VIGÉSIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL/CONSUMIDOR
APELAÇÃO CÍVEL
PROCESSO Nº 001479-64.2012.8.19.0208
APELANTE: ROBERTA DA SILVA BARROS VITAL
APELADO: CENTRO EDUCACIONAL MINGOZZI LTDA
RELATOR: DES. ANA MARIA PEREIRA DE OLIVEIRA
Ação de cobrança de valor oriundo de contrato de
prestação de serviços educacionais. Sentença que
julgou procedente o pedido para condenar a Ré ao
pagamento
das
mensalidades
escolares
correspondentes aos meses de junho, agosto,
outubro e dezembro de 2009, devidamente
corrigidas e acrescidas de juros legais. Apelação
da Ré que se resume a discutir a legalidade do
desconto das mensalidades escolares para
pagamento antecipado e o real valor devido. A
concessão de abatimento no valor das
mensalidades para o caso de pagamento
antecipado constituiu benefício em favor do
consumidor, sendo, portanto, liberalidade da
escola, não havendo abusividade na cláusula que
determina a perda do desconto em razão do
pagamento em atraso. Precedentes do Superior
Tribunal de Justiça e desta Corte Estadual.
Sentença que se mantém por seus próprios
fundamentos. Desprovimento da apelação.
VISTOS, relatados e discutidos estes autos da Apelação
Cível PROCESSO Nº 001479-64.2012.8.19.0208, em que é Apelante, ROBERTA
DA SILVA BARROS VITAL, e Apelado CENTRO EDUCACIONAL MINGOZZI
LTDA.
ACORDAM,
por
unanimidade
de
votos,
os
Desembargadores que compõem a Vigésima Sexta Câmara Cível / Consumidor
do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em negar provimento à
apelação, nos termos do voto do Relator.
Trata-se de ação de cobrança, pelo rito sumário, proposta
por CENTRO EDUCACIONAL MINGOZZI LTDA em face do ROBERTA DA
SILVA BARROS VITAL, alegando, em resumo: que celebrou com a Ré contrato
de prestação de serviços educacionais para o ano letivo de 2009, referente ao
aluno Gabriel Vital Martins, estando em aberto cinco parcelas da anuidade,
especificamente as cotas de junho, agosto, outubro, novembro e dezembro de
2009, e que, esgotados todos os meios para receber seu crédito, não lhe restou
outra alternativa senão recorrer ao Judiciário. Ao final, requereu a condenação da
Ré ao pagamento das mensalidades em atraso, totalizando a quantia de
R$2.679,37, além de custas processuais e honorários advocatícios.
Foi proferida sentença, às fls. 118/118vº, com o seguinte
dispositivo: “Isto posto, JULGO PROCEDENTE a pretensão autoral e CONDENO
a parte ré ao pagamento de mensalidades escolares correspondentes aos meses
de junho, agosto, outubro e dezembro de 2009, devidamente corrigidos e
acrescidos de juros legais desde a citação.
Condeno a parte ré ao pagamento das custas processuais e
dos honorários advocatícios que fixo em 10% (dez por cento) sobre o valor da
condenação, ressalvado o art. 12 da Lei 1.060/50, tendo em vista a gratuidade de
justiça deferida nesta oportunidade à ré.”
Houve apelação da Ré (fls. 119/129), reiterando os termos
da contestação, ressaltando: que o valor da mensalidade até o vencimento, todo
dia 10 de cada mês, era de R$253,00 e, após o vencimento, o valor passava para
R$423,00, o que é descabido e consiste em aplicação de multa moratória abusiva
de 67,195%, dissimulada por expediente chamado “desconto pontualidade” e que
a multa moratória é de 67,195%; que reconhece como efetivamente devido o valor
de R$3.293,00 e requer, ainda, o seu parcelamento, corrigido na forma da lei.
Foram apresentadas contrarrazões, às fls. 134/136,
prestigiando a sentença recorrida.
É o relatório.
Insurge-se a Apelante contra a sentença que a condenou
ao pagamento de mensalidades escolares correspondentes aos meses de junho,
agosto, outubro e dezembro de 2009, devidamente corrigidas e acrescidas de
juros legais desde a citação.
Cinge-se a controvérsia ao valor principal das mensalidades
escolares.
Em suas razões recursais, a Apelante não nega a existência
do débito, mas se insurge quanto aos valores apresentados pelo Apelado.
Ressalta que o valor da mensalidade até o vencimento, todo
dia 10 de cada mês, era de R$253,00 e, após o vencimento, o valor passava para
R$423,00, o que é descabido e consiste em aplicação de multa moratória abusiva,
dissimulada por expediente chamado “desconto pontualidade”.
Ocorre que, como bem assinalado pelo MM. Juiz a quo:
“De acordo com cláusula IX do contrato de prestação de
serviços educacionais (fls. 62), não incidirá o abatimento
concedido quando a parcela não for paga até a data de
vencimento. Por certo, a concessão de abatimento no valor
das mensalidades para o caso de pagamento antecipado se
constituiu em benesse em favor do consumidor, sendo,
portanto, liberalidade da escola. Desse modo, inexiste
abusividade na cláusula questionada pela ré.” (fl. 118vº)
Neste sentido é o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça e desta Corte Estadual de Justiça:
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 570.911 - SP (2014/0215353-8) RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO
AGRAVANTE: ORGANIZAÇÃO EDUCACIONAL FERNANDO PESSOA LTDA - MICROEMPRESA
ADVOGADO: ALEXANDRE MENDES CRUZ FERREIRA AGRAVADO: ELIZABETE DE ALMEIDA ALVES PINTO
ADVOGADOS: RULIAN ANTÔNIO DE ANDRADE CIAMPAGLIA GISELLE MARIA DE ANDRADE CIAMPAGLIA
DECISÃO
Cuida-se de agravo desafiando decisão do Ilustre Presidente da Seção de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, que inadmitiu recurso especial interposto com fundamento no art. 105, inciso III, "a" da CFRB, contra acórdão assim ementado:
"Escola que no contrato concede desconto na anualidade, semestralidade ou mensalidade, e não importa o motivo, honrará o prometido, a despeito de eventual mora, que, em face da relação de à,, Z6 consumo, limita-se a dois por cento, sobre o valor, mas com o desconto. Tal cláusula de abono por
pontualidade mal esconde e mal disfarça multa moratória, exigindo limitação. Por isso, acolhe-se os embargos à monitória."
Nas razões do recurso especial, alega violação aos art. 300, 1.102-A ao 1.102-C do CPC, 394, 397 e 422 do Código Civil e artigo 51, IV CDC, sob o fundamento de que não existe ilegalidade da cláusula que prevê o desconto de pontualidade para o pagamento de mensalidades escolares.
É o relatório. Decido.
A irresignação do recorrente merece prosperar.
Conforme orientação desta Corte, o desconto concedido em caso de pagamento antecipado consiste numa forma de estimular o devedor a efetuar o pagamento da dívida com antecedência, de modo a disponibilizar o valor devido ao credor o quanto antes.
Assim, não se sustenta a alegação de que tal desconto consistiria, em verdade, numa dupla penalidade para os casos de pagamento em atraso, uma vez que seu objetivo é legal e fundamentado, além de beneficiar os consumidores que efetuam os pagamentos de seus débitos de forma pontual.
Em casos semelhantes, há muito tem assim se posicionado o STJ:
"AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL - CONDOMÍNIO - DESCONTO-PONTUALIDADE - CONCESSÃO - POSSIBILIDADE – ACÓRDÃO RECORRIDO EM HARMONIA COM O ENTENDIMENTO DESTA CORTE – RECURSO IMPROVIDO. (AgRg no REsp 1217181/DF, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/10/2011, DJe 13/10/2011)
"Condomínio. Cobrança de cotas atrasadas. Desconto. 1. O desconto para o pagamento antecipado de cotas condominiais não é penalidade, representando estímulo correto em épocas de alta inflação, como no caso. 2. Recurso especial conhecido, mas improvido." (REsp 236828/RJ, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 31/08/2000, DJ 23/10/2000, p. 137)
Nesse contexto, tem-se que o acórdão recorrido está em desacordo com a jurisprudência desta Corte, segundo a qual não existe qualquer ilegalidade na estipulação do chamado "desconto de pontualidade".
Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial, para determinar que a execução do débito prossiga com base nos valores integrais da mensalidade. Custas e honorários advocatícios pelo recorrido, observando-se quanto a estes o fixado no juízo de origem e o disposto no art. 12 da Lei nº 1.060/50, dada eventual concessão de justiça gratuita. Publique-se. Brasília (DF), 13 de abril de 2015. MINISTRO RAUL ARAÚJO Relator (Ministro RAUL ARAÚJO, 30/04/2015)
0019875-07.2012.8.19.0203 - APELACAO DES. JUAREZ FOLHES - Julgamento: 08/05/2014 - VIGESIMA SEXTA CAMARA CIVEL CONSUMIDOR PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA AJUIZADA POR INSITUIÇÃO DE ENSINO. ALEGAÇÃO DE QUE O DEMANDADO SE TORNOU INADIMPLENTE COM RELAÇÃO ÀS MENSALIDADES DE FEVEREIRO, MARÇO E ABRIL DE 2012. RÉU QUE APRESENTOU PEDIDO CONTRAPOSTO ALEGANDO QUE A PARCELA DE FEVEREIRO DE 2012 JÁ ESTAVA QUITADA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DO PEDIDO DA SOCIEDADE DE ENSINO, E DE IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO CONTRAPOSTO DO RÉU, CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DAS MENSALIDADES ESCOLARES, NO PERÍODO INDICADO NA PLANILHA APRESENTADA PELO COLÉGIO, BEM COMO NAS MENSALIDADES VINCENDAS, ACRESCIDAS DA MULTA CORRESPONDENTE A 2%. ÀS MENSALIDADES SUPRAMENCIONADAS SERÃO ACRESCIDOS JUROS DE MORA, À RAZÃO DE 1% (UM POR CENTO) AO MÊS E CORREÇÃO MONETÁRIA, CONTADOS DO VENCIMENTO DE CADA OBRIGAÇÃO. O JUÍZO CONDENOU O RÉU NAS CUSTAS DO PROCESSO E HONORÁRIOS DE ADVOGADO DA SOCIEDADE AUTORA, OS QUAIS FIXOU EM 10% (DEZ POR CENTO) DO VALOR DA CONDENAÇÃO, DEVIDAMENTE ATUALIZADOS QUANDO DO PAGAMENTO, A PARTIR DA PROPOSITURA DA AÇÃO. APELAÇÃO DO AUTOR. ALEGA QUE O VALOR COBRADO PELO COLÉGIO CRUZEIRO ERA ABUSIVO, UMA VEZ QUE A PERDA DO ABATIMENTO, NO CASO DE ATRASO DO PAGAMENTO DA PARCELA, CONFIGURARIA A APLICAÇÃO DE DUPLA PENALIDADE, JÁ QUE ALÉM DA PERDA DA "BOLSA BENEFICIO" AINDA ERA COBRADA A MULTA DE 2% E A MORA DIÁRIA DE 0,81. DESTACOU CONSOANTE ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL A CONCESSÃO DO DESCONTO PARA PAGAMENTO ANTECIPADO REVELA DISFARÇADA COBRANÇA DE MULTA EM PERCENTUAL EXCESSIVO. RESSALTOU QUE RECONHECE O DÉBITO, MAS NÃO CONCORDA COM O VALOR COBRADO. NÃO ASSISTE RAZÃO AO APELANTE. POSSIBILIDADE DE PERDA DO DESCONTO, EM RAZÃO DO
INADIMPLEMENTO DAS MENSALIDADES. A CONCESSÃO DE ABATIMENTO NO VALOR DAS MENSALIDADES SE CONSTITUIU UMA BENESSE EM FAVOR DO CONTRATANTE E UMA LIBERALIDADE DA ESCOLA, MEDIANTE O PAGAMENTO NA DATA APRAZADA PELOS SERVIÇOS PRESTADOS. NÃO HÁ ABUSIVIDADE NA CLÁUSULA QUE DETERMINA A PERDA DO DESCONTO EM RAZÃO DO PAGAMENTO EM ATRASO, RAZÃO PELA QUAL A MESMA NÃO DEVE SER DECLARADA NULA. FRISE-SE QUE A CONCESSÃO DO DESCONTO NÃO SIGNIFICA
QUE O VALOR ALCANÇADO APÓS A INCIDÊNCIA DO MESMO SEJA O REAL VALOR A SER COBRADO PELO SERVIÇO PRESTADO. HIPÓTESE JÁ APRECIADA E DECIDIDA NO JULGAMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 2008.001.40179. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA QUE DEVE SER CONFIRMADA. DESPROVIMENTO DO APELO.