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SERVIDÕES PREDIAIS

1 – Noção, elementos constitutivos e características Noção

A definição legal de "Servidão predial" encontra-se no artigo 1543º do Código Civil, entendida pelo lado passivo, como «o encargo imposto num prédio (designado de "prédio serviente") em proveito exclusivo de outro prédio (designado de "prédio dominante") pertencentes a donos diferentes».

Elementos constitutivos

Desta definição legal logo se extraiem quatro elementos essenciais para que possamos integrar determinada situação neste instituto dos direitos reais:

a. – A servidão é um encargo;

b. – O encargo recai sobre um prédio;

c. – E aproveita exclusivamente a outro prédio;

d. – Os donos, de um e outro prédio, têm de ser diferentes.

a) – A servidão consiste, pois, num encargo. É uma limitação, uma restrição, ao direito de propriedade sobre o prédio onerado.

b) – Encargo esse que recai sobre um prédio, tratando-se de uma imposição que, como já se disse, constitui uma limitação e uma restrição ao gozo efectivo que o respectivo dono pode retirar do prédio assim onerado, por não poder praticar sobre ele quaisquer actos que prejudiquem o exercício da servidão. Daqui se conclui, claramente, que a servidão se traduz num poder directo e imediato sobre o prédio serviente, cujo carácter real assim fica claramente vincado pelo legislador em relação à figura jurídica agora em estudo.

A servidão predial não é, por isso, e como uma análise descuidada e superficial o poderia fazer crer, apenas oponível ao proprietário do prédio serviente. É oponível, sim, a todos os terceiros (arrendatários do prédio, titulares de outras servidões, etc.) e é tão válida em relação ao primitivo proprietário como em relação a todos os futuros

adquirentes. Em suma, é – característica fundamental e diferenciadora dos direitos reais oponíbilidade erga omnes.

Limita-se, porém, neste artigo 1543º, o alcance das servidões prediais à mais importante categoria de imóveis: os prédios, rústicos ou urbanos (artigo 204º).

Sob uma breve perspectiva de evolução histórica da figura das "servidões", convirá realçar, ainda, nesta nota que ao definir-se "servidão predial" como «o encargo imposto num prédio» se afasta também qualquer ideia de servidão imposta a pessoa em proveito de um prédio, como acontecia com as "servidões da gleba" de resto há muito afastadas do nosso Direito.

c) – Do lado activo da relação jurídica que se estabelece através deste instituto, resulta que, não sendo um encargo imposto a uma pessoa em proveito de um prédio, não vai ser

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também um encargo capaz de aproveitar a uma pessoa mas sim a um prédio. Este «é o encargo imposto num prédio em proveito exclusivo de outro prédio» deverá, no entanto, ser interpretado cuidadosamente sob pena de podermos encarar a figura das "servidões prediais" como constitutiva de uma relação entre dois prédios! Como relação jurídica que é a "servidão predial" não pode, claro, deixar de ser constitutiva, isso sim, de uma relação entre pessoas.

Quando na lei se aponta para os prédios o que se quer realçar é a inerência da servidão aos prédios (a que ela respeita) e o facto de não ser lícito (pelo menos com carácter real) a imposição de quaisquer encargos que não se relacionem com as necessidades próprias de outro prédio. Esta característica tem especial reflexo no principio da inseparabilidade que, como veremos mais à frente, é a grande regra em matéria de servidões prediais, mas que, pode-se adiantar desde já de forma bastante sucinta, nos diz que as servidões não podem separar-se dos prédios a que pertencem – activa ou passivamente.

Desta inerência das servidões aos prédios conclui-se, em síntese, que para haver servidão predial o aproveitamento das utilidades de um prédio (o serviente) tem de ser feito por intermédio de outro prédio (o dominante). Caso esta inerência não se verifique o que há é uma "servidão pessoal" e não uma "servidão predial", não qualificável, por isso, como direito real (1306º, nº 1, primeira parte) mas, eventualmente, revestida de eficácia obrigacional, ao abrigo do disposto na 2ª parte do nº1 do artigo 1306º. Ilustre-se com uma situação já apontada por Mota Pinto:

"Se certa pessoa se obrigar perante outra a permitir-lhe a utilização do parque existente num prédio seu para os seus passeios matinais haverá uma servidão pessoal. Se essa mesma vinculação for assumida perante o dono de um hotel existente em prédio vizinho, para recreio dos seus hóspedes, facultando assim uma utilidade objectiva adicional na exploração do hotel, já haverá uma servidão predial."

E deste exemplo se infere, com clareza, que o citado artigo 1543º limita as servidões aos encargos impostos a um prédio e que aproveitem a outro prédio, e nunca a uma pessoa. Essas outras situações, como se disse, constituirão servidões pessoais e não poderão, nunca, ter eficácia real mas somente obrigacional. Daí, até, que o Título VI do Livro III do Código Civil tenha por epígrafe a expressão "Das servidões prediais".

d) – Não estão, no entanto, ainda reunidos todos os caracteres constitutivos desta figura jurídica. Como já resulta do artigo 1543º é ainda essencial que um e outro prédio pertençam a donos diferentes. A denominada "servidão de proprietário" encontra-se, ainda que de uma interpretação ad contrario proibida por este artigo 1543º, sendo o seu fundamento bastante simples de entender: o direito de propriedade, como direito real de gozo máximo que é possui um conteúdo de tal modo rico e elástico que dentro dele se esgotam todos os "direitos reais menores", como é o caso da servidão predial. Qualquer utilidade que o proprietário retire do seu prédio, dentro dos limites da lei, nada mais será do que a invocação da sua plena potestas, sem necessidade de mais nada para legitimar essa utilização concreta.

Contudo, já nada impedirá que o proprietário de um prédio estabeleça uma relação de servidão entre o seu prédio e um outro de que ele seja mero comproprietário, ou o inverso. O mesmo se poderá ainda dizer em relação ao regime da propriedade

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horizontal. Como veremos mais à frente é precisamente nesta razão de ordem que, quer a constituição da servidão por destinação do pai de família , quer a extinção de uma servidão pela reunião dos prédios no mesmo dono, só se operam, respectivamente, no momento em que os prédios deixam de pertencer ao mesmo dono ou se reúnem no domínio de um mesmo titular.

Características

Do que já atrás ficou exposto ficamos com uma noção mais alargada do conceito de "servidão predial". Contudo, não conseguimos ainda caracterizar de modo

suficientemente alargado e detalhado este instituto jurídico. Na busca das suas características individualizadoras precisaremos ainda de analisar cuidadamente os artigos 1544º, 1545º e 1546º do Código Civil.

Seguindo de perto as lições do Professor Carvalho Fernandes diremos que as principais características do direito de servidão predial são:

A atipicidade do seu conteúdo;

A inseparabilidade,

E a indivisibilidade. - A atipicidade do seu conteúdo:

A atipicidade do conteúdo da servidão predial extrai-se do artigo 1544º do Código Civil e constitui uma das mais relevantes atenuações do princípio da tipicidade no nosso direito civil: quaisquer utilidades do prédio sobre o qual impende o encargo podem ser objecto da servidão predial, nem sequer obstando à sua constituição que essas utilidades sejam futuras ou eventuais. Fundamental é que essas utilidades, enquanto objecto de um direito real, possam ser gozadas por intermédio do prédio dominante.

Atente-se, ainda, no final do artigo 1544º: « [...] mesmo que não aumentem o seu valor.» nem sequer se exige, pois, que essas utilidades importem um aumento de valor, uma natureza económica, para o prédio dominante. A servidão pode, assim, representar uma simples benfeitoria voluntária para o prédio dominante, não sendo exigível que se constitua numa benfeitoria útil.

Encarando esta questão do lado activo da servidão melhor se compreenderá o que se quer dizer com esta "atipicidade": no uso das utilidades do prédio serviente, as faculdades atribuíveis ao titular da servidão é que não estão tipificadas, não se significando, porém, que a servidão predial deixe de constituir um tipo no nosso ordenamento jurídico, pois que há um núcleo fundamental (o gozo das utilidades do prédio serviente ter de ser feito por intermédio do prédio dominante) que não pode nunca, em última análise, ser inutilizado.

- A inseparabilidade:

Já aqui referida, a inseparabilidade, o princípio da inseparabilidade, constitui a grande regra em matéria de servidões prediais.

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Inscrito no nº1 do artigo 1545º do Código Civil este princípio, esta característica das servidões prediais não é, afinal, mais do que um corolário lógico da já referenciada ideia de que as utilidades do prédio serviente, objecto da servidão, hão-de ser gozadas através do prédio dominante. Por isso, natural será que a servidão não possa separar-se quer de um, quer de outro prédio. Refere Pires de Lima «[...] dizer-se que as servidões são inseparáveis, não significa dizer-se que elas devam ser insusceptíveis de separação; significa apenas que a lei não permite que elas se separem do prédio a que pertencem.» Daí a consequência lógica do nº 2 do mesmo artigo: a separação implica a extinção da servidão existente e a constituição de outra. Por exemplo: «numa servidão de passagem, se o seu titular deixar de usar o local do prédio serviente indicado no título constitutivo e começar a usar outro, a primeira servidão mantém-se até se extinguir pelo não uso, podendo, por seu turno, constituir-se por usucapião, uma servidão diferente.»

Sendo a grande regra em matéria de servidões prediais, esta característica da

"inseparabilidade" admite apenas as excepções previstas na lei. Entre outras, o nº2 do artigo 1567º, in fine, e o nº1 do artigo 1568º (mudança da servidão para outro prédio). - A indivisibilidade:

Esta última característica das servidões prediais encontramo-la estatuída no artigo 1546º, sendo o seu alcance bastante óbvio: tudo se passará, em relação ao objecto e ao exercício da servidão, em caso de divisão de qualquer dos prédios, como se não tivesse havido qualquer divisão, resultando as únicas diferenças do facto de a divisão se operar no prédio dominante ou no prédio serviente.

O que se pretende é que da divisão de qualquer dos prédios não seja atribuída a cada nova parcela maiores direitos ou encargos do que aqueles que lhe correspondiam antes da divisão. Como explicita Carvalho Fernandes, «se a divisão respeitar ao prédio dominante, a servidão mantém-se, passando a beneficiar dela cada um dos novos titulares, que a pode usar sem alteração nem mudança. Se for dividido o prédio serviente, cada uma das parcelas continua a suportar a servidão, tal como ela existia anteriormente, na parte que já a onerava, enquanto parte do todo.»

2 – Modalidades das servidões

Clarificada que ficou a noção de servidão predial, bem como dos seus elementos constitutivos e características, veremos de seguida, atendendo a diversos critérios, quais as modalidades de servidão predial.

Á distinção originária de servidões, entre prediais e pessoais, não se fará mais

referência por o tema desta exposição se limitar às servidões prediais e porque, também, a necessidade de trazer à colação as servidões pessoais se esgotou ao ajudar-nos a estabelecer a própria noção de servidão predial.

Assim, e atendendo a critérios vários, como veremos em seguida, podemos distinguir entre:

2.1. – Servidões legais e servidões voluntárias; 2.2. – Servidões aparentes e servidões não aparentes;

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2.3. – Servidões positivas, negativas e desvinculativas; 2.4 – Servidões activas e passivas.

2.1. – Servidões legais e servidões voluntárias:

O critério de distinção entre umas e outras está intrinsecamente ligado à modalidade dos respectivos modos de constituição: se se torna evidente que às servidões voluntárias corresponderá, como título constitutivo, um negócio jurídico, já o mesmo processo lógico não se revelará procedente em relação às servidões legais, pois que estas não serão, como poderia aparentar, as constituídas por lei.

A expressão servidão legal terá, por isso, de ser entendida em termos hábeis. Escreve Dias Marques, «Se tais servidões fossem, na verdadeira acepção do termo legais, resultariam ipso jure da lei e não estaríamos então perante verdadeiras servidões, mas perante restrições objectivas aos direitos reais. O que precisamente distingue as servidões das restrições é que aquelas têm origem num acto (negócio jurídico ou

sentença) e estas resultam ipso jure de uma dada situação de facto em que ab origine se encontram os prédios por elas afectados.»

É o próprio legislador que, no nº2 do artigo 1547º, esclarece o alcance das servidões legais, definindo-as como as que «podem ser constituídas por sentença judicial ou por decisão administrativa». Em bom rigor, tratam-se de direitos potestativos caracterizados pelo facto de conferirem ao respectivo titular a susceptibilidade de constituição de um direito de servidão, independentemente da vontade do dono do prédio serviente.

Como objecto do nº1 do artigo 1547º ficarão, então, aquelas constituídas, por contraste com as servidões legais, "voluntariamente" (embora assim designadas com alguma falta de rigor por causa das servidões nascidas por usucapião) segundo as formas descritas neste mesmo preceito: contrato, testamento, usucapião ou destinação do pai de família. Como objecto do nº2 do citado artigo (servidões legais) temos, no Código Civil, as servidões de passagem e as de águas, reguladas, respectivamente, nos artigos 1550º, 1556º e 1557º e seguintes.

Importará, por último, realçar que muito embora a distinção entre servidões voluntárias e legais se fixe a propósito dos respectivos títulos constitutivos, a diferença também alcançará os respectivos regimes de extinção que, nas servidões legais, vai conhecer determinadas causas especiais: desnecessidade e remição (nº2 e nº3 do artigo 1569º). 2.2. – Servidões aparentes e servidões não aparentes:

O critério que nesta classificação presidirá à distinção revelar-se-á da própria maneira de ser da servidão e do respectivo modo de exercício, como a própria terminologia utilizada já deixará transparecer.

Há, pois, servidões cuja própria existência ou exercício se depreende por sinais exteriores que revelam a existência da própria servidão. Tratam-se das servidões aparentes, de que são exemplo a «servidão de aqueduto, mediante o encanamento, a descoberto, de águas através de prédios alheios (artigo 1561º, nº1), a servidão de vistas,

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que se revela mediante a existência de janela aberta sobre prédio vizinho, sem salvaguarda das distâncias legais (artigo 1362º, nº1), ou, na servidão de estilicídio, revelada pela existência de beirados sem guarda sobre prédio vizinho (artigo 1365º).» Não basta, porém para que seja aparente que a servidão se revele por sinais exteriores e, visíveis. É necessário, ainda, que além de "visíveis", os sinais reveladores da servidão sejam permanentes, pois a permanência do sinal assegura não se tratar de um acto praticado a título precário, mas de um encargo de carácter estável ou duradouro, como será próprio de uma servidão, muito embora este requisito de permanência não exija a continuação no tempo dos mesmos sinais. São admitidas a substituição ou

transformação desses sinais. Indispensável, mesmo, é a permanência.

Ao contrário, e como se afirma no nº2 do artigo 1548º, servidões não aparentes são as «que não se revelam por sinais visíveis e permanentes».

A mais importante ilação a retirar desta distinção é a focada no artigo 1548º:

A servidão não aparente não se pode constituir por usucapião. Na base desta restrição à constituição de servidões não aparentes releva, sobretudo, a ideia de não dificultar as relações de boa vizinhança. Dados os fundados que, caso contrário, se poderiam suscitar em torno de meros actos de condescendência ou boa-vontade que se poderiam, por essa via, transformar em situações jurídicas.

2.3. – Servidões positivas, negativas e desvinculativas:

Nesta última classificação o processo de distinção opera-se em função do respectivo conteúdo e modalidade de exercício, para se estabelecer, em primeiro lugar, a distinção entre servidões positivas e negativas.

«As primeiras consistem numa permissão que envolve para o respectivo titular a possibilidade de praticar actos sobre o prédio serviente. Exemplo de escola é o da servidão de passagem»

As servidões negativas, por outro lado, imporão uma conduta num sentido negativo, isto é, num sentido de abstenção de proceder de determinado modo. Se as servidões

positivas envolvem a possibilidade de praticar actos sobre o prédio serviente, através do prédio dominante, as servidões negativas envolvem, contrariamente, uma imposição de abstenção de determinada conduta para o dono do prédio serviente sem que, contudo, lhe corresponda, do lado prédio dominante, qualquer faculdade de prática de actos sobre o prédio onerado. Exemplo de escola, também, é o da servidão de vistas: o dono do prédio serviente não pode construir qualquer edifício que a perturbe, no entanto, o titular da servidão (o dono do prédio dominante) não encontra na sua esfera jurídica qualquer legitimidade para praticar actos sobre o prédio serviente.

Por último, e porque a distinção até aqui explanada não permite, ainda, abranger todas as modalidades de relações que são passíveis de se estabelecer entre os prédios

dominante e serviente, surgem, nesta classificação, aquela servidões que, na terminologia de Oliveira Ascensão, se designarão por servidões desvinculativas, precisamente por quererem significar, para o dono do prédio serviente, uma libertação face a uma vinculação que, até à constituição desta servidão, lhe era imposta. Exemplo

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de escola encontra, aqui, na servidão de estilícidio (artigo 1365º, nº2) . Se, por qualquer meio, esta servidão se constituir, isso importa, de facto, para o prédio dominante, a libertação de uma limitação que lhe era imposta.

2.4 – Servidões activas e passivas

Toda a servidão é activa e passiva, activa para o prédio dominante e passiva para o prédio serviente.

3- Vicissitudes 3.1 – Constituição

3.1.1 – Modalidades dos títulos constitutivos

«O regime de constituição das servidões reveste-se de algumas particularidades e de maior complexidade quando confrontado com o dos demais direitos reais de gozo [...] na verdade, embora o nº1 do artigo 1547º se refira a constituição de servidões por negócio jurídico (contrato e testamento) e por usucapião – como é típico dos direitos reais de gozo -, logo nele se acrescenta um título constitutivo específico da servidões: a destinação do pai de família. Por outro lado, no nº2 do mesmo artigo, contempla-se a constituição por sentença judicial ou por decisão administrativa, quando não haja constituição voluntária das servidões legais, ou seja, a constituição coactiva.»

Passemos a uma análise breve e sucinta, até pelo espaço que nos é concedido, de cada uma das modalidades de títulos constitutivos previstos neste artigo 1547º:

a. – Contrato; b. – Testamento; c. – Usucapião;

d. – Destinação do pai de família; e. – Decisão judicial;

f. – Acto administrativo. a) - Contrato

A este propósito dir-se-á que o contrato, enquanto título constitutivo de servidões prediais, tanto pode ser a título oneroso como a título gratuito.

Por incidirem sobre bens imóveis, nas servidões constituídas por contrato terão que se respeitar todos os preceitos específicos relativos a contratos sobre este tipo de "coisas", nomeadamente, e para além, é óbvio, dos constantes no Código Civil, os constantes do Código de Notariado e no Código de Registo Predial.

Dir-se-à, ainda, que a constituição das servidões poderá brotar dum contrato exclusiva ou especialmente destinado à sua constituição, como de um contrato principalmente afectado a uma outra finalidade (por exemplo, a venda de um prédio em que o vendedor reserve, em proveito de outro prédio que ainda lhe pertença, um direito de servidão sobre o prédio alienado).

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b) – Testamento

Em relação ao testamento, como título constitutivo de servidão predial, poderemos dizer que a servidão pode, de facto, nascer de disposição de última vontade, se o testador a constituir sobre prédio pertencente à herança, seja a favor de prédio pertencente a terceiro, seja a favor de prédio por ele legado a terceiro.

Se, porém, o testador apenas impuser ao herdeiro ou legatário uma obrigação de constituir a servidão a favor de terceiro, já este direito real de gozo não nasce, directamente, do testamento, mas sim do contrato que, em execução das disposições testamentárias, vier a ser celebrado.

c) – Usucapião

Á constituição por usucapião, e para além de uma obrigatória referência à sua

inviabilidade quanto ás servidões não aparentes (artigo 1548º, nº1), dir-se-á apenas que está sujeita ao regime prescrito para a usucapião, nos artigos 1287º e seguintes.

d) – Destinação do pai de família

Disposta no artigo 1549ª do Código Civil, a constituição de servidões prediais por esta via constitutiva funda-se, ao fim e ao cabo, na relevância jurídica atribuída a actos de afectação de utilidades de um prédio em benefício de outro prédio praticados pelo proprietário dos dois, em face da exclusão de possibilidade de constituição da chamada "servidão de proprietário".

Já proveniente do Código de 1867 em termos muito semelhantes aos actualmente previstos neste artigo 1549º, diremos que são três os pressupostos fundamentais para que uma servidão se constitua nestes moldes:

Em primeiro lugar, é essencial que os dois prédios (ou fracções do prédio) tenham pertencido ao mesmo dono, sendo irrelevante que qualquer dos prédios seja rústico ou seja urbano, ou a "aplicação" a que cada um deles é dada. É, ainda, irrelevante que os prédios sejam contíguos ou não (como já resulta do artigo 1543º). Essencial é que já existisse uma relação de serventia entre os dois prédios que foram da mesma pessoa. É, em segundo lugar, necessário que existam sinais visíveis e permanentes que, inequivocamente, revelem uma situação estável de serventia de um prédio para com o outro. Se esses sinais forem válidos basta que a aparência ou a visibilidade se verifique em relação a algum deles, não sendo necessário – a própria disposição legal fala

claramente nos sinais postos «em um ou em ambos» - que esses sinais existam em mais do que um dos prédios. Como na constituição por usucapião, também aqui não basta que esses sinais sejam visíveis ou aparentes, sendo essencial que também sejam permanentes.

Por último, e como terceiro pressuposto, necessário será que aquando da separação dos prédios em diferentes proprietários não exista, no respectivo documento, nenhuma declaração que se oponha à constituição do ónus – servidão.

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Em conclusão, depende da verificação dos pressupostos referidos, como pilares fundamentais deste instituto jurídico, a constituição de servidões prediais por destinação do pai de família.

e) f) – Servidões legais

Remetendo para local anterior as considerações relativas à expressão servidões legais, diremos, em primeiro lugar, serem caracterizadas pela susceptibilidade de constituição coactiva, pois será a falta da sua constituição voluntária que dará lugar à sua

constituição coactiva.

A vida deste tipo de servidão predial desdobra-se em duas fases:

Numa primeira fase nada mais é do que um direito potestativo, conferindo ao seu titular a possibilidade de constituir sobre determinado prédio uma servidão,

independentemente da vontade do seu dono; na perspectiva do prédio onerado trata-se, nesta primeira fase, de um encargo normal sobre a propriedade, «na medida em que onera imediatamente todos os proprietários que se encontrem na situação prevista pela lei.»

Numa segunda fase, exercido o direito potestativo e constituída a servidão por acordo voluntário entre as partes, ou, e só na sua falta, por sentença ou acto administrativo, a servidão legal torna-se numa verdadeira servidão, ou seja, num encargo excepcional sobre a propriedade.

Pode-se, assim, concluir que o princípio subjacente é o de que os diferentes

proprietários possam acordar na sua constituição "amigavelmente", reservando-se, no entanto, a lei, a possibilidade da sua imposição coerciva, por via dos interesses, mais valorados, que se pretendem proteger. Como se compreenderia que o proprietário de prédio encravado não tivesse a possibilidade de assegurar a sua comunicação com a via pública?

Por último, é de deixar explícito que as servidões legais englobadas nos artigos 1550º a 1563º (passagem, presa, aqueduto e escoamento) não esgotam esta modalidade de servidões, antes sendo aquelas a que a generalidade da doutrina classifica como típicas ou nominadas.

3.2 – Extinção

Seguindo o regime geral de transmissibilidade absoluta dos direitos reais, o segundo momento da vida jurídica do direito de servidão predial que nos deverá merecer atenção específica, no dizer de Carvalho Fernandes, será o da sua extinção.

A multiplicidade das suas causas de extinção, quer as específicas do direito de servidão predial, quer as exclusivas de algumas das suas modalidades, revelam bem a

complexidade do regime de extinção desta figura jurídica.

Contém-se no artigo 1569º a enumeração dessas causas extintivas: confusão, não uso, usucapio libertatis, renúncia, caducidade (constantes nas alíneas a) a e) do nº1), desnecessidade e remição (nº2 e nº3, respectivamente).

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Seguindo de perto as lições de Carvalho Fernandes dir-se-á que «das causa de extinção enumeradas não apresentam particularidades de relevo a confusão, a renúncia e a caducidade» pelo que nos cingiremos a uma análise das demais causas apontadas: 3.2.1 – Não uso;

3.2.2 – Usucapio libertatis; 3.2.3 – Desnecessidade; 3.2.4 – Remição.

3.2.1 – Não uso

Consagrado na al. b) do nº1 do artigo 1569º, para o não uso, enquanto causa extintiva do direito de servidão predial, exige-se, desde logo, que o seja enquanto prática reiterada, "qualificada" por isso, requerendo-se que o não uso se prolongue por vinte anos para poder dar origem a tal efeito jurídico, formando-se, então, uma presunção de desnecessidade. O que aqui interessa, fundamentalmente, é a situação objectiva do uso ou não uso da servidão, independentemente de qualquer circunstância pessoal que possa estar na origem desse não uso. Como na usucapião, há uma sanção da inércia do titular do direito, de propriedade na usucapião, de servidão na sua extinção pelo não uso. Sendo o decurso do tempo um elemento fundamental para este regime, caberá deixar bem claro que a contagem do respectivo prazo se autonomiza em relação a alguns outros institutos paralelos (prescrição e caducidade), correndo sempre, sem suspensões ou interrupções. Por isso, a única questão que aqui se coloca é, tão só, a da fixação do momento em que se começa a contar, momento esse que se fixará tendo em conta o disposto na primeira parte do nº1 do artigo 1570º, com as especificidades relevadas pela segunda parte do mesmo número e números seguintes, bem como, e ainda, as impostas pelos artigos 1571º a 1573º.

3.2.2 – "Usucapio libertatis"

A aquisição, por usucapião, da liberdade do prédio (al. c), do nº1 do artigo 1569º) corresponde a fórmula latina usucapio libertatis, cujos requisitos se encontram estabelecidos no artigo 1574º.

Traduz-se esta figura, essencialmente, numa modalidade de usucapião de sinal inverso ao que tradicionalmente a caracteriza. Enquanto a extinção pelo não uso se baseia numa situação perspectivada sob o ponto de vista, objectivo, do dono do prédio dominante, já a usucapio libertatis se vai fixar tendo como ponto de referência o possuidor do prédio serviente.

Este instituto tem, como sublinham Pires de Lima e Antunes Varela, «de facto real interesse nos casos em que alguém tenha adquirido (a non domino) o prédio (serviente) como livre, e como tal o haja possuído durante o lapso de tempo necessário para o adquirir por usucapião».

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Da leitura e interpretação do citado artigo 1574º resultam os requisitos para que esta figura opere: oposição do dono do prédio serviente, inércia do titular da servidão e decurso do tempo. E é, precisamente, a partir de um acto que traduza, por parte do dono do prédio serviente, uma oposição ao efectivo exercício da servidão que se distingue esta figura da extinção pelo não uso.

É que a contagem do prazo da usucapião só começa a partir desta oposição, enquanto no não uso se verifica apenas um não exercício do direito de servidão por parte do seu titular, independentemente da sua causa. E muito embora a contagem do prazo, na usucapio libertatis, esteja dependente, para se iniciar, desse acto de oposição não é ainda o suficiente para que a extinção possa proceder. Torna-se igualmente necessário que essa oposição seja acompanhada de uma abstenção de reacção por parte do titular da servidão, que, assim, não defende o seu direito. Quanto ao prazo a decorrer para que se verifique a libertação do prédio, e não sendo dito mais nada no referido artigo 1574º, aplicar-se-ão, subsidiariamente, as regras da usucapião em matéria de imóveis.

Trata-se, em suma, de uma aquisição da liberdade do prédio por via da posse dessa mesma liberdade.

3.2.3 – Desnecessidade

Fixada no nº2 e nº3 do artigo 1569º, a extinção do direito de servidão predial por desnecessidade trata da cessação das razões que justificavam a afectação de utilidades do prédio serviente ao prédio dominante enquanto, passe a redundância, causa de extinção do direito de servidão. Falamos aqui de uma desnecessidade superveniente. Se o nº2 vem estabelecer este regime para as servidões constituídas por usucapião (configurando-se como uma contrapartida para a posse que gera usucapião) já, o nº3, na primeira parte, o alarga ás servidões legais, independentemente de qual tenha sido o seu título constitutivo.

Em qualquer caso, é de notar, sempre, que a desnecessidade não actua, nunca,

automaticamente. Verificada que esteja, a lei só atribui ao dono do prédio serviente um direito potestativo extintivo, só concretizável mediante exercício judicial. A

desnecessidade só opera, pois, mediante a sua invocação judicial e respectiva (se a ela houver lugar) decisão judicial declarativa da extinção.

3.2.4 – Remição

Última das modalidades de extinção do direito de servidão predial a que se fará aqui referência (por razões já explicadas), a remição, prevista no nº4 do artigo 1569º, atenua o rigor da expropriação por utilidade particular consagrada nos artigos 1557º e 1558º (aproveitamento de águas para gastos domésticos e para fins agrícolas,

respectivamente).

É que pelo facto do proprietário da água não a utilizar em determinado momento, o momento em que a servidão é constituída, não seria justo nem razoável que ele ficasse perpetuamente privado de parte dela.

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Assim, se dela precisar para aproveitamento justificado que pretenda fazer, o dono do prédio serviente pode exigir a remição da servidão, que, e à semelhança da extinção por desnecessidade, só poderá ter lugar judicialmente e para a qual se exige, ainda, o

decurso de um prazo mínimo de dez anos desde a sua constituição, até como forma de evitar prejuízos graves para o titular da servidão logo após ter realizado algumas

despesas tendo em vista, ou como forma de tornar possível, o aproveitamento das águas. Por último, e verificados que estejam estes requisitos, manda ainda a lei que, e

novamente à semelhança do regime de extinção por desnecessidade, haja lugar a restituição de indemnização.

Bibliografia

Fernandes, Carvalho, "Lições de Direitos Reais"

Gonzalez, José Alberto, "Direitos Reais (parte geral) e Direito Registal Imobiliário" Lima, Pires de, "Lições de Direito Civil"

Marques, Dias, "Direitos Reais" Pinto, Mota, "Direitos Reais"

Pires de Lima, Antunes Varela, "Código Civil Anotado", vol. III "Revista de legislação e Jurisprudência"

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Índice Nota introdutória... 1 Servidões prediais Noção... 2 Elementos Constitutivos: a servidão é um encargo... 2

(14)

o encargo recai sobre um prédio... 2 e aproveita exclusivamente a outro prédio... 3 os donos são diferentes...3 Características

a atipicidade do seu conteúdo... 4 a inseparabilidade...5 a indivisibilidade... 5 Modalidades das servidões

servidões legais e voluntárias... 6 servidões aparentes e não aparentes... 7 servidões positivas, negativas e desvinculativas... 8 Vicissitudes

Constituição

Modalidades dos títulos constitutivos

contrato... 9 testamento... 9 usucapião... 10 destinação do pai de família...10 servidões legais... 11 Extinção causas... 12

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não uso... 12 "usucapio libertatis"... 13 desnecessidade... 13 remição... 14 Bibliografia... 15

Referências

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