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4 O DESENVOLVIMENTO NA REGIÃO COREDE NOROESTE COLONIAL

4.2 A REGIÃO COREDE NOROESTE COLONIAL

O Corede Noroeste Colonial (Corede-Norc) está na região funcional sete (RF7), geograficamente localizado no centro noroeste do Estado e num eixo estratégico de acesso ao Estado de Santa Catarina e ao país Argentina. É um Corede que iniciou suas atividades formais em 1991, no município de Ijuí, considerado pólo regional dentre os 32 municípios que o compunham. Em 2008 ocorreu o desmembramento de 21 municípios, que compuseram o Corede Celeiro. O Coredes-Norc, então, permaneceu com apenas 11 municípios, como

descrevem Barbosa, Redin e Farias (2010).22

Numa área de 5.168,1 km2, o Corede Noroeste Colonial tinha uma população total de

167.991 habitantes em 2012, o que lhe confere uma densidade demográfica de 32,3 hab/km2,

segundo dados da Fundação de Econômica e Estatística (FEE). Os indicadores de desenvolvimento social revelam que, na região, a taxa de analfabetismo de pessoas com 15 anos ou mais, em 2010, era de 4,23% e a expectativa de vida ao nascer, em 2000, era de 71 anos, cujo coeficiente de mortalidade infantil era de 10,57/mil nascidos vivos em 2010.

O Índice de Desenvolvimento Sócio-Econômico (Idese), um índice sintético inspirado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), revela que o Noroeste Colonial ocupava a 6ª posição no ranking dos Coredes em 2009, com um Idese Total de 0,778, o que o coloca num nível de médio desenvolvimento. No entanto, a análise dos doze indicadores que compõem o Idese Total em quatro blocos temáticos revela as desigualdades no interior da região. Em 2009, o Corede Noroeste Colonial, por um lado, poderia ser considerada uma região de alto

22 Importante análise desse processo de desmembramento dos Coredes na região funcional sete (RF7) foi apresentada por Delgado e Leite (2011), na perspectiva do desenvolvimento territorial.

desenvolvimento (Idese maior ou igual a 0,800), pois ocupava o primeiro lugar do Estado no Idese Educação (0,916) e o terceiro lugar no Idese Renda (0,846). Por outro lado, o Idese Saneamento (0,508) o coloca próximo a uma posição de baixo desenvolvimento (Idese até 0,499). O Idese Saúde, apesar de ser 0,840, coloca a região na 22ª posição estadual.

Quanto aos indicadores de desenvolvimento econômico, de acordo com os dados estatísticos da FEE, a região Corede Noroeste Colonial tinha, em 2011, o PIBpm de R$ 4.392.591,00 e o PIB per capita de R$ 26.292,00. Em 2012, as exportações totais FOB foram de US$ 93.140.622,00, demonstrando desenvolvimento econômico em relação aos dados de 2011, quando as exportações totais foram de apenas US$ 57.751.328,00, o PIBpm foi de R$ 3.887.785,00 e o PIB per capita foi de R$ 23.334,00. O Idese Renda, em 2010, foi de 0,723, ocupando o 6º lugar entre os demais Coredes-RS. No que se refere aos aspectos econômicos produtivos, os municípios de Ijuí e Panambi refletem a centralização da economia. A região possuía 6.912 empresas atuantes em 2011 (IBGE, 2013b), tendo Ijuí e Panambi como municípios polos de serviços e indústrias.

Na busca pela compreensão do que articula a sociedade que se quer, definindo um estado a ser atingido e por quais vias se chegará ao modelo proposto, fez-se uma análise do documento Plano Estratégico Corede-Norc (BARBOSA; REDIN; FARIAS, 2010), o qual apresenta um diagnóstico estratégico da região, define sua vocação, os objetivos a serem alcançados, as estratégias a serem utilizadas e os projetos priorizados.

Segundo Barbosa, Redin e Farias (2010), o Corede-Norc tem no seu sistema produtivo a produção agrícola e a fabricação de maquinários para colheita e pós-colheita. Há no território uma universidade (Unijuí) além da existência do sistema “S” (Sesi, Sebrae) e de escolas técnicas e de formação básica. Em relação à existência de instituições de ensino superior (presencial ou à distância), a região tem dezesseis, sendo doze delas na cidade de Ijuí e quatro na cidade de Panambi. As demais cidades que compõem o Corede Noroeste Colonial não apresentam nenhuma IES cadastradas no Ministério da Educação (MEC, 2014). Contudo, entidades representativas de profissionais e da sociedade civil organizada, e organizações não governamentais quase inexistem, principalmente em alguns municípios.

O plano estratégico deste Corede aponta que a região conta com o Programa Redes de Cooperação, desenvolvido pela Secretaria do Desenvolvimento e Assuntos Internacionais (Sedai), representando o potencial associativo e empreendedor regional pela consolidação de dezessete redes. A análise dos resultados da consulta popular, revela que projetos voltados para o desenvolvimento local bem como para a agricultura (base da economia) ainda não são votados tanto quanto os da saúde, educação e segurança. Os índices de geração de postos de

trabalhos são positivos, apesar de o Idese indicar um desempenho mediano por todo período de 2002 a 2006 (BARBOSA; REDIN; FARIAS, 2010) e continuou tendo o mesmo desempenho em 2009. Em 2010, o Idese total foi de 0,769, o segundo no ranking dos Coredes-RS, no qual o Idese Educação (0,743) foi importante por ocupar 1º lugar, mas o Idese Saúde (0,841) ocupou apenas o 5º lugar (FEE, 2014).

Nas cidades que compõem o Corede Noroeste Colonial, o índice de Gini (que mede a desigualdade de renda) mostrou-se homogêneo nesta região. Observa-se o estreitamento na base da pirâmide etária uma vez que quanto menor a taxa de fecundidade mais velha é a população, sendo a expectativa de vida desta região aquém da média do Estado e do país e o índice de mortalidade quase inexistente ou irrelevante. Sendo assim, chama a atenção o grande número de pessoas que se enquadram em idade escolar, o que no futuro requer a criação de mais postos de trabalho (BARBOSA; REDIN; FARIAS, 2010).

O IDH-M, que mede o grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à população, apresentou uma considerável melhoria em todos os municípios no período 1991-2000, com destaque para o município de Panambi, que em 2000 apresentou IDH-M de 0,820. O IDH-M médio da região foi de 0,791.

Quanto ao crescimento populacional da região, apontado pela Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul – Famurs, a estimativa para 2009 era de 169.591 pessoas. Em 2010, no entanto, o Censo Demográfico do IBGE apontou uma população total de 166.599, com previsão para 173.568 em 2013 (IBGE, 2014). O município que mais apresenta perspectivas de crescimento é Panambi (6,26%), o qual, junto com Ijuí (estimativa de crescimento populacional de 4,26%), a população melhor se distribui. Nestas duas cidades observa-se a maior densidade demográfica da região (70,21% da população da região).

Os dados populacionais mostram uma ascensão da população urbana e também um decréscimo no indicador da mortalidade infantil, tendo como expectativa de vida 71 anos de idade. Em relação aos índices de analfabetismo toda a região vem trabalhando para sua redução ou erradicação. Desta forma, o plano estratégico de desenvolvimento regional do Corede Noroeste Colonial aponta que ao formular políticas públicas de âmbito regional, deve- se levar em consideração as potencialidades e limitações de cada cidade, observando a extensão territorial, o número de habitantes e onde estes estão concentrados (cidade ou meio rural) uma vez que se busca a redução das desigualdades e uma distribuição equitativa da riqueza (BARBOSA; REDIN; FARIAS, 2010).

Além das ações específicas de cada região, os Coredes apresentam ações em comum, de quatro em quatro anos, as quais consideram prioridades para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul e de suas regiões. Estas estratégias contemplam questões sobre:

a) cidadania e participação: formulação e consolidação da sociedade civil e articulação de ações com as três esferas públicas;

b) regionalização: busca a efetiva regionalização e integração de informações e ações; c) sustentabilidade: destaca-se a adoção e divulgação de tecnologias limpas;

d) questões sociais: incentivo ao empreendedorismo e a busca de qualificação profissional e técnica;

e) economia: incentivo à inovação e aos empreendimentos de ponta; f) estruturas: melhoramento do setor de energia elétrica e

g) institucionais: o papel do Estado na promoção do desenvolvimento.

Em especial, nesta região estudada, destaca-se a introdução no currículo e nas atividades escolares o ensino do empreendedorismo e do cooperativismo bem como, a criação de novas empresas e manutenção das existentes, com suporte e apoio do poder público e de outras instâncias.

De acordo com Barbosa, Redin e Farias (2010):

Nossa região possui tradição no cooperativismo agropecuário, tem a prestação de serviços na área educacional e da saúde como importantes indicadores econômicos. Apresentam um grande potencial na indústria metalmecânica, na indústria alimentícia e na produção de grãos. Conta com um razoável posicionamento geográfico e dispõe de instituições que buscam suprir as necessidades regionais. Desejamos nos tornar uma região mais empreendedora agroindustrial, contando com a diversificação da produção nas áreas da indústria, serviços e agropecuária, fomentando o turismo por meio da diversidade étnica-cultural (p. 76).

Os indicadores e planos aqui apresentados revelam que a região Corede Noroeste Colonial está sendo pensada mais pela perspectiva econômica e política do que social e efetivamente cidadã, talvez com o objetivo de obter recursos econômicos capazes de sustentar atividades sociais e melhorar os indicadores de desenvolvimento, em especial o Idese Saúde e Idese Saneamento.

Essa constatação reforça a crítica formulada por Veiga (2006), sobre as fragilidades comportamentais dos principais agentes do desenvolvimento regional nos Coredes-RS, em especial da precariedade dos projetos que, em vez de mobilizar a capacidade de gerar inovação pautada no empreendedorismo (privado, público e social), volta-se para listar “carências regionais, mais ou menos hierarquizadas, a depender da competência do grupo de trabalho específico que as coletou” (p. 24).

No Plano Estratégico de Desenvolvimento Regional do Corede-Norc estão apresentados os programas prioritários e atividades estratégicas, bem como a sugestão de metodologia para a gestão destes, considerando quatro eixos de desenvolvimento: econômico- produtivo; sociocultural; relações institucionais; infraestrutura e serviços públicos. O tema empreendedorismo está presente nos planos de desenvolvimento, como apontado anteriormente na descrição da vocação da região (“Desejamos nos tornar uma região mais empreendedora agroindustrial”), mas também é objeto de crítica na apresentação do “diagnóstico qualitativo” apresentado no mesmo documento:

Existem iniciativas diversas de qualificação e capacitação de mão de obra, porém a inércia das pessoas e da sociedade de forma geral, aliada a sua falta de empreendedorismo, faz com que muitas destas instituições de qualificação fiquem com sua capacidade ociosa pela falta de pessoas a se candidatar às vagas (BARBOSA; REDIN; FARIAS, 2010, p. 40).

Tais dificuldades e planos apontados para a governança da região Corede Noroeste Colonial encontram-se alinhadas aos discursos de Boisier (1999), Harvey (2003) e de Julien (2010) sobre o desenvolvimento que se quer numa sociedade contemporânea. Apoiando-se nestes autores, afirma-se que é preciso discutir desenvolvimento contemplando pessoas, o potencial empreendedor dessas pessoas, os aspectos subjetivos das relações interpessoais que ocorrem no espaço, de forma que todos tenham ampla liberdade, para que prevaleçam iniciativas dos empreendedores (públicos, privados, sociais), agentes locais do desenvolvimento. Entende-se que, sem pessoas empreendedoras em ações coletivas (agentes sociais e econômicos locais), a região continuará tendo dificuldades em promover um desenvolvimento com justiça social, ou seja, um desenvolvimento econômico associado à redução das desigualdades, apesar da intensão declarada dos agentes locais.