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Uso excessivo de medicamentos

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Academic year: 2021

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RIO GRANDE DO SUL – UNIJUI

DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO – DHE

CURSO DE PSICOLOGIA

REJANE WOHLENBERG FERRO

USO EXCESSIVO DE MEDICAMENTOS

SANTA ROSA - RS 2019

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REJANE WOHLENBERG FERRO

USO EXCESSIVO DE MEDICAMENTOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo.

Orientadora: Mestre Sônia A. da Costa Fengler

SANTA ROSA-RS 2019

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REJANE WOHLENBERG FERRO

USO EXCESSIVO DE MEDICAMENTOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Psicologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande d Sul - UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo.

Aprovado em ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________ Mestre Sônia Aparecida da Costa Fengler (Orientadora)

Docente do Curso de Psicologia - UNIJUÍ

________________________________________ Mestre Simoni Antunes

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AGRADECIMENTOS

Nossas histórias individuais são marcadas pelas relações que possuímos e com as pessoas que cruzam nosso caminho, tanto de maneira perene quanto de forma temporária. Na jornada trilhada para a construção deste trabalho, agradeço de forma explícita.

Em especial ao meu esposo Evânio e ao nosso filho Rafael, pelo apoio e compreensão nos momentos difíceis e alegres, por estarem sempre ao meu lado nesta fase importante da minha vida, transmitindo-me paz e segurança e por terem me fornecido toda atenção em mais esta vitória. Amo vocês.

Agradeço a professora e orientadora Sônia Aparecida da Costa Fengler, pela orientação competente e segura. Por dividir comigo seu conhecimento e experiências. Pela compreensão, carinho, empenho e seriedade com o qual conduziu este trabalho. Agradeço a paciência, confiança e dedicação a mim dispensada, e pela preciosa orientação, estimulo constante e competência com o qual conduziu este trabalho com resignação em meus momentos de fragilidade e ansiedade. Ficas para mim, como exemplo, não apenas um profissional, mas a pessoa, pela tua sensibilidade, ética e respeito. O meu muito obrigado.

A Universidade Regional Do Noroeste Do Estado Do Rio Grande Do Sul – UNIJUÍ, instituição que proporcionou oportunidades de crescimento profissional em especial aos professores do curso de Psicologia pela competência em promover a construção da nossa aprendizagem e crescimento profissional participando desta caminhada e contribuindo para mais esta conquista.

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RESUMO

O uso excessivo de medicamentos é um problema que atinge a sociedade como um todo, e que vem sendo motivo de preocupação não apenas para os trabalhadores da saúde, mas, também para os criadores de políticas de saúde pública. Neste sentido, o presente estudo teve como objetivo abordar sobre o uso excessivo de medicamentos, fazendo uma relação entre a dor e o sofrimento, causados pelos mais diversos transtornos mentais e como os medicamentos que cumprem o importante papel senão de curar, o de aliviar os sintomas das doenças e dar uma melhor qualidade de vida, também acabam por prejudicar a vida e a saúde dos sujeitos na medida em que há um consumo abusivo e muitas vezes desenfreado, sobretudo de psicoterápicos. A metodologia utilizada foi um estudo bibliográfico sobre o uso excessivo de medicamentos, tendo o trabalho a seguinte estrutura: porque do uso irracional de medicamentos, contextualizando sobre medicamentos, drogas lícitas e ilícitas e, por fim, papel do psicólogo e da psicoterapia frente ao uso excessivo de medicamentos. Como resultado da pesquisa, restou evidenciado que os medicamentos estão sendo empregados em larga escala para todas as enfermidades e, no tocante aos transtornos mentais, e sobretudo na depressão, foi banalizado o papel do medicamento como auxiliar no processo de cura ou de melhoria da qualidade de vida do paciente, de modo que os psicofármacos passaram a ser a primeira opção no tratamento desses transtornos, não se lidando com as causas da dor e do sofrimento.

Palavras-chave: Medicamentos, Psicofármacos, Transtornos Mentais. Psicólogo.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...7

2. PORQUE DO USO IRRACIONAL DE MEDICAMENTOS?...9

2.1 Dor e Sofrimento...14 2.2 Transtornos Mentais...20 2.3 Transtornos de Ansiedade...21 2.4 Transtornos Depressivo...22 2.5 Transtornos da Esquizofrenia...25 3. MEDICAMENTOS...27

3.1 Contextualizando Sobre os Medicamentos...27

3.2 Surgimento dos Psicofármacos...31

3.3 Drogas Licitas e Ilícitas...34

3.4 Medicalização e o Mundo Contemporâneo...36

3.5O Psicólogo Frente ao Uso Excessivo de Medicamentos...38

CONSIDERAÇÕES FINAIS...43

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Diariamente, somos submetidos a inúmeras informações nos dizendo o que devemos ou o que não devemos fazer, como nos portar e quais as precauções que devemos tomar para nosso bem estar e desfrutar de uma vida saudável e melhor. Possibilitando uma vida mais longa e com qualidade, por outro lado tem-se criado um espaço de utilização de medicamentos que dia a dia, estão mudando ou substituindo os hábitos e costumes das pessoas.

Os tempos modernos trouxeram um novo modo de viver, onde a superficialidade parece fazer parte do cotidiano das pessoas. Neste novo modelo não basta ser feliz, é preciso demonstrar a felicidade, ela precisa estar aparente. É uma contradição, pois o indivíduo passa a negar a dor, muito embora ela também faça parte da sua vida. É quase que um princípio da existência humana, pois vários são os fatores ou as ocasiões em que o indivíduo é levado a sentir dor e sofrimento. Ser feliz a qualquer preço parece ter se tornado uma premissa da vida moderna. Mas as consequências vêm e estão aí, o que se denota pelo alarmante crescimento de transtornos mentais e a depressão.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), através do seu Plano de Ação sobre a Saúde Mental 2013-2020, relata que indivíduos cuja saúde mental esteja comprometida, tais como os que vivem sob os efeitos da depressão grave e esquizofrenia, representam uma possibilidade de morte prematura 40% a 60% maior do que o resto da população mundial. (OMS, 2013). Se considerado o conjunto dos transtornos mentais, neurológicos e por consumo de substâncias chega a 13% da quantidade mundial de morbidade em 2004. (OMS, 2013). Apenas a depressão representa 4,3% da carga mundial de morbidade, caracterizando-se como uma das principais causas mundiais de incapacidade, sobretudo entre as mulheres.

O presente estudo se organiza em um trabalho de conclusão de curso que objetiva abordar sobre o uso excessivo de medicamentos, fazendo uma relação entre a dor e o sofrimento, causados pelos mais diversos transtornos mentais e como os medicamentos que cumprem o importante papel senão de curar, o de aliviar os sintomas das doenças e dar uma melhor qualidade de vida, também acabam por prejudicar a vida e a saúde dos sujeitos na medida

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em que há um consumo abusivo e muitas vezes desenfreado, sobretudo de psicoterápicos.

A metodologia utilizada será um estudo bibliográfico sobre o uso excessivo de medicamentos, optou-se pela realização de uma revisão bibliográfica acerca do tema da medicalização e suas implicações na vida do ser humano. Para tal, foram pesquisados artigos, dissertações na biblioteca eletrônica Scielo e BSV-Psi., entre outras pesquisas de caráter cientifico. Passando por uma abordagem sobre dor e sofrimento, seguida de um breve relato acerca dos principais transtornos mentais. Na sequência se discorrerá sobre as drogas – lícitas e ilícitas – e sobre os impactos do uso excessivo de medicamentos psicotrópicos. Por fim, se compreenderá o papel do psicólogo frente ao uso excessivo de medicamentos.

Trabalho que de maneira prática atribui-se como fonte de enriquecimento, e fundamentação teórica sobre a temática, conferindo ao estudo parte fundamental a formação profissional em bases práticas aliados ao suporte teórico apreendido durante a formação. Portanto o presente estudo pretende compreender determinantes que levam os indivíduos a recorrerem à utilização do uso excessivo da medicalização, como uma forma de cura rápida da dor e sofrimento que geram inquietações ao sujeito.

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2. O PORQUÊ DO USO IRRACIONAL DE MEDICAMENTOS?

No início a maioria dos medicamentos, independente de sua indicação eram desconhecidos, sendo usadas ao longo da história da civilização conforme seus significados e crenças daquele período e/ou época. No modo capitalista cresceu a demanda e o consumo de medicamentos, trouxe à população a possibilidade de cura, tornando a medicação um novo modo de vida como instrumento de aliviar e curar a dor e o sofrimento psíquico. O Ministério da Saúde (M.S) menciona:

Atualmente, pessoas são constantemente incentivadas a resolver os problemas sociais utilizando medicamentos, e com ajuda de das propagandas de medicamentos nos meios de comunicação, disponibilizando a todo momento, é fortalecida a ideia de que utilizar medicamento é sempre bom, quando isso não é verdade. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019, p13).

Neste sentido, Santos (2015) ressalta que a medicalização tem sido considerada um problema de saúde pública, um de seus aspectos mais inquietantes é o aumento do uso irracional deste. Seguindo essa linha, percebe-se hoje que a população se acostumou com a ideia de que um bom médico é aquele que prescreve medicamentos. Desta maneira, sair do consultório sem uma receita em mãos é sinal de que o médico não lhe deu atenção suficiente. Nesse sentido Henriques se refere à medicalização como:

Nova forma de subjetivação contemporânea, denominada individualidade somática ou “sujeito cerebral”, que privilegia a neuroquímica do cérebro em detrimento de crenças, desejos e afetos, encontra nos produtos tecnocientíficos ofertados pelo complexo médico industrial e promovidos pelo discurso neurocientífico o elixir para sua recusa da dor de existir. (Henriques, p.794, 2012)1

Fengler (2015) reforça esta ideia sobre esta busca desenfreada pelos medicamentos apontando que:

Então se continua buscando de especialidade em especialidade (de porta em porta) até quem sabe que alguém consiga montar o quebra cabeça e o sujeito se apresente, marcado pelos cortes de um quebra

1

HENIQUES, Rogério Paes; A Medicalização da Existência e o Descentramento do Sujeito na Atualidade; Revista Mal-estar e Subjetividade - Fortaleza - Vol. XII - Nº 3-4 - p. 793 - 816 - set/dez 2012; Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/malestar/v12n3-4/13.pdf; Acessado em: 03/12/2019.

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cabeça que não poderia deixar de ser, depois de tantas buscas, mas afinal montado. (FENGLER, 2015, [s/p])2.

Medicalização, uma realidade atual que se desenvolve, nos mais variados tipos/estilos de vida. Onde somos submetidos a inúmeras informações na área da saúde pelos meios de comunicação principalmente às redes sociais estimulam a automedicação que funcionam como verdadeiros manuais nos dizendo o que fazer para ter uma vida saudável e duradoura. Santos:

Com isso o investimento na indústria farmacêutica se torna muito grande com o intuito de resolver todos os “problemas” e com a promessa de acabar com o sofrimento, eliminando tudo o que lhe faz mal de forma rápida e eficaz, para que a pessoa possa seguir a sua vida da maneira que imagina, sem problemas, buscando de modo mais rápido o alivio que, muitas vezes, acaba por depender de determinado medicamento, pois falar do próprio sofrimento perdeu lugar agora para a medicação. Não se pode mais assumir aquilo que é seu, seu sofrimento, fica mais fácil mascarar e esquecer. (SANTOS, 2015, p.17)

A civilização cria suas enfermidades e também a maneira de como enfrentar, desta maneira pode-se dizer o uso de medicamentos tem se tornado algo comum a sociedade. Podem estar associadas a fatores históricos, sociais, culturais, comportamentais e emocionais que afetam a vida do sujeito e contribuem para a utilização cada vez maior de medicamentos no combate de inquietações do sujeito. Contudo o Ministério da Saúde enfatiza:

A necessidade do debate sobre esse tema advém dos problemas que são enfrentados tanto em nível local quanto em nível mundial sobre o mau uso de medicamentos. Segundo dados da OMS, é estimado que mais da metade dos medicamentos sejam inadequadamente prescritos, dispensados e/ou vendidos, e que a metade dos pacientes os utilizem incorretamente. No Brasil, a maior causa de intoxicações está relacionada aos medicamentos. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019, p.13).

Neste sentido o uso excessivo de medicamentos tem sido como um problema não apenas em nossa sociedade, mas no mundo todo, e em função dessas preocupações o Conselho Federal de Psicologia lança uma Campanha Nacional “Não à medicalização da Vida” (CFP) com o objetivo de conscientizar a população do uso irracional de medicamentos (abuso), no intuito de servir de base para políticas de saúde como caráter preventivo.

2 FENGLER, Sônia da Costa; MEDICALIZAÇÃO X MEDICAÇÃO; Trabalho realizado pela Mestre durante Semana Acadêmica de Psicologia, 2015. Trecho retirado da apresentação do trabalho realizado pela Mestre Fengler da Universidade Unijuí, em PowerPoint; sem numeração de paginas.

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De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a população brasileira tem estado entre os maiores consumidores de medicamentos do mundo. Vive num processo crescente de medicalização em todas as esferas da vida. Neste sentido:

O Brasil é o terceiro maior consumidor de medicamentos ansiolíticos benzodiazepínicos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia, e o sexto maior produtor dessas substancias. O Brasil é o segundo maior consumidor de zolpidem,[...], o maior consumidor de midazolam e diazepam [...], e o terceiro maior consumidor de alprazolam. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019, p.15).

Embora este processo de medicalização tenha tido mais visibilidade nos últimos anos por intermédio de campanhas sobre a saúde, este ainda é difícil de ser identificado, pois se manifesta de formas variadas, não se restringindo apenas a uma determinada região, cidade ou local. Portanto, dificuldades ou o mal-estar antes compreendido como parte da singularidade do ser humano (hoje não se permite mais sofrer) passa a ser considerada como uma doença diagnosticável no intuito de proporcionar a cura, associada à visão de que se encontra na medicação uma cura para todos os males. Neste contexto, o CFP (2011/2013, p.14) destaca que a “medicalização tem cumprido o papel de controlar e submeter às pessoas, abafando questionamentos e desconfortos e cumpre inclusive o papel ainda mais perversão de ocultar a violência física e psicológica”. Portanto:

Verefica-se que o princípio é o mesmo para todas essas populações: o medicamento é visto como meio rápido para resolução de problemas de diversas origens. O controle dos corpos e a cultura da medicalização em uma sociedade que funciona de uma forma mais prática, pode fazer com que muitas vezes as pessoas sintam que precisam se automedicar ou procurar um atendimento médico e/ou terapêutico para estarem produtivas, objetivando maior rendimento no trabalho, sem ter a real noção dos riscos do tratamento farmacológico, e até mesmo da dependência física ou psíquica intrínseca ao uso desses medicamentos. Assim o que é considerado normal se transforma em algo patológico. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019, p.15).

Contudo o uso de medicamentos de forma correta com indicações adequadas e no tempo certo se torna essencial ao tratamento da saúde, mas quando ocorre de maneira imprópria, pode ter efeitos adversos inclusive tóxicos ao organismo, que podem levar à dependência, além de problemas emocionais e sofrimento psíquico. O Ministério da Saúde (2019, p.13) ressalta

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que “medicamentos utilizados indevidamente, podem causar danos à saúde e levar o individuo a óbito”. Portanto além das questões relacionadas ao medicamento e estudos realizados:

[...] os debates realizados dentro do Comitê Nacional para a Promoção do Uso Racional de Medicamentos, instância consultiva instituída no âmbito do Ministério da Saúde, apontam para a necessidade de realização de ações que objetivem conter os abusos relacionados ao uso de medicamentos”. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019, p.5)3.

Neste sentido torna-se importante diferenciar o termo da medicalização da medicamentalização conforme o Ministério da Saúde:

É necessário atentar para a banalização do uso desse insumo levando-se em conta a questão da medicalização da sociedade. Para entender a relação entre medicamento, medicalização e medicamentalização, é imprescindíveis compreender que o termo “medicalização” é complexo e polissêmico. Pois, de acordo com o movimento social Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, o conceito “envolve um tipo de racionalidade determinista que desconsidera a complexidade da vida humana, reduzindo-a a questões de cunho individual, seja em seu aspecto orgânico, psíquico, ou em uma leitura restrita e naturalizada dos aspectos sociais”. Complementando essa definição, Oliveira (et al) destacam que a medicalização envolve processos mais vastos que não se limitam apenas ao produto medicamento e possui uma lógica mais sutil e perversa de controle da vida das pessoas e da sociedade. Já o termo “medicamentalização” se refere ao uso de medicamentos em situações que, anteriormente, não eram consideradas problemas médicos e, consequentemente, não existia um tratamento farmacológico para tal. Portanto, a medicamentalização pode ser considerada uma das consequências da medicalização. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019, P.13).

Desse modo a medicalização transforma artificialmente a vida das pessoas, disfarçando/camuflando questões que lhes afligem. Usado como meio para normalizar os sintomas sem de fato entender e/ou conhecer o que realmente tem lhe angustiado ou lhe causado algum sofrimento. Assim segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2001-2013) percebe uma tendência à medicalizar conforme a necessidade da população:

Entende-se por medicalização o processo que transforma, artificialmente, questões não médicas em problemas médicos. Problemas de diferentes ordens são apresentados como “doenças”, “transtornos”, “distúrbios” que escamoteiam as grandes questões políticas, sociais, culturais, afetivas que afligem a vida das pessoas.

3

Citação que se refere ao artigo: USO DE MEDICAMENTOS E MEDICALIZAÇÃO DA VIDA; disponível em: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/fevereiro/15/Livro-USO-DE-MEDICAMENTOS-E-MEDICALIZACAO-DA-VIDA--1-.pdf

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Questões coletivas são tomadas como individuais; problemas sociais e políticos são tornados biológicos. Nesse processo, que gera sofrimento psíquico, a pessoa e sua família são responsabilizadas pelos problemas, enquanto governos, autoridades e profissionais são eximidos de suas responsabilidades. (CFP, p. 13, 2011-2013, p.13)

A medicalização um processo através do qual a vida cotidiana passa a ser apropriada pela medicina que ainda interfere na construção de conceitos, costumes e comportamentos sociais. Logo Santos ressalta que:

O trabalho da medicina é eliminar aquilo que é da dor, pois lida com a questão de um corpo que, ao primeiro sinal de que algo não está conforme deveria, procura identificar quais são as causas, para, após, estabelecer um tratamento adequado e tomados os devidos cuidados. O principal objetivo é o paciente ficar bem e ser curado dos sintomas que expressam os sinais da sua doença. Para a ciência não faz sentido que uma pessoa sofra, uma vez que existem medicamentos que podem administrar suas dores. (SANTOS, 2015, p.20).

Promessa de medicamentos que produzam uma eliminação dos sintomas4 em pouco tempo, promovendo a ideia de que não é mais necessário sentir dor ou sofrimento, e dar um conforto, desvalorizando a existência do ser humano, como alguém que não possui a possibilidade de existir, o levando a distorção de seus valores. Henriques (2012, p.793) aborda o “processo de medicalização que ocorre quando há problemas relacionados à existência humana”, movido por “tabus”5

numa sociedade que se encontra muitas vezes presa em sua cultura e valores.

Portanto, faz-se necessário o reconhecimento desta questão em todas suas faces, bem como o seu respectivo estudo como fonte de informação compreendendo o que se perpassa na crescente procura de medicamentos que se verifica nas ultimas décadas na sociedade, que serve como um modo para remediar o que o individuo acredita não ter mais a oportunidade e disponibilidade para solucionar.

4

O Sintoma segundo a medicina seria o meio pelo qual a doença se apresenta ao paciente em sua manifestação; logo o Sintoma, segundo a psicanálise, seria aquilo que identifica em sua singularidade. É uma mensagem que precisa ser decifrada, mas também uma forma que o sujeito encontra de gozar, uma vez que vem a ser aquilo que escapa do desejo inconsciente do sujeito.

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2.1 DOR E SOFRIMENTO

Vivemos num mundo altamente competitivo, numa sociedade na qual tudo é imediato, que determina regras, comportamentos e valores, exigindo resoluções rápidas e práticas. Tempos surpreendentes, em que o futuro se apresenta cada vez mais difícil, tanto no campo social, político quanto no econômico. Uma sociedade com tendência a conceber novos sintomas.

No entender de Birman (2017, p.15) “[...] vivemos num mundo conturbado e perturbado [...] aquém da agudeza e rapidez dos acontecimentos [...]” que reserva aos sujeitos inseguranças com relação aos novos desafios que ocorrem acarretando uma espécie de desânimo (BIRMAN, 2012) e desintegração da subjetividade. Ainda segundo o autor:

A contemporaneidade se revela como uma fonte permanente de surpresa para o sujeito, que não consegue se regular nem se antecipar aos acontecimentos, que como turbilhões jorram de maneira disseminada ao seu redor. Onde quase tudo se revela de maneira imprevisível e intempestiva, o efeito mais evidente disso, no sujeito, é a vertigem e a ameaça do abismo. Como o improvável acaba quase sempre por acontecer, subvertendo-nos, isso nos faz vacilar em nossas certezas. (BIRMAN, 2012, p. 7).

Segue ao se referir que:

[...] as diversas escalas e dimensão da experiência são permanentemente perpassadas pela surpresa e pelo improvável. Nos registros da economia, da politica, das ciências, das artes, e da cotidianidade, o sujeito se coloca com o imprevisível, que o desorienta. Assim, podemos dizer que, tanto no registro coletivo como no individual, nas escalas local e global, a subjetividade foi virada de ponta cabeça. (BIRMAN, 2012, p. 7).

Freud em o “Mal Estar da Cultura” (2010, p. 24), menciona que o mal estar se “localiza no ser humano muito antes da construção das cidades”. Neste sentido, se refere ao ser humano e sua cultura como um ser que obtém:

[...] todo o saber e toda a capacidade adquiridos pelo homem com o fim de dominar as forças da natureza e obter os seus bens para a satisfação das necessidades humanas e, por outro, todas as instituições necessárias para regular as relações dos homens entre si, e em especial, a divisão dos bens acessíveis. (FREUD, 2010, p. 24).

Freud alude que o ser humano busca sentir-se protegido e satisfazer as suas necessidades, adaptar-se a melhor maneira de conduzir sua vida, ainda, “apresenta o homem desamparado, imerso em um mundo que só lhe confronta

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com dores e horrores e estes vêm tanto do corpo como do mundo externo, com suas armadilhas terríveis e também, talvez acima de tudo, das relações humanas”. (FREUD, 2010, p. 29).

Relações que assumem diferentes formas de ser, uma maneira perturbadora do sujeito com seu desejo, na valorização de uma imagem, tornando-se uma sociedade de aparências, onde Birman (2017, p. 34) questiona-se: “o que os transformou em meras fórmulas vazias, não apenas de sentido, mas também de qualquer interesse?”. Uma cultura em que o sujeito tem seu valor atribuído por aquilo que aparenta “ser ou ter”, e dessa forma se apresenta ao social, perdendo o sentido essencial da existência – a razão do seu ser.

Birman “neste contexto o sujeito também começa se esvaziando de seu desejo de ser, de viver e de agir” (2012, p.123). Há um sentimento de esvaziamento e o sujeito se perde, torna-se impotente, suas certezas se anulam e desaparece. Birman (2012) alude que o sujeito não possui mais qualquer projeto de existência e deve apenas se adaptar as oscilações e modificações que lhe são impostas, procurando apenas sua sobrevivência.

Diante de uma nova concepção de vida onde tudo acontece e é rapidamente do conhecimento de todos, negar a tristeza e enaltecer a felicidade tornou-se um modo de vida. Na atualidade, o sujeito nega a dor, não apenas relativa ao seu próprio sofrimento, mas, também com relação ao sofrimento do outro, dado que sua subjetividade é hoje representada pelo hedonismo6, pela imposição do gozo. Ser feliz é o princípio, a qualquer custo, e sofrer não é algo com que o sujeito possa se vangloriar.

Há um desprezo pelos verdadeiros valores da vida, e para se defender buscam resoluções imediatas que possam satisfazer suas necessidades. Segundo Freud (2010, p. 67), “visto que a satisfação dos impulsos equivale à felicidade, torna-se causa grave de sofrimento quando o mundo exterior nos

6

Busca incessante pelo prazer, Birman (2012, p.89) apresenta uma sociedade que cultua e que busca o prazer pelo próprio prazer, que se transformou numa evasão do sujeito para fugir de um mundo intolerável, ou seja, uma maneira do sujeito fugir de uma realidade que seria insuportável e que ao mesmo tempo ele seria impotente para transformar.

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deixa na indigência, quando se recusa em saciar nossas necessidades”. Dessa forma:

Nossas possibilidades de felicidade já são limitadas pela nossa constituição. Muito menores são os obstáculos para experimentar a infelicidade. O sofrimento ameaça três lados: a partir do próprio corpo, que, destinado a ruína e à dissolução, não pode prescindir da dor e do medo como sinais de alarme; a partir do mundo externo, que pode se abster sobre nós com forças superiores, implacáveis e destrutivas, e por fim, das relações com os outros seres humanos. O sofrimento que provem desta ultima fonte talvez seja sentido de modo mais doloroso que qualquer outro [...], embora não seja menos fatalmente inevitável do que o sofrimento oriundo de outras fontes. (FREUD, 2010, p.63-64).

Birman (2012) reforça que o mal-estar se configura, sobretudo, como dor e não como sofrimento, sendo preciso diferenciá-las. Logo:

A subjetividade contemporânea não consegue transformar dor em sofrimento, estando aqui a sua marca diferencial. De maneira que a dor se interiorizava pelo sofrimento e com ele [...] É preciso reconhecer que a dor é uma experiência em que a subjetividade se fecha sobre si mesma, não existindo lugar para o outro no horizonte do seu mal- estar. Com efeito, a dor é uma experiência eminentemente solipsista, restringindo-se o indivíduo apenas a si mesmo, não revelando qualquer dimensão alteritária. (BIRMAN, 2012, p.139 -140).

A dor segundo Birman (2012) se restringe ao murmúrio e ao lamento por mais intensa que esta seja, e continuando sobre essa perspectiva aborda a sua noção a respeito da dor:

Daí a passividade que sempre domina o individuo quando algo dói, esperando que alguém tome atitude em seu lugar. Se isso não ocorre, a dor pode mortificar o corpo do individuo, minando intensamente o registro somático, de forma a retirar e até esvaziar a potência do individuo. Este se solapa e se desqualifica em sua autoestima. (BIRMAN 2012, p.141).

O maior mal que afeta o sujeito na vida contemporânea é a dor e não o sofrimento. (BIRMAN, 2012 p.138), é contundente ao afirmar que o mal-estar atual se assenta no corpo, na ação e na intensidade, se tipificando como dor que não pode ser expressa. Ainda menciona que “a subjetividade contemporânea não consegue mais transformar a dor em sofrimento, de maneira que a dor se interioriza pelo sofrimento”. Segundo Kehl (2009), em razão de uma elevação expressiva e prenúncio de que se terá no futuro uma sociedade preponderantemente depressiva.

Na experiência da dor, o sujeito sem abertura para o outro fica entregue ao desolamento, não tendo qualquer possibilidade de

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realizar uma subjetivação possível para aquela experiência. Entregue ao seu solipsismo, o sujeito definha na sua autossuficiência, que o paralisa quase que completamente. Seriam essas a posição e a condição do sujeito na contemporaneidade, ficando à deriva nos fluxos e refluxos dos novos códigos de existência forjados pela mundialização. (BIRMAN, 2012, p. 144)

Relações que adquirem novas exigências e configurações para a subjetividade. Consequência dos processos de transformação que se realizam de forma intensa. Birman (p. 24, 2017) se refere a esta sociedade como “uma cultura do narcisismo e sociedade do espetáculo”7

, que tende a justificar as mudanças dos padrões de vida e atender exigências para sua existência, forjando e/ou negando sua vida real, seu próprio eu/sua essência. Uma sociedade segundo Tavares:

[...] acaba por ser, em sua essência, uma sociedade da aparência. Se por um lado, num primeiro momento, o capitalismo impulsionou o sujeito para uma dialética do ter em detrimento do ser; hoje, por outro lado, temos o deslizamento do ter para o parecer. Num mundo onde a aparência é fundamental, o (a)parecer na cena social se torna questão de existência. (TAVARES, 2010, p.14).

Tavares (2010, p.14), por meio do discurso social o sujeito impulsiona “uma vivência essencialmente narcisista, o eu sendo o principal objeto de investimento libidinal e o outro usado apenas como recurso para o prazer imediato”. Ou seja, encara o outro apenas como um objeto para seu usufruto. Produção ou exaltação das imagens de si mesmo, para satisfação do outro.

O corpo parece ocupar a forma do somático ao perder a dimensão simbólica e significante8, fatores que permitiriam a inscrição do conflito psíquico na superfície corporal, em que a dor envolve um questionamento sobre a relação do corpo com o psíquico.

7

Sociedade do Espetáculo para Birman (2017, p.24-25) se tornou uma sociedade no qual a subjetividade assume uma configuração decididamente estetizante, e os destinos do desejo assumem uma direção exibicionista e autocentrada, que marcam a atualidade onde se encontra um desinvestimento das trocas inter-humanas [...] e Narcisismo conforme Laplanche e Pontalis “por referência ao mito de Narciso, é o amor pela imagem de si mesmo”.

8

Significante conforme Roudinesco e Plon (1998, p.708) e retomado por Lacan como um conceito central, o significante transformou-se, em psicanalise, no elemento significativo do discurso (consciente ou inconsciente) que determina os atos, as palavras e o destino do sujeito, a sua revelia é amaneira de uma nomeação simbólica. Logo o termo simbólico (p.714) é empregado por Lacan para designar um sistema de representação baseado na linguagem, isto é em signos e significações que determinam o sujeito a sua revelia, permitindo-lhe referir-se a ele, consciente e inconscientemente, ao exercer sua faculdade de simbolização.

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A palavra sofrimento remete à ideia de um sujeito, e a dor é apenas uma objetivação do que é esse sofrimento, e apesar da dor não ocupar o mesmo registro ao longo das transformações do tempo e da sociedade, uma marca a caracteriza e se faz constante, seja qual for sua manifestação na experiência individual.

Portanto, configura-se por manifestações de queixas oriundas de ameaças externas ao “EU”, pois o sujeito não pode expor suas fraquezas ao outro para não ser considerado um perdedor no espaço em que só vale ganhar ou ser feliz. Na visão de Tavares (2010, p. 62):

Em uma sociedade em que o sofrer é desnecessário e na qual, quando este ocorre, pode ser imediatamente medicado e calado, os sujeitos que padecem desses “mal-estares” acabam sendo estigmatizados como culpados pelo insucesso na vida social, fruto de seus sofrimentos. Sofrer, hoje em dia, é sinônimo de vergonha.

Lynch (2018) nesta perspectiva ao se referir sobre a dor e sofrimento humano, aponta como sendo um caminho possível para interpretar os comportamentos e a angustia humana, pois nossas vidas são visitadas por lutas, perdas, danos, traumas, mudanças, decepções em graus variados, dos quais muitas vezes não estamos preparados para suportar. A autora discorre ainda a respeito de como se diz ou se ouve muitas vezes: “experimentar o sofrimento é uma parte inevitável da condição do ser humano”. (LYNCH, 2018, p.5).

Freud (2010, p.82) expôs que o “ser humano não é capaz de suportar o grau de frustração9 que a sociedade lhe impõe a serviço dos ideais culturais e disso conclui que suprimir essas exigências significaria uma possibilidade de ser feliz”. Ainda soma a este fato um fator de desilusão, portanto:

Ao longo das ultimas gerações, os homens fizeram progressos extraordinários nas ciências naturais e nas suas aplicações técnicas, consolidando o domínio sobre a natureza de uma maneira impensável no passado [...]. os seres humanos tem orgulho dessas conquistas e tem direito a tanto. Mas eles acreditam ter percebido que essa recém adquirida disposição sobre o espaço e o tempo, essa sujeição das forças naturais, a realização de um anseio milenar, não eleva o grau de satisfação prazerosa que esperam da vida, que essa

9 Frustração, conforme Laplanche trata de uma condição do sujeito a quem é recusada, ou que recusa a si mesmo, a satisfação de uma exigência pulsional.

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disposição sobre o espaço e o tempo não os tornou, segundo suas impressões mais felizes. (FREUD, 2010, p.83-84).

O cenário contemporâneo parece propagar discursos sobre as novas disposições subjetivas que vêm se produzindo. O sujeito vive em sofrimento ou na impossibilidade de relacionar-se com o mundo e com o outro, perdendo seu valor. Na sociedade atual os valores e as referências tradicionais se perdem e criam-se novos valores que irão reger o sujeito, fazendo com que se identifique ou busque sua imagem singular em conformidade com todos.

Os laços sociais se restringem então ao campo da imagem, de maneira que a cena social se reduziria à retórica do narcisismo. Seria a produção e a exaltação desenfreada para imagens de si mesmo, para o deleite do outro, num campo sempre imantado pela sedução, o que passaria a dar as cartas do jogo na estética performática do espetáculo. (BIRMAN, 2012, p. 55).

Pode-se assim pensar que o cenário contemporâneo é composto por subjetividades marcadas por uma frágil constituição psíquica, narcisista e de processos de simbolização, cujo sofrimento se expressa por constantes ameaças de desintegração e aniquilamento do eu, podendo se manifestar por intensas sensações de despedaçamento e despersonalização.

Por consequência do excesso, invade e se alastra sem limites, e por todos os caminhos o mal estar se apresenta hoje tanto no corpo como na ação. Neste sentido, percebe-se que em todas as épocas os seres humanos têm se deparado com a dor e o sofrimento. As formas de aflições divergem para cada sujeito, e estas podem ser situações ameaçadoras à vida.

Em função disto, percebe-se que o sujeito da contemporaneidade não é mais o mesmo sujeito de outras gerações, diversas transformações que vêm ocorrendo em todos os níveis sociais que incidem na vida do sujeito, o qual tem buscado apreender/compreender as novas formas de mal-estar que surgiram. Passou a ser um sujeito vazio e consequentemente, surgiram novas formas de sintomas e dificuldades de subjetivação e socialização. Essas novas formas de sintomas se organizam em patologias. As que se manifestam no contexto atual com maior frequência serão apresentadas suscintamente a seguir.

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2.2 TRANSTORNOS MENTAIS

Diante de determinados acontecimentos ou momentos, a vida parece se tornar mais difícil sendo que em algumas situações até conseguimos superar as certas dificuldades que nos afetam, outras não. Transformam-se em sofrimentos provocando algum mal-estar e deixam marcas, que com o passar do tempo sejam abafadas ou mascaradas (ex.: conflitos, rupturas, luto/perdas, decepções, alegrias, etc.). Contudo, noutros existem fases em que as pequenas coisas nos parecem enormes e sentimo-nos incapazes de encontrar soluções. Perante o mal-estar e sofrimento a relação com o outro é prejudicada e, portanto, a saúde mental fica comprometida.10

Na atualidade, são muitos os sintomas e sinais que levam ao desenvolvimento das mais variadas doenças mentais, os quais, geralmente, afetam as funções funcionais seja no contexto cultural, familiar ou social que modificam o dia a dia da pessoa, que tem sofrimento tanto na intensidade quanto na qualidade do distúrbio, que conduzem a dificuldades de adaptação em seus papéis sociais, nas relações com os outros. (Encontrar+se, [s/d])11.

A definição sobre os transtornos mentais foi elaborada com objetivos clínicos, que leva em consideração a gravidade e importância dos sintomas como, por exemplo, “a presença de ideação suicida, o sofrimento do paciente, entre outros fatores”, que moldam os comportamentos do individuo. Assim conforme descrito sobre a definição de um transtorno mental o identificadas nas classificações nosográficas de referência DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Perturbações Mentais da Associação Americana de Psiquiatria) afirma que:

10

Para futuras informações e pesquisas, este portal se refere ou se localiza no Portal da Saúde Mental no mesmo site do ENCONTRAR+SE – Associação Para a Promoção da Saúde Mental; INTERFERÊNCIAS NA SAÚDE MENTAL; Disponível em: https://www.portaldasaudemental.pt/interferencias-na-saude-mental/; Acesso em: 02/11/2019.

11

Ao usar o termo ENCONTRAR+SE, este refere-se à Associação de Apoio às Pessoas com Perturbação Mental Grave. Nome denominado pela Associação, o site inclusive a identifica com este nome. A “ENCONTRAR+SE” é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, de utilidade pública, sem fins lucrativos. Essa Associação para a Promoção da Saúde Mental trata da reabilitação psicossocial das pessoas com doença mental grave. Desta forma, a “ENCONTRAR+SE” procura contribuir de forma ativa na reabilitação psicossocial dos doentes com perturbação mental grave.

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Um transtorno mental é uma síndrome caracterizada por perturbação clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no comportamento de um indivíduo que reflete uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental. Transtornos mentais estão frequentemente associados a sofrimento ou incapacidade significativos que afetam atividades sociais, profissionais ou outras atividades importantes. Uma resposta esperada ou aprovada culturalmente a um estressor ou perda comum, como a morte de um ente querido, não constitui transtorno mental. Desvios sociais de comportamento (p. ex., de natureza política, religiosa ou sexual) e conflitos que são basicamente referentes ao indivíduo e à sociedade não são transtornos mentais a menos que o desvio ou conflito seja o resultado de uma disfunção no indivíduo. (DSM-V, 2014, p.20). A doença mental envolve um vasto rol de problemas patológicos que afetam a mente, constantemente ocasionando grande incômodo interior e modificando atitudes bem como humor, emoção, percepção, pensamento, memória e comportamentos, são alguns dos sintomas causados por esses transtornos. (Encontrar+se, [s/d]).

Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, 3% da população geral sofre com alguma doença mental padece com algum transtorno mental austera e recorrente. Também, 6% da população apresenta distúrbios psiquiátricos graves oriundos da utilização de álcool e outras drogas e 12% da população necessita de alguma assistência em saúde mental, contínua ou eventual. (BRASIL, 2008). Nas seções, seguintes são apresentados os principais transtornos que podem acometer o sujeito na atualidade.

2.3 TRANSTORNO DE ANSIEDADE.

Neste século, uma das doenças que mais afeta a população no mundo todo é a ansiedade. A ocorrência desta doença é tamanha, que tem chamado a atenção de especialistas por estudos e pesquisas quanto às suas causas e tratamento. Silva (2011) enfatiza que, segundo estudos internacionais, 25% da população sofre ou sofrerá do distúrbio da ansiedade em alguma ocasião de suas vidas. O autor continua afirmando que a ansiedade passa a ser uma doença quando é incompatível com a circunstância que a desencadeia, ou quando inexiste um objeto específico ao qual se dirija, afetando diretamente na qualidade de vida, no conforto emocional ou no desempenho individual. (SILVA, 2011).

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O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-V (2014) aponta que os transtornos de ansiedade incluem características de medo e ansiedade sendo que o “medo é a resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida, enquanto antecipação de ameaça futura” (DSM-V, p.189). Portanto a ansiedade apresenta diversas manifestações que podem ocorrer juntas ou de formas independentes como: cefaleia falta de ar, palpitações ou dores no peito, boca seca, preocupações exageradas, inquietações entre outas forma de manifestações.

Conforme Prado et al (2012) a ansiedade é uma experiência geral humana e é conceituada como uma sensação insistente de medo, apreensão e desastre imediato, ou tensão e agitação. O termo transtorno de ansiedade serve para definir muitas condições, incluindo síndrome do pânico, fobias, transtorno obsessivo-compulsivo, ansiedade generalizada, estresse pós-traumático e ansiedade relativa a uma condição médica geral.

Já para Santos et al (2009) pode-se definir a ansiedade como uma atitude natural que encoraja o ser humano ao alcance dos seus objetivos. A ansiedade é uma particularidade biológica do ser humano manifestado antes de situações de medo, tensão ou perigo, onde a pessoa se preocupa excessivamente com assuntos e ações prestes a acontecerem.

2.4 TRANSTORNO DEPRESSIVO.

A depressão é uma das doenças mais comuns atualmente, não apenas pelo modo como se manifesta, mas também pela quantidade de pessoas com esse diagnóstico nos últimos anos. Conforme dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2006), mais de 350 milhões de pessoas vivem com depressão no mundo, levando à perda da autonomia acarretada pelo adoecimento psíquico podendo levar a consequências como o distanciamento da convivência com as demais pessoas, a dependência financeira, afastamento do indivíduo do trabalho para tratamento ou não.

Na visão de Almeida (2009) a depressão está relacionada a uma incapacidade do indivíduo se relacionar, bem como ao fato de utilizar serviços de saúde não especializados, o que dificulta o diagnóstico, tratamento, cura

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e/ou reabilitação do paciente. Por tal razão, a depressão requer toda uma atenção da saúde pública atual, haja vista que nem todos os profissionais de saúde estão realmente aptos para tratarem pacientes depressivos, acarretando o abandono do tratamento mesmo no início por terem a sensação de não estarem sendo acolhidos.

Conforme o Ministério da Saúde (2005), a depressão caracteriza-se como um distúrbio afetivo muito presente nas sociedades contemporâneas, tendo sido catalogado como questão de saúde pública, na atualidade. Segundo Lambotte (2007), na depressão o sujeito perde o interesse pelo mundo externo motivado por uma ocorrência real, traumática, como por exemplo, o luto, adversidades profissionais, separações, etc.

Gomes (2011) relata que a depressão gera uma série de consequências no ser humano, acarretando dentre outras doenças, os seguintes sintomas: a insônia, a distimia, os distúrbios do sono e da alimentação, os quais repercutem negativamente.

A depressão gera insônia. (...) Quando a noite cai, principia a acordar, quando o dia amanhece, começa a dormir. O melhor lugar do mundo, o mais aconchegante, o mais macio, o mais confortável, o mais confiável é a cama. O deprimido tem a cama presa às suas costas. Ele e a cama são irmãos siameses. Quando consegue dormir, não quer mais acordar. O sono aparece como o último refúgio. (...) Não tem domínio sobre as próprias emoções. Não tem paciência. Perde a cabeça com facilidade. Explode à toa! Não sabe a origem da própria irritação e nem precisa. Está sempre irritado, e isso basta! (GOMES, 2011, p. 9).

Fédida (2002, p. 11) relaciona a depressão com a experiência do tempo e apresenta a hipótese de que "a depressão é um afeto cuja característica seria a alteração do tempo, a perda da comunicação intersubjetiva e correlativamente, um extraordinário empobrecimento da subjetividade". A autora ainda afirma que a depressão faz parte da vida psíquica, sendo relevante para o desenvolvimento da criatividade e que a depressão é distinguida por um erro na representação da ausência.

Nos dias de hoje a vida diária é tomada pelas mais diversas atividades, que requerem da pessoa um profundo senso de organização relativo ao uso do tempo. A hiperatividade, segundo Lipovetsky (2004), é uma das

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particularidades da nossa sociedade. A vida que se impõe, atualmente, faz com que o indivíduo não possa pensar relembrar, tal é a quantidade de ações que se apresentam. Nesse contexto, também há mais lugar para a dor, o sofrimento e a angústia. O indivíduo tem que responder rapidamente às experiências de perda, o que acaba por dificultar e, muitas vezes impedir, a assimilação do luto. Lynch (2018) se refere a estes sentimentos bem como ao sofrimento como uma experiência humana, que ninguém está imune e ainda representa uma resposta às dificuldades da vida. Segue ao se referir sobre a depressão como:

Um reflexo da perda, sofrimento e corações partidos, ansiedade crônica, ataques de pânico, abuso sexual, assédio moral, relacionamentos difíceis, problemas financeiros, opressão e impacto de ter urgências de vida lançadas sobre você. Considerar a depressão como um desiquilíbrio químico, algo patológico, é na minha opinião, um delírio. Isso, na realidade não tem tese nenhuma na ciência, tira a necessidade de compreensão, compaixão, psicoterapia sanadora, prevenção e, em particular, os módulos educacionais nas escolas baseadas no bem-estar e na sustentabilidade humana. (LYNCH, 2018, P.45).

Contudo as depressões de hoje tem algumas marcas apresentadas no passado e outras são novas segundo Birman (2012), “caracterizadas por signos nunca mencionados antes”, portanto a depressão hoje corresponde numa utilização massiva de psicofármacos, legitimados pela neurociência. Birman (2012) afirma “que as depressões se transformaram num dos maiores males da atualidade”:

Na medida que evidenciam as tormentas de despossessão de si no seu limite máximo. Fala-se de depressão hoje como nunca se falou antes, ao lado das toxicomanias e do pânico. A organização Mundial de Saúde coloca a depressão, nas suas varias formas e manifestações, como a segunda enfermidade médica mais frequente na atualidade. A previsão é de que, num futuro próximo, aumentem mais ainda suas taxas epidemiológicas, de incidência e prevalência. (BIRMAN, 2012, p.119).

Os estados depressivos são vulgarizados e tratados à base de medicamentos, eis que alguns médicos, inclusive alguns psiquiatras, acabam por não ter mais tempo para analisar e ouvir os pacientes. Entretanto, o uso

indevido ou exagerado de medicamentos colabora para a

"desresponsabilização" do indivíduo relativamente à sua dor. Medicar a tristeza ou o luto faz com que o indivíduo não elabore o trauma, afeta a habilidade criativa e a constituição de referências novas.

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2.5 ESPECTRO DA ESQUIZOFRENIA.

Para Kurt Schneider (1887/1967) era muito importante tornar incontestáveis as noções da classificação de doenças mentais e, particularmente, da esquizofrenia. Tomando por base estudos clínicos, Kurt reconheceu um conjunto de sintomas (designados de sintomas de primeira ordem) os quais seriam típicos da esquizofrenia e dificilmente achados em outros distúrbios mentais. (RANG: DALE; RITTER, 2001).

Foi em 1911 que Eugen Bleuler instituiu o termo esquizofrenia, por acreditar que ele representa de modo mais adequado a doença do que a expressão “dementia praepelin”. Retratou a esquizofrenia como um conjunto de transtornos que tinham como peculiaridades alucinações, delírios e pensamento desorganizado em pacientes jovens preliminarmente sadios [...]. (RANG; DALE; RITTER, 2001).

A esquizofrenia é considerada uma das mais incapacitantes doenças psiquiátricas. É crônica e atinge quase um por cento da população mundial, manifestando-se normalmente na faixa dos quinze aos vinte e cinco anos, em homens e mulheres, também podendo ocorrer na infância ou na meia idade. Seu tratamento se destina apenas ao alívio dos sintomas psicóticos, sendo então utilizada medicação antipsicótica. (RANG; DALE; RITTER, 2001).

De acordo com Kaplan et al (2002) observou-se que 50% dos pacientes esquizofrênicos, pelo menos uma vez na vida, tentam cometer o suicídio. Em torno de 10 a 15% destes pacientes morrem por suicídio durante uma faixa de vinte anos, e tanto homens como mulheres estão suscetíveis ao acometimento do pensamento suicida. Há fatores que desencadeiam a disposição para o suicídio e dentre eles estão os sintomas depressivos, a pouca idade e o elevado nível de funcionamento pré-mórbido, afetando, sobretudo o indivíduo estudante, pois tem mais consciência dos efeitos devastadores de sua doença, vendo no suicídio uma fuga para os seus males. (KAPLAN et al., 2002).

Kaplan et al. (2002) ainda afirma que o tabagismo está ligado a alta utilização de doses de medicamentos antipsicóticos, conforme apontam estudos. Provavelmente, o índice de metabolismo desses fármacos é

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aumentado pelo fumo. Também, o uso em excesso de álcool e de drogas como maconha e cocaína, que faz com que os pacientes de esquizofrenia desfrutem de uma redução da depressão e da ansiedade, aliado ao prazer que o uso dessas substâncias proporciona.

Existem diversas formas de comportamento esquizofrênico, bem como a doença pode apresentar-se de modos diferentes em cada paciente. A classificação do DSM-5 especifica os parâmetros oficiais da Associação Psiquiátrica Americana para a esquizofrenia. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico da APA (2013), esse transtorno é definido “[...] por anormalidades em um ou mais dos cinco domínios a seguir: delírios, alucinações, pensamento (discurso) desorganizado, comportamento motor grosseiramente desorganizado ou anormal (incluindo catatonia) e sintomas negativos”.

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3. MEDICAMENTOS:

A partir deste capitulo pretende-se contextualizar sobre os medicamentos. Esta organização se dá a partir do contexto histórico, apontando brevemente os psicofármacos e sua origem. Em seguida realiza-se uma pequena menção a respeito das drogas licitas e ilícitas que tem influenciado no comportamento e emoções do ser humano. Desse modo deseja-se finalizar este momento da pesquisa bibliográfica com o papel do psicólogo frente a este processo de medicalização.

3.1 CONTEXTUALIZANDO SOBRE MEDICAMENTOS

Diante do atual contexto pautado no processo de globalização, ocorreram várias mudanças no decorrer da história que influenciaram no desenvolvimento da humanidade e trouxeram consigo fatores que de alguma forma ou outra tem interferido na estrutura e vida das pessoas, possibilitando alterações em seu padrão tradicional, o que exige do ser humano resoluções rápidas na sua maneira de ser e agir.

Ribeiro (2003)12, considerando a época que vivemos, percebe que as sociedades se fragmentam, e a relação com o outro torna-se cada vez mais individualizada. “Entretanto não é difícil perceber o quanto o individualismo ganhou terreno em relação às modalidades tradicionais de relacionamento social, exigindo de cada sujeito um esforço para conciliar suas determinações com ideais sociais de nosso tempo”. (RIBEIRO, 2003, p.10).

Desde o seu surgimento os medicamentos são essenciais para o tratamento das mais variadas sintomas e patologias que afetam a vida do ser humano. Kimura13 “com o avanço da indústria farmacêutica no desenvolvimento de medicamentos, juntamente com os atuais valores que prioriza satisfações imediatas e resolução mecanicista dos problemas a crença

12

RIBEIRO, Eduardo Mendes; A toxicomania e os paradoxos da liberdade; IN: REVISTA DA ASSOCIAÇÃO PSICANALITICA DE PORTO ALEGRE/Associação Psicanalítica de Porto Alegre. -nº24, 2003. -Porto Alegre: APPOA, 1995;

13

KIMURA, A. M. Psicofármacos e Psicoterapia: a visão de psicólogos sobre medicação no tratamento. Trabalho de Conclusão de Curso (Formação em Psicologia). Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2005. (KIMURA, Adriana Marie)

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no medicamento como um instrumento de cura mágica tomou um novo modo de vida”.

Portanto medicamentos ou fármacos são substâncias usadas para o tratamento das doenças; podem aliviar os efeitos dos sintomas, diminuir a dor, prevenir ou curar as doenças, e até para salvar vidas. Os medicamentos também tem utilização para tratar um grande número de perturbações emocionais, como a depressão.

De acordo com a ANVISA (2010, p. 12) “medicamentos são produtos especiais elaborados com a finalidade de diagnosticar, prevenir, curar doenças ou aliviar seus sintomas, sendo produzidos com rigoroso controle técnico [...]”. A ação do medicamento “[...] se deve a uma ou mais substâncias ativas com propriedades terapêuticas reconhecidas cientificamente, que fazem parte da composição do produto, denominadas fármacos, drogas ou princípios ativos”. (ANVISA, 2010, p.12).

As primeiras referências ao uso de fármacos datam de 2.500 a.C. (BOEIRA, 2011). Sua origem vem do passado através das ervas e plantas e gorduras de animais. Ainda segundo Boeira (2011) não havia distinção entre medicina e farmácia, na antiguidade. Era a mesma profissão, que só foi alterado pelo aparecimento de diversas doenças, surgindo a necessidade de distinguir aqueles que faziam o diagnóstico da enfermidade, daqueles que retiravam as essências e as juntavam, originando frações de cura, nascendo assim os primeiros medicamentos. O precursor foi Galeno, reconhecido como o “pai da farmácia”. (BOEIRA, 2011).

A grande colaboração de Galeno, segundo Renovato (2008), foi a categorizar medicamentos, utilizando-os onde era preciso. Contudo, foi na idade média que teve início a utilização de medicamentos com receitas químicas desenvolvidas em laboratórios (BITENCOURT; CAPONI; MALUF, 2012).

Foi no decurso da 1ª Guerra Mundial, que se criou o tratamento antimicrobiano com progressos expressivos em quimioterapia, antibioticoterapia e imunoterapia (SOLLERO, 2007) levando ao aparecimento dos primeiros medicamentos anti-infecciosos nas décadas de 1930 e 1940.

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Embora o uso de medicamentos tivesse um avanço contínuo ao longo da história, foi somente após a Segunda Guerra Mundial que passou a ser o mais importante dispositivo tecnológico da saúde, onde o movimento de industrialização aliado ao progresso da ciência propiciou a síntese de novos medicamentos. Também nessa época se deu a confirmação da eficiência dos mesmos ao serem utilizadas ferramentas para tal. (RENOVATO, 2008).

Conforme Martin (2004), os fármacos contribuíram de modo expressivo para o desenvolvimento da saúde do individuo, na medida em que trouxeram melhorias ao tratamento das enfermidades.

Alves (2003) concorda com essa ideia ao abordar o quanto os medicamentos são relevantes na preservação da saúde, não apenas pelo seu fim de diminuição da dor, por descontinuar o processo de avanço da doença nos casos de enfermidades agudas e remissíveis, mas, também por possibilitarem uma melhor qualidade de vida àqueles acometidos de doenças crônicas, atrasando seus efeitos nocivos.

Os medicamentos podem ser classificados em três categorias, segundo a Lei nº 9.787, de 1999:

[...] XX – Medicamento Similar – aquele que contém o mesmo ou os mesmos princípios ativos, apresenta a mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica, preventiva ou diagnóstica, do medicamento de referência registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária, podendo diferir somente em características relativas ao tamanho e forma do produto, prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e veículos, devendo sempre ser identificado por nome comercial ou marca; XXI – Medicamento Genérico – medicamento similar a um produto de referência ou inovador, que se pretende ser com este intercambiável, geralmente produzido após a expiração ou renúncia da proteção patentária ou de outros direitos de exclusividade, comprovada a sua eficácia, segurança e qualidade, e designado pela DCB ou, na sua ausência, pela DCI;

XXII – Medicamento de Referência – produto inovador registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária e comercializado no País, cuja eficácia, segurança e qualidade foram comprovadas cientificamente junto ao órgão federal competente, por ocasião do registro [...] (BRASIL, 1999).

Segundo Moretto (2016), graças aos medicamentos, muitas doenças foram extintas, assim como diversas epidemias, que tiveram fim com a evolução dos medicamentos. Com o desenvolvimento de estudos sobre as substâncias,

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houve uma maior oferta de medicamentos para tratamento de doenças, elevando as chances de cura.

De modo abrangente, pode-se dizer que a diminuição dos índices de mortalidade em muito se deve aos medicamentos que propiciam um ganho de eficiência dos sistemas de saúde. Também, são responsáveis pela promoção da qualidade de vida e pelo prolongamento da mesma, tornando maior o número de pessoas que chegam à terceira idade, entretanto, é imprescindível que se busque o uso racional de medicamentos. (MARIA, 2007).

Apesar de haver a conscientização sobre o uso racional de medicamentos, o inglês Sir Richard J. Roberts é contundente em afirmar que “A indústria farmacêutica na realidade não quer curar ninguém, e por um motivo muito simples e direto: a cura é menos rentável que a doença”. Segue ao proferir sobre a indústria farmacêutica e medicamentos.

Se só pensarem em lucros, deixam de se preocupar com servir os seres humanos. Eu verifiquei a forma como, em alguns casos, os investigadores dependentes de fundos privados descobriram medicamentos muito eficazes que teriam acabado completamente com uma doença. Mas as empresas farmacêuticas muitas vezes não estão tão interessadas em curar as pessoas como em tirar-lhes dinheiro e, por isso, a investigação, de repente, é desviada para a descoberta de medicamentos que não curam totalmente, mas que tornam crónica a doença e fazem sentir uma melhoria que desaparece quando se deixa de tomar a medicação. (JORNAL FAROL [s/p])14.

Neste sentido é contunde em afirmar “medicamentos que curam não são rentáveis e, portanto, não são produzidos”. Segue ainda ao aludir sobre o remédio “O remédio serve apenas para remediar uma doença já instalada, não para curar e muito menos para prevenir doenças, já que muito pelo contrário, os efeitos colaterais dos remédios são os grandes vilões na formação de novas doenças”.

14

Reportagem realizada e publicada pelo Jornal O Farol que obteve como Fonte: El País e Hypeness via Portal Saúde. Reportagem esta realizada com o inglês Sir Richard J. Roberts. Vencedor do prêmio Nobel de medicina, o bioquímico e biólogo molecular O qual faz uma critica a indústria farmacêutica e segundo Roberts é este detém o progresso cientifico regida pelos princípios e valores do modelo capitalista; Reportagem publicada em: Data/Hora: 9.out.2019 - 8h 25 - Colunista: Cultura; Disponível em: http://www.jornalofarol.com.br/ver-noticia.asp?codigo=42102; Acesso em: 18/11/2019.

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Usar racionalmente os medicamentos significa propiciar aos pacientes os medicamentos eficientes, com qualidade e garantidos conforme a sua condição clínica, com doses adequadas às suas necessidades individuais e custo acessível. (PINTO, 2015). Isto é uma utilização ponderada e bem fundada a partir de conhecimentos, além de uma indicação cuidadosa. Conforme Fengler (2015), “Pensando na Prescrição” que esta seja “suficiente e nunca excessiva. Suficiente para produzir o efeito desejado com o menor número de medicamentos possíveis”.

3.2 SURGIMENTO DOS PSICOFÁRMACOS

Para compreender os efeitos que os medicamentos têm produzido na vida do ser humano, é preciso entender os psicofármacos e sua origem. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2001), a depressão será uns dos grandes problemas da atualidade, pois há um crescimento no diagnóstico sobre a depressão somada ao consumo de psicofármacos, entre eles os antidepressivos (como um dos psicofármacos mais usados).

Rodrigues (2003) afirma que “assiste atualmente a uma progressiva compreensão neuroquímica dos fenômenos psíquicos, em que todos os dias são criadas, novas patologias para as quais se busca uma solução medicamentosa”15

. Como mencionado anteriormente às doenças eram tratadas pelos povos da antiguidade, e a maioria das substancias usadas para curar eram de origem natural através de plantas ou animais. Portanto estudos demonstram que a introdução de psicofármacos se deu através dos transtornos mentais, sendo considerado pela medicina somente a partir do século XIX.

Segundo Birman (2017, p.258) o desenvolvimento da psicofarmacologia se deu a partir dos anos 50 com a “descoberta da clorpromazina que ofereceu à psiquiatria a perspectiva de construir uma legitimidade médica e cientifica ou seja tornando-se como base as praticas médicas e psiquiátricas” como este autor se refere. Portanto:

15

RODRIGUES, Joelson Tavares; A MEDICAÇÃO COMO ÚNICA RESPOSTA: UMA MIRAGEM DO CONTEMPORÂNEO; Psicologia em Estudo, Maringá, v. 8, n. 1, p. 13-22, jan./jun. 2003; Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v8n1/v8n1a03.pdf; Acessado em 03/12/2019.

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Com isso, a psiquiatria realizou seu sonho, perseguido desde o século XX, de ser uma especialidade médica, de fato e de direito. Além disso a psiquiatria ainda poderia se gabar de ter seus fundamentos no discurso rigoroso da ciência biológica. (BIRMAN, 2017 p.258)

Contudo segundo Rodrigues (2003) os psicofármacos se tornaram numa revolução para o tratamento daqueles que antes eram denominados de loucos e a medicação possibilitou a diminuição dos sintomas e sofrimentos, e na adaptação do sujeito ao mundo. Roudinesco:

A partir de 1950, as substancias químicas – ou psicotrópicos modificaram a paisagem da loucura, esvaziaram os manicômios e substituíram a camisa de força e os tratamentos de choque pela redoma medicamentosa. Embora não curem nenhuma doença mental ou nervosa, elas revolucionaram as representações do psiquismo, fabricando um novo homem, polido e sem humor, esgotado pela evitação de suas paixões, envergonhamento por não ser conforme ao ideal que lhe é proposto. (ROUDINESCO, 2000, p21).

Logo foi no ano de 1952, por Delay e Denicker, que se deu a criação da nova psicofarmacologia, com o lançamento da Clorpromazina. Segundo Bogochvol (1995), foi um dos acontecimentos mais importantes da contemporaneidade, afetando em princípio a terapêutica, o tratamento psiquiátrico e as neurociências e que influenciou o grupo das ciências, assim como a compreensão do homem acerca de si mesmo.

De lá para cá a psicofarmacoterapia vem evoluindo constantemente e, nesse sentido, pesquisadores se aproximam da compreensão cada vez mais assertiva da estrutura fisiopatogênica dos transtornos mentais e sua terapêutica, com base, fundamentalmente na teoria psicanalítica concebida por Freud e seguidores. A compreensão sob essa ótica veio sendo importante no decorrer deste século, culminando com os novos conhecimentos acerca da neurobiologia e o desenvolvimento da psiquiatria clínica.

Conforme Graeff e Guimarães (2001) os medicamentos psicotrópicos ou psicoativos, os quais tem o poder de modificar funções psicológicas, passaram a fazer parte do dia a dia das pessoas. Medicamentos antidepressivos são indicados não apenas para a depressão, mas também para outros acometimentos psiquiátricos, o que faz com que sejam os fármacos mais receitados na atualidade.

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Além disso, segundo Birman (2017, p.258), a descoberta de “psicofarmacos poderosos na regulação do sofrimento psíquico entreabriu a possibilidade do ocidente se relacionar com a dor mental de outra maneira”. Medicalização das variações de humor e do sofrimento psíquico tem aumentado de maneira vertiginosa e segundo este autor “com a produção de psicofarmacos cada vez mais diversificados”.

Em consequência, a utilização de psicofarmacos transcendeu em muito a pratica psiquiátrica, migrando então para o campo da clinica médica. Foi nesta, aliás, que a escala de utilização dos psicofarmacos se realizou de maneira massificada. Diante de qualquer angustia, tristeza ou outro desconforto psíquico, os clínicos passaram a prescrever, sem pestanejar, os psicofarmacos mágicos, isto é, os ansiolíticos e antidepressivos. A escuta da existência e da historia dos enfermos foi sendo progressivamente descartada e até mesmo, no limite, silenciada. Enfim, por essa via tecnológica, a população passou a ser ativamente medicalizada, numa escala sem precedentes. (BIRMAN, 2017, p.259).

Sem duvida que a psicofarmacologia forneceu informações e ferramentas científicas, essenciais para o desenvolvimento da indústria das drogas com a colaboração da pesquisa biológica no campo das neurociências. Conforme Dal Pizzol (2006) o psicofármaco pode ser caracterizado como uma droga de abuso, na medida em que ocasiona problemas como os provocados pelas drogas de utilização ilícita, tais como dependência, síndrome da abstinência e transtornos do comportamento. Roudinesco:

No entanto a força de acreditar no poder de suas poções, a psicofarmacologia acabou perdendo parte de seu prestigio, a despeito de sua impressionante eficácia. Na verdade, ela encerrou o sujeito numa alienação ao pretender curá-lo da própria essência da condição humana. Por isso através de suas ilusões, alimentou um novo irracionalismo. É que, quanto mais se promete o fim do sofrimento psíquico através da ingestão de pílulas, que nunca fazem mais do que suspender sintomas e transformar uma personalidade, mais o sujeito, decepcionado, volta-se em seguida para o tratamento corporais ou mágicos. (ROUDINESCO, 2000, p22).

No entanto consumir indevidamente medicamentos, no geral, os psicotrópicos especificamente, configura uma grande problemática para a saúde. Neste sentido algumas classificações consideram os psicofármacos como “drogas licitas”, classificação esta que veremos a seguir.

Referências

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