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DO DIREITO A ALIMENTOS À IMPOSIÇÃO DE CESSAÇÃO DO USO DO APELIDO ADOPTADO APÓS O DIVÓRCIO À LUZ DA LEI ANGOLANA*

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DO DIREITO A ALIMENTOS À IMPOSIÇÃO DE CESSAÇÃO DO USO DO APELIDO ADOPTADO APÓS O DIVÓRCIO À LUZ DA LEI ANGOLANA*

Por: Valdano Afonso1

ÍNDICE

Introdução... 2

Conceito e natureza jurídica do divórcio ... 2

Da intransmissibilidade do direito ao divórcio ... 3

Do direito a alimentos após o divórcio ... 3

Noção de alimentos ... 3

Caracteres do direito a alimentos ao ex-cônjuge ... 4

Direito comparado ... 5

Da cessação do uso do apelido do outro cônjuge ou do apelido comum ... 6

Direito comparado ... 7

Jurisprudência ... 7

De jure condendo ... 8

Considerações finais ... 9

Bibliografia ... 9

*Artigo elaborado a 20 de Setembro de 2018

1Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, FDUAN - Angola, Assistente Estagiário de Direito Económico da FDUAN, Advogado Estagiário inscrito na OAA e Pós- Graduando em Compliance e Combate ao Branqueamento de Capitais pelo Centro de Estudos de Ciências Jurídico-Económicas da Universidade Agostinho Neto CEJES-UAN).

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INTRODUÇÃO

presente artigo2se propõe abordar de forma resumida, porém, suficientemente explícita dois específicos efeitos de natureza pessoal que decorrem da dissolução do casamento por divórcio, tendo por base as correntes doutrinárias que abordam o tema, seguindo-se de perto e fundamentalmente os ensinamentos da saudosa Professora Maria do Carmo Medina, expoente máximo se não mesmo o único expoente do Direito da Família em Angola. O primeiro, direito a alimentos, opera «ex voluntate» (i.é, pela vontade), o segundo por sua vez, i.é, a cessação do uso do apelido adoptado do outro cônjuge ou do apelido comum, opera «ex lege» (i.é, por força da lei).

Passar-se-á em revista as soluções legais e jurisprudenciais consagradas/tomadas noutros ordenamentos jurídicos (de Portugal e Brasil) sobre o tema, assim como as soluções de jure condito e de jure condendo perspectivado em sede da já iniciada Reforma da Justiça e do Direito em Angola.

Decidimos abordar este tema, porque reputamos ser um tema de particular interesse para cada membro de uma família, mormente para os cônjuges com o propósito de se divorciarem, família que como sabemos constitui o núcleo fundamental da organização da sociedade, quer se funde em casamento, quer em união de facto, entre homem e mulher.

(conforme o n.º 1 do artigo 35.º da Constituição da República).

CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA DO DIVÓRCIO

O divórcio surge quando a vida matrimonial se deteriorou de tal forma que se tornou impossível manter a comunhão de vida material e espiritual entre marido e mulher.

Dissolvido o casamento, os agora ex-cônjuges poderão se assim entenderem e quiserem contrair novo casamento, pois que seu estado civil passa de casado para divorciado, divorciado e nunca mais solteiro.

O divórcio faz cessar as relações pessoais e patrimoniais entre os outrora cônjuges, todavia, mantém em certos casos específicos alguns efeitos jurídicos, como o direito a alimentos que nos propusemos abordar neste artigo, sendo certo que ficam intactos todos os efeitos jurídico-legais então produzidos durante a sua vigência ou constância. Se para muitos o divórcio é um mal, e somente isso, para outros o divórcio é um mal necessário.3

O conceito de divórcio pode exprimir-se como sendo a dissolução do vínculo conjugal, i.é, do casamento, declarada pela via legal, operada em vida dos cônjuges. Via legal e não já judicial, porque a dissolução do casamento por divórcio também pode ser realizada pela via administrativa4, no caso o divórcio por mútuo acordo como estabelece o artigo 86.º do

2 Tudo quanto se dirá a respeito deste tema, aplica-se com as necessárias adaptações à ruptura da união facto legalmente reconhecida, por força das disposições combinadas dos artigos 119.º e 126.º ambos do Código da Família aprovado pela Lei n.º 1/88, de 20 de Fevereiro, e do artigo 26.º do Decreto Presidencial n.º 36/15 de 30 de Janeiro - que aprova o “regime jurídico do reconhecimento da união de facto por mútuo acordo e dissolução da união de facto reconhecida”, realçar entretanto, «hic et nunc», que no caso da união de facto, em caso de ruptura tem direito a alimentos o ex-companheiro que deles careça todavia, apenas quando não tenha dado causa exclusiva à ruptura conforme dispõe o n.º 2 do artigo 262.º do Código da Família.

3 Sobre a evolução histórica do instituto jurídico Casamento, cfr. Maria do Carmo Medina - Direito de Família, 2.ª Edição actualizada, págs. 292 e segs.

4 Pelo Órgão do Registo Civil - Conservatória do Registo Civi l-, da área de residência de qualquer dos cônjuges.

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Código da Família, sendo uma via nas mais das vezes mais célere5e que vem no sentido de descongestionar os tribunais e de potenciar a eficácia do sistema judicial, resguardando-o para outros tipos de processos mais complexos.

Divórcio definitivo e não apenas divórcio, porque existe com as consequências que a lei prescreve distinção entre o divórcio provisório e o divórcio definitivo. Nos termos do Código da Família só o divórcio definitivo produz a dissolução do casamento, sendo que o divórcio provisório que pode não se transformar em divórcio definitivo apenas suspende o dever de coabitação dos cônjuges e habilita qualquer um deles a requerer o arrolamento dos bens comuns ou próprios.6

O direito ao divórcio não é um direito subjectivo propriamente dito, pois o seu titular não vai exigir do outro cônjuge determinada conduta positiva ou negativa, mas sim provocar a produção de certos efeitos jurídicos-práticos na esfera jurídica de ambos e independentemente da vontade do outro ou da contraparte, daí ser qualificado pela doutrina como um direito potestativo, um direito potestativo extintivo, pois extingue uma relação jurídico-familiar, a relação jurídica enformada pelo casamento.

DA INTRANSMISSIBILIDADE DO DIREITO AO DIVÓRCIO

O direito ao divórcio é intransmissível, ou seja, só pode ser exercido pelo seu titular extinguindo-se por conseguinte com a sua morte. A morte, facto jurídico que para além de pôr fim a vida e consequentemente da personalidade jurídica7 de um dos cônjuges, é a par do divórcio e da declaração judicial da presunção de morte de um dos cônjuges também uma das causas de dissolução do casamento no nosso Direito Pátrio conforme artigo 74.º do Código da Família (durante a explanação também abreviado por CF).

DO DIREITO A ALIMENTOS APÓS O DIVÓRCIO

Após o divórcio subsistem sempre alguns efeitos que se fazem sentir para além dessa “crise”

no que respeita aos próprios cônjuges, aos filhos e a terceiros. Cunha Gonçalves lecciona que “o casamento não se dissolve completamente, mesmo para o futuro; ficam dele, sempre, importantes resíduos jurídicos.”

NOÇÃO DE ALIMENTOS

Para efeito do presente artigo, por alimentos entende-se tudo aquilo que for necessário ao sustento, saúde, habitação e vestuário do ex-cônjuge credor, pois que segundo o n.º 2 do artigo 247.º do Código da Família, no caso dos menores os alimentos compreendem ainda a educação e instrução. O direito-dever de assistência material entre os cônjuges consagrado no artigo 43.º do Código da Família pode perdurar para além da obrigação recíproca de alimentos.8

5Diga-se de passagem, e atendendo à morosidade que se verifica no tratamento das questões levada a juízo, pelas razões sobejamente conhecidas, esta é mais célere e sai mais barata se atendemos as custas judiciais devidas do princípio ao fim do processo depois de autuado como acção ou mesmo processo especial de divórcio.

6Vide artigos 94.º a 96.º do Código da Família.

7Vide n.º 1 do artigo 68.ºartigo do Código Civil

8 Um efeito semelhante a este é o que a doutrina designa por “apanágio do cônjuge supérstite ou cônjuge sobrevivo, ou ainda se quisermos cônjuge viúvo consagrado expressamente no artigo 261.º n.º 1 do Código da Família (doravante CF).

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O direito a alimentos entre cônjuges divorciados vem expressamente previsto no artigo 111.º e reiterada também expressamente no artigo 262.º ambos do CF e é recíproca em relação ao marido e à mulher, sendo em sede de divórcio por mútuo acordo acordado ao abrigo da al. b) do artigo 85.º e em sede de divórcio litigioso requerida pelo cônjuge que dele careça ao abrigo da al. a) do n.º 1 do artigo 104.º ambos do CF. Segundo a Professora Maria do Carmo Medina, «procura-se por esta forma que após o divórcio, o cônjuge menos favorecido economicamente9 mantenha um nível de vida equivalente àquele que tinha, relevando-se para o efeito a sua situação económica e social, a necessidade de educação dos filhos do casal e as causas do divórcio» de resto conforme o disposto no n.º 1 do artigo 111.º do Código da Família e obviamente a condição económica do cônjuge requerido, 10 pois como também decorre da lei, a medida dos alimentos terá de ser proporcional à capacidade económica daquele que houver de prestá-los e às necessidades de quem os receba.11

CARACTERES DO DIREITO A ALIMENTOS AO EX-CÔNJUGE

O direito a alimentos é nos termos do artigo 259.º do Código da Família, imprescritível, irrenunciável, intransmissível e impenhorável.

O direito a alimentos ao ex-cônjuge não é também «ad aeternum», isto é, «não é para todo o sempre», pois a decisão que determinar o seu cumprimento ou atribuição e fixar a medida dos mesmos, sempre que se modificarem as circunstâncias de facto em que se fundamentou, poderá a requerimento do interessado ser alterada, conforme os artigos 263.º e artigo 111.º n.º 2., ambos do Código da Família.

O direito a alimentos é teoricamente irrenunciável i.é, não pode ser renunciado12, a prestação alimentícia destina-se a satisfazer as necessidades essenciais do alimentando. Se a este fosse dada a possibilidade de renunciar a tal direito – por orgulho ou outro sentimento que o divórcio, muitas vezes desperta –, isso teria como consequência transferir o encargo para um outro familiar dos que a lei considera vinculados à prestação de alimentos ou para o próprio Estado, que tem o dever geral de assistência.

O direito a alimentos é imprescritível i.é, não prescreve13, a pessoa carenciada que se encontre na situação de poder pedir alimentos pode deixar de o fazer. Essa atitude, porém, não significa renúncia ao direito, pois em qualquer momento tem a possibilidade de os requerer, embora não possa pedir prestações referentes ao período anterior quando vencidas.

9Lembra a Profª. Maria de Nazareth Lobato Guimarães (Reforma do Código Civil, 1981, p. 185) que aquele que pretende obter alimentos deve provar a necessidade e a incapacidade, isto é, deve provar que não pode trabalhar o bastante para o seu sustento e que não tem bens com que ocorra às suas necessidades (RC, 25- 10-1983: CJ, 1983, 4º-64).

10 Para Pereira Coelho (Direito de Família, 1969, 2º– p. 360-361), para definir a medida da necessidade daquele que houver de receber alimentos, atenderá o juiz, designadamente, ao valor dos bens e montante dos rendimentos do alimentado; às dívidas que porventura tenha contraído; à circunstância de ele ter ou não um curso ou outras possibilidades de ganhar a vida; à sua condição social; ao seu estado de saúde; ao facto de ter filhos ou outras pessoas a seu cargo; etc. Mas será irrelevante a circunstância de o alimentado ainda ter os pais ou, porventura, outras pessoas de família que possam e devam, também, prestar-lhe alimentos, pois a obrigação alimentar do ex-cônjuge prevalece sobre a dessas outras pessoas (artigo 2009º, nos 1 e 3, do Código Civil) (RL, 23-11-1973: BMJ, 231º–196).

11Vide artigo 250.º do Código da Família

12Vide artigo 259.º do Código da Família

13Somente são prescritíveis as pensões alimentícias vencidas, no prazo de cinco anos (art. 310.º, alínea f), do Código Civil).

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O direito a alimentos é igualmente intransmissível, ou seja, não pode ser transmitido a quem quer que seja, herdeiros legitimários, legítimos, etc. É também impenhorável14, isto é, não pode ser apreendido, apoderado pelo Tribunal, no processo de execução para satisfazer uma dívida a que está vinculado o seu titular.

DIREITO COMPARADO

Sobre a necessidade de se limitar direito a alimentos após o divórcio, a título de direito comparado, em Portugal por exemplo, com a redacção dos números 1 a 3 do artigo 2016.º e 2016.º-A do Código Civil, introduzida pela Lei n.º 61/2008, de 31-10, o princípio geral, em matéria de alimentos entre ex-cônjuges é o do seu carácter excepcional, limitado e de natureza subsidiária, com base na regra de que “cada cônjuge deve prover à sua subsistência” e de que

“o direito a alimentos pode ser negado, por razões manifestas de equidade”.

Este direito a alimentos entre ex-cônjuges tem natureza temporária, ou seja, não deve perdurar para sempre e, no espírito da nova lei, destina-se apenas a permitir uma reorganização da vida nos primeiros tempos subsequentes ao divórcio, prevalecendo a ideia de que cada cônjuge deve prover à sua subsistência, depois do divórcio. Por outro lado, não pode a prestação alimentar sacrificar o mínimo necessário à vida normal do cônjuge devedor.

Todavia, o que sopesa na decisão a tomar pelo tribunal em caso de divórcio litigioso, caso um dos cônjuges careça de alimentos e assim o requer, é a questão de saber se o cônjuge divorciado está ou não efectivamente a carecer deles para manter a sua sobrevivência em condições económico-sociais idênticas às que tinha durante a vigência do casamento, por não ter recursos próprios nem capacidade profissional para os angariar.

Cá entre nós a experiência nos diz que em regra quem requer e de certa forma mais necessita da satisfação deste direito é a mulher que regra geral se ocupando do trabalho doméstico e da criação dos filhos e dos cuidados a ter com os demais membros do agregado familiar, deixa de perseguir assim uma carreira académica e/ou profissional.

Este direito a alimentos pós-casamento é importante também no âmbito da protecção social obrigatória que ao do artigo 5.º do Decreto n.º 50/05, de 8 de Agosto, aprovado ao abrigo do artigo 59.º da Lei n.º 7/04, de 15 de Outubro - Lei de Bases da Protecção Social (lei que revogou a lei n.º 18/90, de 27 de Outubro – Lei do Sistema de Segurança Social), diploma legal que regulamenta a protecção da eventualidade morte dos beneficiários do regime da protecção social obrigatória, estabelece que o cônjuge divorciado tem direito as prestações aí previstas se à data da morte do beneficiário, dele recebesse pensão de alimentos decretada ou homologada pelo tribunal.

14 Salvo melhor argumento, pela sua natureza parece-me tratar-se de uma impenhorabilidade absoluta, vide n.º 1 do artigo 822.º do Código de Processo Civil.

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DA CESSAÇÃO DO USO DO APELIDO DO OUTRO CÔNJUGE OU DO APELIDO COMUM15

Na nossa Ordem jurídica, no acto de celebração do casamento, pode (e não deve, como erroneamente não raras vezes se pensa) um dos nubentes declarar que adopta o apelido do outro, ou ambos optar pela adopção de um apelido comum, a partir do apelido dos dois.16 O apelido17 tem como função típica integrar a pessoa na família a que pertence, para além de constituir um elemento de referenciação objectiva do indivíduo através da família a que pertence, constitui também um elo sentimental da pessoa ao património moral do seu clã familiar.

O direito ao uso do nome adquirido em razão do casamento, seja quanto ao apelido do outro cônjuge, seja quanto ao nome comum adoptado por ambos, cessa totalmente quando se dá a dissolução do casamento por divórcio.18Diferente por exemplo dos regimes estabelecidos em outros ordenamentos jurídicos, nesse particular a nossa lei é peremptória, não prevê sequer que um dos ex-cônjuges ponderados certos interesses, continue a usar o apelido adoptado em razão do casamento. Esta é como se verá uma solução a prazo, pois resulta como resulta das exigências da vida, e de outros factores que ultrapassam o foro pessoal há que se ponderar certos interesses.19

Tem se entendido que, entre os motivos capazes de explicar o consentimento do ex-cônjuge na conservação dos apelidos comuns pelo outro ou de justificar a autorização do Tribunal, no caso de recusa, se destaca o de a divorciada (o) tendo usado os apelidos do seu consorte na formação de qualquer firma (ou denominação -, ou ainda como nome artístico, o sublinhado é nosso) de estabelecimento ou sociedade comercial, manifestar na altura do divórcio compreensível interesse económico ou social em não mudar de apelido.

A cessação do direito de usar o apelido do outro cônjuge ou apelido comum adoptado por ambos implicará a alteração do nome respectivo, da ex-cônjuge ou do ex-cônjuge e vice- versa, esta alteração deverá ser nos termos do Código do Registo Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47678, de 5 de Maio materializada por um averbamento ao assento de nascimento e ao bilhete de identidade de cidadão nacional junto do Órgão do Registo Civil Competente.

15 Os efeitos da dissolução do casamento por divórcio em relação a terceiros produzem-se somente após o registo da sentença, aliás é o que resulta da leitura atenta do n.º 2 do artigo 82.º do C. F, todavia nas relações pessoais produzem-se a partir do trânsito em julgado da sentença, cfr. artigo 81.º 1 do CF.

16 Vide n.º 1 do artigo 36.º do CF.

17Nome de família. = SOBRENOME"apelido", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/apelido [consultado em 20-09-2018].

No plano extra-jurídico, podemos, com Manuel Vilhena de Carvalho (in “O Nome das Pessoas e o Direito”, Almedina, 1989, pág. 11) definir o nome como “o sinal ou a rubrica através do qual se designam e individualizam as pessoas, quer consideradas isoladamente, quer em referência à família a que pertencem”, sendo que, entre nós, o nome completo deve ser composto no máximo por seis vocábulos gramaticais simples, dos quais só dois podem corresponder ao nome próprio (nome particular que se aplica exclusivamente a uma pessoa) e quatro a apelidos (vd. art. 103º/2 do CRC).

Já no plano jurídico, dispõe o art. 72.º n.º 1 do Código Civil, que “Toda a pessoa tem o direito a usar o seu nome, completo ou abreviado, e opor-se a que outrem o use ilicitamente para sua identificação ou outros fins”. Por via de tal disposição legal, facilmente se infere que o nosso legislador concebeu o direito ao nome, como um verdadeiro direito de personalidade.

18 Vide, artigo 36.º, n.º 2 do Código da Família.

19Por exemplo, tendo se divorciado os pais de um filho registado e ficando a mãe sem o apelido do pai, nem por isso o filho pode obter a alteração do seu assento de nascimento, eliminando do nome da mãe o apelido do pai (vide RC., 3-4-2001: CJ, 2001, 2.º-3, Pt.).

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DIREITO COMPARADO

Em Portugal - o Código Civil, no seu livro IV – Direito da Família, título II - Do casamento, capítulo IX - Efeitos do casamento quanto às pessoas e aos bens dos cônjuges, secção I - Disposições gerais, artigo 1677.º-B - (Divórcio e separação judicial de pessoas e bens), estabelece o seguinte «1. Decretada a separação judicial de pessoas e bens, cada um dos cônjuges conserva os apelidos do outro que tenha adoptado; no caso de divórcio, pode conservá-los se o ex-cônjuge der o seu consentimento ou o tribunal o autorizar, tendo em atenção os motivos invocados. 2. O consentimento do ex-cônjuge pode ser prestado por documento autêntico ou autenticado, termo lavrado em juízo ou declaração perante o funcionário do registo civil. 3. O pedido de autorização judicial do uso dos apelidos do ex-cônjuge pode ser deduzido no processo de divórcio ou em processo próprio, mesmo depois de o divórcio ter sido decretado. Aditado pelo Decreto-Lei nº 496/77 de 25-11-1977.

No Brasil - o Código Civil - aprovado pela Lei n.º 10.406 de 10 de Janeiro de 2002, no subtítulo I - Do Casamento, artigo 1571.º estabelece que «a sociedade conjugal termina: I - pela morte de um dos cônjuges; II - pela nulidade ou anulação do casamento; III - pela separação judicial; IV - pelo divórcio. § 1.º O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente. § 2.ºDissolvido o casamento pelo divórcio direto ou por conversão, o cônjuge poderá manter o nome de casado; salvo, no segundo caso, dispondo em contrário a sentença de separação judicial.»

O subtítulo I, Do Casamento, art. 1578.ºestabelece que «cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial perde o direito de usar o sobrenome do outro, desde que expressamente requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração não acarretar: I - evidente prejuízo para a sua identificação; II - manifesta distinção entre o seu nome de família e o dos filhos havidos da união dissolvida; III - dano grave reconhecido na decisão judicial. § 1.º O cônjuge inocente na ação de separação judicial poderá renunciar, a qualquer momento, ao direito de usar o sobrenome do outro. § 2.º Nos demais casos caberá a opção pela conservação do nome de casado.

JURISPRUDÊNCIA

Em Portugal - ficou decidido no Acórdão. do STJ de 10-12-1998 (QUIRINO SOARES, P.

nº 98B920) [- O divórcio implica a eliminação das relações pessoais e patrimoniais entre os cônjuges, salvo, é claro a relação de liquidação do património comum e daquelas que, não sendo já relações matrimoniais, constituem um tributo a um estado tão profundamente marcante na vida das pessoas (alimentos pós-divórcio, poder paternal conjunto, direito ao uso dos apelidos). II - Só ponderosos motivos, a avaliar caso a caso, relevando tanto interesses materiais como morais, poderão justificar manter-se o direito ao uso dos apelidos do ex-cônjuge. III - A integridade do nome é valor prevalente perante uma obra de autor, científica, literária, artística, de renome, consolidada e autónoma, mas não o será quando a obra constitui o resultado, directo ou indirecto, do exercício de funções de serviço público, para que, mais que o nome da pessoa que as realiza ou ocupa, conta o título, o cargo, a função em que está investida.], disponível em www.dgsi.pt/jstj.

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No Brasil - ficou decidido no Acórdão n.º 896417, 20120610124630APC. Divórcio litigioso – uso do nome de casado, que apesar de o Código Civil assegurar a manutenção do nome de casado após o divórcio, o cônjuge perderá o direito se incidir na única hipótese prevista no diploma legal. Em ação de divórcio litigioso, a requerente obteve na primeira instância o direito à manutenção do nome de casada. O requerido apelou sob o argumento de que sua ex-esposa teria incorrido em grave violação aos deveres conjugais, e que por isso não poderia continuar utilizando o seu sobrenome. A Turma reformou a sentença e deu razão ao requerido. A Relatora destacou que o Código Civil, em seu art. 1.571, § 2º, dispõe com clareza que o cônjuge poderá manter o nome de casado após o divórcio. No entanto, apesar da existência de posicionamento doutrinário e jurisprudencial em sentido contrário, para a Julgadora é possível, em caso de culpa grave, a perda do sobrenome contra a vontade do titular. Tal hipótese, segundo a Magistrada, requer a combinação de outros requisitos: o pedido expresso do cônjuge inocente e a alteração não causar prejuízo à identificação da prole e do próprio cônjuge, conforme se pode aferir no art. 1.578.º do Código Civil. Após a análise dos documentos acostados aos autos, os Desembargadores concluíram que houve por parte da ex-esposa violação a deveres como o respeito e a lealdade conjugal, o que, somado ao preenchimento de todos os outros requisitos, autorizam a perda do sobrenome do ex-marido.20

DE JURE CONDENDO

Cá entre nós na perspectiva de jure condendo21em sede da Reforma da Justiça e do Direito, o ante-projecto do Código da Família apresentado pela competente Subcomissão Técnica da Reforma da Comissão da Reforma da Justiça e do Direito em consulta pública, no seu artigo 141.º sob a epígrafe (adopção de apelidos ou nomes de família), estabelece que «1. - No acto de casamento, pode um dos nubentes declarar que adopta o apelido do outro, ou podem ambos optar pela adopção de um apelido comum, a partir do apelido dos dois. 2. - No caso de dissolução do casamento, o ex-cônjuge que tiver adoptado o apelido do outro pode continuar a usá-lo, desde que faça prova da relevância na manutenção do apelido, sem prejuízo do disposto no artigo 207.º,22 sobre os efeitos do divórcio.»23

20 Acórdão n.º 896417, 20120610124630APC, Relatora: SIMONE LUCINDO, Revisora: NÍDIA CORRÊA LIMA, 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 23/09/2015, publicado no DJE: 06/10/2015. Pág.: 187

21 (Lê-se: dê iúre condéndo/constituêndo.) Do direito a constituir; nos moldes do direito que deve ser estabelecido/constituído. Comentário: Esta expressão é o propósito de matérias ou situações jurídicas não previstas em leis vigentes, mas que podem ou poderão, com o tempo, constituir normas de direito objetivo (V. de lege ferenda). http://www.enciclopedia-juridica.biz14.com/pt/d/de-jure-condendo-constituendo/de- jure-condendo-constituendo.htm

22O curial na minha opinião seria redigir não aqui, mas no referido artigo 207.º, «cessa o direito ao uso do apelido adoptado sem prejuízo do que vem disposto no n.º 2 do artigo 141.º»

23 O artigo 207.º sob a epígrafe (efeitos do divórcio) estabelece que «o divórcio produz os efeitos pessoais e patrimoniais da dissolução por morte, salvas as excepções previstas na lei, designadamente: a) …; b) …;

c) …; d) Cessa o direito ao uso do apelido adoptado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegados até aqui e porque temos de concluir a nossa abordagem, fácil se depreende que o divórcio não significa a destruição completa da relação iniciada no casamento, ficam alguns efeitos que se fazem sentir para além desse “facto dissolvente do casamento”, no que respeita aos próprios cônjuges.

Assim sendo, não obstante o divórcio implicar a extinção das relações pessoais e patrimoniais entre os cônjuges, ponderosos motivos, a avaliar caso a caso, relevando-se tanto interesses materiais como morais, poderão justificar a atribuição ou obrigação de prestar alimentos ao ex-cônjuge que deles carecer e a manter-se o direito ao uso do apelido do ex-cônjuge ou apelido comum adoptado por ambos.

BIBLIOGRAFIA

Maria do Carmo Medina - Direito de Família, 2.ª Edição actualizada.

Manuel Vilhena de Carvalho “O Nome das Pessoas e o Direito”, Almedina.

http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/510/r143-12.PDF. Cláudio Petrini Belmonte-, a obrigação de prestar alimentos entre cônjuges e ex-cônjuges no ordenamento jurídico de Portugal.

Referências

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