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Formação docente e a promoção do ensino da arte na educação básica

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XlV.

FORMAÇÃO DOCENTE

E A PROMOÇÃO

DO

ENSINO

DAARTE NA EDUCAÇÃO

BÁSICA

LEANDRA FERNANDES DO NASCIMENTO

RESUMO:

O Ensino da Arte com caráter obrigatório é recente e se deu a partir da LDBEN 9394/96, e apesar de ter quase duas décadas ainda é um campo epistemológico que gera discussões e polêmico quando as suas proposições. E foi observado essa realidade que surge o artigo, o qual tem por objetivo salientar a importância da formação docente para uma promoção qualificada da disciplina no âmbito escola. Para tal efeito pes-quisou-se nove professores que ministram a disciplina no Ensino Médio da rede pública do estado do Ceará, aplicando uma pesquisa qualitativa, realizando Grupo Focal para a obtenção das informações. Desse modo, durante a pesquisa conheceu uma realidade adversa quanto a sua oferta e promoção e com um perfil docente aquém as reais demandas da disciplina. Palavras-Chave: Formação Docente. Ensino da Arte. Ensino Médio.

INTRODUÇÃO

A LDBEN 9394 de 1996 deu caráter obrigatório ao Ensino da Arte na escola básica, a qual teve que se ajustar para inserir no seu currículo a disciplina, entretanto os pré-conceitos ainda são muitos, os quais vêm atrapalhando a evolução da disciplina na escola. Muitos profissionais que fazem a escola ainda não a ver como uma disciplina que possui um corpo teórico-prático como as demais disciplinas, repercutindo inclusive no des-caso acerca do perfil do professor que a ministra.

(2)

E por conta dessa observação surgiu o interesse em pesquisar e assim registrar quem se encontra desenvolvendo a disciplina de Arte na escola cearense, recortando o Ensino Médio, última etapa da Educação Básica, contando com a participação, de nove professores. Em outras palavras, o presente artigo tem o propósito de discorrer acerca da Formação dos professores de Arte e seus desdobramentos para um ensino de qualidade. Desse modo, saber qual a Formação Inicial e se a formação influencia no encaminhamento da disciplina.

Os resultados aqui apresentados representam um copilamento das falas dos professores participantes do Grupo Focal aplicado como recur-so metodológico. Tal procedimento metodológico consiste em reunir em grupo para debaterem em torno de uma temática, tendo o pesquisador um roteiro de intervenções para instigar o debate no interior das seções dos Grupos Focais A e B. Caracterizando-se como uma conversar sobre certo assunto por participantes que tem afinidade com ele (GATTI, 2005; MONGAN,1997).

O presente artigo está dividido em três partes. Na primeira parte, portanto, se apresenta os principais pressupostos teóricos referentes

à

For -mação e Saberes Docentes; em seguida, a luz da literatura sobre o Ensino da Arte aponta-se algumas reflexões sobre ser professor de Arte; e, por fim, destaca-se as principais declarações dos participantes acerca da temática em estudo - Formação Docente e Ensino da Arte.

Assim, pretende contribuir com o campo teórico acerca do ensino da Arte, destacando uma outra dimensão de sua natureza - a Formação Docente, e, desse modo, sensibilizar para a necessidade de olhar o que se encontra sendo agregado

à

disciplina, especialmente, no Ensino Médio, outra etapa pouco considerada em pesquisas sobre a Educação Básica.

(3)

1

ASPECTOS

INTRODUTÓRIOS

ACERCA

DA

FORMAÇÃO DE PROFESSORES

A atividade docente é complexa e exige uma reflexão sobre a prá-tica. O professor deve ser levado a confrontar seus saberes iniciais com as suas vivencias práticas. Este é um processo continuo de reflexão na e sobre a prática.

Schõn

(2000) denominou de epistemologia da prática, isto é, uma valorização da prática profissional como momento de construção de conhecimento, através da reflexão, análise e problematizarão desta, e o reconhecimento do conhecimento tácito, presente nas soluções que os profissionais encontram em ato (PIMENTA, 2002).

Schôn (2000) traz a concepção de professor reflexivo. Ideia que bus-ca a articulação entre ação investigativa, atuação profissional e ação for-mativa de professores, embora autores como Zeichner (1992), considere seu enfoque reducionista e limitante por ignorar o contexto educacional e pressupor a prática reflexiva de modo individual.

Zeichner (1998

apud

PIMENTA, 1998) ressalta ainda a importân-cia de preparar professores que assumam uma atitude reflexiva em relação ao seu ensino e as condições sociais que o influenciam. Para o autor (1992, p. 126): "os formadores de professores têm obrigação de ajudar os futuros professores a interiorizarem durante a formação inicial, a disposição e a capacidade de estudar a maneira como ensinam".

O exercício da profissão docente pressupõe o domínio de saberes que fundamentem a prática educativa e que servem de base para o proces-so de ensino/aprendizagem. E o que vem a ser saber? Para Fiorentini

et ai

(1998), os textos em educação usam os termos "conhecimento" e "saber" sem distinção de significado. Para o autor:

,[...] o "conhecimento" aproximar-se-ia mais com a produção científica sistematizada [...] já o saber representaria um modo de conhecer/saber mais dinâmico, menos sistematizado e mais articulado

(4)

a outras formas de saber e fazer relativos a prática não possuindo normas rígidas formais de validação (FIORENTINI, 1998,

p.

312).

Shulman (1986

apud

FI0RENTINI

et ai,

1998) não utiliza o ter-mo saber docente e sim, conhecimento do professor, e o distingue em três categorias: conhecimento da matéria a ser ensinada, conhecimento pedagógico, sobretudo aquele relacionado

à

matéria, e conhecimento cur-ricular. Chama atenção para aspectos fundamentais da formação teórica do professor. Para o autor, o domínio do conteúdo e fundamental para que o professor tenha autonomia intelectual para produzir seu próprio currículo, constituindo-se efetivamente como mediador entre o conhecimento histo-ricamente produzido e aquele, o escolar reelaborado e relevante sociocul-turalmente, a ser apropriado/construído pelos alunos.

Tardif (2002) apresenta os saberes docentes da seguinte maneira: saberes da formação profissional (das ciências da educação e da ideologia pedagógica), onde estariam incluídos os saberes pedagógicos; saberes dis-ciplinares; saberes curriculares e saberes experienciais ou práticos. O autor define os saberes profissionais como o conjunto de saberes transmitidos pelas instituições de formação de professores (escolas normais ou faculda-des de ciências da educação).

Os saberes pedagógicos apresentam-se como doutrinas ou concep-ções provenientes de reflexões sobre a prática educativa no sentido amplo do termo, reflexões racionais e normativas que conduzem a sistemas mais ou menos coerentes de representação e de orientação da atividade educati-va. Sobre os saberes disciplinares, afirma que são saberes sociais, definidos e selecionados pela instituição universitária, emergem da tradição cultural e dos grupos sociais produtores de saberes. Já os saberes curriculares, na visão do autor, apresentam-se concretamente sob a forma de programas escolares (objetivos, conteúdos, métodos) que os professores devem aprender e apli-car. Define os saberes experienciais ou práticos como saberes específicos desenvolvidos pelos professores no exercício de suas funções e na prática

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de sua profissão, brotam da experiência e são por ela validados. Defende que o saber docente e plural, temporal e social, "formado pelo amalgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais" (TARDIF, 2002, p.36).

Pimenta (1998) organiza os saberes docentes em: saberes do co-nhecimento específico, pedagógicos e experienciais. Para a autora, o co-nhecimento não deve se reduzir a informação, pois conhecer implica em trabalhar com as informações e estar consciente do poder do conhecimen-to para a produção da vida material, social e existencial da humanidade. Ainda afirma que existe um reconhecimento de que para saber ensinar não bastam os conhecimentos específicos e experiência, são necessários os sabe-res pedagógicos e didáticos. Esses saberes são construídos no fazer docente, pois "os saberes sobre educação e sobre a pedagogia não geram os saberes pedagógicos, estes só se constituem com base na prática que os confronta e os reelabora" (PIMENTA, 1998, p.171).

Freire (2006), ao falar dos saberes necessários a prática educativa, permite-nos identificar, pela leitura de sua obra, uma classificação de sa -beres muito próxima a de Pimenta (1998), (saberes do conhecimento,

saberes pedagógicos e saberes da experiência), no entanto, o autor fala, ainda, a respeito dos saberes sociais. Para Freire (2006), o professor, como ser profissional e ser situado histórico-culturalmente, produz uma prática pedagógica que pode tornar-se cada vez mais rica e significativa, se fo-rem considerados saberes que dizem respeito a ações pedagógicas coerentes com uma opção político-pedagógica democrática.

Para Saviani (1996), os saberes que entram na formação do futuro professor são determinados pela educação, destacando: saber atitudinal,

crítico-contextual, específico, pedagógico e didático-curricular. O saber atitudinal compreende o domínio dos comportamentos e vivências con-sideradas adequadas ao trabalho educativo, tais como disciplina, pontuali-dade, coerência, clareza, respeito

à

pessoa do educando, etc. O crítico-con -textual e o saber relativo

à

compreensão das condições sócio-históricas que

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determinam a tarefa educativa. Os saberes correspondentes às disciplinas em que se recorta o conhecimento socialmente produzido e que integram os currículos escolares constituem os saberes específicos. No saber pedagó-gico incluem-se os conhecimentos produzidos pelas ciências da educação e sintetizados nas teorias educa'donais, visando a articular os fundamentos da educação com as orientações que se imprimem no trabalho educati-vo. O saber didático-curricular compreende os conhecimentos relativos às formas de organização e realização da atividade educativa no âmbito da relação educador-educando. E o domínio do saber-fazer.

Os estudos de Tardif (2002) revelam ainda que os professores desta-cam a sua experiência na profissão como fonte primeira de sua competên-cia, de seu saber ensinar. Assim, não correspondem, ou pelo menos muito pouco, aos conhecimentos teóricos obtidos na universidade e produzidos pela pesquisa na área da Educação: "para os professores de profissão, a ex-periência de trabalho parece ser a fonte privilegiada de seu saber ensinar." (TARDIF, 2002, p.60).

Para o autor, a experiência:

filtra e seleciona os outros saberes, permitindo as-sim, aos professores reverem seus saberes, julgá-los e avaliá-los e, portanto, objetiva um saber formado de todos os saberes retraduzidos e submetidos ao pro-cesso de validação constituído pela prática cotidiana (TARDIF, 2002,

p.

53).

Nesse sentido, os saberes experienciais surgem como núcleo vital do saber docente, a partir do qual os professores tentam transformar suas relações de exterioridade com os saberes em relações de interioridade com a sua própria prática.

Os professores tendem a valorizar os saberes produzidos ao longo de sua prática educativa, pelo fato de se originarem da prática cotidiana da profissão, e os tomam como referencial tanto para avaliar sua

(7)

com-petência ou desenvolvimento profissional como para aceitar ou produzir informações. E através deles que julgam sua formação anterior e ao longo da carreira.

No entanto, o quê se observa é um distanciamento entre os saberes praticados/produzidos na academia e aqueles praticados/produzidos pelos professores que parece residir na relação que estabelecem com esses saberes.

2 - PROFESSOR DE ARTE. QUEM?

Segundo Ferraz e Fusari (2001) a educação escolar é influenciada por muitos determinantes sociais, históricos e, ao mesmo tempo, é capaz de influenciã-los, de intervir para que mudem, se transformem e melho-rem socialmente (concepção realista).

O professor também é uma figura emblemática nesse cenário educa-cional revisando seu papel social. Hoje, por decorrência de uma legislação educacional própria, está estabelecido que para ser professor necessita-se de formação e que seja superior, mas como foi mencionado, bastava ser uma pessoa moralmente apta para poder prestar a docência.

Veiga (2010) traz a discussão vigente acerca do papel do professor, onde ele deveria ser um tecnólogo do ensino, um técnico de formação su-perior; ou, um agente social, extrapolando suas ações as paredes da sala de aula ainda que indiretamente.

Embora o debate se apresente paralelo acerca do papel da escola e do papel do professor, eles se cruzam no momento de analisar suas ações voltadas para a aprendizagem do aluno, que deveria se o foco, mas, que se perde diante de tanta exigência.

A discussão em torno da necessidade e das possi-bilidades de mudanças nas propostas e práticas pe-dagógicas atualmente existentes nas escolas é fun-damentalmente política. Toda seleção e organização

(8)

de conteúdos curriculares e metodologiasde ensino obedecea princípiosfilosófico-políticosque e rnba-sam asdiversasconcepções de educação, do papel

social da escola e dos objetivos da escolarização

(OLIVEIRA, 2010, p.133).

Lima (2001) lembra que a formação também acontece no próprio fazer profissional, assim em movimento ou continuum, resgatando a dis-cussão outrora travada sobre a teoria e a prática, aqui que verifica a unida-de, fazendo da sua prática pedagógica um momento de mediação para a construção de novos saberes e porque não dizer de formação.

Portanto, nesse contexto, o professor de Arte deveria ser alguém que passou por um curso de graduação que o habilitasse para a promoção do ensino da Arte. De modo a oportunizar a realização dessa necessidade, portanto, preocupadas em oferecer a formação em Arte, estão as seguintes

instituições' no ceará: UECE com o curso de Música desde 1980, IFCE com Artes Cênicas e Artes Plásticas desde 2002 e a UFC com o Instituto de Cultura e Arte - ICA oferecendo os cursos de Artes Cênicas, música, e dança desde 2010.

Eisner (1999) entende que o papel do professor deve agir de forma

ativa e exigente, e não simplesmente um fornecedor de materiais e um apoio emocional. Nesse sentido, Ferraz e Fusari (2001) entendem que o professor de Arte é um dos responsáveis pelo sucesso desse processo trans -formador, ao ajudar aos alunos a melhorarem suas sensibilidades e saberes práticos eteóricos em arte.

...o professor de arte tendo domínio de suaárea,

poderá detectar os conteúdos fundamentais de arte

que, de fato, contribuam para aformação de seus alunos. Os conteúdos escolares serão selecionados,

I Informações coletadas nossitesdasIESnaseção daPró-Reitoria de Graduação -www.ufc.br, www.ifce.edu.

(9)

portanto, a partir do conhecimento de arte, em seus aspectos universais, e das necessidades e direitos que todos os cidadãos têm de acesso, pelo menos ao que é básico dessas noções (FERRAZ; FUSARI, 2001, p.55).

Ferraz e Fusari (1999) afirmam que o professor de Arte precisa en-contrar condições de aperfeiçoar-se continuadamente, tanto em saberes artísticos e sua história, quanto em saberes sobre a organização e o desen-volvimento do trabalho de educação escolar em arte. Ele é o mediador de conhecimentos em arte durante os cursos, e articulado r das vivências dos estudantes com os novos saberes a serem aprendidos.' Para as autoras os professores de Arte, são:

... os profissionais situados em um contexto sócio-cultural e sujeitos responsáveis pelo processo prático e teórico da educação escolar em arte. Incorporam uma história individual e social tanto em saber arte quanto saber educação em arte. Apresentam com-promissos, necessidades e possibilidades de melho-ria - e de avaliação - de suas práticas e teomelho-rias sobre arte e também sobre educação escolar em arte junto aos alunos (FERRAZ; FUSARI, 1999, p.102).

Na escola, os objetivos educacionais em arte a serem alcançados de-veriam se referir ao aperfeiçoamento de saberes, pelos alunos (com a ajuda dos professores), sobre o fazer e o pensar artísticos e estéticos, bem como sobre a história dos mesmos.

Portanto, faz-se necessário urgentemente que o professor de Arte defina seu papel no interior da escola, da sua sala de aula, para que o ensino da Arte possa ser promovido a contento. E desse modo, estimular o aluno, figura indispensável no processo de ensino/aprendizagem, e que se encon-tra esquecido nas discussões acerca da sua vida escolar.

(10)

É

lógico que o professor não é o único responsável por tal promo-ção, a escola e as secretarias precisam também rever o que estão fazendo de concreto pela disciplina no Ensino Médio, que é o foco dessa pesquisa. Definir as garantias de acesso aos conhecimentos da Arte, de modo a con-tribuir com a formação efetiva'do cidadão brasileiro. E assim, redefinir as políticas públicas para o ensino da Arte na Educação Básica, e no caso da pesquisa, no Ensino Médio.

3 - O PROFESSOR DE ARTE NA EDUCAÇAo

BÁSICA. E A

FORMAÇAO?

Essa seção vem nos apresentar a realidade vivenciada na disciplina Arte na escola pública cearense, sob a ótica dos professores que encontram a frente da disciplina em estudo. Desse modo, um dos principais resultados verificados durante a pesquisa foi que os professores que se encontram a frente da disciplina Arte não se identificam como tal, afirmando sempre que possível serem professores de Português ou Educação Física, pois para o sistema de ensino estadual ela nem existe, se considerarmos o momento de locação do professor para a disciplina de Arte, sendo vista como possi-bilidade de complementação a carga horária, o que fora apresentado acerca da prioridade de disciplina para a lotação (ver detalhe em 3.1).

GA -Éassim... como somos professores de Língua Por-tuguesa é... eu vejo assim... que a escola lhe cede as aulas de Arte como complemento de carga horária, né?

GB - A disciplina de Arte émuito mais ampla, muito mais complexa, que esseobjetivo da nossa escola, por-que não temos osprofissionais específicos pra disciplina. A partir do momento que aparecer um profissional na

nossa instituição de ensino a disciplina vai começar a ser visto com outros olhos, porque vão ser trabalhado conteúdos. Ele vai trabalhar o planejamento. Aí,

(11)

en-quanto não aparece... como não tem... cada um puxa

pra sua disciplina de formação. Aí, deixa a disciplina

deArte em segunda opção.

Segundo os professores o objetivo da disciplina na escola é comple-tar a carga horária dos professores das demais disciplinas da Área de

conhe-cimento - Linguagem, Códigos e suas Tecnologias, consequentemente, a

disciplina de Arte é desprestigiada, sendo realizada na sombra das outras disciplinas - Língua Portuguesa e Educação Física, nesse caso, ficando, por-tanto, refém da formação dos professores que a ministram.

Acerca disso, os participantes dos grupos focais revelaram que mui-tas vezes recorrem

à

disciplina de sua formação para poder desenvolver! encaminhar a aula de Arte no Ensino Médio.

E que a existência de um professor de Arte traria para a disciplina uma dinâmica própria.

GA - Quando agente sabe, que agente gosta, claro que vai sair bem melhor, seagente não souber. Que...

agente vai levando nascoxas,né?Fulano... vai usando o Primeiro, Aprender! mesmo,porque éo recurso que se

tem. Então [silencio] eu vejo assim.

GB - Até pra nos... que exercemos a disciplina é difícil tem que correratrás de tudo. Falta alguma coisa.Mas,

pra quem tá na áreaébem maisfácil saberque conte ú-dovou trabalhar ali.

Assim, se atentarmos as suas falas podemos perceber que os grupos de professores participantes se autodenominam como "exercendo a disci-plinà' ou "ministrando a disciplina", não se considerando professores da disciplina.

Acreditam que um professor habilitado para o ensino da Arte fa-ria toda a diferença, pois com conhecimentos próprios da disciplina

(12)

rea-... o professor de arte tendo domínio de sua área,

poderá detectar os conteúdos fundamentais de arte

que, de fato, contribuam para a formação de seus

alunos. Os conteúdos escolares seráo selecionados,

portanto, a partir do conhecimento de arte, em seus

aspectos universais, e das necessidades e direitos que

todos os cidadãos têm de acesso, pelo menos ao que

ébásico dessas noções (FERRAZ; FUSARl, 2001,

p.55).

lizariam de maneira segura e com qualidade tal ensino. Segundo Ferraz e

Fusari (2001) o professor de Arte tem a possibilidade de contribuir para a

preparação de indivíduos que percebam melhor o mundo em que vivem,

saibam cornpreendê-lo e nele possam atuar, nesse sentido, um professor

específico para a Arte tem a possibilidade de contribuir bastante para o

processo ensino/aprendizagem desenvolvendo uma prática pedagógica

consciente.

Nesse sentido, um professor específico, para uma dada disciplina,

favoreceria seu desenvolvimento, de modo, a acontecer de maneira

sin-gular, o que não acontece hoje, onde todos os professores participantes da

pesquisa dividem sua atenção com a Arte e Língua Portuguesa ou

Educa-ção Física.Vale salientar que existem especificidades próprias para o ensino

da Arte, sobre isso:

GA - Eu não gosto não. (risos) Falando sério.Sabe por quê? Eu acho que deveria ter uma acompanhamento. Pra uma pessoa dessa dar uma disciplina dessa... con

-cordo que é importante. Mal, ficopensando que eu não

tenho preparação, nós.Podia ser muito mais rico...

GB - Hoje estamos ministrando a disciplina de arte,

mas assim...pra tá em sala de aula estamos estudando por fora muito pra estarmos ministrando. Por que ou

(13)

você estuda pra repassar os conteúdos ou você vai tá levando pra sua área. Toda aula de arte vai tá sempre puxando pra Literatura? Ou toda minha aula de Arte vou tá puxando pela Educação Física?Oque acontece? Estamos estudando muito pra poder ministrar a disci

-plina, e muitas vezes a gente ver que falta algo pra ser uma aula completa realmente.

Caso houvesse essa formação o professor poderia fazer da sua prá

-tica pedagógica um momento singular e rico de intervenção do processo ensino/aprendizagem.

Na docência, mais que em outros trabalhos, utili

-zam-se e integram-se os diversos conhecimentos so

-ciais e culturais que o mestre possui como pessoa, além de sua formação profissional. [...] este, como sujeito, se encontra em uma situação objetiva que o obriga a lançar mão de todos os recursos possíveis, técnicos e pessoais, intelectuais e afetivos para poder seguir perante o grupo (ROCKWELL e MERCA

-DO, 1986, p. 69).

Segundo os grupos ser um bom professor de Arte entre outras coi

-sas, demanda possuir formação inicial específica para a disciplina, além de criatividade, sensibilidade, envolvimento com a arte, paciência, organiza

-ção e que estimule o aluno. Sendo assim, para ser um bom professor de Arte faz-se necessário nas palavras dos professores participantes dos Gru-pos Focais:

GA - Ter paciência ... aí lá vai a política pedagógica: ter domínio de sala, né? [GA -É.} Ter compromisso, dar conta dorecado (risos) saber o conteúdo, dominar a disciplina, né? [GA - Do conteúdo lecionado} (silêncio) Saber se impor estabelecendo regras... se não ...

(14)

GB -Tem que ter boacapacitação. Conhecimento sobre o que éa Arte. Conhecimento de Arte de modo geral. Então, pra ser professor tem que terdomínio.

GB.,.Tem que ser criativo, ter paciência. Tem que ter organização, planejamento ...

o

que segundo eles, não possuem. Nesse contexto, não se veem como professores de Arte, mas como professor que ministra a disciplina e que têm muito que apreender.

Nesse sentido, Ferraz e Fusari (1999) destacam que os estudantes têm o direito de contar com professores que estudem e saiba arte vinculada

à

vida pessoal, regional, nacional e internacional. Ao mesmo tempo, o pro-fessor de Arte precisa sabero alcance de sua ação profissional, ou seja, saber que pode concorrer para que seus alunos também elaborem uma cultura estética e artística que expresse com clareza a suavida na sociedade.

Sobre isso Masetto (2010) lembra ainda que se faz necessário uma mediação pedagógica, a qual diz respeito a uma atitude, a um comporta-mento do professor de se colocar como facilitador e incentivador ou mo-tivador da aprendizagem, que se apresenta como a disposição de ser uma ponte entre o aprendiz e sua aprendizagem.

Faz-nos pensar que além da questão do conhecimento científico na área da Arte, teria também a questão do conhecimento corporal para pro-mover uma dada disciplina, de modo que o professor deve se sentir a von-tade para poder criar situações de aprendizagem para seus alunos. Nesse

sentido, vale destacar Pimenta (2009), quando afirma que,

o

saber pedagógico é o saber que o professor cons-trói no cotidiano de seu trabalho e que fundamenta sua ação docente, ou seja, é o saber que possibilita ao professor interagir com seus alunos (PIMENTA, 2009, p.43).

(15)

E como construir um saber pedagógico em Arte se um professor é responsável por duas disciplinas? Em nossa compreensão o que falta para a fixação de uma prática pedagógica consciente é a definição do objetivo da disciplina pela escola - no currículo, articulando os discursos em um único discurso que promova o crescimento e autonomia do ensino da Arte no Ensino Médio. Isso significa que os professores e gestores da escola devem ter em mente o objetivo da disciplina no currículo, para que a par-tir daí possam pensar juntos uma maneira diferente do apresentado nessa pesquisa. Em outras palavras, possam rever seu planejamento, execução e avaliação da disciplina Arte.

Na esfera governamental faz-se necessário um esforço particular para a promoção efetiva do ensino da Arte nas escolas de Ensino Médio regular do Ceará, oferecendo políticas públicas voltadas para a qualificação dos professores que estão ministrando a disciplina ou que venham estar.

3.1 - A Arte no Ensino Médio e a Gestão

Diante do cenário desvelado sobre a Formação dos professores de Arte, existe um questionamento secundário, porém não menos importante de saber -como acontece a inserção desses professores, apesar da justificati-va da complementação da carga horária? Em outras palavras, preocupou-se em saber como chegaram

à

disciplina de Arte, uma vez que não são profes-sores habilitados para a disciplina de Arte, isto é, não possuem formação inicial e nem continuada para o exercício da docência nessa disciplina.

E acerca desse fato afirmaram que a gestão não tem muita escolha, já que precisa montar a equipe que desenvolverá o currículo escolar durante o ano. Em suas palavras:

(16)

GB -

o

diretor àsvezes não tem outra opção, coloca

Educação Física, Português... Linguagens e códigos,

que sejapróximo a isso (disciplina de Arte). E às vezes

até dificulta o trabalho da pessoa inexperiente e às vezes

chegdpra dar aula de Arte que já é complicado que é

só o Primeiro, Aprender! e não é essas coisas todas

ma-ravilhosa. E você tem que ser bom mesmo, correr atrás.

Além da proximidade das disciplinas, pois fazem parte da área de

conhecimento Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, os professores são

atraídos pela oportunidade de completar sua carga horária dentro da

mes-ma escola.

GB - Tem Arte? Tem como você lecionar não?

GB -A questão da carga horária ... me colocaram pra

suprir, pra preencher a carga horária dando Arte, ou

outra disciplina, mas não é valorizado não. Ésó pra...

começapor aí ... (risos).

Existindo um mecanismo de credenciamento dos professores nas

CREDEs, denominada de artigo 4°, o qual regulamentaria ação de

profes-sores não habilitados em determinada disciplina poder lecioná-Ia, já que

faria parte da mesma área de conhecimento, e atenderia a urgência de

pro-fessores em determinadas disciplinas da rede de ensino.

GB - Vocêescolhe logo no início do ano, naseleção

ar-tigo 4°, decide se vocêquer ou não seguirArte,

pre-determinado como primeira opção ou segunda opção...

aí depende.

Nesse sentido, o professor procura a CREDE se cadastra no banco

de reserva da Área e escolhe em ordem de prioridade as disciplinas que

(17)

De acordo com os participantes da pesquisa a disciplina de Arte não é prioridade nas discussões no interior da escola, sendo utilizada para completar a carga horária do professor da área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias.

GA - Eu também acho que também não é visto

as-sim pelos maiores (gestores) como sendo um foco, como sendo algo principal não. É sempre vista em segundo plano. Como sefosse pra completar carga horária, como sefosse ... né? Assim, não se dão importância devida. GB - Ela (a escola)põe a disciplina sópra completa o ho-rário no primeiro ano. Tanto que no ano passadofoi colo-cadopro segundo ano efoi a maior dificuldade. [GB - di-ficit} não tinha recursoe teve que botar outros conteúdos.

São condições que refletem no processo de ensino/aprendizagem.

Assim, o professor não enxerga a possibilidade de minimamente

desenvol-ver um trabalho adequado, pois não possui formação apropriada.

Princi-palmente, porque não há assistência do corpo gestor.

GA - Pra gente não tem, né? Mas um acompanhamen-to junacompanhamen-to com a gente de algum profissional, né? Pra tá dizendo: olha isso aqui. Faça isso aqui. Isso aqui pode ser que tenha um bom resultado. Realmente a gente não tem esseacompanhamento não. A gente é tudo sol-to. Todo mundo solto. Cada um foz o seu [silêncio). GB - Mas é assim, geralmente, eles (Gestores da Escola) deixam por conta do professor. Eles não querem ajudar.

Segundo Schlemenson (1990) a organização e seu funcionamento

têm de ser analisados com base nas dimensões éticas que

(18)

construção de teorias e o resultado da investigação serão completamente

inúteis, e, inclusive, poderão ser mesmo prejudiciais caso todas as

desco-bertas da ciência sejam colocadas ao serviço da opressão, da injustiça, da manipulação e da prepotência (GUERRA, 2002).

CONSIDERAÇÓES FINAIS

Diante das concepções apresentadas a Formação dos professores da disciplina de Arte no Ensino Médio acaba por acontecer no interior da escola, uma vez que por não possuírem Formação inicial, o que lhes restam é os demais saberes, e o bom senso durante o trabalho docente. Tendo sua prática pedagógica vinculada ao material Primeiro, Aprender! distribuído pela Secretaria de Educação do Ceará - SEDUC.

Além da falta de Formação Inicial, o professor continua sua qualifi-cação sem o devido apoio institucional, assim, sua Formação acontece aos fins de semana ou no período das férias. Ser um professor de qualidade não énada fácil, requer disposição, já que se realiza no movimento contrário da corrente.

E para uma superação da realidade da disciplina e de seus profes-sores seria preciso - tempo para estudar, de tempo na escola para planejar as aulas, de acompanhamento pedagógico, de cursos de qualificação para os professores que já estão ministrando a disciplina, e principalmente, a locação de professores especializados para a Arte na Educação Básica. Pois, apesquisa apontou que a qualidade do ensino dessa disciplina, se encontra estreitamente vinculada a Formação do professor por ela responsável.

Dessa forma, as condições em que os professores estão sendo inseri-dos na sala de aula e ministrando a disciplina de Arte precisam ser urgen-temente analisadas, pois a formação de professores reflexivos compreende um projeto emancipatório humano. Todas essas questões permeiam a for-mação dos professores e a construção dos saberes docentes, repercutindo, portanto, nas práticas pedagógicas.

(19)

Se considerarmos o espaço da escola e seu papel social, vai demandar do professor de Arte qualificação (no mínimo Formação Inicial), tornan-do-o capaz de promover o processo de ensino/aprendizagem de qualidade, visto que este requer saberes distintos (TARDIF, 2002). E, nesse sentido, faz-se necessário um profissional habilitado para o ensino da Arte, a qual possui objetivos e conteúdos específicos.

REFERÊNCIA

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ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006. (coleção leitura).

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Referências

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