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O desenvolvimento regional e a contribuição teórica do empreendedorismo

2.2 DESENVOLVIMENTO REGIONAL SOB A ÓTICA DO

2.2.2 O desenvolvimento regional e a contribuição teórica do empreendedorismo

Dallabrida e Agostini (2009), ao estudarem as obras de Dinizar Becker (baseado nas obras de Gramsci, pensada a partir do conceito de tese-antítese-síntese), apontam que o mesmo discorre sobre desenvolvimento contemporâneo. Ao discorrer sobre tal temática, Dinizar Becker aponta a falta de integração entre os agentes do desenvolvimento local e as desigualdades sociais, ao mesmo tempo em que considerava as diferenças das interações econômicas, sociais, políticas e ambientais dos mesmos. Suas teses estão fundamentadas nas relações contraditórias entre capital e trabalho e entre o movimento global e local do

desenvolvimento contemporâneo. Sendo assim, para a presente dissertação, o desenvolvimento sob a ótica do empreendedorismo emprega:

Um pensar global e agir local e, ainda mais, um pensar local e agir global que sedimentam um desenvolvimento específico de uma região com suas próprias teorias. Para a efetivação das teorias locais, o conhecimento torna-se a maior diferenciação no desenvolvimento regional, que é somente posto em prática e se torna uma vantagem competitiva sustentável15 pelas habilidades dos agentes econômicos (DALLABRIDA; AGOSTINI, 2009, p. 18).

Contudo, o que se destaca são as habilidades dos agentes levando em consideração seus valores culturais, naturais, éticos e morais. Ou seja, volta-se o olhar para o que cada “meio” (JULIEN, 2010), entorno (BOISIER, 1996) e espaço (HARVEY, 2003) tem em termos qualitativos, não só quantitativo, a oferecer em prol do desenvolvimento regional.

Nas palavras de Becker (2002):

O humano, a natureza, a cultura perderiam a alcunha de recursos, e passariam a ser potencialidades que deveriam ser potencializadas, qualidades locais e regionais que poderiam ser consideradas como fatores de diferenças, transformando-se em pilares de um desenvolvimento diferenciado, um desenvolvimento alternativo (p. 79).

Esta qualidade só poder ser adquirida através da organização e participação popular da população no processo decisório (BECKER, 2002; BRAGA, 2002). Kliksberg (2013) reforça essa ideia ao relatar a situação da América do Sul, quando expõe que a ação coletiva e as políticas devem ser articuladas para aprofundamento dos modelos de mudança. Assim como está na pauta dos Coredes – RS (BARBOSA; REDIN; FARIAS, 2010) fomentar cada vez mais a participação popular e das entidades afins, para que os mesmos participem efetivamente nos processos decisórios sobre desenvolvimento da região a qual pertencem. Sen (2000) reforça que a falta de serviços de saúde e educação limitam a participação dos cidadãos na elaboração e implementação de políticas públicas. Tais condições sociais são extremamente necessárias para que os cidadãos tenham qualidade de vida e fortaleçam suas liberdades, de forma que a cidadania seja plena.

Para tanto, as ações devem ser coletivas e não mais isoladas (BRAGA, 2002; THEIS, 2009; JULIEN, 2010), onde todos têm responsabilidades, desde as empresas como a sociedade civil, num esforço coletivo de democracia. Desta forma, tenta-se vencer as desigualdades, sendo necessário investir na educação, água potável e esgotos e a formalização da economia informal (KLIKSBERG, 2013).

15

Sustentabilidade aqui entendida como “as múltiplas alternativas que cada localidade, região ou nação tem, pelas suas diferenças culturais e ambientais, de inserir-se no processo geral potencializando seus recursos” (BECKER, 2002, p. 40).

Complementado a ideia de Kliksberg (2013), Sen (2012) sustenta que há a necessidade de melhorar a qualidade de vida dos indivíduos e fortalecer suas individualidades, onde o crescimento econômico não é um fim em si mesmo, mas sim, o que permite que as pessoas tenham condições habilitadoras e possam atuar de maneira dialógica na política. Reforça-se então que “a percepção de desenvolvimento sob o viés puramente da renda é limitada para captar o significado real do desenvolvimento” (MARQUES, 2010, p. 122). Sen (2012) também aponta essa perspectiva ao formular a livre-iniciativa como sustentação do crescimento.

Tal viés é defendido ao longo dessa dissertação, uma vez que na busca de outro olhar para o desenvolvimento, a economia não deve gerar “crescimento pelo crescimento” (SEN, 2012). Esta deve ser um dos aspectos que vem a contribuir para o aprimoramento dos indicadores sociais (saúde, educação), os quais visam o bem estar social. Habermas (1995, p. 41) a muito defendia que se esperava dos cidadãos “muito mais do que meramente orientarem-se por seus interesses privados”. Por essa razão, afirma-se que os modelos de desenvolvimento não deveriam ser copiados e sim utilizados como base para reflexão, pois “não há nenhum país perfeito no mundo” (SEN, 2012).

Ao encontro dessa reflexão, Theis (2008, p. 253) afirma que há uma proliferação dos estudos sobre desenvolvimento em busca de respostas a um tema tão complexo. Nas suas palavras:

Mesmo aqueles críticos que consideram o desenvolvimento irrelevante concordam que está tendo lugar uma ampliação sem precedentes da pesquisa sobre temas afins, que cada vez mais projetos de desenvolvimento são financiados, que sempre mais livros e periódicos relativos ao desenvolvimento são publicados.

Nesse sentido, a complexidade que permeia os estudos sobre desenvolvimento pode encontrar alternativas ao introduzir o potencial empreendedor como um dos elementos de análise de uma região. Estudar desenvolvimento regional pela perspectiva do empreendedorismo também pode apresentar alguma dificuldade teórico, pois, como afirma Filion (2000, p. 226), “não existe um modelo único do que é ou do que faz um empreendedor”. O mesmo autor também não aponta resposta para a indagação sobre o que então os empreendedores têm em comum. Então, para a presente dissertação, considera-se que o que os empreendedores têm em comum é que todos são atores no processo de desenvolvimento e apresentam um mote de competências empreendedoras (mesmo que com diferenças significativas entre si). Tais competências afloram em um determinado “meio” (JULIEN, 2010), entorno (HARVEY, 1980) e espaço (BOISIER, 1999), as quais não deixam

de ser particularidades de cada agente local, mas também podem ser decorrentes do contexto (econômico, político e cultural) de onde estão inseridos no ato de empreender.

Pensar desenvolvimento regional sob a óptica do empreendedorismo é pensar o empreendedor a partir do seu potencial em promover o contágio entre os agentes, onde o Estado, o capital social e a inovação são parte integrante do movimento. Desta forma, o foco deixa de ser no Estado como único responsável por alavancar o desenvolvimento e passa a ser de ambos, Estado e empreendedor, de suas competências para cooperar e nas ações de integração implementadas pelo Estado. Então, a responsabilidade por promover o desenvolvimento regional menos desigual está no coletivo, nas “cumplicidades territoriais” e nos fortes laços com o “meio territorial”. E, para tanto, é fundamental conhecer o potencial dos empreendedores da região da qual se fala e as articulações que se desenvolvem entre Estado e sociedade.