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Infância, corpo e prática pedagógica do professor de educação física

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Academic year: 2021

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Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento

ISSN: 2448-0959

https://www.nucleodoconhecimento.com.br

Infância, corpo e prática pedagógica do professor de educação

física

ARTIGO ORIGINAL

SILVA, Natalha Cristina Teixeira da [1], PINHEIRO, Welington da Costa [2], DENDASCK, Carla

Viana [3], BAHIA, Mirleide Chaar [4], OLIVEIRA, Euzébio de [5], FERNANDES, Roseane da Silva Matos [6]

SILVA, Natalha Cristina Teixeira da. Et al. Infância, corpo e prática pedagógica do professor de

educação física. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 03, Vol. 05,

pp. 05-27. Março de 2019. ISSN: 2448-0959. Contents

RESUMO

1. INTRODUÇÃO

2. AS BONECAS E SEUS BIOTIPOS

3. A MAIS BONITA FOI… A BRANCA, DE CORPO LONGILÍNEO, DE OLHOS AZUIS, DE CABELO LOIRO, LONGO E ONDULADO

4. PAREÇO OU NÃO COM ALGUMA BONECA? SIM, ME ACHO PARECIDA… MAIS OU MENOS

5. INFÂNCIA, CORPO E A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS

RESUMO

Este estudo tem por objetivo analisar a percepção de corpo por crianças em anos escolares. Caracteriza-se por ser uma pesquisa descritiva, de caráter qualitativo. Para a produção dos dados empíricos foram

projetadas imagens da boneca Barbie (sete modelos com biotipos diversos), por meio de um datashow, no que individualmente, ao observar cada imagem, a criança era solicitada a responder as seguintes questões: 1) Qual é a boneca mais bonita? 2) Por quê essa é a boneca a mais bonita? 3) Você se parece fisicamente com essa boneca? Participaram do estudo quatorze alunas, entre 6 e 13 anos de idade, do Ensino

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A infância é o período de descobertas e de ampliação das experiências individuais, culturais, sociais e educativas, por meio da admissão da criança em ambientes distintos ao dos familiares e, nesse contexto, o corpo é protagonista de novas percepções. Cada sociedade o compreende de maneira distinta. Por

exemplo, os padrões de beleza são espelhos culturais que valem de referência para os sujeitos. A história

mostra que o corpo ganha outro reconhecimento, quando o envelhecimento deixou de ser aceito como processo natural da vida, para tornar-se um problema estético – só é velho quem quer!

Atualmente as pessoas investem cada vez mais em si, sendo midiaticamente familiarizadas com cosméticos, remédios, cirurgias, dietas, estilos de vida, suplementos, em um aparato preventivo ao retardamento do envelhecimento, já mais visto em outros tempos. Eis que ser visto, é desejo social

comum, ante o crescimento das mídias virtuais. Só que aparecer prescinde de perfis corpóreos ajustados a um “tipo” socialmente aceito – corpo magro, definido.

Este fenômeno ocorre, segundo Silva e Souza (2017), porque o corpo contemporâneo é valorizado pela sua aparência devido ao fato de estarmos vivendo uma verdadeira idolatria e culto ao corpo. O padrão de beleza ideal proposto a todas as mulheres é determinado e influenciado pela sociedade, pelos meios de

comunicação, bem como pelos fatores culturais. A mulher bela, atualmente, é vista como aquela com corpo musculoso, definido ou magro. Esse corpo é arquitetado por meio de academias, intervenções cirúrgicas, tratamentos estéticos e dietas “milagrosas” com intuito de se obter o corpo perfeito e, assim, ser atrativa sobretudo perante o olhar masculino.

Há um discurso circulante que faz acreditar que uma boa aparência e uma roupa da moda ou de

determinada grife são suficientes para se obter o prazer e o status necessários para se manter no topo da dinâmica social e tais concepções não ficam alheias às crianças, pois quanto mais sondam as coisas do mundo, mais são capazes de pensar e compreender a complexidade que envolve a vida em sociedade. Em se tratando de compreender o lugar do corpo na escola há que compreender o tecido complexo das relações sociais e culturais que “determinam as formas de conceber tanto o corpo da criança quanto as diretivas que determinam as formas de praticar a ação pedagógica sobre a criança e seu corpo” (PROBST, 2012, p.1).

Afinal, a escola desde cedo disciplina o corpo para o tempo e espaço certos, para uma rotina a qual segue uma ordem. Para Milstein; Mendes (2010, p.18):

[…] existe um constante e intenso trabalho em todos e em cada um dos corpos; existe ação e esforço para transformar os corpos de acordo com formas concretas quanto as dimensões, diferenças de gênero e idade, gestos, modos, comportamentos, vestuário, momentos de descanso e atividade etc.

A criança vem à escola com esse repertório. Além de que o corpo está em constante movimento –

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Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento

ISSN: 2448-0959

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Diante desse contexto definimos como objetivo geral: analisar a percepção de corpo por crianças em anos escolares e como objetivos específicos: relacionar a percepção de corpo por crianças em anos escolares com os padrões de beleza contemporâneos e descrever aspectos metodológicos necessários à prática pedagógica de professores de Educação Física na percepção de corpo por crianças em anos escolares. De acordo com Hugaldes et al (2019) falar sobre a Educação Física é importante pois foi incorporada a partir da criação do PCN, uma vez que antes não era uma matéria obrigatória. Com esse documento, a área passou a ser encarada como um processo fundamental para a formação do cidadão, sobretudo na infância. Partiu-se de alguns princípios importantes para se pensar a atuação da Educação Física neste processo de formação identitária do cidadão. Podem ser divididos em três esferas: a primeira trata-se do princípio da inclusão; a segunda diz respeito as dimensões dos conteúdos a serem ensinados e a terceira as temáticas que são inerentes à essência humana e que, portanto, não podem ser deixadas de fora da prática docente.

Esta pesquisa é qualitativa, descritiva e a produção dos dados empíricos ocorreu em uma Escola Municipal do município de Castanhal/PA. Diante do aceite institucional, definimos com a gestão os encaminhamentos necessários: a turma que teria o perfil dos sujeitos: meninas cursando entre os 1° e 3° anos do Ensino Fundamental, tendo em vista a idade convencional para esses anos escolares,

supostamente em condições de expor argumentos durante a gravação e que os responsáveis legais autorizassem a participação. A escolha por meninas se deu por conta da grande exposição dos corpos femininos, atualmente, nas mídias sociais.

Na turma indicada pela gestão, mantivemos contato com a professora titular e de Educação Física para organizarmos a dinâmica do trabalho, no que definimos dia, horário e espaço para o contato com as crianças. Encaminhamos, por meio da professora, a cada responsável, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para autorização de participação da aluna no estudo.

Em uma sala eram projetadas imagens da boneca Barbie (sete modelos com biotipos diversos) por meio de um datashow. Individualmente, ao observar cada imagem, a criança era solicitada a responder as seguintes questões: 1) Qual é a boneca mais bonita? 2) Por quê essa é a boneca a mais bonita? 3) Você se parece fisicamente com essa boneca?

As respostas foram gravadas em aparelho celular e após a saída de cada criança da sala, era feito o registro de suas características físicas. A opção pela Barbie se deu por ser uma das mais antigas bonecas no mercado brasileiro e com recordes gigantescos de venda e licenciamento da imagem em produtos destinados ao público infantil[7]. Ao todo participaram como sujeitos quatorze alunas.

Quadro I – Sujeitos da Pesquisa

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Maria Liz 3° ano 9 anos

Maria Laura 3° ano 11 anos

Maria Pia 3° ano 8 anos

Maria Sofia 3° ano 8 anos

Maria Madalena 3° ano 9 anos

Fonte: Dados produzidos na pesquisa de campo.

A organização dos dados empíricos se deu pela técnica de Análise de Conteúdo. O critério de opção como unidade de análise foi o temático (BARDIN, 1977), das informações a partir dos critérios de recorrências e de singularidades das falas, que nesse cruzamento originaram as categorias, que constituíram a base para nossas análises.

2. AS BONECAS E SEUS BIOTIPOS

A Mattel, fabricante da Barbie, anunciou[8] ao final do ano de 2015, que disponibilizaria no mercado a partir do ano de 2016, três biotipos da boneca. As Barbies altas, longilíneas e sempre no salto[9] continuam a existir, mas ganham outra edição – a petite, como a empresa a nomeou. São de estatura baixa, com curvas acentuadas e panturrilhas definidas. Desde 1959, ano de sua criação, essa é a primeira mudança significativa no corpo da boneca[10]. As características descritas para cada modelo a seguir, não foram apresentadas às crianças no encontro para a produção de dados, servem exclusivamente para elucidar ao leitor o biotipo de cada uma.

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Pele branca, magra, estatura baixa, olhos castanhos, cabelo lilás e curto, roupa casual e calça botas sem salto.

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Pele branca, magra, olhos castanhos, oriental, cabelo liso e escuro, roupa casual, calça sapatilha.

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Pele negra, magra, olhos castanhos, cabelo escuro e cacheado, roupa casual e calça sandália alta.

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Pele clara, magra, olhos castanhos, cabelo loiro e curto, olhos castanhos, roupa casual e calça botas sem salto.

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Pele clara, corpo com mais curvas, olhos castanhos, cabelo escuro, ondulado e longo, roupa casual e calça sapato baixo.

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Pele morena, magra, olhos castanhos, cabelo ruivo, ondulado e curto, roupa casual e calça bota de salto baixo.

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Pele branca, corpo longilíneo, olhos azuis, cabelo loiro, longo e ondulado, roupa social e acessórios requintados.

3. A MAIS BONITA FOI… A BRANCA, DE CORPO LONGILÍNEO, DE

OLHOS AZUIS, DE CABELO LOIRO, LONGO E ONDULADO

Quando solicitado às crianças que indicassem a boneca mais bonita, assim foi o resultado:

Quadro II – Qual a boneca mais bonita?

Cinco crianças elegeram a boneca 7

Três crianças elegeram a boneca 5

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Uma criança elegeu a boneca 4

Uma criança elegeu a boneca 3

Fonte: Dados produzidos na pesquisa de campo.

A boneca 6 não foi escolhida. Houve maior indicação da Barbie 7, que reflete a preferência da maioria, mas não podemos desconsiderar a boneca 5, como a segunda mais votada, uma vez que fisicamente é o oposto da primeira colocada. Pode-nos parecer tal resultado como uma quebra de hegemonia do corpo curvilíneo, que não traduz o perfil de todas as mulheres.

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Lisboa et al (2015, p.96) contribuem para o debate quando constatam que:

ao fugir da visão naturalizada do brinquedo como atividade inerente ao contexto infantil, identificamos que esses produtos são dotados por um sistema de significações e normas sociais que, também

reproduzidas diariamente na tela da TV, moldam as relações de gênero na infância. Assim, a menina é estimulada a ser uma “princesa”, empenhando-se a seguir os padrões de beleza que ditam uma

feminilidade delicada, frágil, dócil e submetida aos procedimentos estéticos.

Tanto que até as rainhas e as princesas dos contos de fada e da animação infantil (Branca de Neve, Cinderela, Bela, Elsa, Ana…), em maioria, pertencem a esse biotipo predominante. Daí a dificuldade de ver a negra como bela.

Quando indagadas sobre o porquê a boneca 7 ser a mais bonita, as crianças destacaram a indumentária e o cabelo para essa opção: “Gosto do vestido, do brinco e do cabelo” (MARIA LIZ); “Porque sabe se vestir e gosto do rosto” (MARIA SOFIA) – valores impressos aí do bem vestir e de um padrão estético

feminino.

Sobre o porquê da indicação da boneca 5, segunda mais votada como a mais bonita, os argumentos foram similares ao da mais indicada: “Porque gostei do vestido, do cabelo e do sapato” (MARIA ANTÔNIA); “Por causa do cabelo e do vestido” (MARIA ANTÔNIA).

A única criança (MARIA EDUARDA) que elegeu a boneca 3, a negra como a mais bonita, assim ponderou: “Gostei muito do vestido e do brinco”. Ou seja, não foi a cor da pele ou o cabelo que a colocaram na condição da mais bonita, mas o que vestia. Para Cechin; Silva (2012, p.19):

As bonecas são objetos de identificação e representação da normalidade, retrato de uma determinada época e lugar através de marcas sociais que estão imersas em relações de poder. Tais marcas revestem-se de ricos significados culturais do ideal de beleza, de corpo e de sujeito. Ao elencar determinadas

características como “as melhores”, os corpos dos bonecos e bonecas fabricam modos de subjetivação que produzem “verdades” sobre como deve ser o corpo, o comportamento e as atitudes normais.

Isso fica evidente nas falas das alunas ao relatarem que elegeram a boneca pelos traços culturais de uma feminilidade padrão, reproduzidas nas bonecas que conduz meninas à certas valorizações – vestimenta, acessórios, sapatos, cabelo, o rosto, entre outros atributos.

As demais bonecas eleitas também foram indicadas pelos motivos que referendaram a opção das mais votadas: o cabelo, a roupa e os acessórios.

4. PAREÇO OU NÃO COM ALGUMA BONECA? SIM, ME ACHO

PARECIDA… MAIS OU MENOS

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Por isso, quando a criança sujeito desse estudo elege uma boneca como a mais bonita, descrevendo o porquê dessa escolha, aí imprime valores que estão internalizados, valorizados pela sociedade da qual faz parte. Não é uma escolha aleatória.

Perguntamos, também, às crianças se pareciam fisicamente com a boneca por elas indicadas como a mais bonita. Nessa etapa, foram registradas as características físicas de cada aluna para compará-las com esse modelo. Vejam o que cada um respondeu:

Quadro III – Você parece fisicamente com a boneca?

CRIANÇAS BONECA INDICADA

COMO A MAIS BONITA PAREÇO OU NÃO COM A BONECA? CARACTERÍSTICAS DA ALUNA Aline

Referências

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