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Terceirização sob a ótica do sindicato:o caso do sindicato dos trabalhadores nas indústrias e empresas petroquímicas, químicas e afins da Baha ( 1990- 2005)

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(1)ELAINE DE SOUZA OLIVEIRA. TERCEIRIZAÇÃO SOB A ÓTICA DO SINDICATO: O CASO DO SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS E EMPRESAS PETROQUÍMICAS, QUÍMICAS E AFINS DA BAHIA (1990-2005). Salvador 2006.

(2) ELAINE DE SOUZA OLIVEIRA. TERCEIRIZAÇÃO SOB A ÓTICA DO SINDICATO: O CASO DO SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS E EMPRESAS PETROQUÍMICAS, QUÍMICAS E AFINS DA BAHIA (1990-2005). Monografia apresentada no curso de graduação de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Ciências Econômicas.. Orientador: Prof. Dr. Wilson Ferreira Menezes. Salvador 2006.

(3) Elaine de Souza Oliveira. Terceirização Sob a Ótica do Sindicato: O Caso do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Empresas Petroquímicas, Químicas e Afins da Bahia (1990-2005).. Aprovada em dezembro de 2006.. Orientador: ___________________________________ Prof. Dr. Wilson Ferreira Menezes. _______________________________________________ Luiz Chateaubriand Cavalcanti dos Santos Técnico da Pesquisa de Emprego e Desemprego Da RMS e Mestre em Sociologia pela UFBA. _______________________________________________ Leormínio Moreira Bispo Filho Técnico da Pesquisa de Emprego e Desemprego da RMS e Mestre em Economia pelo CME - UFBA.

(4) DEDICATÓRIA. Ao meu amado esposo, Ney, pelo apoio, cumplicidade e amor que sempre me encorajaram a prosseguir nessa jornada e por demonstrar que mesmo os momentos mais difíceis podem ser superados com serenidade e bom humor.. Aos meus pais, Edenilza e Ubirajara, por serem o que são, pelo carinho e amor sempre dedicados.. Ao meu irmão Júnior pela amizade e companheirismo e ao meu irmão Milton que, apesar da distância, esta sempre presente em meu coração..

(5) AGRADECIMENTOS. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a Deus por iluminar meus caminhos.. Em segundo lugar, a todos os professores da Faculdade de Economia/UFBA. Em particular, ao professor Luiz Filgueiras, por quem tenho grande admiração e por ter estado presente na etapa inicial de orientação deste trabalho, com comentários sempre pertinentes deu-me idéias que me fizeram delinear a temática. Ao professor Lielson Coelho que ao ministrar as disciplinas de TPE e MONO contribuiu de forma pontual para a entrega deste trabalho. E, em especial, ao professor Wilson Menezes que, quando consultado sobre a possibilidade de prosseguir com a orientação deste trabalho aceitou prontamente dando-me estímulo e liberdade de ação.. Em terceiro lugar, ao pessoal do Memorial do Sindicato dos Trabalhadores do Ramo Químico e Petroleiro da Bahia que me possibilitou o acesso ao acervo e aos periódicos da entidade, para que eu pudesse fazer o levantamento de dados para minha pesquisa.. Em quarto lugar, a todos os colegas da Faculdade de Economia que de forma direta ou indireta estiveram presentes ao longo de minha graduação. A todos os funcionários da faculdade e, em particular, aos atendentes da biblioteca que estão sempre dispostos a ajudar no que for preciso.. Por fim, sou extremamente grata a todas as pessoas queridas de minha família, aos quais já citei na dedicatória, que me ajudaram a concluir esta etapa de minha vida..

(6) “Os sindicatos constituem um momento fundamental de organização da classe operária contra as usurpações do capital, na medida em que eles representam a possibilidade de garantir o equilíbrio do antagonismo entre a classe patronal e a classe trabalhadora. Mas a luta sindical é limitada na medida em que é uma luta constante pela melhoria salarial e não diretamente contra o sistema capitalista que gera o sistema de salários. A luta sindical é uma luta contra os efeitos do capitalismo e não contra as suas causas.”. Ricardo Antunes. O que é sindicalismo, 1984..

(7) RESUMO A presente monografia tem como objetivo analisar o debate e a ação sindical em torno do processo de terceirização na indústria petroquímica baiana, no contexto de amplas transformações no mundo do trabalho, decorrentes do processo de globalização e de reestruturação produtiva que se desenvolveram no país sob o prisma do ideário neoliberal. Apresenta os principais dados de levantamento feito nos boletins do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Empresas Petroquímicas, Químicas, Plásticas e Afins da Bahia – SINDIQUIMICA contemplando as mudanças no tempo do pensamento sindical a respeito da terceirização; os impasses, desafios e práticas que o movimento sindical tem enfrentado em função do avanço da terceirização e, por último, analiso a experiência de unificação deste Sindicato com o Sindicato Único dos Petroleiros o que gerou a formação do Sindicato dos Trabalhadores do Ramo Químico e Petroleiro da Bahia. PALAVRAS-CHAVE: Neoliberalismo, reestruturação produtiva Flexibilidade; Industria Petroquímica – Bahia; Terceirização; Sindicatos.. e. globalização;.

(8) SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO. 9. 2 2.1 2.2. BREVE PANORAMA DA DÉCADA DE 90 13 CONSIDERAÇÕES SOBRE O FORDISMO E A ASCENÇÃO DO TOYOTISMO 13 EVOLUÇÃO DOS PROCESSOS DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA, GLOBALIZAÇÃO E NEOLIBERALISMO 17 2.3 REFLEXOS DESTES PROCESSOS NO BRASIL 20 2.3.1 Ideário Neoliberal, Abertura Comercial e Especificidades da Reestruturação Produtiva no Brasil 20 2.3.2 Flexibilização do Mercado de Trabalho no Brasil 24 3. REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E TERCEIRIZAÇÃO NA INDUSTRIA PETROQUIMICA BAIANA 28 3.1 CONCEITO E DIFERENTES ABORDAGENS SOBRE A TERCEIRIZAÇÃO 28 3.2 TRAJETÓRIA DA PETROQUIMICA NA DÉCADA DE 90: TERCEIRIZAÇÃO E DESEMPREGO 36 3.2.1 A indústria petroquímica na Bahia 36 3.2.2 A terceirização na indústria petroquímica Baiana: flexibilização e desemprego 39 4. DINAMICA SINDICAL DOS QUIMICOS/PETROQUIMICOS NA RMS FACE AO PROCESSO DE TERCEIRIZAÇÃO 41 4.1 BREVE ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO E CRISE DO SINDICALISMO BRASILEIRO 41 4.2 DESAFIOS DA DÉCADA DE 90: O DEBATE E A AÇÃO SINDICAL EM TORNO DA TERCEIRIZAÇÃO 45 4.2.1 Análise do posicionamento sindical face à terceirização 45 4.2.2 Reflexões sobre a situação atual: a experiência de unificação 53 5. CONCLUSÃO. 56. REFERENCIAS. 58.

(9) 1 INTRODUÇÃO A realidade atual do mundo do trabalho apresenta mudanças significativas na relação entre empresas e trabalhadores, reflexo de uma conjuntura sócio-econômica marcada pela reestruturação produtiva, avanço de políticas neoliberais e abertura da economia às importações. Tais fatos geraram o acirramento da competitividade e a flexibilização da produção e do emprego, produzindo novos desafios a trabalhadores, empregadores e sindicatos.. Assim, ao longo das duas últimas décadas, assistimos a um processo de mudanças sucessivas no interior das empresas relacionadas à adoção de inovações tecnológicas e organizacionais. Estas mudanças nas relações produtivas estão dando origem a um novo trabalhador e, por isso, é preciso repensar o sindicalismo e as relações capital-trabalho.. O início da reestruturação da indústria, nos anos 80, ocorreu em um contexto de crise econômica marcado pela recessão e pelo crescimento do desemprego e, ao mesmo tempo, de redemocratização política e fortalecimento do movimento sindical no país, na contramão das tendências de enfraquecimento e crise do sindicalismo internacional. Nos anos 90, a adoção de políticas neoliberais, que promoveram a abertura comercial e a internacionalização da economia, aprofundou o processo de reestruturação produtiva no país com a introdução de novos métodos de gestão da força de trabalho. Tais aspectos acabaram por ampliar a fragmentação dos trabalhadores e tiveram forte impacto sobre as organizações sindicais.. No setor mais dinâmico da economia regional, a indústria petroquímica, as empresas passaram, desde o final da década de 80, por uma intensa reestruturação. Dentro deste contexto, os trabalhadores presenciaram, durante o decorrer da década de 90, uma acelerada redução nos postos de trabalho fruto tanto de inovações tecnológicas e organizacionais como da política neoliberal implementada pelo Governo Collor e aprofundada no Governo FHC. A política desses dois governos preconizava a modernização da indústria nacional para atender a competitividade ocasionada pela abertura comercial da economia.. Dentro deste quadro de reestruturação produtiva e de implementação de novas formas de gestão da força de trabalho surge o debate sobre a terceirização, como prática amplamente difundida no cenário produtivo do país, e suas implicações para o movimento sindical. No.

(10) âmbito regional, este processo assumiu grande importância no modelo de ajuste adotado pelas empresas químicas/petroquímicas da RMS.. A terceirização faz parte de um conjunto de mudanças introduzidas no mundo do trabalho. No Brasil esta prática difunde-se, a partir dos anos 90, com o objetivo de, fundamentalmente, reduzir custos. Significa que, ao precarizar o trabalho, ao promover uma piora nos salários, nos benefícios, nas condições de trabalho e intensificando e prolongando a jornada, a terceirização fragilizou a organização coletiva ao dividir e diferenciar os trabalhadores, dificultando o desenvolvimento de uma identidade de interesses comuns. Por outro lado, a terceirização também significou uma forma das empresas tornarem-se mais enxutas para poderem competir dentro de uma economia mais globalizada e competitiva.. Dentro desta perspectiva, o objetivo desta monografia é discutir os impactos que o processo de terceirização na indústria petroquímica baiana, no decorrer da década de 90, tiveram sobre os trabalhadores e sobre a atuação do sindicato que os representa, enfocando principalmente o debate e a ação sindical em torno deste processo, no contexto destas amplas transformações no mundo do trabalho. O trabalho busca avaliar como o sindicato1 que representa os trabalhadores do ramo químico e petroquímico baiano posicionou-se ao longo da década em relação a este processo que tanto se difundiu na indústria petroquímica baiana e que ocasionou o desemprego de muitos trabalhadores. A hipótese a ser trabalhada nesta pesquisa é que o sindicato, do ponto de vista do posicionamento em relação à terceirização, não pode colocar-se inteiramente contra o processo, mas sim buscar estratégias para sobreviver dentro da nova dinâmica do processo produtivo. Pois, ser contra a terceirização é negar a tendência mundial de gestão que envolve qualidade e capacidade de competir no mercado internacional.. É certo que o corte de trabalhadores efetivos ocorrido na petroquímica baiana ao longo da década de 1990 resulta tanto da terceirização como de outros fatores de ordem econômica, a exemplo da conjuntura do mercado nacional e internacional para os produtos petroquímicos e da conjuntura política do país. No entanto, é consenso entre muitos autores (Rezende (1997); Giosa (1997); Amaro Neto (1995), Borges e Druck (1993); Druck (1999b); Faria (1994), entre 1. No terceiro capítulo deste trabalho será explicada a trajetória deste sindicato na década de 90 até o processo de unificação com o Sindicato Único dos Petroleiros.

(11) outros) que, dentro do processo de reestruturação produtiva, a terceirização foi a prática que mais se difundiu nas empresas do país e, na Bahia, o setor mais dinâmico e de ponta da economia baiana – o Pólo Petroquímico de Camaçarí – é quem difundiu de forma rápida e muito intensa as transformações organizacionais.. Ou seja, tanto em função da importância do setor de atividade em termos econômicos para a região e pelo volume de empregos, em que está mais avançado o processo de reestruturação produtiva e terceirização, quanto pelo grau de organização do sindicato, é que foi escolhido para a pesquisa o Ramo Químico e Petroquímico da indústria baiana.. A fim de atender os objetivos propostos, a metodologia contemplou as seguintes etapas:. 1) Levantamento e fichamento da bibliografia existente;. 2) Análise critica da bibliografia com o objetivo de sistematizar o pensamento dos diversos autores que trabalham com tal temática;. 3) Coleta de dados: visitas à sede sindical com o objetivo de ler e extrair informações dos boletins, divulgados pelo sindicato, a respeito dos impactos que o processo de terceirização causou aos trabalhadores e ao movimento sindical, com enfoque ao debate em torno do tema. A pesquisa das matérias foi feita nos arquivos do Memorial do Sindicato, na Rua Marujos do Brasil, 20 – Nazaré, Salvador/Ba. A periodicidade dos boletins é semanal e a pesquisa contemplou desde o ano de 1990, quando os efeitos da terceirização começam a ser discutidos pelo sindicato, até o ano de 2005, justamente para detectar a mudança de posicionamento em relação ao tema que ocorreu durante este período. Cabe especificar que no período de 19901996 os boletins do sindicato entitulam-se GRAVE, de 1997-2004 entitulam-se Boletim Unificado dos Químicos e Petroleiros e as edições a partir de 2005 entitulam-se NA BASE. 2. 4) Padronização dos dados coletados com a organização das opiniões e argumentos encontrados nos periódicos do sindicato.. 2. No capitulo IV será discutido o porquê desta divisão..

(12) O debate sobre dinâmica sindical e a prática da terceirização remete-nos à discursão sobre o mundo do trabalho num contexto de reestruturação produtiva, globalização e vigência de políticas neoliberais que, no Brasil, se consolidaram no plano de estabilização de Fernando Henrique Cardoso. Neste sentido, a monografia está estruturada em cinco capítulos que constam desta introdução, três capítulos de desenvolvimento e da conclusão. Neste primeiro capítulo faz-se uma apresentação do trabalho, da metodologia utilizada e algumas considerações gerais sobre o tema.. No segundo capítulo, faz-se uma breve análise do panorama internacional com considerações a respeito do surgimento dos processos de reestruturação produtiva, globalização e neoliberalismo. Por conseguinte, são feitas algumas considerações a respeito dos reflexos que estes processos tiveram no Brasil na década de 1990, em particular sobre os trabalhadores e o mercado de trabalho.. No terceiro capítulo, discorre-se sobre a reestruturação produtiva no âmbito da indústria petroquímica baiana e, em particular, a questão da terceirização por tratar-se do processo que mais se difundiu nas empresas do setor. Serão levantados o conceito e algumas abordagens da terceirização, bem como os motivos pelos quais as empresas implementam esta prática, fazendo uma análise de como se deu este processo na petroquímica e enfatizando suas principais particularidades e características.. No quarto capítulo, será feita uma breve análise do desenvolvimento e crise do sindicalismo brasileiro para posteriormente tratar da dinâmica sindical na petroquímica baiana em face do processo de terceirização. Será apresentado, com base na pesquisa realizada nos periódicos do sindicato, o posicionamento sindical com relação ao processo de terceirização bem como as alternativas de combate do sindicato e algumas perspectivas. Neste sentido, o presente capítulo irá contemplar as mudanças no tempo do pensamento sindical a respeito da terceirização; os impasses, desafios e práticas que o movimento sindical tem enfrentado em função do avanço da terceirização e, por último, será analisada a experiência de unificação do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e Empresas Petroquímicas, Químicas, Plásticas e Afins da Bahia – SINDIQUIMICA.. Por fim, o último capítulo do trabalho refere-se à conclusão onde será abordado o desfecho do tema buscando-se delinear os principais pontos desenvolvidos ao longo do trabalho..

(13) 2 BREVE PANORAMA DA DÉCADA DE 90: CONSIDERAÇÕES PONTUAIS SOBRE. REESTRUTURAÇÃO. PRODUTIVA,. NEOLIBERALISMO. E. GLOBALIZAÇÃO. Neste capítulo busca-se analisar, brevemente, o panorama internacional desde a crise do fordismo até a ascensão do Toyotismo, fazendo considerações a respeito do surgimento dos processos de reestruturação produtiva, globalização e neoliberalismo que, no plano mundial, remodelaram o padrão de desenvolvimento capitalista. Por conseguinte, são feitas algumas considerações a respeito dos reflexos que estes processos tiveram no Brasil na década de 1990, em particular sobre os trabalhadores e o mercado de trabalho.. 2.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O FORDISMO E A ASCENSÃO DO TOYOTISMO.. Neste fim do século XX, o mundo assistiu a uma verdadeira revolução na organização da produção. Nos últimos vinte anos, o sistema capitalista caminhou para uma nova dinâmica de acumulação que se processou em âmbito mundial e que acabou por sobrepor o padrão de desenvolvimento capitalista que imperou durante o pós-guerra.. As profundas transformações assistidas no interior do sistema capitalista, no final do século XX, processaram-se tanto no âmbito econômico e social quanto no político, o que colocou em questão as formas de organização das sociedades contemporâneas (FILGUEIRAS, 2003). Estas transformações estão ancoradas no esgotamento de uma determinada forma de organização da produção.. O padrão de desenvolvimento e acumulação capitalista que prevaleceu durante o Pós-Guerra, pautado em processos específicos de organização e de gestão, é conhecido na literatura como Fordismo. Este padrão, que se expandiu a partir da indústria automobilista dos EUA e assumiu diferentes formas nacionais, estava pautado num modelo que se apoiava na base técnica da Segunda Revolução Industrial e em práticas tayloristas de organização do trabalho.. Segundo Ferreira (1993), o termo fordismo possui diferentes interpretações por parte dos diversos autores que trabalham com tal temática, no entanto, o conceito de fordismo tem dois níveis de abrangência. Num nível mais global, ainda de acordo com o autor, o fordismo significou um modo de desenvolvimento que marcou uma determinada fase do capitalismo e,.

(14) num nível menos global, compreende um princípio geral de organização da produção com destaque para a forma de organização do trabalho, paradigma tecnológico e estilo de gestão. Com respeito aos princípios constitutivos do paradigma fordista, quatro itens podem ser destacados:. a) racionalização taylorista do trabalho: profunda divisão – tanto horizontal (parcelamento das tarefas) quanto vertical (separação entre concepção e execução) – e especialização do trabalho;. b) desenvolvimento da mecanização através de equipamentos altamente especializados;. c) produção em massa de bens com elevado grau de padronização;. d) a norma fordista de salários: salários relativamente elevados e crescentes – incorporando ganhos de produtividade – para compensar o tipo de trabalho predominante. (FERREIRA, 1993, p.3).. Dentro de uma outra perspectiva, segundo Filgueiras (1997), o modelo fordista também pode ser considerado como um modo de organização marcado pela racionalidade através da imposição de sua disciplina sobre o trabalho e os trabalhadores. É neste sentido que Harvey (1992) discute que esse modo de organização cria “um novo tipo de homem e um novo tipo de trabalhador”, em virtude dos métodos de trabalho serem inseparáveis de um modo específico de viver e de pensar a vida3. Conforme afirma Filgueiras, o fordismo compreende: Uma organização do trabalho que transcende os limites da fábrica e acaba por se constituir num modo de vida, implicando a construção de um “novo homem” adaptado às exigências e à disciplina do sistema fabril. (FILGUEIRAS, 1997, p.16). Desta forma, de acordo com Filgueiras (2003), esse modelo de desenvolvimento do capitalismo ia além de um modo de organização da produção, pois, se por um lado, houve o aumento da produtividade, por outro os trabalhadores têm o seu poder aquisitivo elevado, portanto, há uma melhora nas condições de vida. Textualmente: No plano político-social, essas novas circunstâncias se expressaram através de um pacto social entre capital e trabalho, dirigidos pelos partidos social-democratas de base operária, que resultou na criação do Welfare-state. Este pacto, impulsionado, 3. Harvey (1996) ao citar o líder comunista italiano Antonio Gramsci..

(15) decisivamente, pelo crescimento do movimento operário e pela existência da guerra fria e ameaça do comunismo implicou, pelo lado dos capitalistas, o reconhecimento dos sindicatos como legítimos representantes da classe trabalhadora e elemento essencial do processo de barganha salarial (...) (Ibid, p. 50).. Constitui-se, assim, num modelo de desenvolvimento legitimado pela sociedade e que num determinado momento reconheceu os sindicatos enquanto representantes da classe trabalhadora. De fato: O acúmulo de trabalhadores em fábricas de larga escala sempre trazia, no entanto, a ameaça de uma organização trabalhista mais forte e do aumento do poder da classe trabalhadora... As corporações aceitaram a contragosto o poder sindical, particularmente quando os sindicatos procuravam controlar seus membros e colaborar com a administração em planos de produtividade em troca de ganhos de salário que estimulassem a demanda efetiva da maneira originalmente concebida por Ford. (HARVEY, 1992, p. 129). Pelo exposto, configura-se que o Estado de Bem-Estar foi legitimado por um pacto social entre trabalhadores organizados e patrões, em que os primeiros abdicaram de suas reivindicações políticas mais radicais, e os segundos de parte de seus lucros, favorecendo, assim, alguma distribuição de renda e uma cobertura social às classes trabalhadoras.. Este modelo de acumulação caracterizado pelas práticas fordistas começou a entrar em crise entre o final da década de 60 e início da década de 70, na medida em que a sua organização não consegue conter as contradições existentes dentro do próprio capitalismo (HARVEY, op.cit., p.141). De acordo com Menezes (2003), a organização fordista encontrou seu esgotamento na confluência de três fatores: na desaceleração dos ganhos de produtividade da indústria; no esgotamento das possibilidades de consumo e no desenvolvimento da economia dos serviços. Ou seja, a partir da década de 70, é observado um lento crescimento da produtividade com redução do crescimento de mercado acompanhado do envelhecimento do paradigma tecnológico e padrão de gestão. (HARVEY, op. cit.,132). Nesse período também se evidencia o acirramento da competição internacional, com o desenvolvimento da indústria de países como Japão e Alemanha, e os choques do petróleo (1973 e 1979). Segue-se também a crise fiscal do Estado de Bem-Estar e a desvalorização do dólar em virtude da quebra do tratado firmado em Bretton Woods4.. 4. Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas, realizada em 1944, em Bretton Woods, para planejar a estabilização da economia internacional e das moedas nacionais prejudicadas pela Segunda Guerra mundial, na.

(16) Assim, a crise do modelo fordista de acumulação configurou-se num quadro mais complexo que exprimia uma crise estrutural da acumulação capitalista. É dentro desta perspectiva que Ferreira (1993) considera como primeiro ponto a ser destacado em relação à crise é que ela deve ser considerada como uma crise estrutural, na medida em que esta foi uma crise profunda, que afetou o regime de acumulação, marcando, desta forma, uma profunda ruptura do sistema vigente.. Nesse sentido, o cerne da crise fordista deveu-se a fatores tanto de limitação técnica, pois se revelava numa excessiva rigidez do sistema frente às necessidades da conjuntura econômica que exige soluções dotadas de maior flexibilidade, quanto de ordem sócio-econômica em virtude da crescente desmotivação dos operários (altos índices de abandono do trabalho, de rotatividade e absenteísmo). (Ibid., p.9). Dentro de todo este cenário, de mudanças na acumulação no âmbito estrutural, foi preciso reagir e implementar mudanças que preservassem o nível de acumulação de capital. As respostas começam a surgir. Na tentativa de superar esta crise, abandona-se a rigidez adotada na era industrial fordista para modelos mais flexíveis. As corporações começaram a adotar processos de racionalização, reestruturação e intensificação no controle do trabalho. Isto significa mudança tecnológica, automação, a busca de novas linhas de produto e nichos de mercado, a dispersão geográfica para zonas de controle mais fácil, as fusões e medidas para acelerar o tempo de giro do capital. (HARVEY, op. cit., p.301). De acordo com Menezes (2003), todo este ambiente econômico e social exigiram transformações que acabaram por imprimir um novo paradigma social e tecnológico. Sendo assim, num contexto de acirramento competitivo entre as nações, tornou-se patente a utilização de novos padrões de gestão, com práticas que incentivaram a desregulamentação dos direitos trabalhistas, a flexibilização dos contratos de trabalho e a aceleração das variadas práticas de subcontratação e a terceirização, o que não favoreceu de forma alguma a classe operária.. Na visão de Harvey, diante deste contexto, passam a existir os trabalhadores centrais, que são empregados em tempo integral, que tem uma maior segurança e estabilidade; e a periferia, qual ficou estabelecido que o dólar passaria a ser a principal moeda de reserva mundial, abandonando-se o padrão-ouro. (Sandroni, 1999, p.120).

(17) que se divide em duas categorias: a primeira formada por trabalhadores integrais com habilidades facilmente encontradas no mercado, por exemplo, funções rotineiras. E a segunda, constituída por trabalhadores flexíveis (parciais, temporários e terceirizados). “A atual tendência do mercado é reduzir o número de trabalhadores centrais e empregar cada vez mais uma força de trabalho que entra facilmente e é demitida sem custos.” (HARVEY, 1992, p. 144).. Desta forma, o capitalismo caminhou para uma nova forma do processo de acumulação, adotando práticas e modos de gestão que tendem a flexibilizar ao máximo a produção e o mundo do trabalho. São adotados métodos toyotistas de gestão5 que se apóiam na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo.. Segundo Menezes (2003) os princípios orientadores do toyotismo podem ser sintetizados em cinco tópicos:. 1 – Integração entre pesquisa, desenvolvimento e industrialização; 2 – Integração das funções de marketing, concepção, fabricação e controle; 3 – Aparecimento da empresa rede, assegurando uma melhoria nas relações entre empresas principais e seus respectivos agentes fornecedores; 4 – Produtividade organizacional da empresa, mais precisamente as funções de fabricação e de montagem dos produtos, que procuram reagir da melhor maneira possível às variações da demanda; 5 – Crescimento das qualificações e da elevação do estímulo dos trabalhadores.. 2.2. EVOLUÇÃO. DOS. PROCESSOS. DE. REESTRUTURAÇÃO. PRODUTIVA,. GLOBALIZAÇÃO E NEOLIBERALISMO NO PLANO MUNDIAL.. Essas transformações, explicitadas na seção anterior, estão aliadas a novos processos que acabaram por anunciar um outro momento da acumulação capitalista e, de acordo com Filgueiras (2003), podem ser sintetizados na caracterização de três fenômenos: reestruturação produtiva, globalização e neoliberalismo.. 5. Denominado de “modelo japonês” por Hirata (1993).

(18) Portanto, é dentro deste contexto que surgem os conceitos de reestruturação produtiva (na década de 70) e globalização (na década de 80). Ao lado destas transformações, ao considerar-se também uma redefinição do papel do Estado, surge o neoliberalismo como legitimador destes processos no plano político ideológico. Filgueiras (2003), ancorado na concepção de Harvey (1992), afirma que esses três fenômenos possuem um denominador comum, resumido na idéia de acumulação flexível, que pode ser alcançada de forma com que o capital tenha total liberdade de movimento, contratação e exploração da força de trabalho.. A reestruturação produtiva, de um lado, correspondeu à reorganização dos setores industriais e implementação de novas tecnologias como, por exemplo, setores de ponta alavancados pela informática, química fina, biotecnologia, dentre outros. De outro lado, está associada a novos modos de gestão e organização do trabalho (“o modelo japonês”) tais como a subcontratação, automatização dos processos, especialização nas tarefas e principalmente terceirização das atividades. Esse processo acaba por individualizar as relações capital/trabalho, com o conseqüente enfraquecimento dos sindicatos. (FILGUEIRAS, 2003, p.53).. De acordo com Druck (1999a, p.39), em resposta a crise do fordismo, a difusão do modelo japonês6 no ocidente assume lugar central. No entanto, este é adaptado às realidades locais e nacionais, levando em conta os fatores econômicos, culturais e políticos. O genuíno modelo japonês é composto por quatro grandes dimensões: 1 – sistema de emprego adotado pelas grandes empresas (emprego vitalício, promoção por tempo de serviço, admissão do trabalhador para a empresa e não para um determinado posto de trabalho); 2 – sistemas de organização e gestão do trabalho; 3 – sistemas de representação sindical e 4 – sistemas de relações inter-empresas.. Para Zarafian (1993, p.26) “o modelo japonês é subentendido pela busca gerencial de maior eficiência do aparelho industrial em um contexto de produção flexível, com séries curtas e crescente diversificação”.. No que se refere à globalização, esta tem uma característica essencial que é a de proporcionar a total mobilidade de recursos com a ampliação e maior articulação entre os mercados. Sendo assim, a globalização também se caracteriza por ser um dos aspectos da acumulação flexível 6. Em Hirata (1993) são discutidos com profundidade os aspetos conceituais a respeito das formas de gestão de trabalho que compõem o modelo japonês..

(19) na medida em que, segundo Druck (1997), constata-se uma radicalização dos processos de concentração e descentralização de capitais, assim como se difundem micro e pequenas empresas, com a formação de redes de subcontratação/terceirização.. É nesta medida que o cenário atual foi sendo modelado pelo avanço da globalização, na esfera econômica, financeira ou comercial, defendida pelos organismos internacionais (FMI, Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio) e com base na ideologia neoliberal. “O projeto neoliberal assume nova direção e consegue articular os países do centro redefinindo as suas relações com os países periféricos. Através das principais instituições financeiras internacionais – FMI e Banco Mundial”. (DRUCK, 1999b, p. 27). Desta forma, a globalização trata-se de um processo comandado pelas grandes corporações transnacionais, que procuram abrir novos mercados para sua produção. Ao mesmo tempo, estas corporações buscam realizar estes objetivos reduzindo seus custos pelo aumento da exploração dos trabalhadores, via redução de salários, aumento das jornadas de trabalho e eliminação dos direitos dos trabalhadores, atacando as conquistas sindicais e trabalhistas obtidas na era de ouro do sistema.. É justamente dentro desta perspectiva que Ianni (1998) constata que a globalização do capitalismo implica sempre, e necessariamente, em desenvolvimento desigual. Segundo o autor, a globalização tem representado o aumento do desemprego, a precarização dos contratos de trabalho, a informalidade e crescentes ataques aos direitos de organização sindical.. Dentro de todo esse contexto temos, na esfera política e econômica, o neoliberalismo constituindo-se no plano ideológico como legitimador dos passos do capital em direção à maior subordinação das relações de trabalho. Nessa perspectiva, Druck (1997) sustenta que: Se esses dois movimentos estruturais – a globalização e a reestruturação produtiva – estabelecem as condições materiais e objetivas dessa fase do capitalismo neste final de século, o neoliberalismo oferece as condições subjetivas necessárias para realizar de forma plena o entrelaçamento e articulação entre esses três movimentos. (DRUCK, 1997, p. 23). A proliferação da ideologia neoliberal questionou o tamanho das estruturas estatais e o caráter de intervencionismo do Estado na sociedade. Esse ideário começou a expandir na segunda.

(20) metade da década de 70, com a crise do modelo de acumulação anteriormente citado, tornouse hegemônico na década de 80 e inspirou vários governos na década de 90. Foi implementado inicialmente pela Inglaterra (Governo Thatcher – 1979), sendo logo em seguida pelos Estados Unidos (Governo Reagan – 1980).. De acordo com Anderson (1995) o poder excessivo dos sindicatos, com a pressão sobre os salários e sobre o Estado para aumentar os gastos sociais, acabaram por corroer os níveis necessários de lucros das empresas e desencadearam processos inflacionários que não podiam deixar de terminar numa crise generalizada das economias de mercado.. Desta forma, a saída se daria através de um Estado forte para romper o poder dos sindicatos, no entanto, ausente em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas. Sob a ótica de um balanço do neoliberalismo segue-se que: Qualquer balanço atual do neoliberalismo só pode ser provisório. Este é um movimento ainda inacabado (...). Economicamente, o neoliberalismo fracassou, não conseguindo nenhuma revitalização básica do capitalismo avançado. Socialmente, ao contrário, o neoliberalismo conseguiu muito dos seus objetivos, criando sociedades marcadamente mais desiguais, embora não tão desestatizadas como queria. Política e ideologicamente, todavia, o neoliberalismo alcançou êxito num grau com o qual seus fundadores provavelmente jamais sonham, disseminando a simples idéia de que não há alternativas para os seus princípios, que todos, seja confessando ou negando, têm de adaptar-se a suas normas. (ANDERSON, 1995, p.23). 2.3 REFLEXOS DESTES PROCESSOS NO BRASIL:. 2.3.1 Ideário Neoliberal, Abertura Comercial e Especificidades da Reestruturação produtiva no Brasil. No Brasil, como reflexo destas transformações que se processaram a nível mundial, observaram-se profundas reformulações na organização da produção e do trabalho, bem como transformações no âmbito político e social, estas fortemente apoiadas no projeto neoliberal implementado no país. A implementação das políticas de cunho neoliberal teve início com a prática das diretrizes firmadas no Consenso de Washington7 que objetivavam a redefinição. 7. Matoso (1999, p.24) explica o Consenso de Washington como um conjunto de propostas elaboradas em um seminário do Banco Mundial em Washington e destinadas a países periféricos, visando a redução do Estado, a liberalização dos mercados e a desregulamentação financeira..

(21) das relações de dominações entre os países centrais e os ditos periféricos, bem como a imposição de diretrizes e reformas no âmbito político e econômico para os últimos.. A doutrina neoliberal vai emergir, no Brasil, embora ainda timidamente em virtude da força dos movimentos trabalhistas em sua fase de ascensão durante toda a década de 1980, a partir do Governo Collor, como estratégia de superação da crise vivenciada na década de 80: O liberalismo que já havia adentrado na maior parte da América Latina, implanta-se no Brasil com toda força, a partir do Governo Collor. O discurso liberal radical, combinado com a abertura da economia e o processo de privatizações inauguram o que poderíamos chamar da ‘Era Liberal’ no Brasil. (FILGUEIRAS, 2003, p. 83-84).. No entanto, é a partir do Governo de Fernando Henrique Cardoso que esta doutrina consolidase de vez no país: Os Governos FHC, em dois momentos distintos, soldaram as diversas frações do capital, através da implantação negociada (arbitrada) do projeto neoliberal sob a hegemonia (restrita) e a lógica do capital financeiro. No primeiro governo, com a implementação do Plano Real, a lógica de valorização e a política econômica do capital financeiro se impuseram de forma cabal – com a estabilização monetária apoiada na valorização cambial e em taxas de juros elevadas, acompanhadas de desregulamentação e abertura comercial e financeira, privatização e desregulação do mercado de trabalho (FILGUEIRAS, 2003, P.201). Sendo assim, a década de 1990 teve como uma de suas principais características a abertura comercial externa que representou a volta do país ao circuito financeiro mundial. Dentro desta perspectiva, iniciou-se no Brasil o processo de privatização das empresas estatais, uma maior abertura da economia aos capitais externos com a diminuição das alíquotas de importação, desregulamentação das relações de trabalho e um programa de estabilização dos gastos governamentais.. Desta forma, o panorama político e econômico do Brasil, ao longo na década de 90, foi marcado pelo avanço e concretização das políticas neoliberais, pautadas na contenção dos gastos públicos e dos salários. Tais medidas tiveram como conseqüências mais alarmantes o agravamento dos problemas sociais e aumento progressivo das taxas de desemprego observadas no período..

(22) Fonte: ALVES, 2002, p. 82 Taxa média anual de desemprego aberto no Brasil (1989-2001). Na visão de Boito (1996), o Brasil não chegou a constituir um Estado de bem-estar, no sentido europeu do termo. Apesar disso, os direitos sociais restritos, excludentes e precarizados que ainda existem são um alvo importante da ofensiva neoliberal. Nesta perspectiva, tem-se como objetivo abrir novas áreas de acumulação para o capital privado (previdência, educação, saúde, transporte, etc.), reduzir os investimentos em política social e diminuir os impostos que incidem sobre as empresas.. Neste sentido, a abertura da economia brasileira resultou em mudanças peculiares, visto que, este processo, aliado à modificação do papel do Estado na economia, contribuiu para redefinir as relações entre capital e trabalho.. O programa de abertura comercial e financeira teve como objetivo promover a modernização do parque industrial brasileiro, bem como integrar a economia brasileira ao mercado mundial. Dentro desta perspectiva, Lacerda (1998, p.90) afirma que a abertura intensificada a partir dos anos 90 provocou uma profunda reestruturação industrial no Brasil, com impactos diretos no emprego, embora tenha trazido benefícios para os consumidores pela maior disponibilidade de bens e serviços, melhores preços e tecnologia.. No entanto, a crença de que o esvaziamento do Estado possibilitaria o reforço do setor privado, a ponto de conduzir ao crescimento econômico desejado e duradouro, não se confirmou nos anos 1990 em virtude da crença equivocada de que o padrão de intervenção.

(23) estatal anterior evitava a modernização e a eficiência econômica (POCHMANN, 2001, p.11). De fato: O governo Collor implantou uma política econômica recessiva. Em1989, a economia crescera 3,3%. Collor assumiu o governo em 1990 e empurrou a produção para baixo: - 4,4%, em 1990, +1,1% em 1991 e – 0,9% em 1992. Em 1993, já então sob Itamar Franco, vem a recuperação: a economia cresceu 5,0%. No triênio 199092, o desemprego cresceu bruscamente. Os salários também foram para baixo na conjuntura recessiva do governo Collor. Portanto, em 1990, 1991 e 1992 caíram a produção, o emprego e os salários. Em 1993, todos esses três indicadores iniciaram uma pequena recuperação, sendo que o significativo crescimento do PIB em 1993 não foi acompanhado de uma redução digna de nota na taxa de desemprego – fato indicador de que as empresas aumentaram a produção sem aumentar o pessoal empregado. (BOITO, 1996, p.7). Em sistematização explicitada em Mattoso (1999) constata-se que a abertura comercial indiscriminada, a ausência de políticas industriais e agrícolas, a sobrevalorização do real e os elevados juros introduziram um freio ao crescimento do conjunto da economia e uma clara desvantagem da produção doméstica diante da concorrência internacional.. Em virtude destas transformações de ordem política e econômica, a empresas do país apresentaram uma tendência à desverticalização da produção industrial e o comportamento destas direcionou-se no sentido de buscar se aproximar dos padrões de organização e gestão do trabalho predominante nos países centrais. Sendo assim, buscaram formas de reorganizar a produção e a gestão do trabalho adotando redução de custos via enxugamento da mão-deobra, abandono de linhas de produção, fechamento de unidades, racionalização da produção, busca de parcerias e terceirização, para tentar fazer frente à menor competitividade diante dos concorrentes externos. Desta forma, foi a partir do "choque de competitividade" da "década neoliberal" que ocorreu o desenvolvimento da reestruturação produtiva. Esse processo que se caracterizou, por um lado, pela introdução de novas tecnologias microeletrônicas na produção, e por outro lado, pelo desenvolvimento de novas formas de organização da produção capitalista, caracterizadas como sendo o toyotismo sistêmico com seus nexos contingentes, tais como just in time, terceirização, trabalho em equipe, programas de qualidade total, sistemas de remuneração flexível, etc. (ALVES, 2002, p. 80).. A reestruturação produtiva no Brasil se difundiu a partir da disseminação do modelo japonês pautado em novos padrões de gestão e organização do trabalho que, assim como o fordismo,.

(24) possui especificidades nacionais e regionais. De acordo com Druck (1999b), no caso brasileiro, a implementação do modelo japonês é passível de periodização. A primeira fase ocorre na passagem dos anos 70 para os anos 80 e tem na prática dos Círculos de Controle de Qualidade (CCQs) a sua forma mais difundida. Ainda nos anos 80 ocorre a adoção de novas tecnologias de automação, do just in time e dos Programas de Qualidade Total. Na década de 90 intensifica-se os Programas de Qualidade Total e terceirização.. Em sistematização feita por Druck (1999b), a reestruturação produtiva que estava em curso no país apresentou três importantes especificidades: 1- O seu aprofundamento está sustentado nas políticas de conteúdo neoliberal; 2- A singularidade de uma reestruturação produtiva que, no plano geral da atividade industrial, foi constituída muito mais pelas inovações organizacionais - novos padrões de gestão/organização do trabalho inspirados no modelo japonês - e muito menos por transformações/inovações tecnológicas; 3- A rapidez com que se instituiu a desregulamentação do mercado de trabalho, através da modificação do aparato legislativo e de fiscalização do Estado.. Dentro desta perspectiva, observa-se que no Brasil todas essas mudanças que se processaram tanto no âmbito político quanto econômico, provocaram impactos profundos na estrutura produtiva do país, bem como no contexto social e no mundo do trabalho. Assim, observou-se no país, ao longo dos anos 90, uma profunda flexibilização do mercado de trabalho acompanhada de elevados níveis de desemprego e precarização das condições de trabalho. Ao lado disso, acentuou-se a assimetria de poder entre capital e trabalho, esta com tendência evidentemente para o lado do capital o que acaba por induzir a classe trabalhadora a individualizar-se, pulverizando, assim, a ação coletiva.. 2.3.2 Flexibilização do mercado de trabalho no Brasil A integração competitiva da economia brasileira à economia global, explicitados na seção anterior, influenciou estruturalmente o funcionamento do mercado de trabalho do País. Foram registradas, na década 1990 e ao longo dos últimos anos, dinâmicas particularmente relevantes nos quesitos emprego, formalidade e renda dos trabalhadores, o que refletiu substancialmente na qualidade e quantidade do total de empregos no país. Pochmann (1998) identifica quatro diferentes fatores explicativos dos novos problemas no mercado de trabalho no Brasil:.

(25) 1- Alterações na composição da demanda agregada, provocada pela revisão do papel do Estado na economia, pela desregulamentação financeira e econômica e pela estabilização monetária;. 2- Natureza da reinserção externa marcada pela abertura comercial, pela desregulamentação financeira e pela integração regional (Mercosul);. 3- O processo de reestruturação das empresas privadas decorrente da introdução de novos fundamentos competitivos, marcados pelo aumento da produtividade do trabalho e pela maior inserção externa, com alteração dos preços relativos e elevação dos investimentos especificamente nas grandes empresas;. Nesse contexto, surge a discussão sobre a necessidade de flexibilização das relações do trabalho, onde o ideário neoliberal sustenta ser a rigidez das instituições responsável pela crise nas empresas retirando delas as possibilidades de adaptarem-se a um mercado em constante mutação. Portanto, a idéia de tornar mais flexível a contratação e a dispensa de trabalhadores estão ancoradas neste pensamento neoliberal que tem buscado a eliminação de grande parte das normas trabalhistas.. De acordo com Krein (2003), a desregulamentação de direitos e a flexibilização das relações de trabalho apresentaram-se como tendência durante toda a década de 1990, especialmente a partir do Plano Real (1994) 8. Ainda de acordo com o autor, o processo de aprofundamento da flexibilização/precarização do mercado de trabalho foi facilitada por diversos aspectos referentes a mudanças na legislação. Sendo assim, ao lado da reestruturação da indústria e de sua conseqüente perda de importância como geradora de empregos, houve, nos anos 90, o crescimento da flexibilização na contratação de mão-de-obra.. Krein (2003) analisa que as medidas de flexibilização das relações de trabalho no Brasil, contribuíram para alterar a forma de contratação e a determinação do uso do tempo e da remuneração do trabalho que se configuram numa flexibilização numérica e funcional do mercado de trabalho.. 8. Para um estudo mais detalhado sobre o Plano Real ver Filgueiras (2003).

(26) Por flexibilidade numérica entende-se como a ampliação da liberdade das empresas para empregar e despedir de acordo com as suas necessidades de produção, dentro de uma estratégia de redução de custos (contrato por prazo determinado, cooperativas de trabalho, ampliação do trabalho estágio e extensão da terceirização para atividades-meio). Por flexibilidade funcional entende-se como as medidas que mexem na determinação do tempo de trabalho (banco de horas e liberação do trabalho aos domingos) e na determinação da remuneração, particularmente a PLR (Participação nos lucros ou resultados) e a desindexação dos índices de reajuste salarial. (KREIN, op. cit., p. 3). Diante do exposto, pode-se afirmar que esta década foi marcada pela presença de sinais de desestruturação do mercado de trabalho. No entanto, Krein (2003, p. 9-10) analisa que estas novas formas de contratação tiveram pouca efetividade na medida em que:. 1 – Depois da aprovação destas medidas, agravou-se a recessão econômica, com desestimulo à contratação de novos trabalhadores;. 2 – O sistema de contratação e despedidas já é bastante flexível no Brasil;. 3 – Além das medidas legais, a flexibilização do trabalho também vem ocorrendo através da terceirização e do trabalho autônomo para a empresa, na medida em que isto contribui para a eliminação de obrigações relativas aos direitos trabalhistas da empresa contratante do serviço ao repassar a responsabilidade para uma outra empresa, que geralmente não está enquadrada na mesma categoria econômica.. Além disso, essas novas formas de contratação surtiram pouco efeito no mercado de trabalho brasileiro na medida em que houve o aparecimento de elevado desemprego aberto9 e geração de postos de trabalho precários, em virtude do comportamento geral da economia na década de 1990, que registrou uma taxa média anual de expansão do produto de apenas 1,9% - a mais baixa do século XX. “Entre 1989 e 1999, a quantidade de desempregados ampliou-se de 1,8 milhão para 7,6 milhões, com aumento da taxa de desemprego aberto passando de 3,0% da População Economicamente ativa para 9,6%”. (POCHMAN, 2001, p.48). 9. Desemprego aberto é a condição da pessoa desempregada que se encontra à procura de trabalho..

(27) Somando a isso, tivemos um elevado número de trabalhadores fora do mercado formal de trabalho. De fato: Considerando-se exclusivamente o movimento de liberalização comercial e de internacionalização da economia brasileira nos anos 1990, pode-se perceber seus efeitos negativos sobre o trabalho na medida em que, em relação ao emprego formal no setor industrial, nota-se que entre 1990 e 1998, ocorreram cerca de 1,2 milhão de demissões influenciadas pela ampliação do grau de exposição externa do parque produtivo nacional. (POCHMAN, 2001, p.49). A redução do mercado formal de trabalho, isto é, aquele regulamentado pelas leis trabalhistas e integrado aos mecanismos institucionais que garantem proteção ao trabalhador, tais como a Previdência Social, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e o segurodesemprego, pode ser observado pelo crescimento dos trabalhadores sem carteira de trabalho assinada e por conta própria. (MATTOSO, 1999, p.16). É dentro desta perspectiva que o mercado de trabalho nos anos 1990 no Brasil também se caracterizou pelas condições de trabalho tornando-se crescentemente informais, precárias, com trabalhos e salários descontínuos, de curta duração e sem contribuir para a previdência e, portanto, sem acesso à aposentadoria..

(28) 3 A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E A TERCEIRIZAÇÃO DA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA DA BAHIA No presente capítulo, será discutida a reestruturação produtiva no âmbito da indústria petroquímica baiana e, em particular, a questão da terceirização por tratar-se do processo que mais se difundiu nas empresas do setor. Desta forma, pretende-se levantar o conceito e algumas abordagens da terceirização e os motivos pelos quais as empresas implementam esta prática, fazendo uma análise de como se processou a terceirização na petroquímica e enfatizando suas principais particularidades e características.. 3.1 CONCEITO E DIFERENTES ABORDAGENS SOBRE A TERCEIRIZAÇÃO.. Como visto no capitulo anterior, o processo de terceirização fez parte de um amplo conjunto de modificações das relações de trabalho em busca da flexibilização deste mercado e, foi sendo incorporada paulatinamente à vida econômica das empresas. O debate em torno do tema da terceirização foi adquirindo importância nesse contexto de acirramento das condições advindas dessa nova ordem econômica mundial. Pesquisa realizada pelo DIEESE (1993) define a terceirização como sendo “o processo pelo qual as empresas transferem uma determinada atividade, que seria desenvolvida pelos trabalhadores de uma empresa, para uma outra empresa, então, chamada de terceira”.. Ou seja, esta empresa terceira recebe as atividades externalizadas da empresa-origem e pode operar tanto dentro dos limites do espaço físico da empresa-origem quanto pode operar em seu próprio espaço físico. O essencial é que a empresa terceira tenha total independência administrativa da empresa-origem e que opere com seu próprio capital, visando, dessa forma, uma flexibilização, tanto da produção quanto do trabalho. Sendo assim, a relação de emprego se faz entre o trabalhador e a empresa prestadora de serviço, e não diretamente com o contratante da atividade.. Ainda de acordo com a pesquisa DIEESE (1993, p.5) a terceirização é um processo que pode ter duas faces independentes, mas não excludentes:.

(29) 1) a desativação, parcial ou total, de setores produtivos. A empresa que terceiriza deixa de produzir e passa a comprar produtos de outras empresas;. 2) a contratação de uma ou mais empresas terceiras que alocam trabalhadores para execução de algum serviço no interior da empresa do cliente. Os casos típicos são: vigilância, limpeza, serviços médicos e certos tipos de manutenção.. Um dos trabalhos pioneiros a considerar a rede de contratações da empresa foi a publicação do artigo de Ronald Coase10 intitulado “A Natureza da Firma”. 11. de 1937. Neste trabalho,. Coase (1937 apud. Zylberzstajn, 2005) discute que as firmas de fato existem e produzem, ao invés de existirem apenas mercados. Esta questão originou a discussão sobre os custos de transação, explicando porque as firmas estabelecem sistemas de organização que substituem a ação do mercado, mostrando até que ponto ocorrem processos de verticalização. É justamente dentro desta nova visão institucional da economia que surge o conceito de firma como uma instituição que vem a ampliar o conceito da firma estudado pelos neoclássicos como uma função de produção.. Muito mais do que uma relação mecânica entre um vetor de insumos e um vetor de produtos, associada a uma determinada tecnologia, a empresa é uma relação orgânica entre agentes, que se realiza através de contratos, sejam eles explícitos, como os contratos de trabalho, ou implícitos, como uma parceria informal. Com essa crítica, Coase não rompe com a tradição neoclássica, posto que o comportamento maximizador é mantido, mas a amplia, passando a considerar outro tipo de custos, além dos custos de produção. A firma Coasiana é um conjunto de contratos coordenados, que levam à execução da função produtiva. (ZYLBERZSTAJN, 2005). Desta forma este trabalho de Coase é extremamente importante ao abordar a expansão dos limites da firma sob a ótica da flexibilização da produção. Além disso, analisa os fundamentos econômicos que levam a empresa a decidir entre manter uma relação de produção ou de trabalho interna ou externa à firma, sendo assim, a análise implica no contraste entre formas alternativas de organização desde a realização da produção via mercado, até o outro extremo da integração vertical pura. 10 11. Economista Inglês considerado um dos fundadores da Nova Economia Institucional. Título original "The Nature of the Firm" (1937) citado no trabalho de Zylberzstajn (2005).

(30) Pelo exposto configura-se que, em sua essência, a terceirização não é um fenômeno atual. No curso da história do capitalismo esta prática se fez presente, evidentemente com diferentes denominações e características, sendo um recurso utilizado diferentemente a depender da natureza do processo produtivo. No Brasil, a terceirização chegou nos anos 50 junto com as montadoras de automóveis, no entanto, sua grande arrancada só pode ser sentida mais recentemente. “A terceirização é uma possibilidade infinitamente mais adequada para uma série de situações enfrentadas pelas empresas, mas não pode ser tratada como um novo dogma”. (REZENDE, 1997, p.2). Entretanto, a atualidade imprimiu à terceirização determinados atributos, ao ponto que alguns autores afirmam tratar-se de um fenômeno novo. De peça acessória, periférica, complementar na arquitetura produtiva, ela se transforma em elemento central, em condição de flexibilidade, portanto, fundamental do ponto de vista da produtividade e da competitividade das empresas. A terceirização anuncia um novo momento da acumulação de capitalista, no qual os chamados novos paradigmas tecnológicos e gerenciais incorporam mudanças nos padrões de uso da força de trabalho... A terceirização, no Brasil, pode ser vista como um processo que integra amplas mudanças, voltadas para a adaptação da economia à reestruturação industrial e empresarial em curso a nível internacional. Integra estratégias empresariais de sustentação de margens de lucro, numa conjuntura de grave crise econômica e política, marcada por mudanças radicais na competição internacional e divisão internacional do trabalho que tendem a colocar o país num a posição extremamente desvantajosa. (BORGES; DRUCK, 1993, p. 41) Estes têm resultado numa crescente exclusão social que atinge largos segmentos incorporados à “sociedade de bem-estar” na etapa anterior da acumulação. (BORGES; DRUCK, 1993, p.23). Sendo assim, a terceirização com esse perfil emerge, conforme já comentado no capítulo anterior, no contexto das mudanças que se processaram a partir da crise do sistema fordista em meados da década de 70, crise que, tratando-se do caso brasileiro, Borges e Druck (1993) atribuem como uma melhor expressão de crise do “fordismo periférico”. 12. pelas. especificidades deste modelo no país.. No caso brasileiro, ainda de acordo com Borges e Druck (1993) a crise do fordismo periférico se manifesta, no esgotamento da capacidade de financiamento do Estado e na perda de competitividade da indústria brasileira, em decorrência de sua defasagem tecnológica provocada, entre outras razões, pela política de fechamento da economia e a recessão vivenciada da década de 1980. 12. Segundo Borges e Druck (1993), esta expressão é proveniente da “Escola de Regulação” (Lipietz).

(31) O processo de terceirização no Brasil começa a se acentuar na década de 90 quando, por implementação de uma política que visava a abertura da economia, as empresas começam uma busca por se adequarem a nova realidade de mercado extremamente competitiva. Druck (1999b) analisa que a terceirização no Brasil pode ser distinguida de acordo com estas principais vertentes13:. 1. Trabalho doméstico ou trabalho domiciliar: utilizado mais frequentemente nas empresas dos setores mais tradicionais da produção industrial, consiste na subcontratação de trabalhadores autônomos em geral, sem contrato formal;. 2. Empresas fornecedoras de componentes e peças: com produção voltada, quase exclusivamente para as grandes empresas contratantes, consiste na subcontratação na forma de redes de fornecedores, que produzem independentemente, ou seja, tem a sua própria instalação, maquinaria e mão-de-obra;. 3. Subcontratação de serviços de apoio: consiste na subcontratação de empresas especializadas para prestação de serviços a ser realizado, em sua maioria, no interior da planta da empresa contratante;. 4. Subcontratação de empresas ou trabalhadores autônomos nas áreas produtivas/nucleares: este tipo de prestação de serviço pode ocorrer tanto dentro da empresa contratante como o trabalho pode ser realizado fora, na empresa contratada;. 5. Quarteirização: as empresas são contratadas apenas para gerir os contratos com as empresas terceiras.. Ou seja, a partir da década de 1990 observou-se uma desintegração vertical nas empresas nacionais. De acordo com Amaro Neto (1995) o termo desintegração vertical corresponde a um movimento de redução do tamanho da cadeia de atividades da empresa, tanto no nível administrativo (redução de níveis hierárquicos) como no da produção, pela via da redução ou. 13. No trabalho de Borges e Druck (2002) são acrescentadas mais duas novas modalidades representativas de terceirização: 1 – cooperativas; 2 – Empresas filhote (empresas administradas por ex-funcionários que preferem montar o seu próprio negócio)..

(32) eliminação de alguns processos (seções produtivas/de apoio ou até mesmo postos de trabalho).. Contudo, Rezende (1997) chama a nossa atenção para o fato de que o movimento de terceirização só pode ser considerado desverticalização se aplicado ao eixo da cadeia produtiva. Do contrário, existem outras denominações mais apropriadas, a exemplo de desburocratização, enxugamento, entre outras. Textualmente: ... nem todo movimento de terceirização significa desverticalização. Terceirização como sinônimo de desverticalização só ocorre no eixo da cadeia produtiva e eventualmente no eixo de atividades complementares. Terceirização no eixo de atividades de apoio não é sinônimo de desverticalização, podendo ser chamada de desburocratização, enxugamento, etc. (REZENDE, op. cit, p.7). Por outro lado, Faria (1994) enfatiza que a terceirização tem a ver com três dimensões fundamentais para a sobrevivência das empresas hoje: qualidade, competitividade e produtividade. É o mecanismo pelo qual a empresa passa a concentrar-se no que ela sabe fazer melhor, nas suas competências centrais, destinando as outras tarefas, secundárias e auxiliares, para empresas especializadas.. Paralelamente a esta idéia, Amaro Neto (1995) e DIEESE (1993) complementam que próximo a este conceito de terceirização está a idéia de focalização, a qual baseia-se nos princípios da simplicidade, da repetição, da experiência e da homogeneidade de tarefas geradas pela competência específica da empresa. Ou seja, “a empresa concentra suas atividades naquilo que a diferencia perante a concorrência e passa para terceiros o que não é foco na sua atividade”. (DIEESE, 1993, p.6). Desta forma, a terceirização evoluiu cada vez mais de atividades de apoio como limpeza, segurança, alimentação, manutenção predial, transporte, apoio jurídico, assistência social, recepção, comunicação, entre outras, em direção a etapas cada vez mais importantes do processo produtivo. Como discute Borges e Druck (2002), em pesquisa para avaliar a evolução da terceirização depois de uma década, os dados mostraram que, em 2000, do total de empresas, 100% no setor industrial, 83% no agrobusiness, 94% nos serviços e 44% no comércio, trabalhavam com terceirizados..

(33) Na terceirização "o fabricante tradicional abandona suas linhas industriais em favor de fornecedores mais preparados em termos de custos" (FARIA, 1994, p.43). Em função disso, a atenção da empresa é redirecionada para funções como a gerência da qualidade da produção de terceiros, do marketing e da distribuição. Entre os objetivos mais comuns que Faria (1994) associa aos processos de terceirização estão: redução de encargos sociais; promoção de mudanças organizacionais; racionalização produtiva (fixar-se no estratégico); especialização flexível (contratante apenas administra a relação fornecedor, produção e mercado) e quebra do movimento sindical.. Amaro Neto (1995) por sua vez, nos lembra que o fundamento da terceirização se encontra no Modelo Japonês, da produção enxuta, da qualidade total e da produção just-in-time. Portanto, a introdução da terceirização deveria se dar juntamente com os princípios de gestão do genuíno modelo japonês (promoção por antiguidade e por mérito, estabilidade no emprego, trabalho em grupo) que lhe dão sustentação e sentido conforme foi explicitado no capítulo 2 deste trabalho. No entanto, o que se tem observado, em nível de Brasil, é a implantação isolada e oportunista da terceirização, num quadro que em nada se assemelha ao das empresas japonesas.. È neste sentido que Faria (1994) analisa que, no Brasil, pode-se identificar dois tipos de terceirização – um considerado autêntico, que integra uma estratégia relacional, com tecnologias gerenciais de qualidade, buscando a parceria em todo fluxo produtivo, e outro denominado “espúrio” que busca apenas reduzir custos, mantendo o antagonismo entre os empregados e o movimento sindical.. Com relação aos fatores que levam as empresas a terceirizarem suas atividades, no documento do DIEESE (1993), estes estão sintetizados da seguinte forma:. 1 – Uma forma de adequar a relação volume produzido e retorno obtido;. 2 – Através de unidades “focalizadas” a empresa pode atingir o volume de produção ideal de cada processo, na medida em que não produz apenas para o consumo interno à fábrica;. 3 – Focalizando as atividades, tende a haver uma diminuição da diversidade das formas organizacionais, facilitando a gestão empresarial;.

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