• Nenhum resultado encontrado

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

Registro: 2018.0000020198

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1021469-84.2015.8.26.0576, da Comarca de São José do Rio Preto, em que é apelante MRV ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES S/A, é apelado EMERSON ROCHA DA SILVA (JUSTIÇA GRATUITA).

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 3ª Câmara de Direito Privado do

Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao

recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores DONEGÁ MORANDINI (Presidente) e CARLOS ALBERTO DE SALLES.

São Paulo, 29 de janeiro de 2018.

Viviani Nicolau Relator

(2)

VOTO Nº : 26806

APELAÇÃO Nº : 1021469-84.2015.8.26.0576

COMARCA : São José do Rio Preto 4ª Vara Cível APELANTE : MRV Engenharia e Participações S/A APELADO : Emerson Rocha da Silva

JUIZ SENTENCIANTE: Paulo Sérgio Romero Vicente Rodrigues

“APELAÇÃO. COMPRA E VENDA DE BEM IMÓVEL NA PLANTA. CAIXA DE ESGOTO EM ÁREA PARTICULAR. Ação pelo rito ordinário. Pretensão do autor de recebimento de indenização por danos morais, em virtude de existência de caixas de inspeção e passagem de espuma, gordura e esgoto em área privativa de seu imóvel. Sentença de procedência. Inconformismo da ré. Descabimento. Ausência de indicação clara e precisa da existência de referidas instalações na unidade adquirida pelo autor, no memorial descritivo das obras. Violação de normas da ABNT que determinam a instalação de coletores de efluentes em área comum. Situação na qual há necessidade de ingresso de pessoas estranhas no imóvel do autor para realização de manutenção. Dano moral configurado. Precedentes deste Tribunal. Indenização arbitrada em R$ 20.000,00, que é suficiente para coibir a conduta lesiva, sem contudo ensejar enriquecimento ilícito do autor, sendo adequada ao caso concreto. Precedentes. Sentença confirmada. Sucumbência da ré, que arcará com as custas, despesas processuais e honorários advocatícios do representante do autor, majorados de 10% para 15% sobre o valor da condenação. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO”.(v.26806).

EMERSON DA ROCHA SILVA

ajuizou “ação pelo rito ordinário” em face de MRV ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES S/A., narrando, em síntese, que adquiriu o imóvel descrito na inicial, o qual consiste em unidade autônoma no pavimento térreo, com “área real privativa descoberta” medindo 46,63m². Contudo, a requerida instalou na referida área caixas de inspeção de gordura e esgoto, em desconformidade com normas da ABNT e implicando na desvalorização do imóvel, tendo em vista a ocorrência de mau cheiro e pragas, bem como necessidade de ingresso de terceiros em

(3)

seu imóvel para manutenção dos referidos equipamentos. Postulou o recebimento de indenização por danos materiais e morais, no valor de R$ 20.000,00.

A r. sentença de fls. 202/208, proferida em 18 de novembro de 2016, julgou procedente a ação, condenando a ré ao pagamento da indenização pretendida, bem como custas, despesas processuais e honorários advocatícios do representante do autor, arbitrados em 10% sobre o valor da condenação.

A ré opôs embargos de declaração (fls. 210/213), rejeitados pelo Magistrado a quo, com a fixação de verba honorária complementar (fls. 219).

Apela a RÉ, alegando, em síntese:

(i) que a instalação de caixa de inspeção no andar térreo estava prevista no memorial descritivo do imóvel e não representaria qualquer irregularidade ou risco aos habitantes do imóvel, não possuindo a potencialidade de desvalorizar o bem adquirido pelo autor ocasionar danos morais; (ii) que a prova pericial produzida nos autos constatou inexistência de gases ou mau cheiro que caracterizassem insalubridade no imóvel, bem como que a área continuaria a ter serventia, como espaço de lazer; (iii) que conforme entendeu o perito judicial, as caixas foram executadas dentro das boas técnicas de construção civil, ainda que não atendessem parte do disposto nas normas da ABTN, e tem por objetivo melhorar as condições de salubridade do imóvel; (iv) que não estariam configurados os pressupostos de responsabilidade civil; e (v) que não há nos autos prova do alegado prejuízo suportado pelo autor, ou subsidiariamente, que o quantum indenizatório deveria ser reduzido (fls. 221/245).

O recurso foi devidamente preparado (fls. 246/247), contrariado (fls. 357/365) e os autos foram remetidos a este Tribunal.

As partes foram intimadas da possibilidade de julgamento virtual, nos termos da Resolução nº 549/2011, e não manifestaram oposição (fls. 249).

(4)

É O RELATÓRIO.

O recurso é desprovido.

O autor narra, na inicial, que celebrou compromisso de compra e venda com a ré, tendo por objeto o imóvel descrito na inicial, composto por unidade autônoma e “área de lazer privativa e descoberta” de 46,63m², a qual seria utilizada para atividades recreativas de lazer e convivência. Contudo, quando da entrega da obra, deparou-se com a existência de caixas de passagem e inspeção de gordura, espuma e esgoto, responsáveis pela coleta de várias unidades do empreendimento, o que representariam prejuízo à utilização da área, estando ainda em desconformidade com as normas da ABNT. Postula o recebimento de indenização por danos patrimoniais, consistentes na desvalorização do imóvel, bem como danos morais, atribuindo a ambos o valor de R$ 20.000,00.

A sentença recorrida julgou procedente a ação, entendendo pela ilicitude da existência das caixas de inspeção na área privativa do autor.

A ré afirma, em seu recurso, que muito embora tenha havido violação parcial das normas da ABNT, a existência das caixas referidas estaria prevista de forma clara no memorial descritivo da obra, tendo por finalidade melhorar a utilização do imóvel. Alega, ainda, que o prejuízo alegado não teria sido comprovado, bem como que o valor fixado a título de indenização comportaria redução.

Contudo, a decisão recorrida não comporta reforma.

A existência das referidas caixas de passagem e inspeção de esgoto, gordura e espuma ficou fartamente comprovada nos autos, tendo sido constatada em prova pericial (fls. 142/169), notadamente pelas fotografias de fls. 150/156.

Da mesma forma, o exame pericial constatou que, muito embora tais caixas estivessem localizadas dentro da área do imóvel pertencente ao autor, recebem efluentes de outras unidades, bem como que necessitariam de limpeza periódica (fls. 146/148). A própria ré confessa, em seu apelo, que a obra foi realizada em desconformidade com a NBR 8160,

(5)

ainda que parcial.

Por outro lado, a alegação de que o adquirente foi suficientemente informado da existência das caixas de passagem não ficou comprovada nos autos. O memorial descritivo das obras prevê, em seu item “8.2” que “caso necessário, o lançamento de esgoto poderá ser executado por sistema de bombas e

as caixas de gordura, sabão e passagem de esgoto e água pluvial poderão ser executadas nas áreas privativas descobertas do pavimento

térreo” (fls. 166 destaques não originais).

Com efeito, o memorial descritivo sequer indica quais seriam as unidades dotadas das caixas de passagem e inspeção em sua área descoberta, não sendo possível constatar que o autor tenha sido devidamente informado no momento da celebração do negócio.

Demais disso, é inegável que a existência das caixas traz transtorno ao adquirente, uma vez que impedem a plena utilização da área de lazer, devendo passar por processo de limpeza, o que representa inconveniência e implica no ingresso de pessoas estranhas em seu imóvel, periodicamente.

Neste sentido já entendeu este Tribunal em caso análogo, envolvendo o mesmo empreendimento:

“(...) É intuitivo que a caixa de retenção de gordura coletiva de todo o condomínio alocada sob a área de uso privativo do imóvel do autor acumulará resíduos nocivos à saúde, reduzindo as condições sanitárias da unidade.

A instalação acrescenta ao imóvel evidentes riscos de acidente de consumo, em caso de transbordamento da caixa resultante da manutenção deficiente ou falha do projeto. Também acarreta diversos inconvenientes aos moradores, como as exalações que os mecanismos sanitários dessa espécie normalmente emanam e ingresso de estranhos no imóvel para manutenções periódicas.

A par dos inevitáveis prejuízos físico psíquicos que esses fatores acarretam, é evidente o prejuízo econômico resultante da caixa de gordura, sob o quintal do autor. (Apelação nº

1014750-44.2016.8.26.0320, 1ª Câmara de Direito Privado, Relator Desembargador FRANCISCO LOUREIRO, data do julgamento: 31/08/2017)”.

Neste mesmo sentido, já entendeu esta Terceira Câmara de Direito Privado em caso semelhante:

(6)

“Ação de indenização por danos morais e materiais Compra e venda de bem imóvel Autor que adquiriu imóvel da requerida Instalação de caixas de esgoto e de gordura

na parte interna da unidade autônoma Não comprovação de que o consumidor foi efetivamente informado sobre a instalação Necessidade de limpeza periódica das caixas e impossibilidade de vedação do local em que elas se encontram Danos morais

configurados - Transtorno que extrapola o mero aborrecimento Fixação do valor de indenização em atendimento aos princípios da

razoabilidade e proporcionalidade Danos materiais não

comprovados Sentença de improcedência Reforma parcial Recurso parcialmente provido. Dá-se parcial provimento ao recurso

(Apelação nº 1008390-04.2016.8.26.0576, Relatora Desembargadora

MARCIA DALLA DÉA BARONE, com a participação dos Des. DONEGÁ MORANDINI e CARLOS ALBERTO DE SALLES,

data do julgamento: 16/09/2016, destaque não original)”.

Com relação ao quantum indenizatório, a decisão recorrida também não comporta qualquer reforma. Este deve ser fixado de acordo com as circunstâncias concretas, de forma a evitar a reiteração da conduta ilícita por parte da ré.

Neste sentido, e levando-se em conta a ofensa praticada e o grau de culpa da vendedora, bem como a situação econômica das partes, a indenização arbitrada em R$ 20.000,00 é adequada para indenizar os danos suportados na espécie.

Neste sentido já entendeu este Tribunal em casos semelhantes:

“Compromisso de compra e venda

Apartamento térreo entregue com caixa de passagem de esgoto na área privativa destinada ao estacionamento de veículos Fato omitido por ocasião da celebração do negócio jurídico Danos morais bem caracterizados Indenização fixada em R$ 20.000,00,

com correção monetária, a partir do julgamento e juros de mora de 1% ao mês, a contar da citação Recurso da autora provido

(Apelação nº 1055240-19.2016.8.26.0576, 1ª Câmara de Direito Privado, Relator Desembargador AUGUSTO REZENDE, data do julgamento: 21/11/2017, destaque não original)”.

“AÇÃO INDENIZATÓRIA. Promessa de Venda e Compra de imóvel. Construção de caixas de efluentes (gordura e esgoto) na área privativa da autora. Fixação de indenização por

(7)

ré, alegando que apenas a existência de caixas de inspeção/passagem não presume indenização, devendo haver prova do motivo que ensejaria sua fixação; descabimento da aplicação da inversão do ônus da prova na sentença; cumpriu seu dever de informação; a existência das caixas não torna a unidade insalubre; a instalação das caixas é imprescindível à construção da obra e não causa

desvalorização; ausência de documentos indispensáveis à

propositura da ação; inexistência do dever de indenizar; eventual manutenção da indenização comportaria minoração do quantum. Descabimento. Danos morais. Caracterização. Reconhecimento de que a ré não se desincumbiu de comprovar que a existência das caixas de efluentes não traria prejuízo à autora, tampouco comprovou a efetiva cientificação prévia da compradora, considerada essencial. Pertinência da responsabilização da ré. Manutenção do quantum indenizatório, considerado apto a atender ao escopo satisfatório e punitivo da reparação. Honorários advocatícios. Majoração de 10% para 15% do valor atualizado da causa, nos termos do art. 85, § 11, CPC. Recurso improvido

(Apelação nº 1022281-58.2017.8.26.0576, 5ª Câmara de Direito Privado, Relator Desembargador JAMES SIANO, data do julgamento: 17/11/2017, destaque não original)”.

Portanto, neste ponto o recurso também é desprovido, sendo mantida a sentença no ponto em que condenou a ré ao pagamento de indenização no valor de R$ 20.000,00.

Com a manutenção da sentença, a ré permanece sucumbente e deverá arcar com as custas, despesas processuais e honorários advocatícios do representante do autor, que são majorados de 10% para 15% sobre o valor da condenação, nos termos do art. 85, §11 do CPC/2015.

Conclusão.

É negado provimento ao recurso.

Por derradeiro, para evitar a costumeira oposição de embargos declaratórios voltados ao prequestionamento, tenho por ventilados, neste grau de jurisdição, todos os dispositivos legais citados no recurso interposto. Vale lembrar que a função do julgador é decidir a lide e apontar, direta e objetivamente, os fundamentos que, para tal, lhe foram suficientes, não havendo necessidade de apreciar todos os argumentos

(8)

deduzidos pelas partes, um a um. Sobre o tema, confira-se a jurisprudência (STJ, EDcl no REsp nº 497.941/RS, Rel. Min. Franciulli Netto, publicado em 05/05/2004; STJ, EDcl no AgRg no Ag nº 522.074/RJ, Rel. Min. Denise Arruda, publicado em 25/10/2004).

Ante o exposto, NEGA-SE

PROVIMENTO AO RECURSO.

VIVIANI NICOLAU Relator

Referências

Documentos relacionados

Por não se tratar de um genérico interesse público (lato sensu), compreendido como respeito ao ordenamento jurídico, mas sim de um interesse determinado, especial e titularizado

A NFS está inserida num grupo de farmácias que ajuda a desenvolver vários projetos, bem como disponibiliza vários serviços ao utente e ainda possibilita à farmácia a venda

crianças do pré́-escolar e dos seus determinantes, assim como a avaliação do efeito de um programa de escovagem diária na escola no estado de saúde oral (índice

To quantify temporal variance in population growth, we used stochastic demographic models based on at least 5-year study periods (four annual transition matrices) for marine

Manuel João Neves Ferreira Pinto Survivin Role in Pulmonary Arterial Hypertension..

O desafio apresentado para o componente de Comunicação e Percepção Pública do projeto LAC-Biosafety foi estruturar uma comunicação estratégica que fortalecesse a percep- ção

A decisão de integração do mHealth nos sistemas de saúde levanta questões relacionadas com a natureza dos serviços a serem fornecidos, viabilidade financeira das

Pretendo, a partir de agora, me focar detalhadamente nas Investigações Filosóficas e realizar uma leitura pormenorizada das §§65-88, com o fim de apresentar e