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Texto

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Roger Olson

Contra o

Calvinismo

Prefácio de Michael Horton

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Contra ο

Calvinismo

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Roger Olson

Contra o

Calvinismo

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Sumário

Prolusão (por Michael Horton) 9

Prefácio 15

1. Introdução: Por que este livro agora? 21 2. Calvinismo de quem? Qual teologia reformada? 39

3. Calvinismo puro e simples: O sistema TULIP 59 4. Sim para a soberania divina; não para 0 determinismo divino 109

5. Sim para a eleição; não para a dupla predestinação 159

6. Sim para a expiação; não para a expiação limitada/ redenção particular 211 7. Sim para a graça; não para a graça irresistível/ monergismo 241

8. Conclusão: Os enigmas do calvinismo 271

Apêndice 1. Tentativas calvinistas de resgatar a reputação de Deus 281

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Este livro é dedicado a três de meus heróis teológicos

que passaram para

0

Senhor em 2010:

Donald Bloesch, Vernon Grounds e Clark Pinnock

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Prolusão

(por Michael Horton)

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O LIVRO DE ROGER OLSON Contra

0

Calvinismo representa uma

apresentação e defesa contemporânea do arminianismo evangélico que não apenas merece, mas que também exige uma leitura cuidadosa e simpática da parte dos não arminianos.

O Roger está correto ao afirmar que atualmente está cada vez mais difícil saber o significado do termo “reformado”. Principalmente nos EUA onde todos gostam de selecionar e escolher os aspectos do credo de alguém, soa arrogante dizer à outras pessoas que elas não são, na ver- dade, reformadas caso sustentem visões que difiram substancialmente de nossas confissões e catecismos. Entretanto, como outras tradições confessionais, o ensino reformado é determinado por uma confissão comum de cristãos em igrejas reais, não pelas ênfases de certos ensi- nadores ou movimentos populares. Os credos e confissões não falam

por nós; nós falamos como igrejas através deles e com eles. Portanto, os

não calvinistas deveriam avaliar estas sínteses e os sistemas doutrinários que são consistentes com eles em vez de depender de apresentações idiossincráticas.

No que diz respeito às doutrinas da graça, nossas confissões rejei- tam tanto o hipercalvinismo quanto o arminianismo. Além do mais, a teologia do pacto — incluindo 0 batismo de filhos do pacto e o governo eclesiástico presbiterial [representativo] liderado por ministros e presbí­

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Contra

0

Calvinismo

teros — pertencem à nossa confissão comum juntamente com o famoso acróstico TULIP. A gloriosa graça de Deus é tão evidente quanto nossa visão de batismo e a Ceia do Senhor mais como meios de graça do que como atos m eramente humanos de comprometimento e lembrança. Para as igrejas Reformadas e Presbiterianas confessionais, a adoração regulamentada, ministério, missões, e disciplina em basados na Escritura é tão fundamental para glorificar e desfrutar de Deus quanto a doutrina da eleição ou justificação.

Mas este desafio é uma faca de dois gumes. Embora a maioria dos ar- minianos não possua uma confissão comum ou um conjunto de padrões doutrinários, existem claramente representações padrões de, ao menos, convicções arminianas evangélicas. Roger Olson lida efetivamente com as caricaturas, desafiando as concepções errôneas. Se a crítica popular contra 0 calvinismo frequentemente gira em torno de equívocos ou re- presentações exageradas, então os calvinistas também deveriam sentir empatia pelos arminianos por possuírem entendimento de causa quando estes são, por exemplo, acusados de serem “pelagianos” , que negam a graça em favor de obras de justiça.

Nenhum de nós está imune da tentação das acusações falsas, mas Roger e eu concordamos que tem havido muito mais discussões improdutivas do que avanços nos debates entre calvinismo e arminianismo. Nenhum de nós sucumbe à ilusão de que ambos [sistemas soteriológicosj repre- sentam verdades parciais que possam ser equilibradas em uma mescla harmoniosa e sem contradições. “Calminianismo” não existe. Onde estas duas posições clássicas colidem, o Roger é um arminiano genuíno e eu estou muito convencido que a Escritura ensina 0 que é infelizmente ape- lidado de “calvinismo”. Todavia, concordamos que nada se ganha — na verdade, muito se perde — ao representarmos erroneamente as visões um do outro. Uma coisa é dizer que alguém defende certa visão sendo que a m esma é explicitamente rejeitada e outra coisa é argumentar que a visão leva, em termos lógicos, à determinada conclusão. É exatamente

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Prolusão

neste ponto que geralmente ambos os lados cometem equívocos: quando confundimos nossas interpretações das conseqüências da posição alheia com a visão que é, de fato, afirmada pelo outro.

De um lado, Roger pensa que se eu seguisse 0 calvinismo até suas conclusões lógicas, eu deveria admitir que 0 Holocausto e os desastres naturais são causados diretamente por Deus e que os condenados no último dia poderiam, com justiça, culpar a Deus e não a si mesmos. No modo dele de pensar, 0 erro crucial do hipercalvinismo é, na ver- dade, a posição que, em termos lógicos, pode ser deduzida do próprio calvinismo. Em meu modo de ver, não é de se surpreender que alguns arminianos tenham abandonado o consenso cristão clássico no que diz respeito a alguns atributos divinos e o pecado original e adotaram teorias moralistas da pessoa de Cristo como também obras como justificação.

Por outro lado, penso que se o Roger seguisse 0 arminianismo até sua conclusão lógica, ele deveria ir adiante e negar que a salvação é inteira- mente da graça de Deus; que 0 arminianismo leva inevitavelmente mais a convicções antropocêntricas do que teocêntricas, caso as conclusões fossem seguidas de maneira consistente. Em outras palavras, cada um de nós acredita que a outra pessoa é inconsistente. No final das contas,

0 Roger suspeita que 0 monergismo (ex. Deus apenas trabalhando) mi- nimiza à bondade e 0 am or de Deus (assim como a agência humana), e eu não posso ver como o sinergismo pode se reconciliar com o sola

gratia (somente a graça). Todavia, 0 Roger sabe que 0 calvinismo não ensina que Deus seja o autor do mal ou que os seres humanos não pos- suem responsabilidade. E seria imprudente da minha parte descrever o arminianismo como “pelagiano”.

Embora eu ainda discorde de algumas das descrições do Roger acerca do calvinismo, eu respeito seu comprometimento em tratar das diferen- ças reais em vez de caricaturas. Da minha parte, tenho aprendido muito com 0 Roger em relação às posições dos principais teólogos arminianos e aprecio sua prudência e repreensões ao longo do percurso.

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Contra o Calvinismo

Também partilho da avaliação do Roger da situação de muitas coisas no evangelicalismo moderno. Muito além do arminianismo, ele sustenta, as prem issas pelagianas parecem prevalecer de maneira espantosa. Ele concorda que o “Cristianismo sem Cristo” está “ simplesmente impreg- nado na vida eclesiástica estadunidense”. Quando am igos arminianos como Tom Oden, William Willimon e Roger Olson desafiam este esta- do geral das coisas ao passo que alguns pregadores que se professam reform ados vendem seu direito de primogenitura por um mortal prato de lentilha de religião popular, nossas diferenças — embora importan- tes — são colocadas na perspectiva correta. Não tenho dúvidas de que Jacó Armínio ou João Wesley ficariam tão ofendidos quanto 0 Roger em relação ao que atualmente e com frequência é apresentado erroneamente como “arm inianism o” em muitos círculos.

Sou grato ao Roger pela imparcialidade, paixão e a argumentação informada que este livro representa. No final das contas, Roger e eu partilhamos da concordância mais importante: que as questões vitais envolvidas aqui ou em outro debate devem ser trazidas ao escrutínio da Escritura. Ambos acreditamos que a Escritura é clara e suficiente, mesmo se formos confusos e fracos. Somos todos peregrinos no caminho, ainda não fazemos parte daqueles que chegaram ao nosso glorioso destino. Apenas ao nos esforçarm os mais e mais para dialogarmos uns com os outros como coerdeiros com Cristo em vez de tratarmos uns aos outros como adversários é que poderemos lidar com sérias discordâncias — e com 0 anseio de que também podemos nos surpreender com as praze- rosas concordâncias durante 0 caminho.

MICHAEL HORTON

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ESCREVO ESTE LIVRO com relutância; polêmica não é o meu estilo preferido de assuntos acadêmicos. O que quero dizer é que preferiria proclamar o que sou a fa vo r a denunciar o que eu sou contra. Valorizo a abordagem conciliadora à teologia e espero ser contra 0 calvinismo o mais conciliador possível. Quero deixar claro “desde 0 início” que eu não sou contra os calvinistas. Muitos de meus parentes são calvinistas e eu os amo profundamente. Embora minha família imediata não fosse teologicamente desta persuasão, sabíam os que nossos familiares eram tão cristãos quanto nós éramos. Ainda acredito que este seja 0 caso; uma pessoa pode ser maravilhosamente salva e tão dedicada quanto um cristão possivelmente pode ser e ser calvinista. Deixe-me repetir: não sou contra os calvinistas.

Estou bastante cônscio, entretanto, de quão difícil pode ser separar a visão que alguém tem de sua auto-estima das crenças defendidas apaixonadam ente por alguém. Espero que minha tia Margaret não role no túmulo quando este livro for lançado! E oro para que meus primos e amigos calvinistas não se sintam ofendidos. Tento 0 m áximo possível fazer separação entre minha pessoa e minha teologia a fim de aceitar críticas à minha teologia sem se tornar pessoalmente defensivo. Só posso esperar e orar que meus amigos e familiares calvinistas façam 0 mesmo.

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Contra o Calvinismo

Esta esperança por um a audiência imparcial requer que eu seja escrupulosamente justo em meu tratamento do calvinismo. Esta é a intenção deste livro. Prometo oferecer meu melhor na representação do calvinismo assim como os próprios calvinistas o representariam — sem distorção ou caricatura. Prometo não criar um espantalho que seja facil- mente destroçado e queimado. Meu lema é: “Antes de dizer ‘eu discordo’, certifique-se de que possa dizer ‘eu entendo” ’. Outro princípio que tento seguir é: “ Sempre represente 0 ponto de vista alheio da maneira como os melhores proponentes do m esmo 0 descreveriam ”. É desta forma que quero que eu o meu arminianismo seja tratado e prometo dar 0 melhor de mim para que este seja 0 tratamento dispensado ao calvinismo.

Considero os calvinistas meus irmãos e irmãs em Cristo e me en- tristeço por ter que escrever contra a teologia destes meus irmãos, pois ela possui uma história e tradição ricas. Confesso que 0 calvinismo, que estudei a partir de suas fontes primárias-(de Calvino, passando por Jonathan Edwards e chegando a John Piper e inúmeros outros teólogos reformados entre eles) possui muitos aspectos positivos. Como muitos calvinistas gostam de enfatizar, o calvinismo (ou teologia reformada) não está reduzido às doutrinas popularmente associadas a ele — depravação total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e per- severança dos santos (TULIP). Alguns destes pontos (principalmente os três pontos do meio) são crenças que criticarei neste livro. Entretanto, o pensamento reformado, no geral, transcende tais pontos e é parte de um todo maior do qual a TULIP é apenas uma parte. Quão essenciais estes cinco pontos são para a teologia reformada é algo muito debatido tanto pelos próprios calvinistas quanto por outros.

Meu objetivo aqui é simplesmente admitir que quando eu disser que “ sou contra o calvinism o” que estou apenas me referindo a determina- dos aspectos da teologia reformada e não a tudo quanto ela representa. Em virtude da tradição reformada (talvez muito diferente de algumas de suas doutrinas contestáveis) ser cristocêntrica, eu a considero parte

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Prefácio

da rica diversidade do cristianismo clássico. Posso e realmente adoro a Deus ao lado de calvinistas sem me sentir incomodado.

Caso alguém precise de mais persuasão acerca desta questão, quero enfatizar que trabalhei e adorei a Deus ao lado de calvinistas em três universidades cristãs e várias igrejas (Batista e Presbiteriana) durante os últimos trinta anos sem dificuldade. Votei a favor da contratação de pro- fessores calvinistas e também para que tivessem estabilidade acadêmica. Não tenho problemas com calvinistas sendo cristãos genuínos, acadêmi- cos e professores cristãos fiéis. Sei, de primeira mão, que geralmente eles são fiéis. Admito que fico ofendido com alguns calvinistas. Estes são os que consideram sua teologia o único cristianismo (ou evangelicalismo) autêntico e que interpretam erroneam ente outras teologias que não a sua — principalmente o arminianismo. Infelizmente, especialm ente nos últimos anos, eu tenho encontrado estas características com muita facilidade entre os “ novos calvinistas”.

Alguns leitores podem questionar minhas credenciais para escrever acerca do calvinismo. Permita-me reafirmá-las. Por inúmeros motivos eu me considero apto para escrever imparcial e precisamente sobre uma teologia que eu discordo. Lecionei teologia histórica em três universida- des cristãs por quase trinta anos. Estudei Calvino, Jonathan Edwards e outros teólogos reformados no seminário e na pós-graduação e sempre exigi que meus alunos os lessem como parte de sua formação nos cursos de teologia histórica. Também me esforcei para convidar “calvinistas rígidos” (os comprometidos com todo o esquem a da TULIP) para fala- rem e interagirem em minhas aulas. Li as Institutas da Religião Cristã de João Calvino assim como também li os tratados de Jonathan Edwards cuidadosamente e com extrem a atenção para que a leitura não fosse preconceituosa.

Estou muito bem familiarizado com o maior proponente contempo- râneo do calvinismo — John Piper — e li muitos de seus livros. Estudei os escritos de vários outros calvinistas, incluindo Charles Hodge, Loraine

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Contra o Calvinismo

Boettner, Louis Berkhof, Anthony Hoekema, R. C. Sproul e Paul Helm. Participei de conferências teológicas calvinistas, contribui com publi- cações calvinistas, me ocupei com diálogos longos com pensadores reformados e publiquei um importante livro-texto de teologia histórica que lida profundamente com a teologia reformada.

Meu conhecimento do calvinismo e da teologia reformada é mais do que algo passageiro. Tornou-se uma paixão — e não apenas com a intenção de refutá-lo. Meu estudo de fontes reformadas tem enriqueci- do grandemente minha vida teológica e espiritual. Não reivindico ser um especialista em calvinismo, m as defenderei minha habilidade de descrevê-lo e avaliá-lo em basado em estudo meticuloso de suas fontes primárias tanto arcaicas (século XVI) quanto contemporâneas. Espero e anseio que calvinistas bem informados considerem minhas descrições aqui justas, se não profundas.

Desejo agradecer inúmeras pessoas por suas ajudas inestimáveis na realização desta publicação. Todos os calvinistas que me ajudaram involuntariamente ao simplesmente responderem minhas indagações e por participarem comigo em diálogos teológicos. Não havia subterfúgio da minha parte; a ideia deste livro foi posterior a muitos destes eventos. Primeiramente eu quero agradecer ao Michael Horton, editor da revista

Modem Reformation e um astuto acadêmico, que graciosamente con-

versou (às vezes debateu) comigo acerca destes assuntos durante vários anos. Aprendi muito com ele. Também quero agradecer meus amigos calvinistas da igreja Redeemer Presbyterian Church de Waco, Texas, e da Reformed University Fellowship local. Eles nobremente aguentaram minhas despreocupadas interferências quando estes falavam com meus alunos e sem pre me corrigiram meus erros de maneira cordial. Por fim, quero agradecer a muitos de meus alunos calvinistas que cursaram disci- plinas comigo apesar de conhecerem muito bem acerca de meus receios em relação à teologia reformada e que frequentemente contribuíram com 0 meu entendimento concernente a sua tradição de fé.

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Introdução

Por que este

livro agora?

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LOGO APÓS EU COMEÇAR a lecionar teologia, um jovem aluno an- sioso me seguiu até minha sala e pediu para conversar comigo a sós. Sem hesitar eu 0 convidei a sentar ao lado de minha m esa e pedi para que ele dissesse o que se tratava. Ele se inclinou em minha direção e com um semblante sério disse: “ Professor Olson, não acredito que 0

senhor seja cristão”. Não é preciso dizer que eu fiquei, de certa forma, desconcertado.

“ Por que está me dizendo isto?” , indaguei.

“ Porque o senhor não é calvinista” , foi sua resposta.

Perguntei de onde ele havia tirado essa ideia de que apenas um calvinista possa ser um cristão e ele me deu 0 nome de um pastor pre- em inente e autor cuja igreja tornou-se fam osa mundialmente por sua promoção do calvinismo rígido. Encorajei meu aluno a conversar com seu pastor acerca deste assunto e confirmei minha confiança em ser cristão em virtude de minha fé em Jesus Cristo. O aluno jam ais retirou sua acusação de que eu não era cristão. Anos mais tarde, entretanto, o pastor deveras negou ter alguma vez ensinado que apenas calvinistas poderiam ser cristãos.

Este foi, por assim dizer, a primeira salva (de tiros) em meu longo embate com o “ novo calvinismo” celebrado pela revista Time (12 de maio de 2009) como uma das dez maiores ideias mudando 0 mundo “agora

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Contra o Calvinismo

m esm o”. Meu aluno acusador foi um dos primeiros de um movimento de uma geração de cristãos denominado “jovem , incansável e reforma- do”. Naquela época tudo 0 que eu sabia era que meus melhores e mais inteligentes alunos de teologia estavam gravitando em direção ao calvi- nismo sob a influência do pastor que 0 aluno havia mencionado. Muitos dos docentes em nossa instituição os chamavam de “crias do Piper”. Mas esta tribo estava destinada a aumentar durante os anos sequentes.

O FENÔMENO JOVEM, INCANSÁVEL E REFORMADO

Em 2008 o jornalista cristão Collin Hansen publicou a primeira ex- ploração de proporções de livro de um fenômeno que a maioria dos líderes cristãos evangélicos estavam discutindo: Young, Restless, R e f or-

med: A Journalist’s Journey with the New Calvinists (Jovem, Incansável e Reformado: A Jornada de um Jornalista com os Novos Calvinistas As raízes deste movimento estão bem alicerçadas na história protestante. O calvinismo, claro, oriunda seu'nom e do reformador protestante João Calvino (150 9 - 1564), cujo aniversário de quinhentos anos [de nasci- mentojfoi recentemente com em orado ao redor da América do Norte com conferências e eventos de admiração dedicados a sua memória. Um incentivador mais recente foi 0 pregador puritano, teólogo e educador Jonathan Edwards (170 3 - 1758), da Nova Inglaterra, que notoriamente defendeu uma versão da teologia de Calvino contra o que ele enxergava como 0 crescente racionalismo do deísmo em seus dias. Um aspecto aparente do movimento jovem neo-calvinista (não confinado apenas aos jovens) é a popularidade de camisetas com estam pas do rosto de Jonathan Edwards com 0 lema: Jonathan Edwards is my homeboy (Jo-

nathan Edwards é meu parceiro).

Um catalisador contem porâneo do movimento é o pastor batista de Mineápolis, autor e conferencista popular John Piper (η. 1946), cujos inú­

1. Collin Hansen, Young, Restless, Reformed: A Journalist’s Journey with the New Calvinists

(Wheaton, IL: Crossway, 2008).

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Por que este livro agora?

meros livros teológicos são excepcionalmente fáceis de ler e acadêmicos — uma rara combinação. Seu livro Em Busca de Deus (Teologia da Alegria)2 perde apenas para a Bíblia em termos de inspiração e autoridade para muitos dos cristãos jovens, incansáveis e reformados que avidamente devoram os livros e os sermões de Piper (facilmente encontrados online). Piper fala para grandes públicos em conferências jovens nas “ Passion Conferences” e eventos “One Day” — às vezes atingindo um número de quarenta mil pessoas com menos de vinte e seis anos. O que muitos de seus seguidores desconhecem é algo que 0 Piper não esconde de ninguém — que ele está simplesmente tornando mais atraente a teo- logia calvinista de Jonathan Edwards para a juventude contemporânea. (A leitura dos escritos de Edwards pode ser difícil!)

Para leitores não familiarizados com este “ novo calvinism o” (ou tal- vez até m esm o com 0 próprio calvinismo), eu apresentarei a concisa e hábil descrição do jornalista Hansen. (Uma explicação mais completa do calvinismo e da teologia reformada será desenvolvida durante o curso deste livro). De acordo com Hansen:

Calvinistas — que recebem 0 nom e do teólogo reform ador João Calvino — enfatizam que a iniciativa, soberania e poder de Deus são a única esperança inquestionável para os seres hum anos pecam inosos, instáveis e m oralmente fracos. Além do mais, eles ensinam que a glória de Deus é 0 tem a último da pregação e a ênfase da adoração 3.

Além disso, Hansen explica: “ o calvinism o estim a muitíssimo a transcendência que extrai temas bíblicos tais como a santidade, glória e majestade de Deus”4. Mas se estas fossem as únicas ênfases do novo calvinismo (ou o velho calvinismo, tratando-se desta questão), poucos cristãos protestantes evangélicos sinceros fariam questão de discutir com

2. PIPER, John. Em busca de Deus: a plenitude da alegria cristã. Tradução de Hans Udo Fuchs. 2. ed. São Paulo: Shedd, 2008.

3. Hansen, Young, Restless, Reformed, 15. 4. Ibid., 21.

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Contra

0

Calvinismo

esse sistema. Quais cristãos evangélicos negam os atributos citados? Para Hansen e as pessoas a quem ele estuda, todavia, tal pode ser uma questão de destaque. De acordo com ele, os novos calvinistas estão reagindo ao que ele considera um esmorecimento geral da teologia e, principalmente, da ênfase na glória de Deus na vida eclesiástica estadunidense contempo- rânea. Seus objetos de estudo, ele diz, estão reagindo contra a “teologia do bem-estar” de muitas igrejas evangélicas contemporâneas 5.

Hansen está se referindo a estudos sociológicos dos jovens cristãos que classificam a visão padrão de Deus como “ Deísmo Terapêutico Moralista” 6 — um termo sofisticado para descrever uma visão de Deus como uma figura de um avô no céu que exige perfeição, mas que, no final, sem pre perdoa. Este “ Deus” é tanto um juiz quanto um coach de autoestima. Ele não pode ser agradado, mas sem pre perdoa. Esta é uma visão fraca e diluída de Deus pelos padrões cristãos históricos e muitos jovens cristãos se deram conta disto e se voltaram para a única alternativa que lhes estava disponível — as robustas e espessas doutrinas do calvinismo.

Como um professor experiente de faculdades cristãs e de univer- sitários cristãos eu aceito esta crítica feita a muito da vida eclesiástica evangélica contem porânea e pregação. É demasiado alto 0 número de jovens cristãos que crescem praticamente sem nenhum conhecimento bíblico ou teológico, pensando que Deus existe para dar-lhes conforto e sucesso na vida ainda que ele estabeleça um padrão que ninguém possa realmente atingir. Como um amável avô que demonstra ternura excessiva para com seus descendentes pré-adolescentes, Deus pode até

5. Ibid., 20 - 21. O que exatamente constitui a “ teologia do bem estar” nem sempre é fácil de dizer, mas muitos dos novos calvinistas (e outros, incluindo este autor não calvinista!) veem isso manifesto na pregação e publicação populares que promovem 0

cristianismo como o caminho para a auto-realização e sucesso, se não a prosperidade material.

6. Ver Christian Smith e Melinda Lundquist Denton, “Summary Interpretation: Therapeutic Deism,” em Soul Searching: The Religious and Spiritual Lives of American

Teenagers (New York: Oxford Univ. Press, 2005), 102 - 71.

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Por que este livro agora?

se desapontar conosco, mas Seu objetivo último, de qualquer forma, é de nos trazer satisfação.

Isso pode ser uma espécie de caricatura; pouquíssimos pastores ou professores evangélicos diriam tal coisa. Mas minha experiência corro- bora com 0 que Hansen argumenta — que de alguma forma ou outra a maioria dos jovens cristãos acaba por se apegar a tal visão de Deus e fracassa plenamente na busca das riquezas da Bíblia ou da teologia cristã de sorte que aprofundem o entendimento acerca de si e de Deus. Muitos dos mais inteligentes e melhores jovens adquirem uma vaga percepção de que falta algo em sua educação cristã, e quando ouvem a mensagem do calvinismo, eles se apegam a ela como se fosse um bote salva-vidas que os livra de uma espiritualidade culturalmente acom odada e rala. Quem pode culpá-los? Todavia, 0 calvinismo não é a única alternativa, a maioria deles sabe muito pouco ou nada acerca da fraqueza deste sistema ou sobre teologias alternativas m oderadas historicamente ricas e biblicamente fiéis.

RAÍZES DO NOVO CALVINISMO

Nesta altura os leitores podem estar se perguntando se este fenôme- no do novo calvinismo é um modismo de jovens que surgiu do nada. Já insinuei fortemente que não se trata disso. Mas algo novo está em curso nele — o apelo de uma antiga teologia para uma platéia bastante jovem . O calvinismo e teologia reformada (uma diferenciação e relação destes termos será feita no capítulo 2) costumavam ser uma tradição cristã grandemente atrelada principalmente a pessoas idosas. Anos atrás até m esm o muitos cristãos evangélicos pensavam no calvinismo como que quase restrito às regiões de Grand Rapids, Michigan e Pella, Iowa (e comunidades sem elhantes povoadas principalmente por imigrantes holandeses). A Holanda era, afinal de contas, um país onde 0 calvinismo especialm ente pegou. Grand Rapids oferece uma gam a de instituições calvinistas influentes, tais como 0 Calvin College e Seminary, inúmeras

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Contra o Calvinismo

editoras de viés calvinista e várias igrejas calvinistas grandes. Em Pella, Iowa, onde acontece um festival anual de tulipa bastante freqüentado, podemos encontrar Primeira, Segunda e Terceiras igrejas reformadas com poucas quadras de distância uma das outras. E a cidade se orgulha do excelente Central College — uma faculdade de artes liberal reformada.

A descrição anterior em nada visa desm erecer as igrejas reformadas ou a teologia calvinista; elas possuem uma rica tradição histórica e uma grande presença dentro do cristianismo evangélico estadunidense. Mui- tos líderes e pensadores preeminentes têm sido reformados desde os dias dos puritanos (que eram calvinistas ingleses). Todavia, por várias gerações durante 0 século XX a vitalidade do calvinismo parecia estar se esvanecendo. Alguém pode perceber isso nos tons defensivos do m assivo tomo do nobre teólogo calvinista Loraine Boettner (19 0 1 - 1990), The Reformed Doctrine o f Predestination.7, (o livro de Boettner foi tratado a muito como uma fonte magistral acerca do calvinismo rígido por inúmeros cristãos reformados, ainda que livros mais populares que tratam da m esm a teologia sejam melhores que este).

Boettner, que declarou que “uma exposição plena e completa do sis- tema cristão só pode ser dada com base na verdade conforme estipulada no sistema calvinista” 8 e que “ nossa doutrina é a doutrina claramente revelada das Escrituras” 9, denunciou o declínio da forte crença calvinista entre os evangélicos estadunidenses. Ele ficaria satisfeito em ver a atual renascença do calvinismo. Mas ele estava certo. Entre a década de 40 até a década de 80 o calvinismo enfrentou dificuldades com o público jovem; na década de 70 o Jesus Movement era qualquer coisa menos calvinista, e os movimentos carismáticos e a Terceira Onda também foram, em sua maioria, não calvinistas. Estes foram os movimentos populares de minha

7. Loraine Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination (Grand Rapids: Eerdmans, 1948).

8. Ibid., 7. 9. Ibid., 248.

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Por que este livro agora?

juventude, muitos dos adolescentes cristãos de hoje e alunos universi- tãrios (e pessoas mais velhas também) estão tão empolgados com essa sua recém-encontrada fé na soberania absoluta de Deus como os jovens cristãos de minha geração estavam em relação a “ ficar doidão em Jesu s”. Entretanto, o calvinismo jam ais desapareceu ou ficou obscurecido. Ele sempre foi uma força robusta em certos segm entos da vida eclesiástica estadunidense. E os cristãos jovens, incansáveis e reformados estão larga- mente inconscientes de calvinistas anteriores ajohn Piper (e seus jovens pregadores e escritores popularizantes) que prepararam 0 caminho para a redescoberta desta m ensagem e estilo de vida. Um desses calvinistas foi Boettner — pouco conhecido, mas influente. Outro foi Jam es Mon- tgom ery Boice (19 38 - 2000), um de meus professores do seminário e que pastoreou a Décima Igreja Presbiteriana em Filadélfia, Pensilvânia, uma igreja evangélica e fortemente calvinista. Também foi pregador de rádio, comentarista bíblico, editor de revista cristã (Eternity) e autor de vários livros principalmente acerca da teologia reformada. (Boice tirou um período sabático de sua igreja na metade dos anos 70 durante 0 qual ele lecionou um curso no North American Baptist Seminary em Sioux Falls, Dakota do Sul; eu fui um de seus alunos durante aquele curso de mini sem estre sobre pregação). A maioria dos jovens novos calvinistas jam ais ouviu falar de Boice, mas ele foi um pastor-autor-teólogo-orador incrivelmente prolífico, quase que uma força da natureza na vida evan- gélica estadunidense, o m esm o que o Piper representa atualmente.

Outro precursor e pioneiro do novo calvinismo é o teólogo reforma- do e apologista R. C. Sproul (n. 1939), fundador do influente Ligonier Ministries, cuja especialidade é apologética cristã. (Nem todos os calvi- nistas gostam tanto de apologética racional quanto 0 Sproul, mas não há dúvidas acerca de suas credenciais calvinistas). Sproul atuou como docente em vários seminários calvinistas conservadores preeminentes e apareceu em pessoa e via mídia em inúmeras conferências cristãs e eventos eclesiásticos. Entre suas am plam ente lidas exposições e

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Contra o Calvinismo

sas da teologia calvinista estão O que é Teologia Reformada? e Eleitos de

Deus 10. Hansen dá a Sproul grande crédito por preparar 0 caminho para o novo calvinismo ainda que ele não seja tão bem conhecido entre os jovens, incansáveis e reformados quanto John Piper.

Outro orador e escritor calvinista popular que ajudou a preparar 0

terreno para 0 reavivamento da teologia reformada entre os jovens é o evangelista de rádio, pastor e comentarista bíblico John F. MacArthur (n. 1939), pastor de uma das megaigrejas originais — Grace Community Church of Sun Valley, Califórnia. Seu programa radiofônico Grace to You tem estado ininterruptamente no ar desde 19 7 7 . Em 19 8 5 ele fundou sua própria faculdade cristã e em 1986 seu próprio seminário. É 0 autor de um grande número de livros, sendo que todos eles promovem uma perspectiva calvinista acerca da Bíblia e teologia. É indubitável que, assim como Boice e Sproul a influência de MacArthur ajudou a desenvolver os novos calvinistas que, em geral, jam ais ouviram falar dele.

Outro precursor e pioneiro deve receber crédito pelo ressurgimento do calvinismo ainda que poucos de seus jovens adeptos o conheçam. Estou falando de Michael Horton (b. 1964), autor e editor teológico pro- líftco que leciona no Westminster Theological Seminary no campus em Escondido, Califórnia. É 0 organizador mestre e uniu muitos calvinistas (e outros com visões sem elhantes de Deus e da salvação) em organiza- ções como a Aliança de Evangélicos Confessionais, da qual ele atuou como diretor executivo. É o editor da extrem am ente bem-sucedida revista Modem Reformation e apresentador do programa de rádio White

Horse Inn — órgãos de interpretação bíblica, crítica cultural e teologia

calvinistas sérios, mas populares. Muitos jovens neocalvinistas estão redescobrindo Horton e suas obras, tais como Cristianismo sem Cristo:

O Evangelho Alternativo da Igreja Atual 11 — uma crítica profética da

10. SPROUL, R. C. O que é teologia reformada? Sào Paulo: Cultura Cristã, 2009. SPROUL, R.C. Eleitos de Deus, Editora Cultura Cristã, 2002.

11. HORTON, Michael. Cristianismo sem Cristo.Tradução de Neuza Batista. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.

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Por que este livro agora?

raquítica teologia e espiritualidade “centrada no hom em ” de muito do cristianismo evangélico hodierno.

Estes insignes calvinistas estão rodeados de uma miríade de outros que poderiam ser citados como promotores influentes do calvinismo evangéli- co e preparadores da ascensão do novo calvinismo nas décadas de 90 e a primeira década do século XXI. Mas um fenômeno deve ser mencionado mesmo que dando um relato apressado do histórico do movimento — o “ ressurgimento de Edwards” tanto na filosofia quanto na teologia durante as últimas décadas do século XX. Por décadas e talvez um século Jonathan Edwards era conhecido para a maioria das pessoas, cristãos inclusos, apenas como o pregador puritano carrancudo do sermão “ Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”. Todavia, ele foi redescoberto nos anos 80 e após como um profundo filósofo e teólogo assim como também um observador astuto da natureza e naturalista amador. Inúmeros livros continuam a sair das editoras promovendo Edward como 0 “Teólogo Americano” — 0

título de uma recomendação teológica de Edward e seu pensam ento12. Durante seus dias como aluno no Fuller Theological Seminary escolheu John Piper como seu mentor teológico e encontrou nele explicação mais

rica e completa do cristianismo bíblico no mundo moderno13.

Nada desta história inclui as pessoas associadas ao baluarte da vida e pensamento reformado estadunidense — Calvin College e Sem inary de Grand Rapids, Michigan. A extensão na qual estas instituições prepa- raram o caminho para 0 novo calvinismo é incerta. A influência delas é

12. Robert W. Jenson, America's Theologian: A Recommendation of Jonathan Edwards

(New York and Oxford: Oxford Univ. Press, 1988).

13. Meu conhecimento deste episódio e desenvolvimento na carreira do Piper vem de uma longa conversa com um dos professores de seminário do Piper, Lewis Smedes (1921 - 2002). O próprio Smedes era um tipo de calvinista, mas na fase madura de sua vida ele deixou o calvinismo rígido (o sistema da TULIP) e me confessou que havia abraçado o teísmo aberto - a visão de que Deus limita a si mesmo a ponto de não conhecer 0 futuro de maneira exaustiva e infalível. Todavia, como um dos mentores de Piper no Fuller Seminary anos antes, Smedes se lembrou de ter recomendado que o Piper estudasse Edwards e que mergulhasse em sua teologia. Sua mensagem para mim foi que, em sua opinião, o Piper levou essa tarefa a sério demais!

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Contra o CaK/inismo

provavelmente mais remota. Além disso, alguns pensadores reformados estadunidenses associados a estas instituições expressaram certas reser- vas acerca do novo calvinismo que, interpretado de certa forma, poderia ser visto como lançando dúvida sobre seus precursores já mencionados.

A edição da revista Christian Magazine de 1 de dezem bro de 2009 continha um artigo do teólogo reform ado Todd Billings do Western Theological Sem inary of Holland, Michigan (que, assim como o Calvin College e Seminary, é um centro m ais antigo da tradição reform ada estabelecido na Holanda). Em seu artigo “ O Retorno de Calvino? O Reform ador Irresistível” , Billings dènunciou o foco unilateral do novo calvinism o em algum as doutrinas reform adas m ais incomuns e, prin- cipalm ente 0 esquem a TULIP: depravaçáo total, eleição incondicional, expiação limitada, graça irresistível e perseverança dos santos. Ele asseverou que os novos calvinistas utilizam a TULIP como um teste decisivo no qual se testa a autenticidade de alguém como reformado. Em resposta ele alega que 0 acróstico TULIP não fornece um a redução à essência adequada ou acurada da teologia reform ada 14 e critica os neocalvinistas por colocar no centro 0 que é periférico à tradição.

Para Billings e para muitos outros “calvinistas litúrgicos” (um termo para os que estão associados às denom inações sacramentais e liturgias holandesas, escocesas reform adas e presbiterianas mais antigas) os novos calvinistas estão cometendo um erro. “ Reform ado” não designa uma ênfase na predestinação e certamente também não na reprovação (predestinação de algumas pessoas ao inferno) — 0 que Calvino notoria- mente chamou de “ decreto horrível [de Deus]” — mas em certas visões católicas (aqui, significando universal) e sacramentais do cristianismo que realmente enfatizam a soberania de Deus, mas que não o esgota em celebração do controle absoluto de Deus dos mais pormenorizados acontecimentos, incluindo 0 mal.

14. J. Todd Billings, “ Calvin’s Comeback? The Irresistible Reformer,” Christian Century

(December 1, 2009), 22 - 25.

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Por que este livro agora?

A objeção de Billings irá, sem dúvida, ser debatida por outros autopro- clam ados cristãos reformados. Só a mencionei aqui porque ela expressa bem um murmúrio contra o novo calvinismo que pode ser ouvido das instituições estadunidenses e europeias reformadas mais antigas que, em certa extensão, minimizam o sistema TULIP da teologia reformada. Eu explorarei mais acerca do assunto e outros aspectos da diversidade reformada e calvinista nos próximos dois capítulos.

A NECESSIDADE DE UMA RESPOSTA AGORA

Esta introdução tem 0 título “ Por quê Este Livro Agora?”. De fato, por quê um livro Contra o Calvinismo? O aumento da reflexão teológica séria e comprometimento entre jovens cristãos não é uma coisa boa? Por quê derramar água fria sobre as cham as de espiritualidade do avivamento entre a juventude? Levo esta consideração muito a sério.

Todavia, creio que é chegado o tempo para que alguém aponte as fa- lhas e fraquezas neste tipo específico de calvinismo — 0 tipo amplamente abraçado e promovido por líderes e seguidores do movimento jovem, incansável e reformado. Mas a promoção do que considero um sistema falho não advêm apenas deles. A m esma teologia da soberania absoluta de Deus pode ser encontrada em Calvino (talvez sem 0 aspecto da expiação limitada), Edwards (de maneira extrema, conforme explicarei), Boettner, Boice, Sproul e inúmeros outros popularizadores do calvinismo. Mas então, qual é o erro em acreditar e celebrar a soberania de Deus? Absolutamente nenhum! Mas, a soberania pode e frequentemente é levada a excessos — fazendo de Deus o autor do pecado e do mal — que é algo que poucos calvinistas admitem, mas é o que se segue do que eles ensinam como a “conseqüência lógica e necessária” (uma expressão técnica de certa forma confusa geralmente utilizada pelos próprios calvinistas para salientar os efeitos temerosos que enxergam nas teologias não calvinistas).

Você pode acessar o fenôm eno da Internet chamado Youtube e assis- tir vários clipes de vídeos de proponentes do novo calvinismo fazendo

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Contra o Calvinismo

declarações chocantes acerca da soberania de Deus, incluindo que Deus causa calam idades e horrores “para sua glória”. John Piper publicou um sermão, hoje muito conhecido, poucos dias após os acontecimentos terroristas nas Torres Gêmeas de 11 de setembro de 2 0 0 1, declarando que Deus não apenas permitiu tais eventos, mas que os causou '5. Ele desde então tem publicado outras declarações semelhantes em que atri- bui a Deus desastres naturais e calam idades horrendas. Piper não está sozinho; muitos dos novos calvinistas e seus mentores estão afirmando agressivamente que esta visão de Deus é a única que é bíblica e razoável.

O calvinismo popular contemporâneo pode ser, no geral, consisten- te com Calvino e muito de seus seguidores (embora eu pense que ele seja ainda mais moldado por seu sucessor e 0 pastor chefe de Genebra, Theodore Beza [1 5 19 - 1605] e seus seguidores), m as ele não é a única versão da teologia reformada e do calvinismo. Explicarei mais sobre isso no capítulo seguinte. Por agora nos basta dizer que m esm o muitos cristãos reformados estão chocados e horrorizados com as implicações da ênfase extrem ada na soberania de Deus do novo calvinismo.

Claro, a definição de “reform ado” depende grandemente da igreja e do pensador que reivindica 0 termo. Na verdade, a organização mundial cham ada Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas (CMIR) inclui muitas denom inações e igrejas que, de forma alguma, abraçam todo 0 sistema da TULIP. (De fato, surpreendendo a muitos calvinistas, a CMIR inclui algumas igrejas arminianas que acreditam no livre-arbítrio e que negam 0

controle meticuloso e providencial de Deus de todos os acontecimentos!) Eu me considero reformado no sentido amplo — não luterano inserido na ampla corrente protestante que se estende da reforma suíça liderada originalmente por Ulrico Zuínglio (1484 - 15 3 1) .

15. John Piper, “W hy I Do Not Say, ‘God Did Not Cause the Calamity, but He Can Use It for Good.’ ” www.desiringgod.org/ResourceLibrary/TasteAndSee/ByDate/2001/1181_ W hy_I_Do_N ot_Say_God_D id_Not_Cause_the_Calam ity_but_H e_Can_Use_It_for_ Good/.

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Por que este livro agora?

Acredito que alguém precise, por fim, se levantar e, em amor, dizer um “ Não!” com firmeza às afirm ações ofensivas frequentemente feitas por calvinistas acerca da soberania de Deus. Levadas a sua conclusão lógica, até m esmo o inferno e os que sofrerão eternam ente nele são preordenados por Deus, Deus é, desse modo, retratado, no melhor cenário, como moralmente ambíguo e, no pior cenário, um monstro moral. Cheguei ao ponto de dizer que este tipo de calvinismo, que atribui tudo à vontade e 0 controle de Deus, torna difícil (pelo menos para mim) enxergar a diferença entre Deus e o diabo. Alguns de meus am igos calvinistas se sentiram ofendido com essa afirmação, mas eu continuo a acreditar que ela seja uma questão válida que valha a pena ser acompanhada. Quando digo isso quero dizer que se eu fo sse calvi- nista e acreditasse no que estas pessoas ensinam, eu teria dificuldade em dizer a diferença entre Deus e Satanás. Falarei mais a esse respeito de maneira pormenorizada durante o curso deste livro.

Alguns calvinistas acusam os não calvinistas de rejeitarem sua teologia da soberania de Deus em razão do amor humanista latente pelo livre- -arbítrio. Um colega calvinista, que se tornou um autor bem conhecido de livros reformados, uma vez me indagou se eu considerava a possibilidade de que minha crença no livre-arbítrio fosse uma prova de humanismo não reconhecido em meu pensamento. Não é necessário dizer que rejeito essa suposição. A questão é que eu, assim como a maioria dos cristãos não calvinistas, abraço 0 livre-arbítrio por dois motivos (além do fato de acreditarmos que 0 conceito esteja suposto na Bíblia): 0 livre-arbítrio é necessário para conservar a responsabilidade humana pelo pecado e o mal e também por ele ser necessário para eximir Deus da responsabili- dade pelo pecado e o mal. Posso dizer com toda a sinceridade (como a maioria dos evangélicos não calvinistas 0 faz) que eu não dou a mínima para o livre-arbítrio a não ser por estes motivos.

Não tenho o interesse em uma teologia centrada no homem; estou intensamente interessado em adorar um Deus que é verdadeiram ente

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Contra 0 Calvinismo

bom e acima da repreensão pelo Holocausto e todos os outros males que são por demais numerosos para serem mencionados. Um elevado número de autores calvinistas interpreta equivocadam ente as teologias não calvinistas como se elas fossem antropocêntricas, humanistas, desonrosas a Deus, e até m esmo não bíblicas sem jam ais admitir os problemas em sua própria teologia. Muitíssimos seguidores jovens e impressionáveis ainda não se deram conta de quais sejam estes proble- m as16. Escrevo isso para ajudá-los.

É chegada a hora de um “ Não” conciliador e amável para a versão extrema do calvinismo sendo promovida pelos líderes da geração jovem, incansável e reformada e que é frequentemente abraçada sem análise crítica por seus seguidores. Demonstrarei que o “ Não” pode ser dito dentro da própria teologia reformada e que ele tem sido dito por alguns teólogos reformados e acadêmicos bíblicos preeminentes. Mostrarei que este calvinismo extrem ado, que juntam ente com 0 partidário Hansel eu chamo de “ radical” 17 é inerentemente defeituoso bíblica e logicamente e em termos da tradição cristã mais ampla.

Colocarei todas as minhas cartas na m esa aqui e confessarei que opero com quatro critérios de verdade teológica: Escritura, tradição, razão e experiência (o então cham ado Quadrilátero Wesleyano). Es-

critura é a fonte e norma primária de teologia. Tradição é a “ norma

norm atizada” — um respeitado m ecanism o de orientação. Razão é uma ferramenta crítica para interpretar a Escritura e eliminar alegações teológicas absolutamente inacreditáveis que são contraditórias entre si

16. Escrevi um livro inteiro sobre a teologia arminiana, uma tradição que frequentemente representada equivocadamente pelos críticos calvinistas como uma teologia centrada no homem (entre outras coisas. OLSON, Roger E. Teologia Arminiana: Mitos e Realidades; tradução Wellington Carvalho Mariano. São Paulo: Editora Reflexão, 2013. Nesta obra eu provo que a maioria das críticas feitas pelos calvinistas à teologia evangélica não calvinista (e talvez algumas outras) é falsa.

17. Hansen, Young, Restless, Reformed, 19.

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Por que este livro agora?

ou que levem a conseqüências que são insustentáveis à luz do que mais é crido. Experiência é 0 teste inevitável na qual a teologia é feita, m as embora ela seja um critério para avaliação, ela não é uma autoridade, portanto, dificilmente apelarei a ela. O que eu deveras acredito acerca da experiência é que nenhuma teologia é criada ou adotada no vácuo; experiência sem pre afeta o que acreditamos e como acreditamos.

Argumentarei no decorrer deste livro que o calvinismo rígido não é a única e nem a melhor forma de se interpretar a Bíblia. Ele é uma inter- pretação possível de textos isolados, mas à luz de todo o testemunho da Escritura ele não é viável. Além do mais, argumentarei que o calvinismo rígido perm anece em tensão com a antiga fé da igreja cristã e muito da herança da fé evangélica. Alguns de seus princípios fundamentais não podem ser encontrados antes de Agostinho, pai da igreja, no século V, e outros não podem ser encontrados antes de um herético chamado Gottschalk (aproximadamente 867) ou a partir dele até o sucessor de Calvino, Theodore Beza.

Por fim, argumentarei que 0 calvinismo rígido entra em contradições; ele não pode ser feito inteligível — e o cristianismo deve ser inteligível. Por “inteligível” eu não quero dizer filosoficamente racional; quero di- zer capaz de ser entendido. Uma contradição pura é evidente sinal de erro; até m esmo a maioria dos calvinistas concorda com isso. A maior contradição é a de que Deus é confessado como perfeitamente bom ao m esmo tempo em que é descrito como autor do pecado e do mal. Não digo que todos os calvinistas admitem que sua teologia torna Deus o autor do pecado e do mal; muitos negam isso. Mas mostrarei que tal é a “conseqüência lógica e necessária” do que dizem sobre Deus.

Alguém disse que nenhuma teologia que não possa ser pregada na frente dos portões de Auschwitz é digna de ser crida. Eu, sob meu ponto de vista, não poderia ficar de pé na frente daqueles portões e pregar uma versão da soberania de Deus que faça do extermínio de seis milhões de judeus, incluindo muitas crianças, parte da vontade e plano de Deus de

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Contra o Calvinismo

maneira que Deus 0 tenha preordenado e o tornado certo18. Quero que os jovens calvinistas (e outros) saibam e, ao menos passem a reconhe- cer e lidar com as conseqüências inevitáveis e insuperáveis do que esta forma radical de teologia reformada ensina. E quero dar a seus amigos, familiares e mentores espirituais a munição a ser utilizada para solapar esta, por vezes, exagerada confiança na solidez de seu sistema de crença.

18. Em todo esse livro eu utilizarei a frase “tornado certo” para descrever o que os calvinistas rígidos acreditam acerca do papel de Deus em causar o pecado e o mal. Poucos calvinistas rígidos dizem que Deus causou o Holocausto, mas eles dirão que Deus 0 preordenou e (para fazer uso da terminologia de John Piper) garantiu que ele acontecesse. “Tornado certo” é uma forma de evitar a linguagem de causação, pois os calvinistas não se sentem à vontade com isso, mas essa linguagem, ao mesmo tempo, expressa 0 que deve ser crido dentro da visão calvinista rígida da providência.

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capítulo 2

Calvinismo de quem?

Qual teologia reformada?

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FREQÜENTEI UMA ASSOCIAÇÃO profissional de teólogos cristãos na qual um acadêmico calvinista preeminente e teólogo reformado leu uma dissertação acerca da teologia calvinista. Em nenhum lugar ele mencio- nou as doutrinas da providência meticulosa (de que Deus controla todos os acontecimentos incluindo 0 pecado e o mal) ou a predestinação. Na verdade, todo o esquem a da TULIP estava completamente ausente de sua descrição da teologia de Calvino. A ênfase estava preferivelmente na gratidão para com Deus como o grande tem a de Calvino. Durante 0

período de discussão que se seguiu eu perguntei ao acadêmico por que ele não havia dito nada concernente à doutrina de Calvino da soberania divina absoluta e toda abrangente. Ele respondeu quase que condescen- dentemente que tal faceta não é parte essencial da teologia de Calvino ou da teologia reformada.

Essa resposta surpreenderia a muitos calvinistas jovens, incansáveis e reformados! Minha experiência é a de que a maioria deles se espe- cializa nesta doutrina; ela é para eles a doutrina de grande conforto e o motivo pelo qual eles, em primeiro lugar, abraçaram 0 calvinismo. Alguém me disse que ele teve uma segunda conversão — sendo esta segunda conversão ao calvinismo em razão de uma repentina e im- pressionante experiência de conforto e de acreditar que a salvação é um ato plenamente de Deus e que não tem nenhuma relação com suas

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Contra o Calvinismo

decisões, exceto 0 fato de Deus lhe conceder o dom da fé para crer em Jesus Cristo. Para outros jovens calvinistas (e outros) a forte doutrina da soberania de Deus permite ao mundo caótico fazer sentido — tudo faz parte do desenrolar de um plano mestre divino.

Em sum a, a m aioria dos participantes no movimento do novo cal- vinism o acredita firm em ente que a soberania absoluta de Deus, que exclui a contingência e 0 livre-arbítrio, é central a sua recém-descoberta fé reform ada. Será um choque para eles descobrir que “ reform ado” é essencialm ente um conceito contestado. O que eles estão cham ando de “ reform ado” não é a única versão da tradição reform ada e é ainda m ais debatível se o que eles estão cham ando de calvinismo era acre- ditado em sua totalidade por Calvino.

O QUE SÃO CALVINISMO E TEOLOGIA REFORMADA?

Antes de mergulhar em minha crítica ao calvinismo, cabe a mim explicar com a maior cautela e acurácia possíveis qual calvinismo estou criticando e qual teologia reformada eu sou contra. Mas as próprias cate- gorias são utilizadas de maneiras tão diferentes por diferentes teólogos e historiadores que é difícil tratar estes termos como caixas (pacotes) — categorias fechadas na qual cada crença ou se encaixa plenamente ou não se encaixa. Há muita fluidez e ambigüidade nestes termos e os fenôm enos que eles descrevem.

Comparo a situação a tentar separar conceitos tais com o “ liberal” e “conservador” na vida política estadunidense. Dizem que os repu- blicanos são conservadores. Entretanto, historicamente, muitos dos prim eiros republicanos eram radicais. Abraham Lincoln foi um dos prim eiros republicanos dos Estados Unidos e foi um infam e icono- clasta e destruidor do status quo. Por conseguinte, ele foi tudo exceto conservador em qualquer sentido comum da palavra. Durante a dé- cada de 60 vários políticos republicanos preem inentes eram notáveis liberais política e socialmente. Nelson Rockefeller (19 0 8 - 1997) foi

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CaJvinismo de quem? Qual teologia reformada?

vice-presidente de Gerald R. Ford e foi fam oso por ser, de certa forma, liberal. Entretanto, ele foi 0 líder do partido republicano. Também durante as décadas de 60 e 70 muitos democratas, principalmente do sul, eram arquiconservadores política e socialmente. Eram cham ados de “ Dixie D em ocrats” * e, às vezes, “ Boll Weevil D em ocrats” ** em virtude se suas tradições sulistas e recusa de votar a favor de reform as sociais progressivas.

Categorias políticas não são nem de perto tão organizadas quanto muitas pessoas pensam . Nem os termos calvinista e reformado. Quan- do as pessoas me dizem que são teologicamente reformadas, eu tenho uma pequena ideia do que elas querem dizer. Entre os novos e jovens calvinistas isso geralmente significa que a pessoa é calvinista no sentido forte da crença em todo 0 sistema da TULIP de soteriologia (doutrina da salvação). Entretanto, conheço pessoas que são robustamente re- formadas em suas próprias m entes e que rejeitam aspectos cruciais da TULIP. De maneira semelhante, conheço pessoas que orgulhosamente se identificam como calvinistas que não seriam consideradas reformadas por autoridades preeminentes acerca do que reformado significa. Em alguns círculos batistas, calvinista indica apenas que a pessoa acredita na doutrina da segurança eterna dos verdadeiros crentes — que uma pessoa genuinamente salva não pode se apostatar e terminar no infer- no independente do que façam ou deixem de fazer. Em alguns círculos reformados (principalmente no que chamei de “ reformados litúrgicos”) batistas não podem ser verdadeiram ente reformados. A Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas (CMIR), um órgão ecumênico de 2 14 de- nominações em 107 países — não inclui quaisquer grupos batistas ainda que alguns batistas declarem a si m esm os e suas igrejas como “ batistas

* Partido político segregacionista dos EUA de curta duração.

** Nome dado aos políticos estadunidenses na década de 1920 em referência aos de- mocratas sulistas conservadores.

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Contra o Calvinismo

reform adas” Por fim, muitos luteranos utilizam o termo reformado para designar todos os protestantes não luteranos

Se estiver confuso, não se preocupe com isso. Estes termos e as cate- gorias que eles tentam nomear são escorregadios. Apesar da existência da CMIR não existe um magistério mundial (autoridade formal) que tenha 0 poder de decidir quem é e quem não é reformado ou calvinista. Falando em termos práticos, qualquer pessoa pode utilizar estes termos para referir-se a si m esm a de qualquer forma que quiser e ninguém pode fazer nada a esse respeito (exceto rejeitar a reivindicação dela). Claro, algumas denominações, igrejas e outras organizações cristãs possuem seus próprios testes decisivos de classificação para determinar quem, dentro de tal organização, é verdadeiramente calvinista ou reformado (ou ambos). Uma abordagem tradicional é a de identificar como reformado apenas as pessoas e grupos que confessam os “três símbolos de unida- d e” (declarações de fé) — Catecismo de Heidelberg, Confissão Belga e os Cânones de Dort. Mas tal abordagem exclui presbiterianos, a maioria dos quais identifica suas tradições como reformadas, e a Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas (CMIR) inclui muitos grupos presbiterianos. Os presbiterianos aderem à Confissão de Fé de Westminster escrita pelos calvinistas britânicos em 1648 que foi, em grande parte, em basada nos “três símbolos de unidade” mencionados anteriormente.

Em razão desta confusão de termos será útil aqui esclarecer os termos mais cuidadosamente e exam inar as alegações dos novos calvinistas, muitos dos quais pertencentes a igrejas batistas ou independentes, de serem verdadeiram ente representantes do calvinismo histórico e

1. Ver, por exemplo,Casper Nervig, Christian Truth and Religious Delusions (Minneapolis, MN: Augsburg, 1941). O livro de Nervig foi amplamente utilizado por muito tempo pelos luteranos acerca dos prós e contras das denominações, ele lista e descreve sob a categoria “As igrejas Reformadas” asas seguintes igrejas: Presbiteriana, Congregacional, Episcopal Protestante (e suas ramificações). Metodista e Batistas. Muitos reformados e calvinistas conservadores ficariam chocados em encontrar metodistas e batistas agrupados sob a categoria de “ reformado”.

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Calvinismo de quem? Qual teologia reformada?

reformado e da teologia reformada. Muitos deles reivindicam que eles ou seus líderes são os genuínos portadores do verdadeiro calvinismo e da teologia reformada, e tendem a colocar o esquem a da TULIP no centro do que significa ser calvinista e reformado. Quero deixar claro que não me oponho a toda a teologia reformada, assim como também não me oponho a todo o espectro da forma de vida cristã reformada. Sou contra o esquem a da TULIP do calvinismo e da teologia reformada radical que 0 abraça e o força até o seu limite. Chamo isso de “ teologia reformada radical” em oposição à teologia reform ada moderada, que é mais inclusiva e menos enfática acerca da TULIP.

TEOLOGIA REFORMADA EM PERSPECTIVA HISTÓRICA

Uma maneira de lidar com a decisão de quem verdadeiramente é reformado é olhar para a CMIR. Todos apresentam certas reivindicações a ancestralidade espiritual e teológica na ala suíça da reforma do século XVI liderada por Zuínglio e Calvino. (Todavia, historicamente falando, o reformador de Estrasburgo, Martin Bucer [14 9 1 - 15 5 1 ] , é comumente considerado pelos teólogos históricos um líder antigo do movimento re- formado igualmente importante). A CMIR sem dúvida e, de fato, celebra a vida e pensamento de João Calvino; algo que ficou evidente durante 2009 — aniversário de quinhentos anos do nascimento de Calvino. Todavia, sua m embresia inclui denom inações que não particularmente exaltam Calvino ou sua teologia, mas cuja linhagem histórica, assim por dizer, remontam da Reforma Suíça, da qual Calvino fez parte. A AM1R (Aliança Mundial de Igrejas Reformadas) fundiu-se com outra or- ganização reformada para formar a CMIR em 20 10 ; 0 website da CMIR apresentava a seguinte descrição, que alguém pode presumir que esteja mais ou m enos correta acerca da CMIR;

A AMIR é uma associação de m ais de 200 igrejas com raízes na Reform a do século XVI liderada por João Calvino, João Knox, Ulrico Zuínglio e muitos outros e os prim eiros movim entos reform adores de João Huss e Pedro Valdes. Nossas igrejas são Congregacionais,

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Contra 0 Calvinismo

Presbiterianas, Reform ada e Unida. A maioria vive e testemunha no hem isfério sul; muitas são minorias religiosas em seus países. A Aliança é um a rede interdependente de pessoas e igrejas trabalhan- do e adorando juntos com fé na prom essa de Deus de sem pre estar com sua criação2.

A CMIR, como a AMIR antes dela, inclui a todos, desde a Igreja Pro- testante da Algéria (primeira igreja membro listada em ordem alfabética por país) à Igreja Presbiteriana da África do Sul3. Entre as denom inações membro estão a Igreja Evangélica Valdense do Rio da Prata, Uruguai, uma ramificação do movimento valdense mais amplo que remonta ao ministério do reformador italiano Pedro Waldo (114 0 - 12 18 ), que viveu bem antes de Calvino, e a Irmandade Remonstrante da Holanda — a m ais antiga igreja arminiana no mundo. (Jacó Armínio [15 6 0 - 1609] e seus seguidores, os remonstrantes, eram opositores ferrenhos de, pelo menos, os três pontos do meio do acróstico TULIP).

Notadamente ausentes da lista estão todas as igrejas batistas, e, entretanto, conforme dito antes, muitos dos líderes dos jovens, incan- sáveis e reformados são batistas. A exclusão dos batistas da CMIR mais do que sugere que os cristãos reformados do mundo não consideram “batista reform ado” um termo historicamente preciso. Claro, os batistas reformados (e outros) sem pre podem dizer que a CMIR não possui auto- ridade de decidir quem é e quem não é reformado — e isso é verdade. Entretanto, é interessante que a CMIR exclui batistas, mas inclui muitas [outras] igrejas, tais como as igrejas valdenses e remonstrantes, que

não consideram a si m esm as calvinistas! Quais igrejas são ou podem

ser inclusas na CMIR? De acordo com sua constituição, pode se filiar qualquer órgão (denominação) que:

• Aceita a Jesus Cristo como Senhor e Salvador;

2. www.warc.ch.

3. www.warc.ch/who/mc.html

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Calvinismo de quem? Qual teologia reformada?

• Estima a Palavra de Deus dada nas Escrituras do Antigo e Novo Testamentos como a autoridade suprem a em questões de fé e vida;

• Reconhece a necessidade da contínua reforma da igreja universal;

• Posiciona-se em fé e evangelismo em consonância geral com as confissões reformadas históricas;

• Reconhece que a tradição reformada é um ethos bíblico, reformado e doutrinário mais do que qualquer definição de fé e ordem exclusiva e reducionista4

Nada é dito acerca de quais “confissões reform adas” um a denomi- nação m em bro deve estar em consonância com ou o que “estar em consonância” significa. Alguém pode supor que tais sejam o Catecismo de Heidelberg, a Confissão Belga e a Confissão de W estminster ou a Declaração de Savoy (a versão congregacional da Confissão de West- minster). Todavia, em razão da pitada liberal de algumas denom inações filiadas, é improvável que “consonância geral” signifique qualquer coisa próxim a de adesão rígida.

A AMIR parece ter considerado a teologia reformada como algo flexível; a organização acentuou o velho lema “reformado e sempre reformando” (parafraseado em sua constituição como “a contínua reforma da Igreja universal”). Uma prova disto são os escritos de um de seus líderes — o ex- secretário teológico da AMIR Alan P. F. Sell (n. 1935). Como secretário teológico, a própria abordagem de Sell à teologia reformada pode ser con- fiada como pertencendo à corrente principal do pensamento reformado mundial contemporâneo. Sell foi professor de doutrina cristã e filosofia da religião na United Theological College da Escócia antes de sua aposentadoria.

Durante sua carreira como teólogo reformado Sell escreveu muitos livros, incluindo um volume acerca do debate soteriológico Calvinismo

4. Presumivelmente isto continuará a ser o caso com a CMIR [WCRC] embora, na época em que isto foi escrito, o website não oferecia esta lista de critério. O website do CMIR é www.wcrc.ch/.

Referências

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