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A formação de professores do primeiro ciclo do ensino secundário em Angola : o caso do Instituto Garcia Neto (1975-2009)

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Celestina Silepo

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Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em História e Educação sob a orientação do Prof. Doutor Luís Antunes Grosso Correia

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Celestina Silepo

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(1975-2009).

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em História e Educação sob a rientação do Prof. Doutor Luís Antunes Grosso Correia

F A C U L D A D E D E L E T R A S U N I V E R S I D A D E D O P O R T O

2011

ROFESSORES DO

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ARCIA

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À memória de minha filha Nataniela Isidora Silepo Paquisse. À memória de meu pai Celestino Seculuma.

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Agradecimentos

Este projecto de pesquisa não teria sido elaborado sem a colaboração e orientação do Professor Doutor Luís Grosso Correia, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. A sua dedicação e encorajamento ensinaram-me que a organização, o rigor e o trabalho contínuo são fundamentais na investigação científica, às quais devo profundo reconhecimento e gratidão. Aos meus professores de mestrado, os Doutores Maria José Moutinho Santos e Luís Alberto Marques Alves, por me terem ajudado a adquirir novos saberes e, sobretudo, a nunca deixar de questionar aquilo que desconheço.

Aos meus colegas de mestrado, pelos vários momentos que passamos juntos e por todo conhecimento que partilharam comigo.

Ao Ministério da Educação de Angola, em especial a todos que trabalham para as áreas da Direcção Nacional de Formação de Quadros e Gabinete Jurídico, pela obtenção de documentos que garantiram a fiabilidade dos dados apresentados.

A direcção da escola de formação de professores do II ciclo do ensino secundário nº 3031, antigo Instituto Garcia Neto, particularmente na pessoa do seu director, o Dr. Álvaro Aldemiro, pelo apoio prestado durante a recolha de material que serviu de base ao presente estudo.

A todas as pessoas que directa ou indirecta contribuíram para a efectivação desse trabalho de pesquisa o meu reconhecimento.

A todas as pessoas que dão significado à minha vida e que nos momentos mais difíceis estiveram sempre ao meu lado, dando-me força e coragem, muito embora, naquelas horas sublimes em que precisavam do meu afecto e carinho, não estivesse disponível para atendê-las: minha mãe Valentina Nanganjo, minha filha Belizaria Celestina Silepo Paquisse Canivete e minha neta Nataniela Silepo Paquisse Canivete.

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RESUMO

O presente trabalho versa a temática da cultura organizacional escolar numa perspectiva da história da educação. Toma por objecto de estudo a formação de professores em Angola, especificamente com o caso do Instituto Garcia Neto, em Luanda, no período histórico de 1975 a 2009. O estudo da formação de professores consistiu na análise dos currículos da formação de professores do 1º ciclo do ensino secundário de maneira a contribuir para o desenvolvimento da pessoa do professor e a sua integração social, de maneira a caracterizar a situação do Instituto Normal Garcia Neto, no que se refere aos perfis de entrada e de saída dos seus formandos, analisando os mecanismos utilizados durante a preparação do processo de ensino-aprendizagem. Ainda visou-se comparar os dados quantitativos da formação de professores do IGN no período de 1978 a 2009, constatar a organização do processo docente educativo do Instituto e analisar a participação dos alunos no cumprimento dos planos curriculares.

O universo documental deste trabalho de investigação foi recolhido no Instituto Normal Garcia Neto, situado na rua Albano Machado nº 82 em Luanda, Ministério da Educação de Angola, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, na Universidade de Coimbra e Museu do Forte de Peniche.

A metodologia da investigação assentou na análise documental, entrevista a alguns directores, professores e alunos do Instituto e na análise sociográfica de gerações de alunos admitidos Palavras-chave: Angola, Formação de Professores, Profissão Docente, Instituto Garcia Neto.

ABSTRACT

This work studies the subject of the school organizational culture in a historical perspective. It analyses the teacher training in Angola, specifically the case of the Garcia Neto Institute (IGN), in Luanda, in the period from 1975 to 2009. This study will examine the curricula of teacher education of the 1st cycle of secondary education, offered by the in IGN, in order to contribute to the development of the individual teacher and social integration. Our units of analysis will deal with the profiles of input and output of the graduates, examining the mechanisms, the curricula and the students profiles of IGN’s initial teacher training course, from 1978 to 2009. The documental corpus of this research was collected at the IGN archive, the Angola's Ministry of Education, the Portuguese National Archives (Torre do Tombo), the University of Coimbra and Museum of the Fort of Peniche, Portugal.

The research involved the methodology of documental analysis, interviews of some principals, teachers and students of the IGN and the social analysis of the admitted students.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ADPP – Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo AIGN – Arquivo do Instituto Garcia Neto

ANC – Congresso Nacional Africano ATT- Arquivo da Torre do Tombo

CITA – Centro de Informação e Turismo de Angola

CPLP – Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa CFBD – Curso de Formação Básica Docente

CMVF – Comissão Mista de Verificação e Fiscalização CCPM – Comissão Conjunta Politico Militar

DNFQE – Direcção Nacional de Formação de Quadros e Ensino DGS – Direcção Geral de Segurança

DGA – Direcção Geral de Arquivo EUA – Estados Unidos de América FESA – Fundação Eduardo dos Santos

FNUAP – Fundo das Nações Unidas Para População FAA – Forças Armadas de Angola

FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola GEPE – Gabinete de Estudos e Planificação Estatística IMNGN - Instituto Médio Normal Garcia Neto

IGN – Instituto Garcia Neto

JMPLA – JP- Juventude do Movimento Popular de Libertação de Angola – Juventude do Partido

MPLA- Movimento Popular de Libertação de Angola

MONUA – Organização das Nações Unidas Missão em Angola MED – Ministério de Educação

ND – Nova Democracia

OUA – Organização de Unidade Africana ONU – Organização das Nações Unidas OGE – Orçamento Geral do Estado

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13 PUNIV – Pré – Universitário

PRS – Partido de Renovação Social

PNUD – Programa das Nações Unidas de Desenvolvimento PT – Partido do Trabalho

PIDE – Polícia Internacioanl e de Defesa do Estado PCP – Partido Comunista Português

RPA – Republica Popular de Angola

SWAPO – Organização dos Povos do Sudoeste de África SADC – Comunidade para o Desenvolvimento da Africa Autsral RDC – Republica Democrática do Congo

UNICEF – Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para as Crianças UNITA – União Nacional para Independência Total de Angola

URSS – União das Republicas Socialistas Soviéticas

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Índice

Agradecimentos 5 Resumo e Abstract 7 Índice 9 Apresentação 11

Fontes e Metodologia de Pesquisa 16

Problemática da Pesquisa 19

Pistas do Trabalho 20

António Manuel Garcia Neto 21

Capítulo I - Evolução Política e Socioeducativa de Angola (1974-2009) 34 1.1.Evolução da Historia Política de Angola 36 1.2.Evolução Social 47 Capitulo II - Organização do Sistema Educativo Angolano 63 2.1.Estrutura Curricular do Sistema de Ensino de Base Regular 74 2.2.Recursos Humanos do Sistema de Educação em Angola 78 2.3. Perfil de Saída do Professor Formado no Instituto Garcia Neto 79 2.4 Currículo de Formação de Professores do 1º Ciclo do Ensino Secundário. 82 Capítulo III - Formação de Professores em Angola 91 3.1. Perspectivas de Formação de Professores em Serviço 104

Capitulo IV - O Instituto Garcia Neto 111

4.1.O Internato 113

4.1.2.A Logística 115

4.1.3. A Cantina Escolar 117

4.2.As Lideranças 117

4.3. A Organização e Gestão do Instituto Médio Normal Garcia Neto 119

4.4. O Corpo Docente 130

4.5 O Corpo Discente 138

Capitulo V- Apresentação e Análise dos Resultados da Pesquisa 154 5.1. Actividade Profissional dos Pais e Encarregados de Educação 158 5.2.Classificação Final dos Discentes do IGN na 9ªclasse 159

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APRESENTAÇÃO

O presente trabalho de investigação tem por objecto o estudo do caso da formação de professores do Instituto Normal de Educação Garcia Neto, em Luanda, Angola.

A palavra formação significa, acto, efeito ou modo de formar. Neste caso dos cursos de formação de professores, desenvolvem acções, ministrando conteúdos, e competência para habilitar o professor para o exercício profissional docente.

Para os autores ( Buckley. Caple, 1998) a formação deve ser um investimento planeado e sistemático que contribua para o desenvolvimento dos conhecimentos, aptidões e atitudes de que um indivíduo necessita para desempenhar uma tarefa de forma satisfatória. É uma parceria entre formando e formador, que trabalham, em conjunto, para atingir os níveis de aprendizagem necessários, de modo a dar resposta aos requisitos da tarefa. Para Ferry (1991), a formação aparece com um significado de “um processo de desenvolvimento individual destinado a adquirir ou aperfeiçoar capacidades" (1983: p. 36). Nessa perspectiva, a formação de professores diferencia-se de outras atividades de formação em três dimensões distintas: trata-se de uma formação dupla, combinando a formação acadêmica com a pedagógica; é um tipo de formação profissional; é uma formação de formadores, sendo necessário o isomorfismo entre a formação de professores e a sua prática profissional.

García (1999), analisando as diferentes perspectivas e tendências do conceito

de formação de professores, adopta a perspectiva que considera a formação de professores como algo que se constitui de uma área de conhecimento e investigação, em que os professores aprendem e desenvolvem sua competência profissional, operando, assim, transformações na identidade e profissionalidade docente.

Mais do que compreender a formação como mudança na capacidade profissional, entendemos que a formação também deve ser encarada na perspectiva da transformação do indivíduo humano. Assim, concordamos com Carvalho (2008) e com a sua análise sobre as diferenças entre o que

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aprendemos e o que nos afecta como seres humanos. Para este autor a aprendizagem indica simplesmente que alguém atingiu o conhecimento algo que não sabia: uma informação, um conceito, uma capacidade. Mas não implica que esse, algo novo, que se aprendeu, nos transformou em um novo alguém. E essa é uma característica forte do conceito de formação: uma aprendizagem só é formativa na medida em que opera transformações na constituição daquele que aprende. É como se o conceito de formação indicasse a forma pela qual nossas aprendizagens e experiências nos constituem como um ser singular no mundo (Carvalho, 2008: p.1)

Portanto, nem tudo o que aprendemos ou vivemos deixa traços que nos formam como sujeitos. Assim, qualquer experiência educativa deve possuir um caráter formativo, trazendo a responsabilidade constitutiva na formação de um sujeito.

No entanto, no processo da formação, uma vez atingida o nível básico de proficiência, o formando inicial continua o seu desenvolvimento em termos de velocidade e precisão até alcançar o nível de um professor experiente. É um processo de formação e desenvolvimento que continua à medida que os formandos avançam para as tarefas profissionais.

Podemos dizer que a formação é feita não só para adquirir competências, capacidades mas também no sentido de melhorar o desempenho no exercício de actividades específicas por exemplo o professor na sala de aulas.

Segundo Nóvoa, a génese da profissão de professor tem lugar no seio de algumas congregações religiosas, que se transformaram em verdadeiras congregações docentes. O mesmo autor refere-se à unificação e hierarquização de todos grupos que se dedicavam à docência e à instituição dos professores como corpo profissional desde o século XVIII (Novóa, 1995, p.15,17). A profissão docente exerce-se a partir da adesão colectiva (implícita ou explícita) a um conjunto de normas e de valores (idem, p.19).

No inicio do trabalho tínhamos escolhido um primeiro tema de pesquisa, mas por dificuldades ligadas ao acesso às fontes vimo-nos forçados a mudar para aquilo que caracterizou a nossa actividade laboral a qual estamos ligados directamente.

As leituras efectuadas a partir de livros, como de Novóa e Schriewer (2000), serviram de base para a definição do objecto de estudo da investigação a

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Formação de Professores em Angola. A partir desta definição, especificamos o estudo com o caso do Instituto Garcia Neto1, em Luanda, no período de 1975 a 2009, com o sentido de contribuir no estudo da história da educação em Angola. O estudo e análise de questões ligados a acontecimentos que marcaram a formação de professores não só depois da independência de Angola, em 11 de Novembro de 1975, mas também de alguns momentos que marcaram a formação de professores do período em que Angola era província do ultramar. Concordando com Sousa (2000, p.13) de que a escola, ao alargar o seu espectro de acção, para apanhar aquelas franjas sociais, económicas e geográficas, ancestralmente votadas ao abandono [e após a independência], exigiu um aumento considerável do número de professores. Eram necessários professores aqui e ali, eram necessários muitos professores para fazer face à explosão escolar decorrente duma nova política apostada na abertura e eficácia da educação. Ora sabemos que nem sempre às exigências de natureza quantitativa corresponde o esperado grau de qualidade, no fundo o tal grau de criatividade, espiritualidade, estética, elegância e saber. Na perspectiva de mostrar de onde viemos e onde nos situamos na política de formação de professores. O objectivo do nosso estudo consistiu na reflexão dos currículos da formação de professores do 1º ciclo do ensino secundário de maneira a contribuir para o desenvolvimento da pessoa do professor e a sua integração social, caracterizar a situação do Instituto Normal Garcia Neto, no que se refere ao perfil e perfis de entrada e saída dos seus formandos, analisando os mecanismos utilizados durante a preparação do processo de ensino – aprendizagem. Por outro lado, visou-se comparar os dados quantitativos da formação de professores do IGN, no período de 1978 – 2009, constatar a organização do processo docente educativo do Instituto e analisar a participação dos alunos no cumprimento dos planos curriculares. Para finalizar

1 Para melhor compreensão das diferentes nomenclaturas atribuídas ao Instituto após a sua abertura em 1978, o

primeiro nome foi Instituto Normal de Educação Garcia Neto com a sigla (INE), mais tarde passou a designar-se Instituto Médio Normal Garcia Neto com a sigla (IMNGN), e, no período de 2007, a instituição adoptou, finalmente, a nomenclatura mais apropriada ao propósito para o qual foi criado ao receber a denominação que a caracterizou, ou seja, Escola de Formação de Professores do 2º Ciclo do Ensino Secundário Nº 3031 Garcia Neto. Neste cenário o nosso trabalho adoptou, para efeitos de citação de arquivos a sigla AIGN e para referências a sigla IGN.

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procedemos a um criterioso levantamento bibliográfico que possibilitou fundamentar teoricamente as acções de formação de professores.

As motivações que levaram a escolher o tema que nos propomos na nossa investigação foram, não só, pela contemporaneidade, pertinência e relevância do assunto, mas também pelo facto de trabalhar como professora, formadora de formadores e por ter mais de 20 anos de experiência e trabalho na carreira docente. Mas principalmente por na época de 1992 ter deixado a província de origem, província do Huambo por motivos de guerra e ter engrossado o êxodo da população estudantil para a província de Luanda.

Neste período, pelo facto de Angola viver um período de guerra, houve um aumento estatístico da população ao nível da província de Luanda devido à mobilidade forçada das pessoas, o que originou maior concentração da população em Luanda (População deslocada).

Ao conceituar e acompanhar o progresso da educação na compreensão da organização das escolas, no entendimento das formas a partir das quais são assimiladas as matérias indispensáveis para a vida (diversas disciplinas curriculares), a utilização educacional dessas disciplinas, buscando a obtenção de situações óptimas de educação para compensar as carências provocadas entre outros aspectos, pelo flagelo da guerra e a forma de condução de vida por si só, justificam este trabalho de pesquisa. Neste contexto, importa que o processo de formação de professores em Angola bem como as suas repercussões estruturais e pedagógicas no sistema educativo, na orientação para o aprofundar da educação ao serviço do exercício activo da cidadania. O contexto em que se insere o estudo é o período em que, após a independência de Angola, a 11 de Novembro de 1975, a lei constitucional angolana consagrou a educação como um direito para todos os cidadãos, independentemente do sexo, raça, etnia e crença religiosa.

Em traços muito breves, traçaríamos as seguintes realizações do sistema educativo angolano:

- Em 1977, dois anos após a independência nacional foi aprovado um novo sistema nacional de educação e ensino.

- Em 1978 foi implementado o novo sistema de educação e ensino com os princípios gerais seguintes: igualdade de oportunidade no acesso e continuação dos estudos, gratuitidade do ensino a todos os níveis e

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aperfeiçoamento constante do pessoal docente. O sistema era constituído por um ensino geral de oito classes (das quais as quatro primeiras, obrigatórias), por um ensino pré – universitário com seis semestres, um ensino médio de quatro anos (com dois ramos, técnico e normal) e um ensino superior.

- Na década de 80 o maior impacto palpável do novo sistema de educação foi a explosão escolar a qual se traduziu numa grande afluência da população às escolas.

- Em 1986, foi efectuado pelo Ministério da Educação um diagnóstico do sistema de educação que permitiu fazer um levantamento e auscultação das debilidades e necessidades do sistema. Com base nesse diagnóstico, chegou – se à conclusão da necessidade de uma nova reforma educativa e foi possível, então, traçar as linhas gerais para a mesma.

- A partir de 1990, Angola abandonou a política educativa assente numa economia centralizada resultante de um (sistema político monopartidário), passando a adoptar o princípio da formação de recursos humanos no contexto de uma economia de mercado (sistema político multipartidário), permanecendo, contudo as dificuldades inerentes a um sistema educativo sujeito a pressão pela instabilidade político-militar e pela recessão económica. Centenas de infra-estruturas escolares tinham sido destruídas e o corpo docente qualificado começou a abandonar o sector de educação, buscando melhores condições salariais e sociais.

- A guerra pós–eleitoral em 1992 agravou ainda mais a situação, com a destruição massiva das infra–estruturas, a movimentação massiva de população em busca de segurança, o aumento da pobreza além de todas as consequências psicológicas e traumáticas que envolveu o conflito angolano. As assimetrias regionais eram evidentes pelo facto de uma forte concentração de alunos nas províncias do litoral, nomeadamente Luanda, Benguela e Huíla, enquadrarem a população escolar.

- O quinquénio 1991 – 1995, fora definido pelo Ministério da Educação como o da preparação da reformulação do Novo Sistema Educativo e, no domínio da Cooperação Internacional conforme o Decreto nº 29/91 de 19 de Abril, era aprovado o Acordo de Cooperação nos Domínios da Educação, do Ensino, da Investigação Cientifica e da Formação de Quadros entre a Republica Portuguesa e a Republica Popular de Angola.

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- Em 2001 a Assembleia Nacional da Republica de Angola aprovou a lei de bases nº13/01 de 31 de Dezembro do Sistema Educativo onde manifestou-se claramente a funcionalidade da estrutura de formação de professores.

- O Ministério da Educação em parceria com o UNICEF em 2003 lançou o Programa de Formação de Professores em larga escala que visou o desenvolvimento de capacidades e atitudes no sector da educação para levar

um milhão de crianças Angolanas à escola

(http://www.unicef.pt/docs/pdf_arquivo/2003/03-10-27_formacao_de_professores_em_angola.pdf).

- A fim de permitir uma profunda reflexão e abordagem dos problemas ligados a educação e o ensino em Angola realizaram – se em 2005 workshops regionais entre Angola e Brasil sobre a Qualidade de ensino em Angola, tendo – se versado temas referentes: Gestão e Administração Escolar; Financiamento em Informática Escolar e Recursos Humanos; Género no contexto do Sistema como Factor de Desenvolvimento Sustentável do Pais; Importância dos Indicadores de Qualidade da Aprendizagem na Gestão do Sistema Educativo (FESA, 2005).

A análise terá como referência o estudo do caso da formação de professores no IGN com ele desenvolveremos uma pesquisa de âmbito histórico, procurando compreender de que forma a problemática da formação de professores se faz sentir em Angola, dando, assim uma atenção especial, a um dos principais problemas do sistema educativo implementado em 1978: a falta de qualidade e quantidade do corpo docente. Assim, como baliza temporal propomo-nos a estudar o período desde 1975 a 2009 uma vez que engloba a ascensão da independência de Angola, da instauração da segunda república de Angola, (1992) e a realização das segundas eleições, (2008). Delimitamos este período histórico porque julgamos tratar-se de grandes mudanças ploítico-socioeconómicas e culturais não só do país mas também de África e da Europa, duma maneira geral.

Fontes e metodologia de pesquisa

Durante a execução de um trabalho monográfico torna-se necessário definir as unidades de análise a estudar. No sentido de tomarmos consciência daquilo que venha a ser o estudo do nosso trabalho e tendo em conta a pergunta de

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partida (como se formam os professores em Angola especificamente do Instituto Normal de Educação Garcia Neto de Luanda e qual o seu perfil de saída?), seguimos as recomendações de Quivy e Campenhoudt, procurar “enunciar o projecto de investigação na forma de uma pergunta de partida, através da qual o investigador tenta exprimir o mais exactamente possível o que procura saber, elucidar, compreender melhor, ela deve respeitar três níveis de exigência: “ primeiro, exigências de clareza; segundo, exigências de exequibilidade; terceiro, exigências de pertinência, de modo a servir de primeiro fio condutor a um trabalho do domínio da investigação em ciências sociais” (2003,p.32,44).

Neste sentido, foram realizadas leituras documentais em que se notou a falta de trabalhos académicos sobre o tema em Angola. O estudo teve como alicerces a documentação, consultada em vários arquivos.

Em Angola, o nosso suporte de pesquisa foi o seguinte: arquivo da escola de formação de professores do 2ºciclo do ensino secundário Garcia Neto (adiante identificado por IGN). Muito embora a documentação não esteja organizada nem catalogada, foi onde se encontrou a maior parte de fontes que serviu de suporte para a presente dissertação, tais como: fichas individuais dos alunos com a 9ª classe; os relatórios semestrais e anuais; actas; planos de estudo; documentos orientadores sobre o funcionamento da educação; estatuto do Instituto Normal Garcia Neto e regulamento; fotografias dos alunos; Ministério da educação de Angola que, apesar de não possuir um arquivo ou uma biblioteca, possibilitou a investigação em algumas direcções adstritas: Direcção Nacional de Formação de Quadros e Ensino, onde nos foram providenciados dados e informações acerca da formação de professores em Angola, funcionamento dos institutos normais de educação (caso particular o IGN). Apesar de, nas pastas consultadas, as informações serem poucas relativamente a relatórios e actas, por se encontrarem em lugar incerto, conseguimos ter acesso a documentos importantes como: Plano Mestre de Formação de Professores-2008/2015; Ensino a Distância em Angola; Gabinete de Estudo e Planeamento Estatístico, onde obtivemos informações acerca dos dados estatísticos dos anos lectivos em estudo no nosso trabalho, bem como relatórios de 1985/1989 e 1990/1991; Gabinete Jurídico, que nos forneceu os diplomas legais de criação dos institutos normais, do Ministério da Educação;

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do Gabinete de Intercâmbio Internacional; onde tivemos acesso a alguns protocolos de cooperação na área de formação de professores; na Sede Nacional do Partido MPLA, ou melhor, no seu arquivo histórico, onde foram encontrados os documentos, teses e resoluções do 1º Congresso do MPLA, cujos documentos serviram de apoio aos fundamentos dos princípios da reformulação do sistema de educação, em (1977), boletins do militante diversos (cujo conteúdo serviu para a memória do patrono do instituto), discursos do presidente José Eduardo dos Santos dos primeiros anos da década de 80; Escola de Formação de Professores Rurais ADPP; Embaixada de Cuba, onde encontramos documentos ligados aos professores que trabalharam em Angola; Entrevistas aos directores sobrevivos que lideraram o IGN, professores e alunos.

A nossa pesquisa em Portugal foi primordial para compreender a vida do patrono do Instituto Garcia Neto. No entanto, as condicionantes financeiras e a limitação de tempo, (neste ponto referimo-nos quer ao prazo para a apresentação da dissertação), tiveram que ser ponderadas. As deslocações à Universidade de Coimbra, especificamente à Faculdade de Direito, ao forte de Peniche, actualmente Museu de Peniche, à cadeia de Caxias e ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa, permitiram reconstituir e uma parte da vida do patrono do IGN entre 1965 a 1974, mas representavam um esforço longe da nossa área de residência no Porto.

Pelo volume de informação recolhida ficaram por analisar os materiais que abordam sobre: o ensino a distância em África e Angola, alguns protocolos de cooperação internacional no domínio da formação de professores, os documentos da cooperação de professores cubanos desde os primeiros anos da independência de Angola, assim como aspectos ligados ao percurso da vida de António Manuel Garcia Neto no período de 1945-1964.

As dificuldades sentidas foram algumas, principalmente no acesso às fontes de informação, por vários motivos: a desorganização dos arquivos, documentação ausente, não catalogada, as rotoção elevada, deslocações variadas de funcionários etc

Este trabalho de investigação o seu universo desenvolveu-se no Instituto Normal Garcia Neto, situado na rua Albano Machado nº82, em Luanda.

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No entanto, a população como define, Vianna, (2001), é composta pelo conjunto de fenómenos, indivíduos, situações de investigação. Quiy. Campenhoudt, 2003, a população é um conjunto de pessoas como de organizações ou de objectos de qualquer natureza.

Neste contexto foi seleccionada uma população considerável de 221 indivíduos para o estudo da nossa pesquisa.

A amostra representa uma parte considerada significativa da população seleccionada para o estudo de acordo o projecto de pesquisa, (Vianna, 2001), dos 221 inscritos na 9ª classe no Instituto Normal Garcia Neto foi possível reconstituir o percurso de 208 alunos, número com o qual se compôs a nossa amostra.

A metodologia da nossa pesquisa cingiu-se ao métodode análise documental, principalmente do IGN, que constituiu o campo de pesquisa, à entrevista dos directores do Instituto, professores e alunos colocada de uma maneira aberta que possibilitaram encontrar respostas livres a respeito do tema que foi definido, observou-se o princípio metodológico defendido por Bardin, a entrevista é mais um discurso espontâneo do que um discurso preparado, anexos (1.01,1.02,1.03) e não só a qualitativa de uma forma superficial que possibilitou apresentar a qualidade das informações obtidas que foram no contexto especifico da pesquisa, Método de Análise Sociografica, este método mostrou como foi realizada a mobilidade social entre os géneros, Método de Análise Quantitativa permitiu-nos saber estatisticamente a sucessão do número de alunos ao longo dos anos lectivos da nossa investigação (2009,p.92).

A problemática da pesquisa

A problemática da pesquisa foi atravessada pelos seguintes factores:

- A falta de organização adequada na formação dos profissionais da educação. - Os recursos de ensino como, programas de estudo, planos de estudo, registaram uma maior necessidade no trabalho dos professores.

- A falta de estruturas condizentes ao tipo de formação que se deseja. - A falta de programas de estudo do ensino das diferentes disciplinas. - A falta de material bibliográfico.

No entender de Quivy e Campenhoudt (2003), o campo de análise e a selecção das unidades de observação constituem os dados que deverão ser recolhidos.

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Neste caso, o objecto do trabalho define, de facto os limites da análise e o investigador não terá dificuldades a este respeito. Assim será necessário precisar explicitamente os limites do campo de análise, ainda que pareçam evidentes: período de tempo tido em conta, zona geográfica considerada, organizações e actores aos quais será dado relevo.

Pistas de trabalho

A nossa pesquisa empírica sobre o IGN assentou nas seguintes pistas de trabalho:

- Os recursos de ensino tais como, os programas de estudo, planos de estudo. - A falta de organização adequada na formação dos profissionais da educação; - Os requisitos de entrada e saída da formação de professores no Instituto Normal, Garcia Neto de Luanda;

- Períodos de maior afluxo de ingresso no Instituto Normal, Garcia Neto de Luanda;

- A qualidade do currículo de formação de professores para ingressar cria motivação para o exercício profissional.

Para tanto, foram consideradas as seguintes variáveis:

Variáveis Independentes: O género para permitir uma reflexão histórica do enquadramento no Instituto Médio Normal Garcia Neto e a idade (para a análise da faixa etária de ingresso);

Variável Dependente: A formação inicial dos alunos do curso de formação de professores no Instituto Normal de Educação.

Por outro lado foram aplicadas as técnicas na recolha (fotografia digital) e (Microsoft Excel) e seu processamento em texto (Ms Word).

Para a sistematização do conteúdo da dissertação foram organizados cinco seguintes capítulos. No Capítulo I (Evolução política e socioeducativa de Angola 1974-2009); apresentou-se a evolução do ensino no período colonial em Angola (ex-província do ultramar); os acontecimentos após o 25 de Abril de 1974 que conduziram Angola a obtenção da independência; as relações diplomáticas que estabeleceu-se entre a comunidade internacional especificamente com Cuba, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, Republica Federal da Alemanha, República Democrática Alemã, e outros, abordou-se a evolução social em diferentes momentos históricos desde o

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período de 1974-2009. No Capitulo II (Organização do Sistema Educativo Angolano), apresentou-se a comparação breve da estrutura do ensino colonial com a estrutura escolar aprovado em 1977, que vigorou até o ano de 2001, altura em que foi aprovada a Lei de Bases nº13/ de 31 Dezembro do Sistema Educativo Angolano. A estrutura curricular do sistema de ensino de base regular foi analisada a partir do plano aprovado em 2001. Ainda neste capítulo foram tratados aspectos ligados à evolução do corpo docente, o perfil de saída do professor e do currículo de formação de professores do 1º ciclo do ensino secundário formado no IGN. No Capítulo III (formação de professores em Angola). Analisou-se a formação inicial de professores no período antes e depois da independência em 1975, e o processo de formação professores em serviço. No Capitulo IV (o IGN), tratou-se de fazer a história do IGN desde a criação em 1978 até o ano de 2009,e da vida do patrono do instituto. No Capitulo V (apresentação e análise dos resultados da pesquisa), vamos apresentar resultados empíricos da pesquisa, os trabalhados estatiscamente a partir das bases de dados construídas.

ANTÓNIO MANUEL GARCIA NETO: PATRONO DA INSTITUIÇÃO

Este subcapítulo vai retratar a vida de António Manuel Garcia Neto

(1945-1977), focando em particular os períodos do seu trajecto de 1961 a 1977. A concentração do subcapítulo neste período deve-se ao facto de a investigação realizada ter encontrado apenas dados a partir deste período e por não ter sido descoberta informação referente aos anos anteriores.

Com base na pesquisa documental realizada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, no Arquivo da Cadeia do Forte de Peniche e na revista “Boletim do Militante”, publicado pelo MPLA (Ano I, nº 3, Junho de 1977), procuraremos reconstituir o percurso da vida escolar e política do patrono do IGN.

Período de 1961 – 1965

Filho de António Manuel Garcia Júnior e de Antónia Jacinto, António Garcia Neto nasceu a 1 de Janeiro de 1945. Era natural de São Paulo, bairro operário da cidade de Luanda e residia na Rua António Enes nº 157, R/chão, na província de Luanda. Era solteiro, possuía o Bilhete de Identidade nº 4793642,

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emitido pelo Arquivo de Lisboa em 17 de Agosto de 1966. Tinha residência desde a sua chegada a Portugal, em 1965, na cidade de Coimbra, na rua Antero de Quental, nº 2172.

É possível reconstituir o seu percurso escolar a partir de 1961. Neste ano, foi aluno do 4º ano (turma D, número 7) do Liceu Nacional Salvador Correia3, em

Luanda. Participou em várias actividades académicas e educativas do liceu e foi membro da “Associação da União dos Estudantes Angolanos”, órgão que velava pelos estudantes liceais nesse período4.

Figura 1: Liceu Nacional Salvador Correia

Fonte:

http://lh5.ggpht.com/_eh2CSt7xcm0/Sa-4aA1FuUI/AAAAAAAAAsw/puMqfE97Kfs/s912/IMG_2139%20Liceu%20Salvador%20Correia.jpg (descarregado em 08.03.2010).

Este liceu, exclusivo para rapazes, tradicionalmente, pedia aos alunos que se apresentassem de gravata no final de cada período lectivo. Neste contexto, no

2 DGA/ANTT, PIDE/DGS, Processo nº 19773.

3Primeiro chamou – se Liceu Central de Luanda, criado em 21 de Fevereiro de 1919; em 1924 passou a designar – se Liceu Central de Salvador Correia abrangendo o ensino liceal nos distritos do Kuanza Norte, Kuanza – sul, Cabinda, Congo, Malanje e Lunda. Após a independência de Angola foi atribuído o nome de Mutu Ya Kevela (herói da resistência colonial em Angola). Teve como primeiro Reitor Monsenhor Manuel Alves da Cunha nomeado aos 8 de Março de 1919 por despacho do Governador-Geral. LINHAS AÉREAS DE ANGOLA (TAAG). 2010:84.

É um dos locais de eleição da cidade de Luanda; foi onde se forjaram inúmeras consciências nacionalistas e também alguns movimentos políticos e sociais do País. Muitos dos que frequentaram aquela escola ascenderam a vida e tornaram – se figuras importantes da Independência de Angola e do pôs – Independência foi o caso de António Manuel Garcia Neto. Idem, Nº79. Portugal. 2010:84.

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dia 19 de Dezembro de 1961, foram recomendados que todos os portugueses da província se apresentassem de gravata preta para protestar contra a agressão ao Estado Português na Índia5. Apesar de António Garcia Neto,

naquela altura usar luto na camisa (“fumo” no braço da camisa, já identificado desde Fevereiro de 1961 pelos serviços de informação de Luanda) pela morte da sua mãe, ele e mais um colega, de nome Rodrigo Pedro Domingos, apresentaram-se de gravata encarnada durante as aulas de Moral e de Português. Na aula de Português, o professor mandou-os tirar as gravatas e perguntou por que se apresentaram assim na aula. Os alunos responderam que: era “para pregar uma partida ao senhor padre de moral” (António); “era por ser o último dia de aulas” (Rodrigo). Esta situação foi reportada no mesmo dia pelo professor de Português, Manuel Morais, ao Reitor do Liceu Salvador Correia. No dia 20 de Dezembro do mesmo ano, o Reitor encaminhou para a Delegação da Polícia a informação (queixa) do professor de Português6.

Os dois alunos foram convocados, de acordo com o Despacho do Subdirector da Polícia, na companhia dos encarregados de educação de António Manuel Garcia Neto e Rodrigo Pedro Domingos para prestar esclarecimentos no dia 19 de Fevereiro de 1962.Os alunos explicaram que se apresentaram de gravata nas aulas de Moral e de Português por serem as últimas do primeiro período lectivo e por ser recente tradição os alunos do Liceu Nacional Salvador Correia se apresentarem nas aulas finais de cada período com gravata de várias cores. Neste contexto, justificaram o facto de se terem apresentado de gravata encarnada por mera coincidência, não por outro motivo significativo, e porque nesse dia quando já estavam nas aulas é que lhes foi dado a conhecer para se apresentarem de luto, o que fizeram depois das aulas. Assim, nesse mesmo dia, trocaram de gravatas encarnadas para gravatas pretas, como foram avisados posteriormente, e participaram na manifestação de protesto contra a “invasão” das possessões indianas junto do Palácio do Governador-Geral.

5 Invasão as possessões Indianas Portuguesas na noite de 17 para 18 de Dezembro de 1961 a União Indiana, com um exército de cerca de 50.000 homens dispondo de moderno material de guerra e apoiado por poderosas forças aéreas e navais, invade e ocupa os territórios de Goa, Damião e Diu, defendidos por cerca de 3500 homens, deficientemente armados e municiados. No dia 19 dá – se a rendição das tropas Portuguesas que ficam prisioneiras das forças Indianas durante cerca de seis meses. hPP/www agua online.co.pt ( descarregado em 18 – o3 – 2010).

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Depois de ouvidos os alunos, a Polícia chegou à conclusão, de que estes não tiveram outra finalidade que não fosse, a de comemorar o último dia de aulas do primeiro período lectivo, conforme era uma tradição. Careceram de provas quanto às suas verdadeiras intenções. Não foram, assim, tomadas nenhumas medidas contra Garcia Neto e o seu colega.

Conforme o Despacho de 22 de Fevereiro de 1962, assinado por R. Porto Duarte, o processo de averiguações foi dado por findo. Foi arquivado no processo individual de Fernando Alberto Rodrigues de Figueiredo, considerado como o aluno do Liceu que incitou ao uso da gravata encarnada7.

Ainda segundo as informações constantes no seu processo no Arquivo da PIDE, António Garcia Neto foi colaborador e participava com artigos que foram publicados no jornal “O Estudante” que era o órgão cultural académico e educativo. Nenhum documento em nome dos alunos do liceu podia ser publicado ou qualquer manifestação académica em nome dos mesmos alunos podia ser levada a efeito, sem consentimento ou prévio esclarecimento ao órgão, sob pena de sanção disciplinar aos que subscrevessem os documentos ou aos alunos manifestantes, conforme (artigo 2º, alínea a) e b) dos estatutos. O referido jornal foi fundado no ano de 1934 e dirigido, até meados do ano lectivo de 1963 – 1964 cerca de vinte e nove anos, por Joaquim Marinho de Bastos, professor do Liceu. “O Estudante” era o “órgão dos alunos do Liceu Nacional Salvador Correia” e gozava de autonomia administrativa.

Foram órgãos de administração do jornal o Director, o Subdirector, o administrador, dois redactores, e um secretário. Apresentamos o organigrama correspondente na figura 2.

competia a quem este designava. Era o mesmo director, o representante legal dos alunos do Liceu Nacional Salvador Correia (Artigos 3º e 4º). A competência dos órgãos da administração abrangia todas as matérias que interessavam ao órgão. Teve apenas como limites aqueles que resultavam da competência do professor orientador ou muito excepcionalmente do Reitor. (Artigos 27º e 28º). O mesmo jornal tinha como competências a administração e divulgação de todas as matérias de carácter cultural, educativo e académico, inspiradas em ideias portuguesas, que interessassem à missão do ensino liceal em Angola.

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Figura 2: Organigrama do Jornal “O Estudante” do Liceu Nacional Salvador Correia.

Fonte: Elaboração própria a partir da cópia do jornal o “Estudante”inserta em

DGA/ANTT, PIDE/DGS, Processo nº 4840.

A representação do órgão competia ao director ou, para determinados actos, Em 1962/1963 foram realizadas eleições gerais para o corpo directivo do jornal, para o triénio de 1962-1965. O corpo de direcção ficou constituído pelos elementos seguintes: Professor -Orientador Dr. José Luís de Almeida Lavradio, Director – Joaquim Leonel Ferreira Marinho de Bastos, Administrador – José António Ferreira Neto, Subdirector – Rui Augusto Teles Tavares, Redactor-chefe – Carlos Alberto Ferreira Monteiro, Redactora principal – Ana Isabel Valentim” (DGA/ANTT, PIDE/DGS, Processo nº 4840, folha 258).

Durante o ano lectivo de 1963/1964, surgiu um movimento de desagrado, liderado por um grupo de estudantes, entre os quais alguns vindos da metrópole (para continuarem os seus estudos na província de Angola) contra as ideias ultrapassadas, conservadoras e pessoais da direcção do jornal de Joaquim Leonel Ferreira Marinho de Bastos. Os estudantes que se

Secretario Subchefe de Redacção Principal Redactor-Chefe Administrador Director Subdirector

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manifestaram pretendiam “dar feições novas ao jornal, fazer algo de novo”. (idem, folha 273)

Tendo em conta as manifestações realizadas pelos estudantes foram efectuadas novas eleições para a direcção do jornal, tendo-se registado os seguintes resultados: “Director – Rui Filipe de Matos Figueira Martins de Ramos; Sub - Director e Administrador António Manuel Garcia Neto; Chefe de Redacção – Rafael Veiga de Sousa Godinho; Secretária – Maria Helena Gil da Cruz; Professor Orientador – José Luís de Almeida Lavradio”, que permaneceu no cargo (idem, folha 259).

O jornal “O Estudante” era censurado pelo Reitor do Liceu Nacional Salvador Correia e publicado, nos termos do parágrafo 4º do artigo 445º do Decreto nº 3018, nos meses de Novembro, Dezembro, Janeiro, Maio e Junho (conforme o artigo 29º) de cada ano lectivo. Era também publicado um número especial do aniversário do jornal e do próprio liceu.

O jornal era propriedade do Centro Escolar nº 1 da Organização Nacional da Mocidade Portuguesa, em Luanda, e estava obrigado a respeitar o regime legal de imprensa definido pela Agência Geral do Ultramar.

“O Estudante” tinha uma tiragem de 800 exemplares (dos quais 200 exemplares eram destinados a oferta), com 6 páginas em média, com um custo de 2$50 (dois escudos e cinquenta centavos). O jornal tinha um contrato com o CITA – Centro de Informação e Turismo de Angola, o qual lhe oferecia um subsídio de 1.000$00 escudos por cada 100 exemplares tirados. A publicidade no jornal gerava resultados no valor de 1.500$00 a 1.750$00 escudos. A edição de cada número do jornal custava cerca de 3.000$00 escudos e a publicidade e a sua venda gerava 3.250$00 escudos de receitas, pelo que “O Estudante” tinha como lucro líquido cerca de 250$00 escudos (idem, folha 232).

Nos meses de Maio e Junho foi posto a circular o Jornal o Estudante nº 83, órgão de imprensa dos alunos Salvador Correia, que inseriu alguns artigos bastante duvidosos, sendo por esse motivo apreendido pelo Reitor. O primeiro trabalho realizado pela nova direcção do jornal foi visível na edição do jornal número 83. O jornal “Estudante” dos meses de Maio e Junho de 1964 publicou trabalhos literários em prosa e verso, artigos de estudantes e de alguns membros da nova direcção. O artigo intitulado “Malthus – teoria da população”

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da autoria do estudante Luís Moniz Pereira, chefe de redacção foi publicado sem autorização e conhecimento do Professor Orientador, e por isso o número 83 do jornal foi apreendido pelo Reitor. Apesar das justificações de que “à última da hora não ter outro escrito para preencher aquele espaço do jornal” (DGA/ANTT, PIDE/DGS Processo nº 4840, folha; 274-275), o Conselho Disciplinar do Liceu aplicou sanções disciplinares que levaram à demissão do corpo de estudantes responsáveis pela direcção do jornal, assim como do Professor Orientador e ainda foram aplicadas duas faltas disciplinares ao estudante Luís Moniz Pereira. Dos 800 exemplares, apenas 25 foram devolvidos pelo liceu feminino D. Guiomar de Lencastre e um número não especificado pelo Liceu Paulo Dias de Novais.

Período de 1965 – 1974

No final do ano lectivo de 1964/1965, António Garcia Neto, após ter concluído o curso liceal partiu de Luanda para a metrópole, com o objectivo de se matricular na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, para fazer a licenciatura em Direito.

Em 1966/1967 foi nomeado representante dos alunos do segundo ano, à Comissão Pedagógica da Faculdade de Direito, órgão que era constituído por vinte e cinco alunos, cinco por cada ano do curso, para além de fazer parte da Comissão de Conferências da licenciatura.

Figura 3:Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (Portugal)

Fonte: Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra in http://www.uc.pt/pt/fduc (descarregado em 08.03.2010)

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Neste mesmo período, os processos da PIDE/DGS informam que Garcia Neto, em 1966/1967, quando trabalhava no Movimento Associativo, foi convidado a ingressar no Partido Comunista Português (PCP) pelo seu amigo, colega de curso e co-residente na República Kimbo dos Sobas8, João Arnaldo Saraiva de

Carvalho. Garcia Neto integra o PCP sob o pseudónimo de Jesus, atribuído por João Carvalho que por seu turno era conhecido como Sérgio. Pagava a

quotização de vinte escudos mensais, ao início pagava de forma regular, mas, por dificuldades económicas, passou a pagar apenas quando tivesse

possibilidades de o fazer. (idem, folha; 128, 129).

Ainda no ano de 1967 atribuíram-lhe a tarefa de distribuição de panfletos de madrugada pelas casas do bairro da Conchada, em Coimbra, sobre a comemoração clandestina pelo PCP do dia 1 de Maio. Esta distribuição foi apoiada, em termos de vigilância da área por Gilberto Saraiva Carvalho, irmão do João Arnaldo, de nome Sérgio que controlava a área para que Garcia Neto não fosse surpreendido pela polícia. No mesmo ano, António Garcia Neto e António Almeida Chington, angolano e médico estagiário em Lisboa, lançaram o projecto de criação de um Centro de Estudos Africanos em Coimbra. Este Centro visava aproximar todos os indivíduos naturais do Ultramar que se encontravam a estudar naquela cidade, promover o estudo e intercâmbio de assuntos culturais das várias províncias ultramarinas, e mesmo de toda a África. No entanto, após efectuarem algumas reuniões de consulta nas Repúblicas de Coimbra, verificaram que existiam divergências de opiniões quanto à integração de outros elementos brancos no projectado Centro de Estudos, contrariando-se, desta forma, as propostas originais de participação alargada de Garcia Neto e António Chington.

O mesmo projecto de Garcia Neto e Chington foi continuado no ano de 1967/1968, por Carlos Augusto da Silva, natural da Guiné. Porém, os mesmos problemas de integração alargada prevaleceram apesar das novas tentativas. O projecto de criação do Centro de Estudos Africanos em Coimbra ficou, assim, sem execução devido aos obstáculos encontrados em relação à participação dos indivíduos brancos naturais de África. (Por sua própria iniciativa decidiu levar para Luanda uma cópia dactilografada de uma brochura

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editada pelo Centro de Estudos Angolanos em Argel, organismo de investigação cultural ligado ao MPLA, cópia que foi dactilografada em conjunto pelos residentes da República kimbo dos sobas feita em quadruplicado. Um exemplar foi para a biblioteca da República kimbo dos Sobas, um outro para a República dos Milionários, um terceiro ficou com o António Garcia Neto que o levou para Luanda e o quarto exemplar destinou-se ao Gomes, que era angariador de seguros e foi identificado como tendo sido o individuo que dactilografou o trabalho.) No dia 8 de Agosto de 1969, Garcia Neto parte de avião de Lisboa para Luanda a fim de passar férias na sua terra natal. Era sua pretensão mudar da Faculdade de Direito de Coimbra para a mesma Faculdade da Universidade de Lisboa.

Nestas férias em Angola, Garcia Neto é contactado para integrar o MPLA, proposta que aceita (DGA/ANTT, PIDE/DGC, Processo nº4840). Desde logo, fica com a incumbência de ser o mediador do MPLA na região de Coimbra e da Metrópole, com a missão de saber da receptividade dos programas radiofónicos deste movimento, emitidos a partir de Brazzaville, no Congo, de recrutar e formar “camaradas” para a causa da libertação nacional de Angola e de angariar medicamentos para enviar para os “camaradas” das tropas estacionadas no Congo-Brazzaville (idem).

Regressa à metrópole no dia 20 de Setembro e acaba por matricular-se no terceiro ano do curso de Direito da Faculdade de Direito de Coimbra, como aluno voluntário a fim de trabalhar para sustentar a sua estadia e estudos, em virtude do apoio familiar não ser suficiente.

No dia 6 de Fevereiro de 1970, a Direcção de Serviços de Informação de Coimbra irrompe pela República Kimbo dos Sobas, na Rua Antero de Quental, nº 217 pelas 9 horas da manhã. António Manuel Garcia Neto foi interpelado por quatro agentes da polícia, que revistaram o seu quarto sem qualquer mandato de busca. Foi então detido e acusado de praticar actividades subversivas contra a segurança do Estado. Foi depois levado para as prisões de Caxias. (DGA/ANTT PIDE/DGS Processo nº 4840).

No dia 6 de Fevereiro de 1970 em Coimbra, no quarto da residência de

António Garcia Neto da República de estudantes denominada kimbo dos Sobas na rua Antero de Quental nº 217, em cumprimento de ordem superior, foi

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pelo chefe de brigada da Direcção Geral de Segurança. No final dessa busca, foram efectivamente encontrados alguns documentos ligados à vida pessoal de Garcia Neto, como por exemplo, correspondência que lhe tinha sido dirigida, cartas, livros etc. Assim foi ordenada a sua apreensão pelo chefe de brigada e remetido à Direcção – Geral de Segurança em Lisboa.

Figura 4: lápide e 5: Residência de António Garcia Neto República kimbo dos Sobas Rua Antero de Quental nº 217 em Coimbra.

Fonte: Fotogramas da Autora (31- 05 - 2010.)

A figura 4 (lápide) homenageia a os estudantes angolanos que residiram na República Kimbo dos Sobas, os quais foram mortos pelo movimento fraccionista, no dia 27 de Maio de 1977, em Luanda.

Figura 6: António Manuel Garcia Neto – Caxias, 6 de Fevereiro de 1970.

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Fig 7: Prisão de Caxias

Fonte: http://projecto9b.blog.sapo.pt/9182.html (descarregado em 08.03.2010)

Após a prisão de António Garcia Neto, na República Kimbo dos Sobas, os estudantes da faculdade de Coimbra ficaram preocupados, sobretudo com o tratamento coactivo que o colega estaria a sofrer, submetido a constantes e contínuos interrogatórios na Direcção Geral de Segurança, e sem dormir. Foi urgente conseguir o mais breve possível a necessária autorização para lhe prestar a possível assistência, apoio moral e jurídico, em conformidade com o artigo 10º do pacto Internacional relativo aos Direitos civis e Políticos. De acordo com esse documento, toda pessoa privada da sua liberdade tem direito a ser tratada com humanidade e com o respeito da dignidade inerente à pessoa humana,

Os estudantes da faculdade de Coimbra reuniram-se em Assembleia Magna e enviaram telegramas à Assembleia Nacional, ao Presidente do Conselho e ao Ministro do Interior. Manifestaram receio da situação prisional do colega António Garcia Neto e reclamaram um esclarecimento público da sua prisão, na pretensão de salvaguardar a sua integridade e a garantia da assistência jurídica e de visitas dos colegas.

No dia 7 de Setembro de 1971 o Secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas) enviou uma nota à delegação Portuguesa junto das Nações Unidas, em Nova Iorque, transmitindo uma carta da secção Alemã da Amnistia Internacional a pedir a intervenção da ONU no sentido de conseguir que as autoridades portuguesas libertassem António Garcia Neto, que foi condenado a quatro anos e meio de prisão por pertencer ao Partido Comunista Português (PCP) e ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). (DGA/ANTT PIDE/DGS Processo nº 4840).

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Foi levado a cabo, no dia 16 de Fevereiro de 1970 na cidade de Lisboa, o interrogatório que teve lugar, após a sua detenção como arguido e, no final desse interrogatório surgiu-nos a seguinte assinatura:

No dia 30 de Março de 1971, António Garcia Neto foi remetido para o Tribunal Criminal de Lisboa para ser julgado. Por acórdão do 4º Juízo Criminal da Comarca de Lisboa, foi condenado à pena de quatro anos e meio de prisão maior, a dois anos de multa à razão de 20$00 (vinte escudos) por dia, com medidas de segurança de internamento de seis meses a três anos prorrogáveis, à suspensão de todos os direitos políticos por 15 anos no regime de isolamento com o exterior e à transferência da Cadeia de Caxias para o Forte de Peniche (Figuras 6, 7 e 8), transferência que se realizou no dia 5 de Junho de 1973. (DGA/ANTT, PIDE/DGS, Processo nº 28241, Livro 142).

Figuras 8, 9 e 10: Prisão do Forte de Peniche

Fonte: Fotogramas da Autora de (10 – 01 – 2010).

António Garcia Neto, durante a época de 1965 a 1973, conforme consta na ficha académica da faculdade de direito da Universidade de Coimbra estudou até ao terceiro ano do curso de direito.

Período de 1974 – 1977

O 25 de Abril de 1974, com a denominada Revolução dos Cravos, marcou a queda da Ditadura em Portugal e a libertação dos presos políticos. António Manuel Garcia Neto, depois de ouvido pelos Delegados da Junta de Salvação Nacional e assistido pelos competentes advogados presentes, foi libertado

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“sem condições,” às duas horas do dia 27 de Abril, conforme a acta elaborada. (Bernardes, 1991,anexos) em anexo 1.0.4.

Após a sua libertação, Garcia Neto juntou-se às fileiras do MPLA, tendo chegado a Lusaka, capital da República da Zâmbia, em 1975. Foi então integrado no Departamento de Relações Exteriores do MPLA, na Secção de Cooperação Internacional. Após a Independência de Angola, a 11 de Novembro de 1975, foi nomeado Director da Cooperação Internacional do Ministério das Relações Exteriores (Boletim do Militante do MPLA, nº 3, 1977, 15).

António Manuel Garcia Neto foi morto no dia 27 de Maio de 1977, em Luanda, por um grupo de fraccionários do MPLA, no contexto de uma tentativa fracassada de golpe de Estado, liderada por Alves Bernardo Baptista (Nito Alves) e José Jacinto da Silva Vieira Dias Van – Dúnem (Zé Van – Dúnem). “O Estado Novo [foi] imposto com a consequente restrição de liberdades pessoais e políticas, com uma censura instituída e uma polícia política já actuante. O que publicamente se deseja dizer… ou se não diz e se cala ou a ser dito deve vir à luz do dia de forma escamoteada ou tão subtilmente subentendida de maneira a que possa ser, por um lado, perceptível por aqueles a quem a mensagem se destina, mas por outro tida como perfeitamente inócua para os agentes censores” (Silva, 2003,pg 8). Não foi este o caso da vida de Garcia Neto.

Ao reflectir sobre a situação vivida e marcada por uma época caracterizada pelo colonialismo português, a história de vida académica e política de António Manuel Garcia Neto denota uma consciência política, cultural e literária precoce, (desde os dezasseis anos de idade) e uma acção clandestina, aliando – se a movimentos anti-coloniais que combatiam a ditadura Salazarista (Vieira, 2007;63) ao serviço do PCP e do MPLA, em Portugal. Foi, assim, um jovem do mundo académico que sempre se mostrou defensor dos ideais democráticos em Angola e em Portugal.

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CAPITULO I

Evolução Política e Sócio-Educativa de Angola: 1974-2009

Para compreendermos a perspectiva histórica do sistema educativo angolano socorremo-nos da perspectiva analítica da evolução do ensino no período colonial pelo facto de ser uma referência marcante em Angola.

O sistema de educação dependeu do interesse da classe dominante, como reflexo e reprodutor das relações de produção. Neste contexto histórico foi cerca de cinco séculos que Portugal impôs o seu sistema de educação ao povo que viveu uma realidade totalmente diferente. O objectivo da educação colonial em Angola reflectiu a reprodução da classe dirigente como dirigentes, o ensino só se desenvolveu, numa primeira fase, onde havia maior concentração demográfica das colónias, nas principais cidades. À medida que a população colonial cresceu e se espalhou pelo território angolano, as estruturas do ensino também aumentaram, mas sempre reservados aos filhos dos colonizadores, isto apesar de não existir nenhum impedimento legal para os angolanos o frequentarem. Mas, em contrapartida, a localização geográfica das escolas foi assim como um dos impedimentos reais a exigência da assimilação para a sua frequência e o esforço económico que era pedido para estudar era preciso poderes (dinheiro) sobretudo porque o ensino não era gratuito (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1978). José Pinheiro da Silva afirmou:» A firmeza e a certeza das ideias, a intencionalidade da actuação motivaram fosse, com bem poucas alterações ditadas pelo meio sempre a mesma linha seguida pelo Oriente e Ocidente, na movediça esfera da educação e ensino – que o mesmo é dizer no domínio onde se temperam as almas, onde se forja a Nação. Promover a difusão da língua portuguesa, radicar hábitos e atitudes, expandir a fé cristã, modificar processos de cultivo da terra, ensinar fórmulas de convivência entre as gentes, diversas na civilização e na etnia etc. …» (cit. Santos, 1970,p. 7). Estas ideias reflectem a acção educativa realizada nas ditas províncias ultramarinas de África (caso de Angola) como a maneira mais fácil encontrada de assimilação com a finalidade dos portugueses estabelecerem relações com os africanos.

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No entanto, foi na primeira metade do século XX, precisamente no ano de 1919, que a historia do ensino em Angola passou a constituir o marco de referência pelo facto da criação de várias escolas, liceus e escolas primárias tais como a escola Industrial e Comercial de Luanda, em 23 de Agosto, e o Liceu Central de Angola (pela portaria nº51, de 22 de Fevereiro) que ficou conhecido como Salvador Correia e hoje chamado por Mutu-Ya-Kevela,as escolas primarias de Novo Redondo e Catumbela, no distrito de Benguela do Ambriz, Golungo Alto e Dondo, no distrito de Luanda, e de Porto Alexandre, no distrito de Moçamedes, mais tarde Chibia e Humpata.(Idem, p. 238)

Nesta época da história de ensino em Angola as escolas primárias foram classificadas como de segunda classe ou segundo grau principalmente as da sede de distrito e das povoações consideradas mais importantes. Quero lembrar que a escola primária foi separada entre masculina e feminina assim como os seus professores/as que leccionaram. Anos depois e pela primeira vez, uma senhora de nome Carolina Deolinda Teixeira de Sousa foi nomeada para a escola primária masculina da freguesia dos Remédios na cidade de Luanda, a única que concorreu ao lugar foi classificada em concurso documental aberto perante o conselho provincial ocupou o lugar de uma turma do sexo masculino em 13 de Fevereiro de 1907 (idem, p. 239). Durante a época colonial nos países africanos as mulheres só leccionavam nas escolas femininas. Foi uma época de grande progressão em termos de criação de escolas primárias nas cidades onde se registou maior concentração da população branca como Catabola, Camacupa, Chinguar, Dondeiro, Vila Nova, Caala, Cuma, Quilengues, Ganda, Cubal, Mapunda, Povoação De Cima (Da Vila De Lubango, Ex-Sá Da Bandeira), Chibia, Malanje e Lunda etc. (idem, p. 240).

A criação de escolas ajudou a desenvolver a administração e o comércio das colónias. Nas zonas rurais, o ensino foi quase exclusivamente administrado pelas missões católicas e protestantes, que o faziam com o objectivo de criarem uma classe de pequenos quadros africanos que colaborassem na propagação do credo religioso. Foi sobretudo nas missões que a maior massa dos angolanos se escolarizou a nível do ensino primário. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1978).

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Podermos resumir que durante a época colonial em 13 de Fevereiro de 1907 foi nomeada pela primeira vez a Senhora Carolina Deolinda Teixeira de Sousa para a escola primária masculina da freguesia dos Remédios na cidade de Luanda. A dita senhora foi a única que concorreu ao lugar e foi classificada em concurso documental aberto perante o conselho provincial, ocupando, assim, o lugar de uma turma do sexo masculino.

Foi na primeira metade do século XX, mais precisamente no ano de 1919, que se começou com a criação de escolas, liceus e escolas primárias. As escolas primárias foram classificadas como escolas de segunda classe ou de segundo grau principalmente as localizadas nas sedes de distritos e das povoações mais importantes.

O ensino nas zonas rurais foi administrado essencialmente pelas missões católicas e protestantes, e cujo principal objectivo foi de criar uma classe de pequenos quadros africanos que colaborou na propagação do credo religioso.

1.1.Evolução da Historia Política de Angola

Em 1974, com o 25 de Abril e o cessar-fogo, a época é marcada, na história de Angola, pelo reconhecimento dos movimentos que lutaram pela liberdade (MPLA, FNLA, UNITA) e pela assinatura dos Acordos de Alvor em 15 de Janeiro de 1975 no Sul de Portugal, que estabelecia um governo de transição, uma constituição, eleições e independência e soberania plena de Angola, proclamada em 11 de Novembro de 1975 (SANTOS, 1975,p.18). Contudo este Acordo de Alvor tornou-se num fracasso visto que o governo de transição não chegou a funcionar (Anstee, et al.2004). O governo de transição tomou posse no dia 31 de Janeiro de 1975, durou apenas três semanas (Henderson, 1990,p.387).

Os primeiros conflitos começaram a surgir em Luanda entre as forças do MPLA e da FNLA, no dia 1 de Fevereiro num musseque9 que acabou no tiroteio. (idem).

A violência começou a aumentar na capital e, no final do mês de Março, o ministro dos negócios estrangeiros português e o ministro do ultramar deslocaram-se a Luanda para uma reunião com os dirigentes dos movimentos

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de libertação. Os ministros e os dirigentes angolanos concordaram em pôr termo o clima de agressão que se vivia na capital e a levar as forças militares a integrarem-se as forças armadas portuguesas, conforme o estipulado nos acordos de alvor (idem). Mesmo assim, ainda nem os ministros tinham chegado a Lisboa e já se repetiram os conflitos entre a FNLA e o MPLA (idem). No mês de Maio, os confrontos atingiram várias cidades de Angola, opondo o MPLA e FNLA, por um lado, o MPLA e a UNITA (Lazitch.Rigoulot, 1988,p.44). Entre os dias 16 a 21 de Junho de 1975, foi realizada a cimeira de Nakuru, no Quénia, que contou com a presença de Álvaro Holden Roberto10, Agostinho Neto11 e Jonas Malheiro Savimbi12 (Henderson, 1990,p.388). Um dos aspectos positivos da cimeira foi o facto de se ter feito uma análise muito concisa e fria das causas da deterioração da situação em Angola que consistiu: A introdução de grandes quantidades de armas pelos movimentos de libertação após o 25 de Abril e especialmente depois de terem mudado para Luanda. Esta corrida ao armamento deveu-se ao facto de os movimentos de libertação manterem falta de confiança mútua, que resultou das diferentes políticas e ideologias e das divergências no passado; a falta de tolerância política, que se manifestou na violência da actividade desenvolvida pelos movimentos de libertação e pelos seus militantes; a existência das chamadas zonas de influência e das regiões de suposta superioridade militar; a entrega de armas à população civil; conflitos militares entre os movimentos de libertação e a sua tendência para os regionalizarem, o que, para além de causarem inúmeras vitimas, agravaram ainda mais a situação, tendendo a aumentar o tribalismo, o regionalismo e o racismo; a presença de agitação reaccionária e de elementos estrangeiros no processo de descolonização (idem).

O processo foi conduzido de maneira que as eleições se realizassem em Setembro de 1975 (Lazitch.Rigoulot, 1988,p.45). Neste período histórico, os conflitos tornaram-se evidentes, o MPLA e a FNLA, na primeira semana de Junho, o MPLA e a UNITA, em Luanda, a 23 de Junho, entre o MPLA e a FNLA a 12 de Julho, e a 15 de Julho o MPLA afastou de Luanda a FNLA, e no dia 6 de Agosto, continuaram os confrontos entre os três movimentos nacionalistas

10 1923-2007. 11 1922-1979. 12 1934-2002.

Referências

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