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A Morfologia Distribuída e as peças da nominalização : morfofonologia, morfossintaxe, morfossemântica

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Academic year: 2021

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(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM

MAURÍCIO SARTORI RESENDE

A

M

ORFOLOGIA

D

ISTRIBUÍDA E AS PEÇAS DA NOMINALIZAÇÃO

:

M

ORFOFONOLOGIA

,

MORFOSSINTAXE

,

MORFOSSEMÂNTICA

Campinas

(2)

MAURÍCIO SARTORI RESENDE

A

M

ORFOLOGIA

D

ISTRIBUÍDA E AS PEÇAS DA NOMINALIZAÇÃO

:

M

ORFOFONOLOGIA

,

MORFOSSINTAXE

,

MORFOSSEMÂNTICA

Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Linguística.

Orientador: Profa Dra. Maria Filomena Spatti Sândalo

Este exemplar corresponde à versão final da Tese defendida pelo aluno Maurício Sartori Resende e orientada pela Profa. Dra. Maria Filomena Spatti Sândalo

Campinas 2020

(3)

Biblioteca do Instituto de Estudos da Linguagem Leandro dos Santos Nascimento - CRB 8/8343

Resende, Maurício Sartori,

R311m ResA Morfologia Distribuída e as peças da nominalização : morfofonologia, morfossintaxe, morfossemântica / Maurício Sartori Resende. – Campinas, SP : [s.n.], 2020.

ResOrientador: Maria Filomena Spatti Sândalo.

ResTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem.

Res1. Nominalização. 2. Derivação regressiva. 3. Língua portuguesa - infinitivo. 4. Morfologia distribuída. I. Sândalo, Maria Filomena Spatti. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Distributed Morphology and the pieces of nominalization :

morphophonology, morphosyntax, morphosemantics

Palavras-chave em inglês:

Nominalization

Regressive derivation

Portuguese language - Infinitive Distributed Morphology

Área de concentração: Linguística Titulação: Doutor em Linguística Banca examinadora:

Maria Filomena Spatti Sândalo [Orientador] Ruth Elisabeth Vasconsellos Lopes

Ana Paula Scher

Alessandro Boechat de Medeiros Andrew Ira Nevins

Data de defesa: 09-03-2020

Programa de Pós-Graduação: Linguística

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a) - ORCID do autor: http://orcid.org/0000-0001-7487-5043

- Currículo Lattes do autor: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visu

(4)

Maria Filomena Spatti Sândalo

Ruth Elisabeth Vasconcellos Lopes

Ana Paula Scher

Andrew Ira Nevins

Alessandro Boechat de Medeiros

IEL/UNICAMP 2020

Ata da defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no SIGA/Sistema de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria de Pós Graduação do IEL.

(5)

Nihil est in intellectu quod prius non fuerit in sensu, nisi intellectus ipse

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À minha mãe

À minha irmã

À minha avó Leonida

(in memoriam)

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus, por permitir a conclusão de mais uma etapa da minha carreira e da minha vida; por ter me dado saúde, paciência e sabedoria para enfrentar os desafios e para lidar com as dificuldades.

À minha mãe, Lilyane, por seu amor, sua amizade e por seu apoio constante e incondicional, pelo desejo de participar da minha vida e por estar perto em todos os momentos. Ao meu pai, Paulo, por sua preocupação, pelo investimento e por fazer parte da minha vida. À minha irmã Débora, por tornar “perto” e “longe” pontos de vista; por me entender, me defender e sempre me apoiar; agradeço a ela também por seu amor e sua amizade.

À minha orientadora, Maria Filomena Spatti Sândalo, pela seriedade e pela competência com que orientou a elaboração e o desenvolvimento da minha tese. Agradeço a ela pela valiosa interlocução, por estar sempre disponível e também por ser paciente nos meus momentos de teimosia. Sou grato a ela ainda pelo seu constante incentivo e pela sua participação ativa nesta minha trajetória.

À minha banca de defesa: Andrew Ira Nevins, Alessandro Boechat de Medeiros, Ruth Elisabeth Vasconcellos Lopes e, especialmente, Ana Paula Scher, pela leitura cuidadosa e detalhada da minha tese, por todas observações, questões e comentários, que fizeram com que a versão final da minha tese, mas também o meu amadurecimento acadêmico, desse um grande salto de qualidade.

À minha banca de qualificação de tese: Maria Cristina Figueiredo Silva e Renato Basso, pela leitura atenciosa da primeira versão do meu trabalho e por todas as suas sugestões, correções a apontamentos que ajudaram a levar o texto à sua versão final.

À minha banca de qualificação de área: Mário Viário, Alina Villalva e, de forma muito especial, ao meu orientador desse trabalho, Emílio Paggotto, por sua interlocução, pelo aceite em trabalhar comigo em um tema novo e desafiador; por sua competência e presteza.

A todos os professores da UNICAMP que contribuíram para a excelência da minha formação e do meu amadurecimento acadêmico e intelectual, em especial:

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Rodolfo Ilari, Ruth Elizabeth Vasconcellos Lopes, Sonia Cyrino, Emílio Paggotto. Também agradeço aos professores da USP: Raquel Santana dos Santos, Marcelo Barra Ferreira e, em especial, Ana Paula Scher, pela sua contribuição na minha formação e pelo acolhimento, que me ajudou a fazer da USP uma segunda casa.

Um agradecimento especial também para Renato Miguel Basso, Roberta Pires de Oliveira, Ataliba Teixeira de Castilho, Marcelo Barra Ferreira, Christina Schimtt, Guillaume Thomas, além de Ruth Elizabeth Vasconcellos Lopes e Sonia Cyrino, por terem se encontrado comigo (presencial ou virtualmente) para discutir pontos específicos da minha pesquisa em desenvolvimento. Agradeço a eles por sua presteza, atenção e por todas suas observações e sugestões, que me auxiliaram a entender melhor meus problemas de pesquisa.

À Beatriz, por ter sido a grande interlocutora do meu Doutorado; pelas centenas de áudios gravados e de mensagens trocadas; pelas horas de Skype, pela troca de visitas e por toda a interlocução durante esta minha trajetória. Agradeço a ela pela grande e frutífera parceria acadêmica e por ter sido expectadora e leitora do meu trabalho por esses quatro anos – o que me ensinou muito. Além disso, sou grato a ela principalmente pela sua amizade, pela sua companhia, pelas conversas e pelo estreitamento dos nossos laços.

Ao Paulo Ângelo, por ter sido o meu grande amigo na UNICAMP e por ter sido a minha grande conquista de Doutorado em termos de parceria e interlocução acadêmica. Agradeço a ele também pela sua presteza e, em particular, pela sua enorme disposição para me ajudar a encontrar material bibliográfico. Sou grato a ele também pelas nossas conversas, pelos nossos devaneios, pela troca de visitas, pela sua companhia e, em especial, pela sua cumplicidade.

À Vanessa, pelos mais de 11 anos de amizade, lealdade e carinho. Agradeço a ela por estar, mesmo de longe, sempre presente na minha vida e também pelo seu interesse na minha vida acadêmica. Sou grato a ela pelo compartilhamento de valores, piras e ideias bem como pelas mais de mil horas de telefonemas e áudios, além das milhares de mensagens trocadas. Agradeço a ela pelas risadas, pela sua companhia e pela importância que tem na minha vida.

À Jéssica, por mais de uma década de amizade e companheirismo, pelo grande número de histórias, experiências e lembranças. Sou grato ainda pelos seus

(9)

ouvidos, pelo compartilhamento de valores, desejos e, sobretudo, pelas nossas piras – inclusive as piras erradas.

À Rosana, por sua amizade, pelo seu carinho – ao mesmo tempo maternal e amigo – e pela sua perspectiva das coisas, que tanto me ensinou. Também sou grato a ela pela sua presença cada vez mais constante e importante na minha vida.

Ao Willian Diego, pelos quase dez anos de amizade (e aprendizado) e por todas as vivências compartilhadas. Agradeço também a ele por ter me ajudado a tornar mais leve e agradável o percurso do meu Doutorado.

Ao Francisco, por ter sido um grande companheiro e interlocutor; por tantos momentos agradáveis e por sua boa companhia, dentro e fora da universidade.

Agradeço ao CNPq por ter financiado a minha pesquisa de Doutorado, com taxa de bancada, processo 141644/2016-8 e também à UNICAMP por ter me contemplado com bolsa PED (Programa de Estágio de Docência) por quatro, dos seis semestres, em que atuei como professor estagiário.

(10)

RESUMO

Esta tese trata do fenômeno da NOMINALIZAÇÃO no português brasileiro sob a ótica dos diferentes componentes da arquitetura da gramática. Mais especificamente, assumindo a teoria da MORFOLOGIA DISTRIBUÍDA, uma versão não lexicalista do modelo teórico da

GRAMÁTICA GERATIVO-TRANSFORMACIONAL, a presente tese investiga o fenômeno da NOMINALIZAÇÃO ZERO (que a tradição gramatical trata como “derivação regressiva”) e a relação das nominalizações com a classe de INFINITIVOS (formas verbais e/ou nominais

cuja grafia assume sempre a presença de um -r). Primeiramente, este estudo propõe uma espécie de tipologia para as nominalizações, com base em suas propriedades estruturais internas, e divide-as em quatro grandes grupos, a saber, nominalizações de raiz, de evento, de resultado, de participante. A presente análise mostra que cada um desses grupos apresenta propriedades sintáticas (e semânticas) distintas e que a melhor forma de descrevê-las e explicá-las é por meio de um modelo sintático de formação de palavras. Posteriormente, este tese, em uma interface direta com a SEMÂNTICA FORMAL, apresenta uma proposta de representação lógica (e enciclopédica) para os diferentes tipos de nominalizações propostos, dando ênfase a questões relacionadas à categoria de

ASPECTO. Além disso, o presente trabalho aborda fenômenos subjacentes à ocorrência e ao licenciamento das VOGAIS TEMÁTICAS e à marcação de Caso nas nominalizações e, em seguida, investiga fenômenos morfofonológicos que cercam a oposição entre verbos e nomes, tais como alomorfia, abaixamento e marcação de acento. Adicionalmente, esta tese investiga o fenômeno da CICLICIDADE nos processos de formação de palavras, à luz

de desdobramentos recentes da teoria da Morfologia Distribuída, e mostra que um certo conjunto de fenômenos empíricos observados nas nominalizações zero do português (a saber, harmonia vocálica, truncamento fonológico, abaixamento, marcação de acento, alomorfia, escolha da vogal temática, significado não composicional) depõe contra o estatuto cíclico do categorizador verbal, como formulado pela teoria. Por fim, o presente estudo investiga a relação entre as nominalizações e os infinitivos (tratados pela tradição como “uma das formas nominais do verbo”) e propõe uma tipologia para essa classe, com base em suas propriedades estruturais (e semânticas) internas, subdividindo-a em três grandes grupos: infinitivos nominais, mistos, verbais. A subclasse de infinitivos verbais é a mais heterogênea e divide-se em infinitivos irrealis e infinitivos simultâneos (com uma ou duas interpretações aspectuais); em adição a isso, esta análise também tece alguns comentários sobre os INFINITIVOS RAIZ, formas que aparecem esporadicamente

na fala de crianças adquirindo o português. A respeito dos infinitivos, esta tese defende que a presença de -r em todas as suas ocorrências se deve à codificação de aspecto imperfectivo nessas estruturas, mas que o diferente estatuto morfofonológico desse morfema se deve à sua superficialização ora como nominalizador ora como morfema (cumulativo) verbal. Em síntese, a presente tese advoga fortemente em favor de uma análise sintática (não lexicalista) para a formação de palavras e defende que mesmo as estruturas nominais (inclusive as que são tratadas como instâncias de “lexicalização”) podem ser derivadas a partir de uma estrutura altamente composicional e previsível.

(11)

ABSTRACT

This thesis deals with the phenomenon of NOMINALIZATION in Brazilian Portuguese, in the light of the different components of grammar architecture. More specifically, assuming the DISTRIBUTED MORPHOLOGY framework, a non-lexicalist version of the

GENERATIVE-TRANSFORMATIONAL GRAMMAR theory, this thesis investigates both the

phenomenon of ZERO-NOMINALIZATION (the so-called “backward formation”) and the relation between nominalizations and the INFINITIVE class (nominal and/or verbal forms,

whose orthography assumes the presence of an -r). Firstly, this case-study proposes a typology for nominalizations, based on their inner structural properties and splits them off in four big groups, namely, root-nominals, event-nominals, result-nominals, participant-nominals. This analysis shows that each of them exhibits different syntactic (and semantic) properties and that the best way to describe them and explain their behavior is by assuming a syntactic approach for word formation. Moreover, this thesis, in a narrow interface with FORMAL SEMANTICS, presents a proposal for logical (and encyclopedic) representation of nominalizations, focusing on issues concerning ASPECT.

Furthermore, this work approaches phenomena underlying occurrence and licensing of

THEME VOWELS and Case-marking in nominalizations and it also investigates morphophonological phenomena surrounding the contrast between verbs and nouns, such as allomorphy, lowering and stress-marking. Additionally, this thesis investigates the CICLICITY-phenomenon in the processes of word formation, in the light of current developments of Distributed Morphology theory and argues that a set of empirical facts, observed in Portuguese zero-nominalizations (vowel harmony, truncation, lowering, stress-marking, allomorphy, choose of theme vowel, non-compositional meaning) argue against the cycle-head status of the verbalizer head, as stated by the theory. Lastly, this case-study investigates the relation between nominalizations e infinitive forms (treated by the tradition as “one of the nominal forms of the verb”) and proposes a typology for this class, based on their structural (and semantic) properties, splitting them off in three big groups, namely, nominal infinitives, mixed infinitives, verbal infinitives. The subclass of verbal infinitives is the most heterogeneous and one can still split them off in irrealis infinitives and simultaneous infinitives (with one or two aspectual readings). Moreover, the present analysis also offers some remarks on ROOT-INFINITIVES, verbal

forms which sporadically appear in the speech of children acquiring Portuguese. As regards the infinitive class, this thesis argues that the occurrence of -r in all of their instances is due to the imperfective aspect feature in these structures, but the different morphophonological status of it is due to its appearance as both as nominalizer and a verbal (inflectional) morpheme. In short, the present thesis strongly argues for a syntactic (non-lexicalist) approach for word formation and claims that even nominal structures (including those which are treated as cases of “lexicalization”) can be derived from a highly compositional and predictive structure.

(12)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Arquitetura da gramática assumida pela Morfologia Distribuída ... 29

Figura 2: Ramificação para LF na arquitetura da gramática ... 88

Figura 3: Hierarquia de marcação de aspecto gramatical ... 121

Figura 4: Ramificação para PF na arquitetura da gramática ... 135

(13)

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 1: Ocorrência das vogais temáticas em pares verbo/nome ... 140

Tabela 2: Relação entre vogais temáticas verbais e nominais ... 141

Quadro 1: Resumo das propriedades sintáticas dos núcleos funcionais ... 57

Quadro 2: Resumo da análise estrutural do capítulo 1 ... 86

Quadro 3: Resumo das representações lógicas do capítulo 2 ... 134

Quadro 4: Distribuição de nomes e verbos de acordo com a classe ... 140

Quadro 5: Pares verbo/nome no cruzamento das classes ... 141

Quadro 6: Resumo da classificação estrutural e semântica do capítulo 5 ... 266

(14)

LISTA DE ABREVIATURAS

ACC acusativo (do inglês, accusative)

AdvP sintagma adverbial (do inglês, adverbial phrase)

Agr concordância (do inglês, agreement)

AgrP sintagma de concordância (do inglês, agreement phrase)

Asp aspecto

AspP sintagma de aspecto (do inglês, aspectual phrase)

ATV ativo

D determinante

DEL Déficit Específico de Linguagem

DP sintagma determinante (do inglês, determiner phrase)

ECM Marcação Excecional de Caso (do inglês, exceptional Case-marking)

EPP Princípio da Projeção Estendida (do inglês, Extended Projection Princple)

EPIS epistêmico

FP projeção funcional (do inglês, functional projection)

G generalização

GEN genitivo

GGT Gramática Gerativo-Transformacional

GU Gramática Universal

H hipótese

I flexão (do inglês, inflection)

Inf infinitivo

(15)

LF Forma Lógica (do inglês, Logical Form)

MD Morfologia Distribuída

MR momento de referência

MS Estrutura Morfológica (do inglês, Morphological Structure)

N nome

NP sintagma nominal (do inglês, nominal phrase)

NOM nominativo

PASS passivo

PB português brasileiro

PE português europeu

PF Forma Fonética (do inglês, Phonetic Form)

R referencial

RAE regra de análise estrutural

RFP regra de formação de palavra

Spec especificador

T tempo

TP sintagma temporal (do inglês, temporal frase)

TT momento de referência (do inglês, topic time)

V verbo

VozP sintagma de voz (do inglês, voice phrase)

(16)

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ... 18 1. NOMINALIZAÇÕESEDERIVAÇÃO ... 35 INTRODUÇÃO ... 35 1.1.NOMINALIZAÇÕESNOLÉXICO ... 38 1.2.NOMINALIZAÇÕESNASINTAXE ... 44 1.2.1. NOMINALIZAÇÃO DE RAIZ ... 52 1.2.2. NOMINALIZAÇÃO DE EVENTO ... 54 1.2.3. NOMINALIZAÇÃO DE RESULTADO ... 75 1.2.4. NOMINALIZAÇÃO DE PARTICIPANTE ... 81 1.3.CONCLUSÕESDOCAPÍTULO ... 85 2. NOMINALIZAÇÕESELF ... 88 INTRODUÇÃO ... 88

2.1.NOMINALIZAÇÕESEREPRESENTAÇÃOLÓGICA ... 91

2.2.NOMINALIZAÇÕESEASPECTO ... 103 2.2.1. ASPECTO GRAMATICAL ... 108 2.2.2. VERBALIZAÇÃO ... 123 2.3.NOMINALIZAÇÕESEENCICLOPÉDIA ... 128 2.4.CONCLUSÕESDOCAPÍTULO ... 133 3. NOMINALIZAÇÕESEPF... 135 INTRODUÇÃO ... 135 3.1.NOMINALIZAÇÕESEMS ... 138 3.1.1. VOGAIS TEMÁTICAS... 138 3.1.2. CASO ... 149

3.2.NOMINALIZAÇÕESEINSERÇÃODEVOCABULÁRIO ... 155

3.2.1. ALOMORFIA ... 165

3.2.2. ACENTO ... 171

3.3.CONCLUSÕESDOCAPÍTULO ... 176

4. NOMINALIZAÇÕESECICLICIDADE ... 178

INTRODUÇÃO ... 178

4.1.OSCICLOS NA FORMAÇÃO DE PALAVRAS ... 181

(17)

4.2.1. PROBLEMAS FONOLÓGICOS ... 190

4.2.2. PROBLEMAS MORFOLÓGICOS ... 199

4.2.3. PROBLEMAS SEMÂNTICOS ... 203

4.3.CONCLUSÕESDOCAPÍTULO ... 206

5. NOMINALIZAÇÕESEACLASSEDOSINFINITIVOS ... 209

INTRODUÇÃO ... 209 5.1.INFINITIVOSNOLÉXICO ... 210 5.2.INFINITIVOSNASINTAXE ... 213 5.2.1. INFINITIVOS NOMINAIS ... 214 5.2.2. INFINITIVOS MISTOS ... 223 5.2.3. INFINITIVOS VERBAIS ... 238 5.2.3.1.INFINITIVOS IRREALIS ... 238 5.2.3.2.INFINITIVOS SIMULTÂNEOS ... 247 5.2.4. PROBLEMAS REMANESCENTES ... 251

5.2.4.1.INFINITIVOS SIMULTÂNEOS COM DUPLA LEITURA ... 251

5.2.4.2.INFINITIVOS RAIZ ... 259

5.3.CONCLUSÕESDOCAPÍTULO ... 265

CONCLUSÃO ... 270

(18)

INTRODUÇÃO

Esta tese trata do fenômeno da NOMINALIZAÇÃO no português à luz dos diferentes componentes da arquitetura da gramática. Tradicionalmente, “nominalização” tem aparecido na literatura para fazer referência ao processo de formação de nomes a partir de verbos ou ao produto desse processo, como sinônimo de NOME DEVERBAL. Alternativamente, de uma maneira menos comprometida com a direção da formação vocabular, o termo “nominalização” tem sido empregado para denominar a relação paradigmática entre verbos e nomes no que concerne ao compartilhamento de certas propriedades sintáticas e semânticas.

Um exemplo desse compartilhamento é a denotação de EVENTUALIDADES, ou seja,

alguns nomes, assim como seus correlatos verbais, podem denotar EVENTOS ou ESTADOS

como mostram os exemplos em (1) e (2). A ocorrência de modificadores aspectuais, tais como frequente(mente) e constante(mente), sinaliza a leitura de eventualidade.

(1) (a) A secretaria entrega frequentemente as correspondências durante a reunião. (b) A entrega frequente de correspondências durante a reunião (irrita o patrão). (2) (a) O Pedro despreza constantemente a atual namorada do Marcos.

(b) O desprezo constante pela atual namorada do Marcos (entristece a Ana).

Em adição à possibilidade de veicular a mesma leitura semântica, já é de longa data o interesse pelo fato de que, assim como os verbos, as suas nominalizações correspondentes (que denotam eventualidades) parecem apresentar uma ESTRUTURA ARGUMENTAL ou GRADE TEMÁTICA, ou seja, a seleção de argumentos, como acontece

nos verbos – o que pode ser observado em (3) e (4).

(3) (a) O orador conquistou a simpatia da plateia. (b) *O orador conquistou.

(c) *Conquistou a simpatia da plateia.

(4) (a) A conquista da simpatia da plateia pelo orador (foi imediata). (b) A conquista da simpatia da plateia (foi imediata).

(19)

O que os dados em (3) e (4) mostram é que existe um comportamento semelhante entre conquistou e conquista no que diz respeito à ocorrência de argumentos. Mais especificamente, a projeção do argumento interno (a simpatia da plateia) parece ser obrigatória nos contextos verbal e nominal, como indica a agramaticalidade de (3b) e (4c). Porém, ainda que a projeção do argumento externo de conquistou (o orador) seja necessária, como aponta a agramaticalidade de (3c), no caso do nome conquista, ela é apenas opcional, o que é verificado na boa formação de (4b), ainda que a interpretação de agente do evento esteja plenamente (isto é, tematicamente) disponível. Nesse caso, então, o estatuto de pelo orador em (4a) é potencialmente o de adjunto, como ocorre em construções passivas do tipo de a simpatia da plateia foi conquistada (pelo orador).

Pondo de lado esses casos, a despeito de haver um compartilhamento de propriedades sintáticas e semânticas entre verbos e suas nominalizações correlatas, existem certos fenômenos que parecem espelhar mais transparentemente a distribuição nessas duas categorias. Tais fenômenos jazem, sobretudo, no nível da (morfo)fonologia e da morfologia. Para citar um exemplo, os dados em (5) e (6) mostram que, apesar de a denotação de eventualidade e a projeção de argumentos serem fundamentalmente as mesmas para verbos e nomes, a forma da raiz depende da categoria do elemento.

(5) (a) O aluno defendeu a tese. (b) A defesa da tese pelo aluno. (6) (a) O menino caiu,

(b) A queda do menino.

A observação dos dados em (5) revela que a forma da raiz é /defeNd/ no caso do verbo, mas /defez/ no caso do nome. Tal diferença é vista igualmente nos dados em (6): /ka/ na raiz verbal, e /ked/ na raiz nominal. Além dessa alomorfia categorial, é possível encontrar em pares verbo/nome uma alternância fonológica no nível suprassegmental, isto é, ainda que a atribuição de acento seja regular no domínio verbal, algumas nominalizações apresentam um acento idiossincrático, não somente em relação ao seu verbo correspondente, mas também ao próprio padrão acentual do português brasileiro (PB), como pode ser visto em (7) e (8).

(7) (a) O professor analisou os dados.

(20)

(8) (a) O Pedro terminou o namoro.

(b) O término (*termino) do namoro pelo Pedro.

A respeito de (7) e (8), ainda que a forma morfológica da raiz seja a mesma para verbos e nomes (no caso, /analiz/ e /teRmin/), a atribuição de acento para os nomes foge ao padrão paroxítono do PB, o qual pode ser exemplificado pelas nominalizações em (1b), (2b), (4a), (5b) e (6b), apesar do mesmo comportamento sintático (projeção argumental/temática) e semântico (denotação de eventualidade).

Na verdade, o conjunto de fenômenos arrolados, que subjaz à relação entre verbos e suas nominalizações correlatas, está longe de ser exaustivo, além de haver ainda uma série de diferenças (fonológicas, morfológicas, sintáticas e semânticas) entre as próprias nominalizações, as quais são mais bem exploradas nos capítulos que seguem. Seja como for, essas breves considerações servem para ilustrar o vasto domínio empírico que cerca a relação entre verbos e nomes.

Além disso, os exemplos dados anteriormente parecem ilustrar uma ideia recente na teoria linguística de que a sintaxe (e consequentemente a semântica que se depreende dela) é universal e que as diferenças encontradas na(s) língua(s) se apresentam no nível da morfologia – as “imperfeições” da gramática, no sentido de Chomsky (2000, 2001). Dito de outro modo, o compartilhamento de propriedades entre verbos e (algumas das) suas nominalizações correlatas está no nível da sintaxe e da semântica, mas as características específicas a cada categoria estão no nível da morfofonologia.

Do ponto de vista teórico, o fenômeno da nominalização através das línguas naturais tem sido um dos principais tópicos da teoria linguística, sobretudo porque a postulação de mecanismos que explicam o comportamento híbrido das nominalizações, isto é, a exibição de propriedades prototípicas atribuídas a mais de uma classe envolve questões subjacentes à própria arquitetura da gramática. Mais especificamente, ainda que a separação entre verbos e nomes esteja na base das primeiras reflexões linguísticas da História (nas “partes do discurso” de Aristóteles), uma teoria sobre a faculdade da linguagem deve ser capaz de explicar não somente em que medida verbos e nomes diferem, mas também como verbos e (alguns) nomes compartilham um certo conjunto de propriedades.

(21)

A respeito disso, muito embora nas primeiras versões da Gramática Gerativo-Transformacional (GGT), a morfologia tenha ocupado um espaço praticamente nulo (aparecendo apenas como resultado de transformações sintáticas ou produto de regras fonológicas), alguns trabalhos já haviam chamado a atenção para uma certa correspondência semântica entre alguns sintagmas verbais e seus correlatos nominais.

Não é objetivo desta introdução, nem tampouco desta tese, apresentar um percurso histórico (comparativo) detalhado acerca das nominalizações na teoria linguística1.2 Porém, cumpre tecer alguns comentários a respeito do papel fundamental que o fenômeno da nominalização teve (e ainda tem) nas mais diversas versões da GGT, inclusive como critério para avaliar o grau de sucesso da adequação observacional e da adequação descritiva de um dado modelo.

Pioneiro no tratamento das nominalizações, operando dentro do modelo da TEORIA PADRÃO, Lees (1960), defensor da hipótese transformacionalista, propunha que

as nominalizações eram o produto de regras transformacionais que se aplicavam sobre a

ESTRUTURA PROFUNDA de uma SENTENÇA FONTE, através de alguns processamentos no

componente transformacional. A essência da proposta de Lees era a de que uma nominalização como o grito do menino era derivada transformacionalmente a partir da sentença fonte o menino gritou, por meio de algumas mudanças estruturais, expressas por regras, que envolviam, por exemplo, o apagamento de T, a adposição do sufixo à raiz, a inserção da preposição de etc.

De uma maneira mais técnica, a uma S1 aplicavam-se regras transformacionais que geravam S2, mantendo a relação (sintática e semântica) existente entre o verbo e sua nominalização – ou nos termos do autor, o “nome de ação”. Posteriormente, opondo-se ao tratamento transformacionalista de Lees para os nomes de ação, Chomsky (1970) defende que nem todas as nominalizações podem ser resultado de transformações sintáticas, já que elas não apresentam um comportamento uniforme.

Com base nos dados do inglês, Chomsky argumenta que as NOMINALIZAÇÕES GERUNDIVAS (aquelas formadas por meio da adjunção do morfema de gerúndio -ing) são substancialmente diferentes, em vários níveis, das NOMINALIZAÇÕES DERIVADAS (ou

1

Para tanto, cf. Spencer (1991), Mendikoetxea & Uribe-Etxebarria (1997) e Scalise & Guevara (2005).

2 Por essa mesma razão, esta tese não faz referência explícita à maneira como as nominalizações ou – de

modo mais geral – a relação entre verbos e nomes, é tratada pela tradição gramatical (prototipicamente representada pelas gramáticas tradicionais e pelos manuais escolares) ou pelo ESTRUTURALISMO (corrente de pensamento que precedeu a GGT).

(22)

seja, daquelas que empregam sufixos derivacionais, como -al, -ation etc.). Exemplos desses dois grupos podem ser vistos em (9).

(9) (a) John‟s moving the box. (inglês) „João mover a caixa‟

(b) John‟s movement of the box. (inglês) „o movimento da caixa por João‟

De acordo com o autor, a hipótese transformacionalista para as nominalizações mascara diferenças fundamentais entre os nominais gerundivos e os nominais derivados que envolvem questões relacionadas à (i) produtividade, (ii) interpretação, (iii) estrutura interna. Mais especificamente, segundo a argumentação de Chomsky, é possível gerar nominalizações gerundivas a partir da estrutura subjacente de uma sentença base de uma maneira bastante livre, o que não é verdade para as nominalizações derivadas. Dito de outra forma, com poucas exceções, para cada verbo do inglês, pode-se formar um nome em -ing, generalização que não pode ser feita para outros sufixos nominalizadores, tais como -ation, -al, -ment, -age etc.

Em segundo lugar, a intepretação atribuída aos nominais gerundivos é direta em termos da relação gramatical com a PROPOSIÇÃO expressa na estrutura profunda, o que

não se verifica para os nominais derivados, isto é, a leitura de eventualidade e a estrutura argumental dos verbos se preservam nas nominalizações gerundivas, mas são imprevisíveis nos nominais derivados. Um terceiro ponto de divergência entre esses dois tipos de nome versa sobre a sua estrutura interna, a saber, ao passo que os nominais derivados se comportam prototipicamente como nomes, as nominalizações gerundivas têm um comportamento caracteristicamente verbal.

Assim, diante do comportamento não uniforme das nominalizações do inglês, Chomsky (1970) é levado a assumir uma posição lexicalista e defende, como Lees (1960), que as nominalizações gerundivas são resultado de transformações sintáticas, mas que as nominalizações derivadas são geradas no léxico. No modelo de Chomsky, o compartilhamento de propriedades sintáticas e semânticas (isto é, a transparência na interpretação com relação ao que o verbo denota) entre verbos e suas nominalizações derivadas correspondentes pode ser capturado pela postulação de uma entrada lexical neutra, à qual estão associadas propriedades de seleção e subcategorização. Ademais, as propriedades distribucionais idiossincráticas devem vir especificadas de acordo com a

(23)

categoria. Um conjunto de regras morfológicas idiossincráticas vai determinar a forma fonológica de tal entrada quando ela aparecer em uma posição nominal.

Por sua vez, as nominalizações gerundivas continuam sendo tratadas por Chomsky como produto de transformações sintáticas, dada sua semelhança com os sintagmas verbais e sua transparência em relação a eles. Pondo de lado esses casos, o comportamento não previsível das nominalizações em relação aos seus verbos cognatos pode ser exemplificado pelos dados do PB em (10) e (11), nos quais, a interpretação sintática e/ou a leitura semântica do nome destoa daquela depreendida do verbo – ainda que um cerne semântico comum possa ser recuperado.

(10) (a) O juiz arquivou o processo. (b) #O arquivo do processo. (11) (a) A Maria culpou a justiça.

(b) #A culpa da justiça.

Como argumenta Chomsky, casos como os que aparecem em (10) e (11) ilustram o comportamento de significado idiossincrático das nominalizações derivadas em relação aos seus verbos correlatos, isto é, ainda que se preserve um certo conteúdo semântico comum entre verbo e nome, a leitura disparada pelo morfema lexical no ambiente nominal é idiossincrática em relação à proposição expressa pelo verbo. Para dar conta de casos como estes, Chomsky (1970) postula entradas lexicais individuais para verbos e nomes, com traços de subcategorização específicos e REGRAS DE REDUNDÂNCIA que relacionam esses itens, com o intuito de explicar de que modo é

possível associar entradas lexicais distintas.

A despeito da sugestão de regras morfológicas/lexicais e da postulação de regras de redundância (bem como do reconhecimento de uma recursividade morfológica), a proposta de Chomsky não fornece, de fato, refinamentos sobre a maneira como os itens lexicais são formados no léxico e/ou como se relacionam entre si. Assim, nesse contexto, surgiram posteriormente muitas propostas para a implementação de uma morfologia derivacional, assumindo a posição lexicalista.

Dentre essas propostas, talvez a mais influente e mais bem-sucedida (e, por essa razão, a principal representante de um modelo lexicalista de morfologia baseado em palavra) tenha sido a de Aronoff (1976). Para esse autor, as palavras são formadas no

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léxico por meio da aplicação de REGRAS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS (RFPs) a itens

pré-existentes. Nesse modelo, os morfemas são entendidos não como uma unidade formal, portadora de som e significado, mas sim como regras (isto é, RFPs) que operam sobre itens lexicais listados de modo a formar palavras derivadas. Assim, sob essa perspectiva, as nominalizações são o resultado da aplicação de RFPs a verbos, como aparece ilustrado em (12).

(12) [X]V Y → [[X]V Y]N

O esquema em (12), inspirado em Aronoff (1976, p.49), representa a RFP que forma nomes deverbais, ou seja, nomes formados a partir de verbos. Tal regra determina que a um dado verbo BASE X se aplica uma regra Y que gera como PRODUTO um nome.

Na proposta do autor, casos de alomorfia de raiz, como aqueles mostrados em (5) e (6), seriam tratados por meio de REGRAS DE AJUSTE, em que o output de uma RFP sofre um

certo tipo de ajuste (ou seja, uma alteração na sua forma no contexto de outro morfema) antes da aplicação das regras fonológicas.

Com relação às propriedades semânticas das nominalizações nesse modelo, isto é, dos nomes formados a partir de verbos no léxico por meio de RFPs do tipo de (12), Aronoff (1976) não chega a fazer comentários explicitamente sobre propriedades como leitura de eventualidade, exemplificadas por (1) e (2), ou projeção argumental/temática, ilustrada em (3) e (4), ainda que afirme, de maneira geral, que uma RFP é coerente à medida que se pode prever o significado de um vocábulo qualquer a partir da palavra que serviu de base para sua formação.

A respeito disso, muito embora a proposta de Aronoff esteja em convergência com a intuição de Chomsky (1970) acerca do compartilhamento das propriedades semânticas entre verbos e suas nominalizações, é Williams (1981) o primeiro a aventar uma teoria sobre, de fato, a relação entre morfologia e estrutura argumental, tendo em vista que a estrutura de argumento na sintaxe mantém uma relação estrita com a marcação-θ que, no limite, determina como tais argumentos devem ser interpretados.

Assumindo igualmente a posição lexicalista, Williams entende que a realização das relações temáticas é independente das relações gramaticais; isso porque, embora a marcação-θ de um dado item lexical preveja certos participantes, a configuração

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sintática em que eles devem aparecer depende da categoria. Por exemplo, para um verbo, ao passo que seu(s) argumento(s) interno(s) fica(m) dentro do VP, seu argumento externo (se houver) aparece externo à projeção máxima. Diferentemente, em uma nominalização derivada, o argumento externo fica também alocado dentro da projeção máxima (no especificador de NP ou como adjunto a N‟, por exemplo).

Além disso, na visão de Williams (1981), no que toca a casos como (3) e (4), o que diferencia verbos e nominalizações não são suas propriedades temáticas, mas a configuração sintática em que ocorrem seus argumentos bem como os requerimentos que licenciam tais configurações. Para esse autor, as diferenças nas propriedades de subcategorização dos itens lexicais não precisam estar especificadas nas regras que derivam o nome do verbo (como na RFP de Aronoff), uma vez que elas podem ser capturadas pelo próprio conjunto de particularidades a cada categoria como, por exemplo, a inserção de preposição para atribuir Caso ao tema, no caso dos nomes.

Entretanto, ainda que muitos trabalhos, assumindo a posição lexicalista, tenham ensejado um maior entendimento de fenômenos subjacentes às nominalizações através das línguas, a HIPÓTESE DA INTEGRIDADE LEXICAL – de que os itens lexicais são os

átomos da derivação sintática, e os processos morfológicos independem dos processos sintáticos – passou a enfrentar sérios problemas com a expansão da cobertura empírica e translinguística da GGT e com a própria dimensão do fenômeno da nominalização.

Mais especificamente, a constatação de que as nominalizações não são totalmente opacas aos processos sintáticos enfraqueceu o PRINCÍPIO DA OPACIDADE MORFOLÓGICA –

cf. Spencer (1991) – , segundo o qual, a sintaxe não tem acesso ao percurso derivacional das palavras com que opera, ou seja, o sistema computacional não tem como saber se um nome, sendo o átomo de uma dada derivação sintática, é derivado de um verbo, de um adjetivo ou se é um NOME MORFOLOGICAMENTE BÁSICO (no caso, um elemento não derivado de outro vocábulo; aquele que é listado).

Logo, se a derivação morfológica for mesmo opaca para a sintaxe, não é possível explicar fenômenos como a não uniformidade no movimento de partículas nos verbos frasais (ZUCCHI, 1993; HARLEY & NOYER, 1997), alternâncias causativo-incoativas não previsíveis em pares verbo/nome (MARANTZ, 1996, 1997), anáfora e elipse entre verbos e nomes (FU, ROEPER & BORER, 2001; JOHNSON, 2001), licenciamento de advérbios de VP por nominalizações (HAZOUT, 1995; FU, ROEPER & BORER, 2001;

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ALEXIADOU, 2001), entre outros, que são discutidos com maior detalhe nos capítulos que seguem.

Além disso, um olhar mais atento sobre a estrutura argumental em pares verbo/nome mostrou que o comportamento sintático/semântico bem como o estatuto de “argumento” é muito menos rígido nas nominalizações do que é nos verbos, o que é imediatamente observado no contraste entre (3) e (4). Assim, com base nesses e outros fenômenos, de línguas diferentes, alguns autores, tais como Picallo (1991), Law (1993), Hazout (1995), Engelhardt (2000), Fu, Roeper & Borer (2001), começaram a sugerir, mesmo assumindo uma posição lexicalista, que a formação de algumas nominalizações derivadas devesse igualmente ser feita na sintaxe – em adição ao que já se dizia para as nominalizações gerundivas do inglês, por exemplo.

Adicionalmente às nominalizações, muitos trabalhos sobre morfologia (e sintaxe) começaram a mostrar tanto que a hipótese da integridade lexical era inoperável para uma série de fenômenos nas mais diversas línguas quanto que os próprios domínios entre morfologia (flexão, derivação, composição) e sintaxe eram questionáveis, o que motivou uma série de estudos (e propostas) explorando os limites entre morfologia e sintaxe e a ideia de se tais fronteiras são, de fato, empiricamente motivadas.

Nesse contexto, Halle & Marantz (1993) levaram a intersecção entre morfologia e sintaxe às últimas consequências e propuseram uma teoria de morfologia radical nesse quesito, defendendo que não há na arquitetura da gramática nenhum componente gerativo além da sintaxe. Nessa perspectiva, o quadro da Morfologia Distribuída (MD) postula que não existe um léxico gerativo e que todas as estruturas (palavras, sintagmas, sentenças) são formadas na sintaxe por meio do mesmo conjunto de operações (CONCATENAÇÃO e MOVIMENTO). Nesse modelo, mesmo as estruturas mais simples, como os nomes morfologicamente básicos, resultam de um processo sintático.

Ainda que nos primeiros trabalhos sobre o modelo (HALLE & MARANTZ, 1993, 1994), as discussões giraram em torno da morfologia flexional, Marantz (1996, 1997) revisita a proposta de Chomsky (1970) sobre a alternância transitiva/intransitiva vista nos pares verbo/nome e traz novamente o fenômeno das nominalizações para o centro das discussões sobre teoria linguística e sobre a arquitetura da gramática.

Marantz (1996) afirma que a proposta original de Chomsky (1970) para lidar com o comportamento não uniforme das nominalizações derivadas era sintática e não,

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lexical, e que nesse mesmo trabalho (considerado o instituidor da posição lexicalista), na interpretação de Marantz, é possível encontrar argumentos contra a postulação de que palavras e sentenças são formadas por mecanismos distintos e/ou em componentes diferentes.

Mais especificamente, Marantz (1997) não somente defende, com veemência, que não há motivação empírica robusta em nenhum nível (som, estrutura, significado) para manter a divisão de tarefas entre um léxico gerativo (que forma palavras) e uma sintaxe

gerativa (que forma sentenças) quanto afirma que as próprias ideias apresentadas em

Chomsky (1970) foram mal interpretadas no sentido de que a posição lexicalista de

Chomsky se referia não a adicionar certas operações a um componente chamado

“léxico”, mas sim a estender as regras de base de modo que fosse possível permitir que os nomes, assim como os verbos, tomassem complementos – o que passa a ser possível através da TEORIA X-BARRA.

Na visão de Marantz (1996, 1997), a assimetria sistemática entre nominalizações e sentenças apresenta um problema empírico de importância fundamental, mas sem relação com propriedades idiossincráticas das raízes. Na interpretação do autor para o trabalho de Chomsky, o que é idiossincrático é a relação entre as nominalizações e qualquer sentença das quais elas possam ter derivado, e não a formação de nominalizações derivadas em si, a partir das propriedades da raiz verbal.

Em uma avaliação final, o autor conclui que (i) teorias não lexicalistas não são conceitualmente superiores a teorias lexicalistas e (ii) modelos que não assumem um léxico gerativo não são (e não precisam ser) mais simples do que aqueles que assumem a existência de tal componente. Para Marantz (1997), em síntese, a questão não diz respeito a qual teoria (ou a qual arquitetura de gramática) é mais econômica ou mais agradável, mas sim, a qual teoria está mais correta no que concerne à descrição e à explicação dos fatos empíricos. Para o autor, o fracasso do lexicalismo, ainda que tenha sido um “fracasso nobre”, se deve ao fato de ele fazer previsões falsas.

É verdade que, em alguma medida, os mecanismos responsáveis tanto por gerar palavras quanto por adaptar a forma de uma dada unidade morfológica (um morfema /uma palavra) ao contexto em que ela aparece ocuparam lugares bastante variados na visão modular da faculdade da linguagem proposta pela GGT nas suas diferentes versões. Na Teoria Padrão, como mostrado, para Lees (1960), a formação de palavras

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era feita na sintaxe, mas os casos de variação alomórfica eram tratados por meio de regras fonológicas em PF.

No modelo de PRINCÍPIOS & PARÂMETROS, a POSIÇÃO LEXICALISTA (FRACA)3 de

Chomsky (1970) determinava que a formação de palavras era feita no léxico, mas que um certo conjunto de processos morfológicos ocorria na sintaxe, tais como a formação de nominalizações gerundivas e de alguns compostos e, mais notavelmente, a flexão – ilustrada pelo movimento de V para I nos verbos. Posteriormente, alguns autores, como Picallo (1991), começaram a sugerir que mesmo as nominalizações derivadas (com leitura de eventualidade) e as passivas eventivas eram geradas na sintaxe.

Assim, no limite, a morfologia sempre foi distribuída entre os componentes da gramática. Na verdade, a questão, então, tem sido a de onde alocar as propriedades idiossincráticas das palavras e/ou a qual componente (ou módulo) atribuir os processos gerativos vocabulares e como capturar os diferentes graus de interface com a fonologia e a sintaxe. De todo modo, em se tratando de fenômenos morfológicos, haverá sempre um conjunto de propriedades que deve ser listado – as imperfeições da gramática.

Em resumo, a ideia de distribuir os processos/fenômenos morfológicos é muito anterior à formulação da MD e remete, em última análise, à própria tradição clássica (flexão versus derivação). Talvez a novidade, em termos de teoria da gramática, tenha sido não a de distribuir os fenômenos morfológicos por diferentes componentes, mas sim a de distribuir as propriedades (fonológicas, sintáticas e semânticas) dos então chamados “itens lexicais” entre os diferentes estágios da derivação e atribuir a um único módulo – a sintaxe – a função gerativa de tais estruturas.

Como já afirmado, o objetivo desta exposição não é o de apresentar um percurso teórico detalhado acerca das diferentes fases/versões da GGT, sobretudo porque muitos trabalhos importantes não foram mencionados e porque muitos fenômenos empíricos não foram discutidos, mas sim o de mostrar como o estudo dos problemas que norteiam as nominalizações tem sido fundamental para a teoria linguística e para a formulação de versões mais (ou menos) bem sucedidas e descritivamente adequadas da GGT.

3 Em contraste, a

POSIÇÃO LEXICALISTA FORTE defende que toda a morfologia (derivacional e flexional) é feita no léxico – cf. Spencer (1991), Mendikoetxea & Uribe-Etxebarria (1997), Scalise & Guevara (2005) para discussão. Essa é a posição assumida, por exemplo, em Halle (1973) e Chomsky (1995).

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Feitas essas considerações, esta tese tem o objetivo de investigar os fatos empíricos que subjazem ao fenômeno da nominalização no PB, dentre os quais, alguns foram brevemente apresentados, e defender uma proposta de como implementar esse conjunto de observações empíricas à luz de uma teoria para a faculdade da linguagem como a GGT. Para tanto, a presente tese assume os pressupostos teóricos da Morfologia Distribuída e, especificamente, a arquitetura da gramática que aparece na Figura 14 – as especificidades de cada nível aparecem apresentadas e discutidas nos capítulos que seguem, quando for relevante.

Léxico Estrito

Sintaxe

MS Vocabulário

PF LF

Forma Fonética Enciclopédia

Figura 1: Arquitetura da gramática assumida pela Morfologia Distribuída

Como antecipado, a MD é um modelo que nega a existência de um léxico gerativo (formador de palavras) e defende que a sintaxe é o único componente gerador de estruturas (palavras, sintagmas, sentenças). O termo “distribuída” refere-se, então, à divisão das propriedades (fonológicas, estruturais, semânticas) dos então chamados “itens lexicais” por entre os diferentes estágios da computação sintática. Mais especificamente, o LÉXICO ESTRITO (ou PURO) (a LISTA 1) é o repositório das raízes e

dos feixes de traços sintáticos e semânticos abstratos que alimentam o sistema computacional – a sintaxe.

4 É preciso mencionar que, em alguns trabalhos pioneiros da MD – Marantz (1996), Harley & Noyer

(1997), Harley (1999), Harris (1999) – a representação da arquitetura da gramática contém uma flecha que vai diretamente de PF a LF, para ilustrar a assunção de que a intepretação semântica das estruturas geradas pelo sistema depende, em alguns casos, da sua forma fonológica. Porém, tal ideia foi abandonada por muitos adeptos do modelo. Em trabalhos mais recentes, esse tipo de representação aparece, por exemplo, em Siddiqi (2009).

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Na ramificação para PF, a ESTRUTURA MORFOLÓGICA (MS) é responsável por

atender as condições de boa formação morfológica específicas às línguas, por meio da realização de operações adicionais, como FUSÃO, FISSÃO, EMPOBRECIMENTO, inserção

de morfemas e traços dissociados nas estruturas formadas pela sintaxe. Além disso, em MS, uma operação de INSERÇÃO DE VOCABULÁRIO fornece aos nós terminais sintáticos o seu expoente fonológico, o qual aparece listado no VOCABULÁRIO (a LISTA 2) juntamente com as regras contextuais para sua inserção.

Na ramificação para LF, a ENCICLOPÉDIA (a LISTA 3) armazena todo o conteúdo semântico não composicional (extralinguístico) bem como as instruções para a interpretação das estruturas geradas pela sintaxe. Ainda que a arquitetura da gramática assumida pela MD tenha sido uma postulação consensualmente aceita pelos adeptos do modelo, é verdade que muitos dos seus detalhes operacionais ainda são motivo de controvérsia na literatura. Essas divergências são apresentadas e discutidas nos capítulos que seguem à medida que vão se tornando relevantes para a implementação da proposta defendida nesta tese; aquelas que não forem fundamentais para a análise das nominalizações são simplesmente assumidas e as que são cruciais – e não consensuais – para a proposta são discutidas em detalhe.

Ainda com relação à arquitetura da gramática, cumpre notar que, na proposta assumida pela MD, existe um léxico (estrito), mas diferentemente de modelos lexicalistas, ele não é gerativo e apenas funciona como uma lista – a Lista 1 –, isto é, um repositório de raízes e feixes de traços – como apresentado. Além disso, outro ponto de divergência é o de que as operações estritamente morfológicas ocorrem na MD em um componente pós-sintático (no caso, MS) e não pré-sintaticamente como nas propostas que assumem alguma versão da hipótese da integridade lexical.

No que concerne à cobertura empírica desta tese, a maior parte do trabalho se detém nas nominalizações do PB que não são marcadas por um sufixo com matriz fonética, como fala, corte, grito e outros exemplos arrolados anteriormente. A análise desenvolvida nesta tese discute propriedades fonológicas, morfológicas, sintáticas e semânticas desse tipo de nominalização e a partir delas, levanta questões que se relacionam à arquitetura da gramática e à noção de ciclicidade na formação de palavras. Pondo de lado esses casos, esta tese também discute as propriedades dos diferentes tipos de infinitivo do português.

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Em relação ao modelo adotado, adicionalmente às discussões recentes da teoria linguística que argumentam fortemente que a MD é um modelo bastante adequado para explicar uma série de fatos empíricos, especificamente naquilo que jaz aos problemas abordados nesta tese, de imediato, apresentam-se três vantagens principais em relação a, por exemplo, um modelo lexicalista de morfologia baseado em palavra, como o de Aronoff (1976) – aplicado ao português, em maior ou menor grau, por Basílio (1980), Sandmann (1989), Rocha (1998, 1999), entre outros.

Uma primeira vantagem é a de que, ao se assumir um modelo como o da MD, prescinde-se de lidar com a ideia de que palavras derivam de outras palavras, o que contingencia uma série de problemas, tais como imprevisibilidade da forma e/ou do significado do vocábulo derivante em relação à palavra primitiva, necessidade de regras de redundância (ou algo que o valha) para relacionar itens semanticamente relacionados, mas não deriváveis por regra.

Um outro ponto a favor de uma abordagem sintática para a formação de palavras é o de poder lidar de maneira mais elegante, econômica e transparente com a relação entre as propriedades de certos vocábulos e seu comportamento sintático, bem como com o conjunto de propriedades semânticas que deriva dele. Por fim, uma terceira vantagem de assumir a MD versa sobre os mecanismos de SUBESPECIFICAÇÃO e INSERÇÃO TARDIA

que ensejam um tratamento altamente elegante e econômico para tratar “coincidências” morfofonológicas bem como outros fenômenos que, do contrário, seriam tratados como polissemia, homonímia etc.

Além dessas, há uma série de outras vantagens da MD em relação a modelos de morfologia baseados em palavra que são apresentadas e mais bem motivadas nos capítulos que seguem. Seja como for, a ideia de adotar esse quadro teórico para explicar (algumas) propriedades das nominalizações do português não é nova. A literatura sobre o PB já apresenta trabalhos nessa mesma linha, como Oliveira (2006), Oliveira (2007) e Freitas (2014) para nominalizações em -ção e -mento, Scher (2006) e Medeiros (2010) para nominalizações em -ada, para mencionar alguns. Na esteira desses trabalhos, esta tese se debruça, como afirmado, sobre as nominalizações não marcadas por sufixo com matriz fonética e sobre os infinitivos. Para tanto, esta tese aparece divida como segue.

O capítulo 1 investiga a derivação das nominalizações (do PB) não marcadas por sufixo com matriz fonética, apresentando e discutindo, primeiramente, o seu tratamento

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à luz de uma visão de morfologia baseada em palavra, como na tradicionalmente chamada “derivação regressiva”. Em seguida, mostra a motivação de alguns trabalhos para defenderem a análise-VP para as nominalizações, mesmo dentro de um quadro lexicalista. Por fim, o capítulo 1 apresenta a proposta de derivação sintática para os diferentes tipos de nominalização do PB à luz da MD, dialogando com trabalhos clássicos da literatura sobre o assunto bem como relacionando-a a outras propostas.

O capítulo 2, dando continuidade à derivação das nominalizações, apresenta uma proposta para o caminho percorrido pelas estruturas na componente interpretativo, ou seja, na ramificação para LF. Em primeiro lugar, o segundo capítulo propõe uma análise de representação lógica para as diferentes estruturas do capítulo 1. Em seguida, discute fenômenos semânticos que subjazem à nominalização, tais como aspecto e a relação com a qualidade massa/contável no domínio concreto. Por fim, o capítulo 2 discute o papel do conhecimento extralinguístico na interpretação das nominalizações e, por conta disso, a formalização do conhecimento enciclopédico, prevista pela MD.

O capítulo 3, dando sequência à derivação dos diferentes tipos de nominalização, mostra como a presente análise lida com as semelhanças – e, sobretudo, as diferenças – entre verbos e nominalizações que não são marcadas por um sufixo com matriz fonética no que concerne a fenômenos fonológicos e morfofonológicos, os quais – na MD – são codificados em MS, na ramificação para PF. Esse capítulo investiga o problema das vogais temáticas e da marcação de Caso e discute questões relacionadas à alomorfia e à atribuição de acento, entre outros processos morfofonológicos.

O capítulo 4 discute a questão da ciclicidade no processo de formação de palavras. Mais especificamente, esse capítulo discute a noção de ciclos (ou fases) da computação sintática e mostra como a MD aplica essa ideia à abordagem sintática para a morfologia. Em seguida, o quarto capítulo discute como o fenômeno da nominalização (que não exibe sufixo com matriz fonética), abordado nos capítulos 1, 2 e 3, coloca problemas para essa teoria. Com base nessa observação, esse capítulo argumenta que parte do mecanismo proposto pela teoria de ciclicidade é muito restritiva para lidar com alguns fenômenos empíricos relacionados à relação entre verbos e nomes.

O capítulo 5 trata dos infinitivos. Em paralelo com o fenômeno da nominalização que não exibe sufixo com matriz fonética, esse capítulo discute a relação entre verbos e nomes no que tange à forma infinitiva. Mais especificamente, o quinto capítulo propõe

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uma tipologia para os infinitivos do PB, baseando-se em suas características estruturais e semânticas internas e discute propriedades morfológicas, morfofonéticas, sintáticas e semânticas desses infinitivos.

Em síntese, esta tese trata da relação entre verbos e nomes, derivados de uma raiz comum, à luz de fenômenos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos. Os capítulos 1, 2, 3 e 4 se detêm nas nominalizações sem sufixo com matriz fonética, por três razões principais, quais sejam: (i) a caracterização dos nomes relacionados a verbos não marcados por sufixo com matriz fonética, tanto na tradição gramatical quanto nos modelos de morfologia baseados em palavra, é o processo mais controverso da literatura sobre nominalizações (pelo menos, do PB) e, nesse sentido, mais “carente” de propostas alternativas – sobretudo à luz de uma nova abordagem, como a da MD.

Adicionalmente, (ii) parte da dificuldade – e da controvérsia – que subjaz a um tratamento adequado desse tipo de nominalização vem da ausência de material fonético que serve como evidência para certas propriedades sintáticas e semânticas, de modo que nomes que denotam entidades diferentes e têm comportamentos distintos se apresentam superficialmente com a mesma forma: raiz e vogal temática nominal. Portanto, a ideia é que, dada a universalidade das estruturas sintáticas e da forma lógica que se depreende a partir dela, uma proposta capaz de lidar com os problemas subjacentes a esse tipo de nominalização pode, consequentemente, tratar de nominalizações que contêm “mais” material fonético, como os demais tipos de nomes deverbais.

Isso porque, de acordo com a MD, a sintaxe não opera com traços fonológicos, logo, se um nominalizador tem realização nula ou -ção, isso não deve influenciar na sua estrutura. A hipótese é a de que o fato de o nominalizador ter uma realização x ou y pode não resultar de uma completa arbitrariedade, mas talvez seja a sinalização de uma estrutura diferente ou de um traço distinto. Em todo caso, metodologicamente, o principal recorte empírico desta tese são os diferentes tipos de nominalização sem sufixo com matriz fonética, e a extensão da proposta dos três primeiros capítulos para outros nominalizadores aguarda pesquisas futuras.

Por fim, (iii) a caraterização desse tipo de nominalização especificamente contingencia uma interface mais estreita com a fonologia, no sentido de que há vários fenômenos morfofonológicos exclusivos aos nomes não marcados por sufixo com

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matriz fonética. Esses fenômenos têm particular importância para discussões recentes no que se refere à teoria da MD, como a ciclicidade, discutida no capítulo 4.

Com base nessas observações, fica mais bem justificada a ênfase na derivação dessas nominalizações em detrimento de outros sufixos. Seja como for, há ainda um tipo de nominalização ou, pelo menos, de um outro tipo de relação entre verbos e nomes que derivam da mesma raiz que esta tese aborda, a saber, os infinitivos. Se por um lado, a nominalização sem matriz fonética é o processo de nominalização mais controverso da literatura; por outro, a aparente uniformidade do que é conhecido como “infinitivo: uma das formas nominais do verbo” (cuja grafia assume sempre a presença de um -r) faz parecer menos heterogênea uma classe da qual ainda se sabe pouco, em relação aos demais processos de nominalização do PB.

No bojo dessas considerações, esta tese defende que os casos de nominalização sem sufixo com matriz fonética, ainda que sejam “especiais” do ponto de vista morfofonológico, são semelhantes aos outros tipos de nominalização no que toca à estrutura e à interpretação, e que os membros da classe de infinitivos só são semelhantes do ponto de vista morfofonológico, mas são “especiais” à luz de propriedades sintáticas e semânticas. Cada uma dessas afirmações é discutida em detalhe nos capítulos a seguir.

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CAPÍTULO 1:

NOMINALIZAÇÕES E DERIVAÇÃO

INTRODUÇÃO

Os processos de nominalização das línguas naturais nem sempre são sinalizados por adição de material fonético. Há casos em que a forma verbal é, em última análise, idêntica à forma nominal do ponto de vista (fonológico) da constituência formal, e elas passam a distinguir-se apenas por meio de suas propriedades distribucionais, tais como morfemas flexionais e funções sintáticas. Esse fenômeno pode ser exemplificado, em línguas como o inglês, por love/love („amar/amor‟) e work/work („trabalhar/trabalho‟).

Casos como estes, em modelos de morfologia baseados em palavra, são tratados normalmente como instâncias de AFIXAÇÃO ZERO (KHEDI, 1992): ao verbo adjunge-se um afixo zero, o qual é responsável pela sua transformação em nome, da mesma forma que afixos não nulos como -ção, -mento, -gem e outros. Uma outra possibilidade, mais comprometida com a existência de um léxico gerativo, é tratar esses exemplos como casos de CONVERSÃO MORFOLÓGICA ou REETIQUETAGEM LEXICAL (cf. SPENCER, 1991), ou seja, dispor de uma operação morfológica/lexical que simplesmente converte verbos em nomes.

Nas línguas românicas, o cenário é menos simples à medida que uma condição de boa formação morfológica determina que raízes (ou radicais) não ocorram como formas livres (no sentido estruturalista do termo), mas apareçam juntamente com morfemas de classe (ou VOGAIS TEMÁTICAS). Desse modo, esses morfemas expandem o conjunto de

propriedades distribucionais de cada categoria (verbo, nome etc.) e complexificam o processo de nominalização no que tange à postulação de uma simples afixação zero, conversão ou reetiquetagem.

Assim, diferentemente do que ocorre nas línguas germânicas, em português, mesmo as nominalizações não marcadas (superficialmente) por sufixo contêm material fonético adjacente à raiz, qual seja: a vogal temática, como é o caso das vogais átonas finais -a, -e e -o vistas em conquista (/conquistar), corte (/cortar) e grito (/gritar). Para dar conta desses casos, então, assumindo uma visão de morfologia baseada em palavra,

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muitas propostas (sobretudo as apresentadas pelas gramáticas tradicionais), defendem a existência de um processo de nominalização chamado “derivação regressiva”.

A exigência de uma vogal temática nominal que não depende da vogal temática verbal (como mostrado em detalhe em § 3.1.1), mesmo para nomes prototipicamente considerados deverbais, impõe dificuldades adicionais para a postulação de um processo meramente conversor ou de uma afixação zero, inclusive para trabalhos que sugerem que a forma verbal listada é a da base verbal (isto é, raiz + vogal temática), como Basílio (1980), Rocha (1998) e Resende (2016a).

Alternativamente, muitos autores (sobretudo, gramáticos) defendem a existência de uma operação que, com alguns ajustes morfofonológicos, transforma uma forma verbal infinitiva em um nome deverbal, e o termo “regressivo” (cunhado para estabelecer contraste com um processo progressivo de formação de palavras) é fruto da constatação de que o nome formado é (foneticamente) menor do que o verbo formador. Nesse contexto, a famigerada derivação regressiva tornou-se provavelmente o processo morfológico mais controverso da literatura sobre o português.

A respeito disso, podem-se vislumbrar três grandes problemas: um terminológico, um teórico e um metodológico. Primeiramente, a conclusão de que palavras derivadas podem ser foneticamente menores do que suas palavras derivantes levou alguns autores – por exemplo, Basílio (1987), Gamarski (1988), Sandmann (1989) – a reunirem sob o mesmo rótulo processos morfológicos muito distintos, alguns dos quais nada têm a ver com o fenômeno da nominalização como, por exemplo, ABREVIAÇÃO, TRUNCAMENTO, RETROFORMAÇÃO e ELIPSE MORFOLÓGICA.

Um segundo problema, ainda no domínio das nominalizações, concerne ao fato de que a própria caracterização morfológica da derivação regressiva é problemática. A ideia geral, disseminada pela tradição (e assumida em muitos trabalhos), é a de que a derivação regressiva ocorre por meio da subtração de morfemas e que a desinência verbal do infinitivo e a vogal temática do verbo são substituídas pelas vogais temáticas nominais – embora o tratamento desse conjunto de operações varie de autor para autor.

Acerca desse tipo de implementação, não há trabalhos que argumentem (isto é simplesmente assumido) que a e forma verbal de base é a de infinitivo, ou seja, a despeito de a forma infinitiva ser extremamente produtiva, recorrente e ser a forma de

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citação verbal usada no português5, não há argumentação empírica (ou psicolinguística) que sugira que, dada a existência de um léxico em que nomes são formados a partir de verbos, a forma verbal de base e/ou listada é a de infinitivo – assunção já criticada por Basílio (1987) – ou mesmo de alguma outra forma verbal da qual se suprime um morfema, como sugerido por Sandmann (1989) e, mais recentemente, por Gonçalves (2016). Isso porque é pouco convincente a ideia de que as formas listadas estão flexionadas (ou mesmo a de que são nomes derivados), o que seria uma consequência da postulação de que os verbos base devem perder desinências para que seja possível formar itens deverbais.

Adicionalmente aos problemas terminológico e teórico, a derivação regressiva fez emergir um problema metodológico, a saber, a falta de critérios sincrônicos consistentes para determinar se um nome é primitivo ou derivado em relação ao seu verbo cognato; ou seja, dados pares como martelar/martelo e atrasar/atraso, como determinar qual vocábulo é derivante e qual é derivado, Por essa razão, muitos estudos passaram a empregar critérios diacrônicos (no caso, a data de entrada da palavra na língua) para determinar qual dos dois itens é o primitivo e qual é o derivado – cf. Rio-Torto (2018) para discussão recente e referências.

No bojo dessas considerações, como mencionado na introdução, a adoção de um modelo de morfologia baseado em morfema (e não em palavra), de imediato, tem a vantagem de resolver tanto o problema (metodológico) da direcionalidade da formação, sem recorrer a critérios diacrônicos, quanto o (teórico) da caracterização da forma verbal primitiva, dada a ausência de palavras listadas no léxico, simplesmente porque, dentro do quadro da MD, eles não se colocam. No que tange ao problema terminológico, ele é igualmente desfeito, porque em uma abordagem sintática para formação de palavras, não faz sentido falar em derivação regressiva (na acepção empregada nesta seção), já que toda formação de palavras envolve a adição de projeções funcionais, independentemente de haver ou não realização fonológica para elas.

Assim, esta tese defende que a nominalização sem sufixo com matriz fonética é mais bem caracterizado como instância de NOMINALIZAÇÃO ZERO. De qualquer forma, antes de motivar propriamente uma proposta dentro do quadro da MD, convém olhar com maior detalhe para os problemas empíricos já levantados/discutidos na literatura

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Para línguas como o latim e o grego clássicos, por exemplo, a forma de citação é a de primeira pessoa do singular do presente do indicativo.

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