14, por outro lado, Julien

(2010) preocupa-se em compreender porque uma nova empresa é criada e o faz a partir do

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“Taxa de empreendedorismo de cada município é medida pela proporção dos trabalhadores por conta-própria na população economicamente ativa. O seu impacto no crescimento do PIB e no desemprego é analisado através da metodologia dos modelos de regressão múltipla” (BARROS; PEREIRA, 2008).

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A percepção individual é “a maneira pela qual o indivíduo vê o mundo real” (FILION, 1991, p. 65), ou seja, aquilo que é percebido através de “filtros”, como as atitudes, os valores e as intenções e modelos/formas de representação da realidade e contexto.

questionamento formulado por Gardner (2001). Assim, a questão conceitual sobre empreendedorismo é recolocada para a criação e o desenvolvimento de empreendimentos em determinadas regiões (“empreendedorismo regional”) com orientação teórica social.

A realidade e contexto brasileiros indicam um processo de abertura da economia ao mercado global, que se iniciou nos anos 1990, e que necessita adotar tecnologias avançadas e estruturas organizacionais que respondam as demandas na nova ordem econômica mundial (CHOMSKY, 1996). As relações de trabalho se alteram, surgem novas formas organizacionais e proliferam-se outras (redes de empresas, joint ventures, fusões, aquisições, empreendimentos solidários, etc.), o conhecimento surge como um fator de produção, enquanto que o empreendedorismo desponta como atividade alternativa de sobrevivência à maioria da população com baixo poder aquisitivo (empreendedorismo por necessidade, como aponta o relatório GEM, 2012). Isso demanda capacidade de empreender (PINTO; RODRIGUES, 2005) e, no Brasil, ganha força a cultura do empreendedor espontâneo, aquele onipresente e que precisa de estímulo para aflorar, assim como uma flor precisa de sol e água para brotar (FILION, 2000).

A respeito, afirmam Barros e Pereira (2008), o empreendedorismo no Brasil é heterogêneo na natureza de suas motivações. Primeiro, porque o empreendedorismo contribui para uma menor taxa de desemprego nos municípios e, segundo, porque o tipo de atividade empreendedora que prevalece é menor em municípios com maior crescimento econômico. Consequentemente é possível inferir que uma região é mais ou menos desenvolvida de outras em razão do empreendedorismo.

O contexto anteriormente descrito coloca o tema empreendedorismo nas perspectivas teóricas comportamental de Filion (1991), do desenvolvimento regional de Sen (2000) e de Dallabrida (2000) e na perspectiva geográfica de Julien (2010); não na perspectiva econômica e da inovação proposta por Schumpeter (1988).

Importante destacar os resultados da pesquisa sobre a taxa empreendedora do Brasil, apresentados no relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2012. Estes confirmam a vocação empreendedora do povo brasileiro, cuja taxa de atividade empreendedora foi de 30,2%, o que coloca o Brasil em quarto lugar em termos de número de empreendedores entre os 67 países que participaram da GEM de 2012. Entre os integrantes do BRIC (Brasil, Rússia, China e Índia), em 2008, o Brasil estava atrás somente da China, o que é facilmente explicável pela explosão da economia chinesa (PASSOS, 2008).

A partir do estudo do GEM foi originado dois tipos de empreendedorismo: o de oportunidade e o de necessidade. O empreendedorismo de oportunidade é aquele em que o

empreendedor sabe aonde quer chegar, estando totalmente ligado ao desenvolvimento econômico. O empreendedorismo de necessidade, que é o mais comum em países em desenvolvimento, como o Brasil, é aquele em que os negócios costumam ser criados informalmente por candidatos a empreendedores que estão desempregados e sem alternativas de trabalho. Portanto, não basta estar nas primeiras posições do ranking do GEM, o país precisa buscar a otimização do empreendedorismo de qualidade (FILION; DOLABELA, 2000). Um fato que comprova esta afirmação é que em alguns municípios mineiros, por exemplo, o impacto do empreendedorismo sobre as taxas de crescimento econômico é negativo. Isso poderia acontecer porque os empreendimentos são feitos por necessidade ou por falta de emprego nas grandes empresas (BARROS; PEREIRA, 2008). Portanto, adotar uma estratégia regional de atrair grandes empresas pode não ser uma ação positiva na tentativa de promover o desenvolvimento regional.

Almeida e Benevides (2005) afirmam que a nova realidade socioeconômica brasileira é responsável por um aumento de novos empreendimentos, que são utilizados não somente como atividade de ingresso no mercado profissional, como também de realocação de profissionais que, espontaneamente ou não, deixaram de ter vínculos empregatícios de natureza diversa. É o empreendedorismo sendo considerado como alternativa importante na geração de emprego e renda, pois gera conhecimento e poder de uma sociedade desigual. O papel do empreendedorismo no desenvolvimento econômico envolve não só o aumento de produção e renda per capita, envolve também iniciar e constituir mudanças na estrutura do negócio e da sociedade. Esta mudança permite que mais riqueza seja dividida pelos participantes da sociedade (HISRICH 2004).

Apoiando-se em Dolabela (1999) e Filion (2000), afirma-se que capacidade empreendedora é condição necessária para o desenvolvimento, seja nas dimensões humana, social ou econômica de qualquer comunidade. Isso quer dizer que empreendedorismo é um tema que tem íntima relação com o processo de desenvolvimento local/regional, o que é reforçado por Franzini, Sela e Sela (2006). Os autores defendem que quanto maior a parcela de uma população com características empreendedoras, maiores serão as chances da região se desenvolver e gerar riquezas.

Da mesma forma, Becker (2000) enfatiza que o desenvolvimento regional necessita de ações coletivistas em prol da manutenção, sobrevivência ou contágio ao nascimento de organizações locais, sendo que cada região deve buscar sua forma de crescer e se desenvolver, ou seja, adotar um modelo de desenvolvimento que considere valores e recursos locais, oportunizando que o mesmo ocorra de forma sustentável.

Contudo, Filion (1999a) observa que há diferenças entre sistemas gerenciais de empreendedores e operadores de pequenos negócios. De acordo com o autor, o processo gerencial dos empreendedores baseia-se na visão, no projeto, animação, monitoração e na aprendizagem, enquanto que nos operadores a base está nas atividades de seleção, desempenho, atribuição, alocação, monitoração e ajuste. Os primeiros seguem um modelo orgânico no qual a interação com o ambiente é determinante de sobrevivência, enquanto que os operadores valorizam o modelo mecânico, no qual os objetivos são um ponto de chegada, um “alvo” a ser atingido (MORGAN, 1996). A explicação para essas diferenças está no fato de que “empreendedores têm ‘sonhos realistas’, ou visões, com cuja realização estão comprometidos. Operadores, por outro lado, simplesmente querem dar bom uso às suas habilidades de forma a ganhar a vida” (FILION, 1999a, p. 18).

Pelos pressupostos teóricos do empreendedorismo considera-se que, as atividades em busca da promoção de um desenvolvimento regional menos desigual se dão ancorados num processo mais orgânico do que naquelas em que há operadores, os quais tendem mais a desenvolver o processo mecânico (MORGAN, 1996). A dimensão analítica da dinâmica do desenvolvimento regional, portanto, é melhor compreendida seguindo-se os pressupostos teóricos da perspectiva interpretativista, presente na matriz dos paradigmas sociológicos apresentada por Morgan (1996). Neste paradigma, a realidade social não existe em nenhum senso concreto, pois é produto de (inter)subjetivas experiências individuais e é confirmada e modificada em múltiplas realidades. A dinâmica do desenvolvimento na região Corede Noroeste Colonial é resultado das ações dos agentes (econômicos e sociais) locais, do ambiente que os cercam, da cultura da região, do grau instrucional dos cidadãos, das perspectivas de crescimento dos empreendimentos, das ações e dos discursos dos gestores públicos e da sociedade da qual se fala.