• Nenhum resultado encontrado

Incubadora Social: Um Estudo da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Incubadora Social: Um Estudo da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO"

Copied!
98
0
0

Texto

(1)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Erika Campanharo de Moraes

Incubadora Social: Um Estudo da Escola Empreendedora de Corte e Costura da

Fundação Jari

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Erika Campanharo de Moraes

Incubadora Social: Um Estudo da Escola Empreendedora de Corte e Costura da

Fundação Jari

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração, sob a orientação do Prof. Dr. Arnaldo Jose França Mazzei Nogueira.

(3)

Banca Examinadora

_______________________________________

_______________________________________

(4)
(5)

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Capes e à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo pela concessão da bolsa de estudos que viabilizou a minha permanência no mestrado.

Ao meu orientador, professor doutor Arnaldo Jose França Mazzei Nogueira, pelo conhecimento transmitido, orientação, apoio, parceria na publicação de artigo e, especialmente, por aceitar que eu direcionasse o meu trabalho, mesmo não sendo a sua linha de pesquisa, para um tema que descobri e com o qual me encantei durante a realização do mestrado: os negócios privados com objetivos sociais.

Ao professor doutor Arnoldo de Hoyos Guevara pelas aulas, pelo incentivo à participação no Congresso ICIM e à publicação do meu primeiro artigo sobre os bancos comunitários, cujo tema influenciou esta dissertação.

Ao professor doutor Luciano Antônio Prates Junqueira pelo incentivo e parceria na elaboração de artigos acadêmicos durante o curso, pela indicação de referências bibliográficas sobre negócios sociais e por todo o apoio durante o mestrado.

Ao professor doutor e coordenador do Mestrado em Administração Belmiro Nascimento João e aos professores doutores Ladislau Dowbor e Onésimo Cardoso pelo conhecimento compartilhado durante as aulas.

À minha prima Joyce Reissler que, mesmo em fase de conclusão de sua pesquisa de mestrado, leu inúmeras vezes meu trabalho e colaborou com sugestões e correções na minha redação.

À minha mãe, Maria Helena Russo Campanharo, e à minha tia Lucy Helena Russo por cuidarem dos meus filhos todas as vezes que precisei assistir a uma aula, participar de alguma atividade relacionada ao mestrado ou me dedicar à escrita do trabalho fora do período em que as crianças estavam na escola.

Ao meu pai, Antonio Carlos Campanharo, por ter me acompanhado até a cidade de Suzano para que eu pudesse realizar a pesquisa empírica.

Aos meus filhos, Guilherme e Laura, pela paciência e parceria em todas as vezes que precisaram me acompanhar em congressos, aulas e visitas à biblioteca, mesmo sendo tão pequenininhos.

(6)

conseguiria concluir os créditos e estava um pouco “desesperada”, me disse palavras das quais vou me lembrar sempre: Calma, tudo isso é vida!

Ao coordenador da incubadora Escola Empreendedora da Fundação Jari, que prontamente concordou em participar da pesquisa e se mostrou muito acessível e disposto a colaborar com este trabalho, além das empreendedoras das empresas graduadas, que foram muito receptivas e compartilharam informações comigo mesmo estando em horário de trabalho e cheias de tarefas.

(7)

RESUMO

Os micros e pequenos negócios, bem como os microempreendedores individuais, são importantes para a geração de emprego e o dinamismo da economia. Estudos comprovam que esses negócios, quando criados e/ou desenvolvidos em incubadoras de empresas, sobrevivem mais no mercado em relação àqueles que foram criados e desenvolvidos sozinhos. Nesse contexto, as incubadoras de empresa se destacam como uma importante organização para toda a sociedade. Há diversas modalidades de atuação, e uma delas inclui o desenvolvimento de negócios chamados de inclusivos, sociais e/ou de impacto social.

Este trabalho teve como objetivo geral analisar a atuação de uma incubadora social de negócio inclusivo considerando suas atividades, resultados e impactos sociais conforme são percebidos pelo coordenador da incubadora e pelos empreendedores que passaram pelo processo de incubação.

Para atingir esse objetivo, foi realizada uma pesquisa empírica qualitativa com a incubadora social da Escola Empreendedora da Fundação Jari. A partir do estudo de caso deste trabalho, foi possível identificar que incubadoras sociais possuem práticas semelhantes às incubadoras de empresas de base tecnológica e tradicional, porém adotam outras para melhor atingir as necessidades de seu público-alvo. Dentre as outras práticas, pode-se destacar: a fase da pré-incubação, que corresponde a um treinamento e preparo prévio para o ingresso na incubadora, e a geração de renda na fase da incubação, uma vez que a renda se faz necessária para manter os participantes no projeto, pois é utilizada para necessidades básicas. A incubadora social da Escola Empreendedora de Corte e Costura se mostrou como uma importante organização para a inserção de pessoas em condições menos favorecidas na cadeia produtiva. O primeiro ciclo de incubação tornou possível que quatro mulheres empreendessem seus próprios negócios, e uma delas deixou de ser dependente de um programa assistencialista do governo. Além disso, a incubadora também pôde ser reconhecida por facilitar a entrada de pessoas no mercado de trabalho, na fase de capacitação da pré-incubação e até mesmo durante a pré-incubação, na qual as profissionais tiveram a oportunidade de adquirir experiência nos moldes de um estágio corporativo. Portanto, a incubadora desenvolveu empresas e também mão de obra experiente para trabalho assalariado.

Assim, este estudo mostra-se relevante por contribuir com o debate a respeito da atuação das incubadoras sociais.

(8)

ABSTRACT

Micro and small businesses as well as individual micro-entrepreneurs are important for job creation and economic dynamism. Studies show that these businesses, when created and/or developed in business incubators, survive longer in the market than those that are created and developed alone. In this context, the company incubators stand out as important organizations for the whole society. There are several modes of operation, and one of them includes the development of businesses called inclusive, social and/or with social impact.

The aim of this study was to analyze the performance of a social incubator that develops inclusive business through its activities, results and social impacts, by means of the perception of the incubator coordinator and entrepreneurs that have been incubated.

To achieve this objective, a qualitative empirical research was made with a social incubator called Escola Empreendedora da Fundação Jari.

From the case study of this work, it was found that social incubators have similar practices of technology and traditional base companies´ incubators, but also adopt other practices to better meet the needs of your target audience. Among other practices, can be highlighted: the phase of pre-incubation, corresponding to a training and preparation prior to entry into the incubator, and income generation at the beginning stage of incubation, since the income is needed to keep participants in the project by providing basic needs.

The Social Incubator of Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari has shown itself to be an important organization for the integration of people in disadvantaged conditions in the production chain. The first incubation cycle enabled four women to undertake their own businesses, and one of them is no longer dependent on a government welfare program. In addition, the incubator could also be recognized for facilitating the entry of people into the labor market, during the training phase of pre-incubation and even during incubation, in which the professionals had the opportunity to gain experience by means of a corporate internship. Therefore, the incubator developed business and attracted experienced workers to the labor market.

Therefore, this study is relevant as contributing to the debate about the role of social incubators.

(9)

LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANPROTEC Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores BOP Base da Pirâmide

CEO Chief Executive Officer

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico COEP Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida

ESPM Escola Superior de Propaganda e Marketing FAAP Fundação Armando Álvares Penteado

FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FBES Fórum Brasileiro de Economia Solidária

FIESP Federação da Indústria do Estado de São Paulo FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

FPC Flexible Purpose Corporation

ITCP Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares ITCP/COPPE Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares L3C Low Profit Limited Liability Company

MCT Ministério da Ciência e Tecnologia

MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação MPE Micro e Pequena Empresa

NBIA National Business Incubation Association ONG Organização não governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PRONINC Programa Nacional de Cooperativas Populares

RELAPI Rede Latino-Americana de Associações de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas

RIDI Rede de Incubadoras de Desenvolvimento Inclusivo

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SENAES Secretaria Nacional de Economia Solidária

SIES Sistema de Informação da Economia Solidária UFC Universidade Federal do Ceará

UFPE Universidade Federal de Pernambuco UFPR Universidade Federal do Paraná

(10)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

1. INCUBADORA DE EMPRESAS 13

1.1. Histórico 13

1.2. Definições e objetivos 16

1.3. Atuação no Brasil 18

1.4. Etapas de um processo de incubação de empresas 20

1.5. A efetividade: práticas, resultados e impactos 22

2. UM PANORAMA SOBRE ORGANIZAÇÕES PRIVADAS COM 27

OBJETIVOS SOCIAIS

2.1. Negócio inclusivo 32

2.2. Negócio social na concepção de Muhammad Yunus 34

2.3. Negócio social na concepção de Prahalad - Oportunidades na base da pirâmide 38 2.4. A certificação do B lab e outras iniciativas dos Estados Unidos 41

2.5. As empresas sociais da economia solidária 42

2.6. Análise sobre as diferentes concepções de organizações privadas com objetivos sociais 46

3. MÉTODO E PROCEDIMENTOS 48

3.1. Estratégia de investigação da pesquisa empírica 49

3.2. Método para coleta de dados 50

3.3 Procedimento de transcrição das entrevistas e apresentação e análise dos dados 51 4. O ESTUDO DE CASO: A INCUBADORA DA ESCOLA 53

EMPREENDEDORA DE CORTE E COSTURA DA FUNDAÇÃO JARI

4.1. A Fundação Jari 53

4.2. A cidade de Suzano 54

4.3. A incubadora da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari 54

4.4. Empresa graduada 1 63

4.5. Empresa graduada 2 68

4.6. Análise dos dados da pesquisa 70

CONCLUSÕES 75

REFERÊNCIAS 79

ANEXOS 85

(11)

10

INTRODUÇÃO

Segundo dados de 2011 da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC), havia no Brasil 384 incubadoras de empresas, sendo que 40% delas atuavam com empresas ligadas à tecnologia, 18% incubavam empresas ligadas a setores considerados tradicionais e 18% trabalhavam com ambos os segmentos, sendo consideradas de atuação mista. Em relação à incubação de empresas de prestação de serviços, 8% das incubadoras brasileiras atuavam com esse tipo de empresa. As demais incubadoras, que representavam 16% da totalidade brasileira, atuavam com empresas ligadas à cultura (7%), ao social (7%) e ao agronegócio (2%) (ANPROTEC; MCTI, 2012). Já um estudo da Fundação Avina identificou 60 incubadoras sociais em todo o Brasil. Essas incubadoras sociais trabalham para criar e/ou desenvolver empreendimentos cujo objetivo é uma melhora nas condições sociais de uma pessoa, de uma comunidade ou mesmo de toda a sociedade. Esse tipo de negócio pode receber diferentes denominações: negócio inclusivo, negócio social, empresa social ou negócio com impacto social.

Um estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) aponta que, em 2010, a taxa de mortalidade média das micro e pequenas empresas no Brasil, nos dois primeiros anos de existência, atingiu 27% (FIESP, 2012), e as principais causas de fechamento do negócio são a falta de (ou pouco) planejamento prévio; dificuldade com a gestão do negócio, especialmente com a aquisição de clientes; e o comportamento empreendedor (SEBRAE-SP, 2014). Em contrapartida, quando esses empreendimentos passam por uma incubadora de empresas, a taxa de mortalidade média das empresas cai para 20% (BOAS..., 2008). Dessa maneira, as incubadoras de empresas possuem importância relevante para a criação e o desenvolvimento de negócios que, se bem-sucedidos, contribuirão para dinamizar a economia e gerar empregos.

No âmbito acadêmico, é possível encontrar estudos que apresentam análises de pesquisas realizadas com incubadoras de empresas, especialmente as de base tecnológica. No caso dessas incubadoras de base tecnológica, há ainda estudos que identificam e analisam a percepção de empreendedores incubados em relação à infraestrutura e aos serviços oferecidos pelas incubadoras. São encontrados também estudos sobre incubadoras sociais de empreendimentos da economia solidária que abordam, entre outras questões, as práticas dessas incubadoras.

(12)

11

economia solidária, sendo escasso o material acadêmico disponível aos profissionais e acadêmicos que atuam nesse tipo de organização. Assim, a realização de estudos sobre incubadoras sociais se torna relevante para demonstrar a atuação desse tipo de empreendimento, de modo que o modelo possa ser verificado e possivelmente considerado por outras organizações que se propõem a desenvolver esses negócios.

Sabendo-se que há incubadoras sociais trabalhando para alavancar negócios inclusivos, o presente trabalho teve como pergunta de partida: como se dá a atuação de incubadoras sociais de negócios inclusivos?

Com base nessa pergunta, definiu-se o objetivo geral deste trabalho: analisar a atuação de uma incubadora social de negócio inclusivo por meio de suas atividades, resultados e impactos sociais a partir da percepção do coordenador da incubadora e dos empreendedores que já foram incubados.

Os objetivos específicos são:

 caracterizar a incubadora e sua metodologia de trabalho;

 explorar o processo de incubação das empresas (infraestrutura e serviços oferecidos, tempo de incubação e apoio pós-incubação);

 verificar a quantidade de empresas incubadas, suas atividades e o tempo de atuação no mercado;

 analisar como a incubadora acompanha o desempenho das empresas graduadas (sobrevivência, sustentabilidade financeira e impacto social);

 explorar a percepção das empresas incubadas em relação às ações da incubadora (infraestrutura e serviços oferecidos, tempo de incubação e apoio pós-incubação).

O presente estudo trabalha ainda com a seguinte proposição: as práticas das incubadoras de empresas de base tecnológica e tradicional não são suficientes para as necessidades de uma incubadora social.

Com base nos objetivos da pesquisa e na proposição, o trabalho está assim estruturado:

 capítulo 1, “Incubadora de empresas”: apresenta a concepção de incubadora de empresas e um breve panorama da teoria existente sobre a atuação desse tipo de empreendimento.

(13)

12

e o meio ambiente, aí englobados os negócios inclusivos, a fim de se apresentar uma discussão sobre diferentes nomenclaturas e perspectivas desses negócios.

 capítulo 3, “Métodos e procedimentos”: apresenta os procedimentos e as técnicas para coleta e análise dos dados.

 capítulo 4, “O estudo de caso: a incubadora da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari”: apresenta os dados obtidos na pesquisa empírica e uma análise desses dados.

(14)

13

1. INCUBADORA DE EMPRESAS

O presente capítulo tem como objetivo construir uma lente teórica sobre incubadoras de empresas por meio da apresentação de dados históricos, definição, objetivos, etapas, atuação e efetividade de incubadoras de empresas. Como o objeto de estudo empírico é uma incubadora social, se dará mais ênfase a essa modalidade.

1.1. Histórico

Em 1959, o fechamento de uma fábrica na cidade de Batavia, em Nova York, nos Estados Unidos, resultou em um galpão de 80 mil m2 vazio e uma taxa de desemprego de 20% entre os habitantes da cidade (DIAS, 2002, apud ARANHA, 2008). A área da fábrica foi vendida, e o comprador das instalações, Joseph Mancuso, sublocou o espaço para empresas iniciantes, que utilizavam equipamentos e serviços em conjunto, além de contarem com serviços fornecidos no próprio local, como secretaria, contabilidade, marketing, etc., o que contribuiu para a redução dos custos operacionais e o aumento da competitividade dessas empresas. Esse local foi chamado de Centro Industrial de Batavia, porém ficou conhecido pelo apelido de incubadora por causa de um aviário que havia no prédio (ARANHA, 2008)1.

Também na década de 1950 surgiram na região do Vale do Silício as incubadoras de novas empresas de tecnologia (ARANHA, 2008), com o objetivo de incentivar os estudantes recém-graduados da Universidade de Stanford a “disseminar suas inovações tecnológicas e a criar espírito empreendedor”. A universidade oferecia espaço físico e assessoria gerencial, jurídica, de comunicação, administrativa e tecnológica, o que viabilizou o surgimento de novas empresas2. Os estudantes e a universidade criaram um parque industrial e depois um parque tecnológico para transferir o conhecimento tecnológico desenvolvido na universidade para as novas empresas, especialmente de eletrônicos (ARANHA, 2008).

À expansão do movimento de incubadoras, a partir da década de 1970, podem ser atribuídas três razões, de acordo com Meeder (1993, apud DORNELAS, 2002): motivação para encontrar finalidade de uso para prédios abandonados; criação de fundos de investimento de apoio à inovação nas maiores universidades dos Estados Unidos; engajamento de empreendedores em transferir conhecimento e experiência para novas empresas.

1 Ver também informações sobre esse histórico no site da ANPROTEC. Disponível em:

<http://www.anprotec.org.br/publicacaoconhecas2.php?idpublicacao=80>. Acesso em: 5 jan. 2015.

(15)

14

Um estudo realizado pela Anprotec em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) (ANPROTEC; MCTI, 2012) comparou a atuação de incubadoras de empresas localizadas em dez países – Portugal, Bélgica, França, Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido, Coreia do Sul, Israel e Argentina – e constatou que nesses países as incubadoras se desenvolveram mais rapidamente após 1980, devido a políticas públicas de fomento para empreendimentos inovadores e a fontes de receitas governamentais, que passaram a considerar as pequenas e médias empresas na geração de emprego e renda. A partir dos anos 1990, o crescimento é acelerado e atua na transformação da cultura disseminando a ideia de que empreender é tão bom quanto estar empregado.

No Brasil, as incubadoras de empresas surgiram da iniciativa do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico (CNPq), o professor Lynaldo Cavalcanti, que, na década de 1980, implantou o primeiro Programa de Parques Tecnológicos do país abrangendo cinco fundações tecnológicas: em Campina Grande (Paraíba), São Carlos (São Paulo), Porto Alegre (Rio Grande do Sul), Manaus (Amazonas) e Florianópolis (Santa Catariana). O programa tinha como objetivo transferir conhecimento das universidades para as empresas, e dele surgiu, em 1984, a primeira incubadora de empresas, no parque tecnológico de São Carlos (ARANHA, 2008). Essa iniciativa deu início ao empreendedorismo inovador no Brasil e esteve na base do surgimento de “um dos maiores

sistemas mundiais de incubação de empresa” (ANPROTEC; MCTI, 2012). Em relação ao

avanço das incubadoras, esse se dá com a estabilização da macroeconomia brasileira, após o Plano Real, em 1994, além de contar com a própria capacidade de empreender de seus gestores (PLONSKY, 2002).

(16)

15

A primeira incubadora de empresas do setor tradicional surgiu em 1991 na cidade de Itu, com a adesão da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) à Anprotec e em parceria com a Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) (ARANHA, 2008).

Já as incubadoras de tecnologia social surgiram de uma proposta apresentada pela Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP/COPPE), em 5 de janeiro de 1995, de que as experiências das incubadoras de base tecnológica fossem utilizadas para a inclusão socioeconômica (ARANHA, 2008) – em um contexto histórico, social e econômico de um país que se libertara do regime militar na década anterior, convivia com vários problemas sociais como a miséria, o desemprego e a fome (presentes até a atualidade) e observava o surgimento de diversos movimentos populares, que buscavam igualdade de oportunidades e inclusão social (VECHIA et al., 2011).

Nesse movimento, o papel das universidades também começou a ser questionado, uma vez que, apesar de serem detentoras do conhecimento, não estavam gerando ferramentas sociais que pudessem combater esses problemas de maneira eficaz. Um desafio lançado pelo Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida (COEP) – que dirigia, entre outras iniciativas, a Campanha Contra a Fome, de Herbert de Souza, o Betinho – à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) deu início ao projeto da incubadora tecnológica de cooperativas populares, que visava a transferência de tecnologias inspirada nas incubadoras de base tecnológica dos Estados Unidos (VECHIA et al., 2011).

Esse projeto recebeu financiamento do governo federal por meio da Finep, para difusão da metodologia da incubadora (VECHIA et al., 2011). Inspiradas no trabalho da UFRJ em 1995, ao final de 1998 foi criada a Rede Universitária de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares, a Rede de ITCPs, com seis incubadoras originadas nas seguintes universidades: UFRJ, Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) (REDE DE ITCPs, 2009).

Em 1999, a Rede de ITCPs foi convidada a participar de outra rede mais ampla, a Unitrabalho, fundada em 1996, uma rede nacional de universidades que apoia os trabalhadores na sua luta por melhores condições de vida e trabalho e incentiva e apoia a criação de incubadoras sociais de empreendimentos solidários nas dependências das universidades filiadas3. Por divergências no modelo administrativo, em 2001, as duas redes se separaram (VECHIA et al., 2011).

(17)

16

Outro fator importante para a difusão das incubadoras foi o surgimento do Programa Nacional de Cooperativas Populares (PRONINC), que financiou as primeiras incubadoras e cuja verba era proveniente da Fundação do Banco do Brasil e da FINEP (VECHIA et al., 2011).

No âmbito da ANPROTEC, em 2008, foi criada a Rede de Incubadoras de Desenvolvimento Inclusivo (RIDI), que integra a Rede Latino-Americana de Associações de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas (RELAPI), com o objetivo de trocar informações e experiências, gerar e compartilhar conhecimento e desenvolver políticas voltadas para esse tipo de incubadora. Atualmente seis incubadoras fazem parte da RIDI. Para este trabalho não foi localizado pela autora nenhum estudo acadêmico derivado ou atrelado à RIDI sobre incubadora social ou desenvolvimento inclusivo.

1.2. Definições e objetivos

Para a ANPROTEC, uma incubadora de empresa:

é uma entidade que tem por objetivo oferecer suporte a empreendedores para que eles possam desenvolver ideias inovadoras e transformá-las em empreendimentos de sucesso. Para isso, oferece infraestrutura, capacitação e suporte gerencial, orientando os empreendedores sobre aspectos administrativos, comerciais, financeiros e jurídicos, entre outras questões essenciais ao desenvolvimento de uma empresa.4

As incubadoras possuem um caráter único de atuação, diferindo de qualquer outro modelo de empreendimento, e, conforme definido por Plonski (2002), são:

entidades heterodoxas, que contestam os modelos arcaicos puristas estabelecidos de dissociação entre as esferas acadêmica, empresarial e governamental. Incubadoras são, deliciosamente, entidades ambíguas – ao mesmo tempo empresa e universidade, concomitantemente espaço privado e público, esgrimindo as armas da competição e, simultaneamente, praticando ações de cooperação.

Essa definição de Plonski evidencia a atuação multissetorial por trás de uma incubadora, que interliga diversos agentes da sociedade em busca do desenvolvimento de um negócio. O setor público pode identificar na incubadora uma oportunidade para direcionar verbas para o desenvolvimento de empreendimentos que dinamizam a economia local e geram empregos para uma região. As universidades têm a possibilidade de compartilhar suas

4 Disponível em: <http://anprotec.org.br/site/pt/incubadoras-e-parques/perguntas-frequentes/>. Acesso em: 5 jan.

(18)

17

pesquisas com os empreendedores das empresas incubadas, dando utilidade prática aos seus estudos. Além disso, as incubadoras são espaços privados, porém de utilidade pública, pois cedem às empresas incubadas, em muitos casos, até mesmo a chave da porta de entrada do espaço físico, para que as empresas se instalem e utilizem a infraestrutura como se fossem proprietárias do local. Durante o período de incubação, seus gestores e coordenadores possuem uma atitude de orientação, atendimento, cooperação e capacitação em relação aos empreendedores incubados, ao mesmo tempo que ensinam a eles estratégias para competir com outras empresas.

Dornelas, de maneira similar a Plonski e acrescentando a necessidade de orientação prática e sustentabilidade após o período de incubação, define incubadora de empresas como:

um mecanismo – mantido por entidades governamentais, universidades, grupos comunitários etc. – de aceleração do desenvolvimento de empreendimentos (incubados ou associados), mediante um regime de negócios, serviços e suporte técnico compartilhado, além de orientação prática e profissional (DORNELAS, 2002, p. 14).

O autor acrescenta que se deve buscar empresas capazes de competir no mercado e que sejam financeiramente viáveis, mesmo após o período de incubação (DORNELAS, 2002).

O SEBRAE, assim como a ANPROTEC, define as incubadoras como desenvolvedoras de empresas inovadoras, entre outras características, conforme segue:

um ambiente que promove a transferência de tecnologia e é especialmente planejada para apoiar e estimular a criação e/ou desenvolvimento de micro e pequenas empresas industriais, de prestação de serviços, de base tecnológica ou de manufatura leves, voltadas à produção de bens ou serviços inovadores. Para isso disponibiliza uma infraestrutura diferenciada, serviços e consultorias especializadas que contribuem para a formação complementar do empreendedor em seus aspectos técnicos e gerenciais.5

Para Aranha (2008), a incubadora é considerada além das instalações físicas, sendo que:

uma incubadora consiste num processo, num mecanismo (e não numa organização ou localidade) dos mais eficientes para a criação de empresas e de transformação de conhecimento em processos, produtos e serviços.

Diante das concepções apresentadas, é possível identificar que a incubadora de empresas é uma organização que estabelece conexões entre diversos agentes da sociedade –

5 Disponível em: <http://www.sebrae-sc.com.br/leis/default.asp?vcdtexto=423&%5E%5E>. Acesso em: 5 jan.

(19)

18

como governo, universidades, empresas privadas – e qualquer outro agente que possa contribuir com o objetivo de auxiliar empreendedores a criar e desenvolver seus negócios, inovadores ou não. Desse modo, as empresas incubadas são apoiadas por meio dessas conexões e da disponibilização de recursos, como infraestrutura física para a instalação da empresa e suporte administrativo do negócio em todas as suas etapas, o que significa uma transferência de conhecimento. Além de serem criados e desenvolvidos dentro da incubadora, os negócios devem ser preparados para sobreviver no mercado após o período de incubação, o que representará a efetividade da incubadora.

Em relação às incubadoras sociais, de maneira geral, suas ambições são as mesmas das incubadoras de empresa de base tecnológica ou tradicional, porém a finalidade das empresas incubadas é diferente: elas devem ser criadas e desenvolvidas para solucionar um problema social. Essas empresas podem ser da economia solidária ou constituir um negócio social e/ou inclusivo (a distinção entre esses negócios é apresentada no capítulo 2).

As incubadoras sociais vinculadas às universidades desenvolvem principalmente empreendimentos da economia solidária. Para Culti (2002), essa é uma maneira que as universidades têm para resgatar o compromisso com a sociedade que a mantém.

1.3. Atuação no Brasil

Dados da ANPROTEC de 2012 apontam que as 384 incubadoras existentes no Brasil abrigam 2.640 empresas, geram 16.940 postos de trabalho (uma média de 6,20 postos por empresa) e juntas faturam 533 milhões de reais por ano. Além disso, 2.509 empreendimentos já graduaram, ou seja, já atuam de maneira independente da incubadora, gerando atualmente 29.205 empregos e faturando 4,1 bilhões de reais anualmente (ANPROTEC; MCTI, 2012).

No país, existem diversas modalidades de incubadoras: a de base tecnológica, nas quais a tecnologia nos produtos e serviços gerados representa um alto valor agregado; a tradicional, que abriga empreendimentos considerados tradicionais na economia; a mista, que abriga empreendimentos de base tecnológica e tradicional; a social, que desenvolve empreendimentos resultantes de projetos sociais; a de cooperativa, que abriga empreendimentos associativos, além de incubadoras específicas de determinada atividade como as culturais, de agronegócio, etc. (INCUBADORAS..., 2012).

(20)

19

incubação de empresas de prestação de serviços, 8% das incubadoras brasileiras atuavam com esse tipo de empresa. As demais incubadoras, que representavam 16% da totalidade brasileira, atuavam com empresas ligadas à cultura (7%), ao social (7%) e ao agronegócio (2%), conforme ilustrado no Gráfico 1 abaixo.

Gráfico 1. Setores de atuação das incubadoras brasileiras

Fonte: ANPROTEC; MCTI, 2012

Em relação às incubadoras sociais vinculadas à Unitrabalho, atualmente há 45 associadas, nove na região Norte, dezesseis na região Nordeste, seis na região Centro-Oeste, oito na região Sudeste e seis na região Sul. Sobre a Rede de ITCPs, em 2010 já havia 42 incubadoras de universidades vinculadas à rede6.

Há também organizações não governamentais (ONGs) e organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP) que atuam como incubadoras sociais. Um estudo coordenado pela Fundação AVINA, Ande Polo Brasil e Potencia Ventures identificou que, em 2011, havia no Brasil 60 incubadoras de negócios sociais e negócios inclusivos, e destas 20 eram de base tecnológica que abrangiam também os negócios sociais e inclusivos (ANDE POLO BRASIL; FUNDAÇÃO AVINA; POTENCIA VENTURES, 2011).

No Brasil, o tempo médio de incubação de um negócio é de três anos, e esse tempo pode variar dependendo do segmento de atuação. Além disso, há duas possibilidades para incubar uma empresa (ANPROTEC; MCTI, 2012):

 Incubação residente: na qual o negócio incubado permanece nas instalações da incubadora.

(21)

20

1.4. Etapas de um processo de incubação de empresas

Em relação ao processo de incubação, Aranha (2008) afirma que há uma etapa anterior à seleção dos participantes, muito importante, que requer iniciativas do potencial empreendedor. Essa etapa é chamada de pré-incubação, e as iniciativas correspondem, por exemplo, à procura de outros empreendedores para a realização de uma empresa em conjunto e à pesquisa de mercado para a elaboração do plano de negócios. Depois de verificada a viabilidade do plano de negócios, o empreendedor está apto a participar da etapa de seleção dos potenciais empreendimentos.

A etapa de seleção corresponde ao período em que a incubadora avalia os planos de negócios e os empreendedores para participar da incubadora. Para Aranha (2008), o período de seleção é o mais crítico e é nele que se inicia a possibilidade de se gerar empreendimentos de qualidade. Essa seleção deve ser realizada a partir de critérios claros e buscando atingir o objetivo final, que pode ser inovar e gerar novas tecnologias, gerar postos de trabalho, diminuir desigualdade, incluir na cadeia produtiva pessoas marginalizadas, dinamizar a economia, etc. Acima de tudo, Aranha afirma ser necessário verificar a possibilidade da sustentabilidade dos empreendimentos.

Depois de selecionados, os empreendimentos passam para a etapa da incubação e são

chamados de “incubados”. Nessa etapa os empreendedores utilizam a infraestrutura e os

serviços oferecidos pela incubadora e devem ser capazes de se desenvolver e atuar de maneira sustentável para passar para a próxima etapa, que é a etapa da graduação (ARANHA, 2008).

Na etapa da graduação os empreendimentos passam a se chamar “graduados” e estão

aptos a deixar a infraestrutura e os serviços oferecidos pela incubadora e a competir no mercado. Aranha (2008) ressalta que isso pode acontecer antes ou depois de um período médio de dois anos, dependendo de cada empreendimento, e que a empresa graduada pode manter contato com a incubadora e utilizar seus serviços, porém de maneira associada, desde que não gere conflito com os demais parceiros. O processo de graduação deve ser iniciado com pelo menos seis meses de antecedência e deve conter a elaboração de um novo plano de negócio e a previsão de todos os possíveis gastos (ARANHA, 2008).

(22)

21

Em seguida vem a etapa chamada de pós-incubação, na qual o principal objetivo é inserir os empreendimentos graduados em redes de parcerias para o crescimento e consolidação do negócio (ARANHA, 2008).

Embora as incubadoras sociais tenham sido originadas a partir das incubadoras tecnológicas, as do tipo social realizaram adaptações em suas etapas e práticas, uma vez que o público, principalmente no caso dos empreendimentos solidários e dos negócios inclusivos, apresenta maior vulnerabilidade social e econômica, muitas vezes associada à baixa escolaridade e à pobreza.

Para Vechia et al. (2011), no que diz respeito às incubadoras vinculadas às universidades e aos membros da Rede de ITCPs, há quatro etapas: a “pré-incubação”, na qual há o conhecimento entre as partes; a “incubação”, na qual há formação, assessoria e consultoria dos grupos solidários; a “desincubação” e a “pós-incubação”, nas quais os grupos podem recorrer a determinada ação da incubadora.

A ITCP/COPPE, por exemplo, incuba as empresas por três anos e meio seguindo quatro fases, que serão vistas a seguir, porém é necessária a chamada “Fase 0” anterior à primeira etapa. Essa fase compreende a seleção e a sensibilização dos candidatos, além da difusão da proposta e do processo da incubação.

Na primeira etapa, ou “Fase 1”, é elaborado o projeto do empreendimento para os três anos subsequentes, e essa etapa é concluída quando os participantes: demonstrarem na prática comportamentos e conhecimentos cooperativistas; tiverem o próprio estatuto social; conhecerem o foco da própria produção; e possuírem conhecimento sobre precificação e organização da produção. A ITCP/COPPE afirma ser importante um ritual de passagem entre a primeira e a segunda etapa como um reconhecimento e valorização das atividades concluídas na primeira.

A segunda etapa, ou “Fase 2”, compreende o desenvolvimento do projeto; nela, os membros têm a oportunidade de identificar forças e fraquezas e rever o projeto, caso necessário. A passagem para a terceira etapa também deve contemplar um ritual de passagem e deve acontecer após o alcance da viabilidade econômica e cooperativa.

A terceira etapa, ou “Fase 3”, busca uma expansão do empreendimento com menos intervenção da incubadora e, consequentemente, mais autonomia dos membros da empresa.

A última etapa, a “Fase 4”, corresponde ao período de graduação e autonomia da cooperativa, na qual é realizada uma análise das ações do empreendimento e das perspectivas para o futuro (ITCP/COPPE).

(23)

22

1.5. A efetividade: práticas, resultados e impactos

A discussão sobre a efetividade das incubadoras está presente em estudos acadêmicos, além de estudos de organizações que atuam em parceria com as incubadoras. Para a National Business Incubation Association (NBIA), organização localizada nos Estados Unidos que conta com mais de 2 mil membros distribuídos em 60 países, há dois princípios que caracterizam a efetividade de uma incubadora:

a incubadora deve buscar um impacto positivo na saúde econômica da comunidade por meio da maximização do sucesso das empresas emergentes e a incubadora deve ser um modelo dinâmico de sustentabilidade e eficiente na operação do negócio7

(tradução nossa) .

Em relação ao impacto positivo na economia, no Brasil, as incubadoras de empresas desenvolvem principalmente micro e pequenas empresas (MPEs), com maior índice de sobrevivência no mercado em relação àqueles empreendimentos que não passaram pelas incubadoras. Junto com os microempreendimentos individuais, são reconhecidos por dinamizar a economia e pela geração de empregos, incluindo pessoas em condições vulneráveis, como aquelas acima de 40 anos, portadores de necessidades especiais, jovens que buscam o primeiro emprego, desempregados de longa data, entre outros, além de desenvolver novas tecnologias, que resultam em produtos e serviços melhores e/ou mais baratos (SOUZA; SOUZA; BONILHA, 2008).

Um estudo do SEBRAE aponta que, no Brasil, em 2010, a taxa de mortalidade média das MPEs nos dois primeiros anos de existência atingiu 27% (FIESP, 2012) e as principais causas para o fechamento do negócio são: falta de (ou pouco) planejamento prévio; dificuldade com a gestão do negócio, especialmente com a aquisição de clientes; e comportamento empreendedor (SEBRAE-SP, 2014). Em contrapartida, quando esses empreendimentos passam por uma incubadora de empresas, a taxa de mortalidade média das empresas cai para 20% (BOAS..., 2008). Sendo uma média, há incubadoras que atingem um número maior de empresas sobreviventes. A taxa de sobrevivência é calculada pela relação do número de empresas que entram na incubadora e que continuam operando após cinco anos do início da graduação (ARANHA, 2008).

Para Aranha (2008), as incubadoras devem mesmo buscar uma taxa maior de sobrevivência das empresas incubadas em relação àquelas que não passam por incubadora e

(24)

23

no menor tempo possível. O menor tempo possível de incubação pode ser atingido pela capacitação do candidato antes do período de incubação, o que pode ocorrer por meio de parcerias para treinamento, por exemplo.

Para ser efetiva, a NBIA definiu que uma incubadora deve:

• comprometer-se com os dois princípios da incubação de negócios (descritos no início deste item 1.5);

• obter consenso na missão que define a responsabilidade da incubadora na comunidade e desenvolver um plano estratégico que contenha objetivos quantificáveis para atingir a missão do programa;

• garantir estrutura para a sustentabilidade financeira por meio do desenvolvimento e implementação de um plano de negócios realista;

• recrutar e compensar apropriadamente a gerência capaz de atingir a missão da incubadora e que possua habilidades para fazer empresas crescerem;

• construir um conselho eficaz de administração comprometido com a missão da incubadora e que maximize o papel da gestão no desenvolvimento de empresas de sucesso;

• priorizar o tempo dos gestores para colocar a ênfase maior no atendimento ao cliente, incluindo assessoria proativa e orientação que resulte em sucesso da empresa e criação de riqueza;

• desenvolver instalações, recursos, métodos e ferramentas que efetivamente contribuam com as empresas incubadas e que atendam às necessidades de desenvolvimento de cada negócio;

• procurar integrar programas e atividades da incubadora na construção da comunidade, bem como em seus objetivos de desenvolvimento econômico e estratégias;

• manter um sistema de gerenciamento de informação e coletar estatísticas e outras informações necessárias para avaliações do programa em curso, melhorando assim a eficácia do programa e permitindo que esse evolua de acordo com as necessidades dos clientes8 (tradução nossa).

Embora definidos em 1995, os princípios, bem como as orientações aos dirigentes, ainda estão disponíveis no site da NBIA, o que faz com que sejam considerados atuais.

Em relação à estrutura e aos serviços que uma incubadora deve fornecer aos empreendimentos incubados, Dornelas (2002), com base em estudos que levam em consideração diversos autores e instituições ligadas a atividades das incubadoras, destaca que é necessário:

 promover expertise em relação à administração de negócios, pois muitas vezes os empreendedores possuem a ideia e a empolgação para abrir e gerir um empreendimento, porém não possuem formação suficiente em gestão financeira, de recursos humanos, entre outros;

 facilitar o acesso a financiamentos e investimentos;

 oferecer suporte e assessoria financeira aos gerentes das empresas incubadas;

(25)

24

 conquistar o apoio da comunidade para o próprio crescimento da incubadora. Isso pode acontecer com a divulgação dos resultados das empresas incubadas ou pela inserção de membros da comunidade no conselho de administração;

 estabelecer redes de relacionamento com atores que promovem a atividade empreendedora, como universidades e organizações que forneçam suporte, como associações de empreendedorismo, empresas de contabilidade, marketing, assessoria jurídica, entre outros, além de fornecedores e clientes, para que as empresas incubadas sejam beneficiadas com essas relações;

 estabelecer redes e parcerias com universidades e/ou centros de pesquisas para que a incubadora possa se tornar um meio de transferência de tecnologia entre as universidades e o mercado e a universidade possa prover tecnologia e novos empreendimentos à incubadora;

 ensinar empreendedorismo;

 selecionar com base em critérios claros as empresas que serão incubadas;

 estabelecer um programa de metas com procedimentos e metas da incubadora e das empresas incubadas. É necessário que a incubadora preste contas sobre sua atuação e que as empresas incubadas saibam como serão avaliadas;

 criar a percepção de sucesso da incubadora, para garantir mais financiamentos e parcerias e para facilitar a inserção das empresas graduadas no mercado.

Segundo Dornelas (2002), essa percepção de sucesso pode ser medida pelas instalações da incubadora; pela capacidade de estabelecer parcerias com entidades públicas e privadas; pela atuação de um gerente experiente e efetivo; pela diretoria engajada no sucesso da incubadora; por um conselho consultivo composto de pessoas reconhecidas na área de atuação; pelo sucesso das empresas graduadas; pela alta possibilidade de sucesso das empresas incubadas; pela exposição na mídia como um referencial de sucesso; pelo período de incubação dentro da média, de 2 a 3 anos; pela baixa mortalidade das empresas incubadas; pelo estágio de desenvolvimento da incubadora compatível com o tempo de existência e o ensino de empreendedorismo. Esse autor afirma ainda que uma incubadora não deve se prender ao sucesso de um ciclo concluído e deve buscar inovar nas suas práticas (DORNELAS, 2002).

(26)

25

disso, a implantação de uma incubadora deve identificar a vocação da localidade e as possíveis deficiências nas cadeias produtivas. Em relação à seleção criteriosa das empresas que serão incubadas, conforme identificado por Dornelas e descrito anteriormente, o SEBRAE solicita aos candidatos que apresentem um plano de negócio9.

Já Aranha (2008) afirma que, entre outras iniciativas já apresentadas, o gestor da incubadora é peça fundamental na criação e no desenvolvimento de novos empreendimentos, atuando desde a seleção criteriosa dos empreendedores até a capacidade de transferir conhecimento, além de introduzir novas competências como gestão dos relacionamentos e ambientes colaborativos (ARANHA, 2008).

Em um estudo realizado em 2007, com empresas incubadas no estado de São Paulo, Souza, Souza e Bonilha (2008) identificaram que, de maneira geral, os empreendedores estão satisfeitos com a estrutura física das incubadoras, porém muito ainda deve ser realizado em relação aos apoios técnico e gerencial em recursos humanos, estratégia, contabilidade, planejamento, finanças, produção, marketing e operação. Já um estudo realizado em 2011, com empresas do MIDI tecnológico, uma incubadora que apoia empresas de base tecnológica localizada em Florianópolis, concluiu que os empreendedores estavam satisfeitos tanto com a infraestrutura como com os serviços oferecidos pela incubadora (SOUSA; BEUREN, 2011). Outro estudo realizado em 2013, com empreendimentos da incubadora de base tecnológica da Universidade de Brasília, identificou que a infraestrutura é percebida como importante pelos empreendedores, mas passa a ser secundária após a instalação dos empreendimentos. O que se torna de grande importância é a rede de relacionamentos entre as empresas (BARBOSA; HOFFMANN, 2013).

Segundo Vechia et al.(2011), em relação às incubadoras vinculadas às universidades e membros da Rede de ITCP, não há uma metodologia única – cada incubadora desenvolve a sua própria metodologia de acordo com sua realidade. Porém, para a Rede de ITCPs, há princípios éticos-políticos que as unificam como: a defesa dos princípios da economia

solidária; a “articulação plena entre ensino, pesquisa e extensão”; o comprometimento da

universidade com setores populares; a autogestão dentro da própria incubadora; a interdisciplinaridade e a participação nos fóruns da economia social e solidária (VECHIA et al., 2011, p. 127-8).

Ainda de acordo com Vechia et al. (2011), algumas incubadoras atendem apenas a demandas já organizadas e outras sensibilizam a população para a economia solidária. Em

9 Disponível em: <http://www.sebrae-sc.com.br/leis/default.asp?vcdtexto=423&%5E%5E>. Acesso em: 5 jan.

(27)

26

relação às equipes de trabalho, esses autores afirmam que há incubadoras em que a distribuição do trabalho entre professores e estudantes é equilibrada, enquanto em outras os estudantes predominam e seu trabalho pode ser remunerado por meio de bolsas de extensão ou de pesquisa ou mesmo realizado de maneira voluntária, este último característico principalmente das universidades privadas. Além disso, algumas incubadoras realizam cursos de formação básica para os empreendedores que irão participar da incubadora, iniciativa mais comum em incubadoras em que o trabalho dos professores tem maior importância (VECHIA et al., 2011). Ainda para esses autores, a mensuração dos resultados da própria incubadora também é variável.

Em relação ao processo de seleção, algumas incubadoras não possuem um método para tal e há polêmica sobre se devem incubar empreendimentos não populares, embora a maioria das incubadoras trabalhe com populações de baixa renda e baixa escolaridade (VECHIA et al., 2011).

Para Vechia et al. (2001), a incubação social nas universidades é um processo de troca constante caracterizado por pedagogias participativas. Além disso, exige intervenção interdisciplinar especialmente nas áreas de direito, economia, administração, contabilidade, pedagogia, serviço social, psicologia, além das áreas relacionadas ao próprio negócio. O tempo de incubação não é predeterminado e, em geral, dura de dois a três anos (VECHIA et al., 2011).

(28)

27

2. UM PANORAMA SOBRE ORGANIZAÇÕES PRIVADAS COM OBJETIVOS SOCIAIS

Antes de abordar as diferentes concepções que embasam as organizações que se propõem a resolver um problema social, será feita uma breve apresentação do contexto em que essas organizações estão se desenvolvendo.

Atualmente, há mais de 7 bilhões de pessoas em nosso planeta. Embora muito tenha sido alcançado em termos de desenvolvimento no século XX, grande parte da população sofre com a pobreza e a miséria, que podem ser atreladas à fome, à desnutrição, à falta de saneamento básico e de água potável, à falta de acesso à educação, entre outras necessidades básicas. A pobreza e a miséria estão diretamente ligadas à exclusão social, condição na qual as pessoas são privadas do acesso a produtos e serviços básicos para a satisfação das necessidades do ser humano e da sua própria liberdade (SEN, 2000). Além disso, há ainda grupos de pessoas marginalizadas por causa de sua etnia, de seu gênero, de suas características físicas ou mentais, entre outros.

O atual modelo econômico compõe-se, principalmente, de empresas privadas tradicionais, que buscam essencialmente a maximização dos lucros para seus acionistas, muitas vezes em detrimento do bem-estar coletivo e ambiental. Compõe-se também dos Estados, que foram concebidos para fiscalizar e regular a ação das empresas privadas e para garantir o suprimento de necessidades básicas da população, mas que, por si sós, em diversas partes do mundo, apresentam-se como insuficientes e, muitas vezes, ineficazes na solução desses problemas.

Segundo Dowbor (2007), os mecanismos de mercado atuais não são capazes de reverter o processo de destruição de nosso ecossistema, que é a base para a subsistência e a prosperidade da espécie humana. As empresas visam benefícios em curto prazo para seus próprios acionistas e não enfrentam oposição alguma dos principais prejudicados por essas ações, que são as gerações futuras e a natureza.

(29)

28

Além disso, segundo a ONU, 1% da população mundial possui riqueza equivalente à soma da riqueza de 50% da população do globo terrestre. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que a desigualdade de renda entre ricos e pobres está aumentando entre os países e também dentro dos países. Já Guy Ryder afirmou que “atualmente toda uma geração de jovens enfrenta a perspectiva de um futuro mais incerto e menos próspero do que o que teve a geração anterior. A situação de muitos é tão desesperadora que parece difícil acreditar

que pode piorar”10.

Aktouf (2004) condena a ordem econômica atual, que nos é apresentada como algo contra o qual nada se pode fazer, como se estivesse ligada à natureza humana ou dominada por leis e fenômenos invencíveis, ou como uma etapa de um processo que conduziria a uma ordem necessária e boa, sendo preciso eliminar barreiras que criam empecilhos para a sua instalação. O autor ainda destaca a prática crematística da economia atual, principalmente das grandes organizações, que lucram bilhões de dólares e, ao mesmo tempo, provocam desemprego em massa.

O relatório Inequality Matter, Report on the World Social Situation 2013 (ONU, 2013) evidencia que o crescimento da economia, tal como está, não é suficiente para reduzir a pobreza e os problemas de desigualdade. Como já evidenciado na Rio+20, uma transformação nos modelos e uma abordagem inclusiva são necessárias nos setores da economia, da sociedade e do meio ambiente – grupos marginalizados e desfavorecidos devem receber atenção especial de líderes globais para o combate da desigualdade. Além disso, o relatório também demonstra que, embora não percebido pela camada mais privilegiada da sociedade, a desigualdade atinge de maneira negativa a todos, pois gera desperdício e subaproveitamento de mão de obra.

Stiglitz (2014) ressalta a crescente desigualdade econômica e social nos Estados Unidos e defende a concorrência justa entre empresas com geração de lucros zero. No entanto, o que se observa são cada vez mais monopólios e oligopólios, que maximizam os resultados financeiros dessas empresas, além da brusca diferença salarial entre um Chief Executive Officer (CEO) e um funcionário da mesma empresa (diferença que chega a ser de 295 vezes, sem que o CEO possa ter uma produtividade 295 vezes maior que a do funcionário). A constatação de Stiglitz é fruto de políticas empresariais que visam à centralização do poder econômico no topo da pirâmide, em detrimento de uma maior igualdade econômica e social em todos os segmentos. O conceito de crescimento econômico

10 Disponível em:

(30)

29

vem considerando que não somente medidas econômicas, mas também sociais e ambientais contribuem para o desenvolvimento de nossa economia.

A desigualdade de renda também é parte da realidade do Brasil, que possui aproximadamente 200 milhões de habitantes e ocupa o 7o lugar no ranking das maiores economias do mundo, ranking que considera o produto interno bruto (PIB) do país, que em 2013 foi de 4,8 trilhões de reais (IBGE, 2014). O país possui um índice de desenvolvimento humano (IDH) de 0,744 (em uma escala que vai de 0 a 1), ocupando a 79a posição em uma lista de 187 países (PNUD, 2014). Essa disparidade entre a posição do Brasil segundo o PIB e sua posição segundo o IDH evidencia que o que está sendo produzido no Brasil não beneficia da mesma maneira todo o povo brasileiro.

O PIB pode ser considerado um indicador insuficiente de progresso de um país, pois mede a quantidade de recursos que está sendo utilizada sem avaliar se esses recursos representam um resultado positivo para a sociedade e o meio ambiente. Por exemplo, pode ocorrer um aumento do PIB por causa do maior consumo de grades e portões – decorrente da falta de segurança –, ou ele pode diminuir como consequência do investimento em saúde – que resulta em redução no consumo de remédios e em gastos hospitalares (DOWBOR, 2014). Para Dowbor (2013, p. 31), “temos olhado para a economia apenas do ponto de vista do ritmo do crescimento, esquecendo-nos de pensar o que está crescendo, para quem, e com que impactos ambientais”.

Já o IDH é composto de três pilares: saúde, medida por meio da expectativa de vida da população; educação, medida por meio do cálculo de anos de estudo e expectativa de anos de estudo das pessoas; e renda, considerada a renda per capita da população. A pontuação do Brasil, 0,744, está em uma faixa considerada índice de desenvolvimento humano alto. Há também as faixas “baixo”, “médio” e “muito alto” (BORGES; CALGARO, 2014). Esse índice tende a refletir melhor a realidade de todos os brasileiros, mas também é insuficiente por ser calculado considerando o resultado médio da população, o que, em uma sociedade muito desigual, não permite uma correta interpretação do que ocorre no país.

(31)

30

Figura 1. Desigualdade de renda

Fonte: Fisher, 2013

Os países em vermelho indicam maior desigualdade na distribuição de renda e os países em azul uma maior igualdade, de acordo com o índice Palma, que calcula a diferença de renda entre os 10% mais ricos e os 40% mais pobres. Esse mapa da desigualdade também mostra que apenas a igualdade de renda não é suficiente para garantir as necessidades básicas do ser humano. Países podem ter igualdade de renda, e todos os seus habitantes serem muito pobres (FISHER, 2013).

Dinis e Mendes (2004) procuraram retratar a desigualdade por meio de uma situação concreta. Em Santana de Parnaíba, cidade da Grande São Paulo, há um condomínio de luxo, chamado Alphaville, cercado por muros e, assim, com as residências separadas das demais casas da cidade. Distante cerca de cinco quilômetros do condomínio, se localiza o Jardim São Vicente de Paula, no qual a população vive até em casas de papelão e chão de terra batida e sem emprego formal. Em 2010, o IDH de Santana de Parnaíba foi de 0,81, considerado muito alto11. Certamente esse IDH não reflete a expectativa de vida, o tempo de estudo e a renda

per capita da população do Jardim São Vicente de Paula, no qual o índice cairia muito. Em 2010, com o objetivo de “descontar” do resultado do IDH os valores que representam a desigualdade, surgiu o Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDHAD). A partir de então, o IDH pode ser visto como um índice potencial e

11 Disponível em: <http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil/santana-de-parnaiba_sp>. Acesso em: 5 jan.

(32)

31

o IDHAD como um índice mais real12. No caso do IDHAD, o Brasil recebe nota 0,54,

insere-se na faixa “baixa” e cai 16 posições no ranking mundial. O fator que mais contribuiu para a

queda foi o da renda per capita (desconto de 39,7% na nota), seguido pela educação (desconto de 24,7% na nota) e pela saúde (desconto de 14,5% na nota) (FORMENTI; NOSSA, 2014).

Direitos sociais à educação, à saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à segurança, à previdência social, à proteção da maternidade e da infância e à assistência aos desamparados são aspectos garantidos pela Carta Magna brasileira, a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). Ela traz como objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil erradicar a pobreza e a marginalização, reduzir as desigualdades sociais e regionais, bem como promover o bem de todos. No entanto, ainda há no país um longo caminho a ser trilhado entre a declaração e a efetiva prestação dos direitos fundamentais sociais aos cidadãos. A desigualdade social ainda é um fator determinante na qualidade de vida de todos e é diretamente influenciada pelo sistema econômico-financeiro adotado no país.

Portanto, há a necessidade de atuação tanto do Estado como das demais organizações para a construção de uma sociedade mais justa. Com o objetivo de solucionar problemas sociais, surgem organizações privadas que atuam com mecanismos de mercado e buscam benefícios sociais. Diversas são as iniciativas e os modelos organizacionais existentes. É possível encontrar iniciativas de organizações sem fins lucrativos, de empresas tradicionais e também de novos modelos emergentes chamados de negócio inclusivo, negócio social, empresa social e negócio com impacto social.

Não há uma definição clara e única, tampouco um consenso quanto à utilização desses termos, o que gera certa imprecisão nos estudos sobre o assunto, pois muitas vezes o mesmo termo é utilizado para nomear iniciativas com premissas e resultados diferentes.

O que esses novos modelos emergentes têm em comum são os seguintes elementos: que a organização seja privada, atue sob mecanismos de mercado e gere impacto social positivo, especialmente entre pessoas que vivem em condições de maior vulnerabilidade social e econômica. Esse novo modelo de negócio é emergente e vem despertando o interesse de diversos atores da sociedade ao redor do mundo, inclusive no Brasil, sendo visto como uma solução alternativa na geração de uma maior inclusão social. Essa possibilidade despertou atenção também de membros das incubadoras de empresas, que atuam para

12 Disponível em: <http://www.pnud.org.br/IDH/IDH.aspx?indiceAccordion=0&li=li_IDH>. Acesso em: 5 jan.

(33)

32

oferecer infraestrutura e suporte aos empreendimentos até que esses negócios tenham condições de “sobreviver” no mercado.

A seguir são apresentadas concepções presentes na literatura acadêmica e que, juntas, compõem um panorama das organizações privadas com objetivos sociais.

2.1. Negócio inclusivo

O termo negócio inclusivo tem origem nas organizações de países em desenvolvimento da América Latina, incluindo o Brasil, e é encontrado em estudos realizados por pesquisadores da Social Enterprise Network (SEKN), rede formada em 2001 por diversas e importantes escolas de administração de empresas da América Latina.

Segundo o Consejo Empresarial Colombiano para el Desarrollo Sostenible

(CECODES), negócios inclusivos podem ser considerados empreendimentos que fazem com que seus beneficiários sejam inseridos no mercado como sócios, fornecedores, distribuidores de produtos ou também como consumidores13.

Para Teodósio e Comini (2012, p. 410), negócio inclusivo é um “termo adotado para explicar as organizações que visam solucionar problemas sociais com eficiência e

sustentabilidade financeira” e que podem ser definidos como:

aqueles voltados à geração de oportunidades de emprego e renda para grupos com baixa mobilidade no mercado de trabalho, dentro dos padrões do chamado “trabalho decente” e de forma autossustentável, estabelecendo relações com organizações empresariais privadas tradicionais na condição de fornecedores ou distribuidores de seus produtos ou serviços (TEODOSIO; COMINI, 2012, p. 410).

Embora no Brasil o termo seja mais conhecido para se referir à inclusão de portadores de necessidades especiais no mercado de trabalho, negócios inclusivos abrangem mais do que essa população e incluem:

mulheres e homens com mais de 40 anos de idade, pobres e com pouca educação formal, comunidades locais com fortes laços étnicos e educação precária (indígenas, descendentes de vilarejos de escravos fugitivos, etc.), jovens sem experiência profissional que vivem em áreas com alta vulnerabilidade social, portadores de necessidades especiais e outros grupos similares (TEODÓSIO; COMINI, 2012, p. 411).

(34)

33

Para ser considerado inclusivo não basta o acesso ao consumo, é necessária uma mudança no statu quo (MÁRQUEZ; REFICCO; BERGER, 2009). Esses negócios incluem diversos tipos de empreendimento, incluindo as grandes corporações, que permitem uma inserção das pessoas em condição vulnerável em uma já consolidada rede de clientes, fornecedores e demais parceiros do negócio (MÁRQUEZ; REFICCO; BERGER, 2009). Para Márquez, Reficco e Berger (2009), a ideia de Prahalad (que é vista com mais detalhe no item 2.3) de buscar a riqueza na base da pirâmide conseguiu capturar a atenção do setor privado, que mobilizou recursos e mão de obra em escalas não atingidas anteriormente por fundações ou outras entidades sociais.

Os autores apontam ainda uma mudança de paradigma na concepção de valor dos produtos e serviços desenvolvidos por esse negócio. Para eles, o valor deve ser percebido e determinado pelo público que consome, e não decidido por quem está produzindo. Isso significa também novas culturas organizacionais, nas quais “os segmentos pobres deixam de

ser invisíveis como atores econômicos” (MÁRQUEZ; REFICCO; BERGER, 2009, p. 32,

tradução nossa). Sobre a mudança de paradigma sobre o que é valor para os excluídos, segundo esses autores, é comum a crença de que produtos e serviços devem ser de baixo custo ou baixa qualidade. Por outro lado, constata-se que os pobres da América Latina preferem produtos de marcas líderes ou intermediárias, com a segurança de minimizar os riscos da compra de um produto de baixa qualidade. Como exemplo, os autores citam o fato de que, na Argentina, consumidores pobres preferem comprar um modelo de celular mais caro do que o preferido por consumidores de classe média. Isso porque o celular mais caro também oferece acesso a outros recursos, como ouvir e armazenar música, tirar fotos, acessar a internet, etc. Os consumidores de classe média preferiam acessar esses recursos em outros equipamentos destinados a fins específicos (MÁRQUEZ; REFICCO; BERGER, 2009).

O envolvimento e o apoio do ecossistema são também importantes para os negócios inclusivos, que devem englobar em sua cadeia de valor os fornecedores, os produtores e os consumidores, além de agentes não comerciais como as agências reguladoras. Essa rede contribui para “reduzir as incertezas” sobre esses negócios, “legitimar o negócio” e

“capitalizar a infraestrutura social existente”, além de propiciar a aquisição de inteligência de

mercado e a captação de recursos financeiros para financiar os negócios, por meio de fundos da própria comunidade (MÁRQUEZ; REFICCO; BERGER, 2009, p. 34-35).

(35)

34

solução, será difícil estabelecer a conexão entre mercado e progresso social” (MÁRQUEZ;

REFICCO; BERGER, 2009, p. 35, tradução nossa).

Em muitos estudos, o termo negócio inclusivo é encontrado com o termo negócio social.

2.2. Negócio social na concepção de Muhammad Yunus

Muhammad Yunus pode ser chamado de pai dos negócios sociais (YUNUS NEGÓCIOS SOCIAIS, 2014). Nascido em Bangladesh, em 1940, Yunus formou-se em Economia pela Universidade de Dhaka em 1960 e obteve seu PhD na mesma área em 1969, pela Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos. Retornando a seu país, no início da década de 1970, identificou que as teorias aprendidas na universidade não refletiam as necessidades de seu povo, que sofria com a fome, a desnutrição, a falta de acesso à água potável, entre outras necessidades humanas básicas.

Ao conhecer uma mulher, Sufia Begum, que vivia com menos de dois centavos de dólar por dia, Yunus descobriu que ela dependia do crédito de agiotas para conseguir bambu, matéria-prima para produzir tamboretes, e que, devido a essa relação, precisava vender seu produto ao próprio credor a um custo inferior ao do mercado. Ela e seus companheiros da comunidade estavam inseridos em um ciclo vicioso gerador de pobreza, do qual não tinham meios para se libertar. Yunus pediu então que uma de suas alunas fizesse uma pesquisa na aldeia para levantar de qual quantia em dinheiro a comunidade precisava para pagar as dívidas com os agiotas e poder começar a comprar a matéria-prima de seus produtos com o próprio dinheiro. O valor, que beneficiaria 42 pessoas, era de 27 dólares. Yunus emprestou essa quantia e a partir dessa experiência, em 1976, nasceu o Banco Grameen, formalmente reconhecido como banco em 1983, o primeiro negócio social.

Yunus afirma ter certeza de que a pobreza e as condições precárias em que vivem uma pessoa são resultado da falta de oportunidades, e não da capacidade do indivíduo, e, para definir os procedimentos do Banco Grameen, disse que fez o oposto do que faz qualquer outro banco (YUNUS, 2011).

Imagem

Gráfico 1. Setores de atuação das incubadoras brasileiras
Figura 1. Desigualdade de renda
Figura 2. Sete princípios básicos para iniciar um negócio social
Foto 2: Identificação da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari
+4

Referências

Documentos relacionados

Este trabalho tem como objetivo contribuir para o estudo de espécies de Myrtaceae, com dados de anatomia e desenvolvimento floral, para fins taxonômicos, filogenéticos e

Em 2008 foram iniciadas na Faculdade de Educação Física e Desportos (FAEFID) as obras para a reestruturação de seu espaço físico. Foram investidos 16 milhões

Lück (2009) também traz importantes reflexões sobre a cultura e o clima organizacional ao afirmar que escolas possuem personalidades diferentes, embora possam

O pesquisador, licenciado em Estudos Sociais com Habilitação Plena em História, pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF), concluiu, ainda, o curso de

A Rhodotorula mucilaginosa também esteve presente durante todo o ensaio, à excepção das águas drenadas do substrato 1 nos meses de novembro, fevereiro e março, mas como

Therefore, considering the importance of sperm characterization for understand the systematic in Insecta, the scarce source of sperm data in Formicidae, as well as

Para al´ em disso, quando se analisa a rentabilidade l´ıquida acumulada, ´ e preciso consid- erar adicionalmente o efeito das falˆ encias. Ou seja, quando o banco concede cr´ editos

O Custeio Baseado em Atividade nas empresas de prestação de serviço, assim como na indústria, envolve os seguintes passos: os recursos consumidos são acumulados por