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226 TST COMENTADO PROF. THYAGO BERTOLDI

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Academic year: 2022

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226 TST

COMENTADO

PROF. THYAGO BERTOLDI (@LABORATORIO.TRABALHISTA)

Advogado da União e professor do Ouse Saber. Especialista em Direito Público pela ESMAFE/PR, em Advocacia Pública pelo IDDE e em Direito do Trabalho e Previdenciário pela PUC-MG.

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Órgão Especial

Dedução de honorários advocatícios do precatório expedido em favor do substituído Apesar de a legitimação do sindicato para a defesa de interesses da categoria ser ampla, a retenção de honorários contratuais incidentes sobre o montante da condenação só é permitida se o contrato de honorários for celebrado com cada um dos substituídos (artigo 22, § 4º, da Lei nº 8.906, de 1994).

Nesse contexto, não se pode deduzir honorários advocatícios do valor do precatório, quando o contrato de prestação de serviços advocatícios foi firmado apenas entre o sindicato e o advogado, haja vista a inexistência de vínculo contratual entre o advoga- do e os substituídos.

(TST. Órgão Especial. RO-176200-65.1997.5.17.0001, rel. Min. João Batista Brito Pereira, julgado em 05.10.2020, Informativo TST nº 226).

Honorários advocatícios

Os honorários de sucumbência são os fixados pelo juiz na decisão e devem ser pagos pelo vencido, possuindo como fato gerador a derrota da outra parte. Não devem ser confundidos com: (a) honorários contratuais: são aqueles que decorrem da relação de prestação de ser- viços firmada entre o advogado e seu cliente; ou (b) honorários assistenciais: são aqueles que derivam da assistência judiciária gratuita e, no processo do trabalho, eram devidos ao sindicato1.

No próximo julgado, iremos realizar uma revisão mais profunda acerca dos honorários e a Reforma Trabalhista, ok?

Relembre que os sindicatos são entidades associativas que representam e buscam a tu- tela do interesse coletivos, na esfera judicial e extrajudicial, dos trabalhadores e dos em- pregadores (CRFB, art. 8º, III2). Prestam aos trabalhadores a assistência judiciária gratuita (L5584, art. 14) é a possibilidade de o sindicato, de forma gratuita, prestar assistência a seus trabalhadores, especialmente àqueles que são beneficiários da justiça gratuita. Pressupõe dois elementos: (a) benefício da justiça gratuita; e (b) representação judicial pelo sindicato.

1 MIESSA, Élisson. Normas Processuais da Reforma Trabalhista: Comentários à Instrução Normativa 41/2018 do TST. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 90.

2 CRFB, art. 8º, III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas.

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O que ocorreu no caso analisado pelo TST?

O TRT da 17ª Região determinou a dedução de 15% (quinze por cento) do crédito exequendo (de um precatório), a título de honorários advocatícios, a ser pago aos advogados origina- riamente constituídos pelo sindicato nos autos da reclamação trabalhista, em que atuou como substituto processual.

A decisão diz respeito a que tipo de honorários advocatícios?

Contratuais!

E a decisão do Tribunal Regional, para o TST, foi correta?

NÃO! Apesar de a legitimação do sindicato para a defesa de interesses da categoria ser ampla, a retenção de honorários contratuais incidentes sobre o montante da condena- ção só é permitida se o contrato de honorários for celebrado com cada um dos subs- tituídos (artigo 22, § 4º, da Lei nº 8.906, de 1994). Nesse contexto, NÃO se pode deduzir honorários advocatícios do valor do precatório, quando o contrato de prestação de ser- viços advocatícios foi firmado apenas entre o sindicato e o advogado, haja vista a ine- xistência de vínculo contratual entre o advogado e os substituídos (TST. Órgão Especial.

RO-176200-65.1997.5.17.0001, rel. Min. João Batista Brito Pereira, julgado em 05.10.2020, Informativo TST nº 226).

É importante ressaltar que o mesmo entendimento é compartilhado pelo STJ (por todos:

STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1599579/PB, rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 19.03.2019)!

O julgamento foi unânime?

SIM!

Como foi veiculado no informativo?

Honorários advocatícios. Assistência judiciária sindical. Dedução de honorários advocatí- cios do precatório expedido em favor do substituído. Impossibilidade. Ausência de vínculo contratual entre o substituído e o advogado.

Apesar de a legitimação do sindicato para a defesa de interesses da categoria ser ampla, a retenção de honorários contratuais incidentes sobre o montante da condenação só é per- mitida se o contrato de honorários for celebrado com cada um dos substituídos (art. 22,

§ 4º, da Lei nº 8.906/94). Nesse contexto, não se pode deduzir honorários advocatícios do valor do precatório, quando o contrato de prestação de serviços advocatícios foi firmado

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apenas entre o sindicato e o advogado, haja vista a inexistência de vínculo contratual entre o advogado e os substituídos. Sob esse fundamento, o Órgão Especial, por unanimidade, conheceu do recurso ordinário e, deu-lhe provimento para, reformando a decisão recorrida, excluir a determinação pagamento de honorários advocatícios aos advogados que origina- riamente atuaram na reclamação trabalhista, fixados em 15% do valor devido à sucessora do substituído. TST-RO-176200-65.1997.5.17.0001, Órgão Especial, rel. Min. João Batista Bri- to Pereira, 5/10/2020.

Subseção II Especializada em Dissídios Individuais

Honorários advocatícios e ação trabalhista proposta antes da vigência da Lei nº 13.467, de 2007

Não são devidos honorários advocatícios sucumbenciais nas ações trabalhistas ajui- zadas antes da vigência da Lei nº 13.467, de 2017 (Reforma Trabalhista), mesmo se a decisão foi proferida antes da edição da IN TST nº 41, de 2018.

Se, à época do ajuizamento da ação trabalhista, a legislação processual não imputava ao empregado nenhum encargo quanto aos honorários advocatícios, não pode o julga- dor, no curso do processo, surpreendê-lo com penalidade trazida na nova lei (artigo 10 do CPC).

(TST. SDI-II. RO-11432-80.2018.5.03.000, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, julgado em 06.10.2020, Informativo TST nº 226).

O que ocorreu no caso julgado pelo TST?

Em ação trabalhista ajuizada antes da vigência da Lei nº 13.467, de 2017, o reclamante foi condenado ao pagamento de honorários advocatícios com base na sucumbência recíproca de que trata o artigo 791-A da CLT. Proposta ação rescisória, o Tribunal Regional afastou a aplicação da IN TST nº 41, de 2018, por ter sido editada posteriormente à condenação e consignou o entendimento de que a matéria era de interpretação controvertida à época da prolação da decisão rescindenda, julgando improcedente o pedido de corte rescisório com fundamento nas Súmulas no 83, item I, do TST e 343 do STF. O recurso ordinário chega, ago- ra, para apreciação do TST.

Honorários advocatícios

Como visto, os honorários de sucumbência são os fixados pelo juiz na decisão e devem ser pagos pelo vencido, possuindo como fato gerador a derrota da outra parte. Não devem ser confundidos com: (a) honorários contratuais: são aqueles que decorrem da relação de prestação de serviços firmada entre o advogado e seu cliente; ou (b) honorários assisten-

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ciais: são aqueles que derivam da assistência judiciária gratuita e, no processo do trabalho, eram devidos ao sindicato3.

A partir da Lei nº 13.467, de 2017, os honorários advocatícios de sucumbência passam a ser devidos de forma ampla no processo do trabalho, ainda que o advogado atue em causa própria.

Dessa forma, a Súmula 219 do TST fica, em grande parte, superada em decorrência do novo artigo 791-A da CLT (incluído pela Lei nº 13.467, de 2017).

Não obstante a mudança legislativa, o conhecimento do enunciado de súmula permanece importante. É que, segundo o artigo 6º da IN TST nº 41, de 2018, a condenação em honorá- rios advocatícios sucumbenciais prevista no artigo 791-A da CLT será aplicável apenas as reclamatórias ajuizada após 11 de novembro de 2017. Nas ações ajuizadas anteriormente, subsistem as diretrizes do artigo 14 da Lei nº 5.584, de 1970 e das Súmula 219 do TST. Guar- de esta informação! Ela é essencial para compreender o desfecho do julgado.

O regramento previsto na CLT em relação aos honorários de sucumbência é um pouco diver- so daquele do CPC.

Com efeito, ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico ob- tido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa (CLT, art. 791-A, incluído pela Lei nº 13.467, de 2017).

A doutrina critica a opção do legislador, já que os percentuais dos honorários da Justiça do Trabalho, sem justificativa lógica e razoável, são inferiores aos previstos pelo Código de Processo Civil4.

Conforme o artigo 791-A, §2º, da CLT (incluído pela Lei nº 13.467, de 2017), os critérios a serem observados pelo Juiz do Trabalho na fixação dos honorários são: (a) o grau de zelo do profissional; (b) o lugar de prestação do serviço; (c) a natureza e a importância da causa;

e (d) o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

À semelhança do que ocorria no item VI da Súmula 219 do TST, o artigo 791-A, §1º, da CLT, estabelece que os honorários são também devidos nas causas em que a Fazenda Pública for parte. Registre-se que, à luz da nova legislação, Élisson Miessa defende que as limitações

3 MIESSA, Élisson. Normas Processuais da Reforma Trabalhista: Comentários à Instrução Normativa 41/2018 do TST. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 90.

4 GARCIA, 2018, p. 335.

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do artigo 85, §3º, do Código de Processo Civil “(...) devem ser observados no processo do trabalho, aplicando-se supletivamente os dispositivos do NCPC, nesse particular. No en- tanto, dever-se-á limitar aos limites mínimos e máximo permitidos pelo caput do art. 791-A da CLT”5.

Com a Reforma Trabalhista (CLT, art. 791, §3º, incluído pela Lei nº 13.467, de 2017), passou- -se a admitir, no processo do trabalho, a sucumbência recíproca para fins de condenação em honorários de sucumbência (fenômeno não admitido para condenação em custas pro- cessuais). Não se admite, porém, a compensação entre os honorários advocatícios devidos, pois pertencem aos advogados, e não às partes.

Por fim, são devidos honorários de sucumbência, também, na reconvenção (CLT, art. 791-A,

§5º).

Agora, você está especialista em honorários advocatícios, não é mesmo?

Vimos que a IN TST nº 41, de 2018, é clara quanto ao marco temporal para condenação em honorários. Por que o TRT afastou a incidência dessa norma?

A alegação principal é de que a matéria era controvertida à época da prolação da decisão.

Nesse sentido, a Súmula 83, item I, do TST estabelece que “não procede pedido formulado na ação rescisória por violação literal de lei se a decisão rescindenda estiver baseada em texto legal infraconstitucional de interpretação controvertida nos Tribunais”. Na mesma linha, a Súmula 343 do STF prevê que “não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispo- sição de lei, quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos tribunais”.

O TST concordou com esse argumento?

NÃO! Não são devidos honorários advocatícios sucumbenciais nas ações trabalhistas ajuizadas antes da vigência da Lei nº 13.467, de 2017 (Reforma Trabalhista), mesmo se a decisão foi proferida antes da edição da IN TST nº 41, de 2018 (TST. SDI-II. RO-11432- 80.2018.5.03.000, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, julgado em 06.10.2020, In- formativo TST nº 226).

Para o TST, não há falar em interpretação de matéria controvertida, porquanto, muito antes da prolação da decisão rescindenda, o TST adotava o entendimento das Súmulas nos 2196 e

5 MIESSA, Élisson. Processo do Trabalho. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2018, p. 105.

6 Súmula 219 do TST. I - Na Justiça do Trabalho, a condenação ao pagamento de honorários advocatícios não decorre pura e simplesmente da sucumbência, devendo a parte, concomitantemente: a) estar assistida por sindicato da categoria profissional; b) comprovar a percepção de salário inferior ao dobro do salário mínimo ou encontrar-se

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3297 para a condenação em honorários advocatícios. Ademais, em ação rescisória fundada em regra de direito temporal, com alegação explícita de ofensa ao artigo 5º, inciso XXXVI (direito adquirido), da CF, não há margem para aplicação das Súmulas nos 83 do TST e 343 do STF.

A lógica do TST é no sentido de que, se, à época do ajuizamento da ação trabalhista, a le- gislação processual não imputava ao empregado nenhum encargo quanto aos honorários advocatícios, não pode o julgador, no curso do processo, surpreendê-lo com penalidade trazida na nova lei (artigo 10 do CPC).

O julgamento foi unânime?

SIM!

Como foi veiculado no informativo?

Ação rescisória. Honorários advocatícios sucumbenciais. Condenação em reclamação tra- balhista ajuizada anteriormente à vigência da Lei nº 13.467/2017. Direito adquirido previsto nos arts. 6º da LINDB e 5º, XXXVI, da CF.

Em ação trabalhista ajuizada antes da vigência da Lei nº 13.467/2017, o reclamante foi con- denado ao pagamento de honorários advocatícios com base na sucumbência recíproca de que trata o art. 791-A da CLT. O art. 6º da IN nº 41 do TST dispõe que “Na Justiça do Trabalho, a condenação em honorários advocatícios sucumbenciais, prevista no artigo 791-A, e pará- grafos, da CLT, será aplicável apenas às ações propostas após 11 de novembro de 2017 (Lei nº 13.467/2017). Nas ações propostas anteriormente, subsistem as diretrizes do artigo 14 da Lei nº 5.584/1970 e das Súmulas nos 219 e 329 do TST”. Referida disposição decorre do fato de que, à época do ajuizamento da ação trabalhista, a legislação processual não imputava ao empregado nenhum encargo quanto aos honorários advocatícios, de modo que não pode o julgador, no curso do processo, surpreendê-lo com penalidade trazida na nova lei (art. 10 do CPC/15). Na ação rescisória, o Tribunal Regional afastou a aplicação da IN nº 41/TST por ter sido editada posteriormente à condenação e consignou o entendimento de que a matéria

em situação econômica que não lhe permita demandar sem prejuízo do próprio sustento ou da respectiva família.

(art.14,§1º, da Lei nº 5.584/1970). II - É cabível a condenação ao pagamento de honorários advocatícios em ação res- cisória no processo trabalhista. III – São devidos os honorários advocatícios nas causas em que o ente sindical figure como substituto processual e nas lides que não derivem da relação de emprego. IV – Na ação rescisória e nas lides que não derivem de relação de emprego, a responsabilidade pelo pagamento dos honorários advocatícios da sucumbência submete-se à disciplina do Código de Processo Civil (arts. 85, 86, 87 e 90). V - Em caso de assistência judiciária sindical ou de substituição processual sindical, excetuados os processos em que a Fazenda Pública for parte, os honorários ad- vocatícios são devidos entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa (CPC de 2015, art. 85, § 2º).

VI - Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, aplicar-se-ão os percentuais específicos de honorários advocatícios contemplados no Código de Processo Civil.

7 Súmula 329 do TST. Mesmo após a promulgação da CF/1988, permanece válido o entendimento consubstan- ciado na Súmula nº 219 do Tribunal Superior do Trabalho.

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era de interpretação controvertida à época da prolação da decisão rescindenda, julgando improcedente o pedido de corte rescisório com fundamento nas Súmulas nos 83, I, do TST e 343 do STF. Não há falar em interpretação de matéria controvertida, porquanto, muito antes da prolação da decisão rescindenda, o TST adotava o entendimento das Súmulas nos 219 e 329 para a condenação em honorários advocatícios. Ademais, em ação rescisória fundada em regra de direito temporal, com alegação explícita de ofensa ao art. 5º, XXXVI, da CF, não há margem para aplicação das Súmulas nos 83 do TST e 343 do STF. Sob esses fundamentos, a SBDI-II, por unanimidade, conheceu do recurso ordinário e, no mérito, deu-lhe provimen- to para julgar procedente a ação rescisória, por violação dos arts. 6º da LINDB e 5º, XXXVI, da CF, desconstituir o capítulo da r. sentença referente aos honorários advocatícios e, em juízo rescisório, afastar a condenação do autor ao pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais. TST-RO-11432-80.2018.5.03.0000, SBDI-II, rel. Min. Alexandre de Souza Agra Belmonte, 6/10/2020.

Competência para execução fiscal após o ajuizamento de ação anulatória por suposto devedor

ATENÇÃO: ADVOCACIA PÚBLICA!

Ajuizada ação anulatória de auto de infração pelo suposto devedor, a posterior propo- situra de correspondente ação de execução fiscal pela União, em outro foro, NÃO tem o condão de deslocar a competência, visto que esta é fixada no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, como preconiza o artigo 43 do CPC/2015.

(TST. SDI-II. CC-9953-02.2019.5.00.0000, rel. Min. Maria Helena Mallmann, julgado em 06.10.2020, Informativo TST nº 226).

O que ocorreu no caso julgado pelo TST?

Inconformado com a lavratura de um auto de infração, uma empresa ajuizou ação anula- tória para desconstituição da penalidade na 12ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro/RJ. Al- gum tempo depois, a União propôs, no foro de São Paulo/SP, ação de execução fiscal para cobrança do débito imputado à empresa. O Juiz do Trabalho de São Paulo, então, suscitou conflito negativo de competência.

Conflito de competência

Nos termos do artigo 804 da CLT, ocorre conflito de competência:

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA

Conflito positivo: dois ou mais juízes se consideram competentes;

Conflito negativo: dois ou mais juízes se consideram incompetentes Entre dois ou mais juízes surgir controvérias acerca da reunião ou

separação de processos.

O conflito pode ser suscitado pelos juízes ou tribunais do trabalho, pelo MPT e pela parte interessada ou seu representante (CLT, art. 805).

Qual a competência para proposição de ação de execução fiscal?

Prevista no artigo 46, §5º, do CPC, a execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado.

Ocorre que, no caso, a empresa ajuizou a ação anulatória em São Paulo... A União poderia, sabendo dessa ação, propor a execução fiscal no Rio de Janeiro?

NÃO! Ajuizada ação anulatória de auto de infração pelo suposto devedor, a posterior propositura de correspondente ação de execução fiscal pela União, em outro foro, NÃO tem o condão de deslocar a competência, visto que esta é fixada no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, como preconiza o artigo 43 do CPC/2015 (TST. SDI- -II. CC-9953-02.2019.5.00.0000, rel. Min. Maria Helena Mallmann, julgado em 06.10.2020, Informativo TST nº 226).

Perpetuatio iurisdictionis (perpetuação da jurisdição)

A regra da perpetuatio iurisdictionis está prevista no artigo 43 do CPC: “Determina-se a com- petência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta”.

Assim, ciente da ação anulatória, cabia à União o ajuizamento da execução fiscal no mes- mo foro em que já tramitava aquela ação, devendo, pois, em razão da patente conexão, ser reunidas as referidas ações para julgamento em conjunto, a fim de se evitar a prolação de decisões conflitantes, até porque a competência territorial para propositura da execução fiscal é de natureza relativa.

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Conexão

(CPC, art. 55) Continência

(CPC, art. 56) Duas ou mais ações com mesmo pedido

ou causa de pedir

Duas ou mais ações com identidade de partes e causa de pedir, mas o pedido de

uma, por ser mais amplo, abrange o das demais.

O julgamento foi unânime?

NÃO! Foram vencidos os Ministros Breno Medeiros e Alexandre Luiz Ramos.

Como foi veiculado no informativo?

Conflito negativo de competência. Ação anulatória de auto de infração proposta pelo su- posto devedor. Ajuizamento posterior pela União da respectiva execução fiscal em outro foro. Competência territorial de natureza relativa. Conexão. Possibilidade de reunião de ca- sos conexos.

Ajuizada ação anulatória de auto de infração pelo suposto devedor, a posterior propositura de correspondente ação de execução fiscal pela União, em outro foro, não tem o condão de deslocar a competência, visto que esta é fixada no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, como preconiza o art. nº 43 do CPC/2015. Ademais, a competência territo- rial para a execução fiscal (antes no art. 578 do CPC de 1973 e agora no art. 46, §5º, do CPC de 2015) é de natureza relativa, o que implica reconhecer a possibilidade de sua alteração ou prorrogação. Dessa forma, no presente caso, cabia à União o ajuizamento da execução fiscal no mesmo foro em que já tramitava a ação anulatória, devendo, pois, em razão da patente conexão, ser reunidas as referidas ações para julgamento em conjunto, a fim de se evitar a prolação de decisões conflitantes. Sob esses fundamentos, a SBDI-II, por unanimidade, ad- mitiu o conflito de competência negativo e declarou a competência do juízo suscitado para processamento e julgamento da ação anulatória e da execução fiscal, que devem ser reu- nidas. TST-CC-9953-02-2019.5.00.0000, SBDI-II, rel. Min. Maria Helena Mallmann, 6/10/2020.

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Turmas

Dano material e pedido de exoneração de cargo de cumulação lícita

São indevidos danos materiais a trabalhador que, mesmo por imposição da empre- gadora (empresa pública), pede exoneração de cargo público de professor, quando a cumulação de cargos é lícita.

Isso porque o trabalhador poderia, antes de solicitar a sua exoneração, valer-se de ou- tros meios (inclusive judiciais) de resguardar o seu direito de manter o cargo de pro- fessor. No entanto, ao optar pela providência imediata de abrir mão do cargo público, o reclamante assumiu o risco de sua conduta, não remanescendo à empresa pública qualquer responsabilidade sobre esse ato.

(TST. 1ª Turma. Ag-ARR-656-34.2015.5.08.0017, rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann, julga- do em 30.09.2020, Informativo TST nº 226).

O que aconteceu no caso julgado pelo TST?

Um empregado acumulava os cargos de professor e técnico bancário da Caixa Econômica Federal. Ocorre que, em 2011, a empresa pública obrigou o trabalhador a pedir exoneração do cargo de professor, o que fora feito. O empregado, sentindo-se prejudicado, por enten- der ser lícita a cumulação de cargos, pleiteia indenização por danos materiais em decorrên- cia dessa prática.

Regras constitucionais para cumulação de cargos públicos

Conforme o artigo 37, incisos XVI e XVII, da Constituição, é vedada a acumulação remune- rada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários e observado o teto remuneratório constitucional:

 A de dois cargos de professor;

 A de um cargo de professor com outro técnico ou científico;

 A de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas.

A proibição de acumular estende-se a empregos e funções e abrange autarquias, funda- ções, empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público.

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A cumulação, no caso, era regular?

SIM! Sem entrar nas complexas discussões da qualificação jurídica, o TRT da 8ª Região con- siderou que o caso do trabalhador enquadrava-se na hipótese do artigo 37, inciso XVI, alínea

“b”, da Constituição (um cargo de professor e outro técnico).

E, ao obrigar o empregado a pedir exoneração, a Caixa Econômica cometeu ato ilícito?

SIM! A imposição de pedido de exoneração do cargo de professor é passível de gerar dano material ao empregado.

Não houve também dano material? E os lucros cessantes do salário de professor?

NÃO! São indevidos danos materiais a trabalhador que, mesmo por imposição da em- pregadora (empresa pública), pede exoneração de cargo público de professor, quando a cumulação de cargos é lícita. Isso porque o trabalhador poderia, antes de solicitar a sua exoneração, valer-se de outros meios (inclusive judiciais) de resguardar o seu direi- to de manter o cargo de professor. No entanto, ao optar pela providência imediata de abrir mão do cargo público, o reclamante assumiu o risco de sua conduta, não remanes- cendo à empresa pública qualquer responsabilidade sobre esse ato (TST. 1ª Turma. Ag- -ARR-656-34.2015.5.08.0017, rel. Min. Hugo Carlos Scheuermann, julgado em 30.09.2020, Informativo TST nº 226).

Como foi veiculado no informativo?

Conflito negativo de competência. Exceção de incompetência territorial. Lei nº 13.467/2017.

Rito previsto na nova redação do artigo 800 da CLT. Prazo preclusivo.

O artigo 800 da CLT, em sua redação dada pela Lei nº 13.467, trouxe inovação quanto à exce- ção de incompetência territorial, ao prever a apresentação dessa defesa antes da audiência, no prazo de 5 dias a contar da notificação. Essa defesa processual relativa à exceção de in- competência territorial destacou-se da norma geral, disposta no artigo 847, caput e §1º, da CLT, para otimizar a defesa do demandado, de forma a evitar deslocamento possivelmente desnecessário e dispendioso. Desse modo, diante da existência de um rito próprio e com fins específicos, não parece concebível que a lei permita outro momento processual para a prática do mesmo ato. Assim, entende-se que o prazo do art. 800 da CLT tem, efetivamente, natureza preclusiva, de modo que, não tendo a parte exercido seu direito de opor exceção de incompetência territorial na forma e no interregno ali previstos, prorroga-se a competência territorial do juízo em que proposta a ação. Sob esse fundamento, a SBDI-II, por unanimida- de, admitiu o Conflito e declarou a competência do Juízo da 11.ª Vara do Trabalho da Zona Leste/SP para processar e julgar a Reclamação Trabalhista. TST-CC-10467-93.2019.5.15.0013, SBDI-II, rel. Min. Luiz José Dezena da Silva, 22/9/2020.

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Legitimidade do sindicato e execução nos autos da ação coletiva

Os sindicatos têm ampla e irrestrita legitimidade ao tutelar direitos coletivos ou indivi- duais dos empregados da categoria. Assim, NÃO é cabível limitação imposta por TRT de que a execução da ação coletiva seja realizada por ações individuais.

(TST. 2ª Turma. RR-1377-21.2017.5.08.0015, rel. Min. Delaíde Mirante Arantes, julgado em 30.09.2020, Informativo TST nº 226).

Sindicatos

Sindicatos são entidades associativas que representam e buscam a tutela do interesse coletivos, na esfera judicial e extrajudicial, dos trabalhadores e dos empregadores (CRFB, art. 8º, III).

Execução no processo coletivo

Transitada em julgado a decisão da ação coletivo, dá-se início ao procedimento, individual ou coletivo, de liquidação e execução da sentença. É que, nos termos do artigo 95 do CDC, a condenação das ações coletivas é genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos causados.

A competência para a execução é da liquidação da sentença ou da ação condenatória, na hipótese de execução individual, e da ação condenatória, quando coletiva a execução (CDC, art. 98, §2º).

A execução poderá ser individual (vítima e sucessores) ou coletiva (pelos legitimados a pro- positura da ação coletiva, como é o caso do sindicato), na forma do artigo 97 do CDC. A execução coletiva não prejudica a possibilidade de propositura das execuções individuais (CDC, art. 98).

Em caso de execução coletiva, decorridos mais de 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, sem que a associação autora promova a execução, deverá fazê- -lo o Ministério Público do Trabalho (MPT), conforme artigo 15 da Lei de Ação Civil Pública.

Para as execuções individuais, decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número compatível com a gravidade do dano, os legitimados à propositura da ação coletiva poderão promover a liquidação e a execução da indenização indevida (CDC, art.

100).

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Se a execução pode ser individual ou coletiva, é correta a postura de TRT que determina que a execução da sentença coletiva seja realizada apenas individualmente?

CLARO QUE NÃO! Os sindicatos têm ampla e irrestrita legitimidade ao tutelar direitos co- letivos ou individuais dos empregados da categoria. Assim, NÃO é cabível limitação im- posta por TRT de que a execução da ação coletiva seja realizada por ações individuais (TST. 2ª Turma. RR-1377-21.2017.5.08.0015, rel. Min. Delaíde Mirante Arantes, julgado em 30.09.2020, Informativo TST nº 226).

Como foi veiculado no informativo?

“I - PEDIDO DE SUBSTITUIÇÃO DE DEPÓSITO RECURSAL POR SEGURO GARANTIA. ART. 899,

§ 11, DA CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO. RECURSO INTERPOSTO CONTRA DECI- SÃO PROFERIDA ANTES DE 11/11/2017. A parte reclamada, na PET - 222336-08/2020, requer seja deferida a substituição do depósito recursal por seguro garantia judicial. De modo a preservar o caráter assecuratório do depósito recursal, instituto jurídico cuja essência foi ratificada na Lei nº 13.467/2017, a Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho editou o Ato Conjunto TST.CSJT.CGJT nº 1 de 16 de outubro de 2019. O CNJ, no julgamento do processo 9820-09.2019.2.00.0000, declarou a nulidade dos arts. 7º e 8º do referido Ato. Posteriormen- te, este foi alterado pelo Ato Conjunto TST.CSJT.CGJT nº 1 de 29 de maio de 2020, fican- do disciplinada a prerrogativa assegurada à parte recorrente no art. 899, §11, da CLT sem comprometer uma provável execução contra o recorrente. No entanto, a substituição só é possível se o depósito for realizado após a vigência da Lei 13.467/2017 (Reforma Traba- lhista), conforme previsto no art. 12 do Ato Conjunto TST.CSJT.CGT nº 1/20 c/c o art. 20 da Instrução Normativa nº 41/2018, o qual estabelece que a substituição do depósito recursal por fiança bancária ou seguro garantia judicial só tem aplicação aos recursos interpostos contra as decisões proferidas a partir de 11/11/2017. Precedentes. No caso, observo que o último recurso apresentado pela parte requerente nos autos foi o recurso de revista contra decisão proferida em 12/12/2011. Anterior, portanto, a 11/11/2017. Pedido indeferido. [...]”

(TST-RR-176200-26.2009.5.03.0004, 2ª Turma, rel. Min. Maria Helena Mallmann, julgado em 23/9/2020.)

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Ônus da prova e terceirização de serviços pela Administração Pública IMPORTANTE! DIVERGÊNCIA!

A 4ª Turma do TST entendeu que é do reclamante o ônus da prova da culpa in vigilando da Administração Pública nos contratos administrativos de terceirização.

A regra é a não responsabilização da Administração Pública pelos créditos judiciais tra- balhistas de empregados terceirizados.

(TST. 4ª Turma. RR-83-97.2018.5.20.0003, rel. Min. Ives Gandra Martins Filho, julgado em 29.09.2020, Informativo TST nº 226).

Terceirização

Segundo lição de Gustavo Filipe Barbosa Garcia, a terceirização “pode ser entendida como a transferência de certas atividades da empresa tomadora (ou contratante) a empresas prestadoras de serviços especializados”8.

Com a Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467, de 2017), o conceito de “terceirização” passou a constar expressamente no ordenamento jurídico pátrio. Nos termos do artigo 4º-A da Lei nº 6.019, de 1974 (redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017), “considera-se prestação de serviços a terceiros a transferência feita pela contratante da execução de quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal, à pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviços que possua capacidade econômica compatível com a sua execução”.

Na terceirização, há uma relação triangular. Entre a empresa tomadora e a prestadora, há uma relação jurídica de natureza civil (ou econômica) e entre a prestadora de serviços e o trabalhador, uma relação jurídica de natureza trabalhista. O vínculo de emprego, veja-se, é formado entre o trabalhador e a empresa prestadora de serviços.

Responsabilidade do tomador de serviços públicos na terceirização: histórico

A disciplina legal da responsabilização da Administração Pública nos contratos de tercei- rização estava, até pouco tempo, prevista exclusivamente no artigo 71 da Lei nº 8.666, de 1993. Segundo o dispositivo, haveria a total isenção dos entes da Administração quanto aos direitos trabalhistas dos empregados das empresas terceirizadas. Semelhante disposi- ção foi trazida pelo artigo 77 da Lei nº 13.303, de 2016 (Lei das Estatais).

Formaram-se, basicamente, três correntes doutrinárias acerca da interpretação da norma:

(a) 1ª Corrente: o artigo 71, §1º, da Lei nº 8.666, de 1993, é inconstitucional, pois violaria o artigo 37, §6º, da Constituição; (b) 2ª Corrente (Alice Monteiro de Barros): caso verificado o descumprimento das obrigações trabalhistas pela prestadora de serviços, a Administração

8 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Terceirização. 2. ed. Juspodivm: Salvador, 2017, p. 13.

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teria incorrido em culpa in elegendo e in contrahendo, permitindo-se, com base nos arti- gos 186, 927, 932, inciso III, e 942 do Código Civil, a responsabilização subsidiária; e (c) 3ª Corrente (Vólia Bomfim Cassar): não há qualquer incompatibilidade entre o artigo 37, §6º, da Constituição e o artigo 71, §1º, da Lei nº 8.666, de 1993, e, por essa razão, a Administra- ção não deveria ser responsabilizada pelo inadimplemento das obrigações trabalhistas do prestador de serviços, já que a regra especial afasta a aplicação da geral9. Na jurisprudência do TST prevalecia a primeira e a segunda corrente, no sentido de afastar a aplicação do ar- tigo 71, §1º, da Lei nº 8.666, de 1993.

O STF, no entanto, considerou o artigo 71 da Lei nº 8.666, de 1993, constitucional quando do julgamento da ADC 16/DF (STF, Plenário, rel. Min. Cézar Peluso, julgado em 24.11.2010).

A decisão, ainda que proferida em controle concentrado de constitucionalidade, não colo- cou fim à polêmica envolvendo a aplicação do dispositivo. Isso porque o TST aproveitou-se de uma ressalva (obter dictum) feita no voto de um dos Ministros, para dar uma interpreta- ção “alternativa” à decisão e adaptou o enunciado da Súmula 331 do TST, possibilitando a responsabilização subsidiária dos entes públicos, desde que houvesse falha na fiscalização (culpa in vigilando) do contrato.

O STF, de certa forma, “referendou” o entendimento acerca da necessidade de demonstra- ção da culpa in vigilando para responsabilização da Administração Pública e fixou a seguinte tese de repercussão geral:

RE 760.931/DF

O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado não transfere automaticamente ao Poder Público con- tratante a responsabilidade pelo seu pagamento, seja em caráter so- lidário ou subsidiário, nos termos do art. 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93 (STF, Plenário. RE 760.931/DF, rel. Min. Rosa Weber, rel. para Acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 26.04.2017, Informativo STF nº 862).

Com a Reforma Trabalhista, no entanto, reacendeu-se na doutrina e jurisprudência a dis- cussão acerca da necessidade de demonstração de culpa para responsabilização trabalhista do poder público. É que a possibilidade de responsabilização subsidiária das tomadoras de serviço passou a ser expressamente prevista em lei, especificamente no artigo 5º-A, §5º, da Lei nº 6.019, de 1974.

9 CASSAR, 2017, p. 494-495.

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Lei nº 6.019, de 1974 Art. 5º-A (...)

§ 5o  A empresa contratante é subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao período em que ocorrer a pres- tação de serviços, e o recolhimento das contribuições previdenciá- rias observará o disposto no art. 31 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991.

Em nosso entender, o dispositivo não pode ser interpretado como forma de possibilitar a responsabilização automática da Administração Pública pelas verbas trabalhistas dos em- pregados terceirizados em caso de mero inadimplemento. Reforça-se ser essencial, ainda, a demonstração da culpa in vigilando da Administração, isto é, a falha na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço como emprega- dora.

Enfim, então é possível a responsabilização do poder público pelas verbas trabalhistas caso haja falha na fiscalização do contrato?

SIM! É o que pode ser extraído do julgamento do RE 760.931/DF pelo STF e do julgado ora em análise. Conforme consta da fundamentação do E-RR-925-0.201.5.05.0281, “a ratio de- cidendi da referida decisão permite concluir que a responsabilização do ente público ape- nas está autorizada quando comprovada a ausência sistemática de fiscalização quanto ao cumprimento das obrigações trabalhistas pela prestadora”.

Ok. O STF decidiu alguma coisa a respeito do ônus da prova acerca da culpa da Adminis- tração Pública na fiscalização dos contratos de terceirização?

NÃO! Ao menos não de forma clara (veja abaixo!). A princípio, o STF, ao rejeitar os embargos de declaração interpostos no RE 760.931/DF, o STF deixou claro que não adentrou na ques- tão do ônus da prova, de modo que caberia ao TST defini-la, diante da natureza eminente- mente infraconstitucional da questão.

E como vem decidindo o TST sobre a questão?

Como você acompanhou aqui nos nossos informativos, o TST vinha decidindo que incum- be à Administração Pública o ônus da prova da fiscalização dos contratos de prestação de serviços, por se tratar de fato impeditivo da responsabilização subsidiária (TST. SDI-I.

E-ED-RR-62-40.2017.5.20.0009, rel. Min. Márcio Eurico Vitral Amaro, julgado em 10.09.2020, Informativo TST nº 224; TST. SBDI-I. E-RR-925-07.2016.5.05.0281, rel. Min. Cláudio Mascare- nhas Brandão, julgado em 12.12.2019, Informativo TST nº 214).

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Qual a postura do STF em relação a essas decisões?

Essas decisões estão sendo cassadas! Ambas as Turmas do STF, apreciando reclamações contra decisões do TST, vencidos os Min. Marco Aurélio e Rosa Webrer, deixaram claro que, de acordo com o figurino dos precedentes vinculantes do STF quanto ao Tema 246, seria do reclamante o ônus da prova da culpa in vigilando da Administração Pública (cfr. AgRg-ED- -Rcl 36.836-MA, 1ª Turma, Red. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 14.02.2020; AgRg-Rcl 37.035-MA, 2ª Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19.12.2019).

Frente a esse cenário, o que decidiu a 4ª Turma do TST?

A 4ª Turma do TST entendeu que é do reclamante o ônus da prova da culpa in vigilan- do da Administração Pública nos contratos administrativos de terceirização. A regra é a não responsabilização da Administração Pública pelos créditos judiciais trabalhistas de empregados terceirizados (TST. 4ª Turma. RR-83-97.2018.5.20.0003, rel. Min. Ives Gandra Martins Filho, julgado em 29.09.2020, Informativo TST nº 226).

CALMA! Sei que não é fácil acompanhar tantas reviravoltas... A questão do ônus da prova está, atualmente, sob análise no STF e será decidida sob a sistemática da repercussão geral (RE 1.298.647, tema 1118), de modo que, em breve, acredito que teremos uma decisão cla- ra e definitiva sobre o assunto!

Como foi veiculado no informativo?

“[...] II) RECURSO DE REVISTA - RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚ- BLICA NA TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS – REJEIÇÃO DA TESE DO ÔNUS DA PROVA DO RE- CLAMANTE – EXEGESE DO PRECEDENTE VINCULANTE DO STF EMANADO DO RE 760.931 (TEMA 246 DE REPERCUSSÃO GERAL) – NÃO CONHECIMENTO. 1. O Supremo Tribunal Fede- ral, ao revisitar o tema específico da responsabilidade subsidiária, após o reconhecimento da constitucionalidade do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93, que exime a administração pública nos casos de terceirização de serviços (ADC 16, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe de 08/09/11), rea- firmou o entendimento anterior, que veda a responsabilização automática da administra- ção pública, só cabendo sua condenação se houver prova inequívoca de sua conduta omis- siva ou comissiva na fiscalização dos contratos (RE 760.931, Red. Min. Luiz Fux, julgado em 30/03/17, leading case do Tema 246 de Repercussão Geral do STF). Nesse sentido, apenas nas hipóteses em que fique claro na decisão regional que foi comprovada pelo reclamante a culpa in eligendo ou in vigilando da administração pública é que se poderia condená-la subsidiariamente. As hipóteses de culpa presumida ou decorrente de inversão do ônus da prova, como também a de atribuição da responsabilidade por mero inadimplemento das obrigações trabalhistas por parte do prestador de serviços, foram descartadas pelo Pretório Excelso nesse último julgamento. 2. Sobreleva notar que a tese da Relatora originária do RE

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760.931 (Min. Rosa Weber), de que o ônus da prova era da Administração Pública, restou vencida, e a decisão do TST, calcada na culpa in vigilando do ente público, por não ter pro- vado que fiscalizou o cumprimento das obrigações trabalhistas, foi reformada. Assim, os embargos declaratórios foram rejeitados ao fundamento de que a decisão não carecia de maiores esclarecimentos (RE 760.931-ED, Red. Min. Edson Fachin, DJe de 06/09/19). Ou seja, nem se adotou a tese, a contrario sensu, do ônus da prova do reclamante nos embargos de- claratórios, nem se afirmou ser tal matéria infraconstitucional, já que, repita-se, ficou ven- cida a tese do ônus da prova da administração pública no julgamento originário do Supre- mo, com cassação da decisão do TST que se firmava nessa tese específica (Rel. Min. Freire Pimenta). 3. Ademais, ambas as Turmas do STF, apreciando reclamações contra decisões do TST, vencidos os Min. Marco Aurélio e Rosa Webrer, deixaram claro que, de acordo com o fi- gurino dos precedentes vinculantes do STF quanto ao Tema 246, é do reclamante o ônus da prova da culpa in vigilando da administração pública (cfr. AgRg-ED-Rcl 36.836-MA, 1ª Turma, Red. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 14/2/2020; AgRg-Rcl 37.035-MA, 2ª Turma, Rel.

Min. Cármen Lúcia, julgado em 19/12/2019). 4. Assim, a regra é a não responsabilização da administração pública pelos créditos judiciais trabalhistas de empregados terceirizados, e a contemporização do STF, abrindo exceção à regra, fica limitada e balizada pelas decisões da própria Suprema Corte, que, portanto, não comportam elastecimento por parte da Justiça do Trabalho. 5. No caso dos autos, a decisão regional recorrida afastou a responsabilidade subsidiária da Reclamada em razão da não demonstração, por parte da Reclamante, da cul- pa in vigilando da entidade pública quanto ao adimplemento das obrigações trabalhistas, decidindo em conformidade com o já referido precedente vinculante e demais precedentes do STF em tema de repercussão geral. 6. Assim, não merece conhecimento o recurso de re- vista obreiro, quer por não demonstrar divergência específica em torno da interpretação do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93 e da Súmula 331, V, do TST, quer por estar a decisão recorrida em sintonia com a jurisprudência vinculante e demais precedentes do STF, mais do que a paci- ficada da SDI-1 do TST. Recurso de revista não conhecido.” (TST-RR-83-97.2018.5.20.0003, 4ª Turma, rel. Min. Ives Gandra Martins Filho, julgado em 29/9/2020.)

Sociedade de economia mista e regime de execução por precatório IMPORTANTE! ADVOCACIA PÚBLICA E ESTATAIS!

Em regra, sociedades de economia mista que desenvolvem atividade econômica em regime concorrencial NÃO se beneficiam do regime de precatórios, previsto no artigo 100 da Constituição.

Excepcionalmente, porém, caso preste seus serviços em regime não concorrencial, como é o caso da SPTrans, é possível que as sociedades de economia mista se benefi- ciem da execução pelo regime de precatório.

(TST. 4ª Turma. RR-261000-58.2000.5.02.0059, rel. Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, julgado em 29.09.2020, Informativo TST nº 226).

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O que aconteceu no presente caso?

O TRT02 concluiu que a SPTRANS, sociedade de economia mista paulista responsável pela gestão do sistema de transporte público por ônibus na cidade de São Paulo, não faz jus à execução pelo regime de precatório, em face da existência de regra estatutária prevendo a distribuição de dividendos aos acionistas e a questão, agora, é levada ao TST.

Execução contra a Fazenda Pública e regime de precatório

O regime de execução por quantia certa contra a Fazenda Pública é diferente da execução realizada em face das pessoas físicas e jurídicas de direito privado. Isso porque os bens pú- blicos são inalienáveis e, consequentemente, impenhoráveis.

A Fazenda Pública possui prazo 30 (trinta) dias para oposição dos embargos à execução, em que poderão ser arguidas as matérias elencadas no artigo 535 do CPC.

Solucionados os embargos, o pagamento poderá ocorrer de duas formas: precatório ou re- quisição de pequeno valor.

O que nos interessa, aqui, é o regime de execução por precatório. Bora revisar?

O precatório pode ser entendido como uma espécie “fila de espera dos credores” em que aguardam o pagamento do Estado. É essencial a leitura do artigo 100 da Constituição para sua prova.

Com efeito, transitando em julgado a sentença, o juiz requisitará o pagamento por inter- médio do presidente do tribunal competente, onde será autuado e numerado, conforme a ordem de chegada.

O Presidente do Tribunal analisará apenas os aspectos formais do precatório, podendo or- denar sua regularização, inclusive corrigir as inexatidões materiais ou de cálculos, seja de ofício ou a requerimento (OJ 2 do Tribunal Pleno do TST). A decisão não se submeterá ao reexame necessário, por ter natureza administrativa (OJ 8 do Tribunal Pleno do TST). Da mesma forma, não cabe recurso extraordinário contra decisão proferida no processamento do precatório (Súmula 723 do STF)

Todavia, o TST admite a impetração de mandado de segurança contra atos praticados pe- los presidentes dos tribunais em precatórios (OJ 10 do Tribunal Pleno do TST).

Encerrados os trâmites administrativos, o presidente expedirá o precatório-requisitório ao Poder Executivo, sendo obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito públi-

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co, de verba necessária ao pagamento de seus débitos, oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários (CRFB, art. 100, §5º).

Não havendo a inclusão no orçamento do valor correspondente ao precatório expedido, em tese, seria possível o sequestro da quantia respectiva, determinando o presidente do tribu- nal o pagamento imediato (CRFB, art. 100, §6º).

Ocorre que o TST entende que o sequestro de verbas públicas para satisfação de precatórios trabalhistas só é admitido na hipótese de preterição do direito de precedência do credor, a ela não se equiparando as situações de não inclusão da despesa no orçamento ou de não- -pagamento do precatório até o final do exercício, quando incluído no orçamento (OJ 3 do Tribunal Pleno). Ademais, é indevido o sequestro de verbas públicas quando o exequente/

requerente não se encontra em primeiro lugar na lista de ordem cronológica para pagamen- to de precatórios ou quando não demonstrada essa condição (OJ 13 do Tribunal Pleno).

Esse procedimento de execução é aplicável às empresas estatais (empresas públicas e sociedades de economia mista)?

Em regra, o regime de execução diferenciado NÃO se aplica às empresas públicas e socieda- des de economia mista. Existem, no entanto, algumas exceções.

INFORMATIVO STF

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestadoras de serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial (STF. Plenário. ADPF 387/PI, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 23.03.2017 (Informativo STF nº 85810).

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O TRT02 agiu certo ao negar a prerrogativa da execução por precatórios à SPTrans?

NÃO! Em regra, sociedades de economia mista que desenvolvem atividade econômica em regime concorrencial NÃO se beneficiam do regime de precatórios, previsto no arti- go 100 da Constituição. Excepcionalmente, porém, caso preste seus serviços em regime não concorrencial, como é o caso da SPTrans, é possível que as sociedades de economia mista se beneficiem da execução pelo regime de precatório (TST. 4ª Turma. RR-261000- 58.2000.5.02.0059, rel. Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, julgado em 29.09.2020, In- formativo TST nº 226).

10 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de economia mis- ta?. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/de- talhes/fb5c2bc1aa847f387022607d16adc510>. Acesso em: 07/12/2020

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Mas e a distribuição de dividendos referida pelo TRT02?

Pois então. O TST apenas considerou a existência de precedente do STF no sentido de que a SPTrans não atua em regime econômico concorrencial, “já que não visa à distribuição de lucros ou dividendos entre os acionistas” (STF. Tribunal Pleno. SL 918 Extn-sexta-AgR, rel.

Min. Dias Toffoli, julgado em 11.11.2019), atuando “em nome da disciplina judiciária e da segurança jurídica”.

Como foi veiculado no informativo?

“[...] SPTRANS. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. EXECUÇÃO. REGIME DE PRECATÓRIO.

APLICABILIDADE. PROVIMENTO. A discussão dos autos centra-se em definir se a SPTRANS, enquanto sociedade de economia mista, pode beneficiar-se do regime de execução por pre- catório, nos moldes em que previsto no artigo 100 da Constituição Federal ou, se contraria- mente, deve submeter-se ao regime jurídico de direito privado para a execução dos seus bens. O e. Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Recurso Extraordinário nº 599.628-RG, em 25.5.2011 (Publicação: 17.10.2011), reconhecendo a existência de repercussão geral nos processos envolvendo o debate acerca da aplicabilidade do regime de precatórios às enti- dades da Administração Pública Indireta prestadoras de serviços públicos essenciais, fixou a seguinte tese vinculante, constante do Tema 253: “Sociedades de economia mista que de- senvolvem atividade econômica em regime concorrencial não se beneficiam do regime de precatórios, previsto no art. 100 da Constituição da República.” Registre-se, ainda, que, ao examinar a questão especificamente em face da reclamada SPTRANS, considerando a sua natureza jurídica e a sua forma de atuação econômica, a e. Suprema Corte, em sessão do Tribunal Pleno, aplicando, a contrario sensu, a tese firmada no Tema 253, adotou o enten- dimento de que a sociedade de economia mista pode, sim, beneficiar-se da execução pelo regime de precatório, caso preste os seus serviços em regime não concorrencial. E, fixando a premissa de que a SPTRANS não atua em regime econômico concorrencial, já que não visa à distribuição de lucros ou dividendos entre os acionistas, concluiu que a ela seria plenamen- te aplicável o regime de execução por precatório. Referido entendimento restou consagrado por ocasião do julgamento da SL 918 Extn-sexta-AgR (Relator: Ministro DIAS TOFFOLI (Pre- sidente), Tribunal Pleno, julgado em 11/11/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-264, DIVULG 03-12-2019, PUBLIC 04-12-2019), sendo de ressaltar-se, por oportuno, que referida tese já foi encampada por outros julgados do Tribunal Pleno e de Turma do STF. Assim, em nome da disciplina judiciária e da segurança jurídica, impõe-se adotar, no presente caso, a ratio decidendi constante do acórdão proferido pelo STF nos autos da SL 918 Extn-sexta-AgR. Na hipótese, o egrégio Tribunal Regional concluiu que a SPTRANS não faz jus à execução pelo regime de precatório, em face da existência de regra estatutária prevendo a distribuição de dividendos aos acionistas. Ao assim decidir, o egrégio TRT dissentiu da jurisprudência ora sedimentada no âmbito do e. STF, que, ao tratar da hipótese específica da SPTRANS, já fir- mou o entendimento pela aplicação do regime de execução por precatório, tendo em vista

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que a referida sociedade de economia mista não desenvolve a sua atividade econômica em regime concorrencial. Demonstrada, portanto, a ofensa ao artigo 100, caput, da Constitui- ção Federal, impõe-se a reforma do acórdão regional. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento.” (TST-RR-261000-58.2000.5.02.0059, 4ª Turma, rel. Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, julgado em 29/9/2020.)

Tempestividade e intimações paralelas no DJET e no PJe DIVERGÊNCIA! IMPORTANTE!

As intimações dos processos tramitando pelo Processo Judicial Eletrônico (PJe) devem ser feitas por meio eletrônico, em portal próprio, aos que neles se cadastraram na for- ma do artigo 2º da Lei nº 11.419, de 2006, dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico.

Assim, para a 4ª Turma do TST, havendo intimação em paralelo pelo Diário Oficial e pelo sistema do PJe, deve prevalecer, para efeito de contagem de prazo processual, a intima- ção feita pelo sistema PJe.

(TST. 4ª Turma. RR-175-33.2017.5.19.0005, rel. Min. Alexandre Luiz Ramos, julgado em 29.09.2019, Informativo TST nº 226).

O que ocorreu no caso julgado pelo TST?

Discute-se a tempestividade de um recurso de revista. O acórdão regional foi publicado no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho no dia 29.11.2017 e a intimação da reclamada ocorreu, pelo sistema PJe, no dia 11.12.2017, mas o recurso foi interposto no dia 02.02.2018 (para facilitar: o prazo estaria vencido se o termo inicial fosse 29.11.2017).

Comunicação dos atos processuais

A comunicação dos atos processuais é voltada a dar conhecimento a alguém acerca da prática de determinado ato processual.

Considerando o texto da CLT, é interessante distinguir as espécies de comunicação processual: citação, intimação e notificação.

“Citação é ‘o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou interessado para integrar a relação processual” (art. 238 do CPC). A citação não é o ato de chamar o réu a juízo para se defender. Citação é o ato de dar notícia ao réu de que existe contra ele uma ação, para que, se quiser, apresente sua defesa. Intimação é “o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do processo”, para que faça ou deixe de fazer alguma coisa (art. 269 do CPC). A notificação, em sentido amplo, é um ato que se dá conhecimento a uma pessoa de alguma coisa ou fato. Pode ser judicial, de procedimento voluntário (ats. 726 a 729 do CPC)

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ou extrajudicial, como ocorre com as notificações por cartórios de registro de documentos.

A CLT usa indiscriminadamente do termo notificação, tanto no condizente à citação, como para intimação e mesmo para a própria notificação, como se fossem sinônimos”11.

Para o caso analisado, o importante é a intimação.

Como é feita a intimação das partes no processo do trabalho?

A regra é que a intimação seja realizada no Diário Oficial ou no Diário da Justiça Eletrônico (DEJT).

E no PJe?

Segundo o artigo 5º da Lei nº 11.419, de 2006, intimações serão feitas por meio eletrônico em portal próprio aos sujeitos processuais que se cadastrarem no sistema, dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico.

No caso analisado, as duas formas de intimação ocorreram. Qual a delas deve “prevale- cer”?

Para a 4ª Turma do TST, havendo intimação em paralelo pelo Diário Oficial e pelo siste- ma do PJe, deve prevalecer, para efeito de contagem de prazo processual, a intimação feita pelo sistema PJe (TST. 4ª Turma. RR-175-33.2017.5.19.0005, rel. Min. Alexandre Luiz Ramos, julgado em 29.09.2019, Informativo TST nº 226).

Considerou-se dois argumentos: (a) o artigo 5º da Lei nº 11.419, de 2006, estabelece que, com a intimação pelo sistema PJe, é dispensável a intimação via Diário Oficial; e (b) a inti- mação da reclamada pelo sistema do PJe, não obstante a intimação pelo Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho, gerou legítima expectativa de que o prazo inicial para interposição de recurso fosse a data de sua ciência. Assim sendo, pelo princípio da boa-fé objetiva pro- cessual e pelo princípio da primazia da decisão de mérito, considera-se a intimação reali- zada pelo sistema do PJe para contagem do prazo processual, pois, ao adotar duas vias de intimação e causar legítima dúvida quanto a qual delas se deve atender, deve-se optar pela intimação que menos cause prejuízo à parte.

Esse entendimento é unânime?

NÃO! Em recente julgado, a SDI-I do TST entendeu que “a intimação mediante o sistema do Processo Judicial Eletrônico (PJE) NÃO invalida, NEM substitui a publicação ocorrida no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho (DEJT)” (TST. SBDI-II. AIRO-6893-43.2015.5.15.0000,

11 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 41. ed. São Paulo: Saraiva, 2019, p. 245-246.

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rel. Min. Alexandre Agra Belmonte, julgado em 27.08.2019, Informativo TST nº 203). O argu- mento é que o artigo 4º, §2º, da Lei nº 11.419, de 2006, estabelece que a publicação eletrôni- ca no Diário da Justiça eletrônico substitui qualquer outro meio e publicação oficial, para quaisquer efeitos legais, à exceção dos casos que, por lei, exigem intimação ou vista pessoal.

O que eu faço na minha prova?

Eu, honestamente, acredito mais prudente adotar o entendimento da SDI-I do TST.

E na minha atuação prática?

Atenda a primeira intimação para não correr risco de sua peça ser considera intempestiva, mas, na hipótese de perda do prazo, tenha este precedente na manga, ao menos para o jus esperniandi.

Como foi veiculado no informativo?

“RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RECLAMADA (EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS – ECT). ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DAS LEIS Nºs 13.015/2014 E 13.467/2017. 1. PRELIMINAR DE INTEMPESTIVIDADE DO RECURSO DE REVISTA, ARGUIDA EM CONTRARRAZÕES. RECLAMADA CADASTRADA NO SISTEMA PJE. INTIMAÇÕES FEITAS PARALELAMENTE POR PUBLICAÇÃO NO DIÁRIO ELETRÔNICO DA JUSTIÇA DO TRABALHO.

PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA PROCESSUAL. PREVALÊNCIA DA INTIMAÇÃO FEITA PELO SISTEMA PJE. RECURSO DE REVISTA TEMPESTIVO. I. No que diz respeito à tempestividade do recurso de revista, consta da decisão de admissibilidade do referido recurso que o acór- dão regional foi publicado no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho no dia 29/11/2017 e que a intimação da Reclamada, pelo sistema do PJe, ocorreu no dia 11/12/2017. II. Tendo em vista que o presente processo está tramitando pelo sistema do Processo Judicial Ele- trônico (PJe), as intimações a ele referentes devem ser feitas por meio eletrônico em portal próprio aos que se cadastrarem na forma do art. 2º da Lei 11.419/06, dispensando-se a pu- blicação no órgão oficial, inclusive eletrônico (art. 5º da Lei 11.419/06). III. Assim, havendo intimação em paralelo pelo Diário Oficial e pelo sistema do PJe, deve prevalecer, para efeito de contagem de prazo processual, a notificação feita por este último sistema (PJe), uma vez que, como dito, é dispensável a intimação feita pela publicação no meio oficial comum. IV.

Ademais, a intimação da Reclamada pelo sistema do PJe, não obstante a intimação pelo Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho, gerou legítima expectativa de que o prazo inicial para interposição de recurso fosse a data de sua ciência. Assim sendo, pelo princípio da boa-fé objetiva processual e pelo princípio da primazia da decisão de mérito, considera-se a intimação realizada pelo sistema do PJe para contagem do prazo processual. Cabe ao órgão jurisdicional intimar as partes dos atos processuais, cabendo-lhe eleger a via legal própria.

Se emite duas vias de intimação e causa legítima dúvida quanto a qual delas deve atender,

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deve-se optar pela intimação que menos prejuízo cause à parte. V. No caso concreto, a Re- clamada é cadastrada no sistema PJe, foi intimada da decisão regional por esse sistema no dia 11/12/2017 e seu recurso de revista foi interposto no dia 02/02/2018. Logo, a insurgên- cia é tempestiva. VI. Preliminar rejeitada. [...]” (TST-RR-175-33.2017.5.19.0005, 4ª Turma, rel.

Min. Alexandre Luiz Ramos, julgado em 29/9/2020.)

Recurso de revista acerca da exigência de apresentação de certidão de antecedentes criminais não configura transcendência

Não há transcendência política no recurso de revista interposto contra decisão de TRT que considera lícita a exigência de certidão de antecedentes criminais a trabalhador que exerceria a função de operador de corte/montagem/acabamento e, portanto, lida- ria rotineiramente com ferramentas de trabalho perfurocortantes, substâncias tóxicas e/ou entorpecentes, por estar alinhada à decisão do TST no Tema Repetitivo nº 0001.

(TST. 7ª Turma. AIRR-976-88.2016.5.13.0024, rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, julgado em 30.09.2019, Informativo TST nº 226).

Transcendência

Um dos pressupostos recursais do recurso de revista é que ele apresente transcendência em relação aos reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica. É, grosso modo, uma “repercussão geral trabalhista”.

São indicadores de transcendência, entre outros: (a) econômica: o elevado valor da causa;

(b) política: o desrespeito da instância recorrida à jurisprudência sumulada do Tribunal Su- perior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal; (c) social: a postulação, por reclaman- te-recorrente, de direito social constitucionalmente assegurado; e (d) jurídica: a existência de questão nova em torno da interpretação da legislação trabalhista (CLT, art. 896-A, §1º, acrescido pela Lei nº 13.467, de 2017).

Poderá o relator, monocraticamente, denegar seguimento ao recurso de revista que não demonstrar transcendência, cabendo agravo desta decisão para o colegiado (CLT, art. 896- A, §2º, incluído pela Lei nº 13.467, de 2017).

Em relação ao recurso que o relator considerou não ter transcendência, o recorrente pode- rá realizar sustentação oral sobre a questão da transcendência, durante 5 (cinco) minutos em sessão. Mantido o voto do relator quanto à não transcendência do recurso, será lavrado acórdão com fundamentação sucinta, que constituirá decisão irrecorrível no âmbito do tri- bunal (CLT, art. 896-A, §§3º e 4º, acrescentado pela Lei nº 13.467, de 2017).

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Era igualmente irrecorrível a decisão monocrática do relator que, em agravo de instrumen- to em recurso de revista, considerar ausente a transcendência da matéria (CLT, art. 896-A,

§5º, incluído pela Lei nº 13.467, de 2017). 

ATENÇÃO!

Atualize seu material!

O artigo 896-A, §5º, da CLT, no entanto, foi recentemente declarado inconstitucional pelo Pleno do TST na ArgInc-1000845-52.2016.5.02.461!

Por fim, registra-se que o juízo de admissibilidade do recurso de revista exercido pela Presi- dência dos Tribunais Regionais do Trabalho limita-se à análise dos pressupostos intrínse- cos e extrínsecos do apelo, não abrangendo o critério da transcendência das questões nele veiculadas (CLT, art. 896-A, §6º, acrescido pela Lei nº 13.467, de 2017).

Exigência de certidão de antecedentes criminais no Direito do Trabalho

Em março de 2015, em sede de Recurso de Revista Repetitivo12, o TST firmou o entendi- mento de que não é legítima, e caracteriza lesão moral, a exigência de certidão de antece- dentes criminais de candidato a emprego quando traduzir tratamento discriminatório ou não se justificar em razão de previsão em lei, da natureza do ofício ou do grau especial de fidúcia exigido.

Em caráter exemplificativo, o TST trouxe casos em que é permitida a exigência de certi- dão negativa de antecedentes criminais, em decorrência de a demanda estar amparada em expressa previsão legal, na natureza do ofício ou no grau especial de fidúcia exigido: (a) empregados domésticos, cuidadores de menores, idosos ou pessoas com deficiência; (b) motoristas rodoviários de cargas; (c) empregados que laboram no setor da agroindústria no manejo de ferramentas de trabalho perfurocortantes; (d) bancários e afins; (e) trabalha- dores que atuam com substâncias tóxicas, entorpecentes e armas; e (f) trabalhadores que atuam com informações sigilosas.

A exigência da certidão de antecedentes criminais, quando ausentes alguma das justificati- vas acima, caracteriza dano moral in re ipsa, passível de indenização, independentemente de o candidato ao emprego ter ou não sido admitido.

12 TST. SDI-I. IRR-243000-58.2013.5.13.0023, rel. Min. João Oreste Dalazen, julgado em 26.03.2015.

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Entendi. Qual o motivo da insurgência no caso?

O recorrente foi contratado para o desempenho da função de operador de corte/montagem/

acabamento e, por isso, o TRT considerou legítima a exigência de certidão de antecedentes criminais e negou a indenização por dano moral.

Mas essa decisão do TRT está alinhada com o entendimento do TST... É possível dizer que a questão apresenta transcendência política?

NÃO! Não há transcendência política no recurso de revista interposto contra decisão de TRT que considera lícita a exigência de certidão de antecedentes criminais a trabalhador que exerceria a função de operador de corte/montagem/acabamento e, portanto, lidaria rotineiramente com ferramentas de trabalho perfurocortantes, substâncias tóxicas e/

ou entorpecentes, por estar alinhada à decisão do TST no Tema Repetitivo nº 0001 (TST.

7ª Turma. AIRR-976-88.2016.5.13.0024, rel. Min. Renato de Lacerda Paiva, julgado em 30.09.2019, Informativo TST nº 226).

Como foi veiculado no informativo?

“AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO EM FACE DE ACÓRDÃO PUBLICADO APÓS A VIGÊNCIA LEI Nº 13.467/2017. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL – EXI- GÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DE CERTIDÃO DE ANTECEDENTES CRIMINAIS - CONFIGURAÇÃO.

TRANSCENDÊNCIA DA CAUSA NÃO EVIDENCIADA O processamento do recurso de revista na vigência da Lei nº 13.467/2017 exige que a causa apresente transcendência com relação aos aspectos de natureza econômica, política, social ou jurídica (artigo 896-A da CLT). Sucede que, pelo prisma da transcendência, o recurso de revista obreiro não atende a nenhum dos requisitos referidos. Em relação à transcendência política, a decisão regional está em con- sonância com a tese fixada pela SBDI-1 desta Corte para o Tema Repetitivo Nº 1 “DANO MO- RAL – EXIGÊNCIA DE CERTIDÃO NEGATIVA DE ANTECEDENTES CRIMINAIS”, no sentido de que

“A exigência de Certidão de Antecedentes Criminais de candidato a emprego é legítima e não caracteriza lesão moral quando amparada em expressa previsão legal ou justificar-se em ra- zão da natureza do ofício ou do grau especial de fidúcia exigido, a exemplo de empregados domésticos, cuidadores de menores, idosos ou deficientes (em creches, asilos ou instituições afins), motoristas rodoviários de carga, empregados que laboram no setor da agroindústria no manejo de ferramentas de trabalho perfurocortantes, bancários e afins, trabalhadores que atuam com substâncias tóxicas, entorpecentes e armas, trabalhadores que atuam com infor- mações sigilosas.”. (g.n) (IRR-RR - 243000-58.2013.5.13.0023, Redator Ministro João Oreste Dalazen, SbDI - I, DEJT 22/09/2017). No caso dos autos, o Tribunal Regional, soberano na delimitação do quadro fático-probatório (Súmula/TST nº 126), deixou expressamente con- signado que o autor foi contratado para exercer a função de operador de corte/montagem/

acabamento, e portanto, lidaria rotineiramente com ferramentas de trabalhado perfurocor-

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