PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
AUTIMIO BATISTA GUIMARÃES FILHO
TECNOLOGIAS DE INFORMÁTICA, ATUAÇÃO
PROFISSIONAL E A FORMAÇÃO DO
ENGENHEIRO CIVIL
TECNOLOGIAS DE INFORMÁTICA, ATUAÇÃO
PROFISSIONAL E A FORMAÇÃO DO
ENGENHEIRO CIVIL
Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Educação.
Orientadora:Professora Iracy Silva Picanço.
Tecnologias de informática, atuação profissional e a formação do engenheiro civil / Autimio Batista Guimarães Filho . – Salvador: A. B. Guimarães Filho, 2003.
100 p.
Orientadora: Profª Iracy da Silva Picanço.
Dissertação (mestrado em educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia.
1. Engenheiro civil – Formação profissional. 2. Tecnologia de informática. I. Guimarães Filho, Autimio Batista. II. Picanço, Iracy da Silva. III. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação. IV. Título.
TECNOLOGIAS DE INFORMÁTICA, ATUAÇÃO
PROFISSIONAL E A FORMAÇÃO DO
ENGENHEIRO CIVIL
Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Educação
Banca Examinadora:
Tereza Cristina de Farias Guimarães_________________________________
Doutora em Química.
Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, Recife, Brasil. Universidade do Estado da Bahia
Vera Lúcia Bueno Fartes__________________________________________
Doutora em Educação.
Universidade Federal da Bahia, UFBA, Salvador, Brasil.
Iracy Silva Picanço______________________________________________
Orientadora
Mestrado em Educação.
Gostaria de deixar aqui registrado a minha gratidão a Professora Iracy Silva
Picanço, pelos ensinamentos e dedicação durante toda caminhada, bem como pela sua
indispensável orientação, com paciência, atenção e assistência contínua sempre me
mostrando como proceder para realizar um trabalho cientifico com a seriedade que ele
requer.
Aos Engenheiros, professores, alunos e o coordenador do curso de engenharia da
instituição onde realizamos as entrevistas e especialmente a todos aqueles que
participaram da nossa pesquisa respondendo ao questionário durante a entrevista,
permitindo que suas falas fossem gravadas e as suas informações fossem usadas para
nossas análises e conclusões neste estudo acadêmico.
Aos meus pais que sempre me incentivaram nos estudos e me proporcionaram
condições para que eu pudesse concluir esse trabalho.
Ao Professor Antônio Almeida Carreiro, que durante uma ou outra fase da
elaboração desta pesquisa me socorreu com palavras sábias, gestos de incentivo,
conselhos muito valiosos.
A Virgínia Soares Pinto pela boa vontade no envio de livros necessários para
Esta dissertação traz um estudo sobre os efeitos das mudanças das tecnologias de informática para o engenheiro civil. Teve como questionamento principal: a formação do engenheiro para o ramo da construção civil estaria garantindo aos futuros profissionais o domínio necessário de elementos chaves que lhes permitam situar-se diante das sucessivas mudanças tecnológicas computacionais?Assim, procurou-se investigar como os engenheiros que se encontram atuando no ramo da construção civil e ainda no ensino de engenharia, se adaptaram e readaptaram a essas mudanças e o que lhes foi necessário aprender, além do que foi visto durante as suas formações para executarem suas tarefas diárias. Teve como finalidade ainda, identificar as competências/habilidades/ conhecimentos que devem possuir os engenheiros, para que possam suprir as necessidades do mercado da construção civil diante das exigências com as novas tecnologias de informática. O estudo se prendeu, especificamente, aos engenheiros que estão atuando no ramo da construção civil, a professores, o coordenador e alunos de um curso de engenharia de uma Instituição de Ensino Superior da cidade do Salvador, analisando suas atuações e, sobretudo os efeitos das novas tecnologias de informática sobre seus trabalhos e para estes últimos suas formações. A investigação revelou assim, a necessidade de profundas mudanças no ensino de engenharia, também, quando se trata do uso das tecnologias de informática na realização das tarefas diárias dos profissionais de engenharia.
Palavras Chave: Engenheiro Civil, formação profissional, tecnologias de
The following dissertation presents the results of a study about the
effects of the change in computer technologies applied for civil engineering. The
main question was: would be a guarantied for the future professionals in have the
necessary domains in the basic elements that allowed they to be ready for successive
shifts in computer technologies?. This research tried to investigate how the
engineers, that works or teaches in civil construction, were adapted and how hey
faced these changing knowing, what they needed to learn beyond the formations
they had in graduation. Another main goal was identify the
abilities/skills/knowledge that a engineer should have to attend the demands of the
civil construction market with the new technologies of computing. The survey
focused specifically in engineers that are working in civil construction teachers and
the students of a course of engineering from a institutional higher education in the
city of Salvador, evaluating his performances based in the effects of the new
computing technologies in his works and in his formation. The investigation
revealed then the needs of deep shifts in engineering teaching, as well, shifts in
computer technologies uses in accomplishments of day to day jobs in professional
engineering.
LISTA DE TABELAS 10
1 INTRODUÇÃO 14
2 O TEMA 19
3 ALGUNS ELEMENTOS TEÓRICOS QUE NORTEARAM
A PESQUISA 24
3.1 O DEBATE ATUAL 27
3.2 QUALIFICAÇÃO/HABILIDADES/COMPETÊNCIA
41
3.3 A EDUCAÇÃO NO BRASIL 47
3.4 A NOÇÃO DE COMPETÊNCIA 48
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 53
5 OS ACHADOS DA PESQUISA
56
5.1 OS ENGENHEIROS 56
5.1.1 Quem são os entrevistados 57
5.1.2 Sobre a utilização das novas tecnologias de informática na realização de seu trabalho
57 5.1.3 Sobre as características necessárias ao profissional de
engenharia
65
5.1.4 Pontos de vista sobre a formação dos engenheiros 67
5.2 OS PROFESSORES E O COORDENADOR 71
5.2.1 Quem são os professores entrevistados
71
5.2.2 Sobre seu trabalho 74
5.2.3 Sobre a formação dos engenheiros civis
75 5.2.4 Sobre o uso das tecnologias de informática
78
5.2.5 Sobre o aluno do curso de engenharia 80
5.2.6 Opinião sobre o curso
81
5.3 OS ESTUDANTES 84
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
90 REFERÊNCIAS
96 APÊNDICE
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Função / cargo na empresa. 58
- Último curso de pós-graduação que realizou. 59
Tabela 3 - As políticas atuais e previstas na empresa favorecem a utilização
das novas tecnologias de informática como instrumento de
Tabela 5 - Como se deu ou vem dando o seu processo da
adaptação/readaptação ao uso das novas tecnologias de
informática? 61
- Recursos que utiliza para ter acesso a novos conhecimentos. 61
- Quais as tecnologias de informática mais usadas em seu trabalho? 62
Tabela 8 - A introdução das novas tecnologias de informática modificou a
sua maneira de trabalhar? 63
Tabela 9 - O que foi necessário você aprender além do que foi visto durante
a sua formação para poder utilizar as novas tecnologias de
informática. 63
Tabela 10 - As mudanças tecnológicas de informática aumentaram a
qualidade e desempenho de seu trabalho. 64
Tabela 11 - Com as novas tecnologias de informática ocorreu diminuição das
suas tarefas de trabalho? 65
Tabela 12 - Característica pessoal que deve ter o engenheiro. 66
- Tabela 13 - Com as mudanças das tecnologias de informática você acha fácil
a adaptação dos engenheiros a novas tarefas? 66
Tabela 14 - Você tem críticas à formação do engenheiro? 67
Tabela 15 - Qual a deficiência que você acredita existir no curso, que
compromete a formação do engenheiro civil? 68
Tabela 16 - Você tem sugestões de mudanças na formação do engenheiro? 69
Tabela 17 - O que você aponta de eficiente na formação no engenheiro civil? 69
Tabela 18 - Especialmente nas atividades de planejamento, orçamento e
elaboração de projetos você tem sugestões? 70
Tabela 19 - Qual o curso de graduação? (formação) 72
Tabela 20 - Quais recursos utiliza para ter acesso a novos conhecimentos
sobre seu trabalho? 73
Tabela 21 - Qual o último curso de pós-graduação que você realizou? 74
Tabela 22 - Você considera que a disciplina que leciona está contribuindo
para que o aluno saia em condições para atuar no mercado de
ambientes de trabalho tem exigido grandes mudanças na
atividade profissional do engenheiro civil como em todas as
demais atividades profissionais. Como você vê este processo na
formação do engenheiro de civil? 76
Tabela 24 - BAZZO (2000), Num de seus trabalhos sobre a formação dos
engenheiros, afirmou que a pedagogia: pode estar centrada no
professor valorizando as relações hierárquicas, entendendo o
ensino como transmissão do conhecimento; pode estar centrada
no aluno, atribuindo a estes qualidades que ele não possui; e
pode estar centrada na relação entre ambos, dissolvendo a
importância individual absoluta de cada um, através de uma
dialetização. Como você analisa esta questão? 77
Tabela 25 - Com o avanço tecnológico cada vez mais acelerado, as especializações correm o risco de em curto tempo perder sua
atualidade sendo assim muitos autores defendem a formação de
competências gerais e não específicos. Você concorda? 78
Tabela 26 - Você utiliza as novas tecnologias de informática como
instrumento para ministrar suas aulas? 79
Tabela 27 - No caso do uso de tecnologias de informática qual a identificação
demonstrada pelos alunos pelo uso desses recursos? 79
Tabela 28 - As políticas atualmente implementadas pela IES onde trabalha
favorece a utilização das novas tecnologias de informática como
instrumento didático? 80
Tabela 29 - Segundo Bazzo (1996), um curso não se faz apenas com um bom
corpo docente, laboratórios, equipamentos, bibliotecas e salas de
aulas, mas depende sobremaneira da qualidade e da dedicação
dos próprios alunos que nele ingressam e essas qualidades
podem ser adquiridas com o despertar dos indivíduos. Como
você avalia a qualidade do aluno do curso de engenharia de
83
Tabela 31 - Alunos segundo o sexo 84
Tabela 32 - Idade 85
Tabela 33 - Estado civil 85
Tabela 34 - Modalidade de ingresso no curso de Engenharia de Produção
Civil
86
Tabela 35 - Você utiliza as novas tecnologias de informática para realizar
seus estudos? 86
Tabela 36 - Ao longo do curso que realiza alguma disciplina exigiu o uso
dessas tecnologias de informática? 87
Tabela 37 - Quais os softwares que você mais utiliza? 88
Tabela 38 - Existem na universidade essas tecnologias de informática
disponíveis para que você possa utilizar? 88
Tabela 39 - Qual a deficiência que você acredita existir e que compromete a
1
INTRODUÇÃOEsta pesquisa tem como ponto de partida que os conhecimentos científicos
e tecnológicos são responsáveis pelas profundas e significativas transformações que
ocorrem no mundo contemporâneo e que, sem dúvida, os engenheiros desempenham
um papel nesse processo, principalmente em promover a adaptação dos avanços
tecnológicos nos procedimentos que tornem realidade a utilização dessas conquistas da
humanidade nos ambientes de produção. Dentre estas transformações ou conquistas
situam-se as tecnologias de informática.
Ao mesmo tempo em que a evolução da eletrônica e, especialmente, da
microeletrônica, particularmente representada pela evolução das tecnologias de
informação e telecomunicações, tem afetado as habilidades/qualificações/competências
dos profissionais, o que vem incidindo na prática do trabalho inclusive na área da
engenharia civil.
No que concerne ao engenheiro civil, admite-se que, como observou
Kawamura (1986), sua atividade vem sendo realizada em três modalidades dominantes:
como profissional liberal, empresário, acumulando funções de mando, execução,
coordenação e fiscalização dos serviços muitas vezes em sua própria empresa; como
profissional subalterno em atividade parcelar e muitas vezes rotineira, podendo ser na
execução de obras, na execução de projetos ou na elaboração de propostas de preço
(orçamento e planejamento de obras de construção civil); ou em atividades outras como,
por exemplo, a de professor.
Hoje, em todas essas atividades as tecnologias de informática se fazem
presentes e esse profissional para garantir a competitividade da sua empresa ou para
manter-se no mercado de trabalho necessita de uma formação atualizada no uso destas
tecnologias.
O processo de difusão das novas tecnologias encontra-se em curso,
há uma variedade de pontos de vista sobre os resultados de seu uso e conseqüências,
bem como sobre os impactos dessas novas tecnologias que parecem não incidir
igualmente sobre todos os ramos e ocupações que as incorporam.
No entanto, admite-se como observa Assis (1988), que “em alguns casos,
a introdução das novas tecnologias, causa à criação de ocupações novas, em outros,
ainda a recriação, a manutenção ou a destruição de ocupações preexistentes”.
Há que se admitir, ainda, que os novos desafios que vem tendo a
humanidade, principalmente neste momento em que a informatização, a
universalização do mercado e as freqüentes dificuldades encontradas pela própria
organização social têm presença, também, marcante nas discussões sobre a formação
dos engenheiros, têm levado a tornar-se senso comum à necessidade de profundas
modificações no sistema de ensino, para enfrentar de forma renovada o seu papel, pois
para acompanhar as inevitáveis demandas que vêm surgindo, o ensino deve
continuamente ser alterado, ou melhor, atualizado, para que não se torne obsoleto.
No que diz respeito ao ensino de engenharia, a literatura aponta a
necessidade de mudanças profundas nos cursos uma vez que nesse âmbito a evolução
tecnológica caminha em passos mais acelerados que as mudanças dos currículos ou
quaisquer outras adaptações no interior das instituições de ensino.
Tratando essa questão, Pereira considera que:
O sistema educativo, em especial a escola de engenharia, deveria se aparelhar para formar cidadãos que saibam avaliar criticamente a tecnologia e suas implicações. Se os engenheiros são os responsáveis por desenvolver e trabalhar tecnologias, nada mais lógico que eles tenham condições de entendê-las além e aquém da pura técnica. (PEREIRA, 1997, p.32).
Ainda no entendimento de Pereira
,
a respeito da formação de engenheiros:A distância que separa a prática de novas tecnologias no mercado de
trabalho e o universo acadêmico pode ser medida pelas lacunas que os estudantes
recém formados, passada a euforia da colação de grau, sentem em suas experiências
inaugurais já como profissionais.
Talvez se assustem com a constatação de que não basta apenas a
competência advinda de ensinamentos técnicos, mas o conhecimento multidisciplinar,
ou seja, a capacidade também de saber lidar com as diversas áreas do conhecimento
como é, por exemplo, exigido no gerenciamento.
Esta pesquisa procurou, num primeiro momento, identificar através de
alguns profissionais em atuação no mercado de trabalho do setor da construção civil,
algumas das competências no campo de informática que estão sendo requeridas aos
engenheiros para o desempenho das atividades daquele ramo da economia, diante das
exigências de utilização das novas tecnologias de informática.
Em seguida, buscou cotejar os pontos de vista apresentados por aqueles
profissionais com a visão de professores, estudantes e responsáveis pela formação de
engenheiros em um dado curso nessa área.
As habilidades e conhecimentos, até então não demandados, tornam-se
requeridos em função das alterações na base instrumental para a execução do trabalho.
Assim, diante dessas demandas, o trabalho qualificado na área da
construção civil passou a exigir não só escolaridade como formação profissional, mas,
também, a necessidade de adaptação e atualização constante dos conhecimentos,
habilidades e competências, como condição para esse trabalhador vencer os desafios
da profissão.
O que se vem assistindo permite que se admita que os engenheiros, por
terem concluído na sua formação básica um curso específico, não têm garantido seu
acesso a postos de trabalho cujos conhecimentos requeridos pelas modernas
ferramentas estão na base dos processos de trabalho nesse segmento produtivo,
tampouco se pode garantir que apenas a escolaridade obtida seja fator que permitirá a
constante e necessária capacidade de adaptação às constantes mudanças no campo
Diversos autores tais como Amorim (1997), Figueiredo (1997), entre
outros, já apontaram e vem apontando os efeitos da evolução tecnológica, sobre os
diversos setores produtivos, sobre as necessidades de adaptação dos profissionais, bem
como sobre a necessidade de uma revisão profunda nos currículos dos cursos nesta
modalidade, na maneira e no que deve ser ensinado.
Diante disso, a pergunta central que se pretendeu responder foi: a
formação do engenheiro para o ramo da construção civil estaria garantindo aos futuros profissionais o domínio necessário de elementos chaves que lhes permitam situar-se diante das sucessivas mudanças tecnológicas computacionais?
Vale chamar atenção para o fato de que, de acordo com o projeto do curso
tomado como referencia para a coleta de dados, seu egresso, seria:
Um profissional de nível superior com formação e capacitação que o habilite a atuar na elaboração de projeto e execução de obras de construção civil, na organização e controle de seus sistemas produtivos, visando a melhoria da qualidade do produto Assim, também, no planejamento, elaboração de projeto, implantação e controle de sistemas produtivos, analisando as operações com a finalidade de introduzir modificações para racionalizar o trabalho e integrar os fatores da produção para a melhoria da produtividade, qualidade do produto e otimização do processo, estudar custos operacionais dos tempos e método. (PROJETO DO CURSO DE ENGENHARIA, p.39).
Desse modo, este profissional estaria apto para o exercício de funções em
diversos campos como: elaboração de projetos, planejamento, coordenação e controle
dos recursos produtivos, sejam, em empresas de construção civil ou em empresas
ligadas ao setor, tais como escritórios de projetos, de assessoria e consultoria técnica a
outras empresas, órgãos públicos, instituições financeiras, instituições de pesquisa,
instituições de ensino etc.
Ainda, segundo o projeto mencionado, o curso teria como objetivo:
• Contribuir para a formação de profissionais da engenharia com níveis previsíveis de bom desempenho intelectual e técnico;
• Enriquecer e ampliar medidas alternativas para o campo de atuação do engenheiro civil;
• Estudar a produtividade gerada pelas inovações tecnológicas no setor da engenharia;
• Acrescentar novos quadros de profissionais exigidos pelo aumento e diversificação da produção industrial;
2 O TEMA
Tomando como área de interesse a linha temática Trabalho e Educação,
esta pesquisa teve como ponto de partida as discussões desenvolvidas em torno da
Revolução Científica Tecnológica e seus efeitos sobre o trabalho, especificamente
sobre o exercício profissional do engenheiro civil e seu reflexo na formação desse
profissional.
A nossa escolha por este tema surgiu por integrar o corpo docente de um
curso de uma Universidade, tendo, inclusive, colaborado na elaboração de seu projeto.
Além disso, por constatar na prática que as transformações tecnológicas se dão em
passos muito mais rápidos que a reformulações curriculares ou quaisquer outras
adaptações que se fazem nos cursos e que é de se esperar uma dada defasagem entre o
que se ensina nas universidades e o que deveria ser ensinado. Portanto, é de todo
oportuna uma avaliação permanente do que se faz em nome de formar para o mercado
de trabalho, na perspectiva de contribuir para a constante atualização da instituição
universitária.
Um outro elemento situa-se no modelo pedagógico mais adequado para a
formação desse profissional, isto é, se o engenheiro em nível de graduação deveria ser
um generalista e em continuidade voltar para se especializar ou, já neste nível,
tornar-se um especialista. A questão chave é: qual das duas perspectivas tornar-seria capaz de
proporcionar ao profissional de engenharia as condições para adaptação às sucessivas
mudanças que vêm ocorrendo no mercado de trabalho.
Em razão do exposto, a inquietação por conhecer de que modo se vem
dando a adaptação do profissional de engenharia e como deve ser a formação desse
profissional para que ele possa se adequar às incessantes mudanças é o desafio desta
pesquisa.
Kawamura, em 1981, apontava que a participação dos engenheiros no
processo econômico-social realizava-se e, ainda assim hoje se realiza de três formas: a
de profissional empresário, a de profissional liberal e a de profissional assalariado.
Como profissional liberal, o engenheiro dirige as atividades técnicas e até financeiras
detentor dos meios de produção, utilizando força de trabalho alheio, inclusive de outros
engenheiros, os profissionais assalariados.
A autora afirmava que “apesar dessas diferenciações quanto à forma de
prestação de serviços, a categoria profissional do engenheiro destinava-se, quase que
exclusivamente, às funções de direção, em diversos graus, nos empreendimentos de
engenharia" (KAWAMURA, 1981, p.15). No entanto, diante das profundas mudanças
que são observadas no mundo do trabalho observa-se, hoje, que esse quadro sofreu e
vem sofrendo intensa mudança e esse profissional vem cada vez mais assumindo
funções até então não exercidas por aqueles profissionais.
É importante ainda observar-se que a autora apontava que a organização do
processo de trabalho não implicava em atividades de criação de tecnologias e que as
máquinas e equipamentos utilizados provinham dos paises industrializados, o que fazia
as funções técnicas dos engenheiros consistirem na adaptação da força de trabalho a
essa tecnologia importada com vistas ao aumento da mais-valia.
Até determinado período, a própria tecnologia utilizada na construção civil
caracterizava-se como relativamente simples, sendo dominante uma bipolarização
funcional no trabalho do engenheiro, ou seja, para alguns a ocupação de funções
gerenciais, cabendo-lhes a gerencia e o controle do processo de trabalho e, para outros,
cabendo-lhes funções operativas que se concentravam em operações repetitivas e
parcelares sujeitas às determinações impostas pelo mecanismo de trabalho coletivo e o
que é pior, em certos casos em obras que ao terminar o colocaria em situação de
provável desempregado.
Dentre esses se encontravam os profissionais, tanto liberais quanto
assalariados, que atuavam na atividade de planejamento, orçamento e projeto de
estrutura de obras de construção civil e que utilizavam tecnologias simples. Nas
condições atuais há evidencias de que sejam esses profissionais os que hoje utilizam as
tecnologias baseadas na eletrônica e microeletrônica, ou melhor, as tecnologias
computacionais.
Ainda segundo Kawamura:
profissionais técnicos, em particular os engenheiros. Estes tinham a função ideológica de organizar a tecnologia no sentido da procura de inovações tecnológicas, seja de processo de trabalho, seja de produção ou de gestão, com o objetivo precípuo de definir as condições favoráveis à acumulação capitalista, no âmbito da produção matéria (KAWAMURA, 1986, p.26).
Com relação à formação do engenheiro, parece senso comum afirmar-se
que essas novas condições trazem importantes repercussões sobre o grau e ritmo da
difusão dessas inovações tecnológicas e provocam inquietações nos setores da
educação, responsáveis pela formação dos engenheiros.
E a partir dessa nova realidade, parece tornar-se indispensável um novo
princípio educativo, concretamente, como ponto de partida para o movimento de
alteração da estrutura da organização dos cursos de engenharia.
Alguns autores como, por exemplo, Bazzo (2000), Santana (2000),
defendem uma mudança no ensino de engenharia, sustentada pela integração dos
conhecimentos, numa verdadeira interdisciplinaridade, concordando assim com outros
como Markert (1991), que defende as denominadas qualificações chaves. Para este
último, é importante o desenvolvimento de competências abrangentes nos trabalhadores,
ou seja, que o profissional adquira durante a sua formação uma qualificação básica que
lhe permita uma rápida adaptação ou readaptação às mudanças do mercado de trabalho.
Já, Bianchetti (2001, p.13), defende uma reunião de saberes desde que, em
seu entendimento, não é possível se conseguir reunir numa só pessoa estes saberes
diversos. Para este autor “hoje, muito mais do que a especialização está se
preconizando à confluência de saberes para garantir a polifuncionalidade, necessária ao
desempenho de funções no interior de empresas que funcionam nos parâmetros da
integração e flexibilidade”
Quanto a isso, para Bazzo (2000), esta interdisciplinaridade não pode ser
edificada como a criação de uma somatória de disciplinas, mas sim configurada como
uma prática específica visando à abordagem de problemas relativos à existência
cotidiana. Isto sem fazer referência a uma pretensa situação ideal, onde fosse buscada
uma educação integral e com forte embasamento que garantisse uma formação de
indivíduos com conhecimentos mais duradouros.
Além disso, deve também estar sustentada no trabalho coletivo, na
consciente de referenciais epistemológicos, num entendimento de como se processa a
apreensão do novo.
Durante a pesquisa, por exemplo, foi lembrado por um entrevistado que o
engenheiro precisa viver a sua realidade, a realidade da sua cidade:
Vejo e acho que principalmente no nosso contexto da Cidade do Salvador há uma grande necessidade das nossas disciplinas estarem voltadas para a nossa realidade. Há uma crise, como alguns dizem, de emprego, mas na realidade não é a escola que vai estabelecer o que se deve ser ensinado nas escolas de engenhara e sim as necessidades. A população de Salvador como a população de toda grande metrópole tem uma carência enorme em muitos serviços de engenharia. Os bens e serviços habitacionais são uma carência da metade da população de Salvador.
Segundo Bazzo:
O ensino de engenharia necessita, mais do que de uma modernização, de um verdadeiro choque de qualidade, de uma mudança de postura que possa permitir a construção de soluções contextualizadas, e que acima de tudo, respeitem as individualidades dos seus participantes. Isso passa inexoravelmente por uma formação diferenciada do corpo docente (BAZZO, 2000, p.57).
Fica clara, portanto, a necessidade de uma renovação pedagógica dos
métodos de ensino e aprendizagem. Alguns professores apontaram, também durante a
entrevista que as disciplinas que ainda utilizam o modelo pedagógico tradicional são por
vezes desestimulantes, levando o aluno ao desinteresse pelo curso e, conseqüentemente,
pela profissão e por vezes a situações extremas do abandono de curso.
Por outro lado, os novos desafios da engenharia, num mundo onde a
tecnologia tem mudado aceleradamente e vai continuar mudando, coloca em cheque o
modelo da simples transferência de conhecimentos.
Segundo Bazzo (2000), a alternativa para que o ensino de engenharia possa
formar um profissional apto a enfrentar as novas realidades do mercado de trabalho,
reside no investimento na formação dos professores, os formadores dos engenheiros.
Um modelo pedagógico deve ser baseado na percepção desta realidade e seu
agente idealizador e motivador é o professor.
As soluções encontradas pelos professores de engenharia variam conforme
instituição esteja aberta e preparada para novas propostas pedagógicas e a eventuais
correções de rumo, para isso é fundamental a contínua auto-avaliação.
Diante do exposto, teve-se como intenção principal, investigar se a
introdução de novas tecnologias computacionais passou a exigir dos engenheiros civis,
conhecimentos/habilidades/competências que, talvez, não estejam sendo desenvolvidas
na formação que os mesmos atualmente recebem.
Tentou-se também, evidenciar quais as conseqüências para a atuação
desses profissionais a partir da introdução das chamadas tecnologias de informática na
execução de suas tarefas.
O principal interesse da pesquisa foi, portanto, buscar informações que
possibilitem esclarecer o problema, verificando se ocorreram mudanças significativas
nas atividades desses engenheiros com a introdução das novas tecnologias de
informática, as quais apontem necessárias transformações na formação desses
profissionais.
Desta forma, a pesquisa pretendeu evidenciar especificamente se as novas
ferramentas computacionais, hoje disponíveis, afetaram as formas tradicionais até
pouco tempo dominantes no processo de planejamento, orçamento e projeto de
estruturas de obras de construção civil e se o curso utilizado como fonte de
informações, como um indicador representativo dos cursos na área, vem atendendo às
3 ALGUNS ELEMENTOS TEÓRICOS QUE NORTEARAM A PESQUISA.
Segundo Colenci (2000), a definição formal concebe a engenharia como a
aplicação criativa de princípios científicos ao projeto de desenvolvimento de
estruturas, máquinas dispositivos ou processos de fabricação ou à construção e/ou
operação dos mesmos com perfeito conhecimento do seu projeto ou predição do seu
comportamento, condições determinadas de operação.
A definição legal brasileira do profissional de engenharia está explicita na
lei nº 5.194/66, que regula as profissões de engenharia, arquitetura e engenheiro
agrônomo. Esta lei estabelece, em seu artigo 7º as atividades e atribuições destes
profissionais. Entre elas estão “o planejamento ou projeto em geral de regiões, zona,
cidades, obras, estruturas, transportes, exploração de recursos naturais e
desenvolvimento da produção industrial e agropecuária; fiscalização, direção e
execução de obras e serviços técnicos e produção técnica especializada, industrial ou
agropecuária”.
Silva (1997) definiu engenharia como sendo a arte profissional de
organizar e dirigir o trabalho do homem aplicando conhecimentos científicos e
utilizando, com parcimônia, os materiais e as energias da natureza para produzir
economicamente bens e serviços de interesse e necessidade da sociedade dentro dos
parâmetros de segurança.
Segundo Sacadura (1999), os conceitos de “engenheiro” ou ”engenho”
teriam suas origens na Europa da Renascença. Seriam derivados da palavra latina
ingenium, que significava gênio, talento criativo, potencial inventivo. Com essa
definição a engenharia entrou no círculo restrito das artes que, segundo a tradição
humorística, implicavam em eloqüência, poesia e mais tarde arquitetura.
A definição clássica relaciona o engenheiro como o indivíduo que procura
colocar as forças da natureza e seus recursos a serviço do homem.
Atualmente o engenheiro é visto como o indivíduo que busca
continuamente ampliar seus conhecimentos, destrezas e aptidões técnicas de
sociedade, em harmonia com o meio ambiente, através da teorização, do
desenvolvimento e produção de processos, estruturas e máquinas de valor prático e
econômico.
Colenci Jr. (apud. COLENCI, 2000), apresenta uma importante contribuição ao estabelecer que o profissional de engenharia deve deter:
Capacidade de reconhecer problemas e solucioná-los;
Ampla base científica e um profundo conhecimento de especialização; Domínio da matemática e das ciências físicas biológicas;
Capacidade de comunicar suas idéias e defender seus projetos; Alto sentido ético, social e responsabilidade profissional; Mentalidade aberta e atitude positiva diante da vida; Autodidatismo;
Ampla cultura e curiosidade por novos conhecimentos; Domínio de linguagens computacionais;
Domínio de língua estrangeira;
Bases de gerência e bom relacionamento humano (COLENCI JR (1998),
Apud. COLENCI, (2000), P14).
Como se pode notar as preocupações na formação do engenheiro se
estendem além do aspecto cognitivo, abrangendo também os aspectos
comportamentais e atitudinais.
Nesta perspectiva a formação do engenheiro deve se estender muito além
do “como fazer” e do “por que fazer” para oferecer “habilidade” e “sensibilidade“ no
domínio das aplicações do conhecimento, considerando principalmente, o “saber ser”.
Pode se dizer que o engenheiro terá sua competência reconhecida e será remunerado
por isso, na medida em que com habilidade e sensibilidade puder transformar
conhecimento em soluções úteis para a empresa e conseqüentemente para a sociedade.
Pesquisa realizada pelos engenheiros Góes Filho e Costa (1963/64),
abrangendo 472 estabelecimentos industriais, inclusive empresas de construção civil e
de produção e distribuição de energia, em várias cidades do Brasil, teve como objetivo
caracterizar as atividades dos engenheiros e técnicos, demonstrar como esses
profissionais se distribuíam pelos diversos setores das empresas industriais, indicar as
tarefas e atribuições que lhes são conferidas, bem como, identificar as características
gerais das atitudes desses profissionais.
Nas grandes organizações, onde havia em geral uma nítida distribuição de
tarefas, estes podiam incubir-se como diretores da gestão administrativa e financeira e
raramente tendo oportunidade para exercer efetivamente atividades técnicas, à exceção
da supervisão ou orientação sob determinados aspectos gerais, ficando-lhes ainda
reservadas certas decisões sobre assuntos técnicos estudados por órgãos especializados.
Nas médias e pequenas empresas, porém, era e ainda é comum encontrar-se
o engenheiro ou o técnico exercendo, cumulativamente, funções de direção e de
administração e ainda com atribuições técnicas envolvendo projetos, planejamento e
supervisão da produção e manutenção.
Aquela pesquisa revelou ainda que, à época, os engenheiros civis atuavam
na construção de edifícios, estradas de ferro e de rodagem, obras de arte, obras
hidráulicas e na administração pública. Além de atuarem ainda em trabalhos de
conservação de edifícios e estradas, bem como em variados setores da atividade
industrial, exercendo funções que, em princípio, deveriam ser desempenhadas por
engenheiros, sobretudo mecânicos e eletricistas.
No que concerne a formação desses profissionais é sabido que durante
muitos anos as escolas de engenharia concentraram seus esforços na manutenção dos
cursos de engenharia civil com caráter politécnico, ou seja, cursos que ofereciam uma
pluralidade de conhecimentos técnicos dentro da engenharia. Os engenheiros mais
antigos, entrevistados nesta pesquisa demonstraram certa satisfação em declarar-se
engenheiros politécnicos, sugerindo com isso, que possuíam um conhecimento vasto e
qualificações que lhes permitiriam atuar em diversos campos da engenharia.
Aquela pesquisa ainda revelou que o grande empregador dos engenheiros
era o poder público e entidades concessionárias de serviços públicos: na construção,
manutenção e gestão de estradas de ferro e portos, em obras de saneamento, em obras
urbanas e de construção de edifícios públicos, produção e distribuição de energia
elétrica, serviços de abastecimento de água, esgotos ou, ainda, firmas individuais na
3.1 O DEBATE ATUAL
De acordo com Kawamura, em pesquisa sobre a atuação do engenheiro
civil realizada em universidades, junto a entidades civis, e profissionais, além de
entrevistas com dirigentes sindicais e outros segmentos ligados à tecnologia e aos
engenheiros:
O trabalho dos engenheiros só adquire importância enquanto compreende atividades de programação, vigilância, coordenação dos equipamentos e manutenção, que exigem uma qualificação dinamicamente adequada aos parâmetros dados pela automação. Além disso, à medida que a produção assume um caráter científico, desenvolve-se um complexo de atividades, estreitamente relacionadas ao processo produtivo, referentes à formação tecnológica e científica. Estas se destinariam a fomentar e aperfeiçoar o complexo tecnológico material e compreenderiam, em geral, atividades de pesquisa científico-tecnológica, de ensino técnico especializado, reciclagem do trabalhador, de programação, coordenação e controle do processo de trabalho (KAWAMURA, 1986, p.18-19).
Ainda para autora, o que constatou na prática, foi à existência de uma
bipolarização na atividade do engenheiro na medida em que observou a separação
entre concepção e execução, ou melhor, os chamados engenheiros de projeto e
engenheiros de obra, ficando de um lado a cúpula com uma visão do conjunto do
processo, por mais fragmentada e heterogênea que seja. Do outro lado, estariam os
trabalhadores subordinados à estrutura hierárquica os quais se perderiam na realização
cotidiana da atividade parcelada, rotineira, e em sua maioria, destituída de sentido para
eles.
A autora ainda observou, na pratica da construção civil, que na estrutura
hierárquica do trabalho o engenheiro, enquanto membro da alta administração, integra
o nível de concepção no processo do trabalho. Nessa posição, ele reproduz a. ideologia
dominante na organização, ao traduzi-la concretamente na vivência cotidiana da
empresa mediante a prática do planejamento, supervisão e controle dos trabalhadores,
utilizando-se dos equipamentos e processos tecnológicos adequados aos interesses
econômicos e políticos empresariais. Por outro lado, enquanto subordinado o
engenheiro, fica na execução do que foi elaborado e programado por aqueles e nessa
posição realizam tarefas rotineiras e parcelares.
Assim sendo, para Kawamura:
situar-se no conjunto operativo da empresa ao lado dos demais trabalhadores. Em posição subalterna na estrutura hierárquica, no exercício de funções rotineiras, parcelares e submetido às decisões emanadas do conjunto da “concepção” no processo de trabalho o profissional apresenta, nessas condições, potencialidades para questionar a tecnologia vigente. Pode reforçar essa postura a tendência que vem sendo observada no sentido da deterioração das condições de vida de crescentes parcelas da categoria, fato que se relaciona concretamente ao desemprego e subemprego do engenheiro (KAWAMURA 1986, p.54).
Numa outra direção, também tem sido acentuado por outros autores, que a
capacitação de recursos humanos em áreas estratégicas do desenvolvimento
tecnológico tem uma importância fundamental no fomento e disseminação do
conhecimento.
Segundo Kravchychepr (1999), o homem do futuro será aquele capaz de
elaborar e reelaborar as informações e os conhecimentos para, através de sua
participação, recriar e adaptar-se a este mundo em mudança e que essas novas
condições trazem importantes repercussões sobre o grau e ritmo da difusão das
inovações provocando inquietações nos setores da educação.
A autora afirma ainda que, diante da velocidade do surgimento de novas
tecnologias, estaria sendo cada dia mais demandada a idéia de que o “sem
computador” do presente será o analfabeto digital do futuro. O debate sobre o papel e
as influências do uso das novas tecnologias inteligentes percorre o debate de hoje, seja
o que ocorre na sala de aula, na dos professores, nas universidades, nas empresas etc.
As ferramentas computacionais estariam alterando nossa maneira de ser, de
viver e de aprender. Isto porque as novas ferramentas e os novos instrumentos
alterariam a nossa cultura ao oferecer novas formas de fazer e de pensar este fazer. Em
face das novas exigências, algumas perguntas parecem inevitáveis: que tipo de egresso
deve sair da escola para sobreviver no mercado de trabalho? Que função cabe aos
educadores da atualidade e do futuro?
Para Soledade (1999), o profissional do futuro terá o desenvolvimento da
sua profissão diretamente ligado a sua familiaridade com as novidades tecnológicas.
Podendo-se ainda afirmar que todos os profissionais daqui por diante terão que possuir
como requisito fundamental sua integração no universo digital, ou seja, independente
da carreira que escolham, terão que estar familiarizados com os sistemas
A partir dessa nova realidade, tornar-se-ia indispensável um novo princípio
educativo. Sendo assim, sem dúvida, de acordo com Kravchychepr (1999), o novo
perfil do profissional exige habilidades para lidar com imprevistos, aprender com
rapidez, ser flexível, saber negociar mediante pressão, falar mais de uma língua, saber
trabalhar em equipe e ser capaz de tomar resoluções conjuntas, ter iniciativa, ser
dinâmico, investir na formação contínua e ter sólida formação geral que o habilite a
enfrentar necessidades específicas.
O engenheiro para Figueiredo:
Além de deter o conhecimento científico básico forte e uma formação tecnológica atualizada, deve ter uma capacidade excelente para comunicar e expressar claramente suas idéias; deve ser criativo e ter boa iniciativa para desenvolver soluções tecnológicas e integrar o saber de várias áreas do conhecimento; deve ser capaz de coordenar trabalhos em equipes multidisciplinares; deve estar imbuído de uma ampla visão sistêmica de forma que possa entender a interdependência e o alcance social de suas ações como agente decisivo, sobretudo deve estar consciente de que os anos que dedicou ao estudo, até então, não passam de uma primeira etapa de um processo de aprendizagem que deve continuar durante toda a sua vida. (FIGUEIREDO 1997, p.198).
Enfocando as demandas de formação atuais Shiga entende que:
O mercado de trabalho tem exigido do profissional de engenharia uma formação mais generalizada, para que em curtos intervalos de tempo este profissional seja capaz de solucionar problemas dos mais variados. Uma boa formação para o profissional do futuro é efetivamente realizada através de uma formação básica bem fundamentada, levando o engenheiro a um nível mais generalista do que especialista. A tendência atual é a formação de profissional polivalente que deve adquirir conhecimentos de outras áreas, saindo assim do mundo exclusivo da engenharia em toda sua grandeza e forçando-o a participar de outros universos, que em tempos passados, poderiam ser totalmente adversos ao engenheiro (SHIGA 1997, p. 86 -87).
Na atualidade, o computador tem sido utilizado como um elemento de
apoio à solução de problemas, basicamente nas fases de geração, teste e avaliação de
soluções. E, em conseqüência esse instrumento passou a ser utilizado nas atividades de
ensino como um novo e eficiente recurso instrucional.
A utilização do computador segundo Longo (1997) trouxe grandes avanços
para o trabalho do engenheiro, mas também alguns problemas, isto porque os
sofisticados programas podem causar graves acidentes se forem mal utilizados.
Neste sentido, executar cálculos bastante complexos, guardar um grande
número de informações, tomar decisões e elaborar tarefas com grande velocidade
recebê-los passivamente. E, assim, o engenheiro necessita de uma boa formação
teórica, experiência e uma noção precisa de ordem de grandeza para evitar os
chamados problemas computacionais.
No processo de ensino-aprendizagem é necessário cada vez mais colocar as
informações de uma forma mais flexível e uso generalizado, além disso, os conteúdos
das informações devem permitir assimilação rápida e eficiente.
Tais necessidades têm atraído a atenção de especialistas em educação na
reestruturação e modernização dos cursos, adequando-os às novas metodologias e
consolidando outras já existentes, visando a formação de profissionais habilitados a
enfrentar os desafios decorrentes dos avanços tecnológicos, bem como propiciar
condições e meios com vistas a uma educação continuada para permanente
atualização.
Entretanto para Bazzo (1999), o despreparo dos egressos das escolas de
engenharia para a atuação na sociedade situa-se fundamentalmente no campo
epistemológico e pedagógico, ou seja, na filosofia que as instituições de ensino
imprimem aos cursos e não no ensino tecnológico ou nas formulações, nos
procedimentos de cálculos etc.
Segundo o autor, para que as transformações do modelo de ensino ocorram
é fundamental uma reestruturação das práticas didático-pedagógicas através de uma
nova postura epistemológica dos professores. E aposta num direcionamento epistemológico diferenciado do atual modelo positivista, que venha provocar
alterações nas práticas educacionais dos professores, contribuindo para modificações
no sistema de ensino de engenharia.
Admite o autor citado, a existência de uma constatação freqüente nos
cursos de graduação de engenharia, a de que o aluno, durante o curso, não desenvolve
o senso crítico ante as diversas situações apresentadas a ele e que exigem dele uma
decisão bem definida. Empresas que têm contratado engenheiros recém-formados tem
notado esta deficiência, observando que os novos engenheiros limitam-se a repetir
fórmulas e procedimentos aplicados em situações idênticas ou análogas, sem sequer
O principal diagnóstico desta deficiência é observado, na prática, pela
aceitação de resultados de cálculos e análises feitas. A falta de noção clara de valores e
de sua magnitude é um dos sintomas típicos do hábito que os alunos adquirem na
universidade de aplicar fórmulas e repetir procedimentos sem questioná-los.
A hipótese é de que a falta de senso crítico dos alunos decorre do modo
como as disciplinas que envolvem a apresentação e discussão de processos decisórios
são apresentadas.
A observação mostra que, de fato, em muitas disciplinas curriculares as
situações práticas são apresentadas aos alunos de forma descritiva. Relata-se o que os
outros fizeram e como fizeram, que fórmulas aplicaram, onde e como são adotadas
determinadas estratégicas ou ferramentas.
O aluno passivo observa o que ocorre, registra informações e procura
memorizá-las. Como decorrência desta atitude imobilista e sem nenhum
questionamento, o aluno deixa de desenvolver um senso crítico a respeito das situações
problemáticas e de como foram solucionadas no passado.
Bazzo (1999) ainda identifica em seu trabalho um outro grande problema
nesses cursos: a excessiva fragmentação dos conteúdos das disciplinas e a
desagregação da grade curricular. Sendo esta realidade estimuladora de uma pedagogia
excessivamente teórica, especialmente em disciplinas básicas relacionadas com
fenômenos e conceitos muito importantes para a formação de qualquer engenheiro
como Resistência dos Materiais, Mecânica dos Fluídos e outras. Este processo
conduziria a um distanciamento entre teoria e prática, entre conceito e fenômeno, entre
a ciência e o mundo real.
Para esse autor a engenharia requer uma dupla habilidade dos engenheiros,
no entanto, esta é vista como uma profissão essencialmente técnica. Os cursos de
engenharia têm, com isso, realizado muito pouco para desenvolver nos seus alunos
qualidades de liderança, capacidade de tomar decisões em ambientes competitivos,
habilidades de interação com profissionais de outras culturas e nacionalidades, além de
outros atributos hoje exigidos pelo mercado de trabalho.
Em seu entendimento, as universidades dos países industriais mais
décadas com obtenção de resultados positivos. Novas atitudes diante do processo de
aprendizagem, tanto de alunos como de professores, são perceptíveis, bem como novos
modelos que se caracterizam por uma ampliação significativa da participação dos
alunos, pela redução da carga horária de aulas expositivas, pela construção de novas
relações aluno-professor, ricas em trocas que se processam na orientação de trabalhos
práticos que passam a ser os eixos básicos dos cursos. Estas atitudes e relações quando
consolidadas, em alguns casos, já deixaram de ser vistas como novas.
Refere-se ao ensino tradicional, como aquele no qual o professor é o
detentor do conhecimento especializado cabendo ao aluno funcionar como receptor
que recorre ao professor como fonte do conhecimento. O aluno vai a escola em busca
de conhecimento, por meio da interação com o professor, sendo este, portanto o único
elo de ligação entre o conhecimento e aquele que aprende.
Mudanças começam a ocorrer na medida em que a tecnologia disponibiliza
a busca do conhecimento sem a participação direta do professor, oferecendo um
caminho alternativo para o conhecimento sem passar necessariamente pelo professor.
A informática tem sido utilizada como uma ferramenta para o processamento e a
transferência de informações e como um elemento de apoio à tomada de decisões.
Para Masetto, esta mudança se manifesta em aceitar:
• que o sujeito, o elemento mais importante deste processo de formação, é o próprio aprendiz, o aluno e não o professor-transmissor de conhecimentos;
• que este processo de formação do engenheiro abrange toda a sua pessoa: inteligência, competências e habilidades humanas e profissionais, valores, ética, cidadania. As soluções técnicas para resolver problemas que se apresentam ao engenheiro sempre têm conseqüências que afetam o homem e seu meio, e isto não pode deixar de ser aprendido pelo engenheiro;
• que o papel do professor é de ser mediador entre o aprendiz e aquilo que precisa ser aprendido; é de parceria com os alunos e de dividir a responsabilidade pela aprendizagem com eles; é de incentivo e motivação para buscar informações, produzir conhecimento significativo, dialogar e debater, desenvolver competências e assumir o papel social de todo o profissional.
de graduação e responder às exigências contemporâneas é fundamental;
• que o processo e avaliação precisam ser urgentemente modificados visando torná-lo um processo de retro-informações contínuo que ajude o aluno a aprender durante o processo e aprendizagem, durante o curso que ele está fazendo e o incentive para isto; ao invés de se apresentar apenas como um sistema de julgamento, seguido de uma sentença, apresentado ao final de um curso;
• que cada disciplina precisa responder qual é sua contribuição específica para a formação do engenheiro, como ela se integra com as demais, como poderá ser aproveitada durante o curso e posteriormente nas atividades profissionais; como se constrói o currículo e com se implanta o mesmo;
• que há necessidade de se abrir para o trabalho em equipe com outros colegas professores da mesma área, de áreas afins e mesmo de outras áreas do conhecimento, exercitando-se em atividade interdisciplinar;
• que sua atividade como professor-educador e formador de engenheiros tem uma conotação política e ética, enquanto pessoa que age em sua totalidade e que concentra em si mesmo tanto a profissionalidade como a cidadania do engenheiro professor (MASETTO 2001, p. 15-16).
Segundo Belhot, (1997), e Amorim (1997) Com o desenvolvimento da
ciência, o ciclo de vida da tecnologia apresenta uma tendência de se tornar cada vez
menor e cada vez mais curta que a graduação em qualquer campo do conhecimento e
principalmente no campo da engenharia, ou seja, os avanços tecnológicos
representados pelos softwares ocorrem numa velocidade muito maior que os
observados na atualização dos cursos.
Para o autor:
Aquilo que é ensinado na escola é determinante para a sobrevivência do profissional no mercado de trabalho, e nessa direção, deve haver um cuidado na sua formação básica e ao mesmo tempo na sua formação dinâmica. E necessário dar ao individuo a capacidade de se adaptar ao mercado, de criar as oportunidades para sua sobrevivência, mediante a habilidade de planejar com criatividade e flexibilidade, e não mais reproduzir soluções conhecidas (BELHOT; AMORIM 1997, p.2).
E ainda segundo Amorim (1997), “não podemos continuar ensinando o que
nos foi ensinado e do mesmo modo. Precisamos ter em mente que o futuro do
engenheiro que entrará no mercado de trabalho é diferente do presente de quem nele
está” (p132).
Isto significa que o ensino tradicional, mantido dentro dos padrões atuais,
De acordo com Moraes, pesquisa realizada pela POLI/USP em 1998,
visando conhecer o perfil profissional ideal do novo engenheiro que estaria sendo
requerido pelo mercado de trabalho do ano 2002, mostrou que os 10 atributos mais
valorizados foram:
1- Indivíduo comprometido com a qualidade do que faz e com habilidade para trabalhar em equipe;
2- Com habilidades para conviver com mudanças;
3- Com visão clara do papel cliente/consumidor, com iniciativa para tomada de decisões e usuário das ferramentas de informática;
4- Com domínio de inglês;
5- Fiel para com a organização em que trabalha;
6- Que valoriza a ética profissional com ambição profissional/vontade de crescer;
7- Capacidade para o planejamento. Com visão das necessidades do mercado;
8- Que valoriza a dignidade/ tem honra pessoal;
9- Com visão do conjunto da profissão. Com habilidade para economizar recursos;
10- Preocupado com a segurança no trabalho (MORAES, 1999, p 59).
Pereira e Bazzo, tratando da qualidade de ensino e sistemas de avaliação
nos cursos de engenharia, apresentam algumas sugestões para uma quebra da rigidez
excessiva presente hoje nos mesmos.
São elas:
• Análises tão profundas quanto possíveis das modificações processadas no certo mercado de trabalho, e que exigem novas formações para os profissionais de qualquer área. Estas novas posturas implicarão novos métodos de abordagem do ensino e novas relações com o conhecimento;
• Discussões a respeito das relações entre ciência, tecnologia, e por conseqüência o ensino, e a sociedade em que estão inseridos;
• Estudos visando a implementação e/ou fortalecimento da vinculação entre pesquisa e ensino de graduação no seio das próprias escolas, buscando sempre uma participação ativa do maior número possível de alunos nos programas de desenvolvimento científico e tecnológico;
• Valorização de uma forte integração entre professores, alunos, pesquisadores, funcionários e comunidade em geral, num jogo construtivo de idéias, na busca de soluções úteis para a sociedade;
• Participação coletiva para um crescimento intelectual, uma minimização do individualismo e uma maior integração dos diversos campos do saber trabalhados dentro da instituição, com vistas a uma troca mais eficiente de conhecimentos nas mais diversas áreas de atuação;
arbitrária do professor, da consideração do ensino como "repasse" de conhecimentos previamente elaborados, do culto ao método científico clássico e, principalmente, da cobrança de uma escamoteada submissão dos alunos em relação aos ritos e mitos acadêmicos;
• Discussões a respeito das conseqüências de um diálogo livre para o ensino e para a aprendizagem. (PEREIRA; BAZZO (1997), p.91-92).
Souza também apresentou algumas indicações básicas para formação do
engenheiro:
• Discussão do impacto da computação no trabalho do engenheiro e na sociedade dentro das disciplinas que introduzem a computação nesses cursos;
• Contar com um conjunto de disciplinas, dentro das quais os alunos possam escolher um mínimo de créditos de acordo com o seu conhecimento diferenciado, permitindo também um aprofundamento diferenciado segundo o interesse de cada um;
• Ensinar programação a partir de uma visão de projeto na engenharia, e como decorrência deste, introduzir os conceitos de programação em linguagem de alto nível;
Este autor acrescentou ainda que as disciplinas devem:
• Fazer o aluno compreender o impacto da computação no mercado de trabalho do engenheiro e prepará-lo par acompanhar novas mudanças nesse mesmo trabalho;
• Capacitar o aluno a dominar os conhecimentos básicos sobre o hardware e o software dos computadores e das redes;
• Capacitar o aluno a dominar os conceitos de algoritmo e de programação e a projetar algoritmo, rotinas e programas para as ferramentas computacionais e para bancos de dados;
• Capacitar o aluno a dominar as principais ferramentas computacionais a serem utilizadas no restante do curso de engenharia e em sua vida profissional, e prepará-lo para acompanhar a evolução dessas ferramentas e ambientes para desenvolvimento de projetos em engenharia;
• Capacitar o aluno a compreender a evolução da computação e seu impacto social.
• Capacitar o aluno a compreender a informação como um insumo básico de produção, cujo domínio pode levar a dependência cultural;
• Capacitar o aluno a resolver problemas que exijam sua modelagem algorítmica e o desenvolvimento de programas em linguagens de programação de alto nível;
• Capacitar o aluno a utilizar linguagens de alto nível e geradores de códigos, assim como construir interfaces gráficas para os usuários (SOUZA p.45).
Importante situar-se que as novas tecnologias estão associadas às modernas
segundas se caracterizam como formas de organização do trabalho que estão a
imprimir maiores produtividade e competitividade.
As pessoas, também, estão interligadas e vivem em uma comunidade
global com as novas tecnologias de telecomunicações e, sobretudo com a presença dos
computadores e da digitalização dos dados e tudo isto se generalizando através de uma
imensa rede de informações, a Internet. Segundo Bianchetti,“já não se distingue mais
o que é comunicação e informação” (BIANCHETT, 2001, p 4). Ainda segundo o
autor:
A resistência às novas tecnologias pode até retardar o confronto, mas não o eliminará. Se há problemas em aderir entusiasticamente e apologeticamente a essas novas tecnologias, a saída também não se encontra na sua rejeição ou satanização. Negar hoje as tecnologias seria o equivalente a negar a história. Aos pesquisadores cabe a constatação de que a resistência existe, seja pela dificuldade de as pessoas trabalharem a adesão, ou seja, pela forma de como estão sendo compulsoriamente levadas a encarar a mudança num curtíssimo espaço de tempo (BIANCHETTI, 2001, p.4).
As distâncias se encurtaram, tamanha é a facilidade de se comunicar com
qualquer parte do mundo, a comunicação não tem fronteiras, os grandes centros
urbanos proliferam, existe um intenso intercâmbio cultural, artístico e comercial entre
as mais diversas nações. E, em conseqüência, alterações significativas ocorrem nas
relações de trabalho, produção, lazer e até mesmo na forma de pensar e viver das
pessoas. Acompanhar de perto essas mudanças significa adquirir novos conhecimentos
e cada conhecimento adquirido torna-se rapidamente insuficiente e assim cada vez
mais teremos que passar a viver num processo de aprendizado contínuo para estarmos
atualizados e com possibilidades de estarmos, também, adaptados e constantemente
readaptados à dinâmica da vida social e econômica e até mesmo dentro do âmbito
familiar. É a revolução da informática (CYTRYNOWICZ, 1991).
De acordo com Bazzo, um processo de formação deve fornecer elementos
para que o jovem pense em si próprio e nas suas perspectivas de futuro, estimular a
reflexão sobre temas técnicos, sociais, políticos etc, sem o que contribui para um
quadro de alienação pessoal. Nesse sentido para esse autor:
muito esforço e orientação de pessoas experientes e interessadas em que isso ocorra (BAZZO 1996, p.4).
A velocidade sob a qual se vem evoluindo tem como chave mestra à
rapidez com que as informações são transmitidas. Daí torna-se fundamental na
formação do engenheiro a necessidade de conhecimentos extracurriculares que lhe
permita uma formação multidisciplinar com qualificação mais geral do que técnica, ou
melhor, é importante que esse profissional adquira durante a sua formação uma
qualificação básica que lhe permita uma rápida adaptação ou readaptação às mudanças
do mercado de trabalho.
Para Bermudez:
[...] nenhuma Universidade é capaz de formar um engenheiro com a garantia de que ele continuará atualizado pelo resto de sua vida profissional. Assim, a universidade deve desenvolver no profissional a capacidade de auto-aprendizado. Isso só pode ser conseguido dando-se ênfase ao ensino dos conceitos básicos e não das tecnologias de ponta. O conhecimento aprofundado dos conceitos básicos possibilitará ao futuro engenheiro a atuação em áreas tecnológicas que nem sequer existiam durante a sua formação universitária. As tecnologias de ponta devem ser estudadas, mas apresentadas como aplicações dos princípios básicos e não como finalidade do aprendizado (BERMUDEZ, 1997, p. 73-74).
Numa perspectiva mais ampla no que concerne a esta nova ordem no
campo do trabalho alguns autores posicionaram alguns problemas sobre a formação
numa nova realidade do trabalho.
De acordo com Markert (1991), o desenvolvimento das novas tecnologias
como também a rejeição do gerenciamento científico defendido pelo taylorismo, leva
ao desenvolvimento de amplas competências, habilidades e conhecimentos nos
trabalhadores. Acredita-se ainda que essas mudanças tecnológicas apontam na direção
de qualificações mais gerais do que técnicas, as "qualificações chaves", que
compreendem:
[...] qualificações amplas, conhecimento de âmbito geral, capacidade de associação de dados e informações, capacidade de decisão frente a situações complexas. No contexto dessa tendência situam-se características pessoais e valorização de traços de personalidade, tais como: “desenvolvimento de senso de responsabilidade, de espírito crítico e de autoconsciência. (MARKERT 1991, p. 12)”.
Segundo Picanço e Fartes: